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Convicção

Vanderlei Luxemburgo era o técnico do Cruzeiro no Campeonato Brasileiro de 2015. Reformulou o elenco, mudou a forma de a equipe jogar, perdeu seis partidas seguidas e foi demitido. Mano Menezes assumiu, terminou o torneio nacional e começou a pensar no que seria do time mineiro para a temporada 2016. Antes disso, porém, preferiu trocar a Toca da Raposa pelo futebol chinês. Deivid foi a aposta da diretoria para esta temporada, mas não resistiu a um início claudicante e à eliminação no Estadual. Foi substituído pelo português Paulo Bento, outra novidade promovida pela cúpula celeste, que chegou perto do início do Nacional e comandou outra revisão no grupo de atletas. Afundado na penúltima posição e na zona de rebaixamento, contudo, o Cruzeiro demitiu seu quarto treinador em um ano. Fazer futebol, assim como fazer comunicação, é praticamente impossível se não houver convicção.
É totalmente contraditório o Cruzeiro, time que fez duas apostas em treinadores na temporada 2016, ter demitido Deivid e Paulo Bento antes que essas novidades tivessem tempo para provar qualidades ou espaço para desenvolver suas ideias. O técnico ideal da diretoria no início do ano não resistiu a uma campanha ruim no Mineiro, e a melhor opção para o atual cenário caiu antes de completar sequer um turno no Brasileiro.
Entre Luxemburgo, Mano, Deivid e Paulo Bento, o Cruzeiro buscou quatro perfis diferentes e quatro visões diferentes de futebol. Mais do que isso, jogou um peso a seus cofres por ter interrompido precocemente os trabalhos – o português receberá até o fim de 2017, por exemplo, e vários atletas contratados nessas gestões mudaram de status no clube durante essas transições.
O Cruzeiro não deu apenas demonstrações de que dá pouca estabilidade a seus técnicos. Com tantas mudanças, escancarou incertezas sobre seu próprio elenco e reconheceu ter feito apostas erradas em contratações ou escalações. O que fica para o torcedor, depois de tudo isso, é um enorme ponto de interrogação sobre as próximas medidas da diretoria celeste. Como confiar em alguém que não confia no próprio trabalho?
Não existe sucesso sem convicção. E não existe convicção se não houver clareza de objetivos e processos. São etapas fundamentais no processo de comunicação, e o futebol é apenas um exemplo escancarado disso.
Quando o Campeonato Brasileiro começa, por exemplo, há 20 times dizendo que sonham com o título. Cinco ou dez rodadas depois, mais da metade ainda fala em condição de taça ou em vencer todos os próximos rivais. No discurso, a verdade é que nos acostumamos com um futebol de enganação e de ilusões.
É assim que construímos falsos craques, falsas verdades e falsas expectativas. É assim também que buscamos culpados quando essas pretensões não são atingidas. Paulo Bento virou culpado por um desempenho negativo do Cruzeiro, mas o que a diretoria esperava de um elenco que foi remodelado com o Brasileiro em curso? Qual era o objetivo do clube para o atual estágio da competição e quanto o português ficou devendo em relação a isso?
Não defendo aqui que alguém cometa sincericídios e faça qualquer tipo de propaganda negativa sobre seu clube. Não defendo aqui que os clubes esvaziem seus jogos, diminuam o sonho de seus torcedores ou desrespeitem o nível de suas tradições.
Defendo, isso sim, que os clubes entendam que futebol se faz com processos. Que não há sucesso no esporte que seja unicamente baseado em imediatismo e mudanças abruptas de direção. É preciso definir um caminho, planejar um tempo para percorrê-lo e fazer cobranças paulatinas de acordo com a relação entre rendimento e meta.
Comunicação também se faz assim. Que tipo de futebol você deseja para seu time? Quais são os processos até que esse nível seja alcançado? Quanto tempo isso demora? Como você vai comunicar isso aos torcedores sem esvaziar jogos no caminho ou reduzir o interesse do público pelo produto?
É por isso que a comunicação no esporte não pode viver apenas de resultados. Não há como vender apenas vitórias ou derrotas, ou essa relação com os resultados vai criar um cenário incerto para todo o trabalho. Comunicação no esporte precisa contar histórias, humanizar, e esse é um trabalho que deve permear a vida de todos que trabalham no segmento.
Pode ser difícil sonhar com médio ou longo prazo num ambiente de tanta pressão e de tanto escrutínio público quanto o futebol brasileiro. Enquanto o cenário for esse, porém, não adianta termos qualquer tipo de surpresa com mudanças como as demissões de técnicos. Enquanto faltar convicção eles vão seguir sofrendo.

