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Notas desconexas

1- Se você perguntar para o Jérôme Valcke – que ninguém lembra, mas foi o cara responsável pelo rolo entre a Fifa, a Mastercard e a Visa, no qual disse que no mundo dos negócios não se diz necessariamente a verdade, o que é chamado de mentira comercial – qual é a maior preocupação da sua vida no momento, ele certamente não dirá que é o Morumbi. Afinal, ele é o cara responsável por Copas do Mundo na Fifa, e a África do Sul, no momento, está possivelmente trazendo mais tristezas do que alegrias para o secretário geral do futebol mundial.

Os hotéis cancelaram milhares de reservas, a venda de ingressos está abaixo da expectativa, a segurança sul-africana está sendo cada dia mais questionada, os funcionários públicos ameaçam entrar em greve e por aí vai. Não que isso vá gerar uma Copa do Mundo vazia. Longe disso. É bastante provável que os estádio estejam entupidos, de um jeito ou de outro. Agora já está muito tarde para pensar em outras estratégias, o negócio é vender ingresso. Nem que seja em supermercado. E isso, certamente, vai ter consequências para a Copa no Brasil.

A Fifa deve endurecer o jogo. Ela está aprendendo na marra que África do Sul não é igual Alemanha, Japão e Coréia. E vai perceber que o Brasil é mais parecido com a primeira do que com os últimos. Pior para quem organizar as coisas por aqui.

2- A eleição do Clube dos Treze foi bastante esquisita. Ficou parecendo que ninguém queria brigar de verdade com ninguém, independentemente das promessas feitas em troca de votos. No fim, analisando quem votou em quem, deu pra perceber que os clubes tentaram diluir o risco.

Dos quatro principais clubes de SP, dois votaram em um candidato e dois em outro, o que garantia um equilíbrio representativo independente de quem ganhasse. A mesma coisa valeu pra RJ, MG e PR e BA. Só o RS votou em peso no Fábio Koff, mas lá o cara tem os naming rights do campeonato, então já era imaginado que isso fosse acontecer.

Quem acabou decidindo foram a Portuguesa, o Guarani e o Sport. Dos estados que votaram no Kléber Leite, só Goiás não votou também no Koff. Não que isso vá gerar maiores problemas pro clube. No final, todo mundo se acerta.

No Brasil, ninguém gosta muito de brigar. Basta lembrar que o país deve ser o único lugar no mundo em que houve um golpe militar para assumir o governo sem que nenhuma gota de sangue fosse derramada.

3- O futebol brasileiro vive em constante esperança de mudanças nas estruturas de seu futebol desde os anos 1970, quando começaram a falar que mudanças eram necessárias. De lá para cá, bem verdade, pouca coisa mudou. É por isso que eu sou um pouco cético com relação a qualquer declaração esperançosa de que o futebol brasileiro passará por uma revolução.

Basta lembrar da recente histeria com relação à violência nos estádios. Criminalização, carteirinha, câmeras, diabo a quatro. Apesar do rebuliço, nada, absolutamente nada mudou de lá para cá. Na verdade, foi tudo esquecido. Parece que nem teve nada disso, tipo quando você está de ressaca. Você acha que aconteceu, mas não tem muita certeza. Daí meu ceticismo. Recomendo-o.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Tecnologia no futebol – “Mini fórum” com os leitores: os portões abertos

Olá, amigos!

Nesta semana, a palavra é para o grupo de amigos leitores que defendem os portões abertos do futebol para a tecnologia e seu uso na arbitragem.

O grupo de e-mails de pessoas que defendem o uso da tecnologia é numerosamente maior que os demais, o que nos mostra certa convergência daqueles que discutem futebol, respeitando, com certeza, a colocação dos outros colegas que se manifestaram contrários totalmente ou parcialmente.

Mas isso não nos apresenta valor, uma vez que não foi a importância estatística e quantitativa de respostas que pretendíamos com esse debate, e sim a discussão sob os mais diversos pontos de vistas com base para reflexões mais aprofundadas e de alto nível, contando com a colaboração de opiniões aprofundadas sejam elas com o juízo de valor que tiverem.

Apenas mencionei o volume de informações com intuito de me desculpar antecipadamente por um eventual deslize e esquecimento de algum dos nomes de nossos amigos colaboradores.
 

Os portões abertos

É quase que unânime a opinião de que os benefícios da tecnologia na arbitragem surgem como instrumento de credibilidade que vem a somar com os árbitros, e não substituí-los. Argumentos que defendem a tomada de decisão do árbitro, apenas contando agora com instrumentos mais eficazes.

