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Adeus 2012, alô 2013!

Saudações a todos!

Se pensarmos racionalmente, 31 de dezembro é apenas o final de um mês e início de outro, fato comum que acontece a cada 30 dias. No entanto, emocionalmente, a passagem de dezembro para janeiro representa muito mais do que uma simples virada de mês, é um período que nos habituamos a pensar em renovação, avaliar novas oportunidades, enfim, tempo de fazer uma boa reflexão sobre acertos e erros.

Por esta razão, o final de ano é tudo de bom. Bom para aqueles que não tiveram um ano como desejavam e podem renovar suas esperanças. Bom para aqueles que tiveram um ano de conquistas e podem comemorar.

Mas a pergunta de ouro nesta época do ano é: como faço para aproveitar este período e fazer de 2013 a minha virada?

Para auxiliar você a planejar a sonhada virada tenho algumas sugestões que parecem simples, mas que exigem reflexão e muita disciplina para serem executadas. São elas: ter vontade acima de tudo. Ter memória e paciência.

Estas sugestões foram inspiradas na filosofia de vida de uma figura conhecida por todos os brasileiros, o sr. Arthur Antunes Coimbra, mais conhecido como Zico. Em uma entrevista, ele citou duas frases que fizeram a virada na vida dele e que se encaixam muito bem neste período de renovação. Assim que ouvi as duas frases, pensei em repassá-las aos leitores, pois a filosofia de vida de alguém tão vitorioso quanto o "Galinho de Quintino", tem de ser aproveitada.

As duas frases são: "o medo de perder tira a vontade de ganhar" e "para vencer, duas qualidades são muito importantes: ter memória e paciência. A memória para não esquecer que é necessário ter paciência".

São duas frases fortes que, se minimamente avaliadas e servirem de orientação, farão de 2013 um ano novo de fato. Além do que o Zico falou, acrescento ainda que é necessário ter memória para não se esquecer de ter paciência, persistência, esforço, dedicação, etc.

Tenho certeza de que os pedidos de muito de vocês para que 2013 seja o ano de suas vidas já foram enviados ao Papai Noel, mas saibam que somente pensar nos pedidos, não é suficiente, é necessário fazer algo "a mais" para ganhar seus presentes.

Vamos voltar à época de criança e lembrar os pedidos que fazíamos ao Papai Noel: "quero ganhar um carrinho", "quero ganhar uma boneca", "quero ganhar um tênis" etc., e o Papai Noel automaticamente respondia: "você obedeceu a mamãe e o papai? estudou? passou de ano? Foi bom com os amiguinhos? Respeitou os mais velhos?".

Se as repostas fossem sim, o presente estava garantido.

Acredite: é exatamente igual ao que acontece na fase adulta. Para cada pedido é necessário um esforço para ser atendido. Para ajudar na reflexão darei alguns exemplos de "pedidos" e do "esforço" necessário para que eles virem realidade:

Pedido: Quero ser promovido.
Perguntas: Você dá o máximo de si no cargo atual? É o melhor da função entre os que almejam uma promoção? Tem estudado e se aperfeiçoado para atender os requisitos da nova função?

Pedido: Quero ser chefe.
Perguntas: Você conhece profundamente suas atividades atuais? Sabe lidar com pessoas? Sabe que o chefe, o verdadeiro líder, tem de trabalhar mais que todos? Está disposto a encarar tudo isso?

Pedido: Quero mudar de emprego.
Perguntas: Você avaliou se na sua própria empresa existem oportunidades de crescimento? Tem um currículo bem elaborado? Está estudando e se atualizando? Conhece outro idioma? Tem bons relacionamentos? Está de olho nas vagas oferecidas pelo mercado?

Pedido: Quero ser destaque da minha turma.
Perguntas: Você estuda mais do que todos? Abdica de ir a baladas nos finais de semana? Está preparado para estudar nos feriados?

Se a maioria das respostas foi sim, ótimo, seu 2013 promete! Agora, se a maioria das respostas foi não, não se iluda, Papai Noel terá poucas chances de passar pela sua vida em 2013.

Já ouviu uma expressão em inglês "Do your best", que em uma tradução livre significa "Faça o seu melhor"? Creio que lembrar e praticar este ensinamento é a chave para você merecer seus presentes em 2013, 2014, 2015…

É isto pessoal, se estiverem de fato em busca de uma virada, avaliem com carinho as sugestões acima, reflitam e, o mais importante, façam o seu melhor sempre. Um ótimo 2013 para todos nós!

Agora, intervalo, vamos aos vestiários e nos vemos no próximo ano.

Abraços a todos!

*Cezar Tegon é graduado em Estudos Sociais, Administração de Empresas e Direito. É presidente da Elancers e sócio diretor da Consultants Group by Tegon. Com experiência de 30 anos na área de RH, é pioneiro no Brasil em construção e implementação de soluções informatizadas para RH. Diretor de novos produtos da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-Nacional)

Para interagir com o autor: ctegon@universidadedofutebol.com.br

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Nosso maior ativo

A última quarta-feira e o último domingo nos mostraram (e provaram) que o ativo mais importante de um clube de futebol permanece sendo seu torcedor e a identidade criada por ele com a agremiação.

Dos fatos marcantes, a final da Copa Sul-americana entre São Paulo e Tigre-ARG no Morumbi, que levou mais de 60 mil pessoas ao estádio, e a participação vitoriosa do Corinthians no Mundial de Clubes da Fifa.

A lição é perceber que eles existem e estão dispostos a consumir o clube. Independente do sucesso esportivo dos supracitados, o fato é que, ao entregar algum valor diferenciado para o torcedor, ele está apto a fazer de bom grado.

O faturamento superior a R$ 4 milhões na grande final pelo São Paulo, fruto da venda direta de ingressos somente pela internet, e o gasto médio de aproximadamente R$ 6.500,00 entre os 30.000 torcedores estimados que foram ao Japão ver o Corinthians atestam a noção de que o público em geral quer ampliar seu contato com os clubes.

Logicamente que não irá gastar todo este montante a cada final de semana. São situações esporádicas. Mas o fato a ser repensado está nos ativos e nas mais valias que podem ser encontradas em uma aproximação junto ao torcedor.

