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Teoria da Tecnologia Esportiva I: conectando as ideias

 

Na tentativa de abordar o tema ‘Teoria da Tecnologia Esportiva’, alguns olhares já foram estabelecidos e discutidos nesta coluna e também por outros autores. Portanto, o objetivo nessa seqüência é organizar e agrupar algumas ideias de forma sistemática para que possam contribuir com aqueles que pretendem fazer do domínio da tecnologia um diferencial de atuação e intervenção, compreendendo que não basta saber usar um aparelho, é preciso saber como, onde e quando.

Num primeiro momento, considero crucial discutir o que é ciência e tecnologia. Tornar evidente, ou ainda, o mais explicito possível os conceitos e possibilidades para que o profissional que deseja compreender e, o mais importante, transferir essas idéias para a sua atividade prática, possa identificar os limites, definir suas expectativas e fazer uso tanto da ciência como da tecnologia de forma consciente, coerente e objetiva.

No esporte em geral, e mais evidentemente no futebol, há uma tendência em se justificar algumas coisas pelo inexplicável ou sobrenatural, às vezes acentuada pela paixão ou pelo significado que a modalidade adquiriu no Brasil, afinal, para nós, o futebol é um patrimônio cultural. Talvez por isso, crônicas apaixonadas como as de Nelson Rodrigues tenham se tornado uma representação da verdade, como o popular ‘Sobrenatural de Almeida’, na qual é invocado o místico que circunda e muitas vezes ‘explica’ o futebol, e acaba constituindo a verdade de muitos dos profissionais da bola.

Como justificar a ciência a serviço do futebol se aqueles que o fazem, seja no âmbito da prática, seja no âmbito do espetáculo, acreditam mais no tal do Almeida do que nos fatos. A tão invocada imprevisibilidade do futebol é tida como uma deusa e coloca o futebol acima de qualquer estudo e, para tanto, afasta com todas as forças a ciência.

Ora, assim é possível compreender a resistência histórica do futebol em relação a ciência. Muitos apontam a religião como grande rival da ciência. Ciência essa que tenta provar ou negar coisas que a religião perpetua e explica. Mas, com certeza, ambas estão muito próximas, tanto que para muitos, o desejo de provar ou negar a existência de Deus é o que os motiva por anos e décadas de estudos.

Voltando ao esporte… Se o futebol é classificado as vezes como religião e tem a ‘deusa imprevisibilidade’ como grande marca, como querer que a ciência, ‘rival’ da religião (lembro que não é esta a opinião do autor em relação ao distanciamento religião/ciência) possa ganhar espaço?

É imprescindível compreender o que é ciência para superar esses preconceitos, mas o amigo leitor pode ficar tranqüilo que não pretendo cansá-lo por demais com isso.

O conhecimento científico não é estático. Está em movimento e suas verdades prevalecem até serem falseadas. Mas o que isso significa?

Ser falseada é ser colocada à prova. Quando chega a uma definição ou verdade, a ciência o faz com base em procedimentos rigorosos e que aprofundam o conhecimento pré-existente sobre os fatos. E, até que novos estudos tragam novas constatações, as verdades prevalecem. E nisso não há demérito nenhum, tampouco espaço para melindres e vaidades, afinal, é um processo natural de evolução dos processos. Cientistas estão acostumados (ou deveriam) a isso, trabalham para comprovar ou negar hipóteses ou verdades existentes.

A ciência busca explicações e os significados dessas explicações. Essa busca permite compreender melhor os fatos e assim interpretar de forma mais incisiva, adequando os usos e aplicações conforme as necessidades de quem está imerso no futebol.

A ciência pode e deve fazer parte do futebol, aliás, ela já faz em muitos segmentos, em alguns, no entanto, prevalecem rusgas e verdades que, com o passar do tempo  e dos fatos, serão superados.

A tecnologia casa perfeitamente com os preceitos da ciência e o profissional deve compreender que nada disso é teoria. Como fazer isso? Compreendendo a ‘Teoria da Tecnologia Esportiva’ para tornar sua prática, fruto de conhecimento e experiência.

