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Relação do futebol com o futsal

Cada vez mais temos ouvido falar da relação entre o futebol e o futsal, especialmente da importância do futsal na formação de jogadores. O que mais tem chamado atenção é que outros paralelos vêm sendo comentados na atualidade sobre a transferência de conceitos. Além da importância da vivência do jovem jogador na modalidade da bola pesada precocemente para aumentar seu engrama motor, juntamente com a qualidade individual do jogador pelo excesso positivo de relação com a bola e a inteligência funcional do jogador devido às tomadas de decisão, ouve-se falar muito que a fluidez do jogo sem separar ataque e defesa, o jogo a dois toques, as quebras de pressão e linhas, as manobras, os triângulos, as diagonais e paralelas, as posturas defensivas, e outros transferes qualitativos do dinamismo funcional peculiares ao futsal estão cada vez mais presentes no futebol.

E realmente, tudo isso, atualmente, está muito presente no futebol. Uma pena que tradicionalmente as modalidades são entendidas isoladamente, perdendo essa oportunidade de interação por meio de um fluxo intenso de transferência de conceitos, informações e conhecimentos. Claro que alguns profissionais procuram beber das duas fontes e inter-relacionar cada vez mais as modalidades, devido a tudo isso acima e suas características peculiares como jogos esportivos coletivos de progressão (JECP), atentando-se a lógica interna, a característica organizacional-funcional e a condição de jogo-complexo.

E é nisso que quero chegar. Sabendo que o futebol é distinto do futsal devido as suas dimensões do campo, regras e outros aspectos, a sua evolução permite afirmar, cada vez mais, que nesse momento existe uma circunvizinhança maior.

Bem, o que mais se observa no futsal é a constante busca por espaços livres permitindo que a interação entre os jogadores crie superioridade qualitativa, cinética, posicional ou numérica. Essa é uma constante disputa durante toda a partida e exige tomada de decisões instantâneas por parte dos jogadores, tendo em vista o espaço reduzido da quadra de jogo. No futebol atual, presenciamos cada vez mais isso devido à intensidade organizacional que o jogo desenvolveu. A primazia pela compactação horizontal e vertical, pelos perfis distintos de organização defensiva e ofensiva e pela valorização das transições (troca rápida de atitude), exige uma mudança de perspectiva no jogo atual, obrigando os jogadores a encontrar soluções cada vez mais rápidas, tecnicamente eficazes e imprevisíveis também.

Nesse contexto, o futebol precisa cada vez mais de jogadores técnicos e inteligentes? A busca pelo domínio do espaço e o ganho de espaço que no futsal sempre foi uma questão vital, e claro, no futebol também, mas sem tanta velocidade, relações curtas, geométricas e estruturadas, nesse momento da evolução do jogo torna-se preponderante?

É aí que entra nossa sensibilidade como treinadores. Para que exista realmente uma conexão respeitando a natureza desses dois jogos, é condição importante um mergulho profundo no ambiente complexo dessa relação sobre as bases da essencialidade do jogo, a criatividade, as mutações individuais, grupais e coletivas interacionando qualitativamente com as dimensões organizacionais, emocionais e fisiológicas.

Mas, como em qualquer jogo esportivo coletivo de progressão (JECP), apesar das similaridades estruturais e funcionais, muitas são as possibilidades de jogo acendidas palas relações dos jogadores relacionadas com as ideias de jogo a fim de buscar o efeito final: a vitória. Assim, infinitas possibilidades podem acontecer com diferentes perfis de jogo existentes. Isso também repercute na formação de jogadores, por isso, como treinadores temos que ter essa sensibilidade apesar de apresentarmos as nossas preferências. O que não podemos é castrar os jogadores e criar paradigmas.

Para Lewis Maté Weschenfelder Heineck, treinador de futsal formativo no município de Pinhalzinho-SC, “O futebol sempre foi o palco de grandes atletas com comportamentos de futsal, muitos deles oriundos da referida modalidade. Ofensivamente percebe-se mais essa similitude, devido à necessidade de tomadas de decisão rápidas e interações com ou sem bola em caráter agressivo. Penso que o que diferencia as duas modalidades está no terreno de jogo, na relação com a bola, espaços maiores-menores e a regra do impedimento. As aproximações conceituais relativas a rupturas, fintas sem bola e orientações corporais são semelhantes, para não dizer idênticas. Penso que os conceitos e princípios básicos (ofensivos e defensivos) são os mesmos para todas as modalidades coletivas. Controle de amplitude, profundidade e triangulações. Manipular a defesa para gerar superioridade quantitativa ou qualitativa em determinados setores, visando a entrada em zona de finalização, e a defesa tentando neutralizar ao máximo as zonas fortes do adversário. O fato de vermos cada vez mais as equipes de futebol jogando em compactações verticais e próximas ou idênticas em distância ao futsal, equipes com densidade defensiva em amplitude, tentando ao máximo evitar o jogo interior, valoriza bastante os profissionais de nossa área. Aqueles que dominam esses conceitos, e os trabalham na formação, podem fazer com que o futsal seja sim um berço formador de atletas para o futebol, respeitando sempre as suas peculiaridades.”

Já o treinador da Associação Female Futsal, Eder Popiolski e ex-coordenador das Categorias de Base da Associação Chapecoense de Futebol: “Creio que a relação do futsal com o futebol formativo esteja um pouco explorada talvez pela dificuldade de relacionamento dos treinadores entre as duas modalidades ou pelo baixo entendimento processual. Contudo, muitos jogadores de futebol tem sua formação iniciada no futsal pela facilidade de acesso e isso pode ajudar a nos entender que a quadra tem influências positivas. O ponto crucial favorável ao uso do futsal é a frequente participação do jogador no jogo, seja devido à quantidade de ações de relação com a bola ou nos aspectos cognitivos nas tomadas de decisões, pois o espaço reduzido requer bastantes movimentos intencionais à procura de posicionamento, já que o menor número de participantes exige maior quantidade de busca de espaços com e sem a bola e a marcação próxima reduz o tempo para a realização das interações entre os jogadores. Tudo isso, resulta num processo de leituras muito rápidas, acelerando o processo de raciocínio tático do jogo”. 

O mais marcante dessa relação é que em cada zona do campo de futebol, e são muitas, muitos futsais podem acontecer e ganhar vida. O problema está no desentendimento de oito leis vitais, mais claras no futsal, mas que também estão presentes no futebol, e negligenciadas algumas vezes por acreditarmos que o glamour do jogo de futebol e as coisas acessórias são mais importantes que a essência básica: qualidade dos jogadores, inteligência de jogo, tempo, espaço, engano, pausa, velocidade e precisão.

