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Futebol: Um Negócio da China?

Depois que Mano Menezes assumiu o Cruzeiro, o clube saiu de uma periclitante situação e quase conquistou uma vaga para a Libertadores.
Aliás, tem se falado do Tite, mas o trabalho realizado por Mano Menezes no Cruzeiro foi tão incrível que deixou a torcida animada com 2016.
Entretanto, o treinador celeste recebeu uma proposta milionária e irrecusável de um clube chinês e deixará o Clube. Situação semelhante foi vivida pelo Atlético em 2013, quando Cuca, pouco antes do Mundial de Clubes, acertou sua ida para a China.
Mano Menezes irá se juntar a uma série de treinadores, caso de Felipão, que trabalham no “novo eldorado” do futebol mundial.
Criada em 2004, a Superliga Chinesa tem sido sucesso de público com uma média superior a 22 mil torcedores por partida.
Além disso, a Superliga Chinesa tem faturado alto com patrocinadores que, inclusive, fazem o “naming right” da competição.
Os salários pagos pelos clubes chineses têm sido muito maiores do que os oferecidos na Europa. Assim, muitos dos jogadores mais bem pagos do mundo estão atuando na Superliga Chinesa, como são os casos de Diego Tardelli e Ricardo Goulart.
Tal sucesso é fruto de uma administração profissional e na atenção ao conforto exigido pelos torcedores.
Dessa maneira, o Brasil começa a perder seus craques e grandes treinadores não mais para os gigantes europeus, mas para a jovem liga chinesa.
A China está dando um show fora das quatro linhas e não será surpresa se, em breve, clubes chineses começarem a dar trabalho no Mundial de Clubes.

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Ministério e Universidade do Futebol promovem seminário para discutir plano diretor do futebol

O secretário nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor, Rogério Hamam, participou nesta quarta-feira (02/12), em São Paulo, do Seminário de Avaliação do Futebol Brasileiro, promovido pelo Ministério do Esporte e pela Universidade do Futebol. Cerca de 80 convidados, dentre ex-jogadores, técnicos, pesquisadores, juristas, jornalistas e representantes de instituições ligadas à modalidade, participaram dos debates para avaliação do setor e elaboração de um plano diretor do futebol, que irá propor estratégias para o desenvolvimento do futebol.
Os participantes foram divididos em dez grupos para analisar o cenário atual e pensar as possibilidades de melhorias para o esporte. Foram abordados temas como calendário, controle orçamentário, legislação e perspectivas do futebol. Ao final do encontro, todas as ideias foram apresentadas e serão encaminhadas como sugestões para a elaboração do plano diretor.
Confira o texto na íntegra clicando aqui

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A judicialização do esporte

Por vezes, a grande maioria dos debates em torno da gestão do esporte se dá pelo questionamento sobre o dinamismo das entidades esportivas no sentido de promover e desenvolver suas atividades em parâmetros mais próximos do mercado de entretenimento. O que vemos é um ambiente extremamente burocratizado, em que as entidades colocam em prática processos morosos de trabalho no seu contexto de gestão.
Fiz uma pesquisa rápida para identificar o perfil dos presidentes dos 20 clubes da Série A para verificar se poderíamos encontrar algum indício dos “porquês”. Fiquei restrito à profissão (e, aqui, cabe um GIGANTESCO PARÊNTESES: não pretendo defender reserva de mercado para a Profissão A em detrimento à Profissão B. Acredito em competências e, por conta disso, independente da formação básica, o que importa na condução de uma organização está ligado muito mais com a inteligência de gestão do que propriamente com o nível de graduação ou especialização acadêmica).
No entanto, o que chamou a atenção foi que 65% dos presidentes (ou 13 em 20) têm formação na área do direito. O número chama muito a atenção, especialmente para uma reflexão sobre como são os processos de condução ao poder, que é sabidamente extremamente regulamentado.
Essa constatação, a bem da verdade, não é nova. Muitos artigos científicos atestam sobre um perfil similar em muitas entidades de prática ou administração do esporte. A grande questão é: para avançarmos com as mudanças necessárias, tão propaladas por inúmeros especialistas, será que não estamos esbarrando em organizações fortemente amparadas por procedimentos jurídicos? Para mudar, precisa de mais leis ou mais projetos e ações? Quem está apto a fazer, propor e implementar os melhores projetos e ações em prol do futebol?
As dúvidas ficam no ar justamente para gerar melhores reflexões e debates. Não parece haver resposta pronta, certa ou errada. O fato é que necessitamos de uma discussão bem mais profunda, com boa base analítica, para poder contribuir com o alcance de todo o potencial de negócios que se vislumbra no futebol brasileiro.

