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Vamos às compras!

O mês de dezembro costuma ser agitado pela efervescência natural do período, que envolve Natal, reflexões pessoais para o próximo ano, encontros e desencontros familiares, nostalgia do que passou.

E muita gente encontra conforto em traduzir os sentimentos dessa época oferecendo presentes aos que lhe são caros ou próximos.

Temos uma enxurrada de amigos-secretos no trabalho, na família, com os amigos.

E dá-lhe presentes…

Não é fácil encontrar o presente certo para as pessoas. Quanto mais se conhece, melhor fica, mas, ainda assim, não é fácil.

A base das melhores escolhas é a informação. Informação deve ser transformada em conhecimento, e conhecimento em sabedoria.

E a fonte primária de informação é sempre melhor. Mas fica difícil imaginar todo mundo perguntando a todo mundo o que gostaria de ganhar de presente.

O próprio encanto da coisa se perderia.

No futebol, porém, o encanto deve dar lugar à racionalidade.

Não basta o clube perguntar à torcida quem ela gostaria de ver contratado para o ano seguinte: se o Pelé ou o Mané.

O Papai Noel não entrega gratuitamente, e o preço que se cobra por escolhas equivocadas de presentes pode determinar o êxito ou fracasso do ano seguinte.

Reunir-se para comprar tem sido algo interessante, ao contrário de comprar para reunir.

A febre das compras coletivas pela internet chegou ao futebol. O São Paulo está vendendo ingressos para o Campeonato Paulista a preços irresistíveis.

Deve-se tomar muito cuidado para sair às compras no mercado de transferências do futebol.

Pra não comprar gato por lebre. Tampouco sair usando o cartão de crédito como se fosse revólver em mão de macaco.

Comprar por impulso natalino, para presentear a família e os amigos é espirituoso.

Mas, a partir de janeiro, a conta já começa a chegar.

Na nossa casa.

Ou no nosso clube.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Estádios em São Paulo

Caros amigos da Universidade do Futebol,

aproveitando a onda que começa a se formar de verdade em torno da Copa do Mundo Fifa de 2014, é hora de colocar ordem na casa. Temos que, definitivamente, utilizar esse momento para modernizar a organização do nosso futebol doméstico, de modo a torná-lo um produto internacional de alta qualidade.

No Estado de São Paulo, modernização já está ocorrendo há algum tempo.
No início do ano passado, a Federação Paulista de Futebol (FPF) publicou um esboço de manual de licenciamento de clubes, inspirado nas normas genéricas editadas pela Fifa. Evidentemente, esse manual não pôde ser implementado na prática, uma vez que essa é uma competência regulatória da Conmebol e da CBF. Mas foi uma iniciativa que merece o comentário.

Tenho certeza de que o Estado de São Paulo já reúne um grande número de estádios e centros de treinamento de primeira qualidade. Diversos projetos também já foram desenhados para modernizar essas estruturas esportivas (o que já é fruto do momento da Copa; esses projetos visam, em última análise, receber seleções internacionais durante o evento).

Nesta linha, a FPF procura, com profissionalismo, autorizar que jogos do Campeonato Paulista sejam realizados em estádios que, além de modernos, contem com todas as licenças exigidas pelo poder público e pela legislação em vigor. Não é um trabalho fácil, mas tem surtido efeito.

O Ministério Público também observa esse movimento e, em colaboração com a FPF, atua na fiscalização do cumprimento da Lei.

Acho que o Estado de São Paulo está no caminho certo. Clubes, unidos pela Federação, modernizando suas gestões e infraestrutura. A esperança é que essa modernização reflita no torcedor, que também tem que fazer sua parte e respeitar normas de organização e higiene. Isso sem mencionar na violência entre torcidas, que não pode mais ter espaço na nossa sociedade.


Estádios interditados

Nessa linha, interessante notar o empenho da FPF, que, tendo o Ministério Público em sua sombra, foi obrigada a interditar uma série de estádios que provavelmente não reuniram as licenças necessárias nos prazos correspondentes.

Acho perfeitamente correto que estádios não sejam liberados sem as licenças exigidas. Só gostaria de ver o MP tão rigoroso com relação a outros eventos. Será que do show do Paul McCartney para cá o Morumbi deixou de ter condições de uso? Ou realmente as licenças que eram válidas durante o show perderam ou estão prestes a perder sua validade?

Fica a questão.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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História em jogo – Liga dos Campeões – Final 1963 – Milan 2 x 1 Benfica

Você já viu na série “História em jogo” as cinco conquistas do Real Madrid, de 1956 a 1960.

Você já viu o Benfica ganhar do Barcelona na decisão das traves quadradas.

A sensacional vitória de um ainda melhor Benfica, agora com Eusébio e Simões, contra o Real Madrid, em 1962.

Seria a hora do tri português. Na primeira decisão de Liga sem um clube espanhol.

Cesare Maldini e Coluna antes do clássico em Wembley
 

Mas havia pela frente, em Londres, o primeiro italiano campeão da Liga dos Campeões. Não por acaso, ainda o maior vencedor entre os italianos na Europa.

Um time de ótima qualidade técnica. Recheado de estrangeiros como os brasileiros Altafini e Dino Sani. Mas com um espírito italianíssimo. Competitivo. Por vezes viril. Até violento. Mas merecidamente vencedor.

Ficou, porém, uma marca profunda e doída na alma encarnada. Aos 14 do segundo tempo, empate por um gol, o médio-esquerdo rossonero Trapattoni atingiu maldosamente e por trás Coluna. O craque português ficou três minutos fora. Voltou, mas se retirou depois de sete minutos com dores no tornozelo. Recebeu tratamento no vestiário e retornou em oito minutos. Mal andou. Mal jogou. E assistiu à justa vitória que independia daquela absurda pancada.

“Sem o nosso grande capitão, não tivemos como conseguir a vitória”, ainda se lamenta Eusébio.

As dores ficaram por muito tempo. Não apenas no tornozelo ferido de Coluna. Fala o Monstro de Inhaca, cidade em Moçambique onde nasceu o grande condutor do Benfica, em trecho do blog “Planeta Benfica”:

– O treinador italiano Nereo Rocco considerava-me um dos jogadores mais temidos. Quando o Trapattoni me lesionou, estive 15 minutos a receber assistência junto à linha mas não dava para continuar a jogar. Apenas estive a fazer figura de corpo presente.

Coluna diz que a consciência de Trapattoni deve ter pesado por muito tempo. Num programa da RAI, muitos anos depois, Coluna esteve presente. Trap, não. “Ele não teve coragem de me encarar”, afirma o meio-campista português.

A mágoa é tamanha que Coluna afirmou que um dos dias mais tristes da vida dele foi quando Giovanni Trapattoni assumiu a direção do Benfica. Nem mesmo o título português de 2005, depois de 11 anos sem conquistas, serviu para amenizar a dor que já tem quase 50 anos. E não há o que cure Coluna.