Continua…

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

 

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Os festejos de uma nova era

O Internacional completou, no último sábado, 100 anos de fundação. E, pela primeira vez no país, um clube de futebol mostrou que é possível ser feliz e criar muito barulho no ano em que se comemora o seu centenário. Porque, no sábado, o Colorado promoveu a maior celebração “marqueteira” já registrada no futebol nacional, com direito a passeata na avenida em frente ao estádio do Beira-Rio, lançamento de diversos produtos, desfile de moda, etc.

Não há nada de errado em fazer marketing sobre uma data comemorativa. Pelo contrário, é apenas mais um motivo para vender mais, que o digam os dias das Mães, dos Pais, das Crianças, dos Namorados… E foi exatamente isso que o Inter fez. Usou o centenário como motivo para arrecadar mais dinheiro.

Campeão da América e do Mundo em 2006, da Sul-Americana em 2008, o Internacional recebe cerca de cinco vezes menos do seu patrocinador em relação a Palmeiras, e seis vezes menos que São Paulo e Corinthians, para ficar apenas nos times de São Paulo (não por acaso os que mais recebem grana dos seus patrocinadores de camisa).

Do Banrisul, marca estampada em sua camisa há quase dez anos, o Colorado ganha R$ 3 milhões ao ano. Mas como pode o time atual ter craques como Nilmar e D’Alessandro? É nessa hora que a festa do centenário se justifica.

O Inter campeão em 2006 marcou uma quebra de paradigma na relação clube-torcedor. Amparado em seus sócios, o Colorado encheu o Beira-Rio e começou um plano para ter cada vez mais torcedores dispostos a contribuir mensalmente com o clube tendo em troca algumas regalias na compra de ingressos para os jogos.

Regalias porque o plano teve de ser revisado depois que não havia mais espaço no Beira-Rio para garantir a entrada de novos sócios, que então passaram a ter apenas facilidades para a aquisição de bilhetes, quando antes havia a certeza de que o ingresso estaria lá.

Hoje, por mês, os mais de 80 mil associados do Inter contribuem com cerca de R$ 2,5 milhões aos cofres do clube. Ou seja, o torcedor paga, por mês, quase o mesmo que o patrocinador por ano.

Por necessidade, o Inter foi buscar em seu torcedor a principal fonte de receita para o clube. Para convencer esse torcedor a consumir, precisou fazer uso do marketing. E é por isso que vimos, na última semana, o Colorado anunciar desde relógio até coleção de camisas em celebração ao seu centenário. Com tanta novidade, sem dúvida aumentará o desejo de consumo do torcedor. E o consumo irá diretamente para o caixa do Inter.

Só que a festa só foi completa mesmo porque, no domingo, ainda na ressaca das comemorações, o Colorado ganhou do Grêmio pelo Gauchão. Agora, se tivesse perdido…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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O universitário José Mourinho

No dia 23 de março de 2009, na clara luminosidade do meio da manhã, dirigi-me à Faculdade de Motricidade Humana (Lisboa, Portugal), para assistir à cerimonia de atribuição do grau de Doutor “honoris causa” ao Dr. José Mourinho, meu aluno, há 28 anos, no primeiro ano da Universidade.
 
Já dentro das instalações da Faculdade, perguntei onde poderia encontrá-lo. Apontaram-me o lugar certo, mas acrescentaram que se encontrava incomunicável. Mesmo assim, caminhei vagarosamente, na companhia do Mestre Luís Lourenço (amigo, quase irmão do the special one)e perguntei se estava, naquela sala, o José Mourinho. Um rapagão de cabelo loiro confirmou a presença, num convicto aceno de cabeça. Parecia um segurança e a sua imperturbabilidade era um modelo de controle profissional das emoções. Mas desembaraçou-me de hesitações e questionou-me: “E qual o seu nome?”. Não perdi tempo e respondi, imediatamente: o Dr. José Mourinho conhece-me por Manuel Sérgio. Mal ouviu o meu nome, exclamou: “Professor Manuel Sérgio? O mister fala-nos tanto de si! É evidente que pode entrar! Mas antes deixe-me abraçá-lo! O mister nutre por si grande admiração”.
 