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Lições da carta de despedida de Kobe Bryant

A aposentadoria de um grande nome do esporte é sempre um momento significativo. Em poucas vezes, contudo, o ocaso de uma estrela é tão didático quanto o de Kobe Bryant, 37. O astro do Los Angeles Lakers, time que disputa a NBA (liga profissional de basquete dos Estados Unidos), anunciou no último domingo (29) que vai deixar as quadras depois da atual temporada, a 20ª dele como profissional. E o esporte brasileiro tem muito a aprender com isso.
Bryant escolheu para o anúncio um site chamado “The Players Tribune” (“A tribuna dos jogadores”, em tradução livre). Criado por Derek Jeter, ex-atleta do New York Knicks, o portal tem propósito de estreitar a distância entre os esportistas profissionais e seus fãs. Não é preciso fazer uma leitura aprofundada para notar a qualidade dos textos, quase todos escritos em primeira pessoa.
Agora tente imaginar um produto similar no Brasil. Quais atletas poderiam escrever textos pessoais e pertinentes sem cair no discurso laudatório dos “boleiros” que têm dominado a TV fechada no país?
A formação de atletas no Brasil negligencia fortemente o senso crítico e a relação com o público. Há iniciativas de patrocinadores ou de equipes de comunicação, mas faltam projetos mais abrangentes e amplos. Neymar apoiou o candidato Aécio Neves na última eleição presidencial (e aqui não entra qualquer julgamento sobre a escolha), mas quais foram as reais contribuições que o jogador de futebol deu para qualquer discussão? O mais próximo que ele chegou disso foi dizer que não se considera negro.
Atletas são jovens, e jovens podem não ter o discernimento necessário para se posicionarem sobre diferentes temas. No entanto, se não houver um suporte adequado, a idade será sempre apenas uma desculpa para a falta de cultura ou de perspectiva de mundo.
Afinal, quais são os atletas brasileiros que têm visão crítica sobre o mundo atual? Quais falam sobre política ou conseguem aproveitar o potencial de influência que o esporte oferece para transformar de alguma forma positiva a sociedade em que estão inseridos?
Não é apenas uma questão de perfil, de falta de fórum ou de eles não serem as pessoas mais indicadas. A discussão é: quais atletas são preparados para isso? Quais conseguem usar o poder de influência para algo maior do que vender calçados ou disseminar cortes de cabelo?
O site escolhido por Kobe é apenas parte da lição que ele ofereceu. O maior ensinamento, na verdade, é o teor da carta. O jogador fez uma declaração de amor ao basquete, esporte que escolheu como meio de vida. É um texto contundente, extremamente emotivo, que mostra claramente o quanto aquilo é relevante para ele.
E aí cabe mais uma comemoração com o esporte brasileiro: quais atletas são tão apaixonados pelo esporte que praticam? Quais conseguem demonstrar tão claramente esse amor e usam isso para incentivar outros praticantes?
O Brasil carece muito de uma política pública de esporte, mas também carece de bons exemplos. De uma forma geral, temos uma população extremamente pouco vinculada ao esporte.
Kobe também antecipou uma decisão que poderia se arrastar por toda a temporada. E por que isso é relevante? Porque os jogos dos Lakers, a partir de agora, serão sempre “a última alguma coisa” do astro. A decisão dele criou para a franquia de Los Angeles (e para os rivais, também) uma série de oportunidades até a última partida.
No Brasil, o centroavante Luis Fabiano anunciou a duas rodadas do término do Campeonato Brasileiro que não vai continuar no São Paulo em 2016. Também foi nessa época que o técnico Levir Culpi, ídolo da torcida do Atlético-MG, deixou a equipe.
O campeão Corinthians também tem um caso assim. O time alvinegro ainda não conseguiu renovar contrato com o volante Ralf, jogador escolhido pelo técnico Tite para levantar a taça.
Que chances as torcidas de São Paulo, Atlético-MG e Corinthians tiveram para se despedir de seus ídolos? Quais oportunidades os rivais tiveram para fomentar o embate?
O São Paulo marcou um jogo de despedida para o goleiro Rogério Ceni, é verdade. Mas isso é tudo que merecia a aposentadoria do atleta que mais vezes vestiu a camisa tricolor? Que tipo de homenagem ele recebeu durante o último Campeonato Brasileiro, o último clássico, o último duelo em casa, a última viagem e tantos outros últimos?
No futebol ou em outros esportes, nós valorizamos pouco os ídolos. Isso tem a ver com questões culturais, mas também – e principalmente – com a comunicação deficiente. Perdemos chances de aproximar atletas e público, e muito desse desperdício acontece simplesmente porque não temos ambientes que fomentem isso.
O amor de Kobe Bryant pelo basquete é lindo, mas apenas admirar não basta. Precisamos trabalhar para incutir em nossos atletas essa relação com o ambiente que os cerca.

