Há alguns anos, o Corinthians ostentava várias estrelas em seu escudo. No Cruzeiro, sua constelação era envolvida em um círculo com uma coroa no topo, que sugeria a conquista da “tríplice coroa” (título estadual, mais o do nacional e o da Copa do Brasil). No exterior, o símbolo da Roma tinha uma sigla – não tão fácil de identificá-la – “ASR” (Associazione Sportiva Roma). O PSG tinha, em seu distintivo, a inscrição “Paris Saint-Germain” no mesmo tamanho da fonte. O do Manchester City era cheio de detalhes e com um lema quase ilegível.
Tudo isso que aqui foi falado constituem-se marcas. Para todas elas concedemos atributos. Em outras palavras, o que vem a mente quando se fala o nome delas, ou vê-se seu símbolo. Quanto mais fácil identificá-lo, melhor, independente da distância ou até mesmo do que está escrito. Nesse sentido, a “Estrela Solitária” do Botafogo, em alusão à estrela d’alva, é grande exemplo de fácil identificação e associação a todo um significado que ela sugere.
E é esta a função de um símbolo: representar uma instituição, seus valores, sua história e legado. Ele deve ser de fácil lembrança e identificação. Quanto mais limpo (menos visualmente poluído), melhor. Um critério bastante utilizado é o de uma criança conseguir desenhá-lo.
Nesse sentido, Everton, Roma e Paris St-Germain (PSG) repensaram seus escudos ao passo que suas marcas tornavam-se globais. Notem que o nome e o que dá identidade ao clube estão valorizados nas novas versões. No Everton, o nome, a torre e o lema (agora legível). ‘Roma’ ocupou o lugar do “ASR”. Quem olhava para o símbolo antigo do clube e não soubesse da história da loba e dos irmãos, sequer fazia ideia da sigla abaixo do desenho, também não saberia identificá-lo enquanto instituição esportiva.
Para o PSG, a mesma coisa. A cidade de Paris, como marca, é maior que o clube. Vincular-se mais ao nome desse município-alfa é projetar o clube em nível mundial, o que conecta com os investimentos que têm sido feitos dentro de campo.
No Brasil, o Cruzeiro consultou a sua torcida, que prefere as estrelas da constelação valorizadas – e não limitadas dentro de uma forma geométrica – em um universo que é simbolizado pela camisa azul do clube. Simples e significativo. O Corinthians optou por excluir as estrelas do símbolo e valorizar o escudo. O título na história sempre existirá. Não depende de uma estrela.
A marca, quer seja no futebol ou fora dele precisa se comunicar com seu torcedor, que é consumidor. Já dizia Chacrinha: “quem não se comunica, se trumbica”!
Em tempo: completo, com este texto, 6 meses como colunista na Universidade do Futebol. Quero agradecê-los por seguirem este espaço, ao refletir naquilo que pode ser feito pela gestão do futebol nacional gerador de renda e emprego, dentro e fora de campo.
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Quando a política afeta o futebol
Em eleição realizada no último sábado (03), Andrés Navarro Sanchez, 54, voltou à presidência do Corinthians. Vai ocupar no próximo triênio o cargo em que já havia estado entre 2007 e 2011, período que sedimentou uma das fases mais prolíficas do clube em campo, mas também aumentou vertiginosamente o endividamento e inseriu a agremiação no noticiário policial (ou nas denúncias que levaram políticos ao banco dos réus). Não foi o retorno do estilo dele, contudo, a grande notícia do dia no Parque São Jorge. O processo que determinou o rumo administrativo da equipe alvinegra num futuro próximo foi marcado por protestos, violência, cenas constrangedoras e sobretudo pela falta de representatividade. Num universo de mais de 30 milhões de torcedores, pouco mais de 3 mil participaram do pleito (o vencedor contabilizou 1.235 sufrágios).
Durante o dia de eleição, uma equipe de reportagem do canal fechado “ESPN Brasil” foi vítima de agressões (um chute e uma mordida, pelo menos). Outros profissionais foram ameaçados de diferentes formas, e até o próprio Sanchez teve de lidar com o clima hostil. Após ter sido eleito, o presidente foi atacado com um copo de cerveja e teve de passar pelo menos 20 minutos escondido em um banheiro feminino.