Abraços e até a próxima quarta!

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A tradição ditou a regra nas ligas secundárias europeias

Se nas 4 principais ligas nacionais europeias não tivemos surpresas entre os seus campeões, na maior parte das ligas secundárias os resultados também não trouxeram grandes novidades frente ao que era esperado antes de seu início.

Na França, a Ligue 1 tem chegado cada vez mais próximo dos principais campeonatos do continente, muito por conta do dinheiro injetado em alguns clubes. A expectativa era que o PSG dominasse a disputa e conquistasse mais um título, porém viu o Mônaco surpreender com uma equipe repleta de jovens promessas. Há anos atrás, o clube do Principado foi comprado por um bilionário russo que movimentou o mercado com grandes contratações, plano desfeito no ano seguinte, quando iniciou uma nova política de apostar em jovens talentos. Além do título francês, também alcançou a fase semifinal da UEFA Champions League. Apesar da conquista, o clube amargou uma das piores médias de público do campeonato, muito por conta da sua localização.

Em Portugal, deu a lógica. Benfica campeão, Porto vice, Sporting em terceiro. O predomínio de Benfica e Porto é uma das maiores do futebol mundial. Dificilmente, o troféu tem ido para outras mãos. Apesar de não ter o poder financeiro da elite europeia, os clubes portugueses construíram uma imagem que gera muitos frutos. Hoje Portugal é uma grande ponte entre o futebol sul-americano e os gigantes clubes europeus. Muitos jogadores de países como Brasil, Argentina e Colômbia rumam ao país com o sonho de ganhar visibilidade e, assim, obterem contratos multimilionários na Espanha, Inglaterra ou Alemanha. O sucesso nos cofres desses clubes com esse modelo de compra e venda tem sido a balança para o futebol português prosperar.

Na Holanda, o campeão foi um clube bastante tradicional que estava na fila há 18 anos. O Feyenoord conquistou o seu 15º título da Eredivisie. Após duas décadas de glória entre os anos 60 e 70, onde inclusive conquistou uma Taça de Campeões da Europa, o clube passou por altos e baixos e ficou para trás em comparação aos seus dois grandes rivais Ajax e PSV, mais ricos e populares.

Na Turquia, o domínio também costuma ficar entre 3 clubes. Galatasaray, Fenerbahce e Besiktas praticamente ganharam todos os campeonatos até então disputados no país. Em 61 temporadas, venceram 54. Nesse último domingo, o Besiktas conquistou o bicampeonato em um país onde o futebol é uma enorme paixão. A rivalidade entre os três grandes extrapola o campo de jogo e o povo turco vive a semana dos grandes clássicos como em poucos países no mundo.

Um outro país que merece atenção pela paixão despertada pelo futebol é a Grécia. Lá também temos uma rivalidade clara entre 3 clubes, Olympiakos, Panathinaikos e AEK Athens, porém é o país onde há um predomínio tão grande de um deles. Nos últimos 20 anos, o Olympiakos sagrou-se campeão em 18 oportunidades. Historicamente, possui mais do que o dobro de títulos do que o segundo colocado Panathinaikos.

Independente do país, o que vimos nessa temporada das ligas europeias foi uma consolidação da tradição e da riqueza, duas características que andam lado a lado no futebol. Quanto maior a história do clube, maior a perspectiva de ter a maioria de fãs em seu território.

Sob o ponto de vista do negócio, é mais fácil associar uma marca a um clube vencedor e que estará em contato com uma massa mais ampla de consumidores, do que apostar em um clube menor que demandará tempo e dinheiro para trazer resultados relevantes.

O ponto de equilíbrio para que essas hegemonias locais não tornem o futebol desinteressante por falta de concorrência está em fatores como a distribuição justa de direitos de televisão. Modelos como existentes na Alemanha e na Inglaterra podem não eliminar o favoritismo dos maiores e mais tradicionais, mas tornam a competição mais acirrada e dão a oportunidade de surpresas aparecerem no meio do caminho.

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CBF diz não à Globo

A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) está longe de ser exemplo de inovação ou celeridade. Portanto, quando uma tendência chega à entidade é sinal de que existe um clamor latente no mercado. Para fazer a instituição que comanda o futebol em âmbito nacional se distanciar da TV Globo, então, é preciso mais do que um desacordo comercial ou político: um abalo em uma parceria tão longeva e simbiótica depende de um cenário totalmente alinhado.

Esse preâmbulo é necessário para determinar o tamanho da notícia veiculada nesta segunda-feira (29) pelo jornal “Folha de S.Paulo”: sem acordo com a Globo, a CBF decidiu comprar espaço na TV Brasil, que é pública, e vai se encarregar das transmissões de amistosos da seleção contra Argentina e Austrália (ambos na Austrália). É possível que o sinal seja repassado também para a Bandeirantes e até existe chance de a negociação com a Globo avançar, mas o fato é que a entidade mudou drasticamente a postura.

Historicamente, o comportamento da CBF na relação com a mídia sempre foi alinhado às práticas mais comuns no esporte brasileiro. A entidade sempre viu os direitos como fonte de receita, mas enxergava a cessão a grupos de mídia como única forma de obter essa renda. Em outras palavras: sabia que tinha nas mãos um produto valioso, mas revendia a possibilidade de explorá-lo em vez de testar os limites.

A Globo, como grupo de mídia, tem mais expertise e conhecimento para lidar com direitos de transmissão. Sabe gerar transmissões de qualidade, por exemplo, e tem uma estrutura mais pronta para oferecer isso ao mercado. No entanto, é indiscutível que a emissora carioca faz disso uma operação extremamente lucrativa: paga um valor parrudo aos donos, cria uma embalagem adequada e obtém superávit em diferentes frentes (anúncios, audiência, venda de pacotes de pay-per-view e comercialização do sinal no mercado internacional, por exemplo).

Há uma miríade de fontes de renda a ser explorada em relação a direitos de mídia no esporte. Ao fechar um contrato de cessão com uma emissora de TV, uma entidade (seja confederação, federação, clube ou liga) joga nas mãos do parceiro esse conjunto de possibilidades. Ok, abre mão também do trabalho de geração – e dos riscos atrelados ao processo –, mas também reduz o alcance.

Mais do que isso, a cessão de direitos de mídia é uma forma de abrir mão do controle da narrativa. É algo que todo mundo no esporte brasileiro menosprezou durante anos, mas existe uma movimentação irreversível em âmbito mundial. A CBF não descobriu a roda ao comprar espaço em uma emissora para veicular seus jogos; ela apenas seguiu uma tendência que não é sequer limitada ao futebol.