Em tópicos:

O uso da tecnologia oferece mais transparência e decisões objetivas da regras, minimizando o erro humano (Luis Sérgio, Carlos Batista, Ferreira Santos, Mario Furns, Fabio Lins, Romeu R., Lucas Proença, Ana Maria Siqueira, Xandinho);

A precisão da tecnologia permite que os questionamentos e intimidações de atletas percam sentido, indo de acordo com o tão chamado Fair Play que a Fifa prega, uma vez que jogadores e técnicos não teriam como intimidar psicologicamente um aparato tecnológico para errar ou acertar na chamada lei da compensação (Ana Maria Siqueira, Peterson Figueiredo, Jonas Mariano);

A tecnologia pode contribuir com o tempo de bola em jogo, diminuindo o tempo perdido com lances polêmicos (Carlos Batista, Jonas Mariano, Mario Furns, Fabio Lins, Romeu R., Peterson Figueiredo, Lucas Proença, Ana Maria Siqueira, Xandinho, Zé Luis, Fabio Guedes)

Tornaria o jogo mais centrado em estratégias, planejamento e, sobretudo, na ação do talento individual como fatores de decisão de resultados (Ana Maria Siqueira, Jonas Mariano, Luis Sérgio);

Assim como a adoção do cartão para facilitar a comunicação, a adoção do spray em alguns lugares para manutenção da distancia regulamentar da barreira, e da mais recente comunicação via rádio pelos árbitros, a adoção de outros recursos viriam como instrumentos auxiliares aos árbitros para tomadas de decisão (Fabio Guedes, Lucas Proença, Isabel Martinelli, Carlos Batista, Fabio Lins, Ferreira Santos, Xandinho);

Sobre os altos custos de implementação de maneira universal, alguns defendem que é um preço que tem de se pagar, e outros que isso seria absorvido naturalmente com o tempo e barateado cada vez mais quando adotado em escalas maiores.

Agradeço a participação de todos ao longo dessas semanas. Na próxima, montaremos um painel com as três linhas de argumentos e teceremos algumas considerações.

Fico com a certeza de que essa troca de experiência e opiniões é muito rica e “sem sombra de dúvidas” modificou um pouco de cada uma de nossas ideias, entendendo um ponto de vista aqui, discordando de outro acolá, mas sempre em busca de um aprofundamento consistente.

Abraços e até a próxima terça!

Para interagir com o autor: fantato@149.28.100.147

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Tecnologia no futebol – "Mini fórum" com os leitores: os portões abertos

Olá, amigos!

Nesta semana, a palavra é para o grupo de amigos leitores que defendem os portões abertos do futebol para a tecnologia e seu uso na arbitragem.

O grupo de e-mails de pessoas que defendem o uso da tecnologia é numerosamente maior que os demais, o que nos mostra certa convergência daqueles que discutem futebol, respeitando, com certeza, a colocação dos outros colegas que se manifestaram contrários totalmente ou parcialmente.

Mas isso não nos apresenta valor, uma vez que não foi a importância estatística e quantitativa de respostas que pretendíamos com esse debate, e sim a discussão sob os mais diversos pontos de vistas com base para reflexões mais aprofundadas e de alto nível, contando com a colaboração de opiniões aprofundadas sejam elas com o juízo de valor que tiverem.

Apenas mencionei o volume de informações com intuito de me desculpar antecipadamente por um eventual deslize e esquecimento de algum dos nomes de nossos amigos colaboradores.
 

Os portões abertos

É quase que unânime a opinião de que os benefícios da tecnologia na arbitragem surgem como instrumento de credibilidade que vem a somar com os árbitros, e não substituí-los. Argumentos que defendem a tomada de decisão do árbitro, apenas contando agora com instrumentos mais eficazes.