LOCAL – Estádio de Wembley, Londres, Inglaterra. 22 de maio de 1963. 45.700 presentes.

LEIA COMO FOI A LIGA DOS CAMPEÕES 1962-1963 aqui.
 

Milan no WM clássico, com três na zaga, dois medianos defensivos, dois meias de imensa qualidade, dois pontas que se mexiam muito, e um senhor centroavante; Benfica foi o primeira finalista de Liga a atuar com uma linha de quatro na zaga, dois no meio, e quatro mais à frente. O típico 4-2-4. Mas não foi ele o determinante do sucesso italiano
 

AUSÊNCIAS – Por lesão, Barison (ponta-esquerda do Milan e da Squadra Azzurra na Copa-66) e Germano (zagueiro-central do Benfica). Entratam Pivatelli e Raul.

PRIMEIRO TEMPO

COMEÇOU – Milan, de branco, ataca à esquerda; Benfica, com o uniforme encarnado, à direita. Milan no WM básico (3-2-2-3), Benfica como primeiro finalista de Liga num 4-2-4. Os bandeirinhas estavam invertidos ao que se vê hoje no futebol. Corriam pelas pontas esquerdas.

1min – Marcação bem alta do Milan, pressionando o excelente ataque português. Time italiano mais ofensivo e, de cara, partida mais intensa, veloz e marcada que as decisões anteriores. Mas, para Cesare Maldini, pai de Paolo, zagueiro-central do Milan, a equipe entrou com muito respeito em campo. Para não dizer temor. “Porém, nós tínhamos grandes craques. Mais que todos, Rivera”. E o meia-esquerda tinha apenas 19 anos.

9min – Numa dividida com o centroavante brasileiro Altafini (o Mazola campeão do mundo em 1958), Costa Pereira sai da área e faz a falta na entrada da área. Goleiro português, ingenuamente, entrega a bola na mão de Altafini, que a coloca rapidamente no chão e bate em gol. Árbitro formava a barreira e não valida a cobrança. Meia-direita brasileiro Dino Sani (também campeão mundial em 1958) cobra à direita da meta portuguesa.

11min – Costa Pereira se atrapalhou sozinho com a bola e a perdeu pela linha de fundo. Foi o melhor goleiro português. Mas era atrapalhado e jeitoso.

12min – O excelente meia-esquerda Rivera chuta para boa defesa de Costa. Time italiano espeta bastante bolas longas. Benfica marca mal e não arma bem.

Gianni Rivera, o Golden Boy do Milan, o maior craque italiano do clube
 

15min – Parece nervoso o bicampeão europeu. Erra muitos passes e lançamentos. Eusébio, desequilibrante, mais à esquerda, é bem marcado (individualmente) pelo médio-direito peruano Benítez.

18min – Enfim o Benfica que se conhece. Grande lance do colossal Coluna para o centroavante Torres tocar de canhota para Eusébio desperdiçar a chance de abrir o placar. Time português equilibra em Wembley.

18min – GOL. 1 X 0 BENFICA. EUSÉBIO. PÉ DIREITO. DENTRO DA ÁREA. Espetacular arrancada da Pantera Negra Eusébio, que recebeu no meio-campo, em posição legal (dada pelo lateral-direito David), entre o zagueiro-central Cesare Maldini e o lateral-esquerdo Trebbi, e às costas do médio-esquerdo Trapattoni. Jogada de categoria de Coluna, e arrancada irresistível de Eusébio, que partiu e bateu cruzado, na rede lateral direita do goleiro Ghezzi. Para Rivera, ali parecia que não teria mais jogo, que os portugueses iriam vencer mais uma vez. “Mas, aos poucos, fomos retomando o controle do jogo, e eles não tiveram tantas chances”.

21min – Eusébio arrisca de longe, bem Ghezzi.

23min – O volante pela direita Santana (meia direita na decisão de 1961) se joga mais à frente, por vezes largando Rivera, encostando em Eusébio, que se atira mais ao ataque, e cai pelos dois lados. Milan, mesmo agora dominado e perdendo por um gol, só explora o contragolpe, o “contropiede” característico italiano. Facilitado pela marcação milanista. Forte, claro, mas um tanto distante do excelente meio e ataque português.

26min – Eusébio sente lesão na perna e é atendido pelos médicos.

27m
in – Costa dá um bico para o galalau do Torres fazer a perede e o telhado de cabeça, tocando para Simões bater de canhota para fora. Eusébio segue ao lado do gramado sendo atendido pelo médido benfiquista

28min – Eusébio enfim retorna. Mancando.

O ponta-de-lança Eusébio x o médio-esquerdo Trapattoni. Um dos grandes duelos do clássico
 

29min – Joga demais Bambino Rivera. Apenas 19 anos de idade, parece ter 29 anos de futebol em Wembley. Já deu dois rolinhos nos rivais. Saindo da esquerda para a direita. O ponta-esquerda Pivatelli (substituto do lesionado Barison) faz o mesmo corte em diagonal.

29min – Altafini cabeceou sozinho na pequena área, na rede lateral direita de Costa Pereira, depois de cruzamento da direita de Rivera. com a parte de fora do pé direito, com efeito absurdo. Como, anos depois, com ainda mais categoria, amava fazer Johan Cruyff. Rivera também batia escanteios assim. Um monstro.

30min – Entre Humberto e Raul, Rivera faz lançamento espetacular para Altafini matar mal no peito e perder a quarta chance de gol rossonera.

30min – Altafini cabeceou depois de cruzamento da direita de Dino Sani para boa defesa de Costa Pereira.

31min – Eusébio dribla dois e Ghezzi faz bela defesa. Virou jogaço em Londres.

31min – Altafini passa por 4 e manda bomba no ângulo de Costa Pereira, que faz grande defesa para escanteio.

32min – Melê na área portuguesa, David quase empata. Pressão rossonera.

33min – Altafini estica a perna e não empata, chegando um pouco tarde. Melhora demais o Milan nos últimos 10 minutos, também porque o Benfica ficou travado demais no 4-2-4, com Coluna muito preso no meio-campo, deixando os pontas e Eusébio e Torres muito isolados. Todo o Benfica mexe e se joga bem menos.

40min – Empate seria mais justo, agora. Benfica recuou demais e não consegue acerta um contra-ataque. Bem aberto pela direita, Rivera organiza todo o jogo milanista.

41min – Coluna enfia a bomba para boa defesa de Ghezzi.

45min – Altafini cabeceou no canto para grande defesa de Costa Pereira.

INTERVALO – Milan começou melhor, Benfica dominou depois do gol, mas, nos 20 finais, não fosse Costa Pereira, time italiano, mais dinâmico, teria virado contra um bicampeão europeu engessado e com os compartimentos estanques.

