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Muralha de Josué

Morumbi, 14 minutos do segundo tempo, Brasil empata com o Uruguai sabe Pelé como. Ronaldinho anda pelo gramado como se quisesse emular a atuação tumular de Frankfurt, na Copa-06. Aquela em que Zidane voltou a zidanar e nos fazer danar mais uma vez. O gaúcho genial era dúvida contra os uruguaios pela condição física, e estava em dívida com Dunga e com a torcida. Foi para o sacrifício. Foi para o cadafalso. A pior partida dele pelo Brasil. Ainda pior que aquela derrota para a França, quando teve todo o campo do mundo para nos dar o planeta e o caneco mais uma vez. E se escondeu na ponta esquerda. (Relato de um ronaldista de primeira hora e de caderneta).
 
Para piorar o que já estava horroroso, Gilberto fazia pela lateral esquerda uma partida identificável para qualquer torcedor brasileiro. Não havia boleiro que não se via em campo vendo o bom meia do Hertha tomar bola nas costas, errar os passes possíveis e as bolas impossíveis. Nem Juan, o imenso zagueiro da Roma, dava conta das pixotadas no seu setor. Inflamadas pela tétrica atuação do ótimo Alex na zaga direita. Potencializadas por mais uma apresentação ruim dos volantes do ex-volante Dunga. Mineiro corria e não sabia onde era o incêndio. Gilberto Silva não corria, não protegia, não jogava. Não era a muralha invisível do Arsenal. Estava apenas invisível, em nítida má forma que o levou ao banco inglês.
 
Enfim, o Brasil era um buraco em campo, dragado pelo abusado Uruguai de Tabaréz. Uma das boas novas das ótimas Eliminatórias Sul-Americanas, onde todos parecem buscar o ataque. Até os venezuelanos. Menos os brasileiros.
 
Dunga precisava mexer para auxiliar o excelente Júlio César, que tapava o gol e as cornetas que pediam Rogério Ceni. Tirar Ronaldinho era necessário. Mesmo craque fabuloso, ele não estava em campo. Como todo o time. E corria menos que Kaká e Robinho. Não estava tão bem fisicamente, e não vinha tão bem no Barça. A solução óbvia era Diego, que comia a bola na Alemanha, e que conhecia muito bem aquele Morumbi. O time manteria o 4-2-2-2 do segundo tempo, com mais chegada ao ataque, importunando mais os uruguaios, tirando-os do nosso campo cada vez mais deles.
 
Dunga também poderia deixar o time mais pegador, mais tático, mais marcador. Elano poderia marcar e jogar. Júlio Baptista teria bola e bala para fazer o mesmo. O meio-campo fortalecido protegeria a indefensável defesa, recuperaria mais bolas, e poderia achar algo no contragolpe.
 
Mas Dunga preferiu Josué. Volante que tanto funcionou na Copa América. Volante que tinha entrosamento com Mineiro e história com o Morumbi. Mas um volante. O terceiro. Para marcar Gilberto, para desafogar Gilberto Silva, para recuperar o lado esquerdo do Brasil, para avançar e liberar Kaká para encostar em Luís Fabiano e Robinho.
 
O Morumbi vaiou Ronaldinho. Em peso. Em parte, chamou Dunga de “burro”. Não pela saída do craque apagado. Mas pela entrada de um volante. Mais um. Menos um craque no Brasil.
 
Como querem os práticos, pragmáticos e táticos, a seleção recuperou mais a bola, tomou menos sustos, e achou um gol no único lance certo de Gilberto – ainda um chute torto que Luís Fabiano acertou.
 
Ganhamos pela entrada de Josué ou apenas deixamos de perder com o reforço da zaga?
 
O Brasil não melhorou com mais um volante. Apenas deixou de piorar. O que pode ser péssimo para um futuro próximo e pouco promissor. Quase toda a América buscando o ataque, e o Brasil buscando a defesa.
 
Não é o número de volantes que define um time. Mas não foi a entrada de um volante no lugar de um craque em meia hora de partida que pode definir todo o jogo de uma seleção.

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

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Responsabilidade de receber a Copa de 2014

Passadas algumas semanas desde o anúncio da sede da Copa do Mundo da Fifa em 2014, tudo parece voltar ao normal no mundo do futebol no Brasil. Raros são, hoje, os artigos que continuam a tratar diariamente dos preparativos para a Copa.
 
É absolutamente compreensível que a imprensa mude o foco. Não há notícia no mundo que consiga se manter diariamente na mídia por mais de seis anos. Os dirigentes e políticos, por outro lado, possuem a obrigação de manter acesa a discussão para que o evento seja não só um sucesso em termos de futebol, mas também uma forma de melhorar a vida dos brasileiros.
 
Já sabemos todos os benefícios que a Copa pode trazer ao Brasil, em termos de economia, turismo, infra-estrutura, etc. Porém, esses benefícios somente serão concretizados, de forma duradoura, caso haja um planejamento sério e rigoroso.
 
Gostaria de chamar atenção, neste artigo, sobre a responsabilidade da escolha das cidades que servirão de sede para os jogos. Essa escolha é tão importante, que não pode, de forma nenhuma, ser definida com base em interesses de federações estaduais, ou de ambições políticas dos diversos governadores e prefeitos envolvidos.
 
Uma primeira linha de frente foi definida pela CBF. São basicamente as capitais dos nossos estados. É claro que algumas delas jamais deixarão de receber os jogos, como São Paulo e Rio de Janeiro. Algumas outras têm boas chances de receber. Mas outro grupo de capitais, em nossa opinião, não pode nem pensar nessa possibilidade.
 
O investimento na reforma / construção de arenas modernas é um bom exemplo para abordarmos essa questão.
 
Estamos convencidos de que haverá recursos públicos disponíveis, sem os quais não alcançaremos a viabilidade das obras. Por outro lado, o restante, a ser financiado pelo poder privado, somente estará disponível se o projeto for viável em um médio / longo prazo.
 
Esse estudo de viabilidade reclama um amplo conhecimento, por parte dos profissionais envolvidos, de todas as possibilidades de renda por parte da arena. Nos dias de hoje, um clube (que necessariamente deve estar envolvido no projeto) possui diversas e criativas fontes de receita junto a torcedores, mídia e patrocinadores. Além disso, eventos culturais devem ser incluídos na agenda rotineira de uma arena.
 
Tudo isso deve ser levado em consideração pelos advogados envolvidos no projeto para que a melhor estrutura, incluindo as garantias aos diversos sponsors, seja sugerida.
 
Muito bem. Em determinadas cidades, a conta não fecha. Não existe possibilidade de se propor uma obra envolvendo algumas centenas de milhões de reais em locais de pouco movimento econômico e pouco potencial efetivo em popularização do futebol profissional local.
 
Nessas regiões, existe uma série de outras demandas para que o dinheiro público e privado seja aplicado, de primeira necessidade para a população. Seria uma grande irresponsabilidade gastar esse montante em um estádio apto a receber a Copa de 2014, sendo que ele será subutilizado e contabilizará prejuízos históricos.
 
Em suma, o exemplo dos estádios foi utilizado para dizer que, apesar da lista inicial da CBF, a lista definitiva de cidades-sede para a Copa de 2014 está longe de ser concluída, e dependerá, fundamentalmente, da análise criteriosa, não só da viabilidade financeira, mas principalmente da viabilidade social de cada uma dessas cidades para receber o evento.

Para interagir com o colunista: megale@universidadedofutebol.com.br