Em tópicos:

O uso da tecnologia oferece mais transparência e decisões objetivas da regras, minimizando o erro humano (Luis Sérgio, Carlos Batista, Ferreira Santos, Mario Furns, Fabio Lins, Romeu R., Lucas Proença, Ana Maria Siqueira, Xandinho);

A precisão da tecnologia permite que os questionamentos e intimidações de atletas percam sentido, indo de acordo com o tão chamado Fair Play que a Fifa prega, uma vez que jogadores e técnicos não teriam como intimidar psicologicamente um aparato tecnológico para errar ou acertar na chamada lei da compensação (Ana Maria Siqueira, Peterson Figueiredo, Jonas Mariano);

A tecnologia pode contribuir com o tempo de bola em jogo, diminuindo o tempo perdido com lances polêmicos (Carlos Batista, Jonas Mariano, Mario Furns, Fabio Lins, Romeu R., Peterson Figueiredo, Lucas Proença, Ana Maria Siqueira, Xandinho, Zé Luis, Fabio Guedes)

Tornaria o jogo mais centrado em estratégias, planejamento e, sobretudo, na ação do talento individual como fatores de decisão de resultados (Ana Maria Siqueira, Jonas Mariano, Luis Sérgio);

Assim como a adoção do cartão para facilitar a comunicação, a adoção do spray em alguns lugares para manutenção da distancia regulamentar da barreira, e da mais recente comunicação via rádio pelos árbitros, a adoção de outros recursos viriam como instrumentos auxiliares aos árbitros para tomadas de decisão (Fabio Guedes, Lucas Proença, Isabel Martinelli, Carlos Batista, Fabio Lins, Ferreira Santos, Xandinho);

Sobre os altos custos de implementação de maneira universal, alguns defendem que é um preço que tem de se pagar, e outros que isso seria absorvido naturalmente com o tempo e barateado cada vez mais quando adotado em escalas maiores.

Agradeço a participação de todos ao longo dessas semanas. Na próxima, montaremos um painel com as três linhas de argumentos e teceremos algumas considerações.

Fico com a certeza de que essa troca de experiência e opiniões é muito rica e “sem sombra de dúvidas” modificou um pouco de cada uma de nossas ideias, entendendo um ponto de vista aqui, discordando de outro acolá, mas sempre em busca de um aprofundamento consistente.

Abraços e até a próxima terça!

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Clube da (des)União*

Em 1987, os clubes de maior torcida do país se uniram para criar uma liga nacional de futebol. Meio que nos moldes do que é o modelo americano de gestão de competições esportivas, a ideia era de que os clubes assumissem as rédeas para controlar o principal torneio do país, o Campeonato Brasileiro.

Pouco mais de 20 anos depois, e o que era para ser a liga brasileira de futebol vai virar pó. Na tarde desta segunda-feira, não importa quem vença as eleições para a presidência do Clube dos 13, o futebol brasileiro estará mergulhado num racha que pouco vai beneficiar o futuro do que deveria ser a gestão do principal produto do esporte no país: o Campeonato Brasileiro de Futebol.

Fábio Koff gaba-se de valorizar os contratos de TV nos últimos anos, gerando uma considerável fonte de receita para os clubes. Deveria agradecer, lá no final dos anos 90, ao SBT e ao estouro do mercado mundial de compra de direitos de transmissão, que levaram o preço do Brasileirão ao seu primeiro salto. Depois, tem de agradecer à conjunção de dois fatores. O primeiro, à adoção dos pontos corridos, que fez o torneio ter mais datas. Depois, à disputa Globo x Record, nos últimos anos, que fez o preço dobrar.

Foi assim que os contratos de TV se valorizaram tanto sob “sua gestão”. E é esse o maior motivo de orgulho da atual gestão do Clube dos 13 em quase 15 anos à frente da entidade. Porque, com o passar dos anos, quase nada de novo foi feito.

A gênese do C13, lá em 1987, era com o intuito de criar um órgão que representasse os clubes e organizasse as principais competições entre eles. Ao longo do tempo, isso se perdeu, especialmente em 2001, quando a ideia de uma Liga Nacional estava montada, mas a força da CBF fez com que Fábio Koff se contentasse em apenas negociar contratos com a TV.

Agora, surge com força o nome de Kléber Leite para “renovar” o C13. Renovar entre aspas, porque Kléber não é alguém preocupado em dar força aos clubes, em criar um modelo mais independente de entidade representativa dos times de futebol (seja ela na negociação do contrato de TV ou de patrocínios para os campeonatos do país).

Leite se calca em dois apoios de peso. CBF e Corinthians.

Impossível uma entidade que quer representar, nem que seja comercialmente, os clubes, estar vinculada tão diretamente com a CBF.

Não vai dar liga. Ou, se der, será uma liga capenga, formada com base em acordos políticos, e não em interesses comuns (organizarem o campeonato mais equilibrado possível para gerar a maior receita possível aos clubes).

Sem um executivo independente, vindo do mercado, preocupado em ser, de fato, um diretor cujo objetivo é trabalhar para a geração de receita dos clubes, não há consenso.