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“Caso Riascos” e os caminhos da lei

A manifestação do atacante Riascos, do Cruzeiro, ao microfone da Itatiaia, repercutiu em toda a imprensa brasileira. Após a derrota para o Fluminense, o atleta disse “Não pode tirar minha felicidade pra (sic) jogar nessa merda aqui”.
Imediatamente, a diretoria do Cruzeiro afastou Riascos. No dia seguinte, o Presidente Gilvan de Pinho Tavares, adotou tom mais ameno e deu dicas de que a postura do Clube possa ser mais amena.
Nesta terça-feira, em nota oficial, a diretoria do Cruzeiro manteve o afastamento do atleta e informou que já estava negociando os direitos econômicos dele e que está agilizando o processo.
Analisando-se a legislação aplicável ao caso, em situações como a do atacante Riascos, todo cuidado é pouco, senão vejamos. Aos atletas profissionais de futebol aplica-se a Lei Pelé e, no que for silente, a CLT. Em caso de dispensa imotivada do atleta, o clube deverá pagar a cláusula compensatória desportiva que terá o valor máximo de 400 (quatrocentas) vezes o valor do salário mensal no momento da rescisão e, como limite mínimo, o valor total de salários mensais a que teria direito o atleta até o término do contrato. Ou seja, dispensa do atleta oneraria os cofres do Clube.
Para evitar o pagamento da cláusula compensatória desportiva, Riascos deveria ser dispensado com justa causa, cujas hipóteses estão previstas no art. 482, da CLT, a saber: a) ato de improbidade; b) incontinência de conduta ou mau procedimento; c) negociação habitual por conta própria ou alheia sem permissão do empregador, e quando constituir ato de concorrência à empresa para a qual trabalha o empregado, ou for prejudicial ao serviço; d) condenação criminal do empregado, passada em julgado, caso não tenha havido suspensão da execução da pena; e) desídia no desempenho das respectivas funções; f) embriaguez habitual ou em serviço; g) violação de segredo da empresa; h) ato de indisciplina ou de insubordinação; i) abandono de emprego; j) ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra qualquer pessoa, ou ofensas físicas, nas mesmas condições, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem;  k) ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem;  l) prática constante de jogos de azar.
Analisando-se as hipóteses legais, percebe-se grande dificuldade de enquadramento do caso concreto. Importante esclarecer que por indisciplina/insubordinação entende-se insurgência contra ordem estabelecida.
Além da cláusula compensatória desportiva, em eventual demanda trabalhista, o Cruzeiro poderia ser condenado ao pagamento de indenização por assédio moral.
Sem-Título-2
Nos Tribunais brasileiros há diversas decisões no sentido de condenar o Clube ao pagamento de danos morais por assédio moral quando são afastados do grupo principal e colocados para “treinamento em separado”.
A tudo isso se soma o fato de Riascos ser um ativo do Clube com reconhecido valor de mercado (vale lembrar que o Vasco teve interesse na sua permanência) e eventual “depredação” pública da imagem do atleta traria desvalorização ao seu próprio patrimônio.
Não há dúvidas de que o melhor caminho será negociar os direitos econômicos do atleta e, consequentemente, evitar o pagamento de cláusula compensatória (e também eventual dano por assédio), bem como repor o investimento feito no atleta.
O grande ponto neste caso será a redução do valor do atleta no mercado, eis que é público e notório o interesse/necessidade do Cruzeiro em “se ver livre” do atacante.
De toda sorte, situações como esta devem ser analisadas de forma bastante racional, profissional e com vistas no mercado, despida de paixões, a fim de que a decisão não traga grandes prejuízos ao Clube.

