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Escada para o fracasso

Reconhecido, com méritos, como o clube mais profissional do Brasil, o São Paulo começa a dar mostras de que o sucesso subiu à cabeça. Tal qual um jogador que, após seguidas críticas elogiosas da imprensa resolve achar que está acima do bem e do mal, o Tricolor paulista começa a agir como se, de fato, estivesse num estágio superior a todos os outros clubes.
 
E isso é perceptível no comportamento de seus dirigentes nas declarações para a imprensa. Desde as repatriações de Adriano e Carlos Alberto, em que o clube fez questão de se posicionar como o “salvador de craques adormecidos”, até o último sábado, quando o presidente Juvenal Juvêncio mais do que pisou na bola em entrevista antes do jogo contra a Portuguesa.
 
Juvêncio afirmou que o rival não poderia nunca ser considerado um time grande, já que não tinha grande torcida. Para ele, a Lusa era “um time pequeno”.
 
Juvenal, pegou mal.
 
A Lusa não só ganhou por 2 a 0 como jogou para arrasar o Tricolor. Não tem um time tão bom quanto o do rival, sem dúvida, mas teve o ingrediente que sempre tempera qualquer confronto: a vontade do cala-boca.
 
Para piorar a situação de Juvêncio, sua declaração colocou a própria torcida são-paulina contra o dirigente. Para começar, não existe mais tanta rivalidade contra a Portuguesa quanto no passado. Além disso, o dirigente deu a declaração exatamente num momento tenso do clube, que ainda não se acertou nos campeonatos que disputa, apesar de só ter perdido dois jogos nesta temporada.
 
Não existe clube que saiba tão bem usar a imprensa para comunicar seus feitos como o São Paulo. Mas nos últimos tempos seus dirigentes têm exagerado na certeza de que são melhores do que os outros.
 
Ninguém está livre do erro. Ainda mais quem costuma estar por muito tempo no topo sofre com a pressão dos outros sobre eles. É o caso de Barak Obama nas eleições presidenciais dos Estados Unidos. Tudo corria bem, até ele começar a ganhar muito. Os jornalistas começaram a vasculhar todo seu passado em busca de alguma falha que possa ser explorada.
 
O sucesso muitas vezes causa inveja. Quando as pessoas começam a falar mais do que devem, é sinal de que o sucesso subiu à cabeça. E que o tombo está próximo.
 
O segredo tricolor é trabalhar incessantemente em busca de um objetivo. Este ano, parece que seus dirigentes já estão certos de que o objetivo será alcançado pela superioridade do clube. E é aí que está metade do caminho percorrido para o fracasso.
 

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É possível hoje jogar no 4-3-3? Reflexões sobre os “antigos pós-modernismos”

Ao longo da história do futebol, muitos “modismos” tomaram frente na crença de torcedores e especialistas. Sobre os aspectos táticos do jogo, a imprevisibilidade que lhe é característica associada a inteligência e criatividade humana possibilitou transformações interessantes na forma de se jogar.
Se num primeiro momento a evolução teve, pelo surgimento de novas situações-problema e estratégias de jogo, uma migração continuada de jogadores das linhas mais avançadas para linhas médias do campo (onde a ação especializada característica de uma posição qualquer fora dando lugar a competências mais amplas – exigindo do atleta capacidade para atuar de forma mais “completa”), hoje a evolução tem gerado respostas que seguem outra direção.
Na década de 60 e 70, especialmente no Brasil, causou grande repercussão o fato de equipes que não mais atuavam no conhecido 4-2-4 estarem a levar vantagem nos jogos e competições sobre as equipes que o faziam. A mudança era sutil, mas parecia, se credenciar como grande possibilidade para se jogar futebol. Solidificava-se então o 4-3-3.
Os anos foram se passando e a resposta mais comum para as novas situações que iam surgindo caminhava sempre na mesma direção. Se um dia houve o 1-1-8 e bem mais a frente o 4-2-4, o processo evolutivo (cruel ou não) em sua constante “movimentação” continuava com a migração de jogadores das linhas mais adiantadas para linhas mais “defensivas”. Então, o 1-1-8 que um dia tornou-se 4-2-4, passara pelo 4-3-3, 4-4-2, 3-5-2, 3-6-1, etc e tal e parecia dar sinais claros de que ele, o 1-1-8 corria o risco, de já tão “vivido e transformado” acabar em um 5-5-0 (melhor do que um 8-1-1!?).
Mas as direções mudaram. O que parecia ser uma tendência (receio que ainda pareça) começou a competir com uma sinalização de novas perspectivas.