Há uma série de análises a serem feitas sobre o que motivou protestos e o que fomentou o ambiente conturbado no Parque São Jorge. A motivação, porém, não interfere no sentimento decorrente da eleição: existe um descolamento entre os torcedores alvinegros e a política alvinegra. Não é um caso isolado – basta lembrar o que aconteceu recentemente com o Vasco –, mas emblemático.
Num processo de comunicação, poucas coisas são mais complicadas do que exilar o consumidor. O que acontece em clubes brasileiros é um retrato de erros empilhados e tem como consequência o estabelecimento de um hiato. Essa distância entre entidade e público impede que as organizações conheçam efetivamente as pessoas que gostam de sua marca e o quanto é possível lucrar com esse vínculo.
O cenário constituído no futebol brasileiro faz com que seja uma falácia a ideia de que os grandes clubes têm milhões de torcedores. De que adianta contar com um contingente tão grande se a marca não conversa com esse público e não sabe aproveitar o potencial que ele tem?
Um contraexemplo no início de 2018 tem sido dado pelo Cruzeiro. Entre os times da primeira divisão do Campeonato Brasileiro, o time mineiro detém até aqui um dos desempenhos mais expressivos da temporada. No entanto, não é por isso que tem sido um dos líderes de público. No domingo (04), a torcida azul levou quase 50 mil pessoas ao Mineirão em vitória por 1 a 0 sobre o América-MG. Não pesou contra os adeptos o fato de ser início de ano ou de ser um clássico válido pelo Estadual (no atual contexto, um certame com menos relevância).
O Cruzeiro é um exemplo porque a atração real tem de ser o clube, e não a competição ou o contexto. O torcedor tem de ser impelido a ir ao estádio apenas para ver sua equipe em ação, mas esse é um processo que depende de o time conhecer seu público e saber como se comunicar com ele.
Nesta segunda-feira (05), a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) fará reunião com os clubes para discutir o regulamento do Campeonato Brasileiro. Haverá debates sobre a venda de mando de campo e o uso de gramado sintético, por exemplo.
O caso da venda de mando é uma distorção que reflete bem o conceito deste texto. No ano passado, o Madureira sofreu para conseguir classificação para a Copa do Brasil e celebrou a possibilidade de disputar um dos principais torneios do país. O time carioca enfrentou o São Paulo na primeira fase, mas não permitiu que seus torcedores conferissem isso de perto. Mais: após passar meses contando como era importante a classificação para a Copa do Brasil, impediu que seus adeptos desfrutassem ou pudessem ter certeza de tudo que foi comunicado. Em vez disso, a diretoria vendeu o jogo para Londrina, enfrentou os paulistas em campo neutro e viu seu time ser eliminado.
O dinheiro advindo da venda de mando foi relevante para a própria manutenção do Madureira. Se não tivesse feito isso, talvez a diretoria tivesse jogado em um estádio vazio e sofresse para fechar as contas da temporada. É um dilema causado pela má gestão de diferentes elementos (o calendário, os Estaduais e a própria marca dos clubes).
O fato é que os clubes brasileiros podem ter evoluído em muitos aspectos, mas ainda não se esforça para saber mais sobre quem consome o esporte e os motivos de quem deixa de consumir a despeito de ter vontade.
O potencial do futebol brasileiro não está subdimensionado; está alijado do processo, longe do conhecimento do público. Os clubes poderiam estar muito preocupados com esse desperdício de informações – sobretudo numa época em que esse conhecimento sobre o público, com comunicação e anúncios direcionados, é tão comum. O que acontece, contudo, é uma preocupação com o jogo político (interno ou externo).
Abel Braga, técnico do Fluminense, fez uma pergunta retórica no último domingo que diz tudo sobre o atual momento do futebol brasileiro. Consternado por ter de jogar longe do Rio de Janeiro e por ter sido eliminado da Taça Guanabara, equivalente ao primeiro turno do Estadual do Rio de Janeiro, o comandante questionou: “Qual é a nossa identidade?”.
A verdade, Abel, é que os clubes brasileiros ainda se preocupam pouco com isso.
Tradicionalmente, as pessoas no futebol querem uma coisa: vencer. Mas pensando em todo o processo de formação, o que significa “vencer”?
Vencer o jogo, principalmente fazendo-o como se pretende, é somente uma parte da grande vitória. Em um cenário ideal, todo o esforço investido retorna imediatamente com as vitórias em jogos, conquistas de campeonatos, promoção da base ao profissional, etc. Mas não é só isso!
