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Vaias, protestos e a segunda tela

A edição 2013 da Copa das Confederações, competição que tem para a Fifa um status de teste para a Copa do Mundo do ano seguinte, teve início no último sábado. E logo nos primeiros dias, o torneio serviu para escancarar três características em eventos de grande porte: os problemas, as inovações e as grandes histórias.

Falar sobre problemas da Copa das Confederações é praticamente um reducionismo. O torneio teve uma série de problemas próprios, como as imperdoáveis filas para retirada de ingressos e o débil serviço em bares e restaurantes dos estádios. No entanto, por ter relevância global, o evento serve para escancarar uma série de feridas que não são apenas do futebol.

Não é por acaso que manifestações tentam se apropriar do espaço de um evento como a Copa das Confederações. Aliás, isso não é sequer novidade. Basta ver a história recente de outras competições esportivas de grande porte. Classificar atos assim de oportunistas é ignorar a razão de eles existirem.

Portanto, alguns pontos relevantes: toda manifestação é legítima, e o uso do esporte para aumentar a repercussão é extremamente natural. Também é pouco produtivo discutir apenas "os motivos" ou "os culpados". Em situações como a que o país vive atualmente, é fundamental tentar aprofundar um pouco o debate.

E o esporte, dentro e fora do campo de jogo, é feito por homens. Por mais alienados que eles sejam, é impossível descolá-los de recortes ou análises sociais. Ainda que as manifestações e as reações dos últimos dias no Brasil tenham pouco ou nada a ver com o esporte, elas têm tudo a ver com quem pratica e curte o esporte.

É por isso que não se pode apenas “imaginar a festa”. Fechar os olhos para o que tem acontecido nas imediações de estádios brasileiros é ignorar a história. E se a mídia não serve para contar histórias, não tem razão de ser.

Em competições da Fifa, o sinal oficial é gerado pela HBS, uma empresa parceira da entidade. É ela que grava imagens dos jogos e distribui para parceiros de transmissão. Assim, há uma garantia de padronização em enquadramentos e exposição de patrocinadores, por exemplo.

A HBS pode ser parcial. Trata-se de uma empresa que presta serviços para a organizadora do evento. A HBS não é mídia.

Em outros casos, é fundamental entender o limite da parcialidade. Ainda que o esporte tenha se aproximado drasticamente do entretenimento em algumas empresas, não dá para ignorar questões jornalísticas tão relevantes.

Mas há quem ache pertinente ignorar. Foi assim nos primeiros dias da Copa das Confederações, com confrontos entre público e polícia nas imediações de estádios. Em algumas emissoras, o clima bélico e os protestos feitos nos arredores dos campos de jogo foram tratados como assunto alheio ao futebol. Como se o futebol pudesse ficar alheio ao mundo.

Todo esse contexto é fundamental em qualquer análise sobre as vaias que a presidente Dilma Rousseff e Joseph Blatter, presidente da Fifa, ouviram no último sábado. Os apupos foram direcionados aos dirigentes durante a cerimônia de abertura da Copa das Confederações.

A vaia não foi pessoal, tampouco improvisada. Foi parte de um movimento de insatisfação e iniciativa que tem se manifestado no Brasil e que tem usado os eventos esportivos como combustíveis.

A vaia também foi resposta ao sentimento popular diante dos R$ 7 bilhões em dinheiro público que foram investidos em estádios brasileiros. E ao sentimento geral de que a população age de forma bovina e que não responde a nenhum acinte desse porte.

A reação do público para Dilma e o volume das vaias, que ficou ainda mais intenso quando Blatter intercedeu e pediu respeito, não são coisas apenas do esporte. Mas afinal, quando acaba o esporte e quando começa a vida?

Tudo isso, dos protestos às vaias, é positivo. Gera esperança. O problema é que as reações escancaram uma série de mazelas e defeitos da sociedade brasileira. E isso produz frustração em igual proporção.

E aí não entra apenas a ação da Polícia Militar, que tem se comportado como um pai adepto das palmadas. Se uma criança faz algo errado, o jeito é bater para ensinar. Não existe didática ou conversa, mas violência. Eu poderia citar uma dúzia de pedagogos que mostram, há anos, o quanto a porrada é pouco eficiente para produzir aprendizado.

Também frustra a reação de uma parcela da população, a que só quer saber do bem estar individual e que acha que a reação virulenta é a melhor forma de coibir excessos. É em momentos extremos que a sociedade local mostra o quanto ainda precisa evoluir.

Os problemas que o Brasil tem mostrado na Copa das Confederações, contudo, vão muito além da parte ideológica. O país ainda convive com o ranço didático do período militar, mas sofre igualmente com a falta de planejamento e estrutura básica. Novamente, uma coisa não pode ser isolada da outra.

Um megaevento esportivo é a chance que um país tem para mostrar ao restante do mundo o que ele tem de melhor, mas também serve para concentrar e exacerbar problemas. O Brasil precisa trabalhar muito para que essa equação não produza, em 2014, uma imagem que jogue fora os bilhões investidos na Copa do Mundo.

E aí, o que falta é esse conceito de unidade. O Brasil precisa trabalhar, mas para isso é importante o país saber o que quer com a Copa. A sede foi definida em 2007, mas ainda não há sequer uma diretriz sobre o que a competição pode representar.

Potencial os eventos têm, e isso já ficou claro nos primeiros dias da Copa das Confederações. Uma das coisas mais legais em torno de um evento desse porte é a quantidade de histórias que ele produz.

Neste ano, dificilmente aparecerá algo mais legal do que o caso envolvendo Altair, lateral que foi campeão mundial com a seleção brasileira em 1962. Em Brasília para receber uma homenagem, o ex-atleta, que sofre do mal de Alzheimer, saiu perambulando pelas ruas da cidade e foi encontrado por um grupo de jornalistas. O relato inteiro está aqui, ó: http://tinyurl.com/nynpg44.

Um evento do porte da Copa das Confederações também serve como plataforma para uma série de lançamentos. O melhor exemplo até agora é o programa "Cabeça no jogo", que a "ESPN Brasil" exibiu durante a vitória do Brasil sobre o Japão.