Precisamos muito mais do que aumentar o valor da cota de patrocínio. Há a necessidade de aumentar as entregas que fazemos para o torcedor até fazê-lo compreender que o bom do futebol é estar próximo do clube do coração nos 365 dias do ano.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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O ‘titês’ e a comunicação

O título conquistado pelo Corinthians no último domingo, no Japão, tem um personagem especial. Cássio foi eleito o melhor jogador da Copa do Mundo de clubes da Fifa, Guerrero anotou o gol que definiu a vitória e muitos outros atletas tiveram participações relevantes, mas ninguém foi mais determinante para toda a trajetória do que o técnico Tite. E a comunicação tem grande participação nisso.

Tite soube ler as virtudes táticas e técnicas de adversários e soube montar o time de acordo com esses atributos. Contudo, há um episódio que resume bem o grande mérito dele à frente do Corinthians: a mudança que o comandante efetuou no time titular.

Porque Douglas, o camisa 10, líder de assistências na temporadas, foi preterido no jogo que definiria o título mundial. Na semifinal do torneio da Fifa, o meia havia dado um passe para Guerrero anotar o gol da vitória. Ainda assim, perdeu o lugar no time.

Aí começa a história que explica com perfeição a personalidade de Tite. O técnico estava preocupado com Hazard, jogador mais agudo da linha de armadores do Chelsea, sobretudo porque o belga é driblador e incisivo. Ele bateria de frente com o lateral-direito Alessandro, capitão e um dos jogadores mais experientes do elenco corintiano.

A decisão de Tite foi dar proteção a Alessandro. O técnico queria evitar que Hazard ficasse diante de apenas um marcador (mano a mano, para usar a expressão mais comum no futebol para designar esse tipo de situação). Esse tipo de confronto é a situação favorita do belga. O Chelsea trabalha para propiciar a ele situações assim.

Depois de cogitar escalar Romarinho, Tite escolheu Jorge Henrique. O camisa 23 foi eleito exatamente pela dedicação tática. A ordem passada a ele foi dar sustentação a Alessandro. Ele não podia deixar que o lateral ficasse mano a mano com Hazard.

Esse raciocínio mostra que a decisão de Tite é totalmente compreensível. Ainda assim, o técnico tirou do time o camisa 10. Esse é o tipo de alteração que pode demolir a relação entre um chefe e um comandado.

Para tentar amenizar o problema, Tite usou comunicação. Decidiu que Douglas seria o primeiro a saber da decisão. Contou ao camisa 10 antes mesmo de dar a boa notícia a Jorge Henrique.

Tite relatou a conversa antes mesmo de o Corinthians encarar o Chelsea. Disse que Douglas reagiu. O camisa 10 admitiu que estava chateado. “E tem de ser assim, mesmo. Mas eu preciso saber se você vai estar pronto se eu precisar”, respondeu o técnico.

É evidente que o resultado do Mundial deu sustentação à decisão de Tite. No entanto, o técnico não esperou a vitória. Antes de mostrar que estava certo, preocupou-se com os danos, mostrou o porquê de ter adotado um caminho e se esforçou para não comprometer o ânimo de nenhum dos comandados.

Nenhuma dessas atitudes foi planejada por alguém da diretoria. Tite tem uma habilidade inata para lidar com gente, e a base desse talento é a honestidade. Honestidade deveria ser requisito básico, mas o mundo atual transformou esse atributo em virtude.

Alguém que demonstra preocupação e que fala com honestidade pode até gerar animosidade. Contudo, não vai perder o respeito das pessoas que participam do ambiente.

Tite usou estratégias básicas de comunicação, ainda que tenha feito isso de forma natural. E graças à comunicação, uma alteração que tinha potencial para um trauma contundente pode ser contornada com mais facilidade.

Foi isso que faltou, em episódios da semana anterior, a Grêmio e São Paulo. Ambos realizaram jogos internacionais em seus estádios, e os dois casos geraram repercussão negativa.

O Grêmio fez um amistoso para inaugurar uma nova arena. O jogo foi contra o Hamburgo, rival dos gaúchos no Mundial de 1983. Porém, os alemães saíram de Porto Alegre com uma extensa lista de reclamações.

Os problemas relatados pelos alemães vão de buracos no gramado a falta de água para banho no vestiário. Essa é a versão deles, evidentemente, e a versão deles não é necessariamente a verdade. Mas a comunicação podia ter minimizado as reações.

Se tivesse agido como Tite, o Grêmio teria interpelado os alemães antes do jogo. Teria explicado que o estádio é novo, e que toda obra nova sempre carece de pequenos ajustes. Teria explicado caminhos para resolver pequenos incidentes.

Não sei se isso foi feito, mas a reação dos alemães faz pensar que não. A ordem dos fatos também leva a crer que não houve réplica do Grêmio, e isso é outro erro. Para a mídia e para os convidados, o time tricolor precisava ter mostrado que os problemas eram casos isolados e que não têm a ver com a qualidade do estádio.

Vale a lógica de lojas ou restaurantes: o cliente sempre tem razão. O clube adversário pode ter exagerado em algumas reclamações ou pode até ter inventado problemas, mas o Grêmio tinha de se posicionar. Só vi uma nota oficial sobre o gramado, mas não achei nada sobre as outras críticas.

A lógica de tratamento a clientes também vale para o São Paulo. Não estou comparando nenhum caso, até porque faltam informações concretas sobre o que aconteceu nos vestiários do Morumbi. Só faço um alerta: o risco que o time paulista corre é transformar um episódio em uma rusga do clube com o mercado argentino.

Basta ver a repercussão que o caso teve na mídia argentina. Muitos veículos de lá “compraram” a versão do Tigre – jogadores disseram que foram agredidos por seguranças do São Paulo durante o intervalo, e por isso se recusaram a voltar para o segundo tempo da decisão da Copa Bridgestone Sul-Americana. A parcialidade ficou clara, por exemplo, na transmissão do canal “Fox Sports” portenho, cujas imagens abasteceram a cobertura do homônimo brasileiro.