Passei eu a inquiridor: E quem é você? E ele ainda surpreso pela minha inopinada presença: “Chamo-me Luigi Crippa. Sou o press office do Internazionale de Milão. Afinal, não era segurança, mas um jornalista ao serviço do Inter. E, abrindo a porta, anunciou: “Mister, o professor Manuel Sérgio!“. E o José Mourinho, com uma amabilidade que nunca abriu fissuras de azedume e desconfiança, em relação ao seu velho professor, saudou-me de braços abertos: “Professor, venha daí um abraço“. A seu lado, de olhos fixos no Luís Lourenço e em mim, o empresário Jorge Mendes, o pai e o sogro de José Mourinho…
 
Poderá perguntar-se (e alguns já o têm feito) por que me distingue ele, de entre todos os seus professores a mim que nada sei de treino desportivo e nunca fui treinador de futebol? Demais, no que ao futebol diz respeito, sou eu o discípulo e ele o Mestre! A resposta só pode ser esta: foi de mim que ele escutou, pela vez primeira, que o esporte não era uma atividade física, mas uma atividade humana; que a metodologia a empregar no esporte (e portanto no futebol) era a específica das ciências humanas; que o treino deveria ser simultaneamente físico-técnico-táctico-psicológico; que, para saber de futebol, era preciso saber mais do que futebol, ou seja, que só, com verdadeira cultura desportiva, o futebol se compreende; que é preciso ter em conta a pluralidade dos modos de conhecimento, procurando encontrar o porquê das vitórias de alguns treinadores, sem grandes habilitações acadêmicas.
 
Está aqui o segredo de José Mourinho: ele sabe que é especialista numa nova ciência humana e leva até o fim esta sua convicção. A esmagadora maioria dos treinadores não o sabe. E daí a diferença entre eles e o Doutor José Mourinho! Depois, é um homem de coragem e perspicácia invulgares, o que completa admiravelmente o estudo e a reflexão. O doutoramento “honoris causa“, outorgado pela Universidade Técnica de Lisboa, diz-nos que, desta forma: o José Mourinho é um verdadeiro homem de ciência e um universitário exemplar.
 
 
*Antigo professor do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.
 
Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo da motricidade. É reitor do Instituto Superior de Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Campus de Almada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia.
 
Esse texto foi mantido em seu formato original, escrito na língua portuguesa, de Portugal
 
Para interagir com o autor: manuelsergio@universidadedofutebol.com.br
 
Clique aqui para ler outras colunas de Manuel Sérgio.

Leia mais:
Quem é José Mourinho
A ‘descoberta guiada’ de José Mourinho

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A ‘intensidade da qualidade’ e a preparação técnico-tática-física-psicológica do futebolista

