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Ater-se naquilo que interessa

O jogo dura 90 minutos, porém de bola rolando a duração cai para, aproximadamente, 60 minutos. Ao longo de ambos os tempos, os atletas devem trocar continuamente o enfoque da sua atenção, do mais amplo (requisitado) ao mais reduzido (superficial). Deve se concentrar em todos os estímulos que a partida te oferece, a fim de tomar a melhor decisão. O treinador deve organizar exercícios que ajudem os atletas a desenvolver esta capacidade, periodizando ao longo do micro, meso e macro (ou qualquer outra denominação da semana, mês e temporada) demandas diferentes que obriguem a trocar com velocidade e qualidade os focos de atenção. Alguns treinadores deixam vago o objetivo tático-comportamental, a fim de salientar a busca pela resposta aos problemas do exercício, no intuito de desenvolver a percepção e leitura de jogo dos atletas. Outros, por sua vez, preferem, antes de começar o exercício, indicar aos atletas quais são os estímulos (objetivos tático-comportamental) que eles devem ter atenção em cada situação do meio utilizado. Ou seja, em cada exercício do treinamento, antes de começar, o treinador define claramente qual é o objetivo e quais são as ações (mesmo que subjetivamente) que os atletas devem realizar. Neste caso, a atenção será maior nos aspectos chaves (objetivo principal) do jogo.

Com isso, podemos registrar a frequência que essas ações ocorrem (Princípio das propensões, conforme Vítor Frade) ao longo do jogo (meio/exercício). Corroborando, com isso, o treinador pode durante o exercício concentrar suas instruções e comentários nos objetivos do jogo utilizado, ao invés, de querer abordar outros ou “todos” aspectos diferentes. Outro ponto a ser salientado, está na atenção dos atletas ser diretamente proporcional a sua motivação. Se estão motivados por um exercício atraente e estimulante, sua atenção será melhor. Ao contrário, a atenção será deficiente em um exercício monótono e entediante. Ou seja, se o trabalho sempre é o mesmo, o comportamento de sempre será o suficiente.

O que esquecemos que não há dois jogos iguais.

Mas o exemplo que trago em questão está na necessidade do atleta ser capaz de trocar o foco de atenção do amplo para o reduzido, do global para o específico, do todo para as partes, dos princípios para os sub-princípios, etc.

https://youtu.be/lbprmkF6q98

O que se insere neste contexto, é a importância da leitura de jogo, do local da posse, do adversário, etc.

Mesmo para manter sua concepção de jogo (alguns falam também em Modelo de Jogo) há a necessidade de ler o jogo, principalmente, o que o adversário tem para dizer ou a induzir. Não falo aqui em se moldar ao adversário (adaptar-se a ele), falo em manter seu ideal e concepção de jogo. Reorganização constante da organização macro da equipe. Percebendo o que está acontecendo em campo e tomando isso a seu favor.

O que pretendo mostrar no vídeo em questão, é a precipitação frustrada do marcador em tentar adivinhar a movimentação do adversário. Mesmo que logo após, o setor defensivo tenha tomada uma decisão coerente que evitou a progressão do adversário. Penso que talvez o simples fato de acompanhar o adversário em sua movimentação é algo tão enraizado no subconsciente do atleta, que mesmo o adversário não indo, ele foi abrindo o retorno defensivo do adversário e facilitando a manutenção de sua posse de bola. Contradizendo o objetivo do momento defensivo de não deixar o adversário progredir e/ou prejudicar a sua posse, mesmo nas ambições mais tenras.

Uma equipe de futebol precisa ter alguns (vários para outros) princípios (ideias) comportamentais (ofensivo/defensivo) que se mantém ao longo do jogo e ao longo dos jogos. Todavia, não podemos tratar isso como algo fechado. Senão, construiremos uma equipe com princípios que mais limitam do que libertam. Vencendo quando for conveniente e não vencendo quando não o for.

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As mudanças na Libertadores e a comunicação

A Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) anunciou na última semana uma série de mudanças na próxima edição da Copa Libertadores, principal torneio de clubes no continente. A competição será distribuída em toda a temporada, de fevereiro a novembro, contará com um número maior de clubes e “conversará” com a Copa Sul-Americana – as equipes eliminadas na fase de grupos de um certame entrarão no outro. Além disso, existe a possibilidade de a decisão ser disputada em jogo único e campo neutro. Todas as medidas propostas aproximam o modelo do que é feito na Liga dos Campeões da Uefa, que hoje é a competição mais relevante do calendário mundial. No início, pelo menos, os sul-americanos já falharam em emular algo fundamental para o sucesso no Velho Continente: a comunicação.

O primeiro e mais preocupante exemplo disso é como a informação foi distribuída. A ampliação da Libertadores foi ratificada no último domingo (02) e confirmada pela Conmebol horas depois, mas não teve qualquer celeridade nos canais oficiais da entidade. Durante todo o processo, a única informação relevante que partiu de uma mídia que deveria ser controlada pela instituição foi um post do presidente Alejandro Dominguez na rede social Twitter: “Amigos do Brasil: o novo calendário da Libertadores e Sul-Americana é compatível com o calendário do futebol brasileiro”.