Humberto, Raul, Cruz, Cavém, Coluna e Costa Pereira; José Augusto, Santana, Torres, Eusébio e Simões. O time que levou a virada em Wembley
 

PLACAR VIRTUAL 1O. TEMPO – MILAN 8 X 5 BENFICA

SEGUNDO TEMPO

1min – Dino Sani pega torto de canhota, à esquerda. Primeira chance rossonera.

Dino Sani, o armador pela direita do campeão europeu de 1963
 

3min – Altafini impedido. Milan recomeça bem melhor que um recuado e acuado Benfica.

4min – Costa Pereira, mais ou menos como o grande argentino Carrizo (muito melhor que o português), atuava bastante adiantado para a época. Mas não adiantava muita coisa. Ele era mais atrapalhado que qualquer outra coisa. Em vez de pegar uma bola que sobrou com as mãos dentro da área, deu um bico de graça para Pivatelli pegar sem-pulo de prima, da meia esquerda, mas à direita da meta encarnada. Segunda chance italiana, depois de bela troca de bola. Milan já merecia melhor sorte.

5min – Torres escapa pela esquerda e chuta (mais uma vez) mal de canhota, depois de bobagem de Maldini, o lento central italiano.

11min – Grande arrancada de Eusébio, mas Simões foi ser solidário, de cabeça, quando deveria finalizar direto. Desatenção milanista no contragolpe português.

12min – GOL. 1 X 1 MILAN. ALTAFINI. PÉ DIREITO. Da entrada da área, depois de belo lance de Rivera, o centroavante ítalo-brasileiro fez na raça o merecido gol de empate, aproveitando um rebote da zaga. Mal celebrou e caiu no gramado: cãimbras. O médico do Milan correu para atendê-lo. Foi o 13o. gol na competição, superando a marca anterior que era de 12, do genial Puskás, do Real Madrid.

14min – Seria cartão vermelho para Trapattoni. Perdeu um passe e mandou um pontapé por trás em Coluna, que partia para o ataque. Uma lástima. Coluna sai de campo para tratar o tornozelo direito. Altafini aproveita e também sai do gramado para ser atendido na lateral.

16min – Primeira real chance portuguesa no segundo tempo. Uma bomba de José Augusto para baita defesa de Ghezzi, para escanteio, depois de grande lance de Simões, pela esquerda.

17min – Resposta milanista com Rivera, da meia esquerda, mas ele bate à direita de Costa. Bela trama com Altafini e Mora, começando por Rivera, que chegou driblando meio Benfica.

17min – Coluna retorna mancando. Sempre lembrando que as alterações não eram ainda permitidas.

Eusébio, Costa Pereira e Coluna. O trio moçambicano do Benfica
 

17min – Altafini recebe por dentro e bate para grande defesa de Costa Pereira. Bonita jogada de Mora cortando em diagonal, a partir da direita. Ótima movimentação dos pontas do Milan.

19min – Simões passa pelo lateral-direito David como quer, cruza e Ghezzi soca a bola; no rebote, Santana enche o pé e Ghezzi faz das mais impressionantes defesas que já vi, mandando a escanteio. Todo o Milan aplaude o goleiro, juntamente com Wembley.

20min – GOL. 2 X 1 MILAN. ALTAFINI. PÉ DIREITO. DENTRO DA ÁREA. Bobagem total no meio-campo, Raul toca na fogueira para Humberto se atrapalhar com a bola. Pivatelli toma da atrapalhada zaga benfiquista (saudosa do grande Germano), lança Altafini em posição legal, partindo do próprio campo. Ele avança e toca para Costa espalmar. Mas, no rebote, o atacante vira o placar, mesmo ainda arrastando a perna direita. Tanto que passa a atuar mais à direita, quase fazendo número. Como Coluna, maldosamente atingido por Trap.

Eusébio e Trapattoni, o zilionésimo encontro de gigantes, em Wembley

21min – Um membro da comissão técnica italiana desmaia de emoção.

25min – Praticamente sem mais tocar na bola, enfim Coluna vai para o vestiário. Benfica fica com um a menos. Jogador que deu a pancada segue em campo. Impressionante como ainda iria demorar o International Board para mudar essa excrescência da regra do jogo.

28min – Rivera da meia esquerda chuta para boa defesa de Costa Pereira. Mas o Milan, ainda que com a vantagem no placar e numérica em campo, recua e apenas especula no contragolpe, o tradicional “contropiede” italiano.

32min – Wembley aplaude o retorno do guerreiro Coluna a campo. Sem poder mexer nas equipes, não era inusitado um atleta lesionado dar um tempo e depois voltar a campo, depois de ter passado pelo vestiário.

35min – Ghezzi era um grande goleiro. Mas não batia os tiros de meta do clube rossonero.

38min – O Benfica não reage. Mesmo com 11 x 11, o Milan era melhor. Mas, para Rivera, eram “11 x 10 e meio. Porque Coluna jogava demais, mesmo assim”.

43min – Altafini desperdiça para fora a sétima chance milanista na segunda etapa.

FIM DE JOGO – Ganhou o melhor time, o que mais buscou o jo
go, o que teve maios chances e, também, o que mais bateu.

FALA, RIVERA: “Foi uma grande partida de duas grandes equipes. Mas acredito que tenhamos criados mais chances de gols. Apenas por isso vencemos um jogo que poderíamos perfeitamente ter perdido”.

PLACAR VIRTUAL 2o. TEMPO – MILAN 7 X 2 BENFICA

PLACAR VIRTUAL – MILAN 15 X 7 BENFICA

Maldini, Benítez, Rivera, Altafini, Mora e Pivatelli (os atacantes em pé); Ghezzi, Trebbi, David, Trapattoni e Dino Sani (agachados), em Wembley
 

ATUAÇÕES

MILAN – Escalado num WM (3-2-2-3) clássico, o time rossonero criou mais chances nas duas etapas, e, com a lesão de Coluna, com 60 minutos de jogo, teve meia hora para virar a partida. Forte na defesa (nem tanto nas laterais), criativo no meio-campo, dinâmico à frente, e com um centroavante inspirado (14 gols em todo o campeonato). NOTA 8

GHEZZI – 32 anos à época, 7 de seleção, foi Inter de 1951 a 1958, Milan de 1959 até se aposentar, em 1965. Um ano ele passou (1958) no Genoa até ser trocado por Buffon, tio-avô do grande goleiro italiano deste século, campeão mundial em 2006. A rivalidade entre os dois grandes goleiros passava até pela mulher de Buffon, que havia sido namorada de Ghezzi. Também conhecido como Kamikaze pelo arrojo na meta, tinha reflexos impressionantes e saltos espetaculares – quando não dispensáveis. Ao menos uma defesa de cinema, das mais impressionantes da história. NOTA 8

DAVID – O lateral-direito era muito forte fisicamente. Mas teve a inglória tarefa de marcar o excelente Simões. Mais perdeu que venceu o duelo. Jogou cinco anos pelo Milan, e 4 pela Squadra Azzurra (mas disputou apenas 3 jogos). Inclusive na célebre Batalha de Santiago, derrota da Itália para o Chile, na Copa-62, quando acertou feio o chileno Sánchez e foi expulso. NOTA 5.

