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De quem é mesmo a culpa?

Mais uma barbaridade. Mais uma história triste contada em inúmeros meios de comunicação (do Brasil e exterior) que remete ao nosso futebol. Novamente, o futebol brasileiro aparece nas páginas policiais. A morte do torcedor do Sport no jogo entre Santa Cruz e Paraná Clube na semana passada ao ser atingido por um “vaso sanitário” retirado do banheiro do Estádio do Arruda, em Recife, é mais uma que entra para as estatísticas perversas do futebol brasileiro.

Nas reportagens, o mesmo conteúdo, que tende a se repetir, infelizmente, por mais algumas vezes ainda neste ano nos campeonatos nacionais – sabe-se lá com que origem, com quais agremiações ou em qual cenário, mas com destino já sacramentado. Não se trata de uma previsão apocalíptica, apenas a constatação diante das atitudes que se costumam tomar.

Em termos de Justiça, a Desportiva é, de longe, a mais eficiente e rápida na punição a quem lhe cabe, que são os clubes (no caso citado, o Santa Cruz já perdeu mandos de campo e ainda poderá ser mais severamente punido com multas e outras sanções, seguindo os ritos processos do CBJD).

Mesmo assim, os clubes, diretamente interessados e afetados pelas barbaridades que ano após ano são acometidos em seus jogos (ou fora dele) parecem não se importar, ainda, com todo o circo que é montado sob sua marca e tutela pelas torcidas “organizadas” (ou marginais que se infiltram nestas entidades).

O mais impressionante de tudo isso é que, em pleno 2014, quem deveria zelar pela qualidade e entrega do espetáculo, bem como tentar evitar as consequências das punições que sofrem, não o faz. Já comentei, aqui na Universidade do Futebol, esta questão em outras situações no passado, da inércia dos clubes, que parecem ficar à margem de um problema tão complexo e crônico.

Como é comum, “terceiriza-se” o problema. Joga-se a culpa no governo e na polícia, que sabemos, não tem eficiência no tratamento de tantas outras questões que envolvem a segurança pública (enormemente demonstrada pelas estatísticas de criminalidade que assolam o país), quem dirá tratar com eficácia este tema igualmente complexo.

O mais impressionante é que, mundialmente, o tema segurança é tratado sim com enorme interesse por aqueles que “organizam e promovem o espetáculo esportivo”, em consonância, logicamente, com as leis e a Segurança Pública. Na sessão “The Big Debate” da revista Sport Business International (de março-2014, p. 74-75), há a explanação de ideias de especialistas e promotores de eventos para falar do assunto (na época, dialogando sobre a segurança ostensiva observada nas Olimpíadas de Inverno em Sochi). Por unanimidade, independente do tipo de evento, todos corroboram com a tese de que oferecer melhor segurança é fundamental para proporcionar uma atmosfera de evento mais positiva para o CONSUMIDOR.

Por aqui, ao tratarem como se o assunto “não pertencesse a eles”, parecendo ser “obra do acaso” ocorrer brigas generalizadas e mortes por força de uma partida de futebol, os clubes, ao negligenciarem um debate profundo, sério e definitivo sobre a violência, não deveriam ficar espantados com os números pífios de ocupação e frequência em seus estádios. Ora, para um espetáculo ruim e inseguro, quer se esperar uma atitude diferente de quem CONSOME?

Em síntese, não há como se terceirizar o problema. Há soluções já experimentadas em outras partes do mundo que servem de balizador no sentido de minimizar a violência em arenas esportivas, tendo sempre a colaboração e o interesse de quem organiza o espetáculo na construção de um projeto consistente. É preciso separar claramente as responsabilidades de “dentro do recinto esportivo”, pertencentes a quem promove o evento, para o que ocorre “do lado de fora”, que corresponde a ações regulares de segurança pública, somados a medidas de prevenção e de punição severa – ou melhor, o simples cumprimento da lei… 

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Futebol: a Uefa Champions League, as verdades absolutas, a posse de bola de Guardiola e os filósofos de Mourinho

A semana dos jogos de volta, da Uefa Champions League 13/14, foi muito interessante, especialmente pelas discussões geradas pelas derrotas e eliminações de Bayern de Munique e Chelsea FC.

