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O abismo brasileiro
Domingo de eleição em São Paulo. Enquanto Luiz Inácio Lula da Silva comemorava sua reeleição à presidência da República, o teatro Abril ficava relativamente cheio para mais uma exibição da peça O Fantasma da Ópera. Com 1.533 lugares, a sala deveria, às 20h do domingão de votação, estar com pelo menos 65% da capacidade lotada.
Nas cadeiras, um grupo da cidade catarinense de Criciúma esperava atentamente o início do espetáculo. Era uma família com cerca de dez pessoas. Irmãos, primos, tios, pais e o avô, feliz por poder proporcionar aos familiares um final de semana que se encerraria com chave de ouro. O preço de cada um daqueles ingressos? Cento e dez reais.
Só aquela família deve ter deixado cerca de mil reais no teatro. Outros milhares nas passagens aéreas. Mais umas centenas de reais no hotel. Isso sem contar os restaurantes e lojas de uma cidade gigantesca como São Paulo, que a cada dia aprende a explorar o potencial de consumo que tem, tal qual Nova York sabe fazer.
No sábado, véspera da eleição, nenhum time de futebol jogou em São Paulo pela Série A do Campeonato Brasileiro. No dia em que toda a cidade não viajou por conta das eleições, nenhum clube ficou na capital para receber o seu público. E a culpa não poderia nem ser atribuída à tabela armada pela CBF. Afinal, para a 31ª rodada do Brasileirão estava programado o clássico Corinthians x Palmeiras.
O confronto, remarcado para a quarta-feira, dia 25, atendeu às exigências da televisão. Por isso, foi realizado às 22h e teve um público de 16.593 torcedores pagantes, cerca de 20% da capacidade do estádio do Morumbi. Isso gerou uma renda bruta de R$ 229.770,00. Com os descontos, o Corinthians, mandante da partida, arrecadou pouco mais de R$ 35 mil.
Naquele mesmo final de semana que uma família de Criciúma gastou no mínimo cerca de R$ 5 mil para assistir a uma peça de teatro em São Paulo, jogadores de Palmeiras e Corinthians descansavam após o jogo da quarta-feira, sem ter o que fazer.
Num exemplo banal como esse que se percebe o abismo que separa a gerência do futebol brasileiro daquela que é aplicada em todas as outras áreas do país. Inclusive no próprio futebol, em que o investimento em qualificação se refere apenas ao profissional que atua diretamente dentro de campo.