Categorias
Sem categoria

Tá no contrato…

Assistindo ao programa “Linha de Passe” da ESPN Brasil, na última segunda-feira, chamou-me a atenção a explicação que o jornalista José Trajano dava aos telespectadores sobre a transmissão dos jogos do Campeonato Espanhol pelo canal.

Dizia que, por contrato, o canal poderia transmitir, em rodadas alternadas, os dois melhores jogos – que, naturalmente, incluem Barcelona e Real Madrid – sendo um ao vivo e outro em VT.

E que no contrato isso, e aquilo…

Ainda mencionou a obrigatoriedade do canal em fazer referência, em jogos e em reportagens, à maior competição mundial de clubes como Uefa Champions League, e não como Copa dos Campeões da Europa ou outra denominação qualquer. Isso tudo porque “tá” no contrato.

Um dos princípios mais importantes previstos no conjunto normativo e regulamentar da Fifa diz respeito à estabilidade contratual. A partir dele, todos os protagonistas da “família futebol” – jogadores, clubes, agentes, associações nacionais – devem respeitar, mutuamente, aquilo que for negociado e pactuado por meio dos contratos.

Os contratos nada mais são do que acordos que racionalizam e formalizam a vontade das partes, sujeitando-as ao equilíbrio, transparência e previsibilidade quando da necessidade de invocar e exigir o cumprimento de obrigações reciprocamente assumidas.

Bastante apropriada parece a analogia à evolução dos princípios, das regras, das práticas e dos costumes ocorrida no comércio internacional, especialmente a partir do século XV e o que vivenciou o futebol internacional no século XX.

Da realidade das trocas comerciais efetuadas por povos de distintas nacionalidades, com costumes e práticas distintas, moedas e meios de troca diversos, além da discrepância normativa e da falta de mecanismos capazes de dirimir os conflitos, os protagonistas do comércio internacional trataram de criar soluções especializadas as suas necessidades.

O auge desta evolução e organização internacionais pode ser resumida na formação da Organização Mundial do Comércio, que baliza o relacionamento entre os Estados e também inspira as regras de conduta dos atos praticados entre os particulares da iniciativa privada.

Não à toa, a previsibilidade e segurança jurídica, que também passam por meios de solução de controvérsias adequados e especializados, aumentam e aceleram o intercâmbio internacional de negócios. E o futebol tem se beneficiado desta cultura regulatória internacional desde meados da década de 1990, a partir do estabelecimento dos Estatutos e Regulamentos da Fifa e sua Câmara de Resolução de Disputas e da invocação do Tribunal Arbitral do Esporte (CAS).

O fato de que a Liga Espanhola ou quem comercializa seus direitos de transmissão terem determinado quais jogos e quando poderão ser transmitidos não é à toa, aleatoriamente determinado. Isso é fruto do conhecimento profundo daquilo que se vende e do seu devido valor comercial agregado pela organização dos eventos – coisa que o futebol brasileiro ainda está engatinhando e sofre para vender seus campeonatos fora daqui.

A própria Uefa Champions League desenvolveu um trabalho extremamente minucioso de roteirização da competição, criando hino oficial, entrada e perfilamento das equipes em campo, logomarca, abertura das transmissões dos jogos, transformando seus eventos em experiência, não apenas em jogos de futebol. Daí a necessidade de preservar a identidade dos fatos com a marca e exigir esta observância dos parceiros em nível contratual.

Portanto, vale lembrar um ditado no Direito: quem entra num mau acordo, provavelmente acabará numa boa briga.

No meio disso, estão os contratos, justamente para equilibrar as forças dos que negociam e evitar maus acordos e, ainda mais, boas brigas.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Futebol, tecnologia e frases para refletir II

Olá amigos,

No texto I deste título, trouxemos a colaboração de Abraham Lincoln, Alphonse Allais e Arthur C. Clarke.

Hoje, buscando, nas celebres frases, inspiração para discutirmos algumas questões presentes no futebol moderno, contamos com a colaboração de outro trio de grande relevância no cenário nacional e mundial: Rui Barbosa, Jean-Jacques Rousseau e Nelson Mandela.

Um dos grandes intelectuais brasileiros do inicio do século passado, Rui Barbosa, disse certa vez:

“A miopia intelectual é a mais constante geradora do egoísmo”.

