Normal os olhos do mundo se voltarem para o futebol em tempos de Copa do Mundo. É claro que vivo essa modalidade doze meses por ano, porque amo e trabalho com isso. Mas me interessa muito ouvir e tentar compreender, em períodos como agora, o olhar de quem não está tão inserido no jogo como eu.
E como já diria o filósofo antigo, o futebol imita a vida. Precisamos de heróis. Culpados. Guerreiros. Vilões. Seja fora ou dentro das quatro linhas. E me chama a atenção como grandes personagens do futebol estão indo do céu ao inferno em questão de minutos nessa Copa. Neymar, Messi, Cristiano Ronaldo, Tite, o VAR (sim, personificando aqui essa polêmica, mas necessária, situação) são colocados como deuses ou bandidos em um piscar de olhos. O meio termo passa longe. O bom senso nem se fale. O 8 ou 80 prevalece.
Como negar as virtudes futebolísticas de Neymar? Ele é o melhor de nossa geração. Desde os craques do penta em 2002 não tínhamos um jogador como ele. Mas seu comportamento é descabido e infantil em diversos momentos. Quando sente que é o ‘rei do pedaço’ como é na seleção e no PSG (mas não era no Barcelona) ele passa dos limites. Aqui, portanto, não tem em meu ponto de vista um ou ame ou odeie. Tem características. Algumas boas outras nem tanto: é um excelente jogador, que muitas vezes não tem controle emocional.
Messi não tem nenhum grande título com a seleção argentina. Ok. Isso é um fato. Uma constatação. Porém, em nada apaga o que ele fez com a camisa do Barcelona. É o maior jogador que vi jogar em meus 32 anos de vida. Mesmo não tendo grande destaque pela seleção do seu país. Valeria aqui um parenteses gigantesco de como a bagunça do futebol argentino como um todo induz a baixa performance de Messi, mas o ponto aqui deste texto é outro.
Para terminar, vamos falar de Cristiano Ronaldo. Aquele que para muitos é mascarado. Para outros, por outro lado, um exemplo de profissional dedicado.Suas habilidades técnicas e transformação como jogador durante os anos trazendo a tona suas melhores habilidades não entram muito na discussão popular. E sim enumeram quantas vezes ele olha para o telão para checar o penteado.
Entendo a sociedade atual. Muitas vezes percepção é tudo. Só que isso deturpa a realidade. Ou enaltece demais ou derruba vorazmente. Parar e observar com mais profundidade e entender contextos, circunstâncias e ambientes é fundamental. Mas não agora, né?! Afinal, Copa é só de 4 em 4 anos…
Categoria: Colunas
Publico estas breves linhas poucas horas antes que os artistas de ofício escrevam a verdadeira história do dia, razão pela qual me contenho. Primeiro, porque não acho que possa disputar com os fatos. Depois, porque não quero fazê-lo.
Mas posso contar uma história: há exatos vinte anos, o último jogo do Brasil na fase de grupos foi contra a Noruega, em Marselha. Aquele foi um dia que começou e terminou triste. O Brasil perdeu – o que é raríssimo na primeira fase. O gol da vitória norueguesa aconteceu em um pênalti aparentemente obsceno, não captado por nenhuma das dezesseis câmeras oficiais, em um tempo distante em que as câmeras eram apenas os olhos dos espectadores ausentes. Horas depois, descobriu-se que elas não veem o essencial.
No fim do jogo, ainda triste, desci para uma espécie de garagem que tínhamos em casa, onde eu me habituei a organizar meus próprios jogos e campeonatos, mesmo que estivesse sozinho. Ali, o resultado podia ser outro. Eu era o atacante e, no encontro entre a bola e a parede, podia ser o defensor: podia ser o Rivaldo ou o Schmeichel, podia ser o Boban ou o Desailly, podia ser o Bergkamp ou o Simeone, podia ser um dos irmãos Laudrup. Podia ser quem eu quisesse! Todos aqueles que vivem o futebol desde a mais tenra idade já se imaginaram em um outro corpo, em um outro lugar, no lugar dos nossos ídolos. O mundo do jogo, afinal, é bastante particular. É uma licença poética do real.