O que a CBF pode ganhar com isso: padronização da narrativa, com criação de produtos atrelados ao jogo e definição de um formato próprio em aspectos como posicionamento de câmera e assuntos abordados; estreitamento de relação com o mercado, que será consultado na negociação comercial relacionada ao produto; desenvolvimento de conteúdos que podem ser fontes de receita num futuro de médio ou longo prazo e que atualmente só rendem para a Globo; receita (o lucro da Globo mostra que um trabalho bem feito nesse caso tem potencial de ser prolífico para a entidade se o intermediário for eliminado do processo).

Tomemos como exemplo um produto de sucesso da Globo no âmbito nacional: a emissora criou um jogo chamado Cartola FC, que usa estatísticas do Campeonato Brasileiro para funcionar como um fantasy game. É um conteúdo decorrente de um contrato que a empresa tem para explorar comercialmente os direitos de times, atletas e da própria competição. Atualmente, além de responder por uma audiência expressiva na internet, o jogo se espalha pela TV fechada e pela rede aberta.

O Cartola FC não é apenas um exemplo de sucesso na Globo; também é um exemplo de como a CBF e os clubes brasileiros negligenciam (e negligenciaram durante anos) propriedades comerciais de enorme valor.

Cito recorrentemente aqui o exemplo da Red Bull, fabricante de bebidas energéticas, que desenvolveu um braço próprio de mídia e tem diminuído gradativamente a dependência do mercado publicitário para fazer com que sua marca repercuta. Na semana passada, o Manchester United também anunciou a investidores que vai ter uma equipe própria para desenvolver conteúdos e oferecer ao mercado.

O controle da narrativa é um caminho irreversível no esporte. Há uma lista incrível de possibilidades atreladas a isso (da geração de receita à relação com os fãs). E se até a CBF já percebeu, a história mostra que a tendência deixou de ser uma ideia tão remota assim.

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Atenção plena no futebol

Já abordei, em colunas anteriores, a questão de ansiedade gerada nos atletas em início de competições ou em véspera de grandes disputas de copas de futebol. A ansiedade causa grandes impactos, na maioria das vezes negativos, nos atletas, mas ainda damos pouca atenção ao tema nestes momentos relevantes dentro do futebol.

Procurando aprofundar um pouco mais o debate sobre o controle emocional necessário aos atletas de futebol, trago ao amigo leitor o conceito de atenção plena que pode ser aplicado ao universo do futebol.

A atenção plena pode ser compreendida como um estilo de vida, que pode exercer influência em nossa saúde, no equilíbrio mental, no bem-estar e felicidade.  A terapia cognitiva com base na atenção plena (também conhecida pela sigla em inglês MBCT – mindfulness-based cognitive therapy), que se originou da obra de Jon Kabat-Zinn, professor e pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de Massachusetts.  Esta terapia tem sua eficácia comprovada cientificamente e por este motivo acabou por ser adotada como um dos tratamentos mais recomendados pelo Instituto Nacional de Excelência Clínica, do Reino Unido.

Para conhecermos e podermos aplicar a atenção plena imediatamente, vou compartilhar uma técnica, dentre várias que compõem a Atenção Plena, possibilitando que membros de uma comissão técnica possam aplicar em seus atletas mais afetados pela ansiedade pontual ou generalizada, para que estes possam reagir da melhor forma nos momentos mais importantes de uma temporada. Esta técnica citada é a meditação de um minuto, descrita no livro Atenção Plena, de Mark Williams.

Meditação de um minuto

  1. Sentar de forma ereta em uma cadeira com encosto reto. Se possível, afastar um pouco as costas do encosto da cadeira para que sua coluna vertebral se sustente sozinha. Os pés podem repousar no chão. Fechar os olhos ou abaixar o olhar.
  2. Concentrar a atenção em sua respiração enquanto o ar flui para dentro e para fora de seu corpo. Perceber as diferentes sensações geradas por cada inspiração e expiração. Observar a respiração sem esperar que algo de especial aconteça. Não há necessidade de alterar o ritmo natural.
  3. Após alguns instantes, talvez a mente comece a divagar. Ao se dar conta disso, trazer sua atenção de volta à respiração, suavemente. O ato de perceber que a mente se dispersou e trazê-la de volta sem criticar a si mesmo é central para a prática da meditação da atenção plena.
  4. Sua mente poderá ficar tranquila como um lago, ou não. Ainda que você obtenha uma sensação de absoluta paz, poderá ser apenas fugaz. Caso se sinta irritado ou entediado, perceba que essa sensação também deve ser fugaz. Seja lá o que aconteça, permita que seja como é.
  5. Após um minuto, abra os olhos devagar e observe o aposento onde se está novamente.

Uma meditação típica consiste em concentrar toda a atenção na respiração (ver quadro “Meditação de um minuto” acima). Isso permite que você observe os pensamentos surgindo em sua mente e, pouco a pouco, pare de lutar contra eles.

Ao praticar, o atleta começará a perceber que seus pensamentos vêm e vão por si próprios, e descobre que ele não é seus pensamentos. Ele poderá observá-los enquanto aparecem de repente e enquanto desaparecem como uma bolha de sabão. Quando se dá conta disso, fica mais claro que pensamentos e sensações (mesmo os negativos) são transitórios e que todo atleta poderá ter a opção de agir com base neles ou não.

Ao observarmos essa orientação de meditação simples, eventualmente questionamos a sua eficácia como técnica de atenção plena, mas ela traz muitos benefícios se feita com frequência, conforme os descritos abaixo.

Os benefícios da meditação da atenção plena

No livro citado, Atenção Plena, obtemos a informação sobre estudos que mostram que os praticantes da técnica da meditação regulares são mais felizes e mais satisfeitos do que a média das pessoas. Esses resultados têm uma importante repercussão na saúde, já que as emoções positivas estão associadas a uma vida mais longa e saudável. E isso pode igualmente melhorar a saúde geral dos atletas e seu desempenho dentro de campo.

  • A ansiedade, a depressão e a irritabilidade diminuem com sessões regulares de meditação. A memória melhora, as reações se tornam mais rápidas e o vigor mental e físico aumenta.
  • Estudos feitos no mundo todo comprovam que a prática da meditação reduz os principais indicadores do estresse crônico, incluindo a hipertensão.
  • A meditação é eficaz também para reduzir o impacto de doenças graves, como dor crônica e câncer, podendo até auxiliar no combate à dependência de drogas e álcool.
  • Além disso, pesquisas indicam que a meditação fortalece o sistema imunológico, ajudando a combater resfriados, gripe e outras doenças.