MALDINI – O capitão Cesare era o zagueiro-central rossonero. O stopper. Alto para a época (1m82), um tanto lento, mas de espírito rochoso e capacidade de antecipação exemplar. Jogou de 1954 a 1966 no Milan, depois de começar a carreira na Triestina, clube de sua terra natal. Cinco anos pela Seleção Italiana que iria dirigir na Copa-98. Treinou o Paraguai no Mundial de 2002. Mas foi como auxiliar-técnico de Enzo Bearzot que conquistou seu maior trunfo, ganhando aCopa-82. Pai de Paolo Maldini, milanista de 1985 a 2008. NOTA 7.

TREBBI – O lateral-esquerdo passou 8 anos no Milan. Por dois anos atuou na Itália. Como a maioria da época, era um zagueiro-lateral, preocupado apenas em marcar o ponta-direita rival. Como José Augusto saía muito para o meio, teve dificuldades para acompanhá-lo. Lento, pouco técnico, outro que também virou treinador. NOTA 5.

BENÍTEZ – “El Conejo” (coelho) era um médio-direito e zagueiro peruano. Jogou três anos no Boca Juniors até ser levado para passar mais três temporadas no Milan. Atuaria até 1970 na Itália, em mais cinco clubes, antes de encerrar a carreira no Peru. Onze partidas pela seleção nacional. Boa marcação e velocidade, gostava mesmo de atuar como cabeça de área. Teve de marcar Eusébio, quando ele caía mais à esquerda. Com a bola, também jogava. Fazia dupla pétrea com Trapattoni na contenção. Mas batia bem menos que o companheiro. NOTA 6

TRAPATTONI – O médio-esquerdo italiano foi essencial para tirar Coluna do jogo e garantir a vitória milanista. Batia demais, como, naquele mesmo ano, anulou Pelé (com dor de barriga), atuando pela Squadra Azzurra (onde só jogou 4 anos, e, na Copa-62, lesionado, só assistiu à pífia campanha italiana). Como volante e homem de marcação, como zagueiro ou até lateral, como campeoníssimo treinador, virou sinônimo de futebol objetivo e pragmático, nem sempe agradável de ver, poucas vezes um gentleman do fair-play. Atuou pelo Milan de 1957 a 1972. Como treinador, o período de glória foi pela Juventus, de 1976 a 1986. Mas foi vencedor na Internazionale, Bayern de Munique, Benfica. Para resumir, ganhou um Mundial e uma Liga dos Campeões pela Juve, em 1985; 3 Recopas da Europa; uma Copa da Uefa; uma Supercopa europeia; 10 títulos nacionais (em quatro países diferentes, um recorde mundial, ao lado do austríaco Ernst Happel); mais outras copas nacionais. Por quatro anos dirigiu a Squadra Azzurra. Na Copa-02, foi eliminado nas quartas-de-final pela Coreia do Sul, também beneficiada pela arbitragem. Não é das mais simpáticas figuras do futebol mundial. Mas merece respeito. NOTA 5


 

DINO SANI – O meia-direita brasileiro foi um senhor volante com pés de armador. Ou um meia com inteligência tática para armar. Enfim, um todocampista. E, depois, um baita treinador, que começou a montar o grande Internacional dos anos 70. Técnico que poderia ter assumido o Brasil antes de Zagallo, em março de 1970. Não quis, pela amizade com o demitido João Saldanha. Como atleta, foi revelado pelo Palmeiras, em 1950. XV de Jaú, Comercial paulitano, São Paulo (1954 a 1959), Boca Juniors (1959 a 1961), Milan (1961 a 1964) e Corinthians (1965 a 1968). Começou como titular a Copa-58, onde terminaria reserva de Zito. Em 1962, atuando na Itália, foi substituído no Brasil bicampeão por Zequinha. Em Wembley, tanto dava um pé atrás e tinha de seguir (e ser seguido) por Coluna, quanto também armava e finalizava ao lado de Rivera. NOTA 7.

RIVERA – Gianni, o “Ragazzo D’Oro”, o “Golden Boy”, o garoto de ouro do Milan, foi o craque da decisão com apenas 19 anos. Para não dizer que foi o maior jogador da rica história rossonera. Contra tantos estrangeiros de imensa qualidade, no mínimo foi o melhor italiano a atuar pelo clube – capitão por 12 anos. Foi o primeiro do país a ganhar o “Bola de Ouro” da France Football, em 1969. Está na lista de 2004 de Pelé dos 125 maiores do centenário da Fifa. Revelado pela Alessandria, em 1958, atuou pelo Milan de 1960 a 1979 (658 jogos, 164 gols). Chegou com 16 anos pelas mãos do grande meia-esquerda uruguaio do Milan – Schiaffino. Era tanto um mezzala (um meia-esquerda ou direita, quase um ponta-de-lança) quanto um regista (o organizador da equipe, um armador puro por todo o campo). Foi tudo na decisão em Wembley. Das mais notáveis partidas de um jovem jogar, pela qualidade, intensidade, técnica, tática, maturidade. Por tudo. Não era muito chegado ao gol, embora tenha sido um dos artilheiros do Italiano de 1973. Atuou em quatro Copas, de 1962 a 1974. Mas absurdamente era reserva do não menos imenso Mazzola, em 1970. Quanto o treinador Ferrucio Valcareggi inventou de só colocar (quando colocava) Rivera no segundo tempo dos jogos, sacando o meia-atacante interista. Havia como atuarem juntos. Mas o treinador criou a célebre staffetta que só prejudicou a Squadra Azzurra em 1970. NOTA 9

MORA – Seis anos de seleção, 7 de Milan, Mora jogou com a 11. Mas era 7. Ponta-direita. Só que também corria para outro lado, entrava em facão por dentro. Fazia muita coisa, como a maioria dos bons pontas italianos. Jogou a Copa-62. A de 1966, não, por conta de uma fratura exposta na tíbia e na fíbula, que acabou abreviando sua carreira. Ótima movimentação. NOTA 7

