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Mas…

Eu tinha tudo preparado para fazer a coluna desta semana com um teor positivista. Às vezes me questiono se não deveria evidenciar mais as boas ações dos clubes em detrimento dos tropeços, até para reforçar o contínuo progresso que os mesmos estão buscando no desenvolvimento de melhores práticas de gestão e de marketing.

E tinha um elemento importantíssimo para tratar: a nova Arena do Grêmio. Um marco, que segue o padrão dos melhores estádios do planeta, antecipando-se ao perfil dos equipamentos que teremos na Copa do Mundo 2014. Uma estrutura ímpar que será capaz de gerar importantes receitas, ainda pouco exploradas pelos clubes brasileiros, tornando-se ponto de referência para relacionamento com o torcedor.

Um empreendimento que foi capaz de comercializar todos os camarotes em poucos dias, sendo um indicador factível de que estamos diante de um caminho sem volta: a transformação sobre a produção do espetáculo esportivo no país.

Mas… Mas… Mas…, nós não conseguimos entregar um evento de inauguração digno à modernidade e à imponência da Arena do Grêmio. Mais uma vez, cometemos velhos erros de precipitação, de falta de planejamento e de forma de tratamento do torcedor e adversário.

Elenquei três que mais me saltaram os olhos: (1) a falta de protocolos e treinamento prévio no belíssimo show de abertura, que precedeu o jogo entre Grêmio e Hamburgo; (2) o gramado em péssimas condições, o que nos leva a crer que o plano que culminou com a realização do jogo não foi bem executado; (3) a retirada de cadeiras de um setor do estádio para manter um modelo antigo de tratamento oferecido ao torcedor.

São detalhes que parecem pequenos, mas que podem ter consequências negativas no médio-longo prazo. O que os clubes precisam entender com as novas arenas é que é preciso fazer um ponto de corte bastante rígido entre a forma de se apresentar o jogo do passado para uma experiência única e inesquecível no presente, em todos os eventos a serem realizados por lá.

Certamente que o Grêmio colherá ótimos frutos com sua belíssima arena. Está de parabéns pela construção de um modelo de negócios ímpar no Brasil, tendo o apoio direto em parceria com a iniciativa privada, tratando todos os negócios como negócio de fato. E que possamos avançar para uma nova era do futebol brasileiro.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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O bom anfitrião

Receber bem dá trabalho. Qualquer pessoa que já organizou um evento, independentemente do porte, sabe disso. Um churrasco, uma festa de criança ou um grande show têm preocupações similares. Entreter e causar boa impressão estão entre elas. E o futebol, infelizmente, ainda não assimilou isso.

Porque a proporção das coisas pode ser absurdamente diferente, mas o cuidado com quem vai a um jantar na sua casa não é diferente da preocupação que um clube deve ter com cada torcedor presente em um jogo. Nos dois casos, é fundamental incutir nas pessoas o sentimento de que viveram bons momentos. A ideia é gerar lembranças positivas.

Aí você pode interromper o texto e vociferar: "Ora, mas esse é um conceito básico". Sim, é claro que é. Dizer que um bom evento deve gerar experiência de vida e que o futebol brasileiro peca nesse aspecto é dizer platitudes. Qualquer um que tenha ido a um estádio pode enumerar os problemas que constroem um ambiente de desconforto e descaso – o que, aliás, já começa no ato da compra, muito antes da entrada no local.

"Então, se é tão básico, por que se preocupar com isso?", você pode perguntar em sequência. Porque a ideia de que o organizador do espetáculo precisa se preocupar com o público pode até ser básica, mas é comporta por uma série de iniciativas que muitas vezes são desprezadas ou relegadas ao último lugar na ordem das preocupações.

Sim, a comunicação faz parte desse conjunto de ações. Sim, pensar em comunicação é fundamental para um país que pretende inaugurar 14 novos estádios nos próximos anos, entre criações e reformas, com um custo superior a R$ 7 bilhões.

A primeira dessas novas arenas foi entregue no último sábado. Grêmio e Hamburgo reeditaram a decisão do Mundial de clubes de 1983, conquistado pela equipe gaúcha, e fizeram um amistoso para abrir oficialmente o novo estádio dos brasileiros. E o evento mostrou o quanto é necessário pensar em mais do que tijolos para proporcionar evolução consistente e criar experiências palatáveis.

Em campo, o Grêmio venceu por 2 a 1. André Lima marcou o primeiro gol do novo estádio. No entanto, o resultado e o que aconteceu dentro das quatro linhas são apenas coadjuvantes nessa história. O evento marcou o início de uma nova etapa no futebol brasileiro.

Construída em um novo tempo, a arena do Grêmio tem uma estrutura comercial condizente com a realidade atual. Os equipamentos internos são radicalmente diferentes da maioria dos estádios brasileiros, erguidos a partir de outros propósitos.

Hoje em dia, ao contrário da época que gerou a grande maioria das arenas brasileiras, a razão de ser de um estádio não pode ser apenas sediar bons jogos de futebol. Um estádio precisa criar experiências.

Na inauguração do novo estádio do Grêmio, o gramado gerou muitas reclamações. A mídia alemã criticou duramente o estado do campo, e o time gaúcho até emitiu uma nota oficial na última segunda-feira para se defender.

Mas esse não foi o principal problema. Houve confusão entre torcedores e a Polícia Militar (PM). E jogadores do Hamburgo reclamaram que não havia água para o banho no vestiário dos visitantes. Essa informação não foi confirmada, mas os alemães deixaram o local ainda de uniforme.

Por tudo isso, a mídia alemã (sim, novamente ela) chegou a chamar o amistoso de "jogo do caos". Ora, e a experiência positiva? E as boas lembranças?