Algumas vezes já mencionei aqui questões que emergem das novas tendências na preparação do futebolista. Fiz apontamentos sobre os modelos tradicionais de treino desportivo (subordinados a uma preparação física), levantei algumas discussões e problemas sobre uma “periodização tática” (onde a construção do treino está subordinada a “tática”) e uma ou duas vezes mencionei a periodização de jogo (construção do treinamento subordinada ao jogo).
A construção de treinos a partir de uma ou de outra tendência ou modelo de treinamento será sempre regida por parâmetros orientadores que os caracterize efetivamente (o modelo, ou a tendência).
Em modelos tradicionais, a fragmentação do jogo em suas partes acaba indiretamente por tornar o controle de variáveis da carga de treinamento simples e facilitado. Como os óculos nesses modelos enxergam o correr, o saltar ou o mudar de direção em pedaços, e não o jogar como um todo, torna-se menos “conflituoso” estabelecer níveis de exigência para essas ações do que para a complexidade do jogar.
Obviamente, porém, que esses tipos de modelo acabam por se distanciar demais das reais exigências do jogo.
Subordinar a preparação ao jogo não é mais fácil; pelo contrário. Isso porque não se trata de desprezar os conhecimentos construídos ao longo de muitos anos nas diversas áreas que compõem as Ciências do Desporto; trata-se, sim, de conhecê-los melhor, integrá-los e avançar com eles a uma nova dimensão da preparação desportiva.
Assim como nos modelos tradicionais, na perspectiva da preparação subordinada ao jogo (que a partir desse momento chamarei de maneira abreviada de “PSJ”) dentre as variáveis mais “famosas” da magnitude da carga estão a “intensidade da carga”, o “volume da carga” e a “densidade da carga”.
Porém, na PSJ seus significados estão mais intimamente atrelados a complexidade inerente ao jogo de futebol. Enquanto que em modelos tradicionais, por exemplo, ser mais intenso significa correr mais rápido, saltar mais alto ou levantar mais peso, na PSJ ser mais intenso significa resolver melhor e mais rapidamente as situações-problema do jogo.
Nessa perspectiva inovadora, construir atividades de treino passa a ser a materialização de uma obra de arte, onde apenas e tão somente o conhecimento integral e integrado dos conteúdos que envolvem e dão significado às ações do jogo pode levar à sua correta elaboração.
O jogo de futebol possui dinâmicas bem particulares em que a todo tempo é necessário que cada jogador de cada equipe tome decisões simultâneas (muitas vezes sob a pressão do tempo e do espaço).
Tomar decisões erradas representa não resolver situações-problema do jogo. Uma preparação adequada para o “jogar” futebol deve levar isso em conta, de maneira que gere no treino um sem número de situações-problema (direcionadas aos objetivos do treino, é claro!) que aumente não só o leque de possibilidades de resposta, mas também as chances de se ter a melhor para cada circunstância.
E como o jogo de futebol, por ser jogo, é imprevisível, não há melhor maneira de preparar o atleta para a imprevisibilidade do jogo do que submetê-lo de maneira guiada a ela.
A densidade da carga tem se tornado um dos principais elementos norteadores e de controle para a construção do treino na PSJ (especialmente por estar atrelada ao número de situações-problema associadas ao objetivo da atividade, que são geradas durante seu desenrolar).
Atividades com alta densidade propiciarão uma exposição maior do jogador a determinado tipo de situação-problema; atividades com baixa densidade propiciarão uma exposição menor. Em linhas gerais, tem-se como verdadeiro que, dentre outras coisas, um bom treino deve estar associado a uma densidade maior, porque proporcionará aos jogadores uma gama maior de estímulos que os prepararão para os problemas do jogo formal (a competição propriamente dita).
Devemos destacar, porém, que hierarquicamente talvez mais importante que a preocupação com a alta densidade deveria ser a preocupação com a “intensidade da qualidade” (ou a “qualidade da intensidade”) do estímulo.
Isso quer dizer, em outras palavras, que além de se construir treinos com uma variedade de circunstâncias orientadas por situações-problema específicas, é necessário, e também muitas vezes mais importante, construir treinos que propiciem uma “qualidade de intensidade” que transcenda a busca pela eficiência e passe a ter como norte a busca pela eficácia.

Para interagir com o autor: rodrigo@149.28.100.147

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A 'intensidade da qualidade' e a preparação técnico-tática-física-psicológica do futebolista