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A relação dentro/fora e o apoio simultâneo dos laterais

Esta semana tive o privilégio de participar de uma aula intitulada organização ofensiva, ministrada pelo treinador Rodrigo Bellão, no 46º curso de treinadores do Sitrefesp.
O conteúdo da aula, que pode ser acompanhado no link http://www.futebolinteligente.com.br/organizacao-ofensiva-2/, contribui significativamente para que todos os profissionais do futebol, principalmente treinadores, reflitam criticamente sobre qual a sua contribuição na prática de um futebol ofensivo, imprevisível, criativo e refinado. Afinal, estas são algumas das características que destacaram o futebol brasileiro e, como é de conhecimento, tem sido gradativamente esquecidas e, por que não, negligenciadas.
Nesta perspectiva surge o mote para a publicação da coluna desta semana. O objetivo da mesma é, a partir da Universidade do Futebol, ampliar o rico debate proposto pelo treinador supracitado.
Para aumentar as possibilidades de êxito das ações ofensivas, ou seja, criar desequilíbrios na organização defensiva adversária e potencializar as chances de finalização, é importante ter todos os jogadores efetivamente participando deste momento do jogo. Além disso, quanto mais jogadores adiantados, logo, próximos à zona de risco do adversário, maiores as possibilidades de gerar superioridade numérica, princípio básico para vencer os confrontos territoriais permanentes num jogo de futebol.
Culturalmente, o futebol possui algumas “verdades”. Duas delas que provavelmente você já deve ter escutado são as seguintes: os laterais devem ultrapassar sempre por fora e que dois laterais não podem apoiar ao mesmo tempo. Será que essa “verdade”, criada, reproduzida é real ou será que podemos superar essa paradigma?
Para contribuir com a sua reflexão, segue, na sequência, um vídeo de algumas ações de organização ofensiva do Coritiba Foot Club sub-19, equipe que dirigi até meados de novembro. Peço que atentem as combinações de movimento de apoio dentro/fora entre os laterais e os extremos, permitindo a formação de triângulos e, também, ao apoio simultâneo dos laterais.
https://www.youtube.com/watch?v=Ksb-uCnzKb4
Seguramente não podemos nos oferecer ao jogo ofensivo e não nos preocuparmos em manter a equipe equilibrada e preparada para neutralizar contra-ataques do adversário. Isso é tema para uma outra coluna…
Abraços e até a próxima.

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Exigências da agência mundial antidopagem e a constituição brasileira

Uma das maiores preocupações do esporte na atualidade é garantir a paridade de disputa por meio do combate à dopagem, ou seja, o uso de substâncias que melhorem o desempenho do atleta de forma artificial.
Diante disso, em 2004 foi criada a WADA (Agência Mundial Antidopagem), cujas regras são aplicadas a todas as modalidades que compõem o movimento olímpico internacional, inclusive o futebol. Busca-se, assim, padronização de substâncias e procedimentos e, quem não se adequar ou infringir as regras, será excluído das competições.
Neste sentido, a WADA alertou a ABCD (Agência Brasileira de Controle de Dopagem, criada justamente para atender à padronização) de que terá até 18 de março para se adequar ao novo Código Mundial Antidopagem, que entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 2015.
O Código Mundial Antidopagem tem por objetivo proteger o direito fundamental dos atletas de participar de competições esportivas livres de dopagem; promover a saúde, a justiça e a equidade no Esporte; e assegurar a promoção de programas de educação e prevenção contra a dopagem em nível internacional.
Segundo as normas da WADA, as federações devem ter o prazo de 21 dias para recorrer de decisões de processos disciplinares que tratem de doping. Entretanto, a Constituição Brasileira determina que os processos que tramitem na Justiça Desportiva devem ser julgados em 60 dias, ou seja, não seria possível atender ao prazo constitucional com os 21 dias para recurso.
A opção seria alterar o artigo 217 por meio de uma Emenda Constitucional. No entanto, a alteração constitucional corresponde a medida excepcional e não faria sentido neste caso.
Assim, a ABCD entende que a alternativa cabível seria a criação de um tribunal específico antidopagem, fora da estrutura da Justiça Desportiva e que funcionaria como segunda instância.
Importante destacar que outros países como Bélgica, França e Espanha também foram advertidos pela WADA e terão que adequar seus procedimentos.
Seguramente a ABCD solucionará a questão jurídica apontada e se adequará ao novo Código da WADA e o desporto brasileiro não terá prejuízos.