Alemães não levaram boas lembranças do novo estádio, certamente. E a experiência dos torcedores que entraram em confronto com a PM também foi decisivamente conspurcada.

"E o que podia ter sido diferente em todo esse planejamento?", você pergunta. Para começar: como bem lembrou o mestre Erich Beting em texto sobre corintianos no aeroporto de Guarulhos, nossa sociedade carrega uma série de ranços de períodos em que a liberdade foi cerceada. Também tem arraigado um comportamento colonialista, infelizmente, mas isso é assunto para uma análise bem mais aprofundada. O que nos cabe aqui é constatar que a nossa polícia, mais opressora do que protetora, não serve para fazer a segurança interna de estádios de futebol (o texto do chefe está aqui, ó: http://tinyurl.com/a58s8yy).

E que fique bem claro: ninguém está dizendo que a culpa das confusões que acontecem dentro dos estádios é exclusivamente da polícia. O ponto é mais simples e prático: para um evento bem feito, é imprescindível que a segurança tenha treinamento específico e que seja parte de um organograma.

Pesquisas mostram, por exemplo, que seguranças são os funcionários que as pessoas mais procuram para pedir informações em lojas e shoppings. Se é assim, é fundamental que eles sejam treinados para responder sobre localização, serviços e outras coisas do gênero.

Não estive na inauguração do estádio do Grêmio, mas o que li e ouvi sobre o evento teve muitos elogios ao aparato. A análise aqui é geral e serve para todas as novas arenas: funcionários têm papel decisivo no conceito que os consumidores formam sobre qualquer provedor de serviços.

A preparação das pessoas que trabalham em qualquer empreendimento é um trabalho de comunicação. Empresas mais desenvolvidas têm equipes que se preocupam apenas com isso. O futebol pode demorar a perceber, mas necessita de uma estrutura assim.

Afinal, seguranças menos virulentos e funcionários mais preparados para dar informações são apenas dois aspectos. Também é importante padronizar o jeito de falar, mostrar os meios mais eficientes de vender e ensinar como lidar com o público. Se as redes de restaurantes fast food conseguem, por que um estádio não pode?

Outro aspecto é o tratamento dado aos convidados. Esse é mais um elemento que tem relação direta com o ranço que eu citei anteriormente: historicamente, visitantes, sejam eles jogadores, dirigentes ou torcedores, são tratados como inimigos no esporte brasileiro. Não são raras as histórias de times que saíram sob proteção ou que não conseguiram se concentrar adequadamente porque foram incomodados na concentração. Também são recorrentes os casos de adeptos trancados em estádios, no escuro, depois do término de um jogo.

Arenas mais modernas são a síntese de uma transformação no tratamento destinado ao público, que deixa de ser torcedor e se transforma em consumidor. E o visitante pode preferir outro clube, mas gastar como os adeptos locais.

Então, mais uma vez entra a comunicação: ninguém está falando em sepultar rivalidades, mas é
fundamental que os clubes eduquem. Tratar bem o público, na acepção mais ampla, é requisito para uma arena de sucesso.

De longe, parece que esse tratamento não foi destinado ao Hamburgo. E nem digo isso pela reclamação de que faltou água, mas por não ter sentido nos alemães um encantamento de visitas que são bem acolhidas em qualquer casa.

Por fim, para não me alongar demais, volto a uma ideia recorrente por aqui: TUDO comunica. Isso quer dizer que a comunicação precisa se ocupar do que acontece em campo, sim. E não apenas do jeito tradicional.

A Premier League fez uma pesquisa sobre o que as pessoas gostariam de ver em termos de entretenimento no campo. Constatou que o público desejava um jogo mais corrido e com menos bolas altas. A saída para isso foi forçar a aproximação entre os atletas, e os times foram obrigados a construir campos mais longos e estreitos.

Organizar um evento esportivo não é diferente de receber alguém em casa. É importante arrumar o ambiente, criar uma recepção acolhedora, oferecer serviços e pensar em atrações. É fundamental criar experiências.

Nesse aspecto, o esporte norte-americano sempre foi professor. Não é por acaso que o modelo do circuito de artes marciais mistas UFC funciona tão bem. Não é por acaso que o Brasil tem tentado versões locais disso, com shows e até apresentações de comediantes.

Outras modalidades, como basquete e vôlei, também investem constantemente na criação de eventos. E o futebol brasileiro, infelizmente, ainda não tem bons anfitriões.

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

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O treinador e as intervenções verbais: risco de causar dependência?

Recentemente, trouxe para debate alguns dados sobre uma atividade de treino no formato de jogo (um jogo 5 contra 5).

Esses dados referiam-se especialmente ao número de passes realizados e também às distâncias percorridas por jogadores de futebol em um “mini-jogo” organizado em um campo “quadrado” de 35 metros de lados.

Neste campo, equipes distintas, com cinco jogadores cada, se enfrentavam durante 10 minutos, com objetivo principal de realizar o maior número de passes possível sem interrupção por parte do adversário – sendo que cada oito passes valia um ponto.

Pois bem.

Gostaria nesta semana, a partir dos mesmos dados, e a partir de uma questão proposta pelo fisiologista Bruno Pasquarelli, de me focar em um ponto diferente daquele mirado no texto anterior.

Então, para facilitar o entendimento sobre esse “ponto diferente”, trago novamente (com outra roupagem) a tabela com os dados que apresentei.

Vejamos:

Para “refrescar a memória”, vale salientar que a ideia geral da atividade era observar se, com a mudança da intervenção verbal por parte do treinador (condutor da atividade), as variáveis analisadas no jogo (aqui, no caso, distância percorrida e número de passes) sofreriam algum tipo de mudança.

Pois bem.