Pois bem, o 4-3-3, tradicionalmente conhecido por ter em sua composição quatros jogadores na linha defensiva (composta por dois zagueiros e dois laterais), três no meio-campo (com dois meias de marcação e uma mais avançado, ou um meia defensivo e dois mais ofensivos, etc) e três na linha de ataque (com dois rápidos pontas avançados e um atacante centralizado) reapareceu transformado, com ares de inteligência e modernidade.

Ele que ainda hoje é símbolo do futebol holandês, tenha talvez tido na gerência de um português uma das mais estruturadas formas de se jogar (José Mourinho em épocas determinadas no Porto e no Chelsea).
A idéia tradicional do 4-3-3, certamente seria vulnerável e pouco eficaz se fosse inserida nos novos paradigmas que hoje vive o futebol (e sendo vulnerável, remeteria a idéia de que jogar em tal plataforma não seria bom).
Porém, a questão aí não é se ele (o 4-3-3) é ou não bom, eficiente e consistente, mas sim qual a lógica que o conduz dentro de campo. Se a lógica for equivocada, não será a plataforma de jogo a responsável pela derrota ou vitória.

O Barcelona, por exemplo, que hoje tem dificuldades jogando no 4-3-3 também já foi quase imbatível em anos anteriores jogando no mesmo “esquema tático”. Em uma reflexão simplista e ansiosa é possível que, sem pestanejar, atribuamos as dificuldades atuais do Barcelona às mudanças de alguns jogadores em determinadas posições. Isso também é variável interferente, mas não é a única. Fato mesmo é que a “culpa” não é do ex-herói, o 4-3-3.

No caso do Chelsea (nos primórdios da “fase Mourinho”), que apresentava um 4-3-3 diferente do Barcelona, também muitas conquistas (e como a derrota não pode ser atribuída somente e imprudentemente a plataforma de jogo, também não pode e não deve, à vitória).

Tanto Barcelona, quanto Chelsea apresentaram modelos de jogo potencializados pelo moderno 4-3-3 que levavam a campo.
O 4-3-3 é, na perspectiva da estruturação e ocupação do espaço de jogo (vide texto sobre esse tema em colunas anteriores) a plataforma que proporciona, “estaticamente” a melhor distribuição geométrica dos jogadores em campo, e isso é uma grande vantagem. A questão é como dimensionar uma dinâmica de movimentação de jogo que possibilite a potencialização dessa vantagem, no sistema defensivo, ofensivo e de transições, integralmente, sem distinções ou fragmentações.
Obviamente é mais fácil seguir o “ritmo evolutivo” e rechear o meio campo com o maior número de jogadores possível. Então para quê pensar no 4-3-3, se podemos formar um 4-5-1?
O fato é que, quebrando paradigmas e refletindo sobre a lógica do jogo de futebol, nada poderá impedir que essa ou aquela plataforma de jogo torne-se frágil ou ultrapassada.
Se tradicionalmente os atacantes no 4-3-3 tinham que fazer gol e esquecer o jogo defensivo, hoje ganharam novos atributos. Isso não quer dizer que precisem voltar atrás da linha da bola ou acompanhar volantes, zagueiros e/ou alas que partem para o campo de ataque – porque aí também estaríamos reforçando um raciocínio atrasado preso no passado.
Hoje, seja o 4-3-3, o 4-4-2 ou qualquer outra a plataforma que se deseje utilizar é prudente notar que não se pode jogar no século 21 com paradigmas e idéias de jogo do século 20.
Como ainda não inventaram a máquina do tempo (pelo menos ninguém do futuro veio nos avisar e também nenhum homem das cavernas fora trazido para nos contar histórias), talvez o “gosto” de se aprisionar ao passado seja uma forma poética ou filosófica de fazer viagens a tempos de glórias; glórias essas que não voltam pela simples reprodução das “receitas de bolo”.