O clube precisa ter uma estrutura de desempenho voltada ao que se deseja fazer, isto é, a maneira como se trabalha, com alinhamento cuidadoso de ideias, unidade de propósito, clareza de objetivo. Princípios, valores, normas e conduta; tudo se unindo!
Em essência, a ideia é bem simples: durante a temporada, de tempos em tempos, por que não verificar se o que está sendo feito está na direção certa, independente do resultado do último jogo? Se existem maneiras de aprimorar a forma como se está trabalhando para obter resultados melhores e quais seriam as dificuldades para isso?
Este procedimento permite ao clube ter um feedback quase que imediato do comportamento do indivíduo (jogador ou treinador) e do trabalho realizado. Porém, para que isso ocorra de forma eficiente, as pessoas precisam ter uma alta capacidade de comunicação e compartilhamento de informações, sem deixar os instintos e a paixão de lado, mas agindo predominantemente de forma decisiva com base nos princípios que dão a identidade ao clube.
Neste sentido, o clube precisa deixar bem claro quais são os seus valores e a sua identidade para poder avaliar de forma correta o perfil mais adequado daqueles que poderiam fazer parte do quadro de funcionários. No caso do perfil dos jogadores, certamente estes precisam ter qualidades que possam ser potencializadas dentro do modelo de jogo que o clube preconiza. Mas, e quanto aos treinadores? Qual deve ser a conduta destes profissionais? Será que a forma de comunicação utilizada é relevante? Sim! O clube precisa assegurar que o modelo permanecerá centrado no desenvolvimento do jogador, melhorando suas capacidades, maximizando o prazer pelo jogo e incentivando a participação ao longo dos treinos.
No entanto não vivemos em um mundo perfeito, por isso prefiro culpar o processo ao invés da pessoa. E quando o processo é ruim, o tempo da sua vida é desperdiçado em um trabalho que não cria valor algum. Sendo assim, observar, avaliar, decidir e agir sem critérios bem definidos acaba por agregar muito pouco à um processo que deveria ser de renovação de ideias, desenvolvimento e promoção.
Em geral, o que se percebe em contextos assim é uma total falta de lógica com objetivos absurdos ou impossíveis, expectativas exageradas quanto aos resultados, uma sobrecarga de trabalho com coisas que não produzem nada e um desperdício emocional enorme. Este último costumamos presenciar na beira dos gramados com atitudes ineficientes, destrutivas, desumanizadoras e nocivas. Tal comportamento é gerado por pessoas que gostam de “sacudir” os jogadores e deixá-los apreensivos, justificando que isso os faz treinar ou jogar melhor.
No fundo, estes profissionais só querem fazer algo significativo. A maior parte só não sabe como. Mais um motivo para que o clube seja o responsável pelo norteamento das ações e com isso consiga gerir e valorizar devidamente seus talentos.
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Entre o Direito e a torcida
Bom dia e bem-vindos a um novo mês aqui no “Entre o Direito e o Esporte”. Como é fevereiro, mês de carnaval, vamos conversar sobre um assunto de todos aqui: o futebol como paixão. Ou seja, vamos falar do direito para quem vai ao estádio.
Vamos lá?
Em fevereiro vamos conversar sobre o que a gente acha entre o Direito e a Torcida. E para facilitar um pouco a leitura, teremos quatro dias de conversa aqui. Hoje vamos ver uma introdução sobre o que vai ter na coluna nesse mês. Semana que vem teremos o primeiro tema, os torcedores “comuns”. Já na semana pós carnaval a gente vai conversar sobre as torcidas organizadas nos estádios. E, então, vamos fechar o mês com o sócio torcedor. Assim, a gente sai do começo do nosso futebol até os dias de hoje entre o Direito e a Torcida. Bora?
Sabe aquele torcedor que ainda não é sócio torcedor, mas ainda gosta de ir em uma partida aqui e outra ali? Então, é sobre eles que vamos falar na segunda coluna do mês de fevereiro. Os torcedores “comuns” são aqueles que um dia já foram maioria nos estádios. E que com o tempo foram “perdendo espaço” para a “fidelização do torcedor” – por aqui conhecidos como programas de sócio torcedor. Em algumas arenas até são uma espécie em extinção. Só que mesmo assim ainda tem a sua importância, e o Estatuto do Torcedor ainda fala bastante sobre esse público dos estádios.