ALTAFINI – No XV de Piracicaba e no Palmeiras, no Brasil onde foi titular no início da Copa-58, José Altafini era Mazola. Como Valentino Mazzola, pai do interista Sandro, senhor craque do grande Torino dos anos 40, tragicamente morto num acidente aéreo, em 1949. Tinham certa semelhança física. Logo depois do Mundial conquistado pelo Brasil, Mazola foi vendido para o Milan, onde atuou até 1965. Napoli até 1972, Juventus até 1976, e encerrou a carreira na Suíça, em 1980. Virou um ótimo apresentador e comentarista na Itália, onde
atuou pela Squadra Azzura por dois anos. Também na Copa-62. Mais tarde, afirmou ter sido um erro ter atuado pela Itália, o que o deixou sem condição de lutar por um lugar no grupo brasileiro que seria bi mundial, no Chile. Forte, velocíssimo, raçudo, boa técnica, excelente presença de área, sabia jogar fora da área. No fim de carreira, pela Juve, atuava aberto até como ponta. Em Wembley, sentiu a perna no primeiro gol. No segundo, saiu desde o próprio campo, mesmo puxando a perna direita. Um monstro. É o quarto maior artilheiro do calcio. Desde 2009, é o comentarista em italiano do Pro Evolution Soccer. Ao menos alguma coisa em comum ele tem com este que vos tecla. NOTA 8

Altafini, o Mazola, em outra partida pelo Milan
 

PIVATELLI – Era centroavante quando começou na base da Inter. Rodou a Itália no ataque. Esteve no grupo que disputou a Copa-54. Os últimos dois anos de carreira foram no Milan, onde parou de jogar pouco depois de Wembley, com 30 anos. Com o treinador Nereo Rocco, até de zagueiro atuou. Na decisão, a partir da ponta esquerda, rodou todo o ataque, e ainda ajudou no meio. Mas sem muito brilho. Foi o substituto do lesionado Barison. NOTA 5.

NEREO ROCCO – El Parón jogou como meia a partida que classificou a Itália para ganhar a Copa-34. Mas não participou do Mundial. Como treinador foi mais feliz. Neto de austríacos, tinha rígida disciplina, e, por vezes, problemas com seus atletas. Ainda como atleta, se encantou com o ferrolho suíço e com a figura do líbero atrás dos zagueiros. Foi assim que acabou criando o catenaccio, o “cadeado” nas zaga italianas, célebre desde a Triestina por ele dirigida, em 1946. Ele colocava mais um zagueiro atrás da linha de três defensores, sacando um dos meias. A equipe atuava basicamente num 1-3-3-3. Time mais fechado e baseado no contropiede, o contragolpe italiano. Mas o Milan de Wembley era mesmo um WM clássico, um 3-2-2-3. Em Milão, nessa primeira passagem gloriosa, de 1961 a 1963, Rocco soltou mais o time bastante talentoso. Foi a melhor das tantas equipes vencedoras dele. Voltaria a ganhar o título europeu em 1969, pelo Milan.

BENFICA – Bicampeão, aproveitou um contragolpe e abriu o placar. Recuou demais, e sentiu a ausência de Germano, na zaga. Com um Coluna a menos a partir dos 14 minutos, definhou. Ninguém jogou tudo que pôde. Ainda assim, pela fibra e qualidade, se superaram. Atuou no 4-2-4. Foi o primeiro finalista de Liga a jogar dentro desse esquema. O que não pareeceu determinar a sorte do jogo. Era apenas mais um esquema para um futrebol que enfim começava a mudar taticamente. NOTA 7

COSTA PEREIRA – (Ver o perfil dele no texto da decisão de 1961 e 1962). Grandes defesas de puro reflexo e intuição com grandes falhas no posicionamento, em fundamentos básicos mal trabalhados, numa certa presunção na meta. Um goleiro muito irregular. A falha fatal na decisão de 1965, contra a Internazionale, em Milão, o levou a voltar a Portugal numa cadeira de rodas para amenizar as críticas da torcida (embora, de fato, estivesse machucado). Não por acaso o apelido que o magoava: “Costa dos Frangos”. Em Wembley, cometeu bobagens ao jogar mais adiantado que o bom senso recomendava. Mas fez grandes defesas, como no lance do gol da virada rossonera. NOTA 6

Costa Pereira, o melhor e mais controvertido goleiro português
 

CAVÉM (Ver o perfil dele no texto da decisão de 1961 e 1962). Ponta-esquerda em 1961, médio-direito em 1962, agora lateral-direito. Bom duelo com Pivatelli. NOTA 6

HUMBERTO – O zagueiro-direito foi outro que bobeou no gol fatal do Milan. Mas era zagueiro de boa técnica e presença. Toda a carreira foi encarnada. Foi titular na derrota na primeira partida da final do Mundial de 1962, vencida pelo Santos, no Maracanã, por 3 x 2. NOTA 5

RAUL – Sete anos de Benfica, 11 jogos por Portugal. Mas bobeou no gol da virada e sofreu demais com Altafini. Substituiu o excelente Germano como zagueiro-esquerdo do 4-2-4 do Benfica. NOTA 5

CRUZ – (Ver o perfil dele no texto da decisão de 1961 e 1962). De médio-esquerdo a lateral-esquerdo não mudou muito o jogador taticamente utilíssimo. Mas sofreu com as incursões em diagonal de Mora. NOTA 5

SANTANA – Ver o perfil dele no texto da decisão de 1961). Meia-direita do WM da final de Berna, ele foi o volante pela direita do 4-2-4 de Wembley. Sofreu demais com Rivera. E não armou como sabia. Ainda assim, se virou por dois com a lesão de Coluna. Pela raça, NOTA 7

COLUNA – (Ver o perfil dele no texto da decisão de 1961 e 1962). Na garra, depois da entrada brutal de Trap, aos 14 do segundo tempo, ainda se segurou. Mais recuado no 4-2-4, jogou menos com o time. Mas jogou demais para a equipe, como sempre. O Monstro de Inhaca honrou o apelido. NOTA 7

JOSÉ AUGUSTO – (Ver o perfil dele no texto da decisão de 1961 e 1962). Menos dinâmico e brilhante que em outras decisões. NOTA 7

TORRES – Dez anos de Seleção, Benfica de 1959 a 1971, o alto (1m91) e forte centroavante tinha técnica apreciável, velocidade considerável para o tamanho, e imponente presença de área, sobretudo no cabeceio. Foi o treinador que levou Portugal ao Mundial do México, em 1986. Fazia parte de um ataque poderoso. E não fez feio. NOTA 6

EUSÉBIO – (Ver o perfil dele no texto da decisão de 1962). Um golaço, belas arrancadas contra Benítez e Trapattoni. Mas ainda pareceu faltar algo para alguém tão especial e qualificado. Não era e não foi o Novo Pelé. Mas a Pantera Negra de Moçambique, certamente, foi o maior jogador nascido na África, foi quem talvez mais pareceu Pelé, no estilo, na força, na técnica, na velocidade e, por que não, no faro pelo gol. NOTA 8

SIMÕES – Ver o perfil dele no texto da decisão de 1962). Outro que jogou muito. Mas poderia dar ainda mais. Dribles, velocidade, poder de fogo. Um senhor ponta. NOTA 8

FERNANDO RIERA – Nos anos 40, como atacante, defendeu a seleção do Chile, e jogou na França. Marcou um gol pelo time chileno na Copa-50. Mas se superou como treinador. Em 1962, levou a anfitriã à terceira colocação, eliminada apenas pelo Brasil bicampeão. O sucesso o levou ao Benfica. Em 1963, dirigiu a Seleção da Fifa que disputou amistoso contra a Inglaterra na celebração dos 100 anos do futebol. Treinou o Boca, o Nacional, o La Coruña, e os principais clubes chilenos. Foi o primeiro a adotar o 4-2-4 numa decisão de Liga dos Campeões. NOTA 7.