Confesso que essa frase por si só ilustra inúmeras situações e desperta, em cada um dos amigos, uma infinidade de interpretações, mas, como o propósito desse texto é justamente apresentar-lhes algumas das interpretações, vamos à conexão que faço desta frase com o futebol e a tecnologia.

Sendo sempre enfático sobre a necessidade de entender tecnologia como processo, lembramos da gestão de conhecimento, meio extremamente necessário nos clubes de futebol e que conta com a tecnologia e suas diferentes possibilidades como uma grande aliada para se tornar uma eficaz ferramenta de gestão.

Entretanto, abre-se a questão do grande egocentrismo que envolve muitos dos profissionais do futebol, e, até certo ponto, do esporte em geral. Para que uma gestão de conhecimento seja plausível, mais do que tecnologia, mais do que projetos e processos, é preciso admitir que outras pessoas, e não só uma, detêm diferentes níveis de conhecimento que se complementam, e mesmo quando aparentam ser incompatíveis, o embate ajuda a encontrar uma solução mais completa e embasada.

A miopia a que Rui Barbosa se refere é muito peculiar quando nos lembramos das fases da infância, nas quais a criança se vê como o centro de tudo, e tem dificuldades de reconhecer terceiros como parte importante do mundo em que vive. Essa comparação, um tanto quanto impensada, pode denotar que a gestão e os processos administrativos no futebol estão ainda na sua fase de infância, talvez, tentando chegar à adolescência, quando há a compreensão mais complexa do mundo e das relações sociais, ainda que prevaleçam alguns pensamentos imaturos.

Essa ideia pode ser complementada pelas palavras de Jean-Jacques Rousseau:

“Geralmente aqueles que sabem pouco, falam muito e aqueles que sabem muito, falam pouco”.

Para justificar o egocentrismo e a tal miopia intelectual, as palavras servem de escudo, protegendo quem as proclama, porém, muitas vezes, podem acabar servindo de obstáculo, seja pela miopia de Rui Barbosa, seja pela cegueira de Van Gogh, que dificulta, mas não impede (no máximo tarda) a chegada de novos rumos na administração do futebol.

“Quando um cego grita para outro cego, os dois tropeçam na mesma pedra”, disse Vincent Van Gogh.

E para não parecer que achamos que a culpa é única e exclusivamente de quem está aí fazendo o futebol há tantos anos, nos reportamos à frase do inquestionável Nelson Mandela, que ilustra muito bem aquilo que penso sobre como a ciência deve olhar para o futebol:

“Se você falar com um homem numa linguagem que ele compreende, isso entra na cabeça dele. Se você falar com ele em sua própria linguagem, você atinge seu coração”.

Para tocar o coração do futebol, defendemos a ciência no campo, temos que transformar nossos sisudos discursos em uma linguagem que toque o coração dos “profissionais da bola”, uma linguagem que faça sentido e seja passível de trazer resultados. Mas, que resultados são esses…

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

Leia mais:
Futebol, tecnologia e frases para refletir I

Categorias
Sem categoria

Fórmula e conteúdo

Os pontos corridos estão cada vez mais óbvios na mente da imprensa; mas e a adequação do calendário?
 
A fórmula do sucesso é, de fato, uma fórmula sem segredo. Ou, pelo menos, é o que mostra ser nesta primeira volta quase completa do Campeonato Brasileiro. Algumas palavras-chaves deveriam estar anotadas no caderno de cada dirigente.
 
Planejamento, pouca alternância de comando, elencos mais completos.
 
Essas três premissas já deveriam, com os pontos corridos entrando em sua sexta edição, fazer parte da cartilha de todo cartola. E da imprensa também!
 
Passada a primeira metade do campeonato, o espaço para surpresas é quase mínimo. Talvez Barueri e Avaí sejam as exceções do momento. O primeiro, pela campanha acima do esperado no ano de debute na elite do futebol. O segundo, pela melhora de desempenho sem grandes mudanças de elenco e de treinador. O que, talvez, explique essa arrancada.
 
O restante do campeonato não muda. Vai bem quem tem jogador de reposição, treinador com prestígio e calma para trabalhar no banco e, sobretudo, paciência dos dirigentes.
 
Palmeiras, Inter e São Paulo têm todas as condições para disputar o título, sendo que colorados e tricolores levam vantagem pelo fato de terem equipes com praticamente 15 a 16 jogadores, sem sofrer grandes oscilações quando sai um atleta considerado titular.
 
