Categorias
Sem categoria

O futebol de influência: Controlar ou dominar o jogo? Eis a questão

(2ª parte)
 
Na primeira parte desse texto discutimos os conceitos de “futebol dominante”, “futebol de controle” e “futebol de influência”. Vimos que o futebol dominante de Van Gaal poderia se enquadrar (aportuguesando o termo) em uma das formas do futebol de controle, e que esse preconiza o controle das ações do jogo por meio do controle do adversário. Por fim, iniciamos a discussão sobre o futebol de influência desenvolvendo a idéia de que a partir dele buscar-se-ia controlar o adversário por meio do domínio do jogo (e não o contrário – controlar o adversário para dominar o jogo).
 
Para entendermos melhor o futebol de influência, recorramos a uma questão do jogo que, obviamente, não pode ser desvinculada de todo o contexto do jogo, mas que didaticamente receberá exclusivo olhar: a questão física.
 
Inúmeros são os estudos que ao longo dos anos vêm apontando para a distância percorrida por atletas e equipes, em diferentes níveis, durante as partidas.
 
Pesquisas mais recentes apontam que jogadores correm por volta de 10,5 km (chegando a 14 km em alguns casos) em um jogo. Aproximadamente 65% dessa distância são percorridos em baixa intensidade e 4,5% dela são percorridos em altíssima intensidade (com sprints em distâncias que variam entre 5 a 50 metros).
 
Dados da década de 90 apresentavam pequenas diferenças nesses valores, chamando a atenção o fato de apontarem que a distância percorrida em baixa intensidade era maior se comparada aos dados dos estudos mais recentes (a distância percorrida em baixa intensidade chegava a 71%).
 
Sem que seja necessário aprofundamento nessas informações, é notório que, ainda que os volumes totais das distâncias percorridas nas partidas não tenham alterações alargadas, algo promoveu a diminuição do volume percentual referente as distâncias percorridas em baixa intensidade.
 
É claro que se algo aconteceu, aconteceu com o jogo de tal forma que as equipes que demoraram mais a se enquadrar as novas realidades possivelmente tenham também demorado mais a ter êxitos em suas partidas.
 
E se isso é verdadeiro para a questão física, é também para as questões técnicas, táticas e mentais. Em outras palavras: se uma equipe for mais intensa fisicamente, será também taticamente (com posicionamentos mais eficientes, transições mais rápidas, combates mais eficazes, ultrapassagens mais constantes, etc.), tecnicamente (com volume maior de passes, desarmes, finalizações, acertos, etc.) e mentalmente (com maior intensidade de concentração, controle, etc.). E nesse contexto, demorar a se adaptar significa também demorar a estar em condições de jogo.
 
Então, compreendendo o que realmente acontece no jogo (intensidades, volumes, densidades, freqüências e durações, sob o ponto da complexidade e contexto do jogo), é possível treinar como se joga a partir de um jogar como se treina, criando um novo nível para o jogar e a partir daí estratégias em um novo nível para o treinar.
 
Em outras palavras, é como se, ao buscar treinar o como se joga, se partisse de um novo jogar:

 
Projetando um jogo no nível (A+1) técnico-tático-físico-mental será possível configurar um novo nível de treino, não havendo limites para buscar, a cada vez que se consiga dominar o novo nível do jogo, influenciá-lo para se alcançar novos níveis para o jogar (nível A+1, A+2, …, A+n).
 
Essa é a idéia do “futebol de influência”: dominar o jogo, influenciá-lo, alterá-lo, alcançar novo nível para o jogar e controlar o adversário.
 
E se para alguns de nós esse conceito pode parecer uma “viagem na maionese”, finalizo, para que ninguém derrape na curva, com uma frase do sociólogo alemão Max Weber que diz que “o homem não teria alcançado o possível se, repetidas vezes, não tivesse tentado o impossível”.
 
O que você quer para você? Reforçar os possíveis de sempre ou se arriscar a mudar alguma coisa no “seu futebol-mundo”?

