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Viva o planejamento!

Sim, o Fluminense foi o merecido campeão brasileiro porque soube jogar 38 rodadas, apesar de falhas, deficiências e outros erros que foram cometidos pelo Flu ao longo da campanha pelo bicampeonato.

Mas, ao término do campeonato, não há o que discutir: ganhou aquele que foi mais consistente e previsível durante toda a competição.

Fluminense, que foi o único entre os 20 clubes que disputaram a Série A do Campeonato Brasileiro a começar e terminar a competição com o mesmo treinador no banco de reservas, que contratou reforços importantes ao longo do torneio e não se desfez de nenhum jogador fundamental para a conquista.

Regularidade é a regra para quem quer ser campeão nos pontos corridos. Planejar e executar, duas palavras que muitas vezes fazem falta no vocabulário brasileiro no cotidiano, são fundamentais para que tenhamos o campeão dentro desse sistema que ainda não conseguiu, por incrível que pareça, ser compreendido pelo dirigente de grande parte dos clubes.

O brasileiro vinha se acostumando com essa lógica até 2008, quando o São Paulo foi tricampeão nacional por ser absolutamente constante, lógico, previsível. No ano passado houve um hiato com o Flamengo, que mesmo errando tudo (demitiu treinador, apostou em atletas que estavam renegados, mudou o time no meio do campeonato, etc.) foi o campeão.

Agora, 2010 devolve a lógica aos pontos corridos. Quem é previsível geralmente se dá bem. Não precisa ser brilhante, basta ser coerente em planejar o ano para disputar um torneio durante oito meses em que a regularidade é mais eficiente que o brilhantismo.

E, para ratificar ainda mais essa tese, o Goiás ajudou a ser o protagonista dessa história. O Flu corria o risco de passar para a história como o campeão que foi ajudado por papelões protagonizados por Palmeiras e São Paulo, que claramente fizeram corpo mole quando enfrentaram o Tricolor carioca para não beneficiar o Corinthians.

Mas o Goiás pregou uma boa peça ao apenas empatar com o Timão. O empate em Goiânia foi daqueles para devolver a lógica ao futebol. Campeão é quem vence mais. E pronto! Resta saber se, nesta quarta-feira, o Goiás prega outra peça no Brasileirão, “roubando” a vaga na Libertadores do Grêmio.

Eis que, no apagar das luzes de 2010, o maior protagonista do futebol brasileiro é justamente uma equipe rebaixada para a Série B. O Goiás virou o time do momento, mesmo com o Flu campeão!

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br  

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Nunca antes na história deste país…

Nunca antes na história deste país, teríamos dois eventos esportivos, de abrangência internacional, como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos.

Nunca antes na história deste país, eventos deste porte, em 2014 e em 2016, exigiriam comprometimento dos governos para melhorar a infraestrutura geral do Brasil.

Nunca antes na história deste país, teríamos um fluxo de turistas muito maior do que a média anual que recebemos.

Nunca antes na história deste país, os interesses da indústria esportiva mundial voltariam os olhos para as oportunidades de um mercado emergente e com potencial de desenvolvimento junto a 200 milhoes de pessoas.

Nunca antes na história deste país, teríamos que qualificar mão-de-obra em todas as frentes envolvidas na realização destes eventos – de garçons a presidentes de clubes e federações, passando por arquitetos e engenheiros, advogados e médicos, jornalistas e tradutores.

Nunca antes na história deste país, teríamos que enfrentar os problemas de segurança pública como exigem as circunstâncias – mais ação, menos discurso – que, em alguns casos, se assemelham a uma guerra civil.

Nunca antes na história deste país, fomos impulsionados a pensar em legado esportivo e criar condições para a prática e desenvolvimento duradouros e sustentáveis, levando-se em conta o relevante papel que o esporte preenche na sociedade.

Nunca antes de agora.

Tenho visitado recentemente São Paulo e Rio de Janeiro, as duas maiores metrópoles do Brasil hoje e que serão na época da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos.

Encontrar vaga em hotel, em ambas, é muito difícil.

Vôos cancelados e aeroportos congestionados, então, nem se fala.

Problemas de segurança – preventiva, não repressiva – são inúmeros.

Trânsito caótico e atrasos no caminho justificavam a falta de pontualidade brasileira.

A Soccerex (e seus frequentadores), uma das maiores feiras da indústria do futebol mundial, no RJ, padeceu destes problemas.

Sem contar que todo mundo que estava lá queria vender alguma coisa. Ninguém queria comprar nada.