O conceito que norteia o programa é o de segunda tela. A ideia é reunir comentaristas, mensagens de redes sociais e muito humor para
servir como um complemento ao jogo. A ESPN não tem direito de transmissão da Copa das Confederações.

Independentemente do tom do programa, que ainda pode ser ajustado, o "Cabeça no jogo" é uma tentativa de visão diferente. É uma linguagem nova, que complementa a transmissão e que coloca em um novo patamar a convergência de mídias.

Que seja apenas o começo. Que os eventos esportivos sirvam como mote para grandes histórias e grandes inovações. E que abarquem também os protestos e as vaias, sem que isso nos jogue na cara o quanto a evolução tecnológica não garante a evolução social.

 

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

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Um grande risco de treinar jogando

Treinar situações de jogo apresenta-se como a grande tendência do treinamento em futebol. Seja por autores da corrente pedagógica ou por autores da corrente biológica, a ideia de criar um ambiente que permita aos atletas terem de tomar decisões semelhantes às da competição ganha cada vez mais espaço e adeptos.

Aplicado sob uma perspectiva sistêmica, o objetivo de cada sessão de treino é promover adaptações físico-técnica-tática-mentais positivas, tanto de caráter individual como coletivo. Tais adaptações buscam aperfeiçoar o modelo de jogo do treinador, que deve ser construído em função do jogo e de sua lógica.

Como jogar (em espaços reduzidos, espaços formais, com superioridade numérica, inferioridade numérica, igualdade numérica, com pressão de tempo, com redução de toques, com referências espaciais ou quaisquer outras adaptações propostas pela comissão) passa a ser a essência da periodização, o volume total semanal que uma equipe atinge com esta forma de treinamento ultrapassa 300 minutos.

Isto significa que numa "semana cheia", com apenas um jogo no final de semana, a comissão técnica tem mais de 5 horas de treino (jogo) para efetuar as devidas intervenções (de ordens física-técnica-tática-mentais).

Uma vez que a ação de cada jogador num determinado jogo reflete a interpretação que o mesmo tem das inúmeras situações-problema que o jogo lhe apresenta, toda semana de treino é uma oportunidade de correções e aquisições de comportamentos. Eis a grande solução. E também um grande risco de treinar jogando!

Para exemplificar, imaginemos um zagueiro central que de acordo com os princípios de jogo do futebol moderno apresenta as seguintes dificuldades:

• Mau posicionamento na grande área para proteger o gol em situações de cruzamento do adversário;

• Dificuldade para compor a linha de defesa zonalmente, marcando o adversário de forma individual desnecessariamente;

• Ataque à bola em detrimento ao retardamento, quebrando a linha de defesa e proporcionando uma decisão mais fácil ao adversário;

• Dificuldade para posicionar o corpo entre a bola e o alvo durante a flutuação;

• Dificuldade para participar da organização ofensiva, não realizando coberturas ofensivas e apoios;

• Não participação do bloco ofensivo quando a equipe tem a posse de bola no campo de ataque;

• Dificuldade de decidir rapidamente sobre a melhor opção de passe.

Todos estes comportamentos tendem a ser reproduzidos nas emergências dos jogos ao longo do microciclo. Em uma comissão técnica que resolva treinar com situações de jogo, mas que seja ineficiente nas intervenções, as mais de 5 horas de treinamento semanal serão subaproveitadas e o referido atleta pouco evoluirá.

O subaproveitamento deste tempo de treino gerará a repetição de más decisões que, quanto mais velho for o atleta, mais dificilmente serão modificadas. Ter um atleta formado, habituado a comportamentos de jogo ultrapassados demanda um tempo de treino para correção que o imediatismo do futebol não permite. Além disso, as crenças que o atleta carrega limitam a compreensão de um novo futebol e seu potencial cognitivo já está reduzido.

Multipliquem os "problemas" apresentados de um atleta pelos cerca de 30 jogadores existentes num elenco. Há muito trabalho para uma comissão técnica que, como pré-requisito, deve conhecer quais são os elementos do bom futebol. Ciente destes elementos, inicia-se a constante construção e reconstrução do jogar da unidade complexa/equipe que se adquire na ação.

Que a comissão seja cuidadosa o suficiente para não transformar as mais de 5 horas semanais de treinamento num ambiente que, mesmo jogando, reforce o mau futebol!

Abraços e bom trabalho!

 

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

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Movimento “Por um futebol melhor” e a atenção dos consumidores

Neste ano, clubes de futebol se uniram e criaram o Movimento “Por um futebol melhor”, encabeçado pela Ambev, que tem como base mostrar ao torcedor que o dinheiro que ele investir para ser sócio do clube poderá voltar para ele, com descontos em produtos e serviços das empresas parceiras.

A intenção é alcançar os torcedores que não vão aos estádios, pois os programas de "sócio-torcedor", em regra, trazem como atrativo principal o direito a ingressos.

Trata-se de imensa oportunidade para que os clubes tenham maior atratividade e fidelidade na relação clube/fornecedor – torcedor/consumidor.

Como sócio-torcedor do Clube Atlético Mineiro (“Galo na veia”), no último domingo dirigi-me ao Supermercado Supernosso e, ao solicitar o desconto, fui informado que aquele caixa não estava concedendo descontos.

Havia, assim, dois erros.

O primeiro: a não concessão dos descontos; e, o segundo, a falta de informações acerca do problema.

Diante disso, efetuei reclamações pelo site “por um futebol melhor” e pelo Twitter. No dia seguinte, a AMBEV e o Supernosso me contactaram a fim de esclarecer a questão.

Extremamente positiva a preocupação no atendimento célere à reclamação do consumidor, basta agora aguardar a solução definitva.

Espera-se que os envolvidos permaneçam preocupando-se em atender aos anseios do consumidor, eis que tais medidas são indispensáveis para o sucesso do projeto e para o retorno aos clubes de futebol envolvidos.

Ponto para o Estatuto do Torcedor.
 

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br

 

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Posse de bola ou “toque de bola”?