De resto, a despeito de estar fazendo um processo para aumentar a popularidade e a relevância de sua principal competição, a Conmebol já começou com falhas nevrálgicas de promoção e de comunicação. Se a ideia da entidade é que a Libertadores repercuta mais, o início passa necessariamente por mais transparência e organização.

Também tem a ver com isso o período escolhido pela entidade para as alterações. Ao fechar em outubro a proposta para a Libertadores que começa em fevereiro, a Conmebol alterou um sistema de classificação que já está em curso. No Brasil, por exemplo, o número de vagas foi ampliado sensivelmente (de cinco para até oito em 2017). A dez rodadas do término, o Campeonato Brasileiro, que antes podia mandar apenas os três primeiros para o torneio sul-americano, agora enviará os seis melhores (o campeão da Copa do Brasil também se classificará, e o país terá mais um lugar no certame se um time local vencer a Copa Sul-Americana – anteriormente, isso limava uma vaga do Nacional).

Ao fazer isso, a Conmebol ofereceu pouco tempo para que as equipes montem projetos voltados à Libertadores de 2017. Além disso, mudou as regras do jogo com um processo de classificação em curso e favoreceu os clubes que investiram menos na atual temporada. Faltou lisura e faltou planejamento.

Também foi deficiente o processo da Conmebol para definir a ampliação da Libertadores. A entidade distribuiu mais vagas aos países mais fortes, não foi plenamente eficiente na articulação com a Concacaf (Confederação de Futebol da América do Norte e da América Central) e tampouco encontrou uma justificativa plausível para algo que debela o nível técnico da competição. Na Uefa, a Liga dos Campeões foi aumentada para incluir mais países (e mais mercados) no jogo. Havia uma explicação clara em pontos de vista como política e economia.

A questão do jogo único na decisão passa pela mesma lógica. É um modelo eficiente em grandes competições do planeta, ainda que seja discutível do ponto de vista técnico. Pode não ser exatamente justo, mas cria um espetáculo melhor para a TV, que é quem paga grande parte da conta, e muda o perfil dos espectadores. As torcidas dos times classificados perdem espaço para o público local, e isso transforma o ambiente. A decisão da Liga dos Campeões da Uefa é vendida como um espetáculo que se sustenta sozinho, independentemente dos times classificados. A Libertadores tem chance de colocar representantes de mercados pequenos na disputa do título, e essa transição seria benéfica para o todo do torneio.

O que a Conmebol fez para explicar isso, contudo? O que a entidade fez para mostrar que a decisão em jogo único pode ter antecipação de receita, incremento de faturamento do jogo e a possibilidade estratégica de auxiliar na consolidação da Libertadores em mercados específicos? Sim, a resposta é um gigantesco nada.

As mudanças realizadas na Libertadores são fruto de uma análise da consultoria McKinsey sobre o produto. Chamada pela Conmebol para estudar a Libertadores e propor mudanças, a empresa se baseou justamente no modelo da Liga dos Campeões da Uefa. Isso explica em parte a direção de algumas das decisões dos sul-americanos.

Do jeito que foi apresentado, entretanto, o pacote mostra apenas a fragilidade da atual cúpula da Conmebol. O processo de reformulação da Libertadores decorre de pressão de clubes sobre a diretoria, no fim do ano passado, depois de o FBI ter listado contratados e dirigentes da entidade num processo de investigação sobre fraudes no futebol mundial.

A Conmebol escolheu um caminho com várias possibilidades positivas ao decidir ampliar a Libertadores. O caminho, porém, é apenas parte do processo. Se a entidade se alicerçar apenas nisso e não conseguir desenvolver um plano de comunicação eficiente e organizado, nenhuma das medidas vai ter a eficiência desejada.

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Liderança que conquista

Assisti recentemente uma significativa entrevista do técnico da Seleção Brasileira de Futebol, Tite. Sabem, alguns pontos me chamaram bastante atenção, tais como a forma como ele aplica vários conceitos de excelência em liderança nas equipes que comanda.

Foram comentários que demonstraram várias competências de liderança, muito difundidas no mundo corporativo, mas pouco praticadas no cenário esportivo. Ainda mais, no comando das equipes à beira do campo. Questões como a preocupação com o bem-estar de todos os atletas, com o incentivo positivo dos liderados de uma forma geral e a constante geração da percepção de valor no trabalho desenvolvido, ficaram em meus pensamentos durante uns dias.

Aí pergunto, estaria nessa competência em liderar com excelência, além de todo conhecimento instalado da parte tática e técnica do futebol, um grande diferencial do técnico da seleção em seus resultados duradouros no futebol brasileiro?

Assim, por acreditar que realmente as competências de liderança são um grande diferencial para os treinadores atuais, resolvi comentar brevemente sobre uma dimensão que penso ser de extrema importância para todo líder.

A comunicação, esta é sem dúvida uma habilidade de extremo valor para todo líder, ainda mais num ambiente crítico como o do futebol. Os técnicos necessitam estar atentos e perceberem como está a sua comunicação, a verbal e a não verbal. Será que eles estão conseguindo transmitir o que desejam?