E aquela parte da torcida que tem aquele monte de regras especiais para entrar, assistir ao jogo, e deixar o estádio? Sim, a gente também vai conversar um pouco sobre as torcidas organizadas na semana logo depois do carnaval. A torcida organizada faz parte da nossa cultura e do nosso jogo, e por isso é importante a gente entender quais são as regras que afetam esses torcedores dentro dos estádios. E é justamente sobre isso que vamos conversar.
Já na última coluna desse mês de fevereiro, vamos conversar sobre um tema que vira e mexe aparece na mídia. O sócio torcedor e os programas de fidelização do torcedor que os clubes de futebol fazem aqui no Brasil. Ou seja, aqueles programas que funcionam tipo aquele cartãozinho cheio de carimbo daquela lanchonete que você vai durante a semana, sabe? Esse tema faz brilhar o olho de quase todos os clubes e é por isso que é importante entender um pouco mais sobre como isso tudo funciona.
Como dá para ver, até torcer para o seu time passa entre o Direito e o Esporte. E é por isso que o foco desse mês é na torcida do futebol! Bom, por essa semana é isso. A gente se vê semana que vem para conversar um pouco mais sobre o que a gente acha entre o Direito e a Torcida logo antes do carnaval. Feito?
Convido vocês para continuarem aqui comigo. E qualquer dúvida, ideia, ou desabafo é só me chamar por aqui ou pelo meu LinkedIn. Um bom final de semana a todos, e até a próxima!
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O contexto e a cultura explicam muito
A pedagogia da rua formou os maiores craques do futebol brasileiro. Há cinquenta anos, por exemplo, havia mais espaços para a prática esportiva e menos opções de entretenimento para crianças e adolescentes. A principal atividade então era o futebol de rua. E nele, se jogava ‘dois contra dois’, ‘quatro contra quatro’, com ou sem goleiro, se jogava na chuva, ora descalço ora com calçado, mais velho contra mais novo, enfim, criavam-se regras que tinham ambientes de jogo propícios para o desenvolvimento de inúmeras habilidades técnicas, físicas e motoras.
Não só o futebol, mas atividades ao ar livre geravam instintivamente uma relação que é fundamental para qualquer prática esportiva: a relação “eu-corpo”. Para ficar mais claro, trago que no futebol as principais relações são: eu-corpo, eu-bola, eu-companheiro, eu-adversário e eu-alvo (gol). Já saíamos ganhando porque aqui no Brasil essa relação inicial do jogador com o seu próprio instrumento de trabalho era favorecido com brincadeiras lúdicas como pega-pega, polícia-ladrão, subir em árvores, etc.
E dentro desse mesmo contexto, nossos jogadores eram (e ainda são) formados muito na relação eu-bola e pouco na relação eu-companheiro. Por exemplo, em nossas peladas valorizamos quem dribla todo mundo. E sem a bola valorizamos quem faz o desarme. Pouco valorizamos quem faz bons passes. Por tudo isso, é muito fácil para um jogador entender quando o seu treinador pede para ele fazer uma marcação individual.
O contra ponto disso: e quando apelamos para a marcação mais utilizada hoje no mundo que é a por zona, como fazemos? Sofremos, porque nossa cultura nunca privilegiou a relação eu-companheiro. Quando temos que defender em linha, por exemplo, a maior parte da referência de ocupação de espaço é o jogador que está ao lado.
Porém minha preocupação nem é tanto com a defesa. E sim com o ataque. É mais difícil construir do que destruir. Estamos começando a ter bons sistemas defensivos no futebol brasileiro. Mas e o ataque? E quando temos que utilizar recursos, comportamentos e ideias que não seja dar a bola para o melhor do time que ele resolve sozinho no talento?! Aí não temos a relação eu-companheiro para atacar. Perceba que os sub-princípios de ataque mais utilizados pelos grandes clubes europeus são coletivos. É claro que pode e deve ter drible. Mas estou falando de ultrapassagem, troca de posição, mobilidade, etc. Tudo coletivo. Neste início de 2018, como em anos anteriores, dá tristeza acompanhar nossos times pelos estaduais em organização ofensiva.
Quebrar paradigmas e culturas faz parte de toda a evolução. Principalmente no esporte. Podemos ficar lamentando que no Brasil não há mais craques como antigamente ou criar mecanismos para suprir a falta de jogadores que dominem tanto as valências individuais como há algumas décadas e trabalharmos para coletivamente nos equipararmos com a elite do futebol mundial.