A União dos Clubes do Brasil já se foi. Pela política. E a eleição desta segunda-feira é a prova de que não irá para a frente qualquer projeto de liga independente no país. O futebol no Brasil continua a ter um dono. Cada vez mais poderoso. Pelo menos até 2014…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

*Atualizada às 14h59

O atual presidente do Clube dos 13, Fábio Koff, se manteve no cargo após a eleição. Na sede da entidade em São Paulo, os 20 principais clubes do país deram seu voto aberto. Koff derrotou Kléber Leite, candidato da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), por 12 votos a 8, e alcançou o seu sexto mandato. Ele já está há 14 anos no cargo.

Em um pleito disputadíssimo, obteve 12 votos no total. Flamengo, São Paulo, Palmeiras, Fluminense, Atlético-MG, Atlético-PR, Sport, Grêmio, Internacional, Guarani, Bahia e Portuguesa apoiaram Koff.

Já Kléber Leite contou com os oito votos restantes de: Corinthians, Santos, Cruzeiro, Botafogo, Goiás, Vitória, Vasco e Coritiba. O ex-comandante flamenguista precisava do apoio de 11 clubes, no mínimo, para vencer. Se houvesse empate, o presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio, teria o voto de minerva por ser o representante mais velho.

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Diário de viagem – Final

O último, mas não menos importante, capítulo de nossa viagem à acolhedora e fascinante Irlanda foi desfrutado na sede da Federação Irlandesa de Futebol (FAI).

A FAI dispõe de uma vasta área nos arredores de Dublin, onde se encontram campos para treinamento e a sede administrativa.

Vizinha a ela, pudemos ver as instalações do Comitê Olímpico Irlandês.

O executivo-chefe da FAI, John Delaney, é reputado como o grande protagonista da transformação do futebol irlandês nos últimos anos. Além disso, ocupa uma das Vice-Presidências do Comitê Olímpico Irlandês.

E não se trata de acumular mais um salário – a integração entre as duas entidades funciona muito bem.

Passamos o dia todo envolvidos num ciclo de palestras.

Na primeira dela, o chefe de segurança da FAI apresentou, no Plano de Ação para o Dia de Jogo, todos os detalhes da organização conjunta entre a federação, a polícia, a prefeitura e os estádios onde se realizam os jogos amistosos e oficiais das seleções nacionais.

O documento é um enorme dossiê, fruto do envolvimento coordenado dos líderes de todas aquelas entidades preocupadas em garantir a segurança e bem-estar dos torcedores. Não se percebe jogo de empurra-empurra quanto às responsabilidades de cada órgão.

E o número de maus torcedores fichados pelo controle da FAI e da polícia impressiona: sete (antes do jogo contra o Brasil eram apenas seis).

A seguir, tivemos contato com toda a gama de projetos desenvolvidos pela FAI.

Em todos eles, ficou claro uma coisa: o futebol é um meio absolutamente importante de inclusão social, que extrapola a detecção e formação de talentos.

Em outras palavras, isso é um pano de fundo importante na política de gestão – não a gestão política.

O Programa de Desenvolvimento do Futsal conta com a participação de um treinador brasileiro, como auxiliar. Trata-se de algo estrategicamente relevante para o país, por dois motivos: o futsal, além de poder ser praticado nas escolas, num país com invernos rigorosos, é considerado como importante na formação complementar de futuros jogadores do futebol de campo.

Já no programa Football for all (“Futebol para todos”), o objetivo principal é dar oportunidade às pessoas que não teriam, em princípio, a chance de praticar o futebol. Aqui, são desenvolvidas atividades e competições para surdos, cegos, pessoas com paralisia cerebral, sem-tetos, amputados e cadeirantes. Ademais, jovens em situação de risco também são levados a praticar, aprender e ensinar o futebol dentro das penitenciárias – para ver de perto o que significa abrir mão da liberdade…

Nos Summer Soccer Schools, os acampamentos são utilizados, no verão, para despertar nas crianças o interesse pela prática do futebol. Utiliza-se como etapa de iniciação esportiva.

O Football Intercultural Programme é um dos mais interessantes. A Irlanda, após ter ingressado na União Européia, passou a ser destino de muito imigrantes de todas as partes do mundo. E isso, naturalmente, provocou atritos socioculturais. Assim sendo, a FAI estimula a interação entre pais e filhos de irlandeses e imigrantes, por meio do futebol. O próprio ensino do inglês é feito durante os exercícios do futebol.

O Departamento Técnico cuida da formação e aperfeiçoamento dos profissionais que irão atuar diretamente em todo o sistema de futebol do país. São vários cursos ofertados.