A importância da comunicação é tão elevada que pode agir como facilitadora nos processos de mudança e isso em particular é o que mais acontece com as equipes de futebol, seja pela constante incorporação de novos membros no elenco ou pela sazonalidade de bons resultados em campo.  Mas para que um técnico atue em ambientes de mudança, ele deve estar atento inicialmente no seu processo de modificação enquanto desenvolve sua habilidade de comunicação como líder.

Muitos técnicos, quando os resultados persistem em não materializar em campo tudo que é planejado e treinado, podem se sentir pressionados. Isso pode aparecer mais claramente em duas dimensões de comunicação, nos momentos com seu elenco diretamente no dia a dia, e nos momentos de comunicação com todos os envolvidos no ambiente do futebol, como gestores, torcida e a mídia.

Em relação ao time, uma boa ajuda ao técnico é procurar conhecer e saber que cada pessoa tem um perfil de comportamento diferente e isso deve sempre ser levado em consideração quando desejam emitir a informação desejada, ou seja, se comunicar. Não adianta estabelecer apenas uma forma de comunicação com seus liderados, uma vez que eles possuem perfis diferentes.

Já comentando sobre os demais envolvidos no futebol, muitas das situações que criam dificuldade e ansiedade aos técnicos são justamente aquelas em que se necessita falar em público como interlocutor com esses diferentes interessados. Aí, não nos custa lembrar que um dos maiores medos da humanidade é falar em público e o medo é lugar comum para todos, sendo que a diferença está em como lidamos com ele no momento de falar em público. Uma dica é desenvolver no técnico habilidades de falar em público, pois isso certamente lhe ajudará a ter a calma e discernimento necessário para superar momentos mais complicados em frente aos públicos interessados.

Bom amigo leitor, fica a reflexão para todos nós, será que o desenvolvimento de competências de liderança para os técnicos de futebol, pode gerar um bom acréscimo de valor para um trabalho mais efetivo no futebol?!

Até a próxima.

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O que são “bons resultados”?