Repito: nos dois casos, não há discussões sobre responsáveis, erros ou versões contraditórias. A questão é sobre comunicação e posicionamento. O São Paulo tinha de ter feito ações direcionadas ao povo argentino – uma nota oficial e peças de publicidade, por exemplo – para mostrar que o clube não é o que os jogadores do Tigre tentam construir. A reação não podia ser simplesmente contestar a versão dos atletas.

Aí entra outro aspecto fundamental: já que tudo comunica, a comunicação não pode ser isolada. Grêmio e São Paulo precisavam ter feito ações emergenciais que unissem assessoria de imprensa, publicidade e até iniciativas de marketing.

Tite devia dar aulas de comunicação, e não apenas porque sabe interagir com jornalistas e porque dá entrevistas saborosíssimas. Devia ser professor porque entende a necessidade de estratégia e de comunicação. E isso vale para qualquer realidade.

Para interagir com o autor: guilherme.costa@149.28.100.147

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O 'titês' e a comunicação

O título conquistado pelo Corinthians no último domingo, no Japão, tem um personagem especial. Cássio foi eleito o melhor jogador da Copa do Mundo de clubes da Fifa, Guerrero anotou o gol que definiu a vitória e muitos outros atletas tiveram participações relevantes, mas ninguém foi mais determinante para toda a trajetória do que o técnico Tite. E a comunicação tem grande participação nisso.

Tite soube ler as virtudes táticas e técnicas de adversários e soube montar o time de acordo com esses atributos. Contudo, há um episódio que resume bem o grande mérito dele à frente do Corinthians: a mudança que o comandante efetuou no time titular.

Porque Douglas, o camisa 10, líder de assistências na temporadas, foi preterido no jogo que definiria o título mundial. Na semifinal do torneio da Fifa, o meia havia dado um passe para Guerrero anotar o gol da vitória. Ainda assim, perdeu o lugar no time.

Aí começa a história que explica com perfeição a personalidade de Tite. O técnico estava preocupado com Hazard, jogador mais agudo da linha de armadores do Chelsea, sobretudo porque o belga é driblador e incisivo. Ele bateria de frente com o lateral-direito Alessandro, capitão e um dos jogadores mais experientes do elenco corintiano.

A decisão de Tite foi dar proteção a Alessandro. O técnico queria evitar que Hazard ficasse diante de apenas um marcador (mano a mano, para usar a expressão mais comum no futebol para designar esse tipo de situação). Esse tipo de confronto é a situação favorita do belga. O Chelsea trabalha para propiciar a ele situações assim.

Depois de cogitar escalar Romarinho, Tite escolheu Jorge Henrique. O camisa 23 foi eleito exatamente pela dedicação tática. A ordem passada a ele foi dar sustentação a Alessandro. Ele não podia deixar que o lateral ficasse mano a mano com Hazard.

Esse raciocínio mostra que a decisão de Tite é totalmente compreensível. Ainda assim, o técnico tirou do time o camisa 10. Esse é o tipo de alteração que pode demolir a relação entre um chefe e um comandado.

Para tentar amenizar o problema, Tite usou comunicação. Decidiu que Douglas seria o primeiro a saber da decisão. Contou ao camisa 10 antes mesmo de dar a boa notícia a Jorge Henrique.

Tite relatou a conversa antes mesmo de o Corinthians encarar o Chelsea. Disse que Douglas reagiu. O camisa 10 admitiu que estava chateado. "E tem de ser assim, mesmo. Mas eu preciso saber se você vai estar pronto se eu precisar", respondeu o técnico.

É evidente que o resultado do Mundial deu sustentação à decisão de Tite. No entanto, o técnico não esperou a vitória. Antes de mostrar que estava certo, preocupou-se com os danos, mostrou o porquê de ter adotado um caminho e se esforçou para não comprometer o ânimo de nenhum dos comandados.

Nenhuma dessas atitudes foi planejada por alguém da diretoria. Tite tem uma habilidade inata para lidar com gente, e a base desse talento é a honestidade. Honestidade deveria ser requisito básico, mas o mundo atual transformou esse atributo em virtude.

Alguém que demonstra preocupação e que fala com honestidade pode até gerar animosidade. Contudo, não vai perder o respeito das pessoas que participam do ambiente.

Tite usou estratégias básicas de comunicação, ainda que tenha feito isso de forma natural. E graças à comunicação, uma alteração que tinha potencial para um trauma contundente pode ser contornada com mais facilidade.

Foi isso que faltou, em episódios da semana anterior, a Grêmio e São Paulo. Ambos realizaram jogos internacionais em seus estádios, e os dois casos geraram repercussão negativa.

O Grêmio fez um amistoso para inaugurar uma nova arena. O jogo foi contra o Hamburgo, rival dos gaúchos no Mundial de 1983. Porém, os alemães saíram de Porto Alegre com uma extensa lista de reclamações.

Os problemas relatados pelos alemães vão de buracos no gramado a falta de água para banho no vestiário. Essa é a versão deles, evidentemente, e a versão deles não é necessariamente a verdade. Mas a comunicação podia ter minimizado as reações.

Se tivesse agido como Tite, o Grêmio teria interpelado os alemães antes do jogo. Teria explicado que o estádio é novo, e que toda obra nova sempre carece de pequenos ajustes. Teria explicado caminhos para resolver pequenos incidentes.

Não sei se isso foi feito, mas a reação dos alemães faz pensar que não. A ordem dos fatos também leva a crer que não houve réplica do Grêmio, e isso é outro erro. Para a mídia e para os convidados, o time tricolor precisava ter mostrado que os problemas eram casos isolados e que não têm a ver com a qualidade do estádio.

Vale a lógica de lojas ou restaurantes: o cliente sempre tem razão. O clube adversário pode ter exagerado em algumas reclamações ou pode até ter inventado problemas, mas o Grêmio tinha de se posicionar. Só vi uma nota oficial sobre o gramado, mas não achei nada sobre as outras críticas.