Por fim, cabe mencionar o School Football, por meio do qual o futebol é inserido no ambiente das escolas, como parte indissociável da formação dos jovens.

A fascinante e acolhedora Irlanda nos presenteou com uma lição.

Que futebol é educação. É integração social. É formação do caráter. É solidariedade. É amizade. É transformação de um país em algo mais.

Por lá, o futebol não se encerra em si mesmo. Não é fim. É meio.

Que possa servir como inspiração para o Brasil 2014.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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O exemplo do modelo americano de Ligas

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Na última quinta-feira, em uma das aulas que ministro em gestão do futebol, surgiu um assunto bastante interessante. Bem verdade que mais acadêmico que prático, mas de toda forma muito pertinente.

Discutíamos a construção histórica dos esportes nos Estados Unidos, e o caráter exclusivo com que as relações esportivas profissionais foram desenvolvidas naquele país. Como o esporte norte-americano teve, desde seu início, uma orientação voltada para o profissionalismo e o lucro.

Fazendo o paralelo para o modelo de ligas europeu, pode-se perceber que o sistema norte-americano permite uma maior intervenção dos órgãos reguladores sobre os clubes (ou franquias), viabilizando um maior controle do chamado equilíbrio competitivo (competitive balance).

No modelo europeu, temos uma maior liberdade para o fortalecimento dos clubes maiores, em detrimento da grande massa dos pequenos clubes, cada vez mais enfraquecidos.

Recentemente, a Uefa na Europa sinalizou com a preocupação da proteção de clubes menores, e, com apoio da Liga Francesa e do Michel Platini, tentam implementar um sistema de licenciamento financeiro dos clubes, para começar a promover um maior controle sobre os clubes. Em outras palavras, se os clubes maiores forem compelidos a pagar suas dívidas (ou ao menos gerenciarem seus passivos), poderíamos ter um maior equilíbrio.

Também deveria haver um controle maior sobre a distribuição solidária de receitas entre os clubes menores, de forma a sempre permitir que clubes menores estejam fortes nas suas competições (para permitir que semifinais como a que vemos hoje em São Paulo aconteçam com maior frequência).

O modelo americano de ligas fechadas é impossível de ser implementado no nosso modelo europeu de divisões abertas, com promoções e rebaixamentos. Porém, é preciso olharmos para alguns princípios lá vigentes, que poderiam ser úteis para nós e, principalmente, fortalecer clubes formadores, pequenos e tradicionais, que são, no frigir dos ovos, o combustível principal que movimenta a nossa indústria do futebol profissional.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br  

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Porque o Brasil não dá Liga

Prega a epistemologia que, para dizer o que uma coisa é, primeiro é preciso definir o que ela não é. E a impressão que eu tenho é que muita gente no Brasil não sabe muito bem o que é uma liga. Então, vamos primeiro definir o que não é uma liga.

O Clube dos Treze não é uma liga.

Não é, nunca foi e nunca será.

Quando ele nasceu em 1987 e criou a Copa União, quase virou uma liga. Mas ficou por aí, no quase.

Uma liga é, de maneira bem simples, um campeonato. Nada mais do que isso.

Ela é constituída pelos clubes que disputam esse campeonato e serve como uma instituição coletiva que se preocupa com a organização, a comercialização e a sustentabilidade do torneio.

Daí, portanto, a razão de o C13 não ser uma liga. Apesar de ele, de fato, ser responsável por uma parte significativa da comercialização da Série A do Campeonato Brasileiro, o órgão não é formado pelos clubes que participam da competição, e sim por um grupo de clubes que não necessariamente toma parte do torneio. É, enfim, uma aberração esportiva.

Suponhamos que o Brasil tivesse uma liga, tipo a Bundesliga – provavelmente o melhor exemplo de liga no futebol tirando a MLS, e que ela se chamasse ‘Liga Brasil’, pra facilitar as coisas. Fosse verdade, o nome certamente não seria esse, já que iriam inventar algo do tipo ‘Grande Liga Brasileira’ ou homenagear algum personagem histórico da administração do futebol nacional, tipo ‘Liga Onaireves Moura’.

De qualquer maneira, a Liga Brasil teria que ser uma entidade independente e soberana, onde fariam parte do seu conselho os representantes de todos os clubes que disputam o campeonato ou campeonatos, caso a LB também cuidasse da Série B. Nesse conselho, os clubes teriam voto único e teriam que obedecer a um estatuto muito bem redigido que deixaria o poder da LB superior à vontade desses clubes sob qualquer hipótese.