Esse talvez seja o grande ponto de interrogação sobre o futuro do Palmeiras no campeonato. Um time bem montado, eficiente na marcação, ainda tentando se encontrar no ataque, mas que, quando perde um jogador titular, fica sem o mesmo rumo.
 
A fórmula está pronta e já consagrou, nos últimos três anos, o São Paulo. Pontos corridos geralmente premiam quem é mais eficiente e, principalmente, quem tem mais fôlego para aguentar oito meses de campeonato com muitos jogos nos meios e finais de semana.
 
Até a imprensa percebeu isso…
 
Resta, agora, entender que a pergunta não é quando o calendário do futebol será unificado.
 
Antes disso temos tantos estaduais para serem resolvidos! Do contrário, a fórmula continuará a prejudicar o conteúdo.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Conteúdo Udof>Colunas|Sem categoria

O treino do jogador de futebol na “caixa de areia”

Hoje, vou me intrometer onde não fui chamado. Dia desses, estava vendo TV, ou melhor, zapeando canais, quando uma fervorosa discussão em um programa esportivo me chamou a atenção.

Dois especialistas da mesma área – preparação física – divergiam sobre benefícios, malefícios e a necessidade real de treinos em “caixa de areia” para jogadores de futebol.

Um deles dizia ser o treino em “caixa de areia” essencial para melhorar a velocidade de deslocamento dos jogadores em campo e que, portanto, esse meio de treinamento deveria ser usado em qualquer etapa da preparação. O outro concordava que o trabalho em “caixa de areia” era benéfico para a melhora da velocidade de deslocamento, mas que esse tipo de trabalho só deveria ser empregado em determinadas etapas do processo de treinamento.

Oh, não, senhores!

Primeiro, pelos motivos que já tantas vezes apresentei, proponho que pensemos em treinos para jogadores de futebol numa outra perspectiva – integrada, complexa, imprevisível, etc, etc, etc. Mas tudo bem; se preferem não mudar, paciência – a verdade, na verdade, não é uma verdadeira verdade.

O caso é que o problema na discussão que assisti é muito anterior a questões que envolvem modelos ou construtos inovadores nas tendências do treino desportivo do futebolista.

A velocidade de deslocamento do jogador de futebol, a constante mudança de direção e as alternâncias permanentes de ritmo de corrida estão, entre outras coisas, associadas também ao tempo de aplicação e manifestação da força muscular por parte desses jogadores. Esse tempo, para favorecer contrações bastante rápidas, precisa ser mínimo.

Para se deslocar em alta velocidade, um jogador necessita que o tempo de aplicação de força no solo (no gramado onde joga) seja muito pequeno, mas que promova movimentos muito rápidos, de maneira que a aplicação da força pelo pé do atleta no campo e a reação do campo sobre o pé se expressem de maneira extremamente reativa e explosiva.

O tempo de contato a cada movimento entre pé (chuteira) e solo (gramado) deve ser mínimo, e nele (no tempo mínimo) a expressão da força (que garanta a ação rápida) deve ser relativamente máxima e suficiente para a necessidade da própria ação.

E isso, é justamente o contrário do que a “caixa de areia” propicia.

Quando um atleta tenta fazer corridas rápidas na areia tem dificuldades, pois o tempo de contato entre o seu pé e o solo, a cada movimento, é maior do que quando realizado na grama, ou outra superfície mais dura. Isso quer dizer, que a frequência de movimentos que acaba sendo capaz de fazer na areia é menor do que no gramado e que, portanto, a exigência neuromuscular para a ação não se configura como sobrecarga que estimule respostas adaptativas no sentido do aumento da velocidade.

Trabalhos científicos têm, faz muito tempo (muito mesmo!), mostrado que os efeitos de curto e médio prazo de treinos na caixa de areia não contribuem para o aumento da velocidade de deslocamento ou da força explosiva; pelo contrário, muitos relatos apontam perda de desempenho nesses índices com treinos que a utilizam como meio.

Então, diria aos nossos especialistas (os que assisti discutindo) que, sob o ponto de vista da complexidade, essa discussão nem faria sentido. Mas que ainda assim, mesmo não me pautando nela (na complexidade), o treino na “caixa de areia” para melhora do desempenho na velocidade de deslocamento dos jogadores de futebol ou da sua força explosiva não faria sentido algum em etapa alguma da preparação atlética do futebolista.