A lógica de tratamento a clientes também vale para o São Paulo. Não estou comparando nenhum caso, até porque faltam informações concretas sobre o que aconteceu nos vestiários do Morumbi. Só faço um alerta: o risco que o time paulista corre é transformar um episódio em uma rusga do clube com o mercado argentino.

Basta ver a repercussão que o caso teve na mídia argentina. Muitos veículos de lá "compraram" a versão do Tigre – jogadores disseram que foram agredidos por seguranças do São Paulo durante o intervalo, e por isso se recusaram a voltar para o segundo tempo da decisão da Copa Bridgestone Sul-Americana. A parcialidade ficou clara, por exemplo, na transmissão do canal "Fox Sports" portenho, cujas imagens abasteceram a cobertura do homônimo brasileiro.

Repito: nos dois casos, não há discussões sobre responsáveis, erros ou versões contraditórias. A questão é sobre comunicação e posicionamento. O São Paulo tinha de ter feito ações direcionadas ao povo argentino – uma nota oficial e peças de publicidade, por exemplo – para mostrar que o clube não é o que os jogadores do Tigre tentam construir. A reação não podia ser simplesmente contestar a versão dos atletas.

Aí entra outro aspecto fundamental: já que tudo comunica, a comunicação não pode ser isolada. Grêmio e São Paulo precisavam ter feito ações emergenciais que unissem assessoria de imprensa, publicidade e até iniciativas de marketing.

Tite devia dar aulas de comunicação, e não apenas porque sabe interagir com jornalistas e porque dá entrevistas saborosíssimas. Devia ser professor porque entende a necessidade de estratégia e de comunicação. E isso vale para qualquer realidade.

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

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Canonização

O goleiro Marcos, grande ídolo do Palmeiras e campeão mundial em 2002 pela seleção brasileira, encerrou a carreira.

Parou o tempo para todos os que o admiravam, pelo que fazia dentro de campo, dentro da pequena área, mas também pelo que cativava aos que lhe rodeavam e conheciam fora dele.

Tempo congelado na figura rara, atualmente, de um jogador que se dedicou exclusivamente a um clube, tal qual um casamento à moda antiga, na alegria – foram tantas – e na tristeza – ao não aceitar o convite do Arsenal após ter sido campeão mundial e preferir a vida dura na Série B nacional.

Mas antes da outorga do status de santo, Marcos fora nominado beato, nos primórdios da carreira.

Teve grande escola com os goleiros Veloso e Sergio e, a partir disso, começou a operar seus milagres.

A beatificação, primeiro passo no processo de canonização para que alguém seja alçado ao status de santo, pressupõe algumas condições.

Uma Congregação para a Causa dos Santos é responsável por investigar sobre a vida, virtudes, martírio, fama de santidade ou milagres atribuídos a alguém.

Instaurado o processo, se ao nominado lhe são imputadas virtudes em grau heróico (fé, esperança, caridade, prudência, justiça, etc.), alcança o status de “Venerável”.

Ao se comprovar a prática de um milagre – cura inconteste frente à Ciência e à Medicina – a beatificação ocorre.

Quando se dá a verificação de um segundo milagre, o processo de canonização finda com a cerimônia, presidida pelo Papa, em que se dá o nome de Santo àquele que teve vida virtuosa e milagrosa.

Marcos, seguramente, passou por todo esse processo probatório de canonização, cuja veneração também se deu junto aos torcedores de clubes de todo o Brasil.

A festa realizada, na semana passada, foi digna de um grande ser humano – que vem antes do grande jogador de futebol – que, como se supõe dos Santos, serve de exemplo para muitos.

Tomando ao pé da letra o Código de Direito Canônico, nota-se a importância da figura do Santo na relação íntima com os fiéis quanto ao exemplo de vida e amparo às causas mundanas:

"Para fomentar a santificação do povo de Deus, a Igreja recomenda à veneração peculiar e filial dos fiéis a Bem-aventurada sempre Virgem Maria, Mãe de Deus, que Jesus Cristo constituiu Mãe de todos os homens, e promove o verdadeiro e autêntico culto dos outros Santos, com cujo exemplo os fiéis se edificam e de cuja intercessão se valem."

Não ouvi falar, ainda, de como, oficialmente, se referem a este Santo, mas arrisco: São Marcos do Parque Antártica, o Bem-Aventurado e Bem-Humorado, Padroeiro das Defesas Milagrosas.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

 

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Volta, Corinthians! Bi mundial!

Há exatos 22 anos, no Morumbi, Neto e companhia (bem) limitada venciam o Brasileirão pela primeira vez. Iniciando o processo de (inter)nacionalização inexorável do Corinthians. Há quase 13 anos, o Maracanã e o mundo eram do Todo-Poderoso Timão. Hoje, e para sempre, o primeiro sul-americano bicampeão mundial (da Fifa) é o clube que há 102 anos nasceu no Bom Retiro paulistano. É a nação que é Corinthians. Que foi ao Japão e voltou (bi)campeã. Povo que pode bater no peito alvinegro e gritar que ninguém mais pode cochichar nada contra o que se conquistou no campo em um século de paixão.

A Libertadores demorou – mas veio invicta, como desde 1978 não se via na América do Sul. Se há como discutir a presença (e não a conquista) alvinegra em 2000, não há como colocar em dúvida a competência e a capacidade do campeão mundial de 2012. Superando o campeão africano na semifinal e o europeu na final duas vezes com a cabeça de Guerrero. Com a alma de guerreiros.

Um gol aos 23 minutos e 39 segundos que clonou aquele que, há 35 anos, encerrou 22 de jejum. O do Pé de Anjo de Basílio. O da Cabeça de Louco de Paolo. A do pulmão e pés hábeis de Paulinho, autor do lance sensacional que deu no gol e no título, depois de oito segundos após o toque de letra. Camisa 8 como Basílio. Camisa alvinegra como os campeões do mundo do Brasil em 2002. Da camisa amarela como a de Cássio. O goleiro que defendeu aquela bola de Diego Souza na Libertadores. O monstro que defendeu cinco bolas (duas impressionantes) em Yokohama contra o time do melhor goleiro do mundo. Mas não do campeão mundial de 2012. Muralha que só errou um lance no gol bem anulado de Torres. Zaga que bobeou no fim e levou um chute na trave na última bola do jogo. Só para deixar mais corintiana a decisão. Só para dar mais sabor ao amor campeão.