O primeiro pensamento que vem à mente da grande maioria das pessoas, principalmente dos torcedores, é associar bons resultados a vitórias. E isso é indiscutível, ainda que existam exemplos de manifestações de apoio dos torcedores mesmo após derrotas e eliminações, dificilmente se encontrará torcidas manifestando-se contrárias às vitórias de sua equipe. Eduardo Barros em sua coluna “A manifestação intuitiva da Lógica do Jogo” reflete acerca das manifestações vindas das arquibancadas de acordo com a postura da equipe em campo, mostrando que o torcedor reage de forma positiva em função de ações de sua equipe que transmitam a clara intenção de marcar gols. É a forma mais simples de obter um parâmetro de desempenho, é algo que a torcida faz de forma intuitiva, não carece de profundas análises, todos gostam de ver sua equipe jogar de forma ofensiva e, principalmente, gostam de vencer seus jogos.
Agora, trazendo o mesmo questionamento ao ambiente profissional do jogo, uma avaliação de resultados do trabalho realizado, somente a partir de vitórias, derrotas ou empates, pode trazer uma maquiagem que esconde a real qualidade daquilo que foi feito pela comissão técnica e jogadores. O jogo está longe de ser uma ciência exata, onde se terá a garantia de um resultado utilizando algum método ou proposta de jogo específica, as variantes em um jogo são inúmeras, a margem de erro na tentativa de se prever qualquer resultado é sempre muito alta. E não adianta perguntar: “Sendo assim, qual é a forma garantida para se conseguir as vitórias? ”. Caro leitor, até hoje, não se descobriu essa fórmula mágica.
Como então, dentro de um ambiente tão instável quanto um jogo de futebol, avaliar o desempenho positivo de uma equipe não somente por seus placares? A partir deste questionamento, alguns profissionais criaram um protocolo de análise de jogo que visa cruzar dados quantitativos com dados qualitativos e, a partir deles, encontrar parâmetros que sejam capazes de demonstrar a principal forma como uma equipe busca cumprir a lógica do jogo (conseguir fazer mais gols do que o seu adversário) e consequentemente sua estratégia primária naquela partida.
A partir deste protocolo, Eduardo Barros e eu, procuramos fazer uma análise sobre a final da última UEFA Champions League, cada um ficou encarregado de analisar uma das equipes e de buscar identificar o nível de intenção, ou não, de propor jogo por uma equipe. Seguem abaixo os dados coletados:
tabelaSaída de jogo = cruzar a linha de meio campo da defesa para o ataque; contra-ataque sofrido = somente os que o adversário conseguiu finalizar; Dribles e Passes = somente no campo de ataque; Chances Perdidas = situações reais de se fazer um gol; Chutão = realizar um passe longo colocando a bola em disputa com o adversário.
As análises destas equipes nos jogos que antecederam esta final nos trouxeram alguns padrões de ambas:
– Real Madrid teve maior quantidade de tempo de posse de bola e número de finalizações em todos estes jogos do que seus adversários.
– Atlético de Madrid teve maior quantidade de tempo de posse de bola e número de finalizações somente nos dois jogos das oitavas de final, nos 4 jogos seguintes (quartas e semifinal) teve índices menores que seus adversários nos dois parâmetros.
A partir disto, concebemos que na equipe do Real predomina a intenção de propor o jogo (buscar o gol adversário através de sua organização ofensiva). Enquanto que no Atlético esta intenção não é a predominante, este busca deixar o adversário propor o jogo a fim de contra-atacar após recuperar a posse da bola. Duas estratégias de jogo bem distintas que permitiam criar uma ideia do que seria a final. Sendo assim, prognósticos de um jogo em que a tendência era de um Real atacando contra o Atlético defendendo e contra-atacando, seriam a tendência do jogo que se seguiria.
Porém, o gol no início da partida final, fato que colocou o Real numa situação mais “confortável” e obrigou o Atlético a propor o jogo, estratégia que não havia adotado nos seus últimos jogos. Essa mudança de comportamento da equipe do Atlético deixou evidente algumas dificuldades de ambas as equipes:
Atlético de Madrid – Ficou nítida a dificuldade de adaptação da equipe ao fato de ter de propor o jogo, ainda com maior tempo de posse de bola, a equipe finalizou menos, teve menos a bola em seu ataque, criou menos chances de gol de que o adversário, teve dificuldades em progredir ao gol adversário, errou e forçou através de “chutões” as tentativas de saída de jogo, além de ter oferecido muitos contra-ataques que geraram finalização do Real. Após conseguir empatar o jogo e, principalmente, durante a prorrogação, a equipe voltou a sua estratégia principal, aumentando muito o índice de recuperações no campo de defesa, porém não conseguiu gerar risco através dos contra-ataques pois o Real buscava a recuperação imediata da bola.
Real Madrid – Entrou numa certa zona de conforto após conseguir o gol no início do jogo, não buscando mais ficar com a posse da bola e deixando que o adversário tentasse propor o jogo, buscou explorar os contra-ataques, porém, apresentou um alto índice de erros de saída de jogo, sendo assim não teve tanto êxito em contra-atacar. Após sofrer o empate e principalmente na prorrogação, voltou a sua estratégia principal, aumentou seu número de finalizações, posse e recuperação da posse no campo de ataque e chances de gol perdidas, ainda assim, não conseguiu marcar mais gols.
Apresentados estes dados e a breve descrição do padrão das equipes no jogo, mais o fato de que ambas (e principalmente o Real) possuem um alto orçamento para contratações, excelentes condições de treinamento e jogo, e que estavam no ápice de sua temporada, ficam algumas questões a nos atormentar:
– Como apresentam um número de erros de saída de jogo tão alto?
– Por que se utilizam tanto dos “chutões”?
– Mesmo ficando mais tempo atrás no placar e com maior posse de bola, como o Atlético conseguiu finalizar menos que o Real? Por que tanta dificuldade em propor o jogo?
– Por que o Real não conseguiu finalizar ao gol na maioria de suas tentativas de contra-ataque?
– Até que ponto uma equipe que tem por principal estratégia propor o jogo, deve abdicar dela após conseguir passar à frente no placar?
– Qual estratégia de jogo se adapta melhor à situação de sofrer ou fazer um gol logo no início da partida?
Aliado a estes dados quantitativos, há ainda a análise qualitativa do vídeo do jogo, e tudo isso deve ainda levar em conta a ideia de jogo do clube e do treinador, além das características dos jogadores que fazem parte do elenco.
Trouxe este exemplo de análise a fim de elucidar que ao se analisar o desempenho de uma equipe a partir somente de seus placares pode ser uma via perigosa e tendenciosa de avaliação, são muitas as variáveis a se considerar e aqueles que trabalham com o futebol não podem ter somente o “olhar do torcedor”. É necessário entender a fundo os motivos de vitórias e derrotas, seja nas equipes de base ou profissionais, do contrário, muitas decisões precipitadas podem ser tomadas gerando prejuízos futuros a todos.

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Movimento ou exercício?

Ultimamente na minha rotina seja nos clubes onde trabalho, quando ministro cursos, ou nas redes sociais diversos profissionais me perguntam quais são os melhores exercícios específicos para se aprimorar e aumentar força nos jogadores de futebol.

O que aparentemente é uma resposta simples, na verdade se torna um ponto chave crucial, relevante, um divisor de águas conceitual que irei abordar nesse artigo.

O que iremos discutir é qual deve ser o foco do nosso treino: os exercícios que escolhemos padronizados, ou o movimento específico do jogador de futebol na sua rotina de treino e jogo.

Antes disso vamos imaginar o corpo do atleta se movimentando, imaginando que todas as cadeias musculares agem de forma harmônica, organizadas e sincronizadas.

Gosto muito do exemplo de um indivíduo quando está dentro de um carro e precisa sair de dentro dele. Quantas articulações, grupamentos musculares agem ao mesmo tempo em diversos planos de movimento, apenas para o indivíduo conseguir sair do automóvel?

No esporte e, em especial no futebol, esse fenômeno acontece da mesma forma. O movimento acontece de forma multiarticular, multiplanar e dinâmico o tempo todo.