Algo bastante interessante apareceu com os resultados: independente da intervenção verbal orientada aplicada pelo treinador, tanto distância percorrida quanto volume de passes foram mais altos quando houve uma intervenção, do que quando não houve uma intervenção direcionada.

Em outras palavras, quando o treinador apenas arbitrou e conduziu o jogo para fazer valer suas regras, os jogadores percorreram distâncias menores e trocaram menos passes durante a atividade.

E é aí que entra uma questão importante levantada pelo professor Pasquarelli – pois se a intervenção verbal interfere de certa forma na dinâmica do jogo, não poderia ela também condicionar os jogadores a ficarem dependentes dela?

Sob o ponto de vista da complexidade, quando pretendemos gerar hábitos e comportamentos específicos de jogo, e nos utilizamos para isso de atividades na forma do próprio jogo de futebol – jogo regido por regras específicas que a curto, médio e longo prazo podem fazer emergir os comportamentos e hábitos desejados – devemos saber exatamente que tipo de resposta esperamos ter à determinada estimulação.

Então, conforme já mencionado, o “feedback” verbal do treinador quando conduz a atividade de treino, interferirá de alguma forma na resposta dos jogadores e na dinâmica do jogo.

Em geral, se bem programadas e bem controladas, as intervenções verbais podem melhorar as respostas dos jogadores durante os treinamentos. Porém, se mal organizadas dentro do processo, poderão sim gerar “dependência” por parte dos jogadores às verbalizações direcionadas do treinador.

Assim, se determinado comportamento precisa ser gerado, é adequado para a sua construção que se conheça bem qual tipo de “feedback”verbal pode ser útil como ferramenta. Mas é preciso também entender em qual dose, magnitude, frequência e momento essa ferramenta deve ser utilizada.

A dependência à fala do treinador pode representar fracasso dos jogadores e de suas equipes durante jogos formais 11 contra 11. Ao mesmo tempo, determinados “feedbacks” podem servir como “gatilhos” para que o treinador faça correções ou eleve o nível de desempenho de alguma variável durante um jogo.

Devemos buscar, dentro de uma ideia sistêmica de treinamento, que os jogadores sejam capazes, cada vez mais, de “ler” melhor as situações do jogo, tomar melhores decisões e especialmente, que sejam capazes de ser autônomos para agirem no jogo de maneira inteligente.

Criar dependência verbal é um problema porque, principalmente, não permite desenvolvimento de uma autonomia de jogo e não contribui para a melhor leitura dele.

Se considerarmos como correta a ideia de que cada dia de treino e que cada jogo formal em competição é uma oportunidade de aprendizagem, independente do nível competitivo, devemos aceitar também que a dependência verbal diminui o potencial que tem o jogo como ambiente de aprendizagem e desenvolvimento individual e coletivo.

Criar dependência verbal é tão grave quanto gerar comportamentos e hábitos de jogo inadequados, que não contribuam em nada com êxito em jogos de futebol!

Criar dependência verbal é tão grave quanto não compreender que as intervenções verbais direcionadas podem ser positivas para o processo (e também dentro do próprio jogo formal 11 contra 11)!

Então, de maneira geral, precisamos saber utilizar os “feedbacks” verbais a favor do processo. Isso quer dizer que eles não são problema; problema é a sua utilização indevida.

Você programa como deve orientar seus jogadores em treino?

Por ora, acho que é isso.

Até a próxima!

 

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

 

 

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Footecon 2012 e as novas perspectivas para o treinamento técnico-tático

Aconteceu entre os dias 4 e 5 de Dezembro o IX Fórum Internacional de Futebol idealizado e coordenado pelo atual diretor técnico da seleção brasileira, Carlos Alberto Parreira.

Nos dois dias de evento, temas relevantes foram discutidos com o objetivo de fomentar transformações em nosso futebol. Como exemplos, a excelente palestra sobre a formação do treinador europeu, ministrada por Eduardo Tega, diretor executivo da Universidade do Futebol e Sandro Orlandelli, professor universitário e ex-scouter do Arsenal-ING; ou então, a temática metodologia de treinamento do futebol brasileiro, que teve como palestrantes Ricardo Drubscky, técnico que conquistou o acesso para a série A do Campeonato Brasileiro com o Atlético-PR, Rodrigo Leitão, colunista deste portal e técnico do sub-18 do Corinthians e Vinicius Eutrópio, técnico do América-MG.

Ainda relacionada às questões metodológicas da modalidade, numa plenária de menor dimensão (mas não menos importante), tive a honra de participar como palestrante numa apresentação que tinha como tema as novas perspectivas do treinamento técnico-tático nas categorias de base. Foi um privilégio compor a mesa com dois grandes treinadores das categorias de base do futebol brasileiro: Sérgio Baresi, técnico do sub-20 do São Paulo e Marcelo Veiga, técnico do sub-20 do Fluminense.

Aproveito a coluna semanal para compartilhar o conhecimento exposto na palestra, com o intuito de não torná-lo restrito somente a quem esteve presente no evento.

Segue, abaixo, alguns slides e os conteúdos abordados:

Com as conquistas recentes do Barcelona, o trabalho de formação no futebol ganhou sensível importância. No Brasil, muitas personalidades do futebol têm criticado o trabalho de base, pois é ele um dos responsáveis pelo baixo nível da grande parte dos nossos jogos.

Para comprovar tal afirmação, na sequencia, apresento a opinião de treinadores, imprensa e gestores sobre o trabalho de formação:

Diante disso, ressalto a fala de Mano Menezes pronunciada no Seminário das Categorias de Base, realizado este ano na CBF, que afirma sobre a necessidade de formar jogadores capazes de identificar os problemas do jogo.

E quais são os problemas do jogo no futebol moderno? Ao longo da palestra procurei evidenciar alguns deles.