As primeiras três resenhas apresentadas à Universidade do Futebol abordaram alguns temas que, juntos, formatam uma linha filosófica de trabalho no campo. As ideias discutidas representam parte da vertente metodológica do meu novo momento como treinador. A partir de agora, mencionarei mais detalhadamente sobre pontos táticos importantes do jogo.

O jogo brasileiro já foi recheado de troca de passes e por se acreditar tanto no “poder do toque de bola”, hoje mais comum e tecnicamente denominado “posse de bola”, o nosso futebol tinha ideia tática de jogo para os seus times. É incrível como a predominância de um grande conceito tático teve o poder de transformar e estigmatizar um jogo a ponto de fazer escola. Esse comportamento virou chancela brasileira no futebol internacional. Corria e encantava o mundo a fama do toque de bola do futebol brasileiro. Falava-se muito do jogador canarinho, mas também da “cadência” do nosso jogo.

Hoje isso se perdeu. Não temos toque de bola, ou posse de bola, e o jogo brasileiro se descaracterizou. Onde foi que erramos se é que podemos considerar que erramos?

Ao contrário do que muita gente pensa, a posse de bola eficiente e eficaz que alguns treinadores querem reimplantar ao jogo brasileiro não é a simples troca de passes sem objetivos e ou ofensividade. Tem de haver profundidade em suas intenções ainda que se comece e ou passe pelos lados do campo.

A posse de bola de valor que o futebol moderno já conhece e aplaude era o “toque de bola genuíno” que o jogo brasileiro praticava na época que não havia o êxodo dos grandes craques e nem a “ansiedade burra” imposta ao jogo de hoje. Agora, nossos jovens saem cedo do Brasil para dar qualidade ao jogo dos grandes clubes europeus.

Enquanto isso, a era do computador trouxe a exigência das respostas rápidas a tudo em nosso mundo. Inclusive no trânsito da bola em campo. O jogo que antes era articulado, agora é apavorado. Tudo em nome da velocidade e ou vitória. A bola que antes era trabalhada para chegar ao gol adversário agora deve estar lá de qualquer jeito, pois o importante é ganhar.

Efeito colateral disso: o jogo se perdeu, ou não existe mais jogo. Perdemos jogadores e o jogo! Aquele toque de bola que o técnico Pep Guardiola, então comandante do Barcelona, falou ter “copiado” para formar, talvez, o melhor jogo que o mundo já viu se perdeu para dar lugar a esse “jogo moderno” dos brasileiros.

Para resgatarmos o toque de bola canarinho será preciso alguns sacrifícios e ou sacrificados. É filosófico e verdadeiro. Algo muito forte terá de acontecer para mudarmos a mentalidade da comunidade da bola no Brasil e fazermos cultura de um novo e melhor jogo.

Pois bem, posse de bola é troca de passes sim: com qualidade; velocidade; de flanco a flanco às vezes, mas com profundidade, em direção ao gol adversário e com finalizações; etc. Só que hoje, para se alcançar esse nível de posse de bola é preciso resgatar no jogo brasileiro alguns conceitos perdidos: a técnica, a organização posicional que é base para o conjunto, o prazer pela troca de passes…

Perdemos a confiança e ou a necessidade de jogar com os companheiros. O “entorno” do jogo pressionou os jogadores e as equipes a jogar pra frente de tal forma que a “vitória é sempre o mais importante”, custe o que custar.

Talvez, por isso, estamos tendo mais derrotas que antigamente. Não encantamos mais o mundo, apesar dos ótimos jogadores que ainda temos. Não tenho dúvidas, nossa escola de talentos, a “escola de rua”, continua produzindo jovens habilidosos que se adequam perfeitamente aos padrões atuais do futebol. A escola brasileira de futebol, a que fomenta o jogo, é que precisa se modernizar e transformar o seu toque de bola em posse de bola.

É a mesma coisa, mas, é diferente. Assista aos jogos das seleções de 70 e 82, dois grandes ícones da qualidade do jogo mundial e o Barcelona de hoje. Causam o mesmo prazer, mas são diferentes. O “jogo brasileiro” caiu de moda. Somos uma “grande colcha de retalhos” quando o assunto são as táticas coletivas. Estamos nos emendando em verdades e mitos retrógrados que estacionaram o desenvolvimento na qualidade de treinos e jogo.

Sempre procuro oferecer os dois lados à discussão. Esse é o meu lado professor, que a cada ano que passa me faz acreditar que realmente escolhi a profissão que me cabe. Por isso, devo ser justo dizer que existe uma fatia considerável no mercado de treinadores brasileiros que está procurando mudar o estado de coisa em treinamentos e concepção de jogo.

Infelizmente, ainda não temos nossa profissão de treinador regulamentada, no país do futebol, e tudo é muito difícil para fazer valer algumas posições. Como vamos provar aos dirigentes, mídia e torcedores, por exemplo, que é preciso tempo para implantar um modelo de jogo em uma equipe de futebol profissional? Alguém tem a resposta? Se conseguíssemos resolver esta questão poderíamos eliminar muitos problemas do jogo brasileiro.

Mas, vamos falar do que interessa… O Barcelona da posse de bola e ou toque de bola ganha quase tudo com eficiência e eficácia. Mesmo com o “entorno” que cerca um clube e um time dessa envergadura. Reconheço que o perfil de jogo do Barcelona é cultura estabelecida com trabalho de mais de 20 anos. Desde os tempos de Cruiff e Rechack, seu auxiliar, além de alguns outros profissionais que lá se mantém desenvolvendo a metodologia de trabalho vigente.

Mas, será que existe mesmo um método de treinos que facilite esse processo? Que desenvolveu e continua desenvolvendo o jogo deles? Que seria capaz de ser transportado para o futebol brasileiro para colocá-lo de novo em sua direção? Posso garantir que há.

Existe uma metodologia de treinos afeita às características e necessidades do futebol brasileiro que está lá e pronta para ser usada. Trata-se da ampla abordagem da “metodologia sistêmica” de conceber e treinar o jogo. É entender e trabalhar o jogo como jogo evitando dissecá-lo para encontrar respostas aos fenômenos que só existem na complexidade do próprio jogo.