Para interagir com o colunista: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

Leia mais:

Controlar ou dominar o jogo? Eis a questão (1ª parte)

Categorias
Sem categoria

O que vem em 2008

Passado 2007, abre-se 2008. Pois bem. Afinal, o que esperar desse ano de Olimpíadas, fora as incontáveis reportagens sobre a super-ultra-mega potência do Oriente? Mais especificamente, o que esperar desse ano no meio futebolístico? Ainda mais objetivamente, o que esperar de 2008 no mundo industrial do futebol, que por fim é o assunto deste que lhe escreve?
 
Ah, feliz 2008, antes que eu me esqueça.
 
Mundialmente falando, pouco deve mudar. Grandes clubes e ligas ficarão ainda maiores, clubes menores e ligas menores continuarão no seu lento processo de enforcamento financeiro, rumando cada vez mais para o fundo do poço.
 
Na medida em que esse sistema vai se fortalecendo, os mercados vão ficando mais definidos. Os principais clubes e ligas da Europa irão continuar a afirmar o seu posicionamento como clubes globais, enquanto o resto do mundo servirá como fornecedor, consumidor, ou os dois de uma vez, que é o caso do Brasil.
 
O Brasil é o grande exportador de talento para o futebol mundial e nada indica que esse processo será freado em 2008. A não ser que algo de excepcional aconteça, ou que 2007 realmente tenha sido um ano ímpar, o número de jogadores que deixarão o país deve crescer ainda mais. Contribui para isso a recente abertura do mercado inglês para mais talento brasileiro, que ainda que possivelmente dê preferência ao jogador já estabelecido na Europa, pode motivar clubes ou ligas menores a contratar mais jogadores pensando na valorização financeira. Além disso, a consolidação de brasileiros nos principais clubes ingleses – Manchester United (Anderson), Liverpool (Lucas e Fábio Aurélio), Chelsea (Belletti e Alex), Arsenal (Gilberto Silva, Denílson e Eduardo da Silva) e, hmmm, Manchester City (Elano, Giovanni e, talvez, Fred e Mancini, entre outros) – pode motivar ainda mais clubes de ligas espectadoras a adquirir brasileiros, como China, Indonésia, Índia e Escandinávia. Além disso, a eleição de Kaká como melhor do ano também pode colaborar com o processo.
 
E se o mercado internacional cada vez mais demanda talento do Brasil, o mercado brasileiro também se estrutura para se adequar a essa demanda. Hoje, a assunção da transferência de jogadores como business é evidente não apenas nos clubes pequenos, mas também nos maiores clubes do país, que estabelecem mecanismos de investimento em jogadores que fortalecem o sistema de transferência e podem eventualmente serem revertidos em acréscimo de performance para os clubes.
 
E como clubes brasileiros não conseguem competir com o capital europeu pela manutenção de talentos, eles também fortalecem a prática do contrato temporário de recuperação, que se utiliza de jogadores não aproveitados lá para desempenhar por aqui. Fortalece o mercado no primeiro semestre, esvazia-o no segundo. 2008 tende a ser um exemplo disso. Se der certo, 2009 vai ser ainda mais.
 
Fora isso, pouca coisa deve mudar. A televisão digital e a tecnologia 3G não devem mudar o mercado de forma mais significativa ainda, e a internet não deve ser muito mais explorada do que ela foi ano passado. Os estádios continuarão iguais, e um ou outro acidente pode acontecer. A média de público do Campeonato Brasileiro deve continuar a depender da performance do Flamengo no ano. Se ele acabar no meio da tabela, a média deve ser baixa. Se ele acabar no topo ou no chão, a média deve ser alta.
 
Em termos de performance, assumindo que elas serão um reflexo das condições financeiras dos clubes, São Paulo, Palmeiras, Inter, Cruzeiro e Fluminense devem brigar pelos maiores títulos. Menos o Santos, que não deve mais contar com as reservas adquiridas com a excelente safra de 2002, que garantiu a performance até 2007. Se nada de excepcional acontecer, o Santos deve voltar a ser o clube que era antes de Robinho e sua turma aparecerem.
 