Raul, Humberto, Cruz, Cavém, Coluna e Costa Pereira; José Augusto, Santana, Torres, Eusébio e Simões em outra partida do Benfica em 1963

ARTHUR HOLLAND (Inglaterra) – O árbitro deixou Trapattoni tirar Coluna de campo. Mas era infeliz praxe de época não coibir o jogo tão violento. NOTA 4

A PARTIDA – NOTA 7. Um jogo que vai sinalizando a entrada em campo de equipes cada vez mais pragmáticas e trancadas.

OS NÚMEROS (COMPILADOS POR GUSTAVO ROMAN)

Milan – Benfica
Faltas cometidas 9 – 14
Faltas no ataque 2 – 6
Faltas na defesa 7 – 8
Desarmes 38 – 27
Desarmes ataque 6 – 7
Passes errados 56 - 43
Finalizações 23 – 14
Linha de Fundo 2 - 5
Impedimento 3 – 1

O Milan desarmou mais e finalizou mais. Mas errou mais passes, também.

A ideia desta série é de André Rocha e de Gustavo Roman, que providenciaram análises, informações e imagens.

Quer ver o jogo na íntegra?

Procure gugaroman@hotmail.com

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Lição

A derrota do Internacional para o Mazembe, o todo poderoso, é a aplicação prática de tudo aquilo que vem sido discutido nessa coluna ao longo dos últimos tempos.

Não há nada de incomum na derrota, muito pelo contrário. O que existe é um desarranjo de probabilidades. Ou melhor, a aplicação perfeita da probabilidade, uma vez que quando o improvável ocorre, ele apenas comprova a existência da variação estatística.

Não é dizer que o Mazembe é fraco, muito pelo contrário. Mas é fato que é mais provável que um time sul-americano vença um time africano do que o inverso. As razões pra isso são, essencialmente, as variáveis de mercado, uma vez que o talento interno africano é menos valorizado que o brasileiro e, portanto, mais suscetível a sair do país com antecedência, e o fato do Internacional contar com uma área de oferta de talento muito mais ampla do que o Mazembe. Simplificando, basta pensar que seria possível imaginar que um atleta do Mazembe viesse a jogar no Internacional como ponte para outro mercado mais desenvolvido. O oposto, porém, seria muito complicado.

A questão aqui é o que essa derrota significa, e a resposta é simples: nada. Perder para o Mazembe, como dito acima, é uma variação de probabilidades. Se uma coisa acontece uma vez a cada milhão de vezes, ela pode acontecer, por mais difícil que isso seja. E não é porque ela aconteceu que o cenário da probabilidade deve ser alterado. Acontecer uma vez não quer dizer que vai acontecer sempre. É bem possível que nunca mais volte a acontecer. Portanto, sem razões para mudanças ou desesperos.

Logicamente, isso é bastante complicado. Ainda mais para o Internacional e seu momento de recém alteração política. Mas essa é a pura natureza do jogo. Não só do futebol, mas de todo e qualquer jogo existente. Na maioria das vezes, ganha quem tem mais chances de ganhar. Mas, em algumas vezes, os que têm menos chances conseguem ser os vitoriosos. Um cassino não é diferente.

Como bem citado no livro Moneyball (acredite: se você se preocupa em entender a natureza da indústria esportiva, a leitura desse livro é imprescindível), mudar toda a sua estrutura por causa de um resultado em uma partida eliminatória seria a mesma insensatez que um dono de cassino cometeria caso ele mudasse toda a estrutura do seu negócio a cada vez que alguém acertasse o jackpot em um caça níqueis. Afinal, é bastante improvável que alguém acertará o jackpot. Mas, eventualmente, alguém acertará. Nem por isso a banca deixará de ganhar.

Levando-se em conta o faturamento de um cassino, talvez seja uma boa lição.

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Ambiente instável

Acompanhando o Mundial de Clubes e refletindo: como as entidades do futebol vivem um ambiente extremamente instável, em que algumas vezes a explicação está no inexplicável. E aí pergunto: como adotar um modelo de gestão sem que situações pontuais atrapalhem a sustentabilidade e os projetos no médio/longo prazo?

O caso em voga é o do Internacional de Porto Alegre, que foi eliminado prematuramente pelo Mazembe, do Congo, no Mundial de Clubes de 2010 realizado em Abu Dhabi, e foi do céu ao inferno em apenas 90 minutos – assim como os mais de cinco mil colorados que viajaram do Brasil para o Oriente Médio. Perder para a Inter de Milão, que seria a mais previsível final do torneio, não seria lá um grande desastre, é bom que se diga.

Falando objetivamente sobre gestão, é possível afirmar que são nesses momentos que podemos e devemos visualizar e mensurar a qualidade dos gestores à frente dos processos de trabalho. Saber filtrar aquilo que foi construído até então, sem que um fato contamine os próximos passos da organização, podem ser classificadas como as principais virtudes dentro do todo que foi construído.

O mais importante é fazer com que as pessoas que tomam decisões nas organizações de esporte passem a adotar um posicionamento mais racional e menos emocional sobre aspectos análogos. Precipitar-se, com base em um momento único, nem sempre é a melhor solução.

O Prof. Gustavo Pires (2007) nos ensina que “uma das mais significativas mudanças organizacionais da próxima década terá a ver com a atitude cultural das pessoas acerca da própria mudança. A responsabilidade, os processos de tomada de decisão, os sistemas de ligação. Nestes domínios esperam-se e desejam-se grandes mudanças no mundo das organizações desportivas que é um mundo tradicional e, muitas vezes, irresponsável”.

Assim, superar esse tipo de percalço com sabedoria, que ocorre com certa frequência em vários clubes, ano após ano, dentro de sua escala de atuação e abrangência, é o que diferencia as organizações de elevado sucesso no futebol daquelas medíocres, que respondem e reagem pelo momento e não pelo contexto. Que tentam explicar o inexplicável, olhando para trás, sem a devida reparação de seus erros e com um olhar profundo sobre o futuro.

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Liverpool e gestão de conhecimento: um exemplo prático de como é simples

Neste fim de semana assistia à uma matéria na televisão com o jogador Lucas, do Liverpool. Na reportagem, o jornalista Décio Lopes acompanhou o volante até os vestiários dos atletas e demais bastidores do clube.

Muito mais do que a tecnologia propriamente dita, me chamou a atenção a relação de confiança que se estabelece com o atleta.