Êta coisa complicada!! Não há nada complicado! Essa metodologia é tão simples que permitiu aos teóricos complicá-la e a colocarem numa redoma de acesso limitado e aos práticos se assustarem e a rejeitarem.

Voltando mais uma vez ao toque de bola, convido a comunidade futebolística brasileira a começar reaprender a usar esta metodologia organizando o jogo pelo poder da posse de bola.

Vamos resgatar o toque de bola brasileiro. Não haverá “extracampo” que seja capaz de atrapalhar. Ainda que demoremos um pouco, vamos pegar o caminho certo e que já conhecemos: o caminho do toque de bola!!

Mudando o assunto sem sair dele… Em dezembro de 2012 tive a oportunidade de interagir com o alto nível de competência dos professores João Paulo Medina e José Guilherme de Oliveira. Assisti às suas aulas no Programa de Qualificação de Treinadores de Futebol – Licença A – da CBF-PUC-Minas.

Foram trinta saborosas horas e de muito ganho. Fui privilegiado ao curtir esses momentos. Quantas dúvidas puderam ser desfeitas a cerca da “periodização tática” no futebol, pano de fundo das explanações do Prof. Medina e tema central do Prof. José Guilherme.

Fui atraído ainda mais pelo tema, e só para deixar registrado, deixo aos leitores a impressão do Prof. José Guilherme, com a qual compartilho sem pestanejar: “Escola Brasileira de Futebol e Periodização Tática são um casamento perfeito. Nasceram uma para a outra.”

Estive na Espanha com o Atlético-PR disputando um torneio contra grandes equipes do Leste Europeu. As boas respostas que a nossa equipe deu em campo me fazem acreditar ainda mais nesta verdade. O futebol brasileiro é um gigante adormecido que precisa despertar para um jogo tático mais bem jogado.

Até a próxima resenha.

Para interagir com o autor: ricardo@149.28.100.147

 

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Posse de bola ou "toque de bola"?

As primeiras três resenhas apresentadas à Universidade do Futebol abordaram alguns temas que, juntos, formatam uma linha filosófica de trabalho no campo. As ideias discutidas representam parte da vertente metodológica do meu novo momento como treinador. A partir de agora, mencionarei mais detalhadamente sobre pontos táticos importantes do jogo.

O jogo brasileiro já foi recheado de troca de passes e por se acreditar tanto no "poder do toque de bola”, hoje mais comum e tecnicamente denominado “posse de bola”, o nosso futebol tinha ideia tática de jogo para os seus times. É incrível como a predominância de um grande conceito tático teve o poder de transformar e estigmatizar um jogo a ponto de fazer escola. Esse comportamento virou chancela brasileira no futebol internacional. Corria e encantava o mundo a fama do toque de bola do futebol brasileiro. Falava-se muito do jogador canarinho, mas também da "cadência" do nosso jogo.

Hoje isso se perdeu. Não temos toque de bola, ou posse de bola, e o jogo brasileiro se descaracterizou. Onde foi que erramos se é que podemos considerar que erramos?

Ao contrário do que muita gente pensa, a posse de bola eficiente e eficaz que alguns treinadores querem reimplantar ao jogo brasileiro não é a simples troca de passes sem objetivos e ou ofensividade. Tem de haver profundidade em suas intenções ainda que se comece e ou passe pelos lados do campo.

A posse de bola de valor que o futebol moderno já conhece e aplaude era o "toque de bola genuíno" que o jogo brasileiro praticava na época que não havia o êxodo dos grandes craques e nem a "ansiedade burra" imposta ao jogo de hoje. Agora, nossos jovens saem cedo do Brasil para dar qualidade ao jogo dos grandes clubes europeus.

Enquanto isso, a era do computador trouxe a exigência das respostas rápidas a tudo em nosso mundo. Inclusive no trânsito da bola em campo. O jogo que antes era articulado, agora é apavorado. Tudo em nome da velocidade e ou vitória. A bola que antes era trabalhada para chegar ao gol adversário agora deve estar lá de qualquer jeito, pois o importante é ganhar.

Efeito colateral disso: o jogo se perdeu, ou não existe mais jogo. Perdemos jogadores e o jogo! Aquele toque de bola que o técnico Pep Guardiola, então comandante do Barcelona, falou ter "copiado" para formar, talvez, o melhor jogo que o mundo já viu se perdeu para dar lugar a esse "jogo moderno" dos brasileiros.

Para resgatarmos o toque de bola canarinho será preciso alguns sacrifícios e ou sacrificados. É filosófico e verdadeiro. Algo muito forte terá de acontecer para mudarmos a mentalidade da comunidade da bola no Brasil e fazermos cultura de um novo e melhor jogo.

Pois bem, posse de bola é troca de passes sim: com qualidade; velocidade; de flanco a flanco às vezes, mas com profundidade, em direção ao gol adversário e com finalizações; etc. Só que hoje, para se alcançar esse nível de posse de bola é preciso resgatar no jogo brasileiro alguns conceitos perdidos: a técnica, a organização posicional que é base para o conjunto, o prazer pela troca de passes…

Perdemos a confiança e ou a necessidade de jogar com os companheiros. O "entorno" do jogo pressionou os jogadores e as equipes a jogar pra frente de tal forma que a "vitória é sempre o mais importante", custe o que custar.

Talvez, por isso, estamos tendo mais derrotas que antigamente. Não encantamos mais o mundo, apesar dos ótimos jogadores que ainda temos. Não tenho dúvidas, nossa escola de talentos, a "escola de rua", continua produzindo jovens habilidosos que se adequam perfeitamente aos padrões atuais do futebol. A escola brasileira de futebol, a que fomenta o jogo, é que precisa se modernizar e transformar o seu toque de bola em posse de bola.

É a mesma coisa, mas, é diferente. Assista aos jogos das seleções de 70 e 82, dois grandes ícones da qualidade do jogo mundial e o Barcelona de hoje. Causam o mesmo prazer, mas são diferentes. O "jogo brasileiro" caiu de moda. Somos uma "grande colcha de retalhos" quando o assunto são as táticas coletivas. Estamos nos emendando em verdades e mitos retrógrados que estacionaram o desenvolvimento na qualidade de treinos e jogo.

