No último domingo, a seleção brasileira de futsal conquistou o sétimo título mundial (para a Fifa são cinco, eis que a entidade não reconhece os mundiais de 1985 e 1989).
Na coletiva de imprensa da Copa do Mundo, em Bancoc, na Tailândia, o presidente da entidade, Joseph Blatter, revelou que a organização não vai medir esforços para alcançar o objetivo de incluir o futsal e o futebol de areia no programa dos Jogos Olímpicos.
No que se refere ao futebol de areia, o dirigente destacou que algumas instalações poderiam ser aproveitadas por diferentes esportes, assim como já acontece nas Olimpíadas.
Já o futebol de salão surgiu por volta de 1934, por meio do professor Juan Carlos Ceriani Gravier, da ACM de Montevideu, Uruguai com o nome de Indoor Football.
Em 1935, os professores João Lotufo e Asdrubal Monteiro, após se graduarem no Instituto Técnico da Federação Sul-Americana das ACM, trouxeram o esporte ao Brasil e introduziram o “Indoor Foot Ball” que passou a ser chamado futebol de salão.
Antes das regras serem estabelecidas, praticava-se futebol de salão com times de cinco a sete jogadores. A bola foi sendo deixada mais pesada numa tentativa de reduzir sua capacidade de saltar consequentemente, além de suas frequentes saídas de quadra. A “bola pesada” acabou por se tornar uma das mais interessantes características originais do futebol de salão.
Em 1957, surgiu a primeira iniciativa de se uniformizar as regras do esporte, por meio da criação do Conselho Técnico de Assessores de Futebol de Salão, por Sylvio Pacheco, então presidente da Confederação Brasileira de Desportes (CBD).
Em 28 de Julho de 1954, foi fundada a primeira federação do esporte no Brasil, a Federação Metropolitana de futebol de salão, atual Federação de Futebol de Salão do Estado do Rio de Janeiro. A Federação Mineira de Futebol de Salão seria fundada nesse mesmo ano, seguida da Federação Paulista, em 1955, e das Federações Cearense, Paranaense, Gaúcha e Baiana, em 1956, a Catarinense e a Norte Rio Grandense, em 1957, a Sergipana em 1959. Nas décadas seguintes, seriam gradualmente estabelecidas federações em todos os estados da União.
Em 14 de setembro de 1969, em Assunção, Paraguai, com a presença de João Havelange, presidente da CBD, Luiz Maria Zubizarreta, presidente da Federação Paraguaia de Futebol, e Carlos Bustamante Arzúa, presidente Associação Uruguaia de Futebol, foi fundada a Confederação Sul-Americana de Futebol de Salão (CSAFS).
Em 25 de Julho de 1971, em São Paulo, numa iniciativa da CBD e da CSAFS, com a presença de representantes do Brasil, Argentina, Bolívia, Paraguai, Peru, Portugal e Uruguai, foi fundada a Federação Internacional de Futebol de Salão – Fifusa, com o seu primeiro presidente do conselho executivo sendo João Havelange, que comandou de 1971 a 1975, mas devido seus compromissos com o futebol, tanto da CBD, como na Fifa, quem realmente dirigiu a Fifusa neste período foi o seu secretário geral, Luiz Gonzaga de Oliveira Fernandes.
Em 1982, no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, a Fifusa organizou o 1º Campeonato Mundial de Futebol de Salão, com a participação de Brasil, Argentina, Costa Rica, Tchecoslováquia, Uruguai, Colômbia, Paraguai, Itália, México, Holanda e Japão.
O Brasil venceu a final do Paraguai por 1 a 0, com gol de Jackson. Foram campeões neste mundial Pança, Barata, Beto, Walmir, Paulo César, Paulinho Rosas, Leonel, Branquinho, Cacá, Paulo Bonfim, Jackson, Jorginho, Douglas, Carlos Alberto, Miral, treinados por César Vieira.
O primeiro mundial foi um marco, a partir de então, o futebol de salão começou a despertar o interesse da Fifa, que começou a criar obstáculos para as competições patrocinadas pela Fifusa, eis que juridicamente somente a entidade poderia utilizar o “futebol”.
Em 1985, realizou-se, na Espanha, o 2º Campeonato Mundial de Futebol de Salão organizado pela Fifusa. Novamente o Brasil venceu, e, em 1988, na Austrália, ocorreu o 3º Mundial, com a vitória do Paraguai.
Em setembro de 1988, Álvaro Melo Filho, então presidente da CBFS, em razão das dificuldades da Fifusa e vislumbrando o futuro do futebol de salão, aceitou convite para encontro no Rio de Janeiro e iniciou negociações com o então Presidente da Fifa, João Havelange, e seu secretário geral, Joseph Blatter, que veio ao Brasil especialmente para tratar de futsal, visando que a Fifa encampasse a Fifusa e passasse a comandar, internacionalmente, o esporte.