Num determinado momento, Lucas apresenta uma balança localizada de frente para um aparelho de TV. Lucas disse que ali os atletas se pesam e anotam na TV (touchscreen) a informação, e esta já fica registrada para todos os departamentos. Ainda nesse monitor, o atleta pode indicar se apresenta algum desconforto muscular, dor, mal estar, indicando de 0 a 10 o nível do incômodo. Esse indicativo fica, automaticamente, registrado para todos os departamentos: fisioterapia, médico, preparação física, etc.

Na conversa informal entre Lucas e Décio Lopes é possível identificarmos por trás uma rotina contada pelo atleta de forma simples, que denota aquilo que sempre discutimos sobre tecnologia não ser apenas recursos e equipamentos, mas sobretudo processos. Um pouco mais adiante na reportagem, Lucas aponta um quadro branco no qual os atletas podem declarar interesse e agendar se querem ou não receber massagens.

Qual a diferença entre a balança de frente para o monitor touchscreen e o quadro branco? Apenas os recursos tecnológicos empregados, mas o processo que rege o funcionamento de ambos é o mesmo. E é o que merece destaque. É um modelo simples e objetivo de como pode ser utilizada a gestão do conhecimento no futebol. É certo que estamos simplificando o que esse tipo de gestão pode agregar, mas já é uma mostra clara de como as coisas são muito mais simples do que muitos imaginam e acabam se tornando resistentes à adoção de novos modelos tecnológicos e gerências no futebol.


 

O primeiro aspecto desse processo que Lucas demonstrou e que deve ser destacado tem um vínculo cultural que é importante, porque não significa que o mesmo modelo daria certo no Brasil. Esse ponto é justamente a confiança que o departamento de futebol deposita no atleta, na auto-avaliação do jogador sobre suas condições físicas e do comprometimento do mesmo de seguir os procedimentos indicados. Provavelmente (e isso fica no campo da suposição, pois a entrevista não nos permitiu ter clareza do que pode ser tomada como ação) o atleta que mente ou faz o famoso “migué”, seja nas informações sobre condição física ou no cumprimento dos procedimentos, deve ser cobrado e punido por isso. Talvez esse cumprimento à regra seja uma parte que dificulte o processo no futebol nacional.

Mesmo que os valores culturais possam criar certa distância, é imprescindível que esse compartilhamento de informações, que no caso inglês começa com o atleta, seja de fato valorizado dentro do clube, que exista o diálogo entre os departamentos, e que esse diálogo não fique apenas no discurso para “inglês” ver (sem querer forçar o trocadilho).

A disponibilização das informações, o compartilhamento das mesmas, facilita o histórico e a intervenção sobre uma determinada situação. Para isso o próprio Liverpool nos dá o exemplo de que seja com o advento tecnológico ou com uma simples lousa, a gestão do conhecimento acontece por estar pautada em processo.

Nada muito complexo, mas pode ser que para o futebol brasileiro, que insiste em considerar o processo um retrocesso, isso tudo possa ser um paradoxo, e o que é pior, um paradoxo do avesso, à medida que as informações compartilhadas precisam ser assumidas como verdade, e aí…

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Allez, Guga!

Que raios tem a ver falar de Guga num site sobre futebol? Pois é. Estava pensando exatamente isso na noite de sábado, enquanto tentava conter as lágrimas dentro da garganta vendo o choro do maior fenômeno que o tênis brasileiro produziu e, muito provavelmente, produzirá na sua história.

O que Guga tem a ver com o futebol, além das básicas associações ao Avaí, ao Jacaré e ao bordão “rede é gol” que a Pepsi soube brilhantemente criar durante o auge da tão curta carreira do nosso tenista.

Mas a luz veio clara na cabeça quando pensei no “Allez, Guga”, que os torcedores franceses souberam entoar durante os cinco maravilhosos anos em que ele foi o Rei de Roland Garros. Guga era o cara que, entre 97 e 2002, queríamos ver, saber o que ele fazia, consumir o que ele consumia, seguir seu estilo de vida.

Guga foi o que falta, e muito, para o futebol brasileiro da atualidade. Um ídolo carismático, simpático, alegre, vencedor. Um cara que nos dê orgulho de ter nascido no mesmo país dele, que nos motive a sonhar mais alto, a querer ser melhor, a ser tão competente quanto ele.

Ídolo que hoje é uma palavra tão ausente do cotidiano do futebol brasileiro. Jogadores que se deixam levar rapidamente pelo grande dinheiro que circula em outros países, que não tentam entender a importância de se criar um vínculo com suas origens, com suas raízes, que são massacrados pela vontade de lucrar de clubes, empresários, família, dirigentes, etc.


 

Talvez fosse preciso que o futebol, no Brasil, adotasse o estilo Guga de levar as coisas. De fazer um “Allez, Guga” com seus jogadores, incentivando-os a permanecer em seus clubes e, mais do que isso, a continuarem próximos dos torcedores.

Guga consegue, ainda hoje, deixar o torcedor próximo do tênis. Para um esporte carente de ídolos, seu trabalho é fundamental para ajudar no crescimento da modalidade. O futebol brasileiro não precisa do ídolo para manter a chama do torcedor acesa. A paixão pelo clube garante que tenhamos uma conexão imediata da pessoa com o time.

Mas a ausência do ídolo, no longo prazo, é extremamente prejudicial para o interesse do torcedor pelo clube. Sem ter para quem torcer ou, pior, tendo para quem torcer apenas fora do país, ele se distancia daquela que deveria ser a sua grande paixão.

Que tenhamos mais Gugas no futebol de hoje.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br  

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Amostragem

A carência por conhecimento científico na administração do futebol mundial é bastante conhecida. No Brasil, então, nem se fale.

Há, porém, tentativas bastante honestas de solucionar esse problema. Ao final de todo ano, buscam-se números de onde é possível para construir métricas de performance que indiquem fatos e tendências. Nada mais louvável.

Com dados em mãos, iniciam-se discussões quase intermináveis sobre os rumos futuros do futebol e sobre a qualificação ou não de determinadas pessoas e suas ações. Tal clube está bem administrado, outro clube não está, fulano é supervalorizado, sicrano é subvalorizado, e assim por diante.

No caso de jogadores, esse fenômeno é bastante evidente. Se um cara é artilheiro do campeonato, é quase certo que ele vai conseguir uma boa renovação de contrato ou será transferido para um clube com mais prestígio. Se ele é eleito para a seleção do campeonato, idem. Tudo fruto da percepção de valor construída baseada nas métricas mais simples que existem.

O problema, porém, é que por diversas vezes as tendências construídas não se consolidam no futuro breve. Quantos artilheiros de campeonato foram transferidos para outros clubes mas não conseguiram se destacar no ano seguinte? Quantos jogadores apontados como destaques de um ano nunca mais conseguiram brilhar em seus clubes? Muitos.