Sempre procuro oferecer os dois lados à discussão. Esse é o meu lado professor, que a cada ano que passa me faz acreditar que realmente escolhi a profissão que me cabe. Por isso, devo ser justo dizer que existe uma fatia considerável no mercado de treinadores brasileiros que está procurando mudar o estado de coisa em treinamentos e concepção de jogo.

Infelizmente, ainda não temos nossa profissão de treinador regulamentada, no país do futebol, e tudo é muito difícil para fazer valer algumas posições. Como vamos provar aos dirigentes, mídia e torcedores, por exemplo, que é preciso tempo para implantar um modelo de jogo em uma equipe de futebol profissional? Alguém tem a resposta? Se conseguíssemos resolver esta questão poderíamos eliminar muitos problemas do jogo brasileiro.

Mas, vamos falar do que interessa… O Barcelona da posse de bola e ou toque de bola ganha quase tudo com eficiência e eficácia. Mesmo com o "entorno" que cerca um clube e um time dessa envergadura. Reconheço que o perfil de jogo do Barcelona é cultura estabelecida com trabalho de mais de 20 anos. Desde os tempos de Cruiff e Rechack, seu auxiliar, além de alguns outros profissionais que lá se mantém desenvolvendo a metodologia de trabalho vigente.

Mas, será que existe mesmo um método de treinos que facilite esse processo? Que desenvolveu e continua desenvolvendo o jogo deles? Que seria capaz de ser transportado para o futebol brasileiro para colocá-lo de novo em sua direção? Posso garantir que há.

Existe uma metodologia de treinos afeita às características e necessidades do futebol brasileiro que está lá e pronta para ser usada. Trata-se da ampla abordagem da "metodologia sistêmica" de conceber e treinar o jogo. É entender e trabalhar o jogo como jogo evitando dissecá-lo para encontrar respostas aos fenômenos que só existem na complexidade do próprio jogo.

Êta coisa complicada!! Não há nada complicado! Essa metodologia é tão simples que permitiu aos teóricos complicá-la e a colocarem numa redoma de acesso limitado e aos práticos se assustarem e a rejeitarem.

Voltando mais uma vez ao toque de bola, convido a comunidade futebolística brasileira a começar reaprender a usar esta metodologia organizando o jogo pelo poder da posse de bola.

Vamos resgatar o toque de bola brasileiro. Não haverá "extracampo" que seja capaz de atrapalhar. Ainda que demoremos um pouco, vamos pegar o caminho certo e que já conhecemos: o caminho do toque de bola!!

Mudando o assunto sem sair dele… Em dezembro de 2012 tive a oportunidade de interagir com o alto nível de competência dos professores João Paulo Medina e José Guilherme de Oliveira. Assisti às suas aulas no Programa de Qualificação de Treinadores de Futebol –
Licença A – da CBF-PUC-Minas.

Foram trinta saborosas horas e de muito ganho. Fui privilegiado ao curtir esses momentos. Quantas dúvidas puderam ser desfeitas a cerca da "periodização tática" no futebol, pano de fundo das explanações do Prof. Medina e tema central do Prof. José Guilherme.

Fui atraído ainda mais pelo tema, e só para deixar registrado, deixo aos leitores a impressão do Prof. José Guilherme, com a qual compartilho sem pestanejar: "Escola Brasileira de Futebol e Periodização Tática são um casamento perfeito. Nasceram uma para a outra."

Estive na Espanha com o Atlético-PR disputando um torneio contra grandes equipes do Leste Europeu. As boas respostas que a nossa equipe deu em campo me fazem acreditar ainda mais nesta verdade. O futebol brasileiro é um gigante adormecido que precisa despertar para um jogo tático mais bem jogado.

Até a próxima resenha.

Para interagir com o autor: ricardo@universidadedofutebol.com.br

 

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Assentos marcados

Complementando a abordagem da semana passada, em que relatei a experiência de ir à inauguração do Maracanã no jogo Brasil x Inglaterra, gostaria de avançar sobre o debate (eterno) dos assentos marcados em estádios, que é uma realidade na Europa e deverá ser uma tendência nas novas arenas brasileiras.

Alguns críticos ou até mesmo uma parcela significativa do torcedor comum argumenta sob a ótica do "popular", que a existência de cadeiras marcadas tenderia ao aumento do ticket médio, afastando os espectadores de menor renda e, por tabela, as torcidas organizadas.

Estes argumentos são fruto de uma mudança cultural. Tal e qual se dizia que a proibição de fumar dentro de bares e restaurantes acabaria com o lucro destes empreendedores. Ou quando se transformou o cinema e o colocou em locais mais seguros, dentro de shoppings, com cadeiras mais confortáveis, serviços melhores e, naturalmente, ticket médio maior, fazendo com que as pessoas de menor renda tenham que esperar o filme ser exibido em TV aberta alguns anos depois da sua estreia no cinema.

Acompanhar jogos de futebol em um ambiente confortável, seguro e com bons serviços é um caminho sem volta. Ninguém mais terá saudade dos antigos estádios após experimentar os novos.

Mas há que se relevar um aspecto importante, o qual já fui mais resistente mas que agora vejo que é possível atender a diferentes classes sociais, com diferentes faixas de preços e serviços adequados para cada setor.

É o tal "Sistema do Avião", em que as pessoas podem partir de um mesmo ponto e chegar em outro, em um mesmo meio de transporte, com serviços diferenciados para quem pagou mais por isso – seja na poltrona mais espaçosa, reclinável ou atendimento de bordo diferenciado.

É o que faz o Borussia Dortmund, que reserva uma parte da arquibancada para a torcida organizada, sem cadeiras, que permite um espetáculo ímpar para quem frequenta o "Signal Iduna Park", registrando quase 100% de ocupação durante uma temporada regular em um estádio com capacidade para pouco mais de 80.000 espectadores.