Em janeiro de 1989, Álvaro Melo Filho autorizou a equipe do Bradesco a representar o Brasil na Holanda, quando aconteceu a 1º Copa do Mundo de Futsal da Fifa, oportunidade em que obteve o título de campeão mundial.
Em 2 de maio de 1990, o Brasil oficial e legalmente, desligou-se da Fifusa com o aval das 26 federações filiadas à CBFS, e, desde então, passou a adotar as regras de jogo emanadas da Fifa, tendo sempre como objetivo principal desenvolver o futsal no mundo.
A partir de 1992, as Copas do Mundo de Futsal da Fifa passaram a ser realizadas de quatro em quatro anos, seguindo o mesmo modelo adotado para o futebol. Além do título conquistado em 1989, na Holanda, o Brasil venceu as edições de 1992 (Hong Kong-China), 1996 (Espanha), 2008 (Brasil) e 2012 (Tailândia). Enquanto os espanhóis, maiores adversários brasileiros, levantaram a taça em 2000 (Guatemala) e 2004 (Taipei-China).
Estando o futsal totalmente organizado em âmbito nacional e internacional, é possível que se torne um esporte olímpico.
O conjunto de regras para a organização dos Jogos Olímpicos está previsto na “Carta Olímpica”, cuja última edição entrou em vigor em julho do presente ano. A Carta atribui ao Comitê Olímpico Internacional (COI) a missão promover o olimpismo pelo mundo e liderar o Movimento Olímpico.
Segundo a Carta, em seu art. 45.1, o programa dos Jogos Olímpicos é o programa de todas as competições dos Jogos estabelecido pelo COI para cada uma das edições. O art. 45.2 nos remete como é a divisão:
“2. O programa é composto por esportes, disciplinas e provas. Os esportes são regidos pelas federações internacionais referidas nos textos de aplicação das regras 45.1 e 45.2. Uma disciplina é uma especialidade de um esporte que compreende uma ou mais provas. Uma prova é uma competição num esporte ou de uma das suas disciplinas, que tem por resultado uma classificação e determina a entrega de medalhas e de diplomas.” (COI, 2011, tradução livre)*
A escolha de todos os esportes do programa, bem como a determinação dos critérios e condições para a inclusão de qualquer esporte no programa, é de competência da Sessão, reunião geral dos membros do COI.
Nenhum esporte pode ser incluído no programa no ano de realização dos Jogos. O esporte deve ser admitido no programa com sete anos de antecedência.
Destarte, na 114ª Sessão do COI, em 2002, o programa dos Jogos Olímpicos limitou a um máximo de 28 esportes, 301 eventos e 10.500 atletas.
Em 2005, na 117ª Sessão do COI, a primeira grande revisão do programa foi realizada e excluiu-se o beisebol e o softbol do programa oficial dos Jogos de Londres 2012. Como não houve acordo para a inclusão de dois outros esportes, o programa de 2012 contará com apenas 26 esportes.
Os Jogos de 2016 e 2020 voltarão a ter o máximo de 28 esportes, com a adição do rugby sevens e do golfe.
Já a decisão de incluir uma nova disciplina ou prova para integrar o programa é de competência do conselho executivo, órgão responsável pela administração geral e da gestão do COI.
A iniciativa de incluir um novo esporte só pode ser tomada, até o dia da escolha da cidade que sediará o evento, de acordo com o art. 45 da Carta. Mas, a disposição geral do art. 45, em seu item 1.4, prevê que a inclusão de novas disciplina ou provas pode ser decidida pela comissão executiva do COI até três anos antes da abertura ofic
ial dos Jogos Olímpicos.
Assim, o futsal poderia ser incluído como disciplina do futebol e este prazo vence no Congresso do COI, que será realizado em setembro de 2013 em Buenos Aires (Argentina). Para tanto, é necessário o empenho da Fifa e de todos envolvidos no esporte.
Diante do exposto, quem sabe o Rio-2016 não marcará a estreia do futsal e do beach soccer nos Jogos Olímpicos?
Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br
* The components of the programme are sports, disciplines and events. The sports are those sports governed by the IFs referred to in BLR 45.1 and BLR 45.2. A discipline is a branch of a sport comprising one or several events. An event is a competition in a sport or in one of its disciplines, resulting in a ranking and giving rise to the award of medals and diplomas.” Referência: COI. Olympic Charter (2011). Disponível em: http://www.olympic.org
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