Porém podemos, no presente, escolher se vamos seguir em frente com mais ou com menos velocidade. Então, se o século 21 é um “tempo” que ainda não chegou para muitos no nosso futebol, “nós outros” devemos mesmo é acelerar. Quem quer ficar para trás, que fique…

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É possível hoje jogar no 4-3-3? Reflexões sobre os "antigos pós-modernismos"

Ao longo da história do futebol, muitos “modismos” tomaram frente na crença de torcedores e especialistas. Sobre os aspectos táticos do jogo, a imprevisibilidade que lhe é característica associada a inteligência e criatividade humana possibilitou transformações interessantes na forma de se jogar.
Se num primeiro momento a evolução teve, pelo surgimento de novas situações-problema e estratégias de jogo, uma migração continuada de jogadores das linhas mais avançadas para linhas médias do campo (onde a ação especializada característica de uma posição qualquer fora dando lugar a competências mais amplas – exigindo do atleta capacidade para atuar de forma mais “completa”), hoje a evolução tem gerado respostas que seguem outra direção.
Na década de 60 e 70, especialmente no Brasil, causou grande repercussão o fato de equipes que não mais atuavam no conhecido 4-2-4 estarem a levar vantagem nos jogos e competições sobre as equipes que o faziam. A mudança era sutil, mas parecia, se credenciar como grande possibilidade para se jogar futebol. Solidificava-se então o 4-3-3.
Os anos foram se passando e a resposta mais comum para as novas situações que iam surgindo caminhava sempre na mesma direção. Se um dia houve o 1-1-8 e bem mais a frente o 4-2-4, o processo evolutivo (cruel ou não) em sua constante “movimentação” continuava com a migração de jogadores das linhas mais adiantadas para linhas mais “defensivas”. Então, o 1-1-8 que um dia tornou-se 4-2-4, passara pelo 4-3-3, 4-4-2, 3-5-2, 3-6-1, etc e tal e parecia dar sinais claros de que ele, o 1-1-8 corria o risco, de já tão “vivido e transformado” acabar em um 5-5-0 (melhor do que um 8-1-1!?).
Mas as direções mudaram. O que parecia ser uma tendência (receio que ainda pareça) começou a competir com uma sinalização de novas perspectivas.

Pois bem, o 4-3-3, tradicionalmente conhecido por ter em sua composição quatros jogadores na linha defensiva (composta por dois zagueiros e dois laterais), três no meio-campo (com dois meias de marcação e uma mais avançado, ou um meia defensivo e dois mais ofensivos, etc) e três na linha de ataque (com dois rápidos pontas avançados e um atacante centralizado) reapareceu transformado, com ares de inteligência e modernidade.

Ele que ainda hoje é símbolo do futebol holandês, tenha talvez tido na gerência de um português uma das mais estruturadas formas de se jogar (José Mourinho em épocas determinadas no Porto e no Chelsea).
A idéia tradicional do 4-3-3, certamente seria vulnerável e pouco eficaz se fosse inserida nos novos paradigmas que hoje vive o futebol (e sendo vulnerável, remeteria a idéia de que jogar em tal plataforma não seria bom).
Porém, a questão aí não é se ele (o 4-3-3) é ou não bom, eficiente e consistente, mas sim qual a lógica que o conduz dentro de campo. Se a lógica for equivocada, não será a plataforma de jogo a responsável pela derrota ou vitória.

O Barcelona, por exemplo, que hoje tem dificuldades jogando no 4-3-3 também já foi quase imbatível em anos anteriores jogando no mesmo “esquema tático”. Em uma reflexão simplista e ansiosa é possível que, sem pestanejar, atribuamos as dificuldades atuais do Barcelona às mudanças de alguns jogadores em determinadas posições. Isso também é variável interferente, mas não é a única. Fato mesmo é que a “culpa” não é do ex-herói, o 4-3-3.