E assim, posso concluir que existem cada vez mais formas de combater a ansiedade e contribuir efetivamente com a saúde emocional dos atletas de futebol. Basta aos envolvidos, o desejo e a intenção genuína de abordar o tema de maneira clara e objetiva, trazendo assim mais benefícios e valor a saúde geral do atleta profissional.

Até a próxima!

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Discutindo treino…

Olá, leitor! Esporadicamente irei trazer aqui alguns exemplos de treinos para determinadas competências do jogo, a fim de que possamos discutir sobre sua aplicabilidade, dinâmica, coerência com os objetivos e que vocês possam trazer suas opiniões a respeito. Sempre no intuito de contribuir com a evolução de cada um e do nosso futebol, buscando alcançar a premissa desta casa: transformação pelo conhecimento.

Antes de propor as atividade de treino se faz necessário deixar claro alguns princípios que norteiam minha atuação profissional, princípios enraizados no pensamento complexo, numa visão sistêmica da vida e, consequentemente, do jogo de futebol:

  • Estou treinando “pessoas que se movimentam”: vejam a fala do Professor Manuel Sérgio no vídeo abaixo.


Antes de tudo, busco enxergar meus jogadores como pessoas, como alguém semelhante a mim, passíveis das mesmas mazelas e regozijos da vida como eu e que, acima de tudo, merece respeito. Visão que não me impede de lhe cobrar um elevado nível de performance, principalmente no esporte de alto rendimento, até porque buscar os mais altos níveis junto de meu atleta é uma das maiores formas de o respeitar. “Melhores pessoas serão melhores jogadores.”

  • Princípio da especificidade e sobrecarga: Se quero treinar meus jogadores para jogar futebol, entendo que não há maneira mais eficaz e mais específica para isso do que jogando, e jogando futebol (questões de ordem especificamente profiláticas serão sempre respeitadas e contempladas). Competindo num jogo de futebol, a competitividade que se deseja dos jogadores, pode e deve ser estimulada e desenvolvida dentro da sessão de treino. Dentro do jogo, posso manipular suas referências (alvos, bola, espaço, tempo, regras e número de jogadores) a fim de gerar uma sobrecarga do objetivo ao qual proponho para a sessão de treino.
  • Conduzir os jogadores ao “estado de jogo”: assunto abordado na coluna “Que desafios você propõe?”. Atividades que proporcionem tal estado aos atletas, podem gerar um alto índice de performance e absorção do conteúdo proposto para a sessão de treino. Mas logicamente, a atividade fechada em si mesma é insuficiente, é necessário sempre a sua transposição.
  • Não adianta trazer respostas para perguntas que não foram feitas: é analisando o jogo, como cada atleta e como minha equipe joga, que irei encontrar a resposta para pergunta “O que treinar?”. São os atletas, de acordo com suas competências, desempenho e desenvolvimento quem vão direcionando o trabalho, sempre alinhado à cultura e objetivos do clube em que se está inserido e às necessidades dos atletas/equipe/categoria.
  • Buscar cumprir a lógica do jogo: outro assunto já discutido na coluna “O quanto a sua equipe tem se aproximado de cumprir a lógica do jogo?”. Vencer o adversário é uma busca a cada jogo, a cada treino, portanto, essa busca pela vitória, por estar sempre 1 gol a frente, é conteúdo de treino. A cada treino devemos buscar a melhores maneiras para se alcançar esse gol a mais que o adversário.
  • O jogo deve promover prazer em quem joga e em quem assiste: a grande maioria dos que vivem o futebol, o fazem pelo prazer que este lhes proporciona ou proporcionou em algum momento. Se os jogadores não tiverem prazer, alegria, paixão, amor por jogar, por um jogar que seja prazeroso, dificilmente se empenharão sempre ao máximo nos treinos e jogos.
  • “A didática transcende o método”: Mesmo que eu respeite todos os princípios acima, será incompleta minha atuação se não cuidar de minha didática, da forma como me comunico e interajo com meus jogadores. Se não cuidar para abordar e intervir de forma eficaz, poderei não atingir os máximos níveis de desempenho que desejo para minha equipe.

Dados os princípios norteadores da elaboração e condução do trabalho, utilizo quatro matrizes (de acordo com as ideias do Prof. Alcides Scaglia) de jogos para operacionalização dos treinos, que são os Jogos Conceituais, os Jogos Conceituais em Ambiente Específico, os Jogos Específicos e os Jogos Contextuais. Cada um deles, resumidamente, se caracteriza por:

  • Jogos Conceituais: são aqueles onde pode haver uma maior manipulação das referências estruturais (espaço, alvos, bola e número de jogadores) e das regras do jogo, a fim de se desenvolver os conceitos de jogo que se pretende praticar.
  • Jogos Conceituais em Ambiente Específico: são aqueles onde as referências estruturais do jogo são exatamente as mesmas do jogo formal, sendo manipuladas as suas regras, a fim de se desenvolver e aplicar os conceitos que se pretende praticar em um ambiente especifico do jogo formal. Nestes jogos é onde deve ocorrer a transposição dos conceitos trabalhados nos jogos conceituais.
  • Jogos Específicos:  são aqueles onde as referências estruturais e as regras do jogo são exatamente as mesmas do jogo formal. Nestes jogos é onde deve ocorrer a transposição dos conceitos trabalhados nos jogos conceituais e conceituais em ambiente específico.
  • Jogos Contextuais: são aqueles onde as referências estruturais e as regras do jogo são exatamente as mesmas do jogo formal. Jogos que possuem relação especifica com as características do adversário do próximo jogo.

Assim sendo, trago neste primeiro momento um jogo conceitual com o objetivo principal de finalização, vamos ao jogo:

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  • Conteúdos: finalizar ao alvo de forma mais eficaz e rápida possível; confrontos 1×1 e 2×1; recuperar a bola e/ou bloquear a finalização; direcionar o adversário para as laterais, diminuindo seu ângulo de finalização.
  • Desenvolvimento: equipes de 1+6 x 1+6; 3×15’/2’; gol atrás da linha intermediária = 3 pts, entre a linha da grande área e linha intermediária = 2 pts, dentro da grande área = 1 pt; vale o gol da equipe que o marcar primeiro. Nos primeiros 15’ não há oposição do adversário, o jogador que está na linha de fundo faz um passe (alternando entre passes rasteiros e aéreos) para o que está na linha intermediária, este recebe a bola e finaliza ao gol, na sequência quem fez o passe vai para a finalização e quem finalizou vai fazer o passe. Nos 15’ sequentes se dá a mesma dinâmica, porém quem faz o passe é o adversário, que imediatamente faz a oposição a quem recebe a bola. Nos 15’ finais mantem-se a dinâmica da atividade com o adversário fazendo o passe da linha de fundo e criando a oposição na sequência, porém o confronto agora será de 2 atacantes para 1 defensor.
  • Feedbacks: são realizados com o intuito de que os jogadores busquem finalizar de forma mais rápida e eficaz possível, se fará necessária uma boa leitura para realizar ou não uma finalização de primeira, boa técnica de domínio e finalização, objetividade no confronto 1×1 e utilização da vantagem numérica no confronto 2×1. Impedir a finalização do adversário, recuperando a bola e/ou bloqueando (posicionar-se no intuito de proteger o alvo) a finalização, direcionar o adversário para as laterais, a fim de diminuir seu ângulo de finalização.