Como é típico no futebol, a fronteira entre bons e maus, mestres e leigos, mitos e esquecidos, desapareceu quase que completamente em muitos dos debates construídos em função dos jogos Bayern vs Real Madrid, e Chelsea vs Atlético de Madrid.

Verdades sucumbem à novas verdades… “novas verdadeiras verdades” – por vezes nem tão novas, nem tão verdadeiras…

Pois bem.

Para escrever hoje sobre os jogos e alguns de seus personagens, e desenvolver a ideia central da redação que inicio aqui, vou recorrer a ajuda do trecho de um texto do professor Alcides Scaglia, publicado em 2007 na Universidade do Futebol (o título do texto é: “Quem diz a verdade no futebol?” – disponível em: https://universidadedofutebol.com.br/Coluna/7253/buscar ).

O trecho em questão, trata justamente da “VERDADE”.

Vejamos:

“Assim, imbuído sempre da atenção com o banal, a verdade (que é sempre banalizada no meio futebolístico), é algo que sempre me incomodou. Logo, só poderia mesmo me inquietar ao deparar-me com os três caminhos etmológicos da verdade.

O que se conhece por verdade possui três origens distintas: a grega, a latina e a hebraica.

ALETHEIA é verdade em grego, e diz respeito ao que não é oculto. Logo, ela é conhecida à medida que é desvelada. A verdade está posta, "determinada" por um padrão organizacional dependente da interação de suas estruturas internas. Cabe ao homem descobri-la, e entendê-la como ela é no mundo.

Em latim, verdade é VERITAS e significa o rigor do relato sobre alguma coisa. Desse modo, a verdade pode vir a ser conhecida por meio da rigorosidade do relato verdadeiro de um fato, ou seja, a verdade será corroborada após o fato.

Já, em hebraico, verdade é EMUNAH e diz respeito à confiança que uma pessoa tem em relação a fala de outra. Então a verdade é dependente de quem fala, e assim acredita-se que o fato relatado será verdadeiro, pois quem a professa é inquestionável.

Cada uma dessas três palavras traz um significado diferente, o que acaba "distorcendo" a verdade, evidenciando que a verdade verdadeira não existe, e que ela é sempre parcial”.

Pois bem.

Me pautando na ideia central do trecho do texto que separei, “a verdade verdadeira não existe”, “ela é sempre parcial”, e está enviesada por uma série de aspectos que nascem dos ambientes que vivemos, da cultura em que estamos imersos.

Então, é possível e provável, na observação de mesmos fenômenos pseudoparametrizados e de mesmos fenômenos não parametrizados, que diferentes observadores tenham diferentes percepções, conclusões e verdades.

O jogo de futebol é um fenômeno que apesar dos estudos, da disseminação de conceitos que o envolve, e também dos seus parâmetros (construídos lentamente), permite e incentiva culturalmente o empirismo, o sem número de percepções, conclusões e verdades.

E eu como não sou dono dela, mas podendo justificar possíveis erros em minhas conclusões por sua parcialidade (parcialidade da verdade) e pelo fato de que ela, a verdade, não existe, vou então me arriscar com algumas opiniões sobre os jogos de volta das semifinais da UEFA Champions League 13/14.

O Bayern foi no placar, “atropelado” pelo Real Madrid.
Bayern de Guardiola e de muitos talentosos jogadores, contra o Real Madrid de Carlo Ancelotti e outros tantos “craques”.

Do lado do time espanhol, mudanças na organização defensiva e ofensiva da equipe, com relação a maneira de jogar do ex-Real de Mourinho. Mais maleável sob o ponto de vista estrutural e com referências zonais diferentes, o Real Madrid de Ancelotti sofreu pouco contra o time alemão. Teve pouco a bola sob sua posse efetiva ou transitória, mas quando a teve cuidou bem dela.

Até aí, tudo muito óbvio.

O não óbvio foi a derrota tão avassaladora e a dificuldade de criar jogadas de perigo por parte do Bayer de Munique.

E por mais que me digam, contrariamente, que até isso foi óbvio, vou me permitir discordar.