Quem torce ama. Quem deixou o coração em Yokohama torceu mais do que ninguém no mundo que é corintiano. Volta, Corinthians, agora para seu berço e para seu povo. Vai, Corinthians. A terra do gol nascente é sua. Vem, Corinthians. Se você não foi o Brasil todo, todo o mundo cabe no Parque São Jorge.

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

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Mini-entrevista: um pouco sobre categorias de base…

Final de ano. Muitos campeonatos estão "fervilhando" nas categorias de base pelo Brasil.

A "base" que tanto passou a ser falada depois que o FC Barcelona fez o que fez na final do mundial de clubes contra o brasileiro Santos.

Então, já que faz algum tempo, não trato de assuntos relacionados às categorias de formação, resolvi hoje trazer uma mini-entrevista com o treinador Leandro Zago, que trabalha com a categoria infantil no SC Corinthians, faz parte do Ciefut (vide grupos de estudo aqui na Universidade do Futebol) e é o gestor do www.futeboltatico.com.br.

Vamos lá:

1) Você começou como preparador físico de equipes sub-17, tornou-se treinador de uma equipe sub-13, e em seguida passou ao comando de uma categoria sub-15. Que peculiaridades destacaria, em termos de abordagem aos jogadores, intervenções e preocupações pedagógicas, que são típicas de uma categoria sub-15 em comparação as outras duas?

São bem diferentes as três categorias. Mudam as motivações para se jogar futebol e em alguns casos até as prioridades dos atletas, podendo inclusive colocar o que é essencial (jogar bem futebol o tempo todo) em segundo plano com o passar dos anos. O ambiente que os atletas do sub-13 vivenciam está bem distante daquele vivenciado pelos do sub-17, onde o caráter de negócio já está bem presente nesta relação clube-jogadores-comissão técnica. O sub-15 está no meio de tudo isso, com atletas amadores, porém já imersos nesse ambiente que envolve empresários, patrocinadores esportivos, etc.

Cabe ao treinador ter competência para convencer os atletas sobre questões fundamentais para o bom andamento do trabalho, como o comprometimento com o desenvolvimento individual e com o projeto coletivo da equipe e do clube (que levará o grupo de atletas a experienciar fases agudas dos campeonatos contribuindo com a construção de uma mentalidade vencedora). Em minha opinião, isso é fundamental, o restante é meio, cada treinador tem o seu caminho.

2) Em relação à dinâmica do jogo, como enxerga as possibilidades de desenvolvimento individual e coletivo dos jogadores sub-15?

Ainda limitada em algumas questões se compararmos com categorias maiores pelo momento do desenvolvimento biológico e cognitivo dos atletas.

E também acredito que nessa categoria há muito potencial a ser explorado dentro do processo de formação.

Portanto, entendendo essas duas idéias, parto da zona proximal de conhecimento "complexa" do atleta, ou seja, como ele expressa seu jogo do ponto de vista técnico-tático-físico-mental/cognitivo e procuro elevar até o último momento dele dentro do processo esse entendimento e expressão do seu jogo.

Do ponto de vista individual, o atleta deve aprender a ter vantagem nos confrontos de todos os tipos com igualdade e inferioridade numérica. E do ponto de vista coletivo, como construir essa vantagem o tempo todo integrado ao pensar coletivo que tem como referência a solução dos problemas do jogo.

3) Sob o ponto de vista das fases de desenvolvimento e crescimento humano, e sob o ponto de vista das fases sensíveis para melhora de certas capacidades e habilidades cognitivo-motoras, como você distribui os conteúdos de treino ao longo de uma semana de trabalho para a categoria sub-15 (fale sobre a frequência semanal, duração dos treinos, formato da sessão, etc.)?

Existe um modelo ideal e um modelo possível. Para me aproximar do modelo ideal, busco o melhor modelo possível. A adaptação ao ambiente é necessária.

Em período competitivo, com jogos aos sábados, a semana é, em grande parte das vezes, distribuída assim:

– segunda: jogos técnicos e/ou específicos;
– terça: jogos conceituais;
– quarta: 11 vs 11 (com regras condicionantes)
– quinta: jogos técnicos e/ou específicos
– sexta: jogos contextuais

Cada dia tem suas particularidades em relação ao espaço de jogo, à densidade (esforço / pausa), ao tempo de atividade, ao tipo de abordagem verbal, ao momento do ano, etc.

Um fator é comum à todos os dias: intensidade máxima numa perspectiva complexa sempre, o tempo todo, a cada ação. Assim, um componente que está permanentemente presente nas sessões de treinamento é a velocidade. Desde a expressão pura (na fase final de aquecimento, por exemplo) até nas tomadas de decisão e ação sob pressão de tempo e espaço (obviamente, a velocidade nesses casos está conectada com a qualidade, afinal estamos falando de inteligência humana).

4) Quais conteúdos você ensina e desenvolve na sua categoria, que são específicos dela?

Qualquer conteúdo que possa aumentar a autonomia do jogador. Ao propor um exercício, tenho uma expectativa sobre as possibilidades das respostas dos atletas e, em muitas oportunidades eles resolvem a situação problema dando uma resposta surpreendentemente criativa e eficaz. Essa é a ação que estimulo.
 

Tenho um modelo de jogo que atua como um norte para o processo, mas tem que haver uma flexibilidade para ajustes que vão se fazendo necessários com o tempo.

Os quatro momentos (organizações ofensiva e defensiva, transições ofensiva e defensiva) estão sempre presentes. Quero que os atletas vivenciem, em maior número de vezes e com a melhor qualidade possível, o jogo e, imersos nesse ambiente, deixem sua inteligência a serviço das soluções necessárias.

5) Apesar de saber bem a resposta da pergunta que vou fazer, acho importante que ela seja feita para despertar debates. Você aplica a Periodização Tática? Por quê?