Bem caro leitor, está dado o pontapé inicial para a discussão, e você, o que achou deste treino? Como enxerga os princípios em que me pauto? Quais são os princípios que pautam a sua atuação? Em que concordamos e em que discordamos?

Discutir atividades de treino, metodologias, princípios norteadores, didática etc., é um exercício que contribui para o crescimento profissional de cada um, entender como cada um busca desenvolver determinada competência, tendo um olhar crítico para o nosso treino e o de outro profissional, nos ajuda a refletir de que formas podemos ser mais eficazes em nossa atuação. Conto com sua participação para que possamos crescer juntos.

Até a próxima!

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Cruzeiro é acionado na FIFA pelo Huracán

Na última semana, após manifestação em redes sociais do Ramón Ábila, voltou à tona a questão envolvendo pagamentos devidos pelo Cruzeiro ao Huracán, pela sua transferência.

O Huracán entende haver um débito de US$ 1,5 milhão (R$ 4,8 milhões), que deveria ter sido acertado inicialmente até 5 de dezembro.

Para tanto, o clube argentino iniciou demanda na Câmara de Resolução de Disputas da FIFA, responsável pela arbitragem e resolução de litígios do mundo do futebol, composta por representação equitativa de membros indicados por atletas e clubes.

Esta Câmara tem competência para lidar com: conflitos trabalhistas entre clubes e jogadores; disputas entre clubes, relativas à compensação pela formação e mecanismo de solidariedade; e ainda, questões disciplinares de atletas e clubes, resultantes do não cumprimento das normas e regulamentos da FIFA.

Vale ressaltar que a Câmara de Resolução de Disputas da FIFA atua em litígios de âmbito internacional, ou seja, entre clubes ou atletas de países diferentes de forma a facilitar e agilizar a busca por direitos.

Além disso, os pedidos e toda a documentação pode ser enviada por fax ou pelos correios. As comunicações da FIFA se dão da mesma forma.

Independente do idioma dos envolvidos, as partes deverão apresentar seus pedidos e encaminhar a documentação em um dos idiomas oficiais da FIFA que são: inglês, francês, espanhol ou alemão.

As regras procedimentais bem como os direitos e deveres dos atletas e clubes estão previstos nas normativas da FIFA.

Com a apresentação da demanda, o Cruzeiro apresentará defesa e, após, um dos árbitros da FIFA (nome conferido aos julgadores das Câmaras).

Em eventual condenação do clube mineiro, em caso de não pagamento, a FIFA poderá puni-lo com perda de pontos, suspensão, eliminação e até desfiliação.

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O futebol por jogadas mecanizadas ou jogado pelo jogar dos jogadores?

No futebol muitos são os jargões usados e palavras empregadas para procurar sintetizar as ocorrências e interações que acontecem dentro do retângulo mágico. A palavra jogada é utilizada com frequência. Corriqueiramente é demonstrada para expor algo que aconteceu dentro de campo, narrar que “aquela foi uma bela jogada”, que “tal jogador fez uma jogada espetacular” ou que “aquela jogada foi de cinema”.

Em contrapartida, para os treinadores, o verdadeiro significado do termo jogada é diferente. Jogada é entendida como a automatização de ações treinadas de uma forma determinada em uma região do campo, em algum momento do jogo ou em bolas paradas, e tem como fim predeterminar antecipadamente ações de jogo. Resulta que os jogadores memorizam possibilidades e executam, por vezes, de forma forçada e sem o entendimento real da situação.

Essa forma de estruturar o processo gera uma dicotomia-distância entre o jogo, jogador e treinador. Nela parece que tudo que acontece dentro de campo está submetido a ações preestabelecidas pelo treinador o tempo inteiro. O jogo e o jogador ficam em segundo plano. De certa forma, estas generalizações preestabelecidas se convertem em pensamentos automáticos e diminui muito a forma do jogador perceber situações do entorno, que simplesmente é o jogo.

Jogo, jogador e treinador são conceitos intimamente unidos. O treinador sozinho não existe. Sua figura nem consta no regulamento do jogo. Uma jogada predeterminada, também não existe sozinha e fica muito luminosa na prancheta do treinador. Jogo, jogador e treinador são palavras que não se desenvolvem de maneira independente. Elas seguem um processo de contínua influência recíproca.

Está claro que a repetição de uma mesma ação, a repetição constante ou uma série predefinida ou estabelecida, exercitada a toda hora, aparentemente pode ser um artifício eficaz, já que o ato repetitivo “teoricamente tem seus benefícios” pois, faz o jogador “deixar de pensar” ou desconectar o pensamento consciente. Agora, como essa repetição ocorre, a regularidade e que conteúdo inserido nela se desenvolve, é que pode fazer o jogador não jogar e apenas decorar jogadas ou ações.

E nosso cérebro tem uma capacidade de automatizar uma grande quantidade de informações. Mas questiono novamente que essa capacidade de enxergar a automatização, quando queremos apenas mecanizar jogadas e estabelecer ações num contexto que nunca se sabe realmente o que vai acontecer, carece de critérios reais e exponenciais para a natureza do jogo ou propriamente de um jogar específico, o que ocasiona na hora do jogo um “branco contextual”. É um paradigma. Parece que quando se decoram jogadas, tudo irá ser feito bem, mas quando o jogo inicia, o vazio entra em cena e os jogadores entram em um mundo paralelo esquecendo-se de tudo.

Agora, jogar criando interações, que de certa forma também existe repetição, por meio de mecanismos não mecânicos que vão além de jogadas, gerados por cenários criados, difere-se um pouco especialmente se inserirmos contextos reais e emoções positivas. E o jogo de futebol é isso: é jogado e exige desafios. Inegável que esses cenários criados devem ser construtivos e não criado de qualquer maneira, pois também podem virar uma “espécie” de mecanização e, tudo que tem forma mecanizada, pode bloquear informações importantes.