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Poluição visual

O cenário não é favorável, sem sombra de dúvidas. Qualquer patrocínio é bem-vindo e em nome destes recursos financeiros, as marcas aparecem nos lugares mais diversos: na frente, nas costas, nas mangas, nos ombros, na frente mais em cima…nas axilas! O escudo do clube fica imperceptível e às vezes até mesmo a cor do uniforme inidentificável, em função de dezenas de patrocinadores, apoiadores ou simples anunciantes.
Conseguir patrocínio não é tarefa das mais fáceis, sem dúvida. Décadas de má gestão fizeram com que a administração do futebol no Brasil gerasse desconfiança por parte da iniciativa privada. Isso somado a um cenário econômico nem sempre favorável, torna a conquista de uma empresa parceira ser celebrada sob o título de “salvadora da pátria”. Muitas vezes.
Não é este o caminho. Existem inúmeras opções de expor a marca de um patrocinador nas propriedades do clube (uniforme, placas de publicidade, estádio, redes sociais e conteúdo de mídia). E tudo isso é construído com base em um plano de comunicação dentro do planejamento estratégico cujas ações tem base na missão, visão e valores da instituição, tudo isso elaborado e executado por uma equipe de gestores do esporte.
Tudo isso em nome da preservação e valorização de dois dos elementos mais importantes para um clube: seu distintivo e uniforme. É o que o dinheiro não compra. Os elementos através dos quais a instituição será reconhecida Brasil adentro e mundo afora, facilmente de serem identificados. Simbolicamente, um escudo especialmente preservado na camisa e em escala maior que os patrocinadores, significa a instituição está acima dos interesses comerciais e financeiros. Sem falar que visualmente é bem mais agradável.
Com tudo isso, é inegável que os patrocinadores são importantes e peças fundamentais para o sucesso de um clube de futebol. Para uma potencialização da exposição das suas marcas e valorização da instituição esportiva, é preciso planejamento de comunicação, haja vista as infindáveis formas de veiculação dos produtos do clube (jogos, treinos, plantel, estádio, história), para além da televisão.
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As vaias nos Estaduais: apenas pressa?
Disputado no último sábado (27), o clássico entre Flamengo e Vasco, válido pelo Estadual de futebol do Rio de Janeiro, não teve gols. Não chamou atenção por dribles, jogadas de efeito ou mesmo pela disposição. No entanto, há um motivo para o jogo ter sido extremamente emblemático: foi a partida em que uma parcela considerável da torcida rubro-negra demonstrou ter perdido totalmente a paciência com Éverton Ribeiro e Rômulo, dois dos reforços mais caros que desembarcaram na Gávea nas últimas temporadas. Ambos foram vaiados por torcedores que queriam mais espaço para atletas como Lucas Paquetá e Ronaldo, que atuam nas mesmas posições dos medalhões criticados.
Rômulo chegou ao Flamengo no início de 2017, e Éverton Ribeiro foi contratado meses depois. Ambos voltaram ao Brasil sob grande expectativa – eram postulantes a vagas na seleção quando foram negociados por Cruzeiro e Vasco, respectivamente. Pelo que fizeram anteriormente em suas carreiras e pelos valores que movimentaram na ida e na volta ao país, preencheram sonhos de muitos rubro-negros.
As duas negociações têm a ver com um momento positivo das finanças do Flamengo. A diretoria vigente conseguiu reduzir consideravelmente a dívida, aumentar o potencial de investimento do clube e reforçar o elenco com jogadores de um nível alto de custo.
Entretanto, a chance de ir ao mercado e brigar por nomes de peso fez com que o time carioca fechasse um pouco os olhos para seu próprio DNA. A reação dos torcedores ao rendimento claudicante dos reforços tem muito a ver com o time que eles gostariam de ver em campo: um perfil mais aguerrido, mais ligado às raízes. Em outras palavras, os rubro-negros podem até se empolgar com atletas que recebem salários milionários, mas ainda preferem jogadores forçados no próprio clube e que realmente os representem em campo.
Os torcedores não vaiaram Rômulo e Éverton Ribeiro apenas porque os reforços ainda não se encaixaram (e essa falta de encaixe pode ter inúmeras razões). Vaiaram porque o time que eles gostariam de ver em campo teria Ronaldo, Lucas Paquetá e outros garotos revelados pelo próprio Flamengo, identificados com o clube e com o Rio de Janeiro.