Algumas vezes já mencionei aqui questões que emergem das novas tendências na preparação do futebolista. Fiz apontamentos sobre os modelos tradicionais de treino desportivo (subordinados a uma preparação física), levantei algumas discussões e problemas sobre uma “periodização tática” (onde a construção do treino está subordinada a “tática”) e uma ou duas vezes mencionei a periodização de jogo (construção do treinamento subordinada ao jogo).
A construção de treinos a partir de uma ou de outra tendência ou modelo de treinamento será sempre regida por parâmetros orientadores que os caracterize efetivamente (o modelo, ou a tendência).
Em modelos tradicionais, a fragmentação do jogo em suas partes acaba indiretamente por tornar o controle de variáveis da carga de treinamento simples e facilitado. Como os óculos nesses modelos enxergam o correr, o saltar ou o mudar de direção em pedaços, e não o jogar como um todo, torna-se menos “conflituoso” estabelecer níveis de exigência para essas ações do que para a complexidade do jogar.
Obviamente, porém, que esses tipos de modelo acabam por se distanciar demais das reais exigências do jogo.
Subordinar a preparação ao jogo não é mais fácil; pelo contrário. Isso porque não se trata de desprezar os conhecimentos construídos ao longo de muitos anos nas diversas áreas que compõem as Ciências do Desporto; trata-se, sim, de conhecê-los melhor, integrá-los e avançar com eles a uma nova dimensão da preparação desportiva.
Assim como nos modelos tradicionais, na perspectiva da preparação subordinada ao jogo (que a partir desse momento chamarei de maneira abreviada de “PSJ”) dentre as variáveis mais “famosas” da magnitude da carga estão a “intensidade da carga”, o “volume da carga” e a “densidade da carga”.
Porém, na PSJ seus significados estão mais intimamente atrelados a complexidade inerente ao jogo de futebol. Enquanto que em modelos tradicionais, por exemplo, ser mais intenso significa correr mais rápido, saltar mais alto ou levantar mais peso, na PSJ ser mais intenso significa resolver melhor e mais rapidamente as situações-problema do jogo.
Nessa perspectiva inovadora, construir atividades de treino passa a ser a materialização de uma obra de arte, onde apenas e tão somente o conhecimento integral e integrado dos conteúdos que envolvem e dão significado às ações do jogo pode levar à sua correta elaboração.
O jogo de futebol possui dinâmicas bem particulares em que a todo tempo é necessário que cada jogador de cada equipe tome decisões simultâneas (muitas vezes sob a pressão do tempo e do espaço).
Tomar decisões erradas representa não resolver situações-problema do jogo. Uma preparação adequada para o “jogar” futebol deve levar isso em conta, de maneira que gere no treino um sem número de situações-problema (direcionadas aos objetivos do treino, é claro!) que aumente não só o leque de possibilidades de resposta, mas também as chances de se ter a melhor para cada circunstância.
E como o jogo de futebol, por ser jogo, é imprevisível, não há melhor maneira de preparar o atleta para a imprevisibilidade do jogo do que submetê-lo de maneira guiada a ela.
A densidade da carga tem se tornado um dos principais elementos norteadores e de controle para a construção do treino na PSJ (especialmente por estar atrelada ao número de situações-problema associadas ao objetivo da atividade, que são geradas durante seu desenrolar).
Atividades com alta densidade propiciarão uma exposição maior do jogador a determinado tipo de situação-problema; atividades com baixa densidade propiciarão uma exposição menor. Em linhas gerais, tem-se como verdadeiro que, dentre outras coisas, um bom treino deve estar associado a uma densidade maior, porque proporcionará aos jogadores uma gama maior de estímulos que os prepararão para os problemas do jogo formal (a competição propriamente dita).
Devemos destacar, porém, que hierarquicamente talvez mais importante que a preocupação com a alta densidade deveria ser a preocupação com a “intensidade da qualidade” (ou a “qualidade da intensidade”) do estímulo.
Isso quer dizer, em outras palavras, que além de se construir treinos com uma variedade de circunstâncias orientadas por situações-problema específicas, é necessário, e também muitas vezes mais importante, construir treinos que propiciem uma “qualidade de intensidade” que transcenda a busca pela eficiência e passe a ter como norte a busca pela eficácia.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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O doping e as cláusulas do “whereabouts”

Caros amigos da Universidade do Futebol,

A Fifa e a Uefa declararam, recentemente, estarem contra as cláusulas referentes ao chamado “whereabouts”, contidas no novo Códido Anti-Doping, elaborado pela Wada (World Anti-Doping Agency), em vigor desde janeiro deste ano. 