Por isso, ao criar probabilidades que ultrapassam a automatização e originam  automatismos expressivos e comunicam ao organismo que o jogo tem variabilidade, ele, ao sentir isso, fica propenso a receber identificadores gerados por emoções reais e positivas. Assumindo isso, mostramos a capacidade do nosso organismo criar interações qualitativas. A medida que elas vão sendo criadas, se desperta a curiosidade e níveis evolutivos de jogo com constância de novos automatismos não mecânicos.

Então, não importa a quantidade de jogadas ou variações, tudo tem um prazo de validade e de certa forma essa mecanização ao longo do processo competitivo gera um lastro negativo. Por incrível que pareça, por mais que uma quantidade excessiva de jogadas repetidas pareça gerar benefícios com a automatização, se não assimiladas emocionalmente pelos jogadores, os cenários que transmitem uma aleatoriedade maior, sem essa automatização mecânica, podem “ser mais recordados” pela emotividade que os jogadores vivenciaram.

Está claro que o que fizermos como treinadores influencia e modifica os jogadores. Temos uma parcela muito grande, especialmente se virarmos estratégias ou treinadores de jogadas. E, acredita-se em benefícios com isso mas, na realidade, traz muitas sequelas a longo prazo para os jogadores, sobretudo na formação. Conectar os atletas com o jogo é algo que o treinador deve fazer antes que qualquer coisa, já que dessa forma os jogadores compreendem o jogo realmente como ele é: de maneira interativa e intuitiva.

Abraços e até a próxima quarta!

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A camisa pesou. O bolso também!

Definidos os campeões nacionais nas 4 principais ligas europeias da temporada 2016-17. Ao contrário do que observamos no ano anterior, não houve surpresas nos clubes que levantaram a taça em seus países.

Na Espanha, a disputa até a rodada final ficou entre Real Madrid e Barcelona, com a equipe da capital sagrando-se campeã. Portanto, nenhuma novidade. Além dos dois, o Atlético de Madrid terminou em terceiro e o Sevilha em quarto. Antes do início do campeonato, a lógica esperada era justamente essa, com a dúvida se o campeonato iria para o Real Madrid ou Barcelona. Esses 4 clubes estão classificados para a próxima edição da UEFA Champions League.

Para entender a dimensão do predomínio dos três primeiros colocados no espanhol, em 86 edições realizadas da La Liga, esses clubes venceram 67 edições, mais de 2/3 do total de disputas. Essa hegemonia também pode ser conferida no último relatório Football Money League produzido pela Delloitte, onde os três primeiros colocados do campeonato espanhol figuram entre os 20 clubes mais ricos, sendo o Barcelona em 2º, o Real Madrid em 3º e o Atlético de Madrid em 13º.

Na Itália, também deu a lógica esperada. A Juventus conquistou o seu sexto título seguido, aumentando ainda mais o seu largo predomínio no futebol italiano. Agora são 33 títulos, muito distantes dos vice-líderes Internazionale e Milan, que possuem 18 títulos cada. Em 113 temporadas da Série A italiana, os três clubes chegaram na frente em 61% das oportunidades.

Nesse ano, assim como já havia ocorrido nas temporadas passadas, Milan e Inter decepcionaram e terminaram, respectivamente, na 6ª e 7ª colocação. O Milan ainda obteve a classificação para a Europa League, enquanto a Inter não disputará qualquer competição europeia na próxima temporada.

Apesar de já ter um campeão definido, o campeonato italiano ainda terá a sua rodada final nesse próximo final de semana. A definição do vice e do terceiro colocado permanece em aberto, com a Roma e o Napoli na disputa, mas com ambos garantidos na próxima UEFA Champions League.

No relatório Football Money League, a Juventus de Turim, que ainda disputará a final da Champions contra o Real Madrid, aparece na 10ª colocação, enquanto a Roma aparece na 15ª posição. O Napoli não figura entre os TOP20, enquanto o Milan aparece em 16º e a Inter em 19º, comprovando que a decepção não foi por falta de potencial financeiro.

A Alemanha talvez tenha sido o país onde houve maiores surpresas. Não em seu campeão, mas nas posições que garantiram vaga para a próxima UEFA Champions League. O gigante Bayern de Munique conquistou o heptacampeonato da Bundesliga, elevando para 27 o total de títulos, o triplo do segundo colocado nesse ranking.

As surpresas ficaram por conta do vice campeão RB Leipzig, time que subiu de divisão nesse ano e que é de propriedade da empresa Red Bull. Além deles, o Hoffenheim terminou na quarta colocação, algo que também não era esperado no início da competição. A terceira posição ficou com o Borussia Dortmund.

O Bayern de Munique aparece na 4ª posição do ranking Football Money League, enquanto o Borussia Dortmund está na 10ª colocação. Ainda há outro clube alemão entre os TOP20, sendo o Schalke 04 figurando na 14ª colocação. Porém, o clube decepcionou dentro de campo e terminou no meio da tabela da Bundesliga.

A Inglaterra é o país que mais possui clubes no ranking da Delloitte que considera os 20 clubes mais ricos do mundo. Foram 8 britânicos na última edição do relatório. Ao contrário do que ocorreu na temporada passada, quando o surpreendente Leicester City conquistou a Premier League, nesse ano o campeão esteve dentro da lógica esperada. O Chelsea retomou a coroa, com o Tottenham repetindo um bom campeonato e terminando como vice campeão. O Manchester City terminou em terceiro e o Liverpool logo atrás. Os 4 clubes garantiram a classificação para a Champions League. Sente-se a falta de dois clubes tradicionais, o Arsenal e o Manchester United. O Arsenal terminou na 5ª colocação e disputará a Europa League, enquanto o Manchester United terminou em 6º, mas ainda tem chances de disputar a Champions League, pois jogará a final da Europa League contra o Ajax e o título garante vaga para o principal torneio europeu da próxima temporada.

A não classificação para a Champions League será um grande desastre para o Manchester United, o grande líder do relatório Football Money League. O seu grande rival City ocupa a 5ª posição e passou apuros até a última rodada para garantir a sua classificação. Arsenal em 7º, o campeão inglês Chelsea em 8º, Liverpool em 9º, Tottenham em 12º, West Ham em 18º e o campeão anterior Leicester em 20º, completam a hegemonia inglesa dos clubes mais ricos do mundo.

Visto esse cenário, podemos concluir que, apesar dos campeões dessas quatro ligas terem seguido uma lógica esperada, há uma clara concorrência maior na Inglaterra e Alemanha, muito por conta do modelo de distribuição de direitos de TV, algo que não ocorre na Espanha e Itália e torna a competitividade cada vez mais restrita entre os mesmos clubes de sempre.