Talvez porque nunca antes na história deste país, havia sido organizada uma feira internacional de negócios do futebol, cuja simples necessidade de se falar uma língua estrangeira, como o inglês, não permitia os players do futebol brasileiro atuarem com desenvoltura para fechar bons negócios.

Imaginem os garçons, camareiros, taxistas, ambulantes, seguranças, espalhados pelas 12 cidades-sede da Copa.

Vão ter que aprender inglês no mesmo tempo em que o Brasil constrói o trem-bala, os estádios, as rodovias, os aeroportos, os portos…

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

 

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FC Barcelona: avassalador

A equipe do Barcelona não muda. Invariavelmente apresenta, e quase que impõe, seu jeito de jogar.

Tem um modelo de jogo muito bem definido – e mais do que isso, tem uma cultura de jogo bem definida.

Gosta de ficar com a bola, e quando está com ela, de passes curtos e rápidos, de muita amplitude e profundidade de jogo (faz o campo “crescer”). Envolve os adversários com certa facilidade e quando perde sua posse, com uma ocupação do espaço bem definida, ataca a bola com invejável pressing.

Com uma cultura de jogo bem estabelecida, encontra os jogadores certos para aquilo que precisa, desde as categorias de base, e na construção do seu jogo, treina exatamente como quer jogar.

Nos últimos anos tenho acompanhado boa parte dos jogos da equipe do Barcelona. Já o vi ter dificuldades com algumas equipes (poucas). Cada uma delas com algumas estratégias de jogo em comum, mas todas elas com modelos de jogo pouco estabelecidos.

Grande parte dos times que acompanhei, enfrentado o Barcelona, o fez marcando nas proximidades da linha “3”, com 10 ou 11 jogadores atrás da linha da bola, com tentativas de rápidas transições ofensivas com jogo não apoiado.

A maioria destes times ofereceu certa dificuldade defensiva inicial e quase nenhuma ofensiva (por viverem a base de lançamentos e chutões para jogadores, que pouca facilidade tinham no 1 vs 1).

As poucas equipes que levaram alguma vantagem neste tipo de jogo foram aquelas que tinham dois ou três jogadores muito rápidos e com mais chances de romper confrontos 1 vs 1.

Vi pouquíssimos adversários proporem confrontos ao Barcelona, pressionando alto.

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Alguns desses também trouxeram alguma dificuldade defensiva inicial, e certas vezes, por conseguirem recuperar a bola em setores próximos ao “alvo” de ataque, também levaram algum perigo ofensivo.

O principal, porém, é que foram raras as vezes que algum adversário conseguiu fazer o Barcelona ter que mudar alguma coisa em sua forma de jogar.

Senão vejamos:
 

  1. O FC Barcelona ao se defender: busca recuperar rápido a posse da bola, pressionando o adversário normalmente entre as linhas “2” e “1”.
     
  2. O FC Barcelona ao atacar: busca manutenção da posse da bola com progressão apoiada ao campo de ataque, com alternância de corredores do campo de jogo.
     
  3. O FC Barcelona ao fazer a transição defensiva: busca o ataque a bola (jogadores próximos a região em que ela foi perdida), enquanto uma estrutura de 3 ou 4 jogadores recompõem a linha de defesa.
     
  4. O FC Barcelona ao fazer a transição ofensiva: busca retirar a bola da zona de pressão .

No nível estratégico, quando uma equipe enfrenta o Barcelona, marcando atrás da linha “3”, estará reforçando aquilo que gosta de fazer o time espanhol – ficar com a bola. Isso pode, ou não, ser um problema, porque vai depender do quanto eficiente, essa proposta poderá se mostrar.

Devo lembrar aqui que normalmente o FC Barcelona está mais acostumado a romper com esse tipo de estratégia defensiva, do que o adversário em cumpri-la contra uma equipe de altíssima qualidade e muito “adaptada” a este tipo de jogo.

Defensivamente, como chamei a atenção anteriormente, a equipe espanhola procura retomar rapidamente a posse da bola, pressionando alto. Então, no nível estratégico, o que ela não está acostumada é recuperar a bola já no seu campo de defesa (linhas “4” e “5”).

Isto pressupõe então que talvez possa ser vantajoso ao adversário não tentar um jogo apoiado de manutenção da posse da bola, mas sim, um de progressão constante ao campo de ataque, de maneira que ainda que se perca a bola, isso ocorra bem longe da meta de defesa.

Então, da mesma maneira, devo acrescentar que, para fazer o jogo de progressão ser satisfatório, é necessário também que a pressão sobre a bola, ao perdê-la, seja imediata e em linhas avançadas, para que ao invés de permitir ao Barcelona reforçar seu comportamento habitual de ficar com a bola, fosse ele induzido a ter que progredir mais rapidamente do que está acostumado e sem seu característico jogo apoiado.