De uma forma bem objetiva, o corpo na sua essência não conhece o músculo. Ele reconhece o movimento e usa o músculo como um provedor para o movimento.

Quanto mais harmônico, sincronizado e equilibrado for o movimento, mais facilmente o atleta receberá as informações que os treinadores quiserem aplicar, seja elas quais forem. Sejam de cunho técnico/tático, de força ou de qualquer outro estímulo que por ventura a equipe técnica julgue necessário.

MOVIMENTO DO JOGADOR DE FUTEBOL

O futebolista tem no seu movimento as seguintes características:

  •  Base de apoio unilateral
  •  Integração tornozelo-joelho-quadril
  •  Core agindo na cadeia cruzada
  •  Movimentos dinâmicos, potentes de aceleração e desaceleração
  •  Desaceleração unilateral
  •  Movimentos multiplanar
  •  Alta sobrecarga excêntrica

Em um jogo de futebol o jogador chega a mudar de direção entre 1200 e 1400 vezes (Turner e Stweart ,2014), sendo aproximadamente 10% desse valor em alta intensidade.

Uma desaceleração em alta intensidade para um futebolista pode gerar uma sobrecarga de 3 a 5 vezes o peso corporal sobre uma base unipodal.

Esses valores são muito altos se fizermos uma relação individual em jogo de futebol onde um jogador pode desacelerar 140 vezes entre 3 a 5 vezes o peso corporal onde, mais da metade das vezes, será em apenas um dos membros (no membro não dominante, pé de apoio). Isso gera uma sobrecarga excêntrica altíssima atrapalhando o rendimento, aumentando muito a chance de lesões e recuperação para o próximo treino/jogo.

EXERÍCIOS TRADICIONAIS X MOVIMENTOS

O ponto chave desse artigo está aqui.

Até que ponto os exercícios tradicionais do treinamento de força contemplam as características do futebol?  Em especial da forma como analisamos acima?

Exercícios como agachamento, stiff, afundo, avanço, terra, e por ai em diante, tão difundidos e utilizados por treinadores para ganho de força (e por muito tempo utilizei também), qual é a transferência deles para o gesto esportivo do futebol?

Todos os exercícios citados acima são realizados com os dois pés no chão, apenas em um plano de movimento (sagital), sem nenhuma desaceleração excêntrica e geralmente feitos parados sem nenhuma forma dinâmica tão pouco potente de execução.

Esses questionamentos que devemos cada dia mais fazer e analisar antes de colocar uma sobrecarga extra nos nossos jogadores.

Precisamos saber como eles se movimentam para elaborar e simular exercícios que facilitem os gestos específicos de forma mais plena, equilibrada e específica.

Força sem controle não é nada, e movimento desequilibrado é porta aberta para lesões.

A vida não é feita de respostas e sim de perguntas e, são essas perguntas que quero deixar para vocês, na próxima falamos sobre outro tema.

Até….

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América e Palmeiras em Londrina: entenda

Conforme amplamente divulgado, o América mandará sua partida contra o Palmeiras na cidade de Londrina/PR e não em seu estádio, o Independência.

A partida teria sido adquirida por um empresário que pagou R$ 700.000,00 para a realização do evento esportivo na cidade paranaense.

Londrina esta há menos de 150 km do estado de São Paulo e possui imensa torcida por clubes paulistas, o que tem gerado certa polêmica. Eis que pode haver desequilíbrio técnico e, Flamengo e Atlético (rival local do América), possuem grande interesse na partida que é chave para a disputa do título.

O Regulamento Geral das Competições da CBF proíbe a inversão do mando de campo, ou seja, a partida não poderia ocorrer em São Paulo, mas permite a transferência de partidas para outros estados desde que o clube mandante obtenha, por escrito, a aprovação e concordância de todos os envolvidos, (federação ao qual está filiado, a federação anfitriã e o clube visitante), cabendo à CBF/Diretoria de Competições o poder de veto, levando em conta os aspectos técnicos e logísticos.

Ou seja, somente a Diretoria Geral das Competições da CBF pode analisar eventual desequilíbrio técnico e, se for o caso, vetar a transferência da partida.

O que, em uma análise preliminar, parece ocorrer no caso concreto uma vez que, conforme já exposto, Londrina está muito próxima do estado de São Paulo e possui, tradicionalmente, muitos torcedores dos grandes clubes paulistas.

Por outro lado, o América Mineiro possui uma das piores médias de público da competição o que reduz, na teoria, o “fator campo” no seu desempenho. Além disso, o valor oferecido pelo empresário é bastante significativo, especialmente, para clubes sem aspirações na competição.

Ressalte-se que o Estatuto do Torcedor não traz qualquer proibição à alteração de data, local ou horários de partidas. O que não pode ser alterado após a divulgação definitiva é o regulamento e não a tabela.

Por fim, é importante que os clubes e a Diretoria de Competições da CBF fiquem atentos, pois tal prática pode se tornar comum e ser amplamente utilizada em favor dos clubes de maior poderio econômico.

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Parecer ou representar é diferente?