A linha é esta. A mudança cultural precisa ser feita e, às vezes, ela é dolorosa. O importante de todo esse processo é melhorar a oferta para os torcedores e permitir que os clubes passem a explorar melhor o potencial das arenas em termos de receitas, procurando desvincular a relação direta de "Performance Esportiva x Taxa de Ocupação" do estádio.
 

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

 

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Lições do Superman para o futebol brasileiro

"Man of steel" ("Homem de aço"), novo filme protagonizado pelo Superman, chegará na próxima sexta-feira aos cinemas dos Estados Unidos (no Brasil, a previsão é que o longa seja lançado no dia 12 de julho). Antes da estreia, contudo, a obra dirigida por Zack Snyder (de "300" e "Watchmen") já serve como um compilado de lições para o futebol brasileiro.

O filme é a primeira aparição do icônico super-herói nas telas grandes desde “Superman Returns”, dirigido por Bryan Singer (“Os Suspeitos”, “X Men” e “X Men 2”) e lançado em 2006. Na época, a obra custou quase US$ 400 milhões, sofreu para arrecadar esse valor e colocou em xeque o futuro do “Homem de aço” nos cinemas.

Entre 2006 e agora, porém, a Marvel lançou uma série de obras de sucesso inspiradas em super-heróis. O maior exemplo foi o filme da equipe “Os Vingadores”, que chegou às telas em 2012 e amealhou US$ 1,5 bilhão mundialmente.

Histórias sedimentaram na DC Comics a ideia de levar aos cinemas um produto sobre a Liga da Justiça, grupo formado por heróis da editora. Não apenas pelo potencial global de arrecadação nas bilheterias, mas pela enorme quantidade de licenciamentos.

O novo filme de Snyder é um embrião disso. A missão do longa é revitalizar a franquia do Superman, e isso não representa apenas a pressão por um resultado consistente nas bilheterias. A meta é faturar.

O custo de produção de “Man of steel” ficou na casa dos US$ 225 milhões. Além disso, a Warner Bros. Colocou na produção outros US$ 150 milhões em campanhas de marketing.

Segundo o site “Advertising Age”, a produção do filme estima já ter recuperado mais de 75% do valor. “Man of steel” tem cem contratos de patrocínio ou placement, número recorde para o cinema.

Como o filme ainda não foi lançado, é cedo para fazer qualquer avaliação sobre a obra. Também seria igualmente precipitada uma projeção sobre o desempenho nas bilheterias. Mas já é possível dizer que há várias lições para o esporte nessa história.

A primeira dela é que nenhum dano de imagem é definitivo. Se fosse lançado logo depois do filme de Singer ou tivesse uma abordagem similar, o longa de Snyder sofreria muito com comparações – e com o fracasso – do antecessor. Nesse caso, a comunicação e o tempo tiveram papéis fundamentais para descolar uma obra de outra.

O segundo passo foi dar a franquia a um fã. Sempre que pode, Snyder mostra o quanto é interessado e o quanto entende da liturgia que envolve o Superman. Assim, as pessoas que admiram o personagem têm alguma segurança de que ele será retratado com respeito e precisão.

Além da recuperação da imagem e do respeito à história, o filme do Superman ensina ao futebol que ninguém pode ignorar o perfil do consumidor. A sociedade atual é diferente de quando o personagem foi criado, e os jovens de hoje são radicalmente distintos dos garotos daquela época. Eles mudaram o jeito de consumir informações, e isso criou novos paradigmas de heroísmo.

Até hoje, a franquia iniciada com “Superman”, obra dirigida por Richard Donner em 1978, é considerada o exemplo mais bem acabado de aparição do herói nos cinemas. Hoje em dia, porém, o filme ofereceria pouco para os jovens consumidores.

Outro ensinamento do novo Superman é a abordagem sistêmica, coisa que os heróis da DC nunca tiveram no cinema. Enquanto a Marvel criou um universo que comportasse todos os heróis e foi espalhando elementos disso pelos filmes até unir as pontas em “Os Vingadores”, “Man of steel” é o primeiro passo de um projeto que pode desembocar em “Liga da Justiça”. Pode.

Uma das razões do sucesso de “Os Vingadores” é que o filme sempre soube o que queria. Desde a concepção das aventuras individuais dos heróis, a Marvel colocou tudo a serviço de uma obra maior. Com isso, conseguiu resultados expressivos em todas as etapas.

No futebol brasileiro, é comum avaliarmos apenas o resultado. Um time é bom quando vence, e uma estratégia é eficiente quando funciona. Damos pouca atenção aos detalhes e aos processos. E aqui eu incluo imprensa, torcida e até profissionais do esporte.

A seleção brasileira comandada por Dunga era boa até a Copa do Mundo de 2010 porque vencia, ainda que usasse em demasia o contra-ataque, tivesse um repertório minguado e reservas em nível inferior ao dos titulares. A derrota para a Holanda nas quartas de final da África do Sul escancarou todos esses problemas.

Com Mano Menezes, o time era ruim porque não vencia. A seleção rejuvenesceu, passou a controlar mais a bola e mudou radicalmente a movimentação. A equipe passou a trocar mais passes laterais, mas ficou menos aguda e incisiva.

O time montado por Luiz Felipe Scolari, que no próximo sábado vai estrear na Copa das Confederações, é muito mais parecido com o de Dunga. Não pelos jogadores – a maioria foi convocada por Mano –, mas pela filosofia. É uma equipe que agride sem a bola, que produz retomadas em velocidade e que cadencia pouco.

No começo do trabalho de Mano Menezes, o colunista Tostão chegou a dizer que o Brasil vivia uma crise de esquizofrenia. Os jogadores eram moldados para o contragolpe e conviviam com essa ideia desde a base, mas atuavam em uma equipe que se propunha a ficar com a bola.

Sanada essa “crise existencial”, a seleção ganhou competitividade. E aí, pouco importa o que o Brasil vai produzir como “escola” ou “filosofia de jogo”. Quem avalia apenas o resultado não se preocupa com esse tipo de detalhe.

Não existe um jeito ruim ou um jeito bom de montar um time. Existem caminhos, e a escolha entre eles depende do que se quer atingir. Por isso, uma noção sobre o todo é tão relevante quanto uma análise sobre as minúcias.