Para uma liga dar certo, ela precisa ser muito mais importante que os clubes que fazem parte dela, independentemente do tamanho ou importância histórica do clube.

Aí já aparecem dois problemas que inviabilizam a formação de uma liga no Brasil. Primeiro, porque a igualdade entre clubes nunca vai acontecer. Essa igualdade não se dá apenas na representação política, ou seja, na ideia do “um voto para cada participante da liga”. A igualdade, na verdade, se faz muito mais presente na distribuição de receitas, já que todos os clubes participam do mesmo campeonato e cinco clubes sozinhos não conseguiriam disputar uma competição que durasse um ano inteiro.

Como as receitas provenientes de outras fonte é escassa – como as receitas de dia de jogo -, os clubes grandes só conseguem obter vantagem competitiva através do formato atual do contrato de televisão. Portanto, eles não estariam dispostos a abrir mão da atual divisão de receitas em prol do fortalecimento da liga sob o risco de perder dinheiro e, consequentemente, vantagem competitiva.

O segundo impeditivo é quem seria o representante do clube na LB, ou LON, no conselho da liga. No C13, quem representa os clubes são os presidentes. Em uma eventual liga, os representantes precisariam ser executivos remunerados e com dedicação exclusiva aos clubes, uma vez que o fato de um presidente eleito de clube só permanecer no cargo por um período que pode ser a partir de dois anos faz com que a rotatividade do conselho da liga seja muito alta, o que certamente atrapalharia seu funcionamento.

Pior: presidentes que se movem por ações políticas e ações políticas de clubes dificilmente se conciliam com o interesse da coletividade. Para o presidente de um clube (e principalmente para seus eleitores), é muito mais importante superar o grande rival e ter vantagem em tudo que for possível do que pensar num acordo coletivo. Isso invariavelmente afeta o comportamento de uma liga e impede que ela consiga ser mantida por muito tempo. Um executivo provavelmente teria não apenas mais segurança de continuidade como pautaria suas decisões em concordância com variáveis mais racionais.

Adicionando a esses dois fatores, a própria ideia fundamental de uma liga impede a sua criação de maneira apropriada no Brasil. Uma liga tem que buscar a sustentabilidade financeira do seu campeonato. Portanto, mais importante do que gerar receitas, uma liga bem sucedida precisa implementar fórmulas de contenção de custos. De nada adianta aumentar receitas se os custos com salários e transferências aumentam ainda mais. Só que para controlar esse tipo de coisa, a liga precisaria, novamente, afetar os clubes, principalmente os grandes.

Métodos de controle de gastos teriam que ser implementados, o que impediria clubes de cometerem loucuras financeiras em prol do resultado em campo. E dificilmente o presidente de um grande clube conseguiria se submeter a esse controle caso o time estivesse seriamente ameaçado de rebaixamento.

No fim das contas, a verdade é que uma liga precisa favorecer a pluralidade em detrimento da individualidade. E no Brasil, clubes, presidentes, conselhos e sócios estão mais preocupados com o seu próprio umbigo. Enquanto isso permanecer – e nada indica que haverá qualquer mudança -, qualquer tentativa de liga não conseguirá funcionar direito por muito tempo. Independentemente de quem for o seu presidente. Nem se for o Onaireves Moura.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Tecnologia no futebol – “Mini fórum” com os leitores: os portões encostados

Olá, amigos!

Damos sequência nesta coluna ao nosso “mini fórum” sobre o uso da tecnologia no futebol, abrindo espaço para o grupo de leitores que defendem a entrada parcial da tecnologia no universo da modalidade.

Agradeço aos amigos que têm participado do debate e contribuído com a parte principal destes textos, cabendo a mim apenas reorganizar e expor as ideias. Lembro que não estou à parte do debate, mas conforme o combinado, deixarei meu ponto de vista para as considerações finais, nas quais haverá espaço também aos nossos colaboradores.

Quando idealizei essa série de produções imaginava duas correntes argumentativas polarizando a discussão. Uma com aqueles que defendem os portões fechados para a tecnologia no futebol; e outra com os incentivadores do uso da mesma pelo esporte bretão.

Para nossa surpresa e enriquecimento do debate, um terceiro grupo apresenta-se com opiniões que se situam no meio termo. Para os mais apressados, poderiam ser os “em cima do muro”, mas é necessário compreender seus pontos de vista, daqueles que chamo de defensores dos “portões encostados” (ou “semi-abertos”) para a tecnologia.