Talvez entre as profissões mais intrigantes do mundo, para não dizer a mais “bonita”, o treinador de futebol proporciona (ou pode proporcionar) a felicidade/esperança/acalanto a milhares de pessoas. O que implica ser a mais “trabalhosa” (para alguns), no qual nos obriga a resolver problemas muito complexos e nos faz ser dependentes de variáveis não intervenientes, das quais não temos o menor poder de controle* (Julio Garganta fala muito em Constrangimentos da Tarefa, do Meio e do Ambiente). O treinador precisa enfrentar e resolver problemas dos mais variados, desde gestão de pessoas com suas ambições e expectativas) até a elaboração do treino/exercício que precisa resultar em determinado comportamento que vai (tende) ser determinante para correções (jogo passado) e aprimoramento para o próximo jogo (que pode ser “O” determinante). A profissão, e digo especificamente a de treinador de futebol, demanda mais sofrimento que a própria vida. Um mundo onde há as perguntas mais difíceis a serem feitas, pois (como foi dito em alguma coluna atrás) é um esporte coletivo, há interações coletivas, altamente dependente das condições iniciais, continuamente dependente das ações do adversário e intensamente influenciado por fatores que estão indiretamente ligado ao atleta, treinador e todos que se inserem ao treino e jogo.

*Conseguir manipular, pode ser, mas ter controle não acredito.

Um treinador que não tem fé não é um bom treinador.

Ter convicções técnicas e perceptivas (“feeling”), acreditar em você mesmo, no seu potencial. Concordo plenamente, contudo, não podemos esquecer que são as perguntas que movem o “mundo” (peço desculpa por não saber a fonte ao certo, mas acho que foi alguma propaganda que me ensinou isso). Como quero jogar? Quem devo utilizar? Como gerir a frustração/euforia e a sua relação? Como alcançar determinado comportamento individual/coletivo? Onde quero chegar? Qual estratégia utilizar? Como lidar com a crise? Fazer perguntas não é uma tarefa fácil. Aliás, para ter uma resposta decente, faça uma pergunta decente. É fundamental treinar fazer perguntas, principalmente a si mesmo?

Não podemos achar que a nossa (aqui falo nossa por ambição) profissão de treinador de futebol é fácil. Há alguns que ainda levam esta profissão por um caminho “fácil”,  por decorar um treino, seguir a mesma orientação (de um contexto que já passou), continuar com uma estratégia que deu certo em algum momento (geralmente um passado distante), ter aquela receita, aquela repetição (in)cansavelmente continua do comum, do mesmo! Isto tudo é pouco para esta profissão, não sendo o melhor caminho para ninguém.

Profissão que ainda, infelizmente, no cenário atual, é subestimada e mal interpretada por diversos seguimentos nos “mundos” intra/extra futebol. Esta profissão requer, na minha singela opinião, uma vasta gama de atributos para uma única pessoa. Um líder com qualidades necessárias para liderar, salve a redundância. Ou seja, estar pronto para liderar, saber ouvir, saber trocar ideias, saber ser humilde em não saber todas as respostas, mas querer saber todas respostas. Precisamos mudar radicalmente nossa percepção sobre essa profissão. É o que tento exemplificar neste vídeo que a UEFA fez sobre os treinadores de futebol (infelizmente não achei o link oficial, e por força maior tive que fazer o upload novamente, peço compreensão).

Ser líder não é para qualquer um. E a própria natureza mostra isso. Ter autoridade sem ser autoritário. Coordenar e gerenciar a personalidade de diversos atletas (somente a mais complexa “máquina”, o ser humano) com o objetivo de levá-los a(s) glória(s). Alimentar o amor e a paixão de milhares de torcedores, conduzi-los ao status de “vencedores”. Aliás, uma relação (treinador x torcida) que é equilibrada em uma linha tênue, facilmente abalada por um mínimo desconforto/ruído. Um treinador precisa ser sincero, principalmente, consigo mesmo! O essencial é visto pelo coração, como disse Saint-Exupéry. E penso que é alguma coisa nesse sentido. Além de toda as áreas técnicas necessárias e inerentes a profissão, o treinador precisa sentir que está sendo verdadeiro consigo mesmo, a fim de poder liderar/convencer os atletas. Penso, que às vezes, somente usando o mais profundo sentimento nas suas ideias e nas tomadas de decisões que verdadeiramente teremos a colaboração de todos os envolvidos. Se torna necessário criar/usar uma causa, para além (muito além) da financeira, um motivo mais emocional, que mexa intensamente com o ego do(s) atleta(s), sempre no intuito do atleta e da equipe oferecer o máximo disponível para alcançar o objetivo.

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Acorda, CBF?

Foi extremamente forte o discurso de Peter Siemsen, presidente do Fluminense, na noite da última quarta-feira (21). O time carioca tinha acabado de perder por 1 a 0 para o Corinthians em Itaquera, e com isso havia sido eliminado da Copa do Brasil. Em vez de falar sobre o jogo ou sobre as consequências da queda no certame nacional, contudo, o mandatário tricolor abordou apenas um aspecto do duelo: a arbitragem. Em determinado ponto do solilóquio, chegou a fazer uma cobrança pública direcionada a dirigentes. “Acorda, CBF”, disse Siemsen em tom provocativo. E se a Confederação Brasileira de Futebol efetivamente acordasse? Será que ele estaria preparado?