Pois foram exatamente o jogo e os sonhos que me conduziram vida adentro, nos jogos conceituais/contextuais da adolescência e da vida adulta, aos quais todos nós nos sujeitamos. Veja bem: o jogo de futebol é um microcosmo do universo. As leis que regem o cosmos também regem o jogo. A existência dessas leis não significa que podemos conhecê-las. Ao mesmo tempo, elas devem ser procuradas. Mas repare que procurá-las apenas no jogo não basta: é preciso sair do jogo para encontrá-lo!
Foram o jogo, os sonhos e a procura que, um dia, me levaram até à Cidade do Futebol, para onde, virtualmente, me mudei. Mais tarde, ela se tornaria Universidade, o campus oficial de um mundo em nada onírico, mas que fazia minha imaginação tilintar, pois ali o jogo deixou de ser o que era e passou a ser outra coisa. Foi pela Universidade do Futebol que eu, um jovem sonhador, conheci João Paulo Medina, Manuel Sergio, Alcides Scaglia, Rodrigo Azevedo Leitão, Eduardo Barros, conheci muita gente. Conheci as referências em que deveria me apoiar enquanto jogava pelos campos da vida. Ao contrário dos pequenos jogos da infância, agora não me bastava sonhar: era preciso cruzar a fronteira para o real. Afinal, é possível estar perto dos grandes, mesmo que não sejamos como eles.
É por isso que, quando recebi o convite para o espaço que aqui inauguro, me senti como aquela criança, que jogava bola alegremente na infância. A diferença é que, neste caso, me sinto na responsabilidade de continuar uma tradição.
Afinal, de tempos em tempos o futebol clama por novos olhares, pede para ser oxigenado. Como se houvesse jogos dentro do jogo. Neste momento, me parece que o jogo a ser jogado é o jogo do humano. Precisamos discutir sobre o significado da humanização do treino e do jogo, os recursos de que dispomos para fazê-la, os meios de operacionalizá-la dentro e para além do jogo. Antes de recorrermos à máquina, é necessário esgotar as possibilidades do humano.
É o debate que esperamos construir aqui. Juntos, como fazem as boas equipes. Aos poucos, no tempo certo. Em movimento, porque tudo flui e quem ontem sonhava jogar, hoje joga de verdade.
E joga sério. Como deve ser.
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Onda Verde (e amarela)

Escrevo esta coluna antes do jogo entre Brasil e Sérvia. Impossível saber o que vai acontecer. O desejo deste colunista é que a seleção brasileira vá até o fim e conquiste a taça. Até lá o caminho é longo e se torna mais difícil. Simultaneamente, a cobertura da Copa pelos veículos de comunicação é incansável e incessante, cada segundo é precioso em busca da atenção de milhões de torcedores. As mais diversas temáticas, análises, questões e levantamentos de polêmicas. Cobertura completa, a abranger todos os níveis dentro de um espectro entre o que há de mais negativo e o que há de mais positivo.
Vamos atentar ao lado positivo. Muito se fala do distanciamento da seleção com o torcedor. Percebe-se pela TV que está havendo uma boa interação – dentro dos padrões de segurança atualmente permitidos – do plantel com os brasileiros que estão na Rússia. Os cânticos originais e que celebram a história do ‘Escrete’. As recepções nos hotéis. O próprio “Canarinho Pistola”. A recente situação de ele ser barrado pelos seguranças de um hotel, em uma representação típica da de um comum torcedor brasileiro, contido por um agente da força pública a pedir para maneirar nas comemorações. Simbolicamente, o mascote da seleção de futebol é mais um “dos nossos”.
Que bom que isso está acontecendo. Pena que só agora. Entretanto, há de se reforçar: que bom que está acontecendo! Há muita coisa com que não se concorda, há. Muita coisa que podia ser diferente, sim. Não se deve fechar os olhos a isso. No entanto, ao mesmo tempo, tem vários detalhes e exemplos que têm dado certo no que diz respeito à gestão da seleção brasileira (equipe) e no trabalho dela no âmbito do marketing e comunicação. Criticar sim. Torcer contra ou a favor, também sim. É direito de todos. É perceptível um certo esforço por parte da opinião pública em valorizar os pontos positivos do trabalho da equipe brasileira, e incentivar uma cultura de bom senso, espírito coletivo e otimismo, o que não é nada ruim! Obviamente, sem “fechar os olhos” para o que está errado. Está dentro deste bom senso saber quando posicionar-se em relação aos pontos negativos e também aos positivos.