Assim como quem entende que os “portões” devam estar “fechados” para a tecnologia, esse grupo apresenta a ideia de que os custos e necessidades de investimentos para a implantação dos recursos na arbitragem são elementos de “des-democratização”. Por isso, defendem uma linha de inserção da tecnologia com ressalvas, focando seu uso muito mais no processo de planejamento do futebol, entendendo este como decisões tomadas do ponto de vista estratégico e gerencial com o auxilio da tecnologia, e não decisões de campo.

Alguns pontos podem até parecer contraditórios, mas lembro que são opiniões de diferentes colaboradores, que pela essência de seus comentários se encaixam nesse perfil de “portões encostados” para a tecnologia.

Portões Abertos:

Tecnologia para controle e precisão do tempo de jogo, acréscimos, tempo de bola parada, etc. (Lincon Fonseca)

Melhoria dos sistemas de comunicação (já em uso) dos árbitros e assistentes (Lucas Iano)

Tecnologia como sistema de avaliação, feedback para a performance de árbitros, e atualização dos profissionais (Lincon Fonseca, Ricardo Rodrigues)

Portões Fechados:

Soluções que não são imediatas e interferem na decisão prévia do árbitro, como o replay de lances polêmicos (Lincon Fonseca, Lucas Iano)

Utilização de recursos que tira a responsabilidade do árbitro, como chips na linha de gol ou identificação eletrônica de impedimento (Ricardo Rodrigues)

Sistemas que requerem custos elevados de investimentos, dificultando uma uniformidade da arbitragem em nível mundial (Ricardo Rodrigues)

Na próxima semana, apresentarei os tópicos da turma dos “portões abertos”, que defende o acesso à tecnologia no futebol.

Participe, mande seus comentários, via e-mail ou twitter (@edufanta).

Para interagir com o autor: fantato@149.28.100.147  

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Tecnologia no futebol – "Mini fórum" com os leitores: os portões encostados

Olá, amigos!

Damos sequência nesta coluna ao nosso “mini fórum” sobre o uso da tecnologia no futebol, abrindo espaço para o grupo de leitores que defendem a entrada parcial da tecnologia no universo da modalidade.

Agradeço aos amigos que têm participado do debate e contribuído com a parte principal destes textos, cabendo a mim apenas reorganizar e expor as ideias. Lembro que não estou à parte do debate, mas conforme o combinado, deixarei meu ponto de vista para as considerações finais, nas quais haverá espaço também aos nossos colaboradores.

Quando idealizei essa série de produções imaginava duas correntes argumentativas polarizando a discussão. Uma com aqueles que defendem os portões fechados para a tecnologia no futebol; e outra com os incentivadores do uso da mesma pelo esporte bretão.

Para nossa surpresa e enriquecimento do debate, um terceiro grupo apresenta-se com opiniões que se situam no meio termo. Para os mais apressados, poderiam ser os “em cima do muro”, mas é necessário compreender seus pontos de vista, daqueles que chamo de defensores dos “portões encostados” (ou “semi-abertos”) para a tecnologia.

Assim como quem entende que os “portões” devam estar “fechados” para a tecnologia, esse grupo apresenta a ideia de que os custos e necessidades de investimentos para a implantação dos recursos na arbitragem são elementos de “des-democratização”. Por isso, defendem uma linha de inserção da tecnologia com ressalvas, focando seu uso muito mais no processo de planejamento do futebol, entendendo este como decisões tomadas do ponto de vista estratégico e gerencial com o auxilio da tecnologia, e não decisões de campo.

Alguns pontos podem até parecer contraditórios, mas lembro que são opiniões de diferentes colaboradores, que pela essência de seus comentários se encaixam nesse perfil de “portões encostados” para a tecnologia.

Portões Abertos:

Tecnologia para controle e precisão do tempo de jogo, acréscimos, tempo de bola parada, etc. (Lincon Fonseca)

Melhoria dos sistemas de comunicação (já em uso) dos árbitros e assistentes (Lucas Iano)

Tecnologia como sistema de avaliação, feedback para a performance de árbitros, e atualização dos profissionais (Lincon Fonseca, Ricardo Rodrigues)

Portões Fechados:

Soluções que não são imediatas e interferem na decisão prévia do árbitro, como o replay de lances polêmicos (Lincon Fonseca, Lucas Iano)

Utilização de recursos que tira a responsabilidade do árbitro, como chips na linha de gol ou identificação eletrônica de impedimento (Ricardo Rodrigues)

Sistemas que requerem custos elevados de investimentos, dificultando uma uniformidade da arbitragem em nível mundial (Ricardo Rodrigues)

Na próxima semana, apresentarei os tópicos da turma dos “portões abertos”, que defende o acesso à tecnologia no futebol.