Os apupos também refletem um aspecto cruel do atual calendário do futebol brasileiro. Os torneios estaduais, do jeito que estão posicionados, funcionam apenas como usinas de pressão e de rótulos. O primeiro mês de 2018 ainda não acabou, mas já serviu para criar craques e determinar nomes desprezíveis.
No Santos, por exemplo, o menino Rodrygo, de 17 anos, precisou de poucos minutos em campo para se tornar o próximo raio da Vila. Montagens já começaram a circular entre torcedores com fotos que simbolizam passagens de bastão entre Pelé, Robinho, Neymar e o novo candidato a jogador.
Em contrapartida, Rodrigão precisou de apenas alguns jogos da temporada para ratificar a desconfiança que a torcida tinha com ele. O centroavante já foi eleito como vilão e ponto fraco de um elenco com tanto a se acertar na atual temporada.
Kazim (Corinthians) e Borja (Palmeiras) também já convivem com pressão a despeito de terem feito poucos jogos na temporada. E Felipe Melo, que até outro dia era uma incógnita na equipe alviverde, virou uma das grandes armas do meio-campo montado por Roger Machado.
A sensação de que o futebol brasileiro tem vivido de certezas inócuas e voláteis, por mais paradoxal que isso seja, tem sido ainda mais clara numa temporada em que os principais times do país não tiveram tempo para se preparar adequadamente. O futebol pode evoluir em diferentes aspectos, mas nunca vai atingir um patamar mais alto se não respeitar as necessidades básicas de aspectos físicos e técnicos.
Num calendário apertado pela Copa do Mundo e por estaduais que teimam em não diminuir, a primeira fase da temporada serve apenas para que os grandes times do país sejam testados em condições inadequadas e convivam com pressão que não faz nada bem ao trabalho.
Contudo, não se pode confundir a pressa que os estaduais geram com um descolamento entre o projeto dos clubes e o anseio de seus torcedores. O processo de comunicação deve lutar constantemente com esses exageros do Brasil no início do ano, mas também precisa considerar a importância de entender o que o público quer. Os flamenguistas são apenas um exemplo disso.
Bem-vindos ao fechamento do Especial Copinha 2018 sobre o futebol de base aqui no nosso “Entre o Direito e o Esporte”. Hoje vamos conversar um pouco sobre mais uma maneira que o seu clube tem para ter um retorno quando investe na formação de um jogador: o “eu voltei” do futebol de base. Vamos começar com um resumo desse mês para chegar na origem do “mecanismo de solidariedade” até explicar o que é e como funciona.
Vamos lá?
A base do nosso futebol não é brincadeira. De lá saem os atletas que jogam pelos nossos times em todo o Brasil, de lá saem os craques que representam o nosso país na seleção canarinho, de lá saem os jogadores que são transferidos e dão retorno para o seu clube quando não conseguem mais fazer a diferença em campo – seja por uma falta de salário aqui, umas férias no Peru ali, ou até falta de qualidade técnica mesmo.
Afinal, entre o Direito, o Esporte e a Base, o seu clube tem que pagar as contas também.
E os clubes conseguem esse dinheiro quando investem na formação do jogador. O futebol de base é a base do nosso futebol. E como a gente tem conversado nesse último mês, os clubes que investem na formação de um jogador precisam que o departamento de base seja sustentável. Ou seja, que a base não gaste mais dinheiro do que ganha – como tudo deveria ser, né?
É por isso que falamos sobre o Certificado de Clube Formador (CCF) da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) que serve como um “manual do bom clube” de base. Esse CCF é uma maneira de proteger o seu clube em troca da sua base fazer o “mínimo do mínimo” e tratar a criança como pessoa e como jogador durante o “período de formação” dela.
É aí que o seu clube pode assinar aquele primeiro contrato (de formação) com o jogador, e receber aquele primeiro respiro financeiro quando tem planejamento. A indenização por formação é um dos jeitos de ter dinheiro em caixa com o futebol de base. É uma das maneiras de deixar a base do nosso esporte autossustentável. Só que não é a única.
Imagina que em 10 de janeiro de 2008 um menino de 15 anos estreava na Copa São Paulo de Futebol Junior – a “Copinha”. Esse menino dez anos atrás já estava na capa do jornal que dizia que ele “estreia e mostra talento”. Esse menino já era tratado como joia pelo seu time e era apadrinhado pelo “Rei das Pedaladas”. Esse menino, segundo os jornais, já tinha uma multa de 25 milhões de dólares em um contrato (de imagem) com o clube dele. O clube dele via o menino como o próximo Pelé até.