Aos poucos percebo uma “onda verde e amarela” a ganhar corpo. E a coluna desta semana pode não fazer tanto sentido caso o Brasil perca para a Sérvia ou fique fora da Copa do Mundo. Que ao menos o movimento de bom senso, de cultura coletiva e associativista, positiva e otimista ganhe força dentro da sociedade brasileira.
Com tudo isso, assim como foi em 1958, que a atmosfera da seleção do Brasil possa servir de exemplo ao país, de trabalho executado com profissionalismo e excelência. Desta vez, de que todos juntos, se vai mais longe. Que isso aconteça agora, já no Mundial.
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Ocupação (racional!) do espaço de jogo
Sabemos que o domínio do espaço de jogo é algo muito complexo, principalmente aos mais jovens, e um dos principais problemas no processo de formação incide exatamente sobre o espaço que o jogador ocupa no campo no decorrer de um jogo. Inclusive, é muito comum observarmos nos escalões iniciais a tal da aglomeração junto a bola, o que reforça a ideia de que uma das principais funções do treinador/professor é fazer com que o jovem deixe de se preocupar somente com a bola e passe a ter atenção aos companheiros, aos adversários e ao espaço de jogo.
A ocupação do espaço representa uma das orientações fundamentais no processo formativo. Para auxiliar o jovem futebolista a atingir este domínio do espaço, é importante que o jogador tenha total conhecimento das linhas que demarcam o campo, bem como das zonas do campo (setores e corredores) que não possuem marcas reais, mas que servem como referência para uma distribuição coerente dos jogadores.
A linha que demarca o centro do campo nos permite visualizar a divisão do terreno de jogo em duas partes – meio campo defensivo e meio campo ofensivo. O restante da “divisão” do campo ocorre da seguinte maneira:
– Três setores (setor defensivo, setor do meio-campo e setor ofensivo) no sentido transversal do campo.
– Três corredores (corredor direito, corredor central e corredor esquerdo) no sentido longitudinal do campo.
Percebemos então, que existe uma grande diferença entre jogar futebol e aprender a jogar futebol. Aqui evidenciamos a necessidade de compreender o jogo, de se ajustar ao que ocorre no centro de jogo mesmo estando distante e de perceber o que fazer em função de ter ou não a bola (fase ofensiva ou defensiva). Trata-se do ensino dos princípios de organização coletiva (Princípios Gerais, Princípios Específicos e Princípios Estruturais – ver tabela), ou seja, a parte previsível do jogo, aqueles comportamentos que tendem a ocorrer de forma predominante e que são treinados antecipadamente.
Neste sentido, a exercitação dos princípios específicos do modelo de jogo objetiva o modo como se pretende jogar. Trata-se do ponto de partida essencial e referencial, que estabelece linhas orientadoras e indica o caminho para a resolução das situações de jogo. Este aspecto é fundamental, pois é através dos princípios específicos do modelo de jogo que o treinador organiza os comportamentos da equipe e dos jogadores, promovendo uma forma de interagir e condicionando o modo como solucionarão os problemas do jogo. Por isso, compreende-se que devemos treinar os comportamentos que desejamos que ocorram de forma predominante em cada momento do jogo.
Para além disso, o desenvolvimento desse “modo de jogar” depende também da forma como os jogadores se posicionam no campo de jogo de acordo com a posição 1) da bola, 2) do adversário e 3) dos colegas de equipe. Estamos falando dos princípios estruturais, que servem de referência de posicionamento e configuração do jogo.
Percebe-se então, que a finalidade dos princípios de jogo é dar sentido ao desenvolvimento do processo de ensino/treino, configurando-se como conteúdos centrais na busca de um padrão de comportamentos que evidencie a identidade da equipe.