Antes de entrar no âmago da questão, é necessário esclarecer do que se tratam tais cláusulas. 

A Wada é uma organização internacional independente criada em 1999 e que combate a prática do doping no esporte mundial. Foi a Wada que desenvolveu o código anti-dopagem, que é avalizado e implementado por diversas federações internacionais e organizações olímpicas, em diversos países.

A Wada acaba de lançar, neste ano, uma versão atualizada do código, em que o maior e mais novo objetivo é harmonizar as regras para o controle do anti-doping em todas as partes do mundo. Apesar das diversas realidades nos diversos países, e também nos diversos esportes, parece ser essa uma postura, digamos, justa para punir de forma equalitária todos os atletas participantes de determinadas competições.

Uma dessas disposições a serem harmonizadas são as informações “whereabouts”. Todos os atletas são obrigados a se submeterem (conforme o caso) a exames anti-doping durante as competições. Para além desses exames, outros esporádicos são feitos ao longo do ano (de surpresa) em alguns atletas (de elite), a fim de inibir que substâncias/métodos não permitidas(os) sejam consumidas/realizados em períodos em que o atleta não participa de competições.

Para tanto, esses determinados atletas são obrigados a informar à federação ou ao comitê olímpico onde estarão em um período de uma hora em todos os dias de sua vida, enquanto forem atletas. Isso permite que os responsáveis pelo tal exame esporádico possam encontrar o atleta selecionado. Essa informação feita pelos atletas chama-se “whereabouts information”.

A grande polêmica gerada é que a Fifa (apoiada pela Uefa) entende que esportes de equipe, em que os atletas são obrigados a treinar em locais determinados pelos seus clubes (e.g., estádios e centros de treinamentos), poderiam ter a obrigação de prestar essa informação de forma mais flexível, considerando que estes atletas são mais fáceis de serem localizados do que atletas que competem em modalidades individuais.

A Fifa é contra, por exemplo, que seus atletas sejam incomodados em suas férias para os tais exames de surpresa. 

Aparentemente, a Wada não está disposta a abrir a exceção para esportes de equipe.

Esse é um assunto de fato delicado. A Fifa não quer estar associada a qualquer prática ilegal com relação ao futebol. E esse posicionamento contra a Wada pode dar o que falar com relação às reais intenções da principal entidade do futebol mundial. A imprensa pode eventualmente se perguntar se a Fifa quer mesmo apenas evitar constrangimentos desnecessários a seus atletas ou, no fundo, quer ser a organização a toma as decisões sobre anti-doping no futebol?

Em outras palavras, precisamos ouvir maiores explicações e fundamentações por parte da Fifa para melhor entender o seu posicionamento.

Pessoalmente, não vejo diferenciação entre esportes individuais e coletivos para essa questão. Acho que todos deveriam se submeter a exames, de acordo com o que for decidido dentro da estrutura interna de suas organizações desportivas.

Talvez, neste caso, podemos dizer que quem está na chuva é mesmo para se molhar. Se é atleta de elite, e for escolhido entre aqueles a apresentar os “whereabouts informations” pela Federação Internacional, então que cumpra com a regra como os demais atletas. 

São os ônus da posição (privilegiada) que ocupa.

Para interagir com o autor: megale@149.28.100.147

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O doping e as cláusulas do "whereabouts"

Caros amigos da Universidade do Futebol,

A Fifa e a Uefa declararam, recentemente, estarem contra as cláusulas referentes ao chamado “whereabouts”, contidas no novo Códido Anti-Doping, elaborado pela Wada (World Anti-Doping Agency), em vigor desde janeiro deste ano. 

Antes de entrar no âmago da questão, é necessário esclarecer do que se tratam tais cláusulas. 