Na próxima semana, falarei sobre os campeões e destaques de outras ligas na Europa, para entendermos onde a lógica também prevaleceu e onde tivemos gratas surpresas.

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O ambicioso plano do Manchester United – e o que isso tem a ver com o futebol brasileiro

O Chelsea, que já havia assegurado com antecedência a taça do Campeonato Inglês, consolidou a festa no último domingo (21), quando fez 5 a 1 sobre o lanterna Sunderland em casa e fechou a temporada nacional com direito a celebração em campo, troféu entregue aos jogadores e a despedida do capitão John Terry, 36, uma das maiores figuras da história do clube. A grande história da Premier League nos últimos dias, contudo, (ainda) não tem nada a ver com resultados esportivos ou valorização de ídolos. O Manchester United, um dos times mais ricos e vitoriosos do país, divulgou um plano para se transformar gradativamente em uma empresa de mídia online.

O projeto foi apresentado a investidores e jornalistas por Ed Woodward, CEO do Manchester United. Ele exibiu um masterplan extremamente minucioso, dividido por semanas, com ações que abrangem diferentes partes do planeta. Também mostrou potencialidades como o alcance de alguns atletas da equipe – o francês Paul Pogba foi o grande exemplo – e admitiu riscos que o desempenho esportivo pode representar à ideia.

A ideia do Manchester United é fazer da “MUTV”, canal oficial da equipe, um verdadeiro player no mercado de mídia esportiva online. Para isso, a diretoria pretende concentrar conteúdo e ofertas exclusivas sobre competições, atletas e o próprio clube.

Mais do que comunicação ou oferta de conteúdo, o advento da televisão foi uma revolução econômica para o esporte. Quando as emissoras perceberam que o filão era um grande negócio, passaram a disputar os direitos de transmissão das principais ligas do planeta. Isso gerou uma natural valorização do produto, e essa valorização fez dos contratos de cessão de mídia uma receita extremamente relevante para qualquer organização esportiva.

No modelo atual, independentemente de como as ligas são organizadas, os clubes recebem para abrir mão de seus direitos de imagem. Os grupos de mídia que pagam por isso exibem partidas, eventos ou conteúdos específicos, gerando audiência e receita advinda de anunciantes. Há uma cadeia estruturada em torno disso, e as equipes, que não têm expertise de transmissão ou criação, nunca são as que mais lucram no processo.

O que o Manchester United pretende com o novo projeto é concentrar mais etapas da cadeia. Economicamente falando, o ambiente online é uma plataforma cada vez mais viável. Em vez de esperar a valorização e vender seus direitos para grupos de mídia, o clube quer se estruturar para produzir e comercializar pacotes fechados.

As vantagens da proposta dos ingleses: uma relação menor de dependência em relação aos grandes grupos de mídia, um potencial maior de faturamento e a capacidade de controlar o que é veiculado. O “dono” do evento pode zelar para que seus patrocinadores sejam exibidos da melhor maneira, por exemplo, ou pensar em ações complementares que sejam alinhadas à estratégia global.

A lógica de assumir o controle do conteúdo é algo que norteia há anos os planos da fabricante de bebidas energéticas Red Bull. A empresa criou um braço de mídia, passou a controlar todas as etapas da produção e diminuiu gradativamente o investimento em mídia tradicional.

O modelo criado pela Red Bull tem vantagens econômicas (a empresa elimina intermediários), mas também dá à companhia o controle da narrativa. E no cenário atual, com a mídia fragmentada e tanta informação à disposição de qualquer um, esse controle é fundamental para qualquer planejamento de comunicação.

Nos Estados Unidos, Facebook e Twitter já entraram em concorrências por direitos de transmissão de ligas esportivas. A estimativa do país é que 16% das casas tenham acesso atualmente a tecnologia de streaming exclusivamente de esporte.

Clubes e atletas já têm presença forte no ambiente virtual. Muitos contam com bases gigantescas de seguidores e produzem conteúdo para alimentar esse público. A questão que o Manchester United levanta é: é possível fazer ainda mais e pensar em formas de ganhar dinheiro com isso, controlando a comunicação e direcionando sua produção?

O potencial do plano proposto pelos ingleses é gigantesco. Há uma série de indícios de que esse é o caminho para os próximos anos, e abrir mão de uma estratégia para produção de conteúdo é entregar – mais uma vez – o potencial nas mãos dos grandes grupos de mídia. Foi assim com a televisão no século passado.

Entretanto, criar um braço de comunicação e estratégia online demanda trabalho e exige a presença de pessoas que saibam criar um planejamento adequado. No Brasil, que time ou entidade esportiva teria disposição para isso?

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O que podemos aprender com os argentinos: Menotti, Cappa e Valdano

Brasil e Argentina são países vizinhos que carregam uma rivalidade única no futebol mundial. Na exportação de jogadores, há muitos aspectos semelhantes, agora, na exportação de treinadores para o centro do futebol, a Europa, a diferença é ampla, e não podemos negar que os treinadores argentinos estão construindo carreiras sólidas em vários países e estão na nossa frente. Qual seria a problemática maior disso?

Uma longa tese pode ser discutida abarcando temas político-sociais. Mas vamos focalizar em coisas mais palpáveis, fenômenos simples, podendo ser a língua falada no país que facilita para trabalhar em outros mercados, também o lastro cultural, ou seja, uma abertura maior para estudar as dimensões do futebol e outras áreas abrangentes que o complementam, e especialmente o entendimento da essência do jogo bem jogado.

Isso fica claro em algumas entrevistas, jogos, e especialmente na última semana quando Bielsa, treinador argentino, que é um “caso raro” nesse meio, veio no interessante evento promovido pela CBF. Isso me moveu a refletir sobre as diferenças históricas entre os treinadores Argentinos e Brasileiros.