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Análise do Jogo: Brasil 2-0 Costa Rica

Confira a análise dos gols da partida (o vídeo acima contém imagens da emissora FS e FIFA).
A seleção brasileira conseguiu impor o seu futebol, dominando a Costa Rica praticamente o jogo todo. Jogou bem e não deixou o rival jogar. Teve volume, criou muitas chances e concedeu raríssimas (Alisson ainda não fez nenhuma defesa difícil na competição).
Como tem sido em quase todos os jogos das grandes seleções nesta Copa do Mundo, o jogo foi nervoso e dramático, gerando alto desgaste emocional. Os gols saíram após muita insistência, somente nos acréscimos do 2º tempo. Embora tenha feito por merecer abrir o placar muito antes, tamanho seu domínio em relação à Costa Rica, a seleção esbarrou numa grande atuação de Keylor Navas e na execução de um plano de jogo muito bem traçado pelo adversário.
Méritos para Oscar Ramirez que entendeu o funcionamento da equipe de Tite e soube neutralizar os pontos fortes do Brasil durante a maior parte do tempo.
Postura e Proposta da Costa Rica:
Diante de uma das melhores equipes do mundo, tanto coletiva como individualmente, a Costa Rica não quis se expor e jogou por uma bola (que teve e desperdiçou, logo aos 12 minutos).
Defendendo num bloco baixo muito compacto, em 5-4-1, deu campo e a bola para o Brasil. Com uma marcação zonal agressiva, sempre com superioridade numérica, coberturas e dobras de marcação, a seleção costarriquenha se aproveitou da pouca agressividade do Brasil em atacar espaços nas costas da sua última linha e acumulou jogadores de maneira muito organizada, negando os espaços à frente da área.
Para ler a análise na íntegra, clique aqui.
Bem-vindos à nossa quarta coluna do nosso “especial Copa do Mundo” aqui no “Entre o Direito e o Esporte” enquanto a gente espera, assiste ou comenta o segundo jogo da nossa seleção canarinho lá do outro lado do mundo – em São Petersburgo na Rússia! Hoje nós vamos conversar sobre o que a gente encontra entre a mídia, o marketing e a Copa do Mundo. Em outras palavras, hoje vamos ver porque o nosso canarinho fica cada vez mais pistola de não poder ir aos estádios com a nossa seleção!
Para deixar tudo organizado como a gente espera que a nossa seleção esteja em campo, já deixo aqui o nosso passo a passo dessa sexta-feira: vamos começar com o “Regulamento de Marketing e de Mídia” da FIFA e para o que isso aí serve; depois vamos dar uma olhada nos direitos de mídia e de marketing da FIFA e como isso aparece no dia a dia da nossa seleção canarinho; e terminamos essa sexta-feira conversando sobre tudo aquilo que acontece entre a “Copa do Mundo e a transmissão”.
Valeu? Começou!
E a primeira pergunta do dia, valendo um gol da seleção, é… sobre o que a gente vai conversar mesmo? A regra geral aqui é simples: tudo®na®Copa® do®Mundo®FIFA®é®da®FIFA®. E esse tudo é tudo mesmo, qualquer propriedade intelectual (que a gente já viu aqui o que é) que tenha a ver com a Copa do Mundo (FIFA®) é desse povo aí da Suíça que controla o futebol (FIFA®) no mundo – e, claro, todo o dinheiro que envolver isso tudo!
Em outras palavras, tudo o que é marca da competição é da FIFA®– e todo mundo tem que respeitar isso! Na prática, o que isso quer dizer? Isso quer dizer que a nossa seleção brasileira não pode chegar e simplesmente usar um “Copa do Mundo FIFA” do jeito que quiser (mesmo no uniforme de treino) e tem que cuidar para que ninguém por aqui use isso de um jeito “torto” (até mesmo em transmissão). Aliás… até aquele vendedor ambulante do centro da sua cidade (em tese) deveria ser fiscalizado pela Confederação Brasileira de Futebol, senão… isso mesmo, vai sofrer no “Tribunal da FIFA” (é, amigo, até a FIFA tem seu “tipo-STJD”).