A Wada é uma organização internacional independente criada em 1999 e que combate a prática do doping no esporte mundial. Foi a Wada que desenvolveu o código anti-dopagem, que é avalizado e implementado por diversas federações internacionais e organizações olímpicas, em diversos países.

A Wada acaba de lançar, neste ano, uma versão atualizada do código, em que o maior e mais novo objetivo é harmonizar as regras para o controle do anti-doping em todas as partes do mundo. Apesar das diversas realidades nos diversos países, e também nos diversos esportes, parece ser essa uma postura, digamos, justa para punir de forma equalitária todos os atletas participantes de determinadas competições.

Uma dessas disposições a serem harmonizadas são as informações “whereabouts”. Todos os atletas são obrigados a se submeterem (conforme o caso) a exames anti-doping durante as competições. Para além desses exames, outros esporádicos são feitos ao longo do ano (de surpresa) em alguns atletas (de elite), a fim de inibir que substâncias/métodos não permitidas(os) sejam consumidas/realizados em períodos em que o atleta não participa de competições.

Para tanto, esses determinados atletas são obrigados a informar à federação ou ao comitê olímpico onde estarão em um período de uma hora em todos os dias de sua vida, enquanto forem atletas. Isso permite que os responsáveis pelo tal exame esporádico possam encontrar o atleta selecionado. Essa informação feita pelos atletas chama-se “whereabouts information”.

A grande polêmica gerada é que a Fifa (apoiada pela Uefa) entende que esportes de equipe, em que os atletas são obrigados a treinar em locais determinados pelos seus clubes (e.g., estádios e centros de treinamentos), poderiam ter a obrigação de prestar essa informação de forma mais flexível, considerando que estes atletas são mais fáceis de serem localizados do que atletas que competem em modalidades individuais.

A Fifa é contra, por exemplo, que seus atletas sejam incomodados em suas férias para os tais exames de surpresa. 

Aparentemente, a Wada não está disposta a abrir a exceção para esportes de equipe.

Esse é um assunto de fato delicado. A Fifa não quer estar associada a qualquer prática ilegal com relação ao futebol. E esse posicionamento contra a Wada pode dar o que falar com relação às reais intenções da principal entidade do futebol mundial. A imprensa pode eventualmente se perguntar se a Fifa quer mesmo apenas evitar constrangimentos desnecessários a seus atletas ou, no fundo, quer ser a organização a toma as decisões sobre anti-doping no futebol?

Em outras palavras, precisamos ouvir maiores explicações e fundamentações por parte da Fifa para melhor entender o seu posicionamento.

Pessoalmente, não vejo diferenciação entre esportes individuais e coletivos para essa questão. Acho que todos deveriam se submeter a exames, de acordo com o que for decidido dentro da estrutura interna de suas organizações desportivas.

Talvez, neste caso, podemos dizer que quem está na chuva é mesmo para se molhar. Se é atleta de elite, e for escolhido entre aqueles a apresentar os “whereabouts informations” pela Federação Internacional, então que cumpra com a regra como os demais atletas. 

São os ônus da posição (privilegiada) que ocupa.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Teto de vidro

Semana passada, Luiz Gonzaga Belluzzo e Fabio Koff acenaram com a possibilidade de instituir um teto salarial para os clubes de futebol do Brasil, proporcional à receita de cada clube. Eles não explicaram muito bem como funcionaria isso, mas imagina-se por teto salarial um valor máximo que possa ser pago a um determinado jogador.

O discurso em prol do teto salarial é recorrente no mundo todo. Pudera, afinal, o maior custo de um clube de futebol sempre é, invariavelmente, o salário dos jogadores. Conseguir controlar essa despesa é essencial para o bom funcionamento financeiro de um clube.

O problema é que nunca dá certo.

Uma vez, tentaram instituir o teto salarial no Brasil. Foi no começo do século XX, quando havia a regra de que todos os jogadores deveriam permanecer amadores. Não deu certo. Começaram a pipocar os casos de pagamento por fora, para a família do jogador, entre outros benefícios, naquilo que ficou conhecido como ‘amadorismo marrom’. Deu no que deu.

