É de conhecimento de todos que existem diferenças muito significativas entre a marcação/defesa zonal e a marcação/defesa individual. Se na primeira temos como grande referência-alvo de marcação os espaços considerados valiosos, na segunda temos a movimentação dos adversários. Porém, sem muito embasamento teórico para isso, tem-se uma “impressão geral” que defesa zonal é uma forma passiva de marcação, o que não concordo. Além de não ser, este tipo de marcação te dá a possibilidade de atacar melhor. Estar em permanente equilíbrio posicional te traduz na ocupação cuidada e inteligente dos espaços no ataque, no sentido de permitir uma reação rápida e eficaz à perda ou ganho da posse de bola. Trata-se de assegurar a permanente gestão coletiva do espaço e do tempo no jogo, com vista ao domínio dos momentos de transição ofensiva.
De acordo com isso, levanto uma questão: se na defesa individual a movimentação do opositor é a grande referência defensiva de posicionamento e marcação, como fechar os espaços quando os adversários estão em constante movimentação, principalmente abrindo no campo para receber a bola no espaço ou para abrir a defesa (procuram ocupar os corredores e dar profundidade e amplitude ao jogo)?
Na resposta, estão as ideias basilares da “marcação/defesa zonal”, uma vez que a grande preocupação é “fechar como equipe” os espaços de jogo mais valiosos, o mesmo não podemos dizer da “defesa individual”, pois as referências defensivas são individuais e os espaços são subvalorizados. Ou seja, caracterizando-se essa forma de organização defensiva por uma soma de ações individuais com referências à movimentação dos oponentes (o tal “jogo dos pares” onde a equipe procura “encaixar” no adversário).
Alguns autores citam que joga-se melhor ofensivamente contra equipes que façam “marcação individual”, na medida em que isso nos permite levar os jogadores rivais para zonas que nos interessam e assim criar espaços livres. Afirmam também que, com essa forma de organização defensiva, estamos a dar uma vantagem à equipe adversária, pois em vez de sermos nós a oferecermos e bloquearmos os espaços, é o adversário que usa o espaço da forma que quiser, ou pelo menos tem a sua disposição essa possibilidade.
Neste aspecto uma excelente vantagem da defesa a zona, é a manipulação defensiva do oponente (aqui algumas pessoas falam sobre “jogar no erro do adversário”, ou pelo menos se explicam assim). Neste tipo de marcação a preocupação é o espaço a ser ocupado e não a movimentação dos atletas adversários. Espaço que podemos controlar sem a bola, ou seja, podemos influenciar aquele que está com ela e aquele que irá recebê-la, assim o é, pois temos o controle do espaço, do território a ser ocupado, ou pelo menos podemos tê-lo.
Quando estamos a defender, temos que, quem tem a bola, mais quer o espaço para progredir. E quem defende deve gerir/reduzir/tirar esse espaço. Porém, ás vezes, é melhor dar determinado espaço para que possamos atrair o adversário, para que ele vá aonde queremos que ele vá. O que pretendo exemplificar com o exemplo abaixo (percebe-se claramente que o adversário oferece a linha de passe e induz o portador a passar a bola. Com isso intercepta-se o passe e retoma a posse de bola):
Manipular é a palavra-chave de defender bem, e todas as equipes de alto nível sabem e o fazem constantemente. O atleta que está fazendo a cobertura defensiva daquele que está realizando a pressão ao adversário com a posse; ou uma cobertura ofensiva sobre aquele que está fazendo cobertura defensiva daquele que está fazendo a pressão, pode oferecer uma linha de passe ao adversário, mas uma linha de passe que ele sabe que tem a total condição de interceptar a trajetória da bola, e obtê-la com o menor “custo energético”.