O primeiro, referente à necessidade de abrir o adversário como uma das alternativas para criar espaços para a eficácia da ação coletiva ofensiva. Abaixo alguns exemplos de como grandes equipes do futebol mundial tentam resolver este problema e, comparativamente, como é feito por algumas equipes do Brasil em lances reais retirados do Campeonato Brasileiro de 2012:

Abaixo, uma ilustração de um jogo no Brasil correspondente a um comportamento muitas vezes observado:

Como segundo problema, a necessidade de formar um bloco ofensivo consistente, que facilite a criação de superioridade numérica e que facilite um comportamento agressivo de transição defensiva para buscar a recuperação da posse. As fotos de Bayern e Manchester United identificam bem a formação do bloco, com todos os jogadores de linha posicionados no campo de ataque:

Já numa equipe brasileira, o bloco ofensivo observado, na maioria das vezes, é semelhante ao do exemplo que segue:

O terceiro problema apresentado relaciona-se as equipes terem que fazer campo pequeno para defender, diminuindo os espaços importantes entre a bola e o alvo e, ao mesmo tempo, manter uma organização que favoreça a transição e organização ofensiva.

Nestas fotos de dois jogos da Champions, observe os exemplos:

Em contra partida, o bloco baixo da primeira linha e o combate desorganizado no portador da bola, espaçam as linhas defensivas da equipe brasileira como mostra a figura:

Outros dois exemplos forma utilizados. Um que identificava a distribuição das peças no campo de jogo, num determinado instante do jogo, de modo a ilustrar a quantidade de jogadores à frente da linha da bola para a construção da ação ofensiva e outro que quantificava o número de ocorrência de pressing na região em que se encontrava a bola para induzir o erro do adversário, logo, recuperar a posse. Obviamente que esses dois comportamentos não são bem realizados no futebol brasileiro.

Após estas constatações, foram mostrados exemplos de treinamentos tradicionais que não favorecem à aquisição de comportamentos coletivos.

Entre eles: treinos de fundamentos técnicos do jogo, treinos de finalização, treinos táticos 11×0 e treinos de jogos reduzidos.

As soluções apresentadas para reverter o cenário atual de formação dos atletas brasileiros todos que acompanham o site da Universidade do Futebol já conhecem. São jogos e mais jogos que contribuam para o desenvolvimento da inteligência coletiva de jogo. Para isso, jogos de futebol com manipulação das regras devem nortear o microciclo de treinamento.

Quaisquer das seis atividades que já publiquei no banco de jogos das minhas colunas servem como exemplo. Algumas das justificativas estão apontadas na seguinte imagem:

Para confirmar os resultados desta forma de trabalho, cases de sucesso foram apresentados para minimizarem as críticas e dúvidas desta maneira (que de acordo com as datas dos contributos teóricos não podemos chamar de nova) de conceber o treinamento em futebol.

Um tema polêmico e que seguramente será bastante criticado. Porém, com o apoio de profissionais do futebol e estudantes que buscam espaço e querem transformações no trabalho de campo, a sensação é de que estamos fortes para combater qualquer que seja a crítica.

Que cada vez mais discussões como esta ganhem espaço e também os campos do nosso imenso país. Sem d&
uacute;vida é uma das soluções para o nosso futebol!
 

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

 

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Vendas de ingressos para a final da Sul-Americana: direitos do torcedor violado

A temporada aproxima-se do fim, mas, ainda há o Mundial de Clubes e as finais da Copa Sul-Americana. Em ambas competições há clubes brasileiros. O Corinthians no Mundial e o São Paulo na Sul-Americana.

A grande finalíssima da Copa Sul-Americana será no dia 12 de dezembro de 2012 no Morumbi e os ingressos começaram a ser vendidas, pelo site ‘Total Acesso’, na noite do domingo (2/11), após a última partida do São Paulo no Campeonato Brasileiro.

Imediatamente, os torcedores começaram a reclamar em redes sociais que o site e não finalizava algumas vendas.

O São Paulo, em sua página oficial no Facebook, na madrugada do mesmo domingo para a segunda-feira (3/11), informou que "devido a problemas técnicos" a venda seria interrompida e os ingressos voltariam a ser vendidos a partir das 9h da segunda-feira.

A fim de atender ao princípio da transparência, no momento da interrupção o São Paulo informou que haviam sido vendidos apenas "mil ingressos antes da suspensão das vendas" e que havia "muitos lugares em todos os setores".

Não obstante isso, alguns torcedores comentaram nas redes sociais que conseguiram comprar ingressos durante a paralisação das vendas. Ademais, na segunda-feira, o site responsável pelas vendas permaneceu com instabilidade e sem finalizar a venda de vários torcedores.

Esse episódio apresentou três erros graves de desrespeito ao Estatuto do Torcedor e ao Código de Defesa do Consumidor: não houve a venda física, o processo não foi transparente e o torcedor não teve meios legítimos e seguros para comprar os ingressos.

Segundo o artigo 5º do Estatuto do Torcedor são asseguradas ao torcedor a publicidade e transparência na organização das competições administradas pelas entidades de administração do desporto, o que não foi observado pelo São Paulo.

Além disso, nos termos do artigo 20, § 5º, a venda de ingressos será realizada em, pelo menos, cinco postos de venda localizados em distritos diferentes da cidade. Assim, a venda exclusiva pela internet viola o Estatuto do Torcedor.

Os torcedores prejudicados podem e devem acionar o Poder Judiciário para pleitear indenização pelos prejuízos sofridos.
Constitui dever do Ministério Público e do Procon tomar as medidas previstas no artigo 56 do código de Defesa do Consumidor, uma vez que esta lei é aplicada subsidiariamente ao Estatuto do Torcedor.