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Parceria com Universidade do Futebol busca impulsionar base do Uberlândia

As expectativas para as categorias de base do Uberlândia Esporte não poderiam ser melhores neste momento. A partir da parceria do clube com a Universidade do Futebol, a diretoria mantém otimismo para impulsar o projeto de formação de atletas. Entre as propostas estão manter as três categorias em atividade em 2016, criar a sub-20 e promover pelo menos três atletas para a equipe principal na próxima temporada.
Durante a coletiva de imprensa em que a nova parceria com o clube foi anunciada, o diretor-executivo João Paulo Medina se mostrou engajado no assunto.
– Evidentemente um projeto de sucesso hoje no futebol tem que começar da base dentro de uma ideia atual de formação de atletas. É preciso ter jogadores inteligentes, que entendam que o futebol é coletivo e não individual. As mudanças precisam ser feitas e não apenas a partir da equipe principal, mas na base – comentou.
Confira o texto na íntegra clicando aqui.

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Aulas de comunicação do campeão brasileiro: a liderança pelo exemplo

Ainda faltam duas rodadas, mas o Corinthians já é o campeão com melhor desempenho na história do Brasileirão disputado por pontos corridos com 20 times na primeira divisão. O time alvinegro é o que mais venceu, o que menos perdeu, tem saldo positivo de 42 gos, é o mais disciplinado e tem 14 pontos de distância para o segundo colocado. São muitos os atributos positivos na campanha dos paulistas, mas há um título que pouca gente considera: o Corinthians também é campeão em aulas de comunicação.
Na história do futebol brasileiro, são poucos os clubes que oferecem tantos elementos para serem considerados nesse sentido. A história da temporada alvinegra, contudo, é praticamente um curso pronto.
Afinal, o Corinthians teve um ano cheio de percalços fora de campo. A diretoria atrasou salários, deixou de pagar premiações e negociou atletas importantes em meio ao Campeonato Brasileiro, por exemplo. Três titulares do time comandado por Tite deixaram o Parque São Jorge (o lateral esquerdo Fabio Santos e os atacantes Emerson Sheik e Paolo Guerrero).
A folha salarial é alta, com investimentos extremamente questionáveis. A lista de reforços para a temporada 2015 tem nomes como o zagueiro Edu Dracena, o volante Cristian e o atacante Stiven Mendoza, que não conseguiram espaço no grupo – o colombiano, aliás, nem está mais na equipe alvinegra.
O elenco mostrou deficiências durante a trajetória, que tiveram de ser corrigidas com contratações pontuais (os atacantes Rildo, Lucca e Lincom, por exemplo).
Fora de campo, o estádio ainda é uma conquista tão grande quanto o problema que ela criou. O clube tem uma dívida alta e mal equacionada, o que dificulta sobremaneira a obtenção de capital de giro.
Nada disso afetou a campanha alvinegra no Brasileirão. Jogadores com passado vencedor, como Danilo, Cristian e Vagner Love, ficaram no banco durante a competição nacional e não se manifestaram contra isso.
Outros jogadores, como Elias, Malcom e Jadson, foram colocados a serviço de um esquema tático específico, em funções que haviam desempenhado poucas vezes durante a carreira – na linha de armadores de um 4-1-4-1, modelo raro no futebol nacional.
O processo de convencimento e a criação de um ambiente positivo são duas importantes lições do Corinthians campeão. Os jogadores souberam tratar necessidades individuais sem colocá-las acima do contexto ou do todo, e aí começa o mérito do técnico Tite.
Tite é o mentor do Corinthians em muitos aspectos. Tem mérito sobre a implantação do 4-1-4-1 e sobre o modelo de troca de passes, por exemplo – o time alvinegro é hoje um dos que menos usam a bola longa no futebol nacional, e isso tem efeito direto em aspectos como a saída de bola. No entanto, é na gestão de pessoas que o técnico realmente se destacou em 2015.
O Corinthians vai ficar marcado como o time que fez tudo certo, a despeito de o ambiente no clube não ter tudo certo. É um elenco comprometido, e um dos reflexos disso é a goleada por 6 a 1 sobre o São Paulo no último domingo (22).
A vitória corintiana no clássico não tem a ver com disparidade técnica ou com o encaixe das equipes. É um reflexo, antes de mais nada, de organização e comprometimento. Foi um triunfo anímico antes de ser um triunfo na bola.
O Corinthians de 2015 pode deixar muitas marcas para o futebol brasileiro no futuro. Pode ser um precursor do 4-1-4-1 e da linha de defesa alta, por exemplo. No entanto, o diferencial dessa equipe é entender a necessidade da gestão de pessoas no processo de construção de um grupo de trabalho. Qualquer grupo.
A maior lição de comunicação que o Corinthians de 2015 oferece é que não há talentos individuais capazes de compensar um ambiente ruim. Em contrapartida, um ambiente vencedor potencializa os talentos. Basta ver a quantidade de jogadores da equipe alvinegra que têm rendido neste ano o que nunca haviam feito na carreira.
Existe uma diferença financeira considerável no atual cenário do futebol brasileiro, é verdade, mas o Corinthians de 2015 não é o melhor por ser o mais rico. É o time que soube trabalhar com mais competência a comunicação interna e a gestão de pessoas. E isso não é pouca coisa.