Para interagir com o autor: rodrigo@149.28.100.147

Categorias
Sem categoria

O treino do jogador de futebol na "caixa de areia"

Hoje, vou me intrometer onde não fui chamado. Dia desses, estava vendo TV, ou melhor, zapeando canais, quando uma fervorosa discussão em um programa esportivo me chamou a atenção.

Dois especialistas da mesma área – preparação física – divergiam sobre benefícios, malefícios e a necessidade real de treinos em "caixa de areia" para jogadores de futebol.

Um deles dizia ser o treino em "caixa de areia" essencial para melhorar a velocidade de deslocamento dos jogadores em campo e que, portanto, esse meio de treinamento deveria ser usado em qualquer etapa da preparação. O outro concordava que o trabalho em "caixa de areia" era benéfico para a melhora da velocidade de deslocamento, mas que esse tipo de trabalho só deveria ser empregado em determinadas etapas do processo de treinamento.

Oh, não, senhores!

Primeiro, pelos motivos que já tantas vezes apresentei, proponho que pensemos em treinos para jogadores de futebol numa outra perspectiva – integrada, complexa, imprevisível, etc, etc, etc. Mas tudo bem; se preferem não mudar, paciência – a verdade, na verdade, não é uma verdadeira verdade.

O caso é que o problema na discussão que assisti é muito anterior a questões que envolvem modelos ou construtos inovadores nas tendências do treino desportivo do futebolista.

A velocidade de deslocamento do jogador de futebol, a constante mudança de direção e as alternâncias permanentes de ritmo de corrida estão, entre outras coisas, associadas também ao tempo de aplicação e manifestação da força muscular por parte desses jogadores. Esse tempo, para favorecer contrações bastante rápidas, precisa ser mínimo.

Para se deslocar em alta velocidade, um jogador necessita que o tempo de aplicação de força no solo (no gramado onde joga) seja muito pequeno, mas que promova movimentos muito rápidos, de maneira que a aplicação da força pelo pé do atleta no campo e a reação do campo sobre o pé se expressem de maneira extremamente reativa e explosiva.

O tempo de contato a cada movimento entre pé (chuteira) e solo (gramado) deve ser mínimo, e nele (no tempo mínimo) a expressão da força (que garanta a ação rápida) deve ser relativamente máxima e suficiente para a necessidade da própria ação.

E isso, é justamente o contrário do que a "caixa de areia" propicia.

Quando um atleta tenta fazer corridas rápidas na areia tem dificuldades, pois o tempo de contato entre o seu pé e o solo, a cada movimento, é maior do que quando realizado na grama, ou outra superfície mais dura. Isso quer dizer, que a frequência de movimentos que acaba sendo capaz de fazer na areia é menor do que no gramado e que, portanto, a exigência neuromuscular para a ação não se configura como sobrecarga que estimule respostas adaptativas no sentido do aumento da velocidade.

Trabalhos científicos têm, faz muito tempo (muito mesmo!), mostrado que os efeitos de curto e médio prazo de treinos na caixa de areia não contribuem para o aumento da velocidade de deslocamento ou da força explosiva; pelo contrário, muitos relatos apontam perda de desempenho nesses índices com treinos que a utilizam como meio.

Então, diria aos nossos especialistas (os que assisti discutindo) que, sob o ponto de vista da complexidade, essa discussão nem faria sentido. Mas que ainda assim, mesmo não me pautando nela (na complexidade), o treino na "caixa de areia" para melhora do desempenho na velocidade de deslocamento dos jogadores de futebol ou da sua força explosiva não faria sentido algum em etapa alguma da preparação atlética do futebolista.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

O triste fim do caso da Máfia do Apito

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Chegou ao fim o impasse que pairava sobre os desdobramentos do caso daquilo que ficou conhecido como Máfia do Apito.

Para quem não se lembra, no Campeonato Brasileiro de 2005 foi descoberto um esquema envolvendo apostadores e juízes de futebol, que manipulavam (ou tentavam manipular) jogos para favorecer apostas anteriomente feitas por integrantes do grupo.