Não, não aplico. Tive contato com a PT em 2006. Nesse mesmo período também estava iniciando de maneira mais específica meus estudos sobre as teorias da complexidade. Li muitos materiais sobre a PT. Hoje procuro por "soluções complexas" para os problemas que enfrento no dia-a-dia da equipe. Entendo a equipe como um sistema que evolui através do tempo em todas as suas variáveis e, a partir daí, preciso operacionalizar de uma maneira que atenda a todas as dimensões interferentes.

6) Você foi escolhido melhor treinador de uma importante competição sub-15 que acaba de acontecer em Belo Horizonte. Que tipo de características de jogo (ou de comportamento específico de jogo) sua equipe e seus jogadores apresentam hoje, que são evidentes e que chamam a atenção para ela, permitindo o reconhecimento do seu trabalho?

Basicamente, a velocidade de jogo, a capacidade de tomar boas decisões individuais e coletivas sob pressão de tempo e espaço.
A estruturação do espaço sem bola, da linha 1 a 5, a mobilidade com bola, a autonomia de jogo por parte dos atletas e algo que foi colocado no DNA da equipe: jamais abrir mão de tentar ter o controle da partida independente de ter ou não a bola e das circunstâncias da partida.

7) Como você vê o tra
balho dos treinadores e equipes sub-15 que enfrentou na competição em Belo Horizonte (equipes que são tradicionais no futebol brasileiro)?

Em geral muito bom. Digo isso em relação às equipes que enfrentei. Parece haver uma intenção por trás das propostas, uma organização para defender, atacar e realizar as transições. E isso não se constrói na preleção.

O talento não está sendo ceifado, mas estimulado. Muitos jogadores bons em situações de 1 vs 1 ofensivo aplicando suas habilidades com inteligência.

8) Qual o "peso" que você daria para as variáveis "qualidade dos jogadores" e "qualidade do processo formativo", para o sucesso desses jogadores e do êxito das suas equipes no decorrer dos anos de formação nas categorias de base?

Igualmente fundamentais. Um bom processo de formação aplicado em jogadores de baixa qualidade não levará à excelência. Um processo precário em jogadores com boa qualidade não trará resultados consistentes e nem explorará ao máximo o potencial humano ali existente.

Bons resultados de maneira eventual podem até acontecer. Para se atingir bons resultados de maneira crônica, faz necessário que esses dois pilares (jogadores – processo) caminhem lado a lado buscando um refinamento permanente. Estamos falando de alto rendimento, qualquer variável mal executada pode ser fatal (e provavelmente será) para o resultado final.

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Modelo de gestão das categorias de base

Poucos são os bons exemplos de gestão no futebol brasileiro. Como constatação, os inúmeros clubes em pré-temporada para os campeonatos estaduais que têm realizado pelo menos quinze contratações (em alguns casos contrata-se o elenco completo) para iniciarem os trabalhos, já ilustram o quanto somos ineficientes em princípios básicos da gestão empresarial.

Sendo assim, quando cases de sucesso surgem no mercado precisam ser estudados, compreendidos e divulgados a fim de que sirvam como referência para trabalhos que tenham objetivos semelhantes.

No Footecon 2012, Mário André Mazzuco, gerente de futebol do Coritiba Foot Ball Club, foi palestrante do tema "Modelo de gestão das categorias de base" e discorreu com propriedade sobre os elementos que compõem a gestão do futebol de formação do clube em que trabalha. Tais elementos serão discutidos na coluna desta semana.

Mazzuco iniciou a apresentação afirmando que um dos objetivos da gestão das categorias de base do clube é torná-la parte da macrogestão de todo o futebol do clube. Desta forma, o gerenciamento da base não ocorre de maneira dissociada do futebol profissional. Questão aparentemente simples, porém, a realidade nos clubes brasileiros aponta para um abismo significativo entre base e profissional, permitido por falhas gerenciais.

A missão e visão do clube, que assim como qualquer empresa devem ter as suas (e tal fato é ignorado por muitos de nossos gestores), são as seguintes:

Missão: Jogar um futebol competitivo, garantindo entretenimento e potencializando o orgulho e o amor de todo coxa-branca.

Visão: Ser um clube vencedor, reconhecido como força esportiva e referência de gestão. Neste cenário, é papel da gestão controlar o processo produtivo num ciclo que compreende as pessoas, as equipes, os problemas/soluções, os controles, os procedimentos e os resultados.

No tocante à equipe técnica, doze áreas multidisciplinares assessoram todos os atletas envolvidos no processo de formação. São elas: Psicologia, Assistência Social, Nutrição, Fisiologia, Musculação, Pedagogia, Captação e Seleção, Fisioterapia, Medicina, Observação Técnica, Scout e Escola-Coxa.

No projeto de formação, que se inicia no sub-11 e tem como um dos objetivos promover os jogadores formados à equipe principal, ou então, negociá-los, os conceitos que norteiam cada uma das seguintes categorias seguem abaixo:

Sub-11 e sub-13: Interação do atleta e início da formação geral;
Sub 15: Aprendizagem e preparação para carreira;
Sub-17: Correção e preparação profissional;
Sub-18 e sub-20: Aprimoramento, manutenção e adaptação ao profissional;
Profissional: Aprimoramento e alto rendimento.

Atualmente, a equipe paranaense conta com 57 funcionários e 170 atletas registrados. Destes, 75 são profissionalizados, 27 estão no departamento profissional e três atletas que foram formados na base são titulares na equipe principal.

Todos os jogadores são acompanhados no banco de dados do clube, que realiza uma avaliação de diferentes competências trimestralmente, onde cada atleta é avaliado e classificado num score que varia entre 1 e 5. Tal avaliação é denominada Radar Coritiba e é uma excelente ferramenta para acompanhar o desenvolvimento do jogador. Na palestra, Mazzuco afirmou que tal ferramenta foi embasada na avaliação do atleta realizada no Inter-RS e criada por Medina no início da década passada, na ocasião, coordenador do clube gaúcho.

Como parte da infraestrutura, o clube possui um CT com cinco campos de treinamento e tem como planejamento o desenvolvimento de um CT integrado para base e profissional. Sem dúvida, será mais um passo à frente da grande maioria dos clubes brasileiros.