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Demissão

O esporte é um mercado como qualquer outro, mas não há mercado como o esporte. Em que outro segmento profissional um funcionário expõe insatisfação durante a atividade, reclama publicamente (e veementemente) do lugar em que está, é demitido (também de forma pública e veemente), sofre ameaças de ações judiciais, vira alvo de extenso (e ambíguo) escrutínio popular e só depois tem sua situação verdadeiramente discutida? O caso Riascos é uma soma de problemas e tropeços, mas o cenário decorrente disso mostra uma série de características que fazem do futebol um ambiente único para quem trabalha com comunicação.
Duvier Riascos, 30, foi contratado pelo Cruzeiro em 2015. Enfrentou rejeição desde o momento em que a negociação foi concretizada – para a torcida alviceleste, o atacante colombiano era mais lembrado por um pênalti perdido na Copa Libertadores de 2013, quando defendia o Tijuana, em lance que podia ter eliminado o Atlético-MG do torneio. Nunca foi realmente aceito na Toca da Raposa.
Em maio de 2015, a despeito de ter contrato de três anos, Riascos foi emprestado ao Vasco. Não conseguiu evitar a queda da equipe carioca para a Série B do Campeonato Brasileiro, mas se consolidou. Virou referência também pelo estilo – as danças, o cabelo, o comportamento exacerbado.
A mudança parecia o melhor cenário para todos, mas o contrato de empréstimo terminou. O Cruzeiro queria dinheiro para que Riascos continuasse no Vasco, e o Vasco não quis bancar. O colombiano voltou à equipe mineira em maio, valorizado, com expectativa de finalmente conseguir espaço e aceitação.
Novamente, porém, a passagem de Riascos pelo Cruzeiro não teve nada disso. O atacante encontrou um elenco esfacelado, em transição, com troca de comando técnico e uma enorme quantidade de mudanças no elenco. Sucumbiu em meio a um grupo que tem colocado a equipe na parte inferior da tabela do Campeonato Brasileiro e escancarou tudo isso no último domingo (17), em derrota para o Fluminense. Ao ser acionado pelo treinador Paulo Bento, chamou mais atenção em campo pelas caras e bocas do que pelas jogadas. Foi vaiado pela torcida mineira e tomou um cartão amarelo por reclamação – a advertência, a terceira, suspendeu o atacante da próxima partida.
Ao sair de campo, Riascos foi questionado sobre a atuação e a evidente insatisfação. Em entrevista à “Rádio Itatiaia”, respondeu que estava infeliz e que havia sido retirado de onde estava bem “para jogar nesta m…”. Foi o estopim para uma bomba.
Em entrevista coletiva, logo depois do jogo, o diretor de futebol do Cruzeiro, Thiago Scuro, anunciou a demissão de Riascos. Desligou o jogador da delegação e avisou que o clube tomaria medidas legais para punir o atacante. Enquanto isso, torcidas das duas equipes que ele defendeu no Brasil inundavam redes sociais – os mineiros pediam a saída imediata dele, e os cariocas pediam a volta do colombiano.
O desabafo de Riascos foi desmedido, obviamente. O jogador pode até alegar que estava com a cabeça quente e que foi interpelado em um momento de pressão, mas a verdade é que esse tipo de exagero não contribui em nada para o contexto todo. A declaração dele colocou em xeque o trabalho e o nível dos profissionais da equipe mineira.
A reação de Scuro também foi forte, o que ele julgou necessário para proteger a imagem do clube e dar uma espécie de recado a outros jogadores. Institucionalmente, essa foi uma manifestação importante e teve um tom tão assertivo quanto o momento pedia. O problema, nesse caso, não foi cabeça quente ou um nível incontrolável de insatisfação. Nenhuma comunicação oficial desse tipo pode ser feita sem amparo de todas as áreas responsáveis.
Nesta segunda-feira (18), menos de 24 horas depois do episódio, o presidente do Cruzeiro, Gilvan de Pinho Tavares, foi bem menos enfático. Em entrevista ao portal “UOL”, lembrou que o jogador é um ativo do clube e que não vai simplesmente ser demitido. Houve um investimento para contratar o atacante, que ainda tem mais de um ano de vínculo e praticamente não deu retorno técnico à equipe mineira.
Depois de tudo que foi criado, contudo, o ambiente de Riascos no Cruzeiro parece extremamente inviável. É uma situação ainda mais grave do que a que está posta no Corinthians, que ainda tem até o fim do ano para administrar o problema que se tornou o atacante Alexandre Pato.
Num mercado comum, o profissional que chegasse a esse ponto simplesmente sairia da empresa. Tentaria um acordo amigável ou então romperia o contrato. Trabalho é uma parte importante da vida, mas não existe trabalho se o profissional estiver infeliz ou estiver em uma condição miserável – e essa infelicidade ou essa condição miserável não dependem de quanto a pessoa receba por mês, independentemente dos altos salários praticados no futebol; é uma questão de sensação e de relação com o entorno, e isso pode acontecer mesmo entre os mais bem remunerados.
No entanto, o futebol não é um mercado comum. É um segmento em que todas as decisões de qualquer profissional são submetidas a julgamento público e que têm consequências para processos maiores. Se simplesmente demitir Riascos, por exemplo, o Cruzeiro terá de administrar o rombo que isso causará no orçamento do clube.
Todo esse episódio reforça a importância de que estratégias de comunicação sejam pensadas e discutidas entre todas as áreas. O desfecho do caso Riascos afetará o Cruzeiro como um todo e não pode ser definido no futebol para depois chegar a áreas como diretoria e departamento jurídico. É fundamental que as pessoas funcionem como a engrenagem que um time deveria ser – e que a comunicação reflita isso. A cabeça quente não pode ser desculpa para atropelos em processos tão relevantes.