O resto da história a gente sabe: o menino virou jogador, o jogador virou ídolo, o ídolo virou craque. E o craque foi ser rei em outro lugar. Foi ser rei em outro país. Foi ser rei em outro continente. E para entender melhor como essa história ainda afeta o seu clube formador, a gente tem que conversar sobre o mecanismo de solidariedade no futebol.
A gente, torcedor, fala que o jogador hoje em dia não tem amor pela camisa e vai para fora só para ganhar mais dinheiro. A gente, torcedor, fala que lá atrás o que valia era esse amor pela camisa e que aquilo que era futebol. A gente, torcedor, fala que o futebol no Brasil hoje é mais fraco por isso. Não importa se isso é verdade, certo, ou mesmo justo, e, sim, que lá atrás existia o “passe” e hoje não.
Resumindo décadas de história em uma linha: um jogador belga conseguiu romper os “ferros” do futebol nos anos 90, e isso mudou todo o sistema de transferência de atletas no mundo. E um de seus reflexos aqui no Brasil foi o fim do “passe”. A ideia desse “passe” era que o jogador continuava “preso” ao seu clube mesmo que não fosse mais empregado e só era “liberado” quando o seu clube dava o “passe” para outro. Hoje não é mais assim, e os jogadores estão livres quando seu contrato acaba. Aliás, como a gente bem sabe, mesmo durante o contrato os jogadores podem ir para outro time, outro país, outro continente.
Para compensar os clubes, a FIFA criou um novo sistema para que entrasse dinheiro no futebol de base. Um sistema que ajudasse os clubes a manter seus jogadores. Um sistema que desse um retorno aos clubes mesmo depois que um jogador seu saísse. É aí que entra o “mecanismo de solidariedade” – o bom “eu voltei” do futebol de base.
Esse mecanismo é parte da síntese do futebol moderno que nem o “mercado de transferência” de hoje e a “indenização por formação”. E, como síntese do futebol brasileiro com seus dribles, irreverência e talento, o Neymar é o melhor exemplo de tudo isso desde quando vi a sua estreia no profissional contra o Oeste de Itápolis pelo Campeonato Paulista lá em 2009 no Pacaembu quando ele tinha 17 anos. Seu sucesso foi instantâneo. Convocado em 2010 para a seleção brasileira, transferência para o Barcelona de tantos outros craques nacionais em 2013, e um dos líderes no ouro olímpico em 2016.
E quando ele saiu da Espanha rumo a Paris por 222 milhões de euros, o Santos Futebol Clube ainda sorriu e ganhou dinheiro com ele mesmo depois de todos esses anos.
O atleta tem seu “passaporte”. Esse “passaporte” é o histórico do jogador. Lá você vai achar todos os clubes que ele fez parte desde os 12 anos de idade. E se o seu clube é um desses, é motivo de sorriso. Toda vez que esse atleta se transferir para outro clube por algum dinheiro, o seu clube vai ganhar até 5% do valor dessa transferência.
O valor que o seu clube vai receber depende de duas coisas: de quanto tempo o jogador ficou no seu time durante período de formação dele, e se vai para fora ou outro clube daqui. Para o seu time receber 5% da transferência quando o ex-jogador do seu clube vai de um time brasileiro para outro, ele tem que ter treinado no seu time dos 14 aos 19 anos. Já se ele vai para fora, o “período de formação” começa aos 12 anos e acaba aos 23 anos.
É por isso que o Paris Saint Germain repassou cerca de R$ 33 milhões ao Santos Futebol Clube como mecanismo de solidariedade quando o Neymar foi para lá, cerca de 4% do valor total para tirar ele do F.C. Barcelona. Neymar ficou no Santos dos 12 aos 21 anos, e por isso vai continuar distribuindo sorrisos na base do seu clube formador até se aposentar.
É isso, espero que tenham gostado do nosso “Especial Copinha 2018”. Eu fico por aqui, e em fevereiro retornamos para falar um pouco sobre “entre o Direito e a Torcida”. Convido vocês para falarem comigo nos comentários ou pelas redes sociais, toda ideia é bem-vinda. Um bom final de semana a todos e até a próxima!