Assisti a todos aos jogos do Bayer que foram transmitidos pela TV nessa temporada 13/14. E foram muitos! E talvez sim, nos últimos 8 jogos especialmente, a equipe alemã tenha gastado muito mais energia para construir sequências ofensivas que potencializassem suas chances de marcar um gol, do que no início da temporada – mesmo assim, vinha de certa forma conseguindo.

A posse de bola com fim nela mesma (ainda que eu discorde disso! – ela jamais deve ter fim nela mesma!) apresentava alternativas de risco contra os adversários – tanto que fazer gols, até então, não vinha sendo um grande problema.

Vencer ou perder faz parte do jogo, e sob o ponto de vista estratégico, o próprio Pep Guardiola na coletiva de imprensa pós segunda partida, admitiu ter falhado.

E ter falhado como treinador sob o ponto de vista estratégico não significa, evidentemente, abrir mão daquilo que considera essencial sob o ponto de vista organizacional, para sua equipe jogar: ter a bola.

E nisso teremos, querendo ou não, que concordar: não na essencialidade da posse da bola, não; mas no fato de que o treinador Josep Guardiola, conseguiu de certa forma, operacionalizar o jogar de sua equipe de acordo com aquilo que acredita ser essencial!

Não podemos negar que o Bayer de Munique atual assumiu características do Barcelona de Guardiola.

E por mais que não pareça, isso é fantástico, especialmente porque muitas vezes somos convencidos pela ideia de que grande parte dos aspectos das partidas de futebol são orientados pelo acaso!

O próprio Guardiola, muitas vezes, foi colocado em dúvida quando treinava o FC Barcelona – “qualquer um poderia fazer aquele time jogar daquela maneira” (desmerecendo o trabalho do treinador) – e pudemos acompanhar o que aconteceu…

O que quero dizer, com isso tudo é que podemos questionar as estratégias assumidas pelo Bayern para enfrentar o Real Madrid; podemos questionar o modelo de jogo concebido como ideal por Josep; mas que o “efeito treinador” construiu um novo (e não necessariamente melhor) jogar para a equipe alemã, penso que não podemos questionar.

E qual o mérito nisso?

O de que o trabalho faz diferença!

Parece óbvio? Mas acreditem, no futebol não é!

Isso vale para Carlo Ancelotti e Real Madrid, Diego Simeone e Atlético de Madrid, e José Mourinho e Chelsea FC.

Treinadores bem preparados e com estrutura de pessoal, de clube e de calendário para treinar, farão diferença para seus jogadores e para suas equipes! E talvez isso, n
esse momento é o que está “pesando” contra José Mourinho.

De “herói” da imprensa especializada por montar defesas impenetráveis, à vilão, da mesma imprensa, incapaz de compreender porque um time caro e com bons jogadores, “abdica” do jogo para se aproveitar de contra-ataques.

Também, na essência, não sou capaz de compreender, mas por um motivo fácil de aceitar: não estou no dia-a-dia do Chelsea FC, vivendo seus treinos, seus problemas e suas virtudes.

Porém, em minha lógica de percepção, na minha parcial verdade, não posso esquecer que estamos falando de um treinador muito bem sucedido, em países diferentes, com jogadores de culturas diferentes e em diferentes competições (que deve ter uma excelente percepção daquilo que faz).

Não posso me esquecer que o contra-ataque também é do jogo, e não uma “abdicação” do mesmo.

Então, ainda em minha lógica de percepção, é mais fácil aceitar (minha verdade) que José Mourinho deve estar considerando coisas que não podemos observar – não por incompetência, mas por estarmos “fora do círculo” Chelsea FC.

Não estou eu aqui, a defender José Mourinho e/ou Josep Guardiola; afinal de contas o que vale no futebol é a vitória, e tanto um, quanto o outro perderam.

Estou aqui a defender a ideia de que nossas percepções podem falhar… Não por nossa “culpa”, mas sim por causa das nossas verdades, que por vezes sem nos darmos conta, nem nossas são…

Por isso estou quase certo: é só esperamos a próxima vitória, e tudo, mais uma vez, deverá mudar… 

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Entrevista Tática – Guilherme Almeida, zagueiro do Verdy Tokio-JAP

Com o auxílio do treinador Rodrigo Bellão, companheiro de trabalho e com muita experiência em categorias de base, publico a coluna desta semana.