Resumindo:na Copa do Mundo FIFA todas as marcas (e outras propriedades intelectuais) são da FIFA, e é a FIFA que pode “explorar” comercialmente ($) a competição e o que for relacionado (propriedade intelectual) à Copa do Mundo FIFA de 2018 na Rússia.
Agora, como que todos esses direitos da FIFA aparecem no dia adia da nossa seleção? Pois é, sabe aquelas fotos legais antes do primeiro jogo, a foto do time, o FIFA EA Sports®especial da Copa do Mundo… tudo isso vem daí! E a nossa delegação toda tem que cooperar nesse ponto! Tipo quando o Neymar tirou essa foto aqui:
É claro que não é só isso, esse regulamento também fala um pouco dos tais dos “direitos específicos de mídia e de marketing” da FIFA – adivinha a regra geral aqui? Sim, é tudo da FIFA®. E isso aparece no dia a dia da nossa seleção de um monte de jeito, como nas duas entrevistas por dia que alguém do time tem que dar para a equipe de televisão da FIFA (sim, eso ecziste) e até na roupa que o meu xará Firmino aparece chegando no hotel em Sochi (repara que agora nem logo tem na roupa, só o escudo da CBF!). Tipo aqui:
Aliás, isso aparece até nos treinos da seleção! Sabia que tem regra específica sobre o que cada delegação pode gravar para análise técnica? Pois é! A “equipe do Tite” pode gravar vídeos da nossa seleção em treinos e jogos (desde que não use para fazer dinheiro com isso depois) e dos jogos das outras equipes. Isso, só dos jogos! Senão fica que nem nessa foto em que um time da FIFA fica de olho para “abater os espiões” (sério) (juro) (sem brincadeira):
Resumindo:na Copa do Mundo FIFA a nossa seleção brasileira tem que seguir à risca o “Regulamento FIFA de Mídia e de Marketing” senão pode dar ruim. E seguir inclui: gravações para análise técnica da nossa seleção canarinho e dos outros times, o equipamento e uniforme da delegação para ir aos estádios para os jogos, e até posar para fotos – entre um monte de outras “obrigações”.
Beleza, agora você me diz que: “entendi, tudo o que acontece no jogo da FIFA é da FIFA e a FIFA diz o que cada um que participa pode, ou não, fazer. Certo?”. E é bem isso! E, no melhor estilo comercial de televisão, eu já te aviso que… “e mais!”.
A FIFA também controla a cobertura da Copa do Mundo (FIFA®), e até aí era de se esperar – vai! Só que o que esse “controla” quer dizer na prática?
Ponto número 01: só as marcas da FIFA ou afiliadas à FIFA (patrocinadores) podem aparecer nas áreas de controle (como os estádios). E é bem isso que deixa o nosso tão querido Canarinho Pistola ainda mais pistola! Como não é uma marca FIFA®, ele não pode aparecer nos estádios da Copa do Mundo (FIFA®) na Rússia em 2018! – a palavra aqui é “área livre”.
Ponto número 02, a FIFA controla quem pode transmitir a sua Copa do Mundo – e isso inclui as entrevistas no estádio, sabia? E inclui tanto que esse regulamento fala que em dia de competição o técnico tem que “soltar” a escalação assim que o time chegar no estádio, que os atletas têm que dar entrevista na saída para o intervalo e, também, que o técnico e o melhor em campo têmque participar da entrevista coletiva! #ufacansei
Resumindo: esse regulamento da FIFA aparece até nas transmissões. E aparece nas transmissões de dois jeitos principais: o primeiro é no look das áreas controladas pela FIFA, como os estádios. E o segundo é na cooperação entre seleções, como a brasileira, e a mídia licenciada pela FIFA para cobrir a Copa do Mundo – como a “obrigação” do técnico e do melhor jogador em campo participarem da coletiva de imprensa depois da partida.
Como a gente viu, a FIFA e seus regulamentos tem mais cobertura que o meio de campo da França com o N’golo Kanté e quando a gente fala de “mídia e marketing” essa força de vontade de controlar tudo o que acontece na Copa do Mundo (FIFA®) vai da transmissão da partida até ao Gatorade que a nossa seleção toma na beira do gramado.