Em um amplo processo de captação, os atletas chegam ao clube por meio de observações em Curitiba e região, observações da Escola-Coxa (são 32 no Brasil e um nos EUA), do futsal, através da captação de clubes formadores, visitas técnicas realizadas pelo departamento de captação e parcerias com clubes e empresários. Com esta rede de contatos, 2.000 atletas pré-selecionados são avaliados por ano no clube.

Caso o jogador captado não seja munícipe, ocupará uma das 52 vagas do alojamento. E é no alojamento que inicia a busca por um sonho. Nas portas dos quartos, fotos de ídolos do Coxa estão estampadas e na última delas (também a mais recente) a foto é a do volante William, formado nas categorias de base, com 23 anos e mais de 100 jogos pelo Coritiba. A frase pronunciada nos corredores do clube e que instiga os jovens sonhadores é: quem será o substituto de William na última porta?

Para dar sustentabilidade ao projeto, no departamento de observação, o Projeto Sombra aponta as formações de todas as categorias indicando onde estão as principais carências.

Mário Mazzuco encerrou a apresentação apontando os objetivos do trabalho na atual temporada. Além dos que foram indicados no início da coluna, o clube visa a disputa de todos os títulos regionais e o fornecimento de atletas à seleção brasileira.

Detalhes técnicos do trabalho de formação não foram apresentados até porque este não era o tema da palestra. Porém, com este modelo de gerenciamento, se o trabalho de campo estiver sendo adequadamente realizado, sem dúvida, em poucos anos o Coritiba irá colher os frutos do investimento na formação.

E, para concluir, destaco a preocupação do processo de formação feito no clube paranaense que além de preparar o futuro do jogador, prepara também o do não jogador, pois sabemos que um grande percentual de atletas submetidos à formação esportiva não chega ao profissional devido ao estreitamento natural da pirâmide.

Formar o homem e não só o esportista é demasiado utópico e desnecessário para quem ainda acredita que jogamos o melhor futebol do mundo. Parabéns ao Coxa!

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

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O abandono de partida na final da Copa Sul-Americana e suas implicações jurídicas

São Paulo e Tigre disputaram a final da Copa Sul-Americana de 2012 no estádio Morumbi e a equipe brasileira derrotou o adversário por 2 a 0 no primeiro tempo e faturou o inédito título da competição.

Após o término da primeira etapa, uma confusão generalizada tomou conta do gramado do Morumbi. Depois, no vestiário, o Tigre alega que seus jogadores foram agredidos por seguranças do São Paulo. Segundo relatos, os são-paulinos sacaram armas de fogo e provocaram pânico. Alegando medo, a equipe argentina não voltou para o segundo tempo.

No caso em questão aplica-se o disposto nos artigos 15 incisos 4 e 5, e 18, incisos 1, 3 e 4 da Copa Santander Libertadores.
Isto ocorre porque o regulamento da Copa Sul-Americana dispõe que "todas las demás disposiciones generales del torneo, disciplinarias, etc., serán basadas en la reglamentación vigente de la Copa Santander Libertadores de America".

O capítulo X da Copa Santander Libertadores de América que, conforme acima exposto, trata de questões disciplinares tem-se:
Artículo 15°

15.4 En caso de que un equipo abandonara el campo de juego negándose a finalizar el partido, perderá los puntos y será pasible de multa a criterio del Comité Ejecutivo de la Confederación.

15.5 Si por disposiciones nacionales o municipales, debiera procederse a reintegrar al público el valor de las entradas, el club que hubiera abandonado el campo de juego abonará el importe correspondiente y responderá por los gastos de organización y arbitraje que el partido hubiera originado.

Artículo 18°

18.1 La inasistencia injustificada, a criterio del Comité Ejecutivo, del club visitante a cualquiera de los partidos que le corresponda disputar dará origen a una multa de USD 100.000 (cien mil dólares) y la pérdida del partido. De la multa, USD 90.000 (noventa mil dólares) serán para el club local y USD 10.000 (dez mil dólares) para la Confederación.

18.3 En todos los casos el club que de forma injustificada no asista, será eliminado del Torneo y no podrá participar en los tres torneos de Conmebol siguientes para los cuales clasifique salvo causa de fuerza mayor que apreciará el Comité Ejecutivo.

18.4 La Asociación Nacional será responsable del cumplimiento por parte de su club de las sanciones económicas previstas en este Reglamento.

Na hipótese de terem sido verdadeiras as alegações do Tigre, o clube deveria ter se utilizado das prerrogativas dispostas no regulamento levando ao conhecimento do delegado oficial da Conmebol os acontecimentos e exigindo a suspensão da partida, nos moldes do artigo 16.6:

16.6 La Conmebol, através de su delegado oficial, podrá suspender un partido cuando se trate de hechos de suma gravedad cometidas ya sea por dirigentes, clubes, árbitros, árbitros asistentes, jugadores, personal técnico, personal auxiliar, o público asistente, antes o durante un partido, que afecten los principios de ética y puedan considerarse lesivos al prestigio deportivo del país al que pertenecen los presuntos infractores; las respectivas Asociaciones Nacionales quedan facultadas para aplicar las sanciones que establezcan sus propios reglamentos, ello sin perjuicio de las penas que haya impuesto la Confederación Sudamericana de Fútbol.

A tales fines, el Comité Ejecutivo remitirá por sí o a petición de la correspondiente Asociación, las actuaciones labradas. Dicho requerimiento deberá formularse mediante fax o carta, debiendo el Comité Ejecutivo Copa Santander Libertadores de América 2012 – Reglamento Confederación Sudamericana de Fútbol proceder a la remisión solicitada dentro de los 15 (quince) días siguientes a la recepción del mismo.

Assim, segundo o regulamento da competição a equipe argentina está sujeita às seguintes sanções:

a) Perda de pontos;
b) Multa, a critério do Comitê Executivo;
c) Ressarcimento aos torcedores (nos termos do Estatuto do Torcedor) e despesas da organização e arbitragem;
d) Ser eliminado da competição e proibido de participar dos próximos três torneios da Conmebol para os quais se classifique, salvo causa de força maior, a ser analisada pelo Comitê Executivo.