O atleta entrevistado teve boa parte de sua formação na Portuguesa-SP e, atualmente, defende o Verdy Tokyo pela segunda divisão do futebol japonês.

Ao longo da entrevista, algumas informações que confirmam aquilo que recorrentemente discutimos, como a importância do futebol de rua para a formação e a velocidade de jogo em outros centros, superior ao jogo brasileiro. Confira:

1 – Quais os clubes que você jogou a partir dos 12 anos de idade? Além do clube, indique quantos anos tinha quando atuou por ele.
Aos 13 comecei a jogar na Portuguesa-SP e fiquei lá até aos 17, quando me transferi para o Palmeiras-SP e joguei por dois anos. Com 19 anos fui para o São Paulo-SP e com 20 para o Avaí-SC. Hoje estou com 21 anos e jogo no Verdy Tokyo, do Japão.

2 – Para você, o que é um atleta inteligente?
Creio que existem vários conceitos para ser um atleta inteligente. Um deles é ter a mentalidade que nunca sabemos de tudo, que precisamos aprender a cada dia. Aquele que consegue absorver o máximo de aprendizado de cada dia de trabalho e no nosso caso a cada dia de treino.

3 – O quanto o futebol de rua, o futsal ou o futebol de areia contribuiu para a sua formação até chegar ao profissional?
O futebol de rua com certeza me ajudou muito, pois a minha infância toda foi ralando os dedos no asfalto. Isso me deu uma “malandragem” boa no “mundo da bola”. Já o futsal foi onde comecei a dar os primeiros passos até descobrir que era no campo que ia me encontrar como jogador.

4 – Em sua opinião, o que é indispensável numa equipe para vencer seu adversário?
Acredito que todos os jogadores, independentemente se titulares ou reservas, terem a mesma vontade, o mesmo entendimento tático, todos (como usamos no mundo do futebol) “comprarem a ideia do treinador”, se dedicarem a ela, e acreditarem que vai dar certo se tiver o entendimento e a entrega do grupo todo. Os talentos individuais, que decidem uma partida, só aparecem se o time estiver bem durante um jogo.

5 – Quais são os treinamentos que um atleta de futebol deve fazer para que alcance um alto nível competitivo?
Acho que individualmente treinar ao máximo em cima das dificuldades. Digo por mim que tinha dificuldades para usar a perna esquerda e me dediquei a treinar e hoje tenho facilidade para usar a mesma. Essa questão também se enquadra em uma das perguntas anteriores sobre ser um atleta inteligente. Trabalhar em cima dos “defeitos” também é uma qualidade de jogadores inteligentes!

6 – Para ser um dos melhores jogadores da sua posição, quais devem ser as características de jogo tanto com bola, como sem bola?
Ao meu ver, para ser um bom zagueiro é preciso ter uma boa saída de bola, conseguir sair da pressão com qualidade de passe e ter um bom cabeceio. Sem a bola ter uma boa recomposição e entender bem as movimentações das linhas, tanto a de trás como a da frente. E, é claro, ter o extinto de defensor: de se entregar na marcação para evitar a dádiva do futebol que é o gol.

7 – Quais são seus pontos fortes táticos, técnicos, físicos e psicológicos? Explique e, se possível, tente estabelecer uma relação entre eles.
É sempre difícil falar de si, mas por ter jogado de meio-campista e volante por um bom tempo tenho uma boa qualidade de passe. Taticamente, consigo entender bem as movimentações e mudanças de posição. Como não sou um zagueiro de força supro isso com a inteligência, concentração e outros quesitos.