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2016, o ano das ligas?

Com o sucesso da Liga do Nordeste e com a criação da Liga Sul-Minas-Rio (oficialmente denominada Primeira Liga), a ideia de se formarem ligas voltou à tona com muita força.
Prevista no artigo 20 da Lei Pelé, os clubes podem criar ligas independentes, ou seja, sem filiação ou concordância da CBF. O único requisito legal é que haja comunicação à entidade que administra o futebol no Brasil.
A criação de ligas pelos clubes, além de entregar aos personagens principais do espetáculo a sua organização, permite que se produza “produtos” para consumidores específicos que possam ser mais rentáveis aos clubes.
Nessa linha, este mês foi criada a Liga Paulista, que conta com clubes do interior paulista, em sua maioria inativos, mas que pretende viabilizar um calendário de maio a dezembro com transmissão em TV aberta.
A Liga Paulista pode, ao mesmo tempo, incentivar as rivalidades entre as cidades do interior de São Paulo e fazer ressurgir clubes que estão fora das competições organizadas pela Federação Paulista de Futebol pelos mais variados motivos, como dívidas e nao pagamento de taxas.
A ideia de se criar ligas com clubes menos expressivos, mas com certa tradição, pode chacoalhar o futebol brasileiro.
Imagine, por exemplo, uma Liga Fluminense ou Carioca de Futebol com clubes tradicionais do Grande Rio, como América, Bangu, São Cristovão, Olaria, Madureira, Bonsucesso, Nova Iguaçu, Portuguesa, Duque de Caxias e Tigres.
A Liga teria um custo baixo, eis que todos os deslocamentos se dariam de ônibus, ressurgiria a rivalidade entre clubes dos mais diversos bairros da capital e a TV poderia exibir jogos interessantes como América x Bangu.
Enfim, os próprios clubes poderiam criar uma competição para mantê-los em atividade por todo o ano e vender esse “produto”.
No futuro, as grandes equipes poderiam até participar com equipes B ou de aspirantes.
Todo esse movimento pode fazer surgir “pequenas ligas” de clubes e, dependendo dos resultados, pode levar à criação de uma Liga Nacional de Clubes.
Importante lembrar que o Novo Basquete Brasil (NBB), a Liga que tem tido grande sucesso e que hoje é reconhecida pela FIBA como campeonato nacional do Brasil, teve seu embrião na Nossa Liga de Basquete (NLB), que começou suas atividades de forma independente e paralela ao torneio nacional organizado pela CBB.
Portanto, as ligas podem se transformar em vetor do desenvolvimento do futebol brasileiro, assim como já ocorre na Europa e nos EUA, de forma que os clubes possam desenvolver e organizar competições rentáveis e interessantes para o seu mercado consumidor.

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André Galbe, prep. físico do sub-20 do Corinthians

Partindo de uma visão atual do futebol, que propõe um treinamento que se trabalhe as vertentes física, técnica, tática e psicológica de maneira integrada, pensou-se que o preparador físico não teria mais o espaço e a importância de outrora. Mas, o profissional desta área continuou sendo essencial nos clubes e parte da engrenagem de uma comissão técnica, desde que esteja adaptado às exigências do momento.
André Galbe trabalha no time sub-20 do Corinthians e, recentemente, já como coordenador do departamento nas categorias de base, vivencia esta nova perspectiva da função. Os desafios já se apresentam no excesso de jogos e tempo de recuperação reduzido dos atletas, problemas ditos e repetidos no profissional e que também atrapalham o desenvolvimento dos garotos.
Não precisamos nos apegar a aquela vitória no último minuto de jogo, pois isto pouco ou nada tem a ver com o treinamento físico. Temos que nos fazer importantes dentro daquilo que é essencial para o futebol moderno. O grande desafio é render mais treinando menos e isto não se consegue de qualquer jeito. São pequenos detalhes que fazem a diferença, e todo profissional é importante”, diz Galbe.
O preparador físico, que se especializou em treinamento e alto rendimento em uma universidade russa e tem como trabalho marcante a participação na classificação do Estoril (Portugal) para a Liga Europa, diz que as atividades no Corinthians têm ligação com a forma de jogar da equipe, aplicadas em trabalhos específicos. Entretanto, Galbe afirma que apenas o treinamento por meio do jogo não atende todas as necessidades dos atletas.
O treinamento físico complementar, e não querendo ser protagonista, é muito importante e existe no mundo todo”, defende.
Nesta entrevista à Universidade do Futebol, André ainda dá detalhes de como é organizada a semana de treino das categorias de base do Corinthians e fala sobre o trabalho de desenvolvimento dos jovens jogadores. Confira:

Universidade do Futebol – Fale de sua formação e conte como ingressou no futebol?

André Galbe – Minha graduação foi em Educação Física em 2004. Depois, fiz pós-graduação em treinamento desportivo e também em fisiologia do exercício. Por fim, fiz especialização em treinamento e alto rendimento na Universidade de Cultura Física, Esporte e Turismo da Rússia, em 2009.

Comecei no futebol profissional como professor estagiário em um centro de treinamento que trabalhava desde a iniciação esportiva até grupos de jogadores profissionais sem clubes. No ano de 2005, já graduado, realizei um projeto de preparação física no Clube Pequeninos do Jockey com as equipes que iriam disputar algumas competições pela Europa e, no retorno desta excursão, acabei contratado para o sub-15 e 17 do Desportivo Brasil, onde fiquei até 2011 depois de cumprir todas as etapas, passando inclusive pelo profissional.

Depois, recebi convite para ser o preparador físico da equipe profissional do Estoril, de Portugal, onde realizei duas temporadas completas (2011 e 2012) com um título e conquista inédita de vaga para a Liga Europa. Aí, voltei de Portugal direto para o Mogi Mirim, onde disputamos a Série C do Brasileiro em 2013 e o Paulistão de 2014.

Eu cheguei no Corinthians em maio de 2014 para exercer a função de preparador físico do sub-20 e fui promovido recentemente para coordenador da preparação física na base.

Universidade do Futebol – Quais as principais dificuldades que o futebol atual impõe aos preparadores físicos dos grandes clubes?

André Galbe – Com certeza, o calendário com grande número de jogos e muitos quilômetros para percorrer entre um Estado e outro.

Na minha opinião, e por ter vivenciado tal experiência, jogar duas vezes na semana não é a pior parte, e sim as viagens com logísticas difíceis e os horários dos jogos de meio de semana que terminam tarde e atrapalham a rotina de sono e alimentação dos jogadores, o que interfere diretamente na questão da qualidade da recuperação. Com tudo isso, além da comissão técnica ter que administrar o desgaste dos atletas, é preciso conter a ansiedade em realizar uma nova sessão de treino, que em muitos casos não é aconselhável.

Nas categorias de base, especificamente em São Paulo, o calendário é favorável, pois há condições de darmos férias para os atletas e comissão técnica e temos tempo suficiente para preparar as equipes antes das competições principais.

Encontramos algumas dificuldades com o excesso de campeonatos que, por melhor que seja o nível técnico, não são obrigatórios e a ânsia em participar de tudo que aparece sobrecarrega o período competitivo de algumas categorias.

Outra dificuldade é a rotatividade e o grande volume de atletas por categoria, que condiciona o treinamento no que diz respeito à otimização da sessão e a quantidade da qualidade da prática diária de cada atleta.

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Trabalho de preparação física está ligado ao modelo de jogo