No caso do Chelsea (nos primórdios da “fase Mourinho”), que apresentava um 4-3-3 diferente do Barcelona, também muitas conquistas (e como a derrota não pode ser atribuída somente e imprudentemente a plataforma de jogo, também não pode e não deve, à vitória).

Tanto Barcelona, quanto Chelsea apresentaram modelos de jogo potencializados pelo moderno 4-3-3 que levavam a campo.
O 4-3-3 é, na perspectiva da estruturação e ocupação do espaço de jogo (vide texto sobre esse tema em colunas anteriores) a plataforma que proporciona, “estaticamente” a melhor distribuição geométrica dos jogadores em campo, e isso é uma grande vantagem. A questão é como dimensionar uma dinâmica de movimentação de jogo que possibilite a potencialização dessa vantagem, no sistema defensivo, ofensivo e de transições, integralmente, sem distinções ou fragmentações.
Obviamente é mais fácil seguir o “ritmo evolutivo” e rechear o meio campo com o maior número de jogadores possível. Então para quê pensar no 4-3-3, se podemos formar um 4-5-1?
O fato é que, quebrando paradigmas e refletindo sobre a lógica do jogo de futebol, nada poderá impedir que essa ou aquela plataforma de jogo torne-se frágil ou ultrapassada.
Se tradicionalmente os atacantes no 4-3-3 tinham que fazer gol e esquecer o jogo defensivo, hoje ganharam novos atributos. Isso não quer dizer que precisem voltar atrás da linha da bola ou acompanhar volantes, zagueiros e/ou alas que partem para o campo de ataque – porque aí também estaríamos reforçando um raciocínio atrasado preso no passado.
Hoje, seja o 4-3-3, o 4-4-2 ou qualquer outra a plataforma que se deseje utilizar é prudente notar que não se pode jogar no século 21 com paradigmas e idéias de jogo do século 20.
Como ainda não inventaram a máquina do tempo (pelo menos ninguém do futuro veio nos avisar e também nenhum homem das cavernas fora trazido para nos contar histórias), talvez o “gosto” de se aprisionar ao passado seja uma forma poética ou filosófica de fazer viagens a tempos de glórias; glórias essas que não voltam pela simples reprodução das “receitas de bolo”.

Porém podemos, no presente, escolher se vamos seguir em frente com mais ou com menos velocidade. Então, se o século 21 é um “tempo” que ainda não chegou para muitos no nosso futebol, “nós outros” devemos mesmo é acelerar. Quem quer ficar para trás, que fique…

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Código de Justiça Desportiva: penas muito severas ou aplicação mal feita?

Caros amigos da Universidade do Futebol,
 
Nessa semana, durante uma entrevista para um colega da mídia carioca, discutimos sobre o caso da final da Taça Guanabara e a possibilidade de serem aplicadas a jogadores e técnico do Botafogo penas muito severas pelo Tribunal de Justiça Desportiva.
 
Por conta da confusão ocorrida no final da partida contra o Flamengo, tais atletas e técnico foram levados a julgamento e poderiam receber suspensões que poderiam chegar a anos de inatividade (caso do técnico Cuca, por exemplo, que havia sido indiciado em três artigos diferentes e a somatória das penas poderia chegar a dois anos de suspensão).
 
A questão é interessante. As penas previstas no Código são muito rigorosas? O Código deveria ser revisto nesse sentido? Em nossa opinião, não.
 
Para que se entenda a dinâmica dos julgamentos, é preciso esclarecer que, caso os auditores do Tribunal entendam que o indivíduo praticou determinada conduta típica (prevista no Código), a correspondente pena lá prevista deve ser aplicada.
 
Portanto, em um primeiro momento, cabe aos auditores analisarem a descrição da conduta contida no Código e verificarem se o que aconteceu de fato corresponde à mesma ação.
 
Em caso afirmativo, o julgadores devem decidir qual pena deve ser aplicada ao agente da conduta típica.
 