8 – Pense no melhor treinador que você já teve! Por que ele foi o melhor?
Eu tive vários treinadores bons, mas teve um que marcou pois ele ajudou muito no meu crescimento. Ele me apontava os defeitos, me fazia trabalhar em cima deles e me ensinou a usar a minha inteligência ao meu favor. Ele era calmo, não usava palavrões, não gritava e não usava essas “armas” que normalmente são usadas por treinadores e que são comuns no futebol. Mesmo assim ele tinha o grupo nas mãos! Fez um time que não era tão bom tecnicamente, se entregar na parte física e tática e chegar a uma semi final de campeonato, onde poucos acreditariam que chegássemos

9 – Você se lembra se algum treinador já lhe pediu para desempenhar alguma função que você nunca havia feito? Explique e comente as dificuldades.
Na minha trajetória já joguei em varias posições. Comecei de meia, depois volante e hoje zagueiro. Nunca tinha jogado de lateral direito e teve um jogo que precisei fazer essa função. Nosso lateral foi expulso, tínhamos feitos as três substituições e precisei jogar. Com um jogador a menos mais defendi do que ataquei, mas por orientar demasiadamente o meu lateral direito quando jogo de zagueiro eu sei o que ele tem que fazer. Então não tive muita dificuldade para exercer essa função, só fiquei um pouco mais cansado, pois lateral corre demais.

10 – Qual a importância da preleção do treinador antes da partida?
A preleção é de suma importância, pois são acertados detalhes sobre o que faremos dentro de campo principalmente taticamente. Muitos confundem preleção com motivação. Eu discordo, pois se um jogador está no vestiário pronto pra entrar em campo e está desmotivado ele não é um jogador de futebol. Creio que não é preciso motivar nenhum jogador de futebol para jogar!

11 – Quais são as diferenças de jogar em 4-4-2, 3-5-2, 4-3-3, ou quaisquer outros esquemas de jogo?
Na minha posição muda a movimentação da linha, o jeito de se fazer coberturas, muda o modo de fechar para ser atacado, muda o jeito de subir a linha e dar o apoio para que outro jogador saia para dar combate.

12 – Comente como joga, atualmente, sua equipe nas seguintes situações:
• Com a posse de bola;
• Assim que perde a posse de bola;
• Sem a posse de bola;
• Assim que recupera a posse de bola;
• Bolas paradas ofensivas e defensivas

Com a bola somos muito agressivos e sempre procuram o jogo pra frente. Quando perdemos a bola a pressão é muito forte sobre a bola independente em que parte do campo ela se encontra. Quando recuperamos a posse, o primeiro objetivo é sempre pra frente, sempre procurar o gol.

Pecamos um pouco nas bolas paradas no começo do campeonato, mas estamos treinando forte em cima disso e já houve melhoras nos últimos jogos.

13 – O que você conversa dentro de campo com os demais jogadores, quando algo não está dando certo?
Procuramos achar o erro para acertar, pois quando conseguimos diagnosticar o que está err
ado é mais fácil acertar. Complica quando não conseguimos achar o erro, ou então, quando conseguimos achar tarde demais e o placar já está desfavorável.

14 – Como você avalia seu desempenho após os jogos? Faz alguma reflexão para entender melhor os erros que cometeu? Espera a comissão técnica lhe dar um retorno?
Eu sou um jogador que me cobro muito e procuro sempre corrigir o que errei e trabalhar em cima do que acertei para continuar acertando. Normalmente eu vou atrás dos DVD’s dos jogos para que eu tenha a visão de quem está de fora, que é totalmente diferente da nossa que estamos lá dentro.

15 – Para você, quais são as principais diferenças entre o futebol brasileiro e o europeu? Por que existem estas diferenças?
Vou comparar com o futebol japonês que é onde estou hoje. O futebol brasileiro é mais cadenciado, mais técnico, é um futebol mais bonito e mais clássico. Aqui no Japão o jogo é muito corrido, é o tempo todo em velocidade e com muita pressão sobre a bola. Não sei falar ao certo o porquê exatamente existem estas diferenças. Temos muito que aprender com eles e com certeza eles têm muito mais que aprender com nós, brasileiros, pois somos o pais do futebol independente de qualquer coisa.