E é bem por isso que nós-atletas, nós-equipe técnica, e nós-torcedores temos sempre que ficar de olho no que acontece em campo (ou na telinha) e como isso aparece fora dos gramados– já que muitas vezes o jogo é muito mais do que as quatro linhas que a gente vê nesses 90 minutos, né?
Fico por aqui hoje, e agradeço a presença de vocês aqui comigo no nosso especial sobre a Copa do Mundo FIFA®de 2018 na Rússia no “Entre o Direito e o Esporte”! Nos vemos na próxima sexta-feira para fechar o mês com o último tema de junho: o código de conduta do torcedor nos estádios durante os jogos lá na Rússia. Fechou? Deixo meu convite para falarem comigo por aqui, pelo meu LinkedIn ou pelo meu Twitter. E #vaiBrasil!
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A mente de campeão de CR7
O ser humano se move basicamente em função de dois aspectos: ou fugir da dor ou buscar o prazer. Eu, você e toda a humanidade fazemos algo ou para se afastar do que nos incomoda ou para nos aproximar do que queremos muito. Trazendo para o futebol, no início de carreira, por exemplo, basicamente um jogador luta para se afastar de uma vida difícil que ele não quer mais ou para se aproximar de uma agenda gloriosa de conquistas.
Sabendo disso, você acha que Cristiano Ronaldo faz o que faz para se afastar da dor ou para se aproximar da glória? Está mais do que evidente que é a segunda opção! E aqui ressalto que não há certo ou errado. O movimento humano em torno de objetivos exige esforços e a motivação depende da história, crenças e modo de encarar a vida de cada um.
Cristiano Ronaldo já foi o melhor do mundo em cinco oportunidades. Com o Real Madri já ganhou todos os títulos possíveis. Com a seleção de Portugal já venceu uma Eurocopa. Se ele parasse hoje de ganhar ele já seria um dos atletas mais vitoriosos de todos os tempos. Mas ele quer mais. Quer deixar um legado ainda maior. Quer se superar. Continuar atuando em alto nível, em excelência na mais alta performance que um profissional pode estar.
O atacante português tem uma fome de vitórias que o coloca como um grande expoente de um ‘peak performer’. Esse conceito foi desenvolvido nos Estados Unidos, através do pesquisador Charles Garfield, que concluiu que pessoas que conseguem manter picos de performance por muito tempo possuem cinco aspectos marcantes: uma missão de vida motivadora, uma busca por resultados no momento presente, um mapa para como atingir o sucesso desejado, uma conexão diferenciada com pessoas e com o ambiente ao seu redor e uma capacidade acima da média de administrar suas próprias emoções e comportamentos.
Não é a toa que Cristiano faz o que faz. Ele é diferenciado. Sabe o que quer. Por isso não para de se destacar.
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A Copa do Mundo e o Verde-Amarelismo

Pois é, começou a Copa do Mundo. Face à indiferença aparente dos dias que antecederam o Mundial, aos poucos vai se sentindo o clima do torneio nas ruas, nas conversas das pessoas, no entusiasmo de quem já acompanha os jogos e transmite isso para os demais. De quatro em quatro anos este acontecimento chega e arrebata os corações mais frios. Faz parte da cultura e do imaginário coletivo nacional: os jogos em família, as tradições, os costumes e superstições. Necessário para qualquer homem e sociedade, é um ritual.
Para muitos a Copa é importante para o Brasil por conta das conquistas. Entretanto, para entender isso, já foi visto aqui na coluna porque o futebol é algo bem forte para o país. O Mundial de futebol, especificamente o de 1938, pela primeira vez sintetiza a ideia de nacionalidade brasileira – sustentada sobretudo nas ideias do livro “Casa Grande & Senzala” de Gilberto Freyre. A seleção naquela Copa representava o sucesso da formação do Brasil: a da mistura das raças, em um terceiro lugar obtido na França naquele ano.