Nas últimas derrotas que assisti do FC Barcelona, não coincidentemente, os adversários apresentaram em suas estratégias algo bem próximo do que apontei acima.

Obviamente que se não houver os jogadores certos para isso, e os treinos certos para construir tal comportamento ou estratégia, qualquer que sejam eles (estratégia ou comportamento), não estarão prontos para interferir no modelo de jogo do time catalão.

E aí, no jogo contra o Real Madrid…

Bom, o jogo contra o Real merece um texto só para falar dele.

Por ora, o que poso dizer é que foi a prevalência maciça de um modelo e de uma cultura de jogo (do Barcelona) sobre a estratégia de uma equipe (o Real Madrid), que não deu certo. E por quê?

Por enquanto a resposta é com vocês…
 

 

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br  

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Afinal, Esporte ou Desporto?

O artigo 217 de nossa Constituição Cidadã trata do Desporto. “É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-formais, como direito de cada um…”, afirma ele de forma inconteste…

… O Ministério é do Esporte – assim mesmo, no singular, pois ele é uma prática social com origem moderna vinculada ao advento da sociedade industrial -, mas já tivemos há bem pouco tempo atrás, no Governo Itamar, o Ministério de Educação e Desporto e antes dele, no Brasil Novo de Collor, uma Secretária Especial do Desporto, que por sua vez veio no lugar da SEED, Secretaria de Educação Física e Desporto que, por dentro do Ministério da Educação e Cultura no final da década de 70 e toda de 80 do século passado, ditou os caminhos da política da área…

… A justiça (!) é Desportiva e ser esportivo é sinônimo de não levar as coisas a ferro e fogo e sim com fair play, para cuja expressão Galvão Bueno, por ocasião da mais recente versão da Copa do Mundo de Futebol, como se tivesse descoberto a pólvora, se valeu do termo desportividade… Tudo isso sem esquecer os desavisados que com trejeitos científicos relacionam o esporte às práticas corporais não competitivas e o desporto àquelas associadas ao alto rendimento, à performance…

Não é a primeira vez que trato deste assunto, e se resolvo fazê-lo agora é por falta de inspiração para voos maiores neste momento em que somos desmotivados a continuar acreditando na raça humana, dada a imbecilidade que imperou na campanha eleitoral, onde os candidatos teimaram em nos tratar como tolos… Sim, eu sei… O problema é da nossa democracia… Mas não de seu excesso e sim de sua ainda escassez, incipiência, fragilidade e imaturidade motivadas pelo pouco tempo que temos de aprendizado democrático, reiniciado depois de uma eternidade mergulhados nas trevas da ditadura militar… Sim, eu sei, perseverar é preciso…

De uma das vezes, me lembro, já se vão 10 anos, quando estávamos às voltas com as festividades patrocinadas pelo governo brasileiro alusivas aos 500 anos de descobrimento (sic) do Brasil pelos portugueses. Não por acaso, pois então suspeitava que a expressão desporto presente em nosso vocábulo tinha muito mais a ver com os portugueses do que com os ingleses ou nossos irmãos latinoamericanos ciosos no uso da expressão Deporte… Suspeitas essas que se demonstraram relativamente corretas, como veremos adiante…

Bem… Como comecei apontando neste artigo, a Constituição Federal Brasileira de 05/10/88 trata em seu Capítulo III, Seção III, do Desporto. Então, a expressão Esporte é errada? Possui outro significado? João Lyra Filho (mentor intelectual do Decreto-lei no 3.199/41, primeiro documento legal voltado para a normatização do esporte nacional), logo após o prefácio do Professor Gilberto de Macedo à 3a edição (1974) de seu livro Introdução à Sociologia do Desporto e antes do Preâmbulo, nos apresenta as seguintes considerações sobre o assunto:

“Desporto, Sport ou Esporte? Pedi uma resposta ao saudoso mestre Antenor Nascentes, que se manifestou assim: – ‘Nem desporto nem sport, esporte. Desporto é um arcaísmo que Coelho Neto procurou reviver quando se criou a respectiva Confederação. Coelho Neto era muito amante de neologismos. Haja vista o paredro. A palavra inglesa há muito tempo está aportuguesada e bem aportuguesada; é usada por toda a gente. Devemos usar a linguagem de todos, para não nos singularizarmos. Não está de acordo?