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Treinos: intenso e com qualidade, ou longo e com média intensidade?

Já faz algum tempo que grandes clubes do futebol europeu vêm em seus treinamentos enfatizando atividades de grande intensidade, com pouca duração, distribuídas em períodos únicos diários ao longo da semana de trabalho.

Faz mais tempo ainda que o cientista do desporto Yuri Verkhoshansky, em suas obras traduzidas do russo para o espanhol, português e italiano (e outros tantos idiomas), defendeu e vem defendendo que, no esporte de alto rendimento, o que define o êxito é o “agir em alta velocidade”.

Agir em “alta velocidade” no futebol, diferente do que o tradicional enfoque, do treinamento desportivo e da biologia do esporte propõem, significa construir um jogo em que o ritmo das ações efetivas, dos jogadores e equipe, seja elevado em função do tempo e do espaço, simultaneamente.

Isso quer dizer que, mais do que qualquer movimento realizado com grande velocidade, o que vale para um intenso e aumentado ritmo de jogo é a “alta velocidade” das ações carregadas de significados (técnicos, táticos, físicos e psicológicos).

Como já debatido outrora, a velocidade, como capacidade biomotora pura e simples, manifestada, por exemplo, em corridas cíclicas, não é a velocidade a ser treinada e maximizada no treinamento de futebolistas (e isso não significa deixá-la de lado) – pelos motivos já bem descritos pelas Ciências do Desporto.

O treinamento intenso, respeitando o volume de ações do jogo de futebol, conforme acontece em grandes equipes europeias, prioriza a qualidade das ações treinadas. E a intensidade com qualidade gera respostas adaptativas por parte dos jogadores e equipes, que condicionam um comportamento de alta velocidade de ações – ações efetivas, carregadas de significados.

Claro, qualidade nesse caso significa gerar estímulos que possam desenvolver o jogo que se deseja jogar, respeitando processo e zona de desenvolvimento proximal de jogadores e equipe.

As ideias iniciais de Verkhoshansky, ainda que não tenham sido construídas, partindo do futebol ou do esporte coletivo, como centro, levantaram um interessante debate sobre a questão da intensidade dos treinos no futebol.

Se a velocidade é fator decisivo no êxito esportivo, no caso do futebol, basta não tratá-la como a mesma velocidade do atletismo, natação ou outros esportes individuais. É necessário que se entenda a fundo, na essência, como ela se manifesta no jogo, e especialmente, como pode e deve ser desenvolvida.

No Brasil, é hábito (ou talvez vício, ou quem sabe, tradição) treinar em dois períodos. Isso acontece tanto nas equipes de base (especialmente sub-17 e sub-20), quanto nas equipes profissionais de 1ª ou 2ª divisão.

Treinar pela manhã e no período da tarde (ainda que os jogos sejam à noite!) é a representação máxima do paradigma do “quanto mais, melhor”, e não do “treinar intensamente, com qualidade”.

Mas, o “quanto mais, melhor” não sobrevive impune, pois como conseguir em treinos de dois períodos manter a máxima intensidade nas atividades, se o “quanto mais”, acumulado ao longo de horas, dias e semanas, leva a incompletas recuperações de uma sessão a outra? Como jogadores mal recuperados podem conseguir agir em máxima intensidade por todo o treino?

Talvez isso explique porque o futebol por lá (na Europa) seja mais dinâmico, movimentado, intenso… E não como escutei outro dia, de conceituado homem do futebol, de que a menor velocidade de jogo aqui no Brasil deve ser atribuída, pura e simplesmente, a altas temperaturas e dimensões maiores dos campos de jogo quando comparadas às médias da Europa – sem falar na “malemolência” dos jogadores brasileiros.

Treinar muito e em baixa intensidade condicionará jogadores a jogarem em baixa intensidade (e quem sabe a aguentar dois jogos seguidos!).

A maneira com que se joga é reflexo da maneira como se treina. A maneira como se treina, é reflexo de como aqueles que trabalham com a preparação dos futebolistas enxergam o jogo.

Então, ao invés do “quanto mais, melhor”, o “real, óbvio, adequado (e melhor!)” deveria ser, “quanto melhor, melhor”.

Acho que é isso…

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br