Atualmente, a diferença tem diminuído, principalmente no futebol formativo. Claro, temos que fortalecer nossos bons profissionais que também aprendem dos hermanos. Então resolvi buscar visões de outros treinadores argentinos,  que não estão mais nada ativa, mas que ao longo da carreira influenciaram gerações, desenvolveram excelentes trabalhos e também exerceram papeis diretivos no futebol. César Luis Menotti, Ángel Cappa e Jorge Valdano possuem uma visão interessante desse jogo e dos jogadores, respeitando três regras básicas: a estética de jogo, a qualidade de jogo e o protagonismo do jogador.  Aprendamos abaixo:

O mais importante no futebol é saber jogar futebol. E isso, que soa como uma grande piada, é muito mais sério do que a gente crê. Saber jogar futebol não significa nem ter muita técnica nem ser muito rápido. Significa simplesmente isso: saber jogar futebol. Os futebolistas creem que com as virtudes advindas de sua genética é suficiente para serem bons futebolistas profissionais. Mas como cada futebolista tem suas virtudes e defeitos, são poucos aqueles que aproveitam a fundo suas virtudes e sabem polir seus defeitos. Então, eu falo, que para fortalecer as coisas que são muito interessantes (mas que não são o mais importante) há que aprender a jogar futebol. De nada serve ter uma boa saúde desportiva, nem ser um profissional com toda expressão que a palavra indica. Os treinamentos são o ponto de partida da aprendizagem e saber jogar futebol é uma coisa que parece simples, mas não é tanto. Alguma vez dei o exemplo do Ronaldo, e este exemplo poderíamos usar a um senhor que vive em uma casa e que a sua casa conhece com perfeição, sabe tudo dela, se move dentro dela e conhece perfeitamente até os mínimos detalhes; mas quando sai de sua casa não sabe nem onde deve ir para comprar o pão. Falo que Ronaldo é um exemplo de que dentro da área é como se fosse sua casa, mas quando saí dela tem suas dificuldades. E se Ronaldo, que foi para mim um dos melhores jogadores do mundo pode aprender, por que não podem aprender outros? O por que Ronaldo não aprendeu tenho tomado sempre como ponto de partida, analisando que um bom treinador também tem que ser capaz de discutir algumas ações com seus futebolistas para que estes saibam resolver bem.  A grande dificuldade do futebol, é que por desconhecimento, há muitas pessoas que pretendem fazer coisas que apenas são interessantes e somente melhorarão o dia que entenderem que, erroneamente, o interessante não é o mais importante. Se debate sobre a alta capacidade física, se debate sobre o treinamento triplo por dia, se debate sobre bolas paradas. Isso é muito simplista. É muito fácil ser treinador de futebol assim, o difícil do futebol é saber ensinar. Ensinar a jogar futebol não é a mesma coisa de todos os dias, há que se organizar e jogar para ele realmente, e por isso, como uma vez falou Cruyff e eu falei no ano de 73, há treinadores que treinam e há treinadores que ensinam”. (Cesár Menotti)

Menotti|Imagem - @MenottiDijo
Menotti|Imagem – @MenottiDijo

 

“É possível que poucos entrem em acordo com a definição concreta de jogar bem futebol, por mais que no fundo sabemos o que é jogar bem futebol. Do mesmo modo, por exemplo, é possível que não estejamos de acordo com a definição de uma porta, mas todos sabem o que é uma porta. Isso é o mesmo. Pode que não estejamos de acordo com a definição por que buscamos definições demasiadamente precisas para que não haja nenhuma dúvida. Talvez nisso não entremos em acordo, mas sabemos perfeitamente o que é jogar bem. Falam-se muitas coisas sem uma avaliação preliminar. Quando desconhece a essência do jogo se fala muitas coisas sem fundamento. Hoje em dia, desde as divisões profissionais mais inferiores até a equipe campeã da Europa, todas as equipes estão iguais fisicamente. Mas a preparação física vai além disso, pois depende muito mais do sistema nervoso, do funcionamento da equipe e do animo coletivo. Por que se a equipe joga bem todos estão bem. Alguma vez alguém viu uma equipe cansada quando estava ganhando por 4 x 0? Em contrapartida, uma equipe vai perdendo de 2 x 0, faltam cinco minutos e não consegue pegar na bola, estão mortos, mas do nada fazem um gol em um escanteio e começam a voar.  Essa é uma discussão muito velha, mas se repete por que não se quer aprender. Há muitas pessoas que não querem aprender, não lhes interessa por que parece que é uma perda de tempo aprender. E muito menos aprender que o futebol é inspiração, conhecimento e talento. E entendo por talento o saber eleger, a capacidade que tem o jogador para eleger sempre a melhor jogada. Isso para mim é talento. É fundamental que tenhamos futebolistas com talento por que é mais difícil corrigir o jogador que escolhe mal. O jogador escolhe bem ou mal por natureza, não há outra questão. A inspiração é algo que ocorre nesse momento, e que não está acessível nos livros. Não é questão de eleger, é questão de inventar. Há poucos jogadores com capacidade de inventar, há poucos jogadores com inspiração. E o outro é conhecimento de jogo, para que o jogador possa eleger bem tem que conhecer o jogo”. (Angel Cappa)

Cappa e Valdano|Imagem – El gráfico
Cappa e Valdano|Imagem – El gráfico

 

“Entendo que não existe somente um futebol, há muitos. Mas na história geral, se observamos, e ainda hoje, quase sempre tem triunfado um futebol mais pleno, mais estético. O reino do tiqui-taca é uma grande demonstração disso. Mas infelizmente, com o passar dos anos, a Argentina e o Brasil foram perdendo o amor pela bola. Já aqui, na Espanha, parece que temos entendido que a bola é o umbigo do jogo. E em todas as escolas, não somente nas equipes do Real Madrid e do Barcelona, se idealiza as ideias muito bem, e com muita qualidade o trabalho é realizado nas divisões de base. Joga-se um bom futebol. Para mim, o futebol se inicia pela bola. Eu comia quando era jovem amassando e brincando com a bola debaixo da mesa. E lá fora, ao redor da bola, apareciam os amigos, o jogo. Di Stefáno sempre disse que o futebol se joga, não se corre. Eu, em 1986, correndo muito, não devo ter corrido mais que 8 quilómetros. Hoje um jogador que corre menos que 11 quilómetros parece que traí sua pátria ou sua equipe. São outros elementos estatísticos que pesam para definirmos uma partida como boa ou ruim. E nessa confusão tem entrado os meios tecnológicos. Muitas vezes, para presumir a tecnologia que investiram muito dinheiro, terminam dando dados que são intranscendentes para a eficácia e a beleza do jogo. Realizamos diagnósticos a cada cinco minutos. Estamos todos apressados: os torcedores, os periodistas, o jogo. Hoje, a maioria das equipes jogam a uma velocidade acima que a convém. A palavra da moda é intensidade. Antes, era atitude”. (Jorge Valdano)

Se as ideias no futebol são importantes, muitas delas tecidas acima podem nos ajudar a perceber a profundeza e a simplicidade do futebol. E a inteligência real do futebol tem a ver com um único sentido: a essência do jogo e a busca pelo controle da bola. Os argentinos, com sua classe peculiar, dentro (jogadores) e fora (treinadores) de campo, entendem muito bem disso. Nós também podemos entender. É só trocar o acessório pelo fundamental.

Abraços e até a próxima quarta!