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A enganação dos estaduais
Calma e cautela para analisar futebol não são sinônimos de falta de opinião. Como cronista, tento sempre exprimir um ponto de vista e deixa-lo muito claro. Às vezes acerto, em outras erro. Mas antes de qualquer comentário é sempre bom ter duas coisas: muitos fatos e evidências para ponderar, e entender que tudo pode cair por terra por conta do caos imprevisível que é uma partida de futebol. Coloco isso para acalmar os torcedores que estão eufóricos e acalentar os que estão ressabiados com o início dos seus respectivos times nos campeonatos estaduais. Tudo pelo meu primeiro argumento: não há dados factíveis para analisar nenhuma equipe.
Um padrão de comportamento e resposta de um time para as fases do jogo se manifesta em no mínimo de cinco a oito partidas. Isso em condições normais de uma temporada. E não com apenas dez dias de preparação, como é o caso agora.
Pego o Palmeiras, por exemplo – até porque mais uma vez pelo alto investimento, a equipe é apontada como favorita em tudo. Como saber com apenas duas partidas que o 1-4-1-4-1 utilizado até aqui será a plataforma de ocupação de espaço que mais vai potencializar as virtudes dos jogadores? Ou como sem ver nenhuma partida podemos prever que Lucas Lima e Gustavo Scarpa vão se complementar dentro de campo? Só pelo nome? Bem, Everton Ribeiro e Diego também tem nomes imponentes e não produziram juntos o que o Flamengo esperava no ano passado.
Sem falar das relações interpessoais do elenco e e da comissão técnica de Róger Machado. Como o ambiente vai reagir quando um Dudu ou um Felipe Mello tiverem que ir para o banco de reservas? O clichê ‘elenco rachado’ em 99% das vezes desmonta qualquer time de futebol.
O jogo é muito complexo para tirarmos conclusões e estabelecermos verdades e mentiras absolutas. Basear-se então em apenas duas partidas é um completo suicídio.
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O hino do Brasil no futebol

Muitos podem achar este não ser tema tão importante, entretanto, é pelo fato de fazer parte de um produto do esporte, que é o jogo de futebol profissional. Um produto que é colocado no mercado e à disposição de consumidores que podem ou não adquiri-los. Falo da execução do Hino Nacional Brasileiro antes das partidas.
Este texto tem como origem uma tarde de domingo vendo jogo de futebol americano. Especificamente o cerimonial e protocolo em torno do hino dos Estados Unidos da América. Ora, a modalidade é uma das que simbolicamente mais representam o estilo de vida norte-americano e, mesmo com a presença de militares nestas cerimônias pré-jogos, o culto aos símbolos nacionais não é diretamente associado às forças armadas ou a um período em que elas governaram um país. Não é preciso ser perito em história estadunidense, mas o trabalho que fazem em torno da sua bandeira, hino e selo resgatam valores e propósitos daquele lugar, conhecidos e divulgados desde a sua fundação. Por mais que possam não cumpri-lo (ausência dos direitos civis nos anos 1960, por exemplo), existem e acredita-se nisso. Com isso, surge o respeito aos símbolos e ele se solidifica com o tempo.
Não é o que acontece no Brasil. Pode ser que um dia mude, mas vai levar tempo. O cenário da construção e valorização dos símbolos pátrios foi bastante diferente. Somado a isso, o caos político, social e administrativo, além da crise de valores em que vive o país. A exclusão dos menos favorecidos e o constante desrespeito ao cidadão, quer seja através da corrupção (quer seja dos governantes ou do cotidiano) ou das filas nos postos de saúde, são capazes de desintegrar a sociedade. A prazo, é possível o indivíduo se afastar da crença em uma ideia de nação. Como consequência, a falta do costume em cantar o hino nacional e o uso da bandeira como fim político.
Desta maneira, o hino do Brasil é colocado antes dos jogos para que o público cante, celebre. Mas não é o que acontece. Salvo raríssimas exceções. Isso serve nos jogos das seleções brasileiras, serve sim. Se os símbolos nacionais tivessem um quarto elemento, ele certamente seria a camisa amarela. Cantar o hino não representa mais civismo ou faz alguém ser mais patriota. No futebol americano, poucos cantavam o hino. Os que cantavam, murmuravam. No entanto, todos respeitavam.
Com tudo isso, não vai ser o gesto de cantar o hino do Brasil antes dos jogos de futebol, fazer com que haja uma popularização da sua canção e letra. Isso vai acontecer a partir do momento em que os direitos e deveres de todos os cidadãos sejam compartilhados, respeitados e cumpridos.