Em termos de marketing e comunicação estratégica, ganhar o torneio de 58 foi um “prato cheio” para o governo de um país em crescimento, de vanguarda, com uma nova capital. A de 1970 então, nem se fala. Vitórias maiúsculas e incontestáveis com um crescimento médio também maiúsculo. O Escrete se confundia com o regime em vigor na época. Ao mesmo tempo, a camisa amarela ficava conhecida e era admirada pelo planeta todo. Símbolo inconfundível do nosso país e de todas as coisas boas relacionadas ao Brasil: talento, improviso, criatividade, eficiência e excelência. Trato aqui da camisa, do uniforme somente e de quem o veste. Não do escudo que vai nele.
Com tudo isso, o futebol e a seleção nacional do Brasil da modalidade é uma das representações máximas da nação. Assim como é o mar para Portugal; assim como é a monarquia para o Reino Unido; a república para os franceses; a constituição para os estadunidenses e o exército para os russos. Quaisquer derrotas, tragédias. Uma goleada (como foi o 7 a 1), uma humilhação. Uma vitória não é apenas dentro de campo: simboliza o triunfo do Brasil, sobrevalorizado quando ele é sobre um país com índices sócioeconômicos melhores que o nosso.
Oxalá os problemas do país fossem resolvidos com as conquistas da bola. É preciso resgatar o ideal de nação, o que tem sido perdido aos poucos por inúmeros motivos. O futebol, através da seleção, é capaz disso.
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Análise do Jogo: Brasil 1-1 Suíça

https://vimeo.com/275731829
Confira a análise dos gols da partida (o vídeo acima contém imagens da emissora Mediaset e FIFA).
A organização, competitividade e a boa qualidade do adversário, aliado à ansiedade e ao nervosismo gerado pela estreia e necessidade de vencer, fizeram com que a seleção não conseguisse repetir as últimas atuações e o padrão de jogo que estamos acostumados a ver na era Tite.
Não foi o jogo de largos períodos de posse de bola, do famoso “perde-pressiona” (uma consequência natural do aspecto anterior) que na maioria das vezes produz a rápida retomada da bola e a continuidade do ataque anterior, nem foi o jogo em que só o Brasil jogou e não deixou a Suíça jogar.
Ainda assim, a seleção mereceu a vitória. Defensivamente sofreu pouquíssimo e ofensivamente criou muitas chances de gol, tanto na bola parada (que voltou a funcionar), como com a bola rolando, mas falhou na hora de converter.
A equipe treinada por Tite alinhou no já esperado 1-4-3-3, com Philippe Coutinho iniciando no meio-campo ao invés de Fernandinho, deixando a seleção mais leve, imprevisível e criativa, dando mobilidade, 1×1 ofensivo e chegadas à área.
Diante de uma Suíça bem organizada defensivamente e postada no 1-4-4-1-1, o Brasil teve em Philippe Coutinho um homem chave no momento ofensivo.
Para ter acesso ao material completo, clique aqui.
A despeito de não fazer bom jogo, a seleção brasileira vencia a Suíça até os 9min do segundo tempo, quando Shaqiri bateu escanteio da direita. Zuber correu em direção ao primeiro pau, aproveitou uma falha de posicionamento da equipe sul-americana e deslocou Miranda, que também errou (em vez de encostar no adversário e limitar seu campo de ação, o camisa 3 virou o corpo totalmente para a bola e “ofereceu” as costas ao contato do rival. O contato foi indiscutível, mas a falta não. A única coisa clara na estreia do time comandado por Tite na Copa de 2018 foi a limitação de parte da mídia nacional.
Houve dois lances polêmicos no segundo tempo de Brasil 1 x 1 Suíça. Além da mão de Zuber nas costas de Miranda, Gabriel Jesus pediu um pênalti quando o jogo já estava empatado. A Copa de 2018 tem como grande novidade o uso do VAR (sigla em inglês para árbitro auxiliar de vídeo), mas a revisão oficial feita pela Fifa corroborou as decisões tomadas em campo pelo juiz mexicano César Ramos.