O sucesso que o novo filme do Superman atingiu antes de ser lançado tem muito disso. A obra é abrangente, fala a diferentes perfis de públicos, atualiza um personagem clássico e tem uma série de ingredientes convidativos. Além disso, foi concebida como um produto, com um modelo de negócios que depende pouco do desempenho.

Isso soa como um acinte num momento de tantas más notícias para a mídia brasileira. Os últimos cortes foram cadernos da “Folha de S.Paulo” (o jornal acabou com “Ilustríssima” e “Equilíbrio”). A editora Abril fará uma redução ainda mais substancial, que pode atingir até 11 títulos, mas o processo ainda não foi totalmente anunciado.

Em alguns lugares isso é mais latente, mas o jornalismo ainda carece de um modelo de negócios mais eficiente. Não é possível que o faturamento esteja baseado no binômio formado por venda e anúncios.

O que o filme do Superman ensina, e que no cinema j&aa
cute; é até comum, é que o segredo é a criação de produtos. A bilheteria pode até não ser o ideal, mas a venda de cadernos, chaveiros, roupas e todo tipo de objeto alusivo ao personagem deve garantir a receita.

Aí cabe uma discussão para o futebol: de onde o futebol tira receita? Ela está atrelada ao desempenho, não apenas esportivo, mas de mídia ou de público? O futebol sabe se transformar em produto?

No Brasil, iniciativas de licenciamento e uso de marca ainda são produzidas fora de clubes e confederações. Há empresas que crescem muito nesse nicho, como Meltex e SPR, que gerenciam lojas e complementam estoques das equipes parceiras.

O que vira produto, porém, ainda é apenas o que esse tipo de empresa produz. O futebol não sabe transformar em produto o que tem de mais diferente, que é a emoção oferecida ao público. É algo que nem o cinema teria capacidade de fazer.

A reconstrução do personagem, o respeito à história, a preocupação com o consumidor, a abordagem sistêmica e a transformação em produto são bases para o sucesso precoce do novo Superman. Isso precisa ser assimilado urgentemente pelos profissionais do futebol brasileiro.

No caso do filme, ações simples de comunicação e gestão conseguiram dar fôlego a uma franquia que teve um percalço enorme há apenas sete anos. A situação talvez fosse mais grave do que qualquer crise de imagem de seleção ou clube.

A diferença é que no cinema eles tiveram tempo para esperar a poeira baixar e planejar direito. No futebol, a urgência e o perfil imediatista que imperam no Brasil fazem desse um exemplo bem distante. Talvez seja mais fácil esperar ajuda do Superman…

 

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

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Eduardo Tega apresenta parceria entre ABEX Futebol e Universidade do Futebol

A ABEX Futebol e a Universidade do Futebol pretendem desenvolver um curso aos executivos do Futebol. 11/6/2013
Confira o texto na íntegra

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Torcedores são indenizados por agressões de policiais

Em abril de 2009, em um dia de clássico Atlético-MG e Cruzeiro, os torcedores alvinegros, como de costume, concentraram-se em um posto de gasolina, próximo à entrada norte do Mineirão quando um carro com torcedores rivais passou pela avenida e foi alvo de vaias e ataques.

Em seguida, a polícia militar interveio no tumulto e um dos autores da ação caiu ao chão. Ao se levantar, ele foi até o policial dizendo que não havia necessidade de tanta violência.

Segundo consta nos autos, o policial ouviu a reclamação e desferiu golpes de cassetetes e coronhadas no torcedor, que estava com a família. O filho do torcedor também foi agredido e preso e sua filha, empurrada e ameaçada. Um quarto torcedor que passava pelo local, interveio e também agredido e conduzido para a viatura policial. Todos os fatos foram registrados por equipes de televisão.

A ação foi movida contra o Estado de Minas Gerais que apresentou contestação alegando que no dia do jogo havia um aglomerado de torcedores que estavam muito exaltados, ocupando a rua e intimidando os policiais.

Segundo a defesa, os torcedores disseram que tinham amigos na polícia militar e que iriam providenciar a expulsão do policial da corporação. Na defesa alegaram, também, que um dos torcedores desacatou o policial chamando-o de "tenente de merda", o que resultou na voz de prisão.

"Como reagiu à determinação, o policial teve que se defender", disse a defesa. Argumentou ainda que a PM estava agindo no estrito cumprimento do dever legal.

Valendo-se dos testemunhos, laudos do Instituto Médico Legal e de imagens de TV, o magistrado entendeu que o limite da legalidade foi extrapolado quando os agentes policiais partiram para as agressões.

Para a julgadora, os danos morais são devidos já que os torcedores se viram em situação vexatória e humilhante ao serem agredidos por policiais militares em público. Assim, condenou o Estado de Minas Gerais ao pagamento de R$ 30 mil a três torcedores e R$ 15 mil a uma torcedora.

Trata-se de decisão de Primeira Instância, ainda passível de recurso.

Vale destacar que a entidade organizadora e os clube mandante, nos termos do Estatuto do Torcedor possuem responsabilidade objetiva pelos danos sofridos pelos torcedores nas imediações do estádio.

Apesar de se tratar de decisão recorrível, agiu com acerto ao condenar o Estado de Minas Gerais ao pagamento de indenização por danos morais causados aos torcedores, eis que é dever do Estado assegurar a ordem e a segurança dos torcedores e qualquer ação ou omissão que importe em desrespeito aos seus direitos fundamentais são passíveis de punição.

 

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br

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A lesão no esporte, sua recuperação e o coaching: qual a relação entre eles?

Muitos são os atletas de futebol que passam por situações desconfortáveis com lesões graves ao longo de suas carreiras, temos exemplos de superação e também exemplos de encerramento da carreira esportiva por causa destas graves lesões.

Será que muitos atletas e profissionais envolvidos no futebol conhecem os impactos e reações psicológicas que se apresentam após a instalação de uma lesão. Mas, então, uma vez não conhecendo estas reações como então passar a conhecê-las?