Nessa segunda etapa do julgamento, a subjetividade é maior, uma vez que o código estabelece penas mínimas e máximas para cada conduta. Dependendo do nível de gravidade da conduta, e depois de aplicados os devidos atenuantes ou agravantes, o julgador aplica a pena para aquele caso específico.
 
Tudo isso para dizer que o auditor é vinculado ao que dispõe o Código. Não pode ele decidir dar pena menor ou maior do que aquela prevista, por entender que a conduta não foi grave, ou que foi mais grave do que imaginavam aqueles que elaboraram o Código.
 
Dessa forma, discutem alguns que as penas do Código são muito severas, e que o Código deveria ser revisto. Não entendo assim.
 
As penas devem ser mesmo severas para inibir a conduta não desejada por aqueles que atuam no espetáculo do futebol. Reduzir as penas poderia soar como um incentivo para o descumprimento do Código.
 
O centro da questão, na verdade, é a coerência dos julgamentos. É a maneira em que o Código é aplicado. Esse sim é o grande desafiio a ser atingido.
 
Não podemos mais tolerar que julgamentos sejam tendenciosos por conta da relevância das partes envolvidas, ou do certame analizado. O mesmo rigor aplicado a atletas de um time, deve ser imposto a atletas de outro time, ainda que os julgadores sejam outros.
Como vimos, por mais detalhado que seja o Código de Justiça Desportiva, sempre haverá subjetividade dos julgadores nas decisões.
 
Porém, não podemos permitir que essa subjetividade dê margem para os auditores não respeitarem decisões anteriores e não aplicarem o Código de forma uniforme a qualquer pessoa que o discumpra.
 
Nos dias de hoje, não se pode conceber um Tribunal que não tenha a imparcialidade e a independência ao aplicar o Código.
 
Assim, concluo que não temos que gastar nossos esforços para alterar o Código. O que temos que fazer, é fiscalizar os aplicadores do Código para que sejam absolutamente imparciais e coerentes nas decisões.
 
É desta forma que medidas como as conhecidas “viradas de mesa” deixam de existir. E, se alguém praticar uma conduta prevista no código, que pague com o cumprimento da justa pena.
 

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É ruim, mas é bom

Existe uma espécie de ditado no mercado de futebol que diz que quanto mais ódio existe na relação entre dois clubes, melhor. Ou seja, quanto mais um torcedor de um time A odeia o torcedor de um time B, mais possibilidades de exploração mercadológica existem.
 
Natural, afinal o combustível, a essência mais básica do futebol é a rivalidade. Não existe jogo sem combate, não existe vitória sem derrota e não existe redenção sem a vontade de vingança. Quanto mais intensas forem essas características, mais intenso será o jogo e mais intensa será a ligação da torcida com o seu clube. E, obviamente, maior intensidade na relação torcida-clube significa maiores possibilidade de captação financeira dentro desse processo.
 
É claro que para uma observação mercadológica e social esse ódio precisa ser controlado sem que ultrapasse o tênue equilíbrio entre o respeito e a violência. Ódio é bom, violência é péssimo.
 
Bom. Tudo isso foi para falar sobre como as movimentações bélicas deflagradas por Venezuela, Equador e Colômbia podem afetar o futebol. Contemporaneamente, a América do Sul, pelo menos sob a perspectiva brasileira, não é um grande caldeirão de rivalidades pátrias. Obviamente existem discordâncias e afins, mas nada que signifique maiores tradições bélicas, com anos e anos de conquistas de territórios, mortes e coisas parecidas. Só uma guerrinha aqui, outra ali, mas nada que faça com que os habitantes de cada país manifestem seus desgostos em uma partida ou que motive dirigentes a fazerem declarações polêmicas na antecedência de algum confronto.
 
A coisa por aqui sempre foi meio tranqüila, principalmente se compararmos com Europa, Ásia ou, quiçá, África. Pelo menos até agora.
 
Futebol é notoriamente um dos grandes símbolos de uma nação, e isso toma muito corpo nas partidas entre seleções rivais. É, com o perdão do imenso clichê, uma batalha resumida a 90 minutos. E é em parte por isso que as pessoas gostam de futebol, porque ele permite que você xingue alguém sem que isso seja considerado uma ofensa pessoal. É coisa de jogo, é coisa de rivalidade. E, no mundo racional, o futebol possui essa permissividade.
 