Antes de qualquer comentário, é sempre importante ressaltar quão prejudicial ao esporte tal prática representa. A manipulação de resultados altera a verdade desportiva e pode acarretar, em última análise, na descredibilidade total do jogo, afastando torcedores, investidores, mídia, etc.

As autoridades desportivas agiram com firmeza nesse caso, ao afastarem em definitivo dois árbitros responsáveis. Porém, na justiça comum, o resultado não foi nada satisfatório.

Acabamos de ter a notícia de que os desembargadores responsáveis pelo julgamento da ação penal proposta contra os envolvidos decidiram por trancar o processo, isentando-os de qualquer pena na esfera criminal.

Aparentemente, apesar de reconhecerem que de fato houve manipulação de resultados, os desembargadores entenderam que não há como caracterizar tal fato como criminoso com base na nossa legislação criminal.

Em outras palavras, podemos abstrair dessa decisão que a manipulação de resultados desportivos, ainda que para a finalidade de se auferir lucro com apostas irregulares, não caracteriza crime.

Não queremos entrar no mérito se a decisão foi acertada ou não. Mas precisamos dizer que ela é bastante prejudicial, não só para o futebol, como também para o esporte em geral em nosso país.

Temos que unir esforços, tanto das autoridades do futebol, como das autoridades públicas, para se alterar com urgência a legislação criminal pátria. É preciso que se reconheça de uma vez por todas a existência de uma especificidade do esporte e que, desta forma, sejam criadas uma série de artigos legais que visem coibir atitudes indesejáveis no mundo do esporte.

Lembre-se que o esporte é hoje um ramo de atividade comercial, mas que possui um caráter social de proporções indescritíveis. Não se pode aceitar que certas práticas continuem a ser impunes, e que aproveitadores continuem a tentar desvirtuar os seus princípios fundamentais em busca de proveitos financeiros.

Não tenho nenhuma dúvida que a manipulação de resultados desportivos, assim como outras condutas não condizentes com os princípios do esporte, deveriam ser punidas como um crime como outro qualquer.

Precisamos de uma reforma legislativa já. De uma reforma séria, sensata, e não política. Para a punição dos responsáveis e da busca pela tão sonhada credibilidade do nosso esporte.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Fermento

Você não vai gostar do que vai ler. Provavelmente, irá reclamar.Quiçá me enviará um e-mail. Mas alguém tem que dizer. O futebol não é um negócio tão grande quanto você imagina. Não é. Nunca foi. Provavelmente, nunca será.

Alguém, em algum lugar, criou o mito. Provavelmente foi o William MacGregor, um escocês que era dono do Aston Villa e fundou a Football League na metade do século XIX. Ele, em seu livro ‘The book of Football’, escreveu: ‘football is a big business’. A ideia pegou, e todo mundo passou a reproduzir.

Você pode estar pensando que eu sou idiota, o que é justo. Afinal, todo mundo diz que o negócio do futebol é enorme, só que mal explorado.Mas a verdade, infelizmente, é que o futebol é um negócio extremamente supervalorizado. Ele gera mais exposição do que dinheiro. E, talvez por isso, todo mundo ache que vale muito, mas muito dinheiro.

Você conhece a Usina Itaiquara de Açúcar e Álcool S.A.? É provável que não. A não ser que você trabalhe no setor de cana-de-açúcar, ou que compre produtos de panificação, ou que more em Tapiratiba, São Paulo, ou que torça para a Portuguesa, o que eu imagino não serem características do perfil dos poucos que leem essa coluna.

De qualquer maneira, a Itaiquara produz energia, produtos pra confeitaria e produtos pra uso doméstico, como açúcar, mistura pra bolo, mistura pra pão de queijo e fermento, que minha mãe sempre disse também ser energia.

Incrivelmente, ou não, a Itaiquara patrocina a Portuguesa, além da Pizza na Roça, supostamente a melhor pizzaria do Brasil, localizada em Caconde, São Paulo. Incrivelmente, também, é que a Itaiquara não está sendo citada aqui por nada disso. A Itaiquara está sendo usada de exemplo porque ela foi a milésima empresa em vendas do Brasil no ano de 2008, de acordo com o índice “Melhores e Maiores” da Exame. A Itaiquara faturou no ano passado 133,9 milhões de dólares, o que dá cerca de 320 milhões de reais de acordo com a cotação usada pela revista. A milésima empresa do Brasil. Isso quer dizer que outras 999 empresas faturaram mais.