Além da chance de pagamentos por fora, o teto salarial também implica na perda dos jogadores mais talentosos. Como o teto será só no Brasil, outros países poderão adquirir jogadores brasileiros ainda mais facilmente. Basta oferecer um valor um pouco acima do teto.

De qualquer maneira, a idéia é boa. Mas é inaplicável.

Se a intenção é controlar os gastos dos clubes, o melhor é instituir um sistema de licenciamento para as competições, como fazem a Bundesliga e a Uefa, que determinam um percentual da receita que pode ser gasto com salários e transferências.

Logicamente que isso afeta a competitividade do campeonato, uma vez que clubes mais ricos ficarão ainda mais em vantagem em relação aos clubes mais pobres. E também não é garantia de nada, ainda mais no Brasil.

Mas pelo menos estão se preocupando em controlar os gastos coletivamente. Já é alguma coisa.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Rede de mentiras

Parabéns aos jogadores que insistem em se envolver em escândalos, enxergar apenas o dinheiro à frente e corromper a todos na família, esquecendo-se do seu papel como ídolos a serem seguidos pela massa de jovens e que contribuiriam para a formação de parte do seu caráter na vida adulta.   

Parabéns aos clubes que menosprezam o relacionamento com os seus torcedores, deixando de zelar por seus estádios; pela ausência de planos de sócios condizentes com o custo-benefício de se freqüentar espaços com conforto precário; que não fazem o mínimo esforço em revelar bons jogadores-cidadãos em suas categorias de base; que continuam deixando os rumos de sua gestão nas mãos dos verdadeiros torcedores, não nas mãos de verdadeiros profissionais; que desenvolvem parcerias sem transparência e que, quando não dão certo, vão-se os parceiros e restam dívidas.  

Parabéns à CBF e às federações que continuam quebrando contratos comerciais; que continuam com dificuldades em negociar calendários e horários de jogos compatíveis com os interesses dos seus torcedores/consumidores de forma equilibrada frente à TV; que são pródigas em elaborar regulamentos patológicos que devem ser resolvidos nos tribunais; que fazem vistas grossas às vistorias técnicas e de segurança sobre as condições dos estádios de futebol no país; que seguem desprezando o futebol feminino, da base ao topo.

Parabéns aos torcedores que se organizam em hordas violentas para brigar com rivais, brigar entre si, brigar; que compram produtos piratas, “gatos” de TV a cabo, por acharem que seu clube cobra caro os produtos oficiais que sustentam seu dia-a-dia; que elegem políticos de ocasião que se utilizam do reduto eleitoral junto à torcida e que, no mais das vezes, não conseguirão zelar nem pelos interesses do clube, menos ainda por interesses da sociedade em geral.

Parabéns aos empresários aventureiros que manipulam jovens e suas famílias de todos os rincões do país, prometendo-lhes fama e fortuna, no Brasil e no exterior e que, quando nada dá certo, sobram histórias tristes, jovens iludidos e uns trocados, passando longe do tratamento digno merecido por todos.

Parabéns aos meios de comunicação que tratam de forma irresponsável o poder da informação e a transformam em desinformação; que esperam os fatos para vender notícias e soluções superficiais a problemas estruturais, perpetuando modelos arcaicos de gestão e afastando-se de um mínimo de engajamento nas discussões que levariam o futebol brasileiro a um patamar evoluído.

Parabéns ao Poder Público que não cansa de desenvolver projetos com boas intenções, mas de implementação duvidosa; que não consegue articular idéias entre todos os envolvidos na condução de nosso futebol, com responsabilidade, fiscalização e aperfeiçoamento do ambiente socioeconômico e cultural em que nosso futebol está inserido. 

Parabéns a todos nós pelo melhor futebol do mundo, amado e idolatrado, cantado em verso e prosa aqui e acolá.

Parabéns às ironias e mentiras do futebol brasileiro… Neste 1º de abril.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br