É difícil acreditar que vá ocorrer um confronto de maiores proporções, mas certamente esse recente entrevero favorece, e muito, o recém começado campeonato continental. Mas é bom atentar que para o conflito ser benéfico, o ódio controlado é necessário não apenas entre nações, mas também entre cidadãos. Caso o problema seja apenas de ordem institucional, ou seja, caso ele não represente o real sentimento da população como um todo dos países envolvidos, as partidas dificilmente refletirão uma nova situação. Continuará tudo mais ou menos na mesma.
 
Levando-se em conta que o histórico da América Latina mostra que dificilmente uma população de um país é plenamente representada pelo seu governo, é provável que nada vai mudar e que a última hipótese tende a ser a verdadeira.
 

O que é ruim, mas é bom.

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Quem acredita?

Dois meses. Esse foi o tempo que durou a paz de Adriano no São Paulo. Até que foi muito. Afinal, já são alguns jogos que o atacante não marca e também que o time paulista não engrena dentro de campo. Mas, se a imprensa estava até que paciente, bastou o primeiro deslize público para tudo desandar.
 
Desembarcar de viagem sem o uniforme do clube, chegar atrasado ao treino, ter o carro batido por um amigo, sair antes do treinamento após discutir com o superintendente de futebol do São Paulo.
 
De fato foi uma seqüência intensa, no melhor estilo “24 horas”, para um craque que perdeu o pé depois que, pelo visto, perdeu a cabeça pelas farras da vida que fazem parte de quem tem 20 e poucos anos. Mas que não devem, pelo menos publicamente, aparecer no cotidiano de um jogador de futebol. Ainda mais se ele for um atleta de primeira grandeza.
 
Adriano acertou ao trocar a badalada Milão pelo midiático São Paulo. O clima para ele na Itália não estava bom. Já em terras brasileiras ele foi recebido de braços bem abertos, prontos para dar o carinho que um atleta quer ter. Em troca, não se pedia muito. Apenas boas exibições, gols e, de preferência, a conquista de títulos para o campeoníssimo São Paulo.
 
O script era o melhor possível. Faltou ao ator principal ensaiar um pouco melhor a peça.
 
Adriano não está assessorado neste retorno ao país de origem. Não existe um conselheiro amigo, de confiança, preparado para dar o puxão de orelha necessário a quem está próximo de abrir mão de uma das mais promissoras carreiras desde o fenômeno Ronaldo, o Fenômeno.
 
Faltou ao atacante tricolor a ajuda de um assessor para preservar uma imagem já mundialmente desgastada. Se, desde o avião onde supostamente o atleta suou a ponto de ter de trocar de roupa, alguém bem preparado estivesse a seu lado, nenhuma crise teria acontecido.
 
Adriano teria esperado o furacão da mídia passar para então descer. Ou sairia ao lado do técnico Muricy Ramalho, explicando o motivo da troca de roupa ali, na hora, sem dar margem a suposições. Pior ainda foi a revolta no dia seguinte, durante o treino, quando além do atraso foi indagado sobre o acidente envolvendo seu carro, mas não a sua pessoa.
 
Resultado: mais um dia se passou, com a imprensa mundial malhando o imperador, até que viesse uma coletiva de imprensa para Adriano voltar no tempo até dezembro de 2006.
 
Sim, quem estava acompanhando de perto o Campeonato Italiano sabe que Adriano já havia culpado a pressão da imprensa dizendo que ela só existe porque ele é ele, campeão de uma Copa América e de uma Copa das Confederações. E que a resposta viria com os gols e o bom futebol.
 
Roberto Mancini, técnico da Internazionale, agüentou um ano esse papo. Agora, pegou mal ele rebobinar a fita e só apertar a tecla SAP para falar em português. Quem acredita nesse discurso?
 
Pelo visto a tolerância do São Paulo está próxima do fim. E o abandono da gestão da imagem de Adriano leva ao desespero.
 