Dessa forma, o São Paulo deveria ser punido com multa a ser graduada de acordo com a gravidade da infração, a vantagem auferida e a condição econômica do fornecedor serão aplicadas mediante procedimento administrativo nos termos da lei, revertendo-se o valor para o fundo de proteção aos direitos do consumidor.

É muito importante que os torcedores acionem os órgãos competentes a fim de assegurar o cumprimento de seus direitos, eis a cidadania somente atingirá sua plenitude pelo exercício reiterado.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br

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O atleta e a conquista da excelência pessoal – 2ª parte, o comprometimento

Volto aqui para continuarmos nossa jornada rumo a excelência no desempenho pessoal e profissional dos atletas. Na semana passada comentei sobre a busca de cada um pela excelência e na ocasião falei sobre a concentração. Na coluna de hoje irei falar sobre o elemento comprometimento na busca pela excelência.

O centro da excelência humana, muitas vezes, começa a se materializar quando você descobre uma busca que o realiza plenamente, liberta, desafia ou lhe dá uma sensação de significado, prazer ou paixão. Quando encontra algo ou um motivo em uma busca, ou dentro de você mesmo, que realmente tenha o compromisso de desenvolver, tudo mais ao seu redor pode crescer.

Cada um de nós tem uma visão daquilo que deseja buscar, de onde deseja chegar ou do que deseja profundamente realizar? Se você tem essa visão, torne-a clara em sua mente e pense nela frequentemente! Caso não tenha essa visão, pense agora a respeito de onde gostaria de ir, do que gostaria de realizar e de como você poderia fazê-lo. Mesmo que você não comece com um grande comprometimento, o simples fato de se concentrar totalmente em fazer as coisas boas que quer realizar fará com que coisas boas comecem a acontecer. Seu comprometimento, prazer e desempenho vão aumentar consideravelmente.

Figura 1 – Ciclo da concentração positiva

O comprometimento é uma peça-chave para orientar a sua busca pela excelência. Com um comprometimento de concentração, você pode alcançar praticamente tudo; sem isso, as metas de alto nível que estão ao seu alcance tornam-se praticamente impossíveis de alcançar.

Seu comprometimento requer um foco específico e ele crescerá na medida em que seu foco estiver direcionado para:

• Aprender e crescer continuamente;
• Buscar seus sonhos ou fazer uma contribuição realmente significativa;
• Tornar-se o melhor que você puder naquilo que escolheu fazer;
• Desenvolver as ligações mentais, físicas e técnicas com a excelência;
• Persistir apesar dos obstáculos, mesmo quando eles pareçam impossíveis de serem vencidos;
• Aprender constantemente sobre como sua concentração afeta seu humor e seu desempenho e agir conforme as lições aprendidas a respeito da concentração;
• Manter o prazer e a paixão em sua busca.

Os níveis mais altos de excelência são inspirados por uma visão positiva de onde você quer chegar – em seu esporte, em suas realizações ou em sua vida. Para alcançar a excelência em qualquer busca realmente desafiadora, você precisa de uma razão suficientemente poderosa para manter-se focado na busca de suas metas, apesar dos altos e baixos que provavelmente acontecerão.

Maiores níveis de comprometimento pessoal surgem naturalmente do amor e do prazer naquilo que você está fazendo, combinados com visões positivas de onde quer chegar. O seu comprometimento cresce quando você abraça os momentos especiais, ficando envolvido em sua missão e amando a experiência de crescimento pessoal contínuo. Muitas razões pessoais ou fontes de comprometimento podem contribuir de alguma forma e impulsionar a excelência:

• A sensação de puro prazer, paixão e amor pela atividade ou meta;
• O ânimo da busca e a sensação de estar completamente vivo;
• A sensação de ser aceito, competente, necessário, valioso, importante, bem-sucedido ou de certa forma especial;
• A sensação de buscar seu sonho, viver seu potencial ou tornar-se aquilo que você é capaz de ser;
• A sensação de fazer uma contribuição significativa ou de fazer a diferença;
• O orgulho pelo seu desempenho, criação ou contribuição;
• A sensação de vencer desafios e expandir limites;
• A sensação de devolver algo às pessoas que o apoiaram ou alguma perspectiva àqueles que o seguirão;
• O prazer ou o amor no aprendizado constante.

Devemos ter em mente que para tornar-se realmente muito bom em alguma coisa e para manter um alto desempenho por longos períodos, geralmente você precisa amar o que faz. A maioria dos vencedores que alcançam a excelência nos mais altos níveis diz que a busca em si torna-se sua paixão e impulsiona suas vidas por longos períodos. Eles obtêm energia das etapas que gostam e aprendem lições valiosas com as partes que não são prazerosas.

Os atletas realizadores de alto nível possuem a capacidade de alcançar a maioria de suas metas e se beneficiam da jornada ao focalizarem os aspectos positivos e permanecerem comprometidos, apesar dos obstáculos negativos que se apresentem.

No caminho da excelência sempre aparecerão obstáculos que podem parecer, a primeira impressão, impossíveis de vencer. E são justamente nestes momentos você precisa ter muito cuidado, pois se acreditar que estes obstáculos são realmente grandes demais para serem vencidos, irá se convencer disso!

A forma de lhe dar com os obstáculos aparentemente instransponíveis é enxergar as possibilidades e aumentar sua capacidade de realização, tornando grandes metas em pequenas entregas realizáveis, focando-se naquilo que está ao seu controle e dando um primeiro passo, em seguida, focando-se no próximo passo e no seguinte. Se seu comprometimento começar a apresentar variações, lembre-se do que te motiva, do seu sonho ou meta que deseja alcançar e de como isto é extremamente importante para você.