Ah, e o Corinthians deve ganhar a Série B. Fácil.
 
Quer dizer, acho que será fácil.
 

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Controlar ou dominar o jogo? Eis a questão (1ª parte)

Existe uma idéia (um conceito) no futebol, introduzida pelo treinador holandês Louis Van Gaal, que trata do domínio ostensivo das ações do jogo dentro da partida. Segundo ela (a idéia), seria possível a uma equipe dominar totalmente as ações do adversário controlando-as durante todo o tempo de jogo.
  
A idéia de Van Gaal, batizada de “Futebol Dominante” ganhou força em alguns países europeus e com a mesma intensidade fora despercebidamente “negligecida” (negligenciada+esquecida) no Brasil.
 
Como não podemos, aqui neste espaço, “negligecer” as coisas táticas do futebol, vamos, partindo da idéia de “Futebol Dominante”, fazer algumas reflexões sobre controle e domínio de jogo.
 
Se buscarmos nos nossos dicionários da língua portuguesa, observaremos muitas e alargadas definições para “controle” e “domínio”. Dentre aquelas que podem ser mais didáticas e reveladoras para a nossa discussão temos que:
 
a)     controle é o ato de dirigir algo ou alguém, fiscalizando-o e orientando-o de modo mais conveniente.
b)     domínio é a faculdade de dispor de alguma coisa como senhor dela; autoridade; conhecimento; influência.
 
Observemos que ainda que possam parecer iguais, controle e domínio não são sinônimos. Quando nos voltamos ao futebol então, maior ainda a distância entre as definições de cada uma dessas palavras.
 
No nosso esporte bretão, controle e domínio, mais do que construções bem definidas da língua portuguesa, tornaram-se conceitos inerentes as questões táticas do jogo que precisam ser entendidos em toda a extensão de suas possibilidades.
 
No futebol, CONTROLAR as ações do jogo significa conduzir o adversário (de forma conveniente) e levá-lo de maneira fiscalizada ao caminho que se quer levar. Em outras palavras, controlar as ações do jogo representa, de forma direta ou indireta (ativa ou passiva) “dirigir” as ações do adversário de acordo com os interesses da própria equipe.
 
Em contrapartida, DOMINAR as ações do jogo significa ter autoridade sobre ele (o jogo), influenciando-o através do conhecimento a seu respeito. Enquanto o “controlar as ações do jogo” está atrelado ao controle do adversário, o “dominar as ações do jogo” está atrelado ao domínio do próprio jogo.
 
E o que isso quer dizer?
 
Isso quer dizer em outras palavras que o posto “Futebol Dominante” na verdade, “aportuguesado” deveria ser o “Futebol de Controle” (ou melhor, uma das possibilidades do “Futebol de Controle”).
 
Para Van Gaal em seu modelo de jogo, o time do “futebol dominante” representa “o time que decide o jogo” (criando mais chances do que o adversário, jogando ofensivamente, tendo a bola sob controle, definindo as transições da maneira que for mais interessante e comandando o ritmo de jogo do adversário). Então devemos considerar que as estratégias para alcançá-lo não são necessariamente sempre imperativas. Ou seja, o “Futebol Dominante” busca o controle das ações do jogo e uma das direções para alcançá-lo (que é imperativa) está atrelada a realização de rápidas recuperações da posse da bola, ataques rápidos e busca intensa do gol. É necessário, porém, considerar que o controle das ações pode acontecer em outra direção (não imperativa): com boas transições defensivas (mas não necessariamente com rápida recuperação da posse da bola), com bons ataques (que não sejam necessariamente rápidos), com a busca do gol (mas não necessariamente o tempo todo), com a busca da bola (para ficar com ela o maior tempo possível).
 
Isso quer dizer que o “Futebol de Controle” pode ser de controle direto, intenso e imperativo mas também pode ser de controle indireto, cadenciado e discreto.
 
O “Futebol Dominante” que chamarei “Futebol de Influência®” (para não confundirmos com as idéias iniciais de Van Gaal), transcende a idéia de controlar o adversário para interferir no jogo, e parte para assumir a idéia de dominar o jogo para controlar o adversário.
 