E sabe quanto o São Paulo Futebol Clube, tradicionalmente o clube com maior receita do país, faturou no ano passado? 158 milhões de reais, menos da metade do faturamento da Itaiquara, a milésima empresa do Brasil, que vende produtos de panificação e patrocina a Portuguesa, o que – colocando nessa ordem – até faz sentido. Menos da metade. O maior clube do Brasil.

Lógico que você vai dizer que o São Paulo explora mal as receitas e que ele poderia crescer muito mais se o futebol fosse mais organizado. Certo. Não há dúvidas que ele poderia arrecadar mais. Mas quanto mais? O grosso da grana, quase 40%, vem da venda de jogadores e direitos de televisão, valores que dificilmente podem ser elevados. Adicionando o patrocínio, que está num valor bastante significativo e que dificilmente tem espaço para crescimento, o percentual sobe para quase 50%. Esse valor é de certa forma consolidado e tem pouco espaço para crescimento, por mais bem organizado que o clube seja.

De resto, tem valor de ingresso, sócios, premiações, enfim, uma diversidade de coisas. Que até poderiam apresentar também um crescimento, mas nada capaz de fazer dobrar o faturamento do clube para que ele, dessa forma, chegasse próximo à milésima empresa do país.

Na Europa, acredite, também não é diferente. Os clubes de futebol não figuram na lista das maiores empresas de qualquer país. Apesar de ter uma exposição enorme, o negócio do futebol, volto a dizer, não é tão grande assim.

Diminuir as expectativas de geração de receita provenientes do futebol, em especial do Brasil, talvez seja um passo importante para se melhorar as condições atuais. Por isso, por mais decepcionante que possa parecer, é imprescindível que se analise a realidade do jeito que ela é.

E se você é de Itaiquara ou trabalha em um canavial, ou é torcedor da Portuguesa, por favor, me envie um e-mail. Ficaria bastante contente em conhecer as razões pelas quais você lê o que eu escrevo.

Em tempo: caso o São Paulo tivesse enviado o seu balanço para a Exame, ele ficaria na honrosa milésima centésima nonagésima quinta posição, empatado com a Ponte de Pedra, uma hidrelétrica localizada em Itiquira, Mato Grosso, que tem seis funcionários. Se você é de Itiquira, também pode me mandar um e-mail. Se você for um desses seis funcionários, por favor, não mande nada. Seria assustador demais.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Informação é o nosso esporte

Há alguns meses, havia escrito minha coluna defendendo a dedicação dos clubes do futebol brasileiro a programas de pesquisa e desenvolvimento de produtos e serviços, tal qual é feito no mercado corporativo.

Dizia também, que a pesquisa vem antes do desenvolvimento, não só na própria expressão consagrada, mas na prática dos negócios.

Na semana passada, o Flamengo lançou um projeto vanguardista, chamado “Cidadão Rubro-Negro” (www.cidadaorubronegro.com.br) que visa atrair toda a massa de torcedores do clube para uma plataforma da internet, criando um ambiente de relacionamento social interativo e a partir do qual uma série de promoções e benefícios serão oferecidos pelo clube.

O “cidadão” virtual deve fornecer vários dados e preferências pessoais para criar seu perfil no site e isso, por si só, já lhe outorga pontos para acumular e trocar pelos benefícios e interagir em comunidades, compartilhando experiências e contatos com os membros da “nação”.

Não é um simples programa de sócio-torcedor. Existem categorias pagas e uma delas não-paga.

E, por que não-paga? Porque o maior valor do programa não está nessa receita direta de associações, mas sim, nas informações do perfil dos cidadãos, como o próprio site explicita.

“No Cidadão Rubro-Negro a torcida não financia o clube. Ao contrário, o grande valor para o Flamengo transcende um plano de mensalidade. Conhecer a torcida e construir uma imensa base de dados produzirá inteligência de mercado e trará mais receitas para o clube do que qualquer contribuição financeira individualizada dos torcedores”.

A informação é a grande sacada. Principalmente a informação filtrada, depurada, qualificada e vinculada a uma paixão que lhe adiciona muito mais valor.