A razão para isso é bastante simples. No futebol, a amostragem de dados que ajudam a construir argumentos tende a ser muito, muito pequena. E isso gera conclusões ilusórias, que podem não representar o fato em si, mas apenas indicar a exceção. Por exemplo: suponhamos que um jogador se profissionalize aos 18 anos e consiga ser o artilheiro do Campeonato Brasileiro aos 26, com 32 gols. Nos oito anos anteriores, a média de gols dele era de nove gols por Campeonato Brasileiro. No final do ano em que se tornou artilheiro, ele será apontado como um grande goleador e possivelmente ganhará um aumento ou uma grande transferência. A probabilidade, porém, é que ele volte a marcar oito gols no ano seguinte, ou até menos, uma vez que a amostragem ampliada mostra que os 32 gols é a exceção, e não a regra.

Por isso, nesse final de ano em que um monte de conclusões começam a pipocar, tenha bastante cuidado com aquilo que você absorverá com verdade. A maioria delas estará limitada à análise de dados de um período muito curto, o que inevitavelmente cria grandes distorções. Essa é a regra. Resta esperar pra ver se o Jonas será a exceção.

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Podemos explicar o campeão?

Em setembro, uma de minhas colunas abordou a possível explicação para o rebaixamento de alguns clubes no cenário das competições nacionais e a discussão sobre como agremiações tradicionais desceram ladeira ano após ano.

Desde o final de semana venho pensando em abrir uma discussão a respeito do lado inverso, ou seja, o que explicaria o título em uma competição, como o fez Erich Beting na sua coluna semanal na Universidade do Futebol (Viva o planejamento!), atribuindo ao planejamento e à manutenção de um elenco e comissão técnica por parte do Fluminense como sendo as peças-chave para o sucesso da equipe em 2010.

De fato, consigo enxergar um plano de trabalho consistente por parte da competente comissão técnica tricolor, liderada pelo multicampeão Muricy Ramalho que, há algum tempo, realiza com excelência suas obrigações junto aos clubes por onde passa. No entanto, me parece mais uma célula a parte dentro da estrutura geral da organização do que propriamente um conjunto de ações que levam aos resultados esportivos.

O que estou tentando dizer é que o planejamento deve ser fruto de um processo global, abrangendo o todo de uma organização. Não devemos e não podemos enxergar com olhos míopes para aquilo que aconteceu nos 90 minutos do domingo. Do contrário, cairemos na análise fria e sem sentido que tomou conta das conversas de bastidores em 2009, quando chegaram a falar que o modelo bagunçado do Flamengo é que era o correto – que acabou se comprovando em 2010 como falacioso pela pífia campanha protagonizada pelo clube mais popular do país.

A dúvida que coloco é: e se Muricy e companhia saírem amanhã do Fluminense, o mesmo continuará a brigar por títulos ou irá figurar na parte de baixo da tabela, como o fez nos campeonatos anteriores? Coloquei o Muricy como centro da pergunta por motivos óbvios, mas entendo que existam outros treinadores e comissões técnicas capazes de fazer campanhas pontuais de sucesso mesmo dentro da “desestrutura” de alguns clubes brasileiros.

Penso, portanto, que para a implantação de um planejamento consistente, com durabilidade, as questões devem ser ainda mais complexas e profundas, passando por toda a montagem da equipe alinhada com a comissão técnica, o departamento de marketing, a estrutura física, os organismos e departamentos administrativos do clube buscando a inovação constante e registrando os processos de aprendizagem ao longo do tempo para que ocorra a tão sonhada manutenção dos níveis de excelência.

Do contrário, assistiremos cada vez mais esse tal efeito gangorra, em que muitos títulos são conquistados em partes pelo mérito pontual da equipe naquela temporada e pelo despreparo de seus adversários no mesmo período. E o ano seguinte? “Ah, sabemos que ele terá 365 dias, divididos em 12 meses e 52 semanas”.

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É hora de planejar, não sem antes avaliar

Acabou o Brasileirão 2010, e nesta semana vivemos um misto de justificativas com perspectivas. É imprescindível que o planejamento da nova temporada seja precedido pela avaliação da que se encerrou há instantes. Mas nem sempre isso é tomado como verdade nos clubes.

 

Não consigo imaginar um clube desenvolver seu planejamento sem uma avaliação do que fez na atual temporada. Neste planejamento deve estar incluso todo e qualquer tipo de informação. E será que os clubes têm um banco de informações, será que detêm uma gestão de conhecimento que os permitam fazer essas avaliações?

E que informações poderiam ser analisadas com auxílio da tecnologia da informação?

Bom, são várias as possibilidades e cada uma com certeza gera assunto bem interessante, portanto, no texto desta semana, vamos apenas sondar que itens os clubes poderiam consultar na sua base de informações.

Do ponto de vista financeiro, avaliar os gastos com viagens e logísticas de hospedagem, concentração etc.;

Do ponto de vista financeiro e técnico, avaliar as contratações e salários dos atletas, qual perfil de contratação não deu certo, quais outras contratações foram mais impactantes no desempenho da equipe;

Do ponto de vista do marketing, que momentos foram mais bem explorados, relacionados diretamente ou não com a atuação da equipe e quais não deram a repercussão esperada seja em visibilidade ou mesmo retorno monetário;

Do ponto de vista do jogo propriamente dito, que jogos foram determinantes para o sucesso ou insucesso da equipe. E nesse aspecto poderíamos nos alongar um pouco mais.

Será que em alguns dos jogos perdidos, a análise do adversário foi bem feita? Algo poderia ter sido diagnosticado? Algo foi identificado, porém, não foi transferido para a questão do jogo? Tudo ocorreu pela imprevisibilidade do futebol ou teve algo que poderia ter sido mapeado e evitado?

Com essas perguntas caímos novamente na questão do uso dos scouts e análises, que podem ter uma ação transversal na análise jogo a jogo e também uma longitudinal, ao final da temporada como estamos insinuando nesse momento.

É como um nadador ao acabar uma temporada ver os motivos dos milésimos de segundo que o fizerem perder a medalha de ouro. A angulação do movimento, a intensidade, o preparo mental, a virada de pescoço, a braçada mais alongada no momento da virada, enfim, uma análise de todo os fatores que interferiam no seu desempenho e podem ter feito a diferença.

A mesma coisa acontece com os clubes, ou será que Corinthians e Cruzeiro não estão buscando onde estariam os pontos que faltaram para o título?

E é nisso que devemos pensar como uma das possibilidades do scout. O scout não dá resposta, como muitas vezes as pessoas esperam e exigem – quem trabalha com isso é cobrado por respostas. Mas essa ferramenta ajuda a formular perguntas, e muitas vezes uma pergunta bem feita é a chave para a uma boa resposta.

É hora de planejar, não sem antes avaliar.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br