Segundo essa idéia (a do “Futebol de Influência®“) o “dominar o jogo” representa compreender as variáveis técnico-tático-físico-mentais predominantes e determinantes do jogo para poder interferir nelas, de tal forma que seja possível manipular o jogo, transformando-o em um futebol diferente daquele compreendido pelo adversário, minimizando ao máximo suas possibilidades de reação e maximizando as próprias chances de vitória.
 
O Futebol de Influência® trata de um paradigma diferente daquele “vigente” e precisa ser bem compreendido para poder ser bem analisado.
 
Então, se você quer conhecer um pouco mais sobre a idéia do Futebol de Influência®, não perca a continuação desse texto na próxima semana…
 

CONTINUA NA PRÓXIMA SEMANA…

Para interagir com o colunista: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Janela aberta

Caros amigos da Universidade do Futebol,
 
Mais uma vez abre-se a janela européia para transferências de atletas profissionais de futebol.
 
Como sabemos, a Fifa estabelece em seus regulamentos que as federações nacionais devem estabelecer, por ano, dois períodos em que atletas podem ser transferidos de um clube para outro (conhecidos como “janelas de transferência”, ou, em inglês, “transfer windows“).
 
Na Europa, assim como em outras partes do mundo, uma das janelas acontece durante o mês de janeiro.
 
Durante esses períodos, o mercado brasileiro de atletas profissionais de futebol passa por momentos de agitação, uma vez que nossos jogadores, via de regra, são os mais cobiçados pelos grandes clubes europeus.
 
Se por um lado essa agitação é boa para nosso mercado interno, por outro, ela pode gerar grandes perdas a clubes nacionais que não estiverem preparados para se beneficiar da oportunidade.
 
Em primeiro lugar, os clubes devem ter seus contratos com seus jogadores muito bem amarrados e planejados. Os dirigentes devem examinar com cuidado cada um de seus atletas, para que cada um deles tenha um prazo contratual condizente com seu potencial. As clausulas de rescisão também devem ser muito bem escritas e em linha com a legislação aplicável.
 
Além disso, os garotos das categorias de base também devem ser examinados com cuidado. Muitos deles não são profissionais e ficam mais vulneráveis a uma “aquisição hostil” por parte de outros clubes. Nesses casos, os clubes formadores devem ter contratos condizentes com a situação do atleta, mas que garantam que o clube seja devidamente recompensado em uma eventual negociação. Mais do que isso, os clubes devem mostrar a seus jovens atletas os benefícios de permanecerem por lá, oferecendo a eles tudo que a legislação pátria determina (assistência médica, odontológica, alimentação, educação, etc).
 
Finalmente, os clubes devem estar atentos às transferências internacionais de jogadores, que ocorrem neste mês em todas as partes do mundo, uma vez que eles são titulares de determinados direitos nessas transações, quando o atleta envolvido tiver passado pelo clube durante seu período de formação.
 
Atentos a esses detalhes, os clubes que efetivamente investirem nas suas categorias de base para formar jogadores ao mercado poderão desfrutar dessas janelas de transferências para serem justamente indenizados por tal empenho.
 
Retorno de jogadores
 
Interessante notar, entretanto, que está sendo verificado um retorno significativo de jogadores brasileiros que atuavam no exterior. O grande caso de destaque dentre eles é Adriano, da Inter de Milão, que atuará pelo São Paulo na temporada de 2008.
 
Esse movimento “ao inverso”, ser for bem aproveitado pelos clubes, e principalmente pela CBF, que poderão promover um grande boom no nosso futebol nacional para que jogadores intermediários fiquem mais estimulados a permanecerem no Brasil, ao invés de se aventurarem no exterior em busca de um sonho que, em muitos casos, acaba em uma grande ilusão.
 
Apenas assim, nossos clubes terão bons jogadores no seu departamento profissional, e também caixa necessário para investir nas suas categorias de base e garantir um futuro sustentável ao clube.
 

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br