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CBF regulamenta atuação da imprensa

Com o objetivo de regulamentar, dentre outros pontos, a atuação dos profissionais de imprensa nos jogos do campeonato brasileiro, em 12 de maio, a CBF expediu a Diretriz Técnica 03/16.
A referida diretriz estabelece, entre outros pontos, a forma de credenciamento dos profissionais, seus limites e condições de atuação e, penalidades para eventuais infrações.
A fiscalização será realizada pelos supervisores de imprensa e campo indicados pelas Federações.
De forma justa, a Diretriz concede algumas prerrogativas aos profissionais das emissoras de TV, detentoras do direito de transmissão.
Outro ponto importante no que diz respeito à profissionalização, é a vedação da entrada ou permanência no entorno do gramado de profissionais da imprensa de camisa regata, chinelos, bermudas, com apelos comerciais em roupas/acessórios ou fumando.
Enfim, há de se louvar o objetivo de estabelecer regras que valorizem o evento esportivo e a sua cobertura pelos diversos meios de comunicação.
Doutro giro, a Diretriz Técnica estabelece a dura pena de suspensão do credenciamento, o que pode prejudicar profundamente a atuação dos repórteres de campo que estão ali, acima de tudo para exercer o seu trabalho e divulgar a competição.
Neste ponto, a norma da CBF peca ao não indicar a possibilidade de penas mais brandas e educativas, especialmente neste momento