E continua João Lyra Filho: Respondi-lhe, com a vênia devida, que permaneço na dúvida. Não desconheço a influência do gosto popular e estimo deveras as dominantes da literatura oral. Mas indo às origens do nosso vernáculo, identifico o uso da palavra desporto nas letras e na boca de Portugal. Não só os quinhentistas, inclusive Sá de Miranda, empregavam desporto. Não tem havido outra opção no escrever e no falar dos portugueses. A palavra desport já era de uso no francês antigo, significando prazer, descanso, espairecimento, recreio; com este sentido, figura em poesias de Chaucer. Os ingleses a tomaram por empréstimo, convertendo-a, depois, no vocábulo sport. Uma nova razão faz-me permanecer adepto do vocábulo arcaico: ele foi atraído à própria Constituição desta nossa República Federativa. O artigo 8o, sobre a competência da União, dispõe na alínea q do item XVII: ‘legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional; normas gerais sobre desportos’. Não desejo ser denunciado como infrator da nossa Carta Magna… Mas a denúncia pode prosperar, com mudança de acusado, pois não são raras, na legislação do país, as vezes em que os autores dos respectivos textos oficializam o vocábulo esporte.”

Se já naquela época não eram poucas as ocasiões em que se optava pelo uso da expressão esporte no lugar da desporto, hoje em dia a opção por esporte é ainda mais evidente…Até nos arriscamos a criar neologismos! No meio acadêmico da área Educação Física é comum presenciarmos o uso de um: Esportivização, utilizado nas vezes – cada vez mais comum – em que assistimos o processo de submeter as práticas corporais aos ritos do esporte…

O professor Gaudêncio Frigotto, no seu escrito “A Formação e a profissionalização do educador: novos desafios” se reporta a Conceitos como sendo as “representações no plano do pensamento, do movimento da realidade”. Como tal, afirma não serem eles “alheios às relações de poder e às relações de classe presentes na sociedade. Pelo contrário, são mediações de sua explicitação ou de seu mascaramento”.

Pois me valendo da compreensão de Conceito atribuída por Frigotto, defendo o uso da nossa – brasileira – expressão Esporte, que não nega sua origem portuguesa nem tampouco nossa aproximação com o britânico Sport, mas expressa a vontade política de buscar suas próprias palavras para apontar o desejo de configuração de sua identidade… Pois não é o Futebol – e não o soccer ou football – que sinaliza ao mundo a identidade cultural esportiva do brasileiro?

Para interagir com o autor: lino@universidadedofutebol.com.br  

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O legado

Muito já se discutiu no país sobre o legado que a Copa do Mundo e as Olimpíadas irão deixar. Comenta-se sobre a reforma generalizada na infraestrutura de transporte do país, com aeroportos maiores, melhores e mais acessíveis. Fala-se sobre a melhoria da estrutura urbana próxima aos estádios e da significativa ampliação da rede hoteleira nas cidades-sede. Discute-se os novos parâmetros de segurança da população dentro e fora dos estádios, que, por sua vez, são a herança mais visível daquilo que está por vir.

Tudo muito bonito, tudo muito legal. Mas tudo, ainda, bastante distante. Faltando um mês para faltar três anos e meio pra Copa acabar, pouca coisa foi feita ainda, como qualquer um pode ver. A maior parte das estruturas prometidas foi sequer iniciada. Aeroportos continuam congestionados, apertados e bagunçados. A segurança ainda necessita de respostas mais estruturadas do que o simples combate. E os estádios… bom. Você sabe bem.

Mas talvez a grande herança, o grande legado, que tanto a Copa quanto as Olimpíadas irá deixar para o esporte brasileiro, já se encontra em um estágio bastante avançado: a instalação de grandes players do mercado mundial no mercado esportivo brasileiro.

Se outrora as maiores agências de marketing esportivo do mundo ignoravam o mercado brasileiro, já que a desigualdade social é extremamente elevada, o gasto com lazer é pequeno, a informalidade é gigantesca, o isolamento geográfico é significativo e o fuso-horário é rebelde, agora elas estão com os olhos bem abertos para o mercado. E começam a criar suas bases no país. Afinal, apesar de todos os pesares, não dá pra ignorar um país com 190 milhões de habitantes que hospedará os dois maiores eventos esportivos existentes. Muitas agências virão. Algumas já chegaram. Outras estão a um passo daqui.

Alguns empecilhos surgem, porém. Primeiramente, no momento em que essas agências se instalam, elas não conseguem achar muito que fazer. Como o mercado de mídia é extremamente concentrado e a quantidade de eventos esportivos com apelo popular é bastante limitada, o grande filão das agências, a venda de direitos de transmissão, não serve pra muita coisa. Nesse cenário, o mercado de patrocínio não foge à regra e fica bastante engessado. Sem muitas alternativas, elas recaem no mercado de agenciamento de atletas, que passa por um momento de diversas incertezas.