Ademais, de acordo com o Disciplinay Code da Fifa, artigo 56, incisos 1 e 2 o Tigre estará sujeito a:

a) Perder os pontos da partida (Artigo 31);
b) Sofrer multa de no mínimo 10.000 francos suíços;
c) Ser excluído competição, de acordo com a gravidade;
d) Ser o adversário declarado vencedor pelo placar de 3×0.

Senão vejamos os artigos 56 incisos 1 e 2 e art. 31 do CDF:
Article 31 Forfeit

1. Teams sanctioned with a forfeit are considered to have lost the match by 3-0.
2. If the goal difference at the end of the match in question is greater than 3-0, the result on the pitch is upheld.

Article 56 Abandonment

1. If a team refuses to play a match or to continue playing one which it has begun, it will be sanctioned with a minimum fine of CHF 10,000 and will, in principle, forfeit the match (cf. art. 31).
2. In serious cases, the team will also be disqualified from the competition in progress.

Observa-se ainda que o Tigre agiu sem observar o Fair Play que estabelece que os praticantes de todas as modalidades esportivas devem procurar se empenhar e disputar os jogos cumprindo as regras.

Urge destacar a possibilidade de haver ações de ressarcimento movidas pelos patrocinadores do evento que não tiveram o seu "produto" entregue integralmente e dos torcedores, nos termos do Estatuto do Torcedor.

Diante o exposto, não há dúvidas que está correta a decisão da Conmebol de declarar o São Paulo campeão da Copa Sul-Americana 2012. De toda sorte, os fatos devem ser apurados e, caso se comprove atos de violência da polícia paulista ou dos seguranças privados, o clube brasileiro deve ser punido administrativamente por estes atos.

Referências bibliográficas

CEVLEIS, http://cev.org.br/listas/legislacao-desportiva/ com acesso em 13 de dezembro de 2012.

DISCIPLINARY CODE – FIFA, http://www.fifa.com/mm/document/affederation/administration/50/02/75/discoinhalte.pdf, com acesso em 13 de dezembro de 2012.

REGLAMENTO DE LA COPA SUDAMERICANA, http://www.conmebol.com/export/sites/conmebol/Docs/Copa_Sudamericana/2012/Reglamento_Copa_Sudamericana_2012.pdf com acesso em 13 de dezembro de 2012.

REGLAMENTO DE LA COPA LIBERTADORES, http://www.conmebol.com/export/sites/conmebol/Docs/Copa_Libertadores/2012/Reglamento_Libertadores_2012.pdf com acesso em 13 de dezembro de 2012.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br

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É hora de falar sobre a gestão de riscos no futebol

Esse é um conceito bastante antigo, remonta ao século XVII e à descoberta da teoria das probabilidades. No ambiente corporativo, há décadas passou a ser utilizado de forma abrangente para minimizar a exposição das empresas frente à eventos indesejados. Consiste em se estabelecer políticas que objetivam reduzir ao máximo os efeitos de potenciais perdas às pessoas e ao patrimônio e imagem das empresas, a partir da utilização de um conjunto de técnicas e ferramentas.

Como de costume, o futebol (e os outros esportes) passa longe das melhores práticas quando o assunto é gerenciamento de riscos. Aliás, não se fala nesse assunto nos clubes brasileiros.

A aplicação da gestão de riscos nos clubes se justifica por dois motivos. Primeiro, pela necessidade natural de qualquer empresa de se proteger, principalmente no que tange aos riscos financeiros e de imagem. Neste último caso é fácil ver o quão expostos estão os clubes, basta observar os efeitos que problemas de gestão e declarações de alguns dirigentes menos preparados acarretam sobre a marca de instituições centenárias. Aliás, não há nenhum guardião dessas marcas nos clubes.

O segundo motivo para implantação da gestão de riscos está no departamento de futebol em si. Além de lidar com decisões de grande incerteza (que por si só já justificariam a implantação de uma política de riscos), é nele que se concentra a maior parte do orçamento dos clubes.

Diariamente as áreas de futebol tomam dezenas de decisões relacionadas ao seu elenco profissional e suas categorias de base. Vão desde a contratação ou venda de um determinado jogador, à negociação salarial de outro, ou a dispensa de um garoto da categoria de base no qual o clube já investia há anos. Este conjunto de decisões impacta fortemente os orçamentos dos clubes, mas a grande maioria deles continua a tomar decisões utilizando processos o mais subjetivos possíveis, pessoas sem a qualificação necessária, e sem políticas e procedimentos claros nem ferramentas adequadas para isso.

Como se não bastasse, essas decisões não são tomadas de maneira planejada, com a utilização de cenários para quantificar os efeitos de uma estratégia eventualmente dar errada. Há muito de feeling e nada de empírico. É esse conjunto de aspectos que pode ser atacado com a implantação de uma política de riscos.

Não vou bancar o dono da crítica fácil, pois há profissionais de alto nível nos clubes (e não são poucos), mas como instituições, eles continuam com estruturas e práticas arcaicas.

Alguns exemplos: jogadores que são contratados e “não se adaptam”, contratos renovados fora de uma lógica de risco x retorno, promessas que não vingam e depois explodem em equipes rivais, multas milionárias pagas à técnicos por contratos encerrados antecipadamente, contratações feitas a peso de ouro para aplacar a insatisfação da torcida e conselheiros.

Vejam, as decisões de investir ou desinvestir em determinado atleta ou treinador equivalem às decisões que uma tesouraria de empresa toma diariamente para aplicar os seus recursos, com a diferença que estes utilizam um conjunto de ferramentas e seguem políticas bem estabelecidas para tomar essas decisões.

Neste momento alguns dirão a frase símbolo da simbiose incompetência comodismo: “mas no futebol é diferente”. De fato, uma decisão envolvendo jogadores é muito complicada, devido ao grande número de variáveis que precisam ser analisadas, mas isso é um argumento a mais para a implantação de políticas que identifiquem melhor os riscos envolvidos e aumentem a chance de sucesso das decisões.

Para interagir com o autor: fernando.ferreira@universidadedofutebol.com.br