Encontre prazeres simples nas conquistas diárias e sinta a alegria das pequenas vitórias, pois com uma perspectiva positiva e persistência você vai evoluir, se concentrar cada vez mais e encontrar sempre um meio de vencer todos os obstáculos. Isso o ajudará também a controlar seu nível de ansiedade e fará com que sua confiança cresça a cada pequena conquista.

Por fim, devo ressaltar que o comprometimento que você assume consigo é uma parte extremamente importante no processo de alcançar metas de alto nível. Igualmente importante deve ser o seu compromisso de reservar um tempo para uma adequada recuperação mental, física e emocional. Lembre-se disso!
Deixo aqui as seguintes reflexões sobre o comprometimento:

• Seus objetivos são claros para você, desafiadores e têm por meta alcançar o seu melhor nível?
• Você está fazendo algo, todos os dias, que o leve um passo mais próximo de suas metas? O que fez hoje para chegar um passo mais perto do seu objetivo ou grande meta? Tem comemorado pequenas vitórias cotidianas ou ainda se perde observando a distância que falta percorrer para atingir seu objetivo principal de longo prazo?
• Seu comprometimento com a qualidade da concentração em treinos, aprendizados, práticas e atuações está forte o suficiente para levá-lo na direção dos seus sonhos? O seu comprometimento poderia ser melhor?

Até a próxi
ma coluna, abraços.

Para interagir com o autor: gustavo.davila@universidadedofutebol.com.br

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Transições

Estamos vivenciando um período de eleições e transições e alguns dos mais importantes clubes do Brasil. Transições não apenas na presidência por força estatutária e/ou eleições regulares da entidade, mas também de comando executivo do futebol ou de setores específicos do mesmo.

E o que se percebe é que a mudança, apesar de ser uma constante, raras vezes é planejada ou mesmo institucionalizada, o que quer dizer que as diretrizes são definidas pelo novo integrante da equipe, não sendo um complemento sobre o todo do clube.

Isso é facilmente identificado no discurso de posse ou de saída do cargo. Está sempre tudo muito atrasado, com um desalinhamento claro entre a fase ideal para planejamento institucional e a sua plena execução.

O que falta na grande maioria destes clubes é um Plano Diretor, que seja minimamente seguido por novos profissionais, presidência, conselhos e gestores das diversas esferas da agremiação. E deve ser articulado para que haja uma continuidade de ações de um mandato a outro, sem sobressaltos, para que a nova gestão possa aplicar gradativamente seus conceitos e pensamentos de forma a impactar positivamente a administração do clube.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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O media training no futebol

A decisão da liga profissional de futebol dos Estados Unidos (MLS), disputada no último domingo encerrou a passagem do inglês David Beckham pelo Los Angeles Galaxy. Antes da despedida, porém, o meio-campista de 37 anos deu um exemplo de comportamento para atletas e figuras públicas de todo o mundo.

O episódio aconteceu em uma entrevista coletiva antes da partida entre o Galaxy e o Houston Dynamo. Beckham conversava com jornalistas, e um deles usou um iPhone como gravador. O aparato estava posicionado na bancada, na frente do jogador, e começou a tocar.

Beckham interrompeu a entrevista e perguntou se o jornalista queria que ele atendesse. Entre risos, o próprio astro inglês olhou o celular e respondeu: "Desculpe, mas não é Samsung. Eu não posso":


 

A reação de Beckham remete a uma entrevista coletiva de Ronaldo. O "Fenômeno" anunciava no evento um contrato de publicidade com a empresa de telefonia Claro, e isso permeou todas as respostas dele. Sempre que usava afirmativas, em vez do tradicional "sim", o maior artilheiro da história das Copas do Mundo dizia algo como "é claro".

As trajetórias de Beckham e Ronaldo em campo são indiscutíveis. Ambos também são indiscutíveis como marcas de sucesso. Uma coisa tem relação com a outra, é claro. Mas o sucesso dos dois como personalidades está alicerçado em algo muito maior do que apenas desempenho.

A construção de um ídolo depende, evidentemente, de uma série de fatores imprevisíveis. Mas qualquer tentativa de fabricar personalidades consumidas pelo grande público passa por respeito. Não apenas ao próprio público, mas às marcas que essa figura representa.

Aí entra um conceito que funciona muito bem no mundo corporativo, mas que ainda é pouco disseminado no esporte: o media training. Atletas, técnicos e dirigentes são porta-vozes das instituições que defendem. Portanto, precisam ser preparados para um uso eficaz do espaço que a mídia oferece.

A etapa inicial de qualquer treinamento para porta-vozes é exatamente a compreensão desse papel. Uma personalidade que representa uma instituição não pode se comportar como uma pessoa qualquer. Em última instância, não pode simplesmente porque os erros de uma figura pública têm repercussão maior.

A figura pública que entende o que ela representa pode evitar muitos problemas. No esporte, pululam exemplos contrários. Um caso de repercussão internacional aconteceu quando o atacante italiano Mario Balotelli, então jogador da Inter de Milão, foi a um programa de TV e vestiu, sem saber que estava sendo gravado, uma camisa do rival Milan – relembre o episódio:


 

Um porta-voz precisa entender as nuances do cargo que ele ocupa. Isso inclui aspectos como saber a história da instituição, conhecer os principais ídolos e entender costumes do público que o segue. Um atleta do Grêmio, por exemplo, precisa saber que deve evitar roupas e acessórios vermelhos. Um jogador do Internacional também tem de fugir do azul.

Conhecer um pouco sobre história pode evitar muitas gafes. Pode evitar, por exemplo, que um jogador diga o nome errado do clube no momento da apresentação. O lateral Gustavo Nery, quando foi contratado pelo Sport Club Corinthians Paulista, disse que seria uma honra defender o “Corinthians Futebol Clube”. Alguém na sala o alertou e disse: "É Sport". E ele, completando a lambança: "Corinthians Esporte Clube".