Alguém realmente acredita que ele possa voltar a ser o Imperador?
 

Talvez, nem ele.

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Proposta obriga estádios a instalar câmeras de vídeo

O Projeto de Lei 2494/07, do deputado Eugênio Rabelo (PP-CE), exige a instalação de câmeras de vigilância em estádios de futebol credenciados para realizar partidas oficiais. As câmeras deverão filmar, de maneira simultânea, todos os locais do estádio onde haja concentração de público.

Pela proposta, os administradores dos estádios terão um ano para se adequarem à norma. O governo federal regulamentará o valor das multas para o descumprimento da lei em 90 dias. Esse valor, de acordo com o projeto, não poderá ser superior a R$ 50 mil.

Eugênio Rabelo argumenta que brigas entre torcedores, invasões de campo e arremesso de objetos no gramado em direção a jogadores e árbitros atrapalham o futebol brasileiro. A dificuldade para identificar os responsáveis, explica o parlamentar, dificulta a punição dos responsáveis. "A experiência tem demonstrado que a medida [a instalação de câmeras] é eficaz na redução da violência nos estádios de futebol", afirma.

Rabelo acredita que, além de resolver o problema, a instalação de câmeras de vigilância evitaria punições injustas aos clubes mandantes das partidas. Isso porque o Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) prevê perdas de mando de campo e multas para casos em que objetos sejam arremessados em campo.

Tramitação
O projeto foi apensado ao PL 451/95, do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), que estabelece regras para prevenção e repressão de violência em estádios de futebol e competições esportivas. Os projetos tramitam em regime de urgência e estão prontos para análise do Plenário.

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A tática do treinador-professor e a do treinador-adestrador… Até o meu cachorro sabe a diferença

Por quê o treinador de futebol é chamado, pelos seus atletas, de professor? Respeito, admiração, conhecimentos ímpares, imposição ou “esperteza disfarçada”?
 
Vejamos a seguir dois trechos interessantes da tese de doutorado do professor e pesquisador Hermes Balbino apresentada a faculdade de Educação Física da Unicamp.
 
Os jogos desportivos coletivos, como parte de modalidades integrantes do fenômeno complexo Esporte, têm se manifestado significativamente no cenário esportivo nacional e sua expressividade tem se confirmado com a participação significativa das seleções nacionais em eventos internacionais, com destaque para diversas conquistas de posições expressivas em Jogos Panamericanos, Campeonatos do Mundo e Jogos Olímpicos. Técnicos brasileiros de modalidades coletivas têm seus nomes ligados às conquistas das seleções nacionais e tomados como responsáveis diretos pelo sucesso das equipes”. (página xvii)
 
O treinamento esportivo é reconhecido como um processo complexo, em que o desempenho final do atleta ou da equipe é resultado da síntese de diversos fatores. Seu entendimento e explicação são gerados do domínio das informações das ciências do esporte, e fundamentalmente pela habilidade e competência que o técnico esportivo tem em tratar adequadamente esse conjunto de elementos presentes no ambiente de treinamento. Existe um jogo constante e dialético entre as teorias balizadoras do esporte, do treinamento esportivo, em seu relacionamento com as práticas dos técnicos. É de se considerar que o decorrer do processo de treinamento dos jogos coletivos desportivos, nosso objeto de estudo, evidencia cada vez mais o conhecimento das teorias que norteiam suas práticas, como também o desenvolvimento e estímulo constante das competências do técnico para interagir com os problemas que se apresentam”. (página 5)
 
O grande pedagogo Paulo Freire há muito apontou para o fato de que educar é mostrar caminhos.
 
Quer queiram ou não, treinadores de futebol deveriam ser professores. Sejam nas preleções pré-jogo ou nas conversas anteriores e posteriores a um treinamento tático, a troca de informações entre treinador e atletas é intensa. É preciso que existam estratégias que possam levar a todos o conhecimento. Se um jogador não compreende alguma informação, pode comprometer as estruturas táticas de sua equipe.
 
Um dos papéis do treinador é buscar alternativas para que todos no grupo possam entender as discussões que envolvem a tática e a estratégia de uma equipe.
 