16 – Se você tivesse que dar um recado para qualquer integrante de uma Comissão Técnica, qual seria?
Eu acho que comissão técnica tem que ser um amigo e não um inimigo do atleta. Tem que saber separar as coisas, saber a hora de cobrar severamente e a hora de conversar e saber o que está passando na cabeça do jogador. Ser jogador de futebol é uma mistura de sentimentos muito grande. Eu não vejo outra profissão que tenha esta mistura, pois você se sente ansioso, feliz, triste, motivado, preocupado, nervoso, tranquilo, cobrado, etc. Esta mistura de sentimentos às vezes atrapalha se não tiver pessoas para dar o suporte necessário. Nem sempre o jogador de futebol entende as coisas através de gritos, broncas e palavrões. As vezes uma conversa individual com um jogador pra mostrar onde ele pode evoluir é muito mais produtiva. Gostaria de dizer também que se a ele entregamos a confiança de conduzir nosso trabalho, esperamos que ele nos ajude a evoluir para que juntos possamos crescer, pois quando se ganha todos ganham e quando se perde todos perdem, inclusive a comissão.

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Copa do Mundo: tem que dar certo

Há 7 anos quando o Brasil (pediu) e conquistou o direito de organizar a Copa do Mundo de Futebol, o povo comemorou e o coração do brasileiro se encheu de ufanismo.

Eu nunca imaginaria que há menos de 50 dias para o Mundial, o pessimismo e o anticlímax nos roubassem o orgulho e o ufanismo.

Pululam movimentos e manifestações sob o slogan “não vai ter Copa”.

Esses movimentos estão sete anos atrasados, eis que eventuais manifestações contrárias deveriam ter sido realizadas quando o país se candidatou e não agora.

Naquele momento todos os movimentos sociais estavam animados com a ascensão ao Poder de um metalúrgico e estimulados pelo crescimento econômico-social quedaram inertes.

Agora, sete anos depois, criticam a Fifa como culpada pelo Brasil ser sede, pelos atrasos, pelos gastos, enfim, por tudo…

Se é que há um culpado, este culpado é o Governo Lula que teve índices recordes de aprovação e reelegeu sua, até então desconhecida, candidata.

Que precisamos de hospitais, escolas, segurança e infraestrutura não é novidade. Aliás, já era conhecido em 2007, mas, naquele momento, sobraram aplausos.

O Brasil que pediu à Fifa para organizar o Mundial, não houve imposição e as exigências legitimadas na Lei Geral da Copa foram aceitas pelo país ao candidatar-se, repita-se, por opção, no livre exercício do seu Poder Soberano de escolha.

Sob o ponto de vista jurídico, nos termos do artigo 6º da Constituição da República, o lazer é tão direito social quanto educação, moradia, saúde ou segurança.

Agora, deixemos de falar da metade vazia do copo e passemos à parte cheia.

A Copa do Mundo desencadeou a implementação da infraestrutura aeroportuária e de mobilidade urbana. As doze cidades que receberão os jogos tornaram-se um verdadeiro canteiro de obras.

O Brasil passou a ser notícia no mundo em virtude de seu potencial turístico. O “The New York Times”, por exemplo, tem veiculado matérias com atividades em 36 horas nas cidades-sede. Uma publicidade turística sem precedentes.

Temos um enorme potencial turístico adormecido, especialmente, se levarmos em consideração que a cidade de Cancún, no México, sozinha, recebe mais turistas que todo o Nordeste brasileiro.

O Mundial aumentou em 88% o turismo na Alemanha e, na África do Sul, 94% dos turistas mudaram sua concepção do país e recomendaria a visita.

Ademais, a Copa do Mundo injetou R$ 7 bilhões na economia alemã e R$ 22,3 bilhões na África do Sul, sendo que, no país africano o evento significou o acréscimo de 1% em seu PIB.

Ou seja, o Mundial pode devolver os investimentos realizados, basta que o Poder Público faça uma boa gestão dos seus resultados.

E para isso, mais importante do que criticar o evento, o cidadão brasileiro deverá dispor da maior ferramenta democrática, o voto, em outubro.

Movimentos contrários à Copa do Mundo neste momento não terão qualquer efeito prático, eis que o Mundial irá acontecer com ou sem eles.

O nosso papel agora é criar uma onde verde-amarela positiva, pintar o rosto, a rua, a casa, encher o peito e o coração de orgulho porque organizaremos o maior evento esportivo do Mundo.

A cada dia a expectativa aumenta e o coração bate mais forte e com todos os problemas existentes, temos que realizar um evento magnífico.