Depois de conhecer a história da instituição e entender um pouco sobre o público, é necessário entender o que a marca tem a dizer. Isso vale para clubes, entidades e até para patrocinadores. Um atleta de sucesso comercial não é apenas o que vence, mas o que se torna relevante para os parceiros. Para isso, é fundamental saber como interagir com a mídia e transmitir corretamente o que os anunciantes têm como bases.

Essa preparação institucional é o que justifica a quarentena aplicada por algumas empresas a novos funcionários. A Nike é um exemplo de companhia que não permite que um porta-voz saia falando com a imprensa antes de ele ser corretamente preparado.

O processo de condicionamento de um porta-voz também passa pelas coisas que ele não pode fazer ou falar. É fundamental que ele tenha noções de limite, sobretudo em assuntos mais polêmicos.

Além de tudo isso, é necessário pensar em "como falar". Um bom porta-voz usa de modo favorável a linguagem corporal, sabe escolher as palavras adequadas e direciona de forma correta até o olhar. É a pessoa que usa nomes dos entrevistadores, agradece a cada pergunta, fala pausadamente, faz explicações claras e não cria polêmicas desnecessárias.

Mano Menezes, ex-técnico da seleção brasileira, era criticado por muitos motivos. Todas as avaliações negativas, contudo, eram relativizadas pelas entrevistas elucidativas e pelo tom cordial que ele usava no tratamento com a mídia. A despeito de não ser uma figura carismática, o comandante sabia se comportar como figura pública.

Também nesse aspecto, Mano Menezes e Luiz Felipe Scolari têm perfis dicotômicos. O novo comandante da seleção brasileira é mais autêntico, dá declarações mais fortes e muitas vezes cria polêmicas simplesmente para desviar foco. Logo na apresentação, Felipão comprou briga com o Banco do Brasil ao indicar a empresa como emprego ideal para quem não quer lidar com pressão.

Ainda que a polêmica sobre isso tenha sido muito exagerada, a declaração de Scolari foi apenas um exemplo de uma entrevista coletiva recheada de gafes. O presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin, foi ainda mais prolífico em trapalhadas. Ele trocou o nome de Carlos Alberto Parreira, a quem se referiu como Antônio Carlos Parreira. E explicou vetos a outros treinadores para justificar a escolha da comissão técnica, como se os profissionais contratados fossem a última opção.

Para completar, a entrevista coletiva foi agendada para o mesmo horário em que a Fifa anunciava, em São Paulo, os finalistas da bola de ouro, prêmio aos melhores jogadores da temporada. A CBF criou um evento desastrado e uma concorrência desnecessária.

Tudo isso complementou o festival de gafes que a CBF havia iniciado quando demitiu Mano Menezes. Desde a escolha do porta-voz até a falta de um discurso ensaiado, a entidade transformou todo o episódio em um exemplo do que não fazer no relacionamento com a mídia.

Comunicação demanda planejamento, e qualquer deslize no planejamento pode comprometer totalmente os objetivos da instituição. Uma gest&atild
e;o tão conturbada quanto a da CBF chega a suscitar dúvidas sobre as reais intenções de tantos erros.

Porque erros, é bom que se diga, fazem parte de qualquer processo de comunicação. Instituições são feitas de pessoas, e ídolos também são pessoas. Pessoas são falíveis, fazem besteiras e não conseguem carregar personagens durante todo o tempo.

No começo do texto, citei Ronaldo como um exemplo de alguém que sabe lidar com a mídia e trabalhar a favor de seus parceiros comerciais. O atacante também é exemplo de quem escorregou e fez diferentes tipos de besteiras durante a vida. A pergunta que fica é: por que ele conseguiu passar por isso sem destruir a imagem positiva e sem comprometer o valor que possui fora de campo?

A resposta é comunicação. De forma empírica ou não, Ronaldo sempre manejou muito bem o espaço que o desempenho esportivo ofereceu a ele. O atacante sabe como se relacionar com a mídia, fala de um jeito simples e dificilmente dá uma declaração que contrarie o personagem que o ídolo Ronaldo representa.

Em outro ponto nessa linha está o atacante Adriano. Não cabe aqui uma discussão sobre os problemas que ele enfrenta, mas é necessário dizer que a comunicação do que acontece na vida dele é extremamente complicada.

As faltas, os problemas pessoais e os conflitos profissionais de Adriano sempre vazaram. E pior: o atacante nunca usou tudo isso para construir uma imagem mais simpática. Nunca tentou sequer comover o público.

Mesmo quando falou sobre as intempéries da vida pessoal, Adriano foi o que é fora dos microfones: lacônico, fechado e seco. É claro que a personalidade é um direito dele, mas é impossível se comunicar bem sem entregar mais do que isso. Mesmo que seja um discurso ensaiado, próprio para os microfones.

Atualmente, o exemplo mais bem acabado no esporte brasileiro é o do atacante Neymar. O jogador do Santos era tímido e pouco eloquente no início da carreira, até por ser apenas um garoto de 16 anos. Com o tempo, a experiência e uma boa preparação, o camisa 11 transformou-se num dos mais eficientes comunicadores do país.

Porque é isso, afinal: Neymar é um comunicador. É por isso que tudo que ele faz, fala ou usa vira tendência. É por isso que todas as crianças se identificam com ele. É por isso que ele é referência.

Em tempo: Na despedida de Beckham, o Los Angeles Galaxy bateu o Houston Dynamo por 3 a 1 e conquistou o bicampeonato da MLS. O terceiro gol foi marcado de pênalti, aos 48min do segundo tempo, um minuto antes de o inglês ser substituído e ovacionado, e a infração foi cobrada por Keane. Um anticlímax que não combina nada com o quanto os norte-americanos entendem de entretenimento e esporte…
 

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br
 

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Copa do Mundo de 2014: seremos campeões?