Universidade do Futebol – Quais os principais métodos que são utilizados na preparação física do Corinthians atualmente? É realizada algum tipo de periodização e como ela é feita e dividida por categorias?
André Galbe – Não falamos em métodos no Corinthians, e sim em princípios de treinamento e conteúdos essenciais. O grande princípio do treinamento aplicado a todas as categorias é o da especificidade. Princípios como individualidade biológica, sobrecargas e continuidade ganham mais importância de acordo com a categoria.
Os conteúdos relacionados à preparação física precisam ser respeitados, porém, fica difícil de adotar ou criar um método próprio por falta de estrutura, sendo que as nossas instalações não atendem todas as categorias na questão de disponibilidade dos espaços, horários e materiais, cenário que está prestes a mudar com a inauguração do nosso novo centro de treinamento da base.
Do sub-10 ao 14, os garotos cumprem um programa de desenvolvimento motor associado a fundamentos técnicos que indiretamente contribuem para o condicionamento físico geral.
A partir do sub-15, é dado uma atenção especial à capacidade de força. Nosso programa de treinamento de força visa dar suporte aos componentes técnicos e táticos. Em casos especiais, a prescrição é individualizada, fazendo ajustes pontuais nas necessidades dos atletas.
Não usamos um método específico, e sim uma ideia funcional de força aplicada ao movimento dando um sentido mais dinâmico e coerente no nosso ponto de vista.
Não temos uma periodização padrão, cada categoria organiza sua temporada da melhor forma possível, mas sem abrir mão dos conteúdos.
Universidade do Futebol – Como é feita a divisão entre trabalhos gerais e específicos? Qual o papel de cada um na preparação dos jogadores?
André Galbe – O geral é o que chamamos de complementar e que envolve o treinamento de força, velocidade, neuro proprioceptivo, flexibilidade e as técnicas de recuperação. São geralmente aplicados no início da sessão no lugar do aquecimento tradicional. O foco do treinamento geral é o próprio treino subsequente e o objetivo é estimular bem os atletas para a especificidade. Seria como treinar para melhorar o treino e, consequentemente, o jogo.
O trabalho específico é determinante na preparação física dos atletas e por isso é aplicado todos os dias da semana. Ele que molda todas as capacidades, promovendo uma adaptação única e intimamente ligada à forma de jogar da equipe.
O exercício geral tradicional como a corrida, por exemplo, não é descartado. Utilizamos com atletas acima do peso, em transição do departamento médico ou com alguma restrição momentânea.
Universidade do Futebol – Vocês se utilizam de jogos reduzidos na preparação física? Caso sim, como são alteradas as variáveis de treino de modo a atingir os objetivos propostos?
André Galbe – Utilizamos sim, porém a preparação física nunca é o objetivo principal, e sim uma consequência. Nem por isso desconsideramos a importância do componente físico, que é estimulado o tempo todo.
Já é conhecido que alterar o espaço de jogo, número de atletas, ter baliza ou não, criar regras e a interatividade com o treinador modificam as características físicas dos exercícios e alteram a densidade das ações e os componentes de força e resistência.
De forma geral, espaços menores exigem muito do componente neuromuscular, consequentemente são exercícios mais curtos e com mais tempo de intervalo.
Espaços maiores, com número de jogadores ajustado, exigem muito do componente cardiorrespiratório, permitindo uma recuperação ativa dentro do próprio exercício, que faz com que este formato possa ser aplicado por períodos mais longos.
Universidade do Futebol – Quais ferramentas são utilizadas por vocês para planejar, quantificar e avaliar as cargas de treinamento?
André Galbe – Utilizamos a percepção subjetiva de esforço (PSE) para calcular a carga. A PSE é uma escala adaptada, com âncoras numéricas e verbais onde classificamos a sessão de treino e o jogo por meio de uma nota dada pelos atletas. Sempre ao final de cada sessão, passamos de forma individual uma tabela com valores de zero (0), que representa estado de repouso, a dez (10), que representa esforço máximo.

Está nota multiplicada pelo tempo de atividade do atleta nos dá a carga de treino expressa em unidades arbitrárias (UA).

Além disso, nós monitoramos treinos e jogos com sistema de GPS, onde os dados mais relevantes são distância percorrida, número de ações intensas e o tempo que o atleta permanece andando ou parado durante o trabalho.
Universidade do Futebol – Você poderia falar, de modo geral, como é organizada a semana de treino das categorias de base do Corinthians?
André Galbe – No sub-20, nós utilizamos um microciclo padrão com seis a sete sessões de treino, que são divididas em quatro partes. Começamos com um treino físico complementar, que substitui o aquecimento tradicional e tem duração de 20 minutos. Depois, nós partimos para 12 minutos de exercício analítico, em que treinamos fundamentos com combinações de passes. Aí vem a parte principal, que dura de 40 a 50 minutos e contempla o desenvolvimento do modelo de jogo. Na parte final, reservamos 10 minutos para a prática de fundamentos com supervisão. De segunda a quarta-feira, o foco é o nosso modelo e comportamento. Quinta e sexta-feira, entra a aplicação em função do adversário.
 