Em diferentes formatos e medidas, as decisões da arbitragem, mesmo com uso do VAR, dominaram o noticiário esportivo do Brasil no último domingo (17). Entre canais abertos e fechados, houve reclamação, críticas às decisões de Ramos, análise sobre o que seria empáfia do juiz por não ter mudado de ideia e até restrições ao próprio uso do equipamento eletrônico no jogo. Afinal, ao contrário da promessa, o advento do árbitro de vídeo não teria dirimido todas as polêmicas.
O uso do VAR, contudo, já evitou uma série de equívocos na Copa de 2018. No empate entre Portugal e Espanha, Isco pediu gol depois de um chute ter tocado no travessão e no solo. O árbitro simplesmente encerrou a reclamação ao mostrar que seu relógio não tinha apitado – há um dispositivo que avisa quando a bola ultrapassa a linha final. A vitória da França sobre a Austrália também teve papel determinante – e positivo – do árbitro de vídeo.
O ponto é que o árbitro que estava em campo e a equipe que trabalhava com o VAR na partida não tiveram convicção de que uma interferência externa era correta no lance do gol da Suíça ou no pênalti pedido pelos brasileiros. E isso foi suficiente para que o tema arbitragem ganhasse mais espaço na TV nacional do que o próprio jogo.
Discussões sobre arbitragem fazem parte do cotidiano do futebol. No entanto, é inadmissível que a estreia da seleção brasileira em uma Copa do Mundo seja reduzida a esse tema, a um “nós contra eles” ou a debates inócuos sobre “força nos bastidores”. Nesse caso, convém lembrar que o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), conhecido como Coronel Nunes, aprontou uma trapalhada gigantesca ao contrariar acordo da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), votar no Marrocos e preterir a candidatura vitoriosa de Estados Unidos, Canadá e México para receber o Mundial de 2026.
A Copa do Mundo dos bastidores é uma das sugestões mais patéticas e que mais prejudicam o debate. Se houve um benefício ao Brasil quando o árbitro anotou falta no pênalti que Nilton Santos fez contra a Espanha em 1962 ou quando Garrincha foi liberado para disputar a última partida apesar de estar suspenso, se houve um trabalho proposital para o pênalti cavado por Luizão ter garantido a vitória ao Brasil na estreia de 2002 ou para o árbitro ter prejudicado deliberadamente a Bélgica, isso é notícia. Não é tema para especulações ou debates cheios de insinuações. Já passou da hora de a mídia nacional ter maturidade suficiente para entender que não se pode levantar esse tipo de debate em assuntos que mexem tanto com a vida de outras pessoas.
Em um jogo da primeira rodada, Galvão Bueno se incomodou com um atacante que estava em posição irregular e optou por não participar da jogada. “Ele tem de correr. Vai que o juiz não vê”, disse o narrador da TV Globo. A fala prontamente repercutiu (mal) em redes sociais, o que é um avanço. Já existe uma parcela significativa da população brasileira que entende que o jogo de futebol, assim como a vida, não pode admitir todo tipo de jeitinho ou estratagema em nome da vitória.
O respeito ao jogo também é a valorização do que acontece em campo. As ações dos atletas e da comissão técnica são simplesmente mais relevantes do que decisões de arbitragem ou qualquer tipo de influência. A narrativa do “não fui eu” não contribui em nada para a valorização do esporte como produto.
Discutir arbitragem não é apenas o caminho mais fácil para audiência baseada em polêmica ou para encontrar subterfúgios. Também é um desrespeito a todas as camadas que compõem o jogo. Nesse contexto, chama atenção o fato de que comissão técnica e jogadores da seleção, ainda no calor da partida e diretamente influenciados pelas decisões da partida, tenham sido mais sóbrios do que grande parte da imprensa ao analisar o empate com a Suíça.
O “pachequismo” de parte da imprensa não é novo e nem é necessariamente um problema do ponto de vista da promoção do espetáculo (o que é bem diferente do trabalho do jornalista, é bom entender). A questão que o jogo do último domingo levantou é quando nos esquecemos do que acontece dentro das quatro linhas ou abraçamos o “ganhar a qualquer custo”. Aí o futebol expõe o que temos de pior.