Para a maioria dos brasileiros a conquista do hexacampeonato mundial é uma obrigação. Jogando em casa e com Neymar no elenco, resta ao treinador convocar mais vinte e poucos jogadores e motivá-los, com seu espírito vitorioso, a fim de que o talento nato dos nossos atletas apareça. Precisamos desses talentos para decidir as partidas nos equilibrados jogos que, atualmente, só podem ser definidos através de jogadas individuais.

O trecho anterior é somente um exemplo dos milhares de equívocos que são pronunciados e praticados dia após dia em nosso futebol.

E você, profissional (ou não) da modalidade, como se posiciona diante desses equívocos? Colabora para que eles aconteçam? Simplesmente observa e caminha para a direção que lhe for mais conveniente em determinada situação? Ou defende e pratica, arduamente, mudanças em todos os âmbitos deste esporte?

O futuro do futebol depende, diretamente, do nosso posicionamento. Optar pelo caminho da mudança, norteado pelo necessário processo de transformação do futebol brasileiro, é um dos desafios de quem pretende seguir carreira neste mercado que, como muitos outros, é influenciado constantemente por conflitos administrativos, políticos, de interesses e de disputa pelo poder.

Todos estes conflitos impactam na área técnica da modalidade. A demissão de Mano Menezes é um exemplo recente deste impacto, neste caso, de grande magnitude. O fato é que, maiores ou menores, tais impactos definem um cenário atual repleto de limitações e complicações que atrasam a evolução do nosso futebol. Como exemplos deste cenário, acompanhem os tópicos abaixo:

• Pouquíssimos profissionais do futebol foram formados no ano de 2012. Num país que possui milhares de treinadores, quais são as políticas educacionais para capacitarmos os gestores de campo? Entendam que a solução não está nos cursos de graduação em educação física. Precisamos de iniciativas e formações específicas (de qualidade) para a modalidade.

• Alguém que pretende trabalhar com futebol, mas não está inserido no mercado por não ter sido ex-atleta, não teve (ou teve mínima) oportunidade de entrevista de emprego no presente ano. Seguramente seu CV não faz parte do banco de dados da maioria dos clubes de futebol brasileiros, pois tudo isso é desnecessário, uma vez que as contratações acontecem quase que exclusivamente por indicações e influências.

• Os trabalhos de pré-temporada para os estaduais 2013 já começaram e muitas equipes negam-se a fazer amistosos, pois estão em períodos de somente treinos físicos. Dentre esses treinos, encontram-se os tiros de 1.000 metros e os treinos na “caixa de areia”.

• Clubes tradicionais do futebol brasileiro ainda não contam com um departamento de análise de jogo e participam de uma das melhores competições do futebol nacional sem um conhecimento aprofundado do adversário e, inclusive, da própria equipe. Equipes vencem, empatam e perdem sem conhecerem os reais motivos para os respectivos resultados.

• Em tempos de gestão eficaz, na busca por melhores resultados mesmo com redução de custos, clubes gastam milhares de reais acomodando jogadores em hotéis de luxo como única alternativa possível para aumentar o nível de concentração dos jogadores na tentativa de escaparem do rebaixamento.

• Por mais que um determinado profissional estude, se capacite, faça estágios, cursos e dirija uma equipe com sucesso, um ex-jogador sempre, mesmo sem qualquer capacitação além de ter sido atleta, está mais credenciado para uma função técnica.

• Na grande maioria dos clubes, em todas as categorias, o único valor considerado é o do resultado de campo. Egos “inflados”, incapacidade administrativa e pressão criada pela nossa cultura, são elementos que contribuem para a valorização excessiva da vitória.

• Elencos inteiros são formados a partir de interferências diretas de agentes, empresários e dirigentes em função de benefício financeiro próprio e não na busca do melhor para o clube.

• A troca de comissões é uma constante e raríssimos são os clubes que oferecem plano de carreira. O seu trabalho pode ser interrompido (e será em algum momento) ainda que as vitórias apareçam.

Entender o cenário e ainda assim estabelecer um posicionamento favorável às mudanças é tarefa para poucos. Ter resiliência e persistência são características indispensáveis na tentativa de sobrevivência que compreende a luta diária de quem opta por esse caminho.

Felizmente, neste mesmo cenário (composto por limitações e complicações) é possível “enxergar uma luz no fim do túnel”, pois projetos de sucesso, mesmo que isolados, surgem no heterogêneo futebol brasileiro. Enderson Moreira, Ricardo Drubscky, Ney Franco e Tite são bons exemplos para identificar tais projetos. Bons argumentos, bons estudos e, principalmente, bom futebol!

Voltando à seleção brasileira, é melhor evitar qualquer opinião a respeito do substituto de Mano Menezes. O tempo (sempre ele) dirá se o preferido pelo povo era a melhor opção.

E para todo o povo, fiel torcedor e assumido treinador, pouco importa o que faremos até junho de 2014. Se após a competição o título for brasileiro, do alto da nossa arrogância, ostentaremos a hegemonia do futebol com seis títulos mundiais. Não terá importância o como, com quais métodos (se novos, ou novo-velhos) ou com qual treinador.

Já para os profissionais do futebol, que se importam muito com os acontecimentos até a próxima Copa e também com os acontecimentos futuros, deixo uma reflexão análoga aos conhecimentos sobre o jogo. Se nele tentamos dar maior previsibilidade a um ambiente que, por característica, é imprevisível, a fim de que nos aproximemos das vitórias, o conhecimento sobre o atual cenário nos permite opinar sobre o desempenho previsto do Brasil na Copa de 2014.

Fica, então, a questão: seremos campeões?

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br