Siemsen é, vale dizer, um gestor experiente. Tem nível de conhecimento superior à média dos principais cartolas do futebol brasileiro. E pode até estar certo sobre lances da partida de Itaquera, mas a ideia aqui não é debater o mérito em cada impedimento ou possível infração – programas esportivos já gastam horas suficientes com esse tipo de discussão. O ponto é: a quem serve esse tipo de cobrança inócua? A que se presta essa reclamação rasa, sempre motivada por avaliação pessoal?

A CBF precisa acordar, sim, e não apenas por questões relacionadas ao nível de arbitragem. É uma entidade alicerçada num modelo falido de gestão, com problemas que vão de falta de transparência até a risível situação de Marco Polo del Nero, presidente que não viaja por temer ser preso pelo FBI.

Durante os anos de gestão no Fluminense, o que Siemsen fez para mudar esse diapasão? De que formas atacou o status-quo da CBF e que tipo de articulação tentou fazer para transformar aspectos nevrálgicos da gestão do futebol?

Reclamar como o presidente do Fluminense fez, independentemente do mérito, é totalmente ineficaz. Siemsen jogou para a torcida e tentou desviar o foco após uma eliminação que pode afetar todo o planejamento da equipe para a próxima temporada.

Se estivesse realmente preocupado, o presidente do Fluminense reuniria outras equipes e debateria modelos possíveis para a arbitragem – ou para qualquer outro tema – do futebol brasileiro. Pensaria em soluções coletivas e usaria essa representatividade para emplacar essas ideias na CBF. O modelo de administração da entidade cerceia o poder dos clubes, é verdade, mas o caminho para qualquer implosão dessa estrutura passa por um ambiente mais inclusivo. Enquanto cada um brigar apenas pelo próprio prato de comida e vociferar apenas quando faltar farinha em seu pirão, o todo seguirá padecendo.

É fácil dizer que meu time perdeu por um erro de um árbitro. Difícil é pensar nos motivos para aquele profissional ser suscetível àquela falha. Houve problemas na preparação? Há como minimizar isso? Não falo apenas de tecnologia ou de evoluções necessárias para um mercado de cifras tão vultosas, mas de mudanças na base.

O pior é que Siemsen não é caso isolado. Na próxima rodada da Copa do Brasil haverá outros, e nas partidas seguintes do Campeonato Brasileiro, com o desfecho cada vez mais perto, as platitudes sobre arbitragem também ganharão corpo.

Para o time, é fácil culpar a arbitragem. Para o torcedor, é fácil culpar a arbitragem. Para a mídia, é fácil explorar essa falta de empatia e gastar horas dissecando cada lance em câmera lenta, sem contexto ou frieza na análise. É um ciclo em que todo mundo se beneficia de um inimigo comum e pouco palpável. Falar sobre a “arbitragem” como instituição, sem ter uma proposta ou uma discussão mais densa, é apenas tergiversar.

Como tantos que o antecederam na reclamação, Siemsen queria desabafar, desviar o foco de um resultado negativo ou incutir nos responsáveis pela arbitragem uma pressão para partidas seguintes. Não havia ali qualquer viés positivo ou benéfico para o futebol como um todo.

Do ponto de vista de comunicação, Siemsen pode ter até adotado uma estratégia eficiente. No entanto, é um discurso extremamente pontual e egoísta. Não há desejo de que a CBF acorde em alguém que brada “Acorda, CBF!” instantes depois de uma eliminação e retoma o trabalho normalmente no dia seguinte.

O futebol brasileiro não precisa de gente que peça para a CBF acordar. O futebol brasileiro não precisa de gente que demonstre indignação com arbitragem. O futebol brasileiro precisa de gente que faça algo para mudar isso.

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Não resistiu e o técnico caiu, e agora?

Comentei na coluna passada sobre alguns pontos importantes que podem contribuir para um clube de futebol superar uma crise de temporada. Mas, como sabemos, muitas vezes esses pontos importantes de atuação não são suficientes para uma melhor orquestra do futebol e a direção dos clubes acabam por demitirem seus técnicos.

Bom, infelizmente isso não é nenhuma novidade, certo? Nem a dificuldade de reposição do técnico tão pouco também é novidade. Mas tem surgido com frequência uma tendência em promover os técnicos, enquanto auxiliares, para assumirem o posto de técnico efetivo do clube.

Às vezes essa alternativa dá certo e outras vezes não, porque será?

Particularmente, penso que existem características que podem nos ajudar a compreender os possíveis motivos pelos quais essas apostas se traduzem em ações bem ou mal sucedidas.

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Uma das situações em que podemos perceber aspectos positivos nessa efetivação, acontece quando são aproveitados técnicos que dirigiam as equipes sub-20 dos clubes. Isso pode estar relacionado com toda a preparação profissional e emocional que este técnico vivencia enquanto respondia por essa posição no clube. Associado a isso, geralmente os clubes têm procurado promover uma maior integração entre a base e o profissional, compartilhando conceitos técnicos e táticos que favorecem o aproveitamento tanto dos atletas quanto dos técnicos na categoria profissional.