Os torcedores querem usufruir de um senso de pertinência à realidade do clube e se relacionar com tudo aquilo que lhe diz respeito no dia-a-dia da instituição. Por isso, essa iniciativa possui grande potencial para ser reproduzida por outros clubes, independentemente do tamanho de sua nação – pois a paixão e o interesse, no futebol, não se medem, essencialmente, por isso.

Ademais, os clubes terão acesso a um meio de não só quantificar sua torcida – uma vez que as principais pesquisas realizadas até hoje careciam de maior precisão metodológica e amostragem – mas qualificar: cada torcedor terá um RG completo e detalhado sobre o seu envolvimento com o clube.

Com isso, a própria informação e o seu consequente uso adquirem mais valor de maneira a potencializar receitas de patrocínios e promoções.

Se informação não valesse tanto num mercado cuja conectividade e interatividade digitais imperam, o Google não seria uma das marcas mais valiosas, atualmente, em todo o mundo. E o que ele vende são serviços variados de informação.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Marcos e o penalty do Youtube: avanço ou falta dele

Olá amigos,

Na última semana, o goleiro Marcos, do Palmeiras, voltou a ser notícia de destaque, após pegar um pênalti contra o Atlético-MG, e, principalmente, pelo que disse após defender a cobrança.

Marcos disse: “Estudamos o que cada um faz. Quando a paradinha era novidade, tudo bem. Era bom para os atacantes, mas hoje em dia não é. Hoje existe internet, YouTube e nós podemos observar os batedores”.

Pode-se dizer que não é um fato extremamente novo no futebol. É curioso e, talvez, inédito no Brasil, mas existem outros exemplos de goleiros que se utilizam de recursos tecnológicos para mapear os estilos e cobranças de seus adversários.

No fim do ano passado, o goleiro Marco Amelia, do Palermo, da Itália, após defender uma penalidade de Ronaldinho Gaucho, afirmou que, no momento da cobrança, o atleta brasileiro executou movimentos muitos similares aos de um jogo de videogame.

“Foi como se estivesse jogando contra Ronaldinho no Playstation. Ele fez o mesmo movimento, a mesma corrida para a bola, muito estranho. No último instante, vi que ele havia mudado o canto e, então, mudei também o movimento, indo na bola e fazendo a defesa. Olhei nos olhos dele e pensei que ele iria bater no outro canto, mas quando o vi mudando a posição do pé, percebi que ele decidira mudar a batida”. Amelia quase defendeu outro pênalti, no mesmo jogo, também cobrado por Ronaldinho.

No começo deste ano, na final da Copa da Liga Inglesa, o goleiro Foster, do Manchester United, disse ter utilizado vídeos, desta vez por meio de um Ipod, para identificar o estilo dos batedores.

“Tentamos descobrir tudo sobre o adversário. E pouco antes do início das penalidades, eu olhei vídeos em um iPod com Eric Steele, treinador de goleiros. Acompanhei algumas cobranças de jogadores do Tottenham, inclusive, de O’Hara”.

Devemos espetacularizar a iniciativa de Marcos, e desses outros goleiros?

Por um lado podemos dizer que sim, que mostra o quão envolvidos os atletas estão com o jogo, estudando os adversários, se preparando com vídeos, colhendo informações e o que for possível sobre determinado jogador. Isso ressalta a qualidade e justifica o porque de um goleiro como Marcos ter o sucesso que tem, para além do carisma, sustentado por resultados.

E, porque eu acredito que, por outro lado não deva ser encarado como um aspecto positivo? Única e exclusivamente por se restringir a profissionais e craques de futebol que fazem de sua dedicação o diferencial.

Seria riquíssimo se todos os atletas agissem como Marcos, mas muito mais do que isso, que os clubes tivessem uma estrutura e os profissionais que gerenciam, planejam e desenvolvem os trabalhos nas equipes dessem valor a questões como essa que, conforme defendemos em outros textos, fazem parta de uma Central de Inteligência de Jogo (CIJ).

A CIJ deveria ser uma estrutura do clube, assim como os aparelhos de musculação. Uma estrutura que permitisse coletar, armazenar e interpretar as informações de jogo, sejam elas vídeos, estatísticas, scout, relatórios, depoimentos, ou o que quer que possa ser transformado em estratégia. Talvez seja a falta de um profissional com a qualidade de observar fatos e transformá-los em informações, mas enfim, investir em capacitação profissional é também investir na estrutura do clube.

Algumas agremiações, que justiça seja feita, já possuem um Data Center, ou uma central de vídeos. Mas, mais do que isso, é importante que essa estrutura seja realmente aplicada, que faça parte da “filosofia de jogo” das comissões técnicas.

Ouvi, certa vez, o professor João Batista Freire (não me recordo os atores referenciados à época), falando sobre pedagogia do movimento, explicar que uma empresa ou um adulto podem construir um belo e dinâmico brinquedo, mas que esse só vai se tornar realmente um se a criança utilizá-lo e transformá-lo em objeto de sua brincadeira. É ela que vai fazer o uso, que quase sempre difere daquela ideia bruta e inicial de quem o desenvolveu.

É imprescindível que os técnicos queiram brincar. Um dado, um fato, só se transforma em informação quando é utilizado por quem interfere no jogo, por quem brinca.

E para não assustar aqueles que ainda acham que o futebol corre o risco de ficar extremamente tecnológico e sem graça, lembramos que o papel que o Youtube ou o Ipod desempenharam para Marcos e Foster era muito bem desempenhado pelo preparador ou goleiro reserva que ficava atrás do gol com um papel com as anotações sobre os batedores. Só que hoje, além da informação, é mais fácil memorizar o estilo com a facilidade de armazenamento da imagem.

Sobre o Youtube existem ainda outras possibilidades já em uso, abordaremos num próximo texto.

[i]
Marcos revela que Youtube é sua arma para estudar cobranças de pênaltis

[ii]
 
https://seguro.lancenet.com.br/noticias/09-03-02/498406.stm

[iii]
http://globoesporte.globo.com/Esportes/Noticias/Futebol/italiano/0,,MUL884541-9848,00-GOLEIRO+QUE+PAROU+RONALDINHO+USOU+VIDEOGAME+PARA+DEFENDER+O+PENALTI.html

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

O reflexo do Brasil

Nesta manhã de segunda-feira, em São Paulo, o Grupo Pão de Açúcar celebra a assinatura do contrato de patrocínio com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). O acordo vai até a Copa do Mundo de 2014, que será realizada no país, e renderá cerca de US$ 5 milhões ao ano para os cofres da CBF.

Para quem esteve, há menos de dez anos, ameaçado de perder o cargo e ir para a cadeia, a assinatura de mais um contrato de patrocínio deveria ser motivo de orgulho. Ricardo Teixeira, presidente da CBF, conseguiu uma das mais vitoriosas histórias no cenário empresarial brasileiro. Saiu do inferno para comandar o céu.

A Copa do Mundo de 2014 é hoje o pretexto para que a CBF e, consequentemente, Teixeira, tornem-se objeto do desejo de políticos e empresários. Decisões de quem pode ou não se beneficiar com a verba e o prestígio do Mundial tupiniquim cabem exclusivamente ao manda-chuva do futebol nacional.

E a celebração de mais um contrato de patrocínio para a CBF é um reflexo do que é o Brasil. Uma terra de absurdos contrastes, em que os mais ricos ficam ainda mais ricos e não se preocupam em dividir parte de sua riqueza com os mais necessitados.

Só em 2008, a CBF tinha quebrado o recorde de arrecadação na sua história. Com a Copa do Mundo confirmada no país, a entidade viu saltar o número de patrocínios e, também, aumentarem os valores pagos pelos patrocinadores que já estavam com ela. A consequência disso: a entidade teve um lucro recorde de R$ 32 milhões.

Com a sobra do dinheiro, o que fazer? Uma das medidas tomadas foi comprar um jato de US$ 10 milhões para a entidade. A justificativa é de que o avião facilitaria as viagens dos membros da Fifa que estarão por aqui para visitas das sedes da Copa. Só que as escolhas já estão feitas e, ao mesmo tempo, as viagens são cada vez mais raras.

Enquanto isso, os clubes que disputam as séries C e D do Campeonato Brasileiro sofrem para conseguir realizar suas viagens e disputar um campeonato que não seja deficitário. Isso sem falar no futebol feminino, que mal tem um torneio para disputar.

A CBF se comporta como um novo rico. Com muito dinheiro, em vez de ajudar o próximo, se preocupa em ostentar a riqueza. E a imprensa, quando denuncia a farra que é feita com esse dinheiro, é chamada de patrulheira.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br