Não há mais tempo para volta, a palavra está empenhada e os investimentos foram feitos. Agora, batalhemos para colher os frutos.

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Um dos legados de Senna

Hoje esta coluna traz de certa forma uma homenagem e um reconhecimento a um atleta que apesar de não ser do futebol, foi ídolo nacional: Ayrton Senna.

Seu legado é maravilho, tanto no aspecto profissional quanto no aspecto social.

Quero comentar sobre um estado de plenitude que o atleta pode alcançar e que Ayrton conseguiu atingir durante sua carreira. Podemos perceber isso claramente numa declaração sua após um treino de classificação para o Grande Prêmio de Mônaco em 1998. Após ter feito algumas voltas de classificação absurdamente rápidas, Ayrton Senna deu a seguinte declaração:

“Eu já estava na pole e continuava a andar cada vez mais rápido. Uma volta atrás da outra, cada vez mais rápido. Em certo momento eu estava na pole, então tirei meio segundo, e então um segundo, e eu continuava assim. De repente eu era dois segundos mais rápido que todos os outros, inclusive meu companheiro de equipe com o mesmo carro. E de repente percebi que não estava mais pilotando o carro conscientemente.

Eu estava pilotando meio que por instinto, mas eu estava numa dimensão diferente. Era como se estivesse em um túnel. Não apenas no túnel debaixo do hotel, mas o circuito inteiro era um túnel. Eu continuava pilotando, cada vez mais. Eu estava muito além do limite mas eu ainda conseguia encontrar algo a mais.”

Essa sensação ricamente relatada por Ayrton é um exemplo real do que podemos definir como um estado de Flow. Um de seus legados foi a sua capacidade de estar em Flow e como este estado lhe proporcionou sempre atuar em alta performance e obter resultados extraordinários no esporte.

No futebol, pode-se aprender com esse exemplo real do estado de Flow. Esclarecendo um pouco mais, este é um estado mental de operação em que a pessoa está totalmente imersa no que está fazendo, caracterizado por um sentimento de total envolvimento e sucesso no processo da atividade. Proposto pelo psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi, este conceito tem sido utilizado em uma grande variedade de campos, inclusive no esporte.

Mihaly afirmava que “você fica em um estado de êxtase de tal modo que sente que nem se quer existe mais.” Em suas pesquisas ele entrevistou diversas pessoas e percebeu que existem elementos comuns que indicam como atingir este estado de foco absoluto: envolvimento completo no que se faz, sentimento de êxtase, sensação de estar fora da realidade, clareza interna sobre o que e como fazer, sensação de serenidade e motivação.

O estado de fluxo pode ser reconhecido facilmente quanto estamos concentrados numa tarefa, que muitas vezes nem prestamos atenção no que acontece ao nosso redor. Ao atingir este estado o atleta apresenta uma performance que pode traduzir como a excelência de toda sua capacidade. Quando estamos em Flow a experiência que temos pode-se comparar com o que os orientais definem como “Nirvana”, tomamos decisões eficazes e eficientes, utilizando adequadamente todos os recursos que possuímos.

Para obter um bom estado de Flow é necessário o ajuste adequado entre a complexidade da atividade, a nossa capacidade e o valor que atribuímos ao nosso trabalho. Na prática o Flow pode ser identificado quando o atleta sente-se num estado de:

• Absorção pela tarefa/situação;
• Motivação intrínseca;
• Energia positiva;
• Felicidade;
• Sintonia entre corpo e mente;
• Ausência de noção de tempo;
• Conscientização e sucesso;
• Sentimento de recompensa.

Penso que o futebol é repleto de situações nas quais os atletas podem atuar de maneira tão concentrada a ponto de atingirem o estado de Flow, as situações são cada dia mais estressantes devido à pressão por bons resultados constantemente e por conquistas em todas as competições que os clubes disputam.

Esse legado da prática de sua atividade esportiva no máximo de sua capacidade e excelência serve de inspiração para os atletas de futebol busquem atingir seus estados de Flow e um bom Coach pode contribuir fortemente com a aplicação de um processo que promova o aprendizado e o desenvolvimento de novos estados de Flow por parte dos atletas profissionais.

Até a próxima e obrigado Ayrton Senna!