Parece até uma grande coincidência, não é mesmo? Mas, ao observarmos os casos em que esta aposta acaba sendo mais promissora do que a tradicional circulação dos técnicos de mercado, estes correspondem justamente ao contexto comentado acima, onde seus técnicos já trabalhavam no clube, desde o sub-20 até a posição de auxiliar.

Um fator positivo nessa alternativa, ainda mais dependendo do momento do campeonato e do número de rodadas que faltam para acabar a competição, é o fato do “novo” técnico já conhecer a cultura do clube, enquanto organização esportiva. Ele provavelmente já conhece não só a estrutura do clube, como também parte dos atletas que compõem o elenco profissional. Parece uma constatação simples, mas no fundo não é bem assim. Desconhecer a cultura de uma organização esportiva, pode custar caro e a baixa capacidade emocional para enfrentar um período de adaptação em meio a cobranças, pode pesar negativamente para um técnico que vem de outra realidade.

Então, para os clubes que não conseguem tempo para empreender na jornada, muitas vezes inconstante da busca por resultados sustentáveis dentro e fora de campo, vale a pena avaliar bem a sua ação em momentos de troca de comando em campo.

Essa reflexão pode render bons resultados em campo e no caixa do clube, caso ele avalie que possui um cenário favorável para efetivar sua aposta, que provavelmente tem experiência de bons resultados em sua jornada profissional na base do clube.

E você o que acha amigo leitor? Se fosse um gestor, contrataria um técnico de mercado ou apostaria no resultado de base e na aderência de cultura que já possui dentro do clube?

Até a próxima!

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Justiça condena Minas Arena, mas quem perde é o torcedor

O Mineirão foi reinaugurado em fevereiro de 2013 com um superclássico entre Atlético e Cruzeiro. Entretanto, a festa foi ofuscada pela desorganização. Faltou água, bares e lanchonetes sem produtos, banheiros inacabados, enfim, os direitos do torcedor/consumidor foram severamente violados.

Desde então centenas de ações movidas por torcedores contra o Minas Arena pleiteando danos morais e materiais tramitam no Judiciário mineiro.

Esta semana mais uma decisão foi exarada. A 10ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais reformou a decisão de 1ª instância e condenou a Minas Arena a indenizar o torcedor pelos danos morais sofridos no importe de R$ 1.500,00.

Considerando que muitas ações foram julgadas improcedentes, o TJMG agiu acertadamente ao reformar a sentença e condenar a Minas Arena.

Doutro giro, o valor da condenação é totalmente irrisório diante do poder econômico da Minas Arena e do necessário caráter punitivo e pedagógico da condenação.

A reparação decorrente do dano moral deve atender a dois objetivos: um de compensar a ofensa causada, e outra de punir o autor da lesão, desestimulando-o, de modo a não mais praticar ato semelhante e, ainda, servindo de exemplo à sociedade.

Assim, por meio de condenação econômica significativa no valor da reparação do dano moral, busca-se, além de satisfazer o sofrimento do lesado, punir o ofensor com o pagamento de elevada quantia pecuniária, dando à reparação nítido caráter punitivo- pedagógico.

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Nesse sentido já se posicionou o Ministro do Superior Tribunal de Justiça Raul Araújo Filho em seu artigo “PUNITIVE DAMAGES E SUA APLICABILIDADE NO BRASIL” – Doutrina: edição comemorativa, 25 anos.

“Na aferição do valor da reparação do dano moral, deve, pois, o magistrado, seguindo os critérios da razoabilidade e da proporcionalidade, levar em consideração o bem jurídico lesado e as condições econômico-financeiras do ofensor e do ofendido, sem perder de vista o grau de reprovabilidade da conduta do causador do dano no meio social e a gravidade do ato ilícito”.

O combate a violência nos estádios de futebol começa no respeito aos direitos dos torcedores e, quando a violação de direitos chega ao Poder Judiciário, espera-se uma resposta efetiva.

Qualquer medida pedagógico-policial contra a violência no futebol torna-se sem efetividade se as punições legais não desestimularem o desrespeito aos direitos do torcedor, conforme foi constatado há quase três décadas pelo juiz inglês Taylor, no estudo que ficou mundialmente conhecido como “Relatório Taylor”.

Resolver o problema da violência nos estádios de futebol é um dever de múltiplas personagens e, dentre eles o Judiciário, última fronteira na luta dos cidadãos pelos direitos e uma condenação inferior a dois salários mínimos após 3 anos e meio, em nada desestimula o desrespeito ao torcedor e, por consequência, o combate à violência.

Os torcedores precisam levar suas demandas ao Poder Judiciário e este deve se atentar da relevância social de cada decisão na garantia de direitos e na paz no futebol.

Somente com o exercício reiterado de direitos o torcedor conseguirá reverter o quadro de desrespeito e, demonstrar ao Poder Judiciário, a importância de decisões firmes e com valores econômicos passíveis de punir o autor da lesão, desestimulando-o a praticar atos semelhantes, além de servir de exemplo para toda a sociedade. Caso contrário, mesmo ganhando, o torcedor estará perdendo.