Porém, apesar de não ter muitas alternativas para atuação no mercado de imediato, essas agências trazem consigo uma expertise de décadas de atuação nos mais diversos cenários mercadológicos. Ao abrir as portas no Brasil, elas trazem para o mercado brasileiro um mundo novo de processos, tecnologias, metodologias e ideias que têm o potencial de elevar consideravelmente o nível das práticas do marketing esportivo no país. Com o tempo, isso vai criando raízes na cultura do mercado local e vai invariavelmente aumentando o padrão de profissionalização dos players, o que tende a apresentar resultados bastante favoráveis para os envolvidos.

Isso já está acontecendo. O movimento ainda é tímido e pequeno. Mas a revolução já começou. Apesar de todas as nossas limitações, um dia ela certamente irá apresentar resultados. Se isso acontecer, pode ser o grande legado dos megaeventos para o mercado esportivo nacional.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br  

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Novamente os stakeholders

Presenciamos neste último final de semana mais um exemplo da necessidade de se definir estratégias claras para administrar os anseios de todos aqueles que possuem algum interesse sobre as organizações – os stakeholders. O caso em voga foi o do Palmeiras, que viveu um dilema complicadíssimo, na linha tênue entre as questões éticas do esporte e os anseios de boa parte de sua torcida, que queria vê-lo perder para o Fluminense e assim evitar que o seu maior rival, o Corinthians, vencesse o Campeonato Brasileiro (ou facilitasse a vida do mesmo).

A torcida é apenas um exemplo, e talvez o mais emblemático, do conjunto de pessoas com determinado interesse sobre um clube de futebol, variando seu perfil de acordo com a cultura e a história inerente à entidade.

Para entender melhor, o diagrama abaixo, proposto por Mitchell, Agle e Wood (1997) e citado por Trentin (2010)*, expressa a combinação dos atributos poder, legitimidade e urgência, de acordo com as características de cada stakeholder ou grupo de stakeholders.


 

Este conjunto de stakeholders, em referência aos clubes de futebol, envolve todos os 19 clubes da Série A, o Clube dos 13, a empresa que detém os direitos de transmissão dos jogos, todos os outros veículos de comunicação, a CBF, a CONMEBOL, a FIFA, os associados, os dirigentes e diretores do clube, os funcionários do clube, a comissão técnica, os próprios jogadores, a família dessas pessoas que estão diretamente envolvidas com os dirigentes, diretores, funcionários, comissão técnica e jogadores, os fornecedores do clube, os patrocinadores e por aí segue uma lista enorme de pessoas, empresas e instituições com um elevado interesse sobre as decisões da entidade esportiva.

Apenas para tecer comentários sobre três dos supracitados exemplos e suas possíveis reações em detrimento deste caso Palmeiras-Fluminense-Corinthians:

1) Patrocinadores: como é que empresas do nível de Fiat, Coca-Cola e Adidas, patrocinadoras do Palmeiras, que publicam balanço social anualmente e levantam a bandeira da ética e da sustentabilidade, vão justificar que o seu investimento serviu para manipular determinado resultado esportivo? Lembrando que corintianos (além dos torcedores das outras equipes) também consomem seus produtos.

2) Família: imaginem a tensão na família dos jogadores, que são stakeholders adormecidos, podem se tornar do dia para a noite dominante ou definitivo, ao assistir a ameaça de terceiros a seus entes (inclusive de diretores do clube que os emprega). Como lidar com tal situação?

3) Jogadores: e aqui poderíamos incluir a comissão técnica que, por determinada circunstância do futebol, venha a defender as cores de algum destes rivais futuramente. Eles não deveriam ser ouvidos por uma lógica mais coerente?

Estas reflexões que foram deixadas nesta coluna, além de outras inerentes ao tema, devem ser objeto de estudos e análise em todas as organizações. Percebe-se a necessidade em se compreender sobre as influências diretas e os fatores de poder, legitimidade e urgência que afetam os clubes de futebol e, a partir daí, definir com detalhes as estratégias e ações a serem desenvolvidas em cada caso, seja ele positivo ou negativo, que a instituição é acometida para se posicionar e se comunicar com cada um desses stakeholders. Negligenciar tais pressupostos pode prejudicar sobremaneira a sustentabilidade no médio-longo prazo das organizações.

Bibliografia:

* TRENTIN, Mário Henrique. Gerenciamento de stakeholders: case BP – Golfo do México. Mundo Project Management, ago/set 2010.
 

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br