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Universidade do Futebol – Como é feito o monitoramento para saber se os atletas estão em estirão de crescimento. Vocês utilizam essa informação para fazer algum ajuste individual na periodização do treinamento? E caso usem, como é feita a intervenção? O volume de treino desse adolescente é reduzido?
André Galbe – Monitoramos por meio da curva de crescimento e sinais da maturação sexual. A curva de crescimento é um gráfico do acompanhamento do aumento de estatura dos atletas, onde observamos o momento do estirão de crescimento de cada garoto e quantos centímetros estão crescendo a cada trimestre, semestre e ano. Desta forma, é possível detectar indivíduos tardios e precoces. Vale lembrar que está é a fase de transição do pré-pubere para a puberdade e, neste momento, ocorrem muitas mudanças de forma abrupta no corpo e organismo dos atletas, como por exemplo a desordem motora causada pela mudança do centro de gravidade, aumento da força e do tamanho dos membros inferiores e superiores, o que muitas vezes afetam o rendimento técnico do atleta.
Todo ajuste é feito sempre em função de nunca prejudicar os atletas tardios e não vemos necessidades de acelerar o processo para os atletas mais maturados, a não ser que eles sejam promovidos de categoria de forma precoce.
O volume não é reduzido nestes casos, mas os treinos físicos complementares são individualizados. Vale lembrar que os treinos complementares são ajustes físicos feitos de forma coletiva e individual e que utilizamos para ativação, desenvolvimento e manutenção de componentes físicos dos jogadores. Atletas com necessidades maiores realizam exercícios ou sessões extras. Por exemplo, aqueles com histórico de lesão no tornozelo fazem atividades extras de treinamento neuroproprioceptivo, jogadores com encurtamento muscular fazem mais exercícios para aumento da amplitude do movimento, e assim por diante
Universidade do Futebol – O Corinthians possui estratégias de hidratação dos jogadores? Se sim, como é feito o monitoramento?
André Galbe – De um modo geral, colocamos à disposição água, isotônico e maltodextrina em todos os treinos e jogos. O atleta precisa ter consciência da importância da hidratação e isso é passado constantemente.
Em dias mais quentes e, principalmente nos jogos, damos uma maior ênfase no momento de hidratar.
Em competições curtas, como a Copa São Paulo de Futebol Júnior, os quartos são abastecidos com água e isotônico diariamente e os jogadores ficam à vontade para ingerir quando quiserem.
Universidade do FutebolComo é feito o trabalho de integração entre a preparação física na base e profissional? O método de trabalho é alinhado?
André Galbe – São trabalhos diferentes e com objetivos diferentes. O nosso objetivo e compromisso é entregar ao futebol profissional atletas saudáveis, sem histórico de lesões graves e com cultura de treinamento.
A categoria sub-20 realiza periodicamente a mesma bateria de testes e avaliações do profissional e que são, inclusive, realizados no CT Joaquim Grava pelos profissionais de lá.
Universidade do FutebolComo você vê o papel do preparador físico em um clube de futebol no futuro? Quais são as novas tendências aplicadas à modalidade e o que se pode esperar dessa área no futuro dentro do futebol?
André Galbe – Vejo com bons olhos. A disposição e disponibilidade do atleta nos treinos e, consequentemente nos jogos, dependem muito do estado físico e mental de cada um. Atletas mais saudáveis se encontram mais disponíveis.
A saúde do atleta reflete diretamente na sua capacidade de trabalhar com um nível elevado de exigência e de sempre estar recuperado.
Ter força muscular, corpo equilibrado e baixo percentual de gordura são sinais de bom estado físico e, muitas vezes, o treinamento somente por meio do jogo não atende estas necessidades.
O treinamento físico complementar, e não querendo ser o protagonista, é muito importante e existe no mundo todo.
Ter conhecimento sobre as ciências que envolvem o treinamento é essencial na elaboração do plano de trabalho para uma temporada.
Os jogadores passam a temporada toda próximos dos seus limites físicos e emocionais.
A consequência de anos de prática muitas vezes faz com que o atleta necessite de cuidados especiais com o físico, em função do desgaste provocado pelo tempo, lesões crônicas, desequilíbrios, encurtamentos e envelhecimento.
O controle de carga aumenta a qualidade da recuperação dos atletas, o que acaba sendo essencial pelo elevado número de jogos e é um grande desafio.
Aqui no Corinthians, um atleta que vai para departamento médico continua treinando quando a lesão permite para manter o condicionamento físico geral e o controle da composição corporal. Por exemplo: se a o atleta tem uma entorse de tornozelo, do local da lesão para cima ele treina tudo o que for possível enquanto está em tratamento e impedido de treinar no campo, assim acaba minimizando o destreinamento e fica mais rápido à disposição do técnico após sua liberação.
Tudo isto quem faz é o preparador físico e não é menos importante do que todas ações intensas que um jogador realiza durante o jogo.
Não precisamos nos apegar a aquela vitória no último minuto de jogo, pois isto pouco ou nada tem a ver com o treinamento físico. Temos que nos fazer importantes dentro daquilo que é essencial para o futebol atual.
O grande desafio do futebol moderno é render mais treinando menos e isto não se consegue de qualquer jeito. São pequenos detalhes que fazem diferença e todo profissional é importante.