Um dos modelos mais aceitos que explicam como um atleta reage a uma lesão é o modelo de grief reaction, proposto por Kubler-Ross (1969), no qual o atleta após constatada a lesão passa por cinco estágios emocionais:

1. Negação, o atleta não acredita que a lesão possa ter acontecido com ele e tende a negar-lhe a devida importância.

2. Raiva, o atleta pode tornar-se agressivo com as pessoas a sua volta.

3. Barganha ou negociação, o atleta tende a negociar consigo mesmo na tentativa de se recuperar mais rápido; passando a racionar, pensar e propor soluções na tentativa de evitar a realidade da situação.

4. Depressão, o atleta reconhecer a lesão e suas prováveis consequências; a incerteza sobre seu futuro se instala.

5. Aceitação e reorganização, o atleta aceita a lesão e passa a estar apto para o processo de reabilitação.

E como os treinadores podem ter um rápido diagnóstico sobre o atleta após a lesão?

Existe um Checklist proposto por Heil (1999) que possibilita a avaliação do ajuste psicológico do atleta. Este é dividido em duas partes, sendo que na primeira parte denominada observação procura-se observar fatores situacionais e pessoais que estejam relacionados a dificuldade de adaptação à lesão.

Na segunda parte, denominada atenção, o treinador deve-se manter atento a fatores que normalmente não são observáveis no início do processo, mas que também podem interferir na recuperação do atleta (figura 1).

 

Checklist de adaptação à lesão (Heil)

Observação

Situacional

·  Pouco envolvimento com a reabilitação;

·  Recaídas na reabilitação;

·  Baixa capacidade mental após o retorno à atividade física;

·  Incapacidade de melhorar a habilidade física.

Pessoais

·  Apatia ou tristeza, expressão de culpa por abandonar o time;

·  Medo excessivo em determinadas horas;

·  Excesso de confiança;

·  Dor.

Atenção

· Problemas pessoais;

· Problemas físicos;

· Incapacidade de traçar metas de desempenho realistas;

· Preocupação com a lesão, com incerteza da recuperação completa.

E agora??? Já compreendemos a importância das reações psicológicas e também como ter um diagnóstico sobre as reações do atleta. Mas, como promover um adequado e eficaz processo de reabilitação?

Com o objetivo de potencializar e facilitar o processo de reabilitação, podemos utilizar as várias técnicas de superação existentes e dentre elas podemos citar o estabelecimento de metas, auto conversação, o relaxamento e a visualização.

E é neste ponto justamente que entra o trabalho do Coach junto ao atleta, pois o profissional desta área experiente e capacitado tem plenas condições de promover a adequada aplicação das técnicas acima citadas num processos de coaching para apoiar na recuperação da lesão do atleta.

Vamos compreender um pouco mais destas técnicas de superação a seguir!

Estabelecimento de metas

O trabalho de Coaching promove o estabelecimento de metas congruentes com a realidade, com os valores e desejos do atleta, bem como com validade sistêmica na vida pessoal e profissional do atleta. Podem ser estabelecidas metas para retorno a prática esportiva, são cridos pontos de avaliação e também estágios de avanço menores do que a meta final, promovendo o avanço gradual em direção ao objetivo traçado e com o aumento da confiança e da capacidade de realização de tarefas por parte do atleta. Isso aumenta consideravelmente a auto estima do atleta durante o processo de recuperação.

Auto conversação

A adoção das técnicas de auto conversação é extremamente importante para que o atleta possa lidar com a redução da autoconfiança, desenvolvendo no atleta a capacidade de bloquear pensamentos negativos.

Visualização

As técnicas de visual
ização podem ser divididas em quatro grupos:

• Imagem de recuperação ou afirmação, na qual pode-se imaginar uma meta de reabilitação sendo atingida ou ainda imaginar um atleta conseguindo atingir todos os objetivos traçados;

• Imagem de cicatrização, neste caso é preciso uma imagem que represente a capacidade efetiva do corpo de se curar como por exemplo a recuperação de um atleta com uma fratura, que passa a imaginar o fluxo sanguíneo chegando até a área lesionada e produzindo a cicatrização.

• Imagem de tratamento, quando o atleta toma conhecimento dos mecanismos que ocorrem durante o tratamento e o atleta pode imaginar esses efeitos positivos acontecendo naquele momento da fisioterapia.

• Imagem de performance, face a incapacidade momentânea de praticar o esporte naquele momento, o atleta pode visualizar imagens que simulem a performance específica, isso pode auxiliá-lo no treinamento de situações presentes em treino e competição e também ajuda a manter a confiança.

Relaxamento

A utilização das técnicas de relaxamento são uteis no alívio da dor e do estresse, que frequentemente acompanham os quadros de lesões e sua recuperação. Um exemplo prático que podemos compartilhar trata-se de um programa de dois minutos proposto por Lindemann (1984), conforme abaixo:

• Inicialmente o atleta adota uma posição cômoda em um lugar tranquilo e agradável;
• Fecha os olhos;
• Desenvolve uma atitude positiva para o exercício;
• Concentra-se no seu próprio ritmo de respiração;
• A inspiração deve acontecer naturalmente;
• Após a inspiração o atleta começa imediatamente uma expiração profunda;
• Após a expiração, o atleta faz um pequeno intervalo (sem forçar);
• A relação entre o tempo de inspiração e expiração deve ser aproximadamente de três para cinco, respectivamente;
• O atleta deve manter o exercício por dois minutos;
• O atleta deve abrir os olhos e aplicar uma fórmula positiva de autoafirmação, com por exemplo: “Estou me sentindo muito tranquilo e pronto para o trabalho”.

Esta técnica pode ser utilizada antes da aplicação de uma das técnicas de superação mencionadas anteriormente neste artigo ou quando o nível de tensão estiver aumentado.

Bem, agora sabemos a relação entre a recuperação de uma lesão no esporte e o trabalho de coaching, certo? Desta forma, apoio nesta empreitada não falta. Então boa recuperação e conte com o trabalho de um bom coach.

 

Para interagir com o autor: gustavo.davila@universidadedofutebol.com.br