No futebol os treinadores muitas vezes são tratados como grandes heróis. Como só uma equipe ganha o campeonato, é sempre maior o número de vilões do que de heróis. Muitas vezes a ele é atribuído o sucesso ou o fracasso de uma equipe. É o primeiro a perder o emprego em uma campanha desastrosa de jogos.
 
Se sua atuação e trabalho são tão importantes e de tamanha responsabilidade, é preciso que se entenda como ponto de partida que conhecimentos sobre táticas, estratégias, sistemas de jogo são primordiais, mas é também, dentre outros tantos, primordial compreender como desenvolver o que se pensa.
 
O jogador de futebol precisa aprender a ler o jogo taticamente. Aprender! Uma das atribuições do treinador de futebol é facilitar e potencializar esse aprendizado.
 
Apreciemos um trecho de um texto (texto que transcende o futebol) do professor João Batista Freire sobre algumas descobertas do pesquisador russo Vygotsky.
 
“Para Vygotsky, a aprendizagem é fator de desenvolvimento. Nessa linha, a escola não tem que esperar pelo desenvolvimento para ensinar seus conteúdos para os alunos. Aquele pesquisador russo afirmava que a escola não existe para ensinar as crianças no nível de conhecimento em que estão, mas sim, no que ele chamou de próximo nível de desenvolvimento. Ou melhor, se a criança tem um certo nível de conhecimento, por exemplo, em pular corda, o que deve ser ensinado a ela é o próximo nível desse pular corda. Ao nível atual de conhecimento Vygotsky chamou de nível A; ao próximo de B. A zona entre A e B, é a zona onde deve atuar a escola. Ou seja, B é o nível superior a A, mas que inclui A. É o nível em que a atuação da criança torna-se momentaneamente insegura, indecisa, com erros eventuais, mas na direção dos êxitos”.
 
Esses conceitos não se aplicam somente as crianças; se aplicam aos seres humanos; se aplicam aos jogadores de futebol. “Se o jogador de futebol e sua equipe têm um certo nível de conhecimento sobre jogar futebol (taticamente e tecnicamente), o que deve ser ensinado-desenvolvido-trabalhado com eles é o próximo nível desse jogar futebol. Sobre esse aspecto temos um exemplo mais uma vez no treinador português José Mourinho. Após conquista da Taça da Uefa, pela equipe do Porto, resolveu estruturar um “próximo nível de jogo” a sua equipe. Já tendo consolidado ao longo da temporada o 4-3-3, resolveu implementar novas lógicas dentro do jogo a partir do 4-4-2 (forma de jogar que o treinador considera “mais desequilibrada, embora igualmente eficiente, e que como tal, necessita de maior concentração”). Então, ao treinador-professor cabe estruturar seu plano de ação, encorpado em todas as questões que julga importante no seu “projeto de treinamento”.
 
O treinamento técnico-tático não pode ser submetido a cultura do “adestramento” onde se mecaniza, se automatiza, onde se condiciona; e o que é pior a não pensar!
 
O treinamento técnico-tático deve buscar o “pensamento rápido”, a leitura imediata do jogo, as situações-problema que levarão o atleta a aprender a resolver problemas.
 
O conhecimento sobre sistemas, esquemas, táticas e estratégias de jogo é essencial. Compreender quais as nuances de equilíbrios e desequilíbrios são possí
veis por exemplo em um 3-5-2 ou no confronto entre o 4-4-2 e o 4-3-3 têm máxima importância nos construtos que devem preencher a bagagem de conhecimento de um treinador de futebol. O mesmo é verdadeiro para o entendimento das dinâmicas de ataque, dinâmicas de defesa, princípios ofensivos, defensivos ou operacionais.
 
Há no entanto de se entender que anterior a isso tudo, é necessário compreender as bases para o exercício dos conhecimentos mencionados. Então a compreensão sobre o PENSAR ou o AUTOMATIZAR, o ENSINAR ou o ADESTRAR, o TREINAR JOGANDO ou o TREINAR MECANIZANDO, o CONHECER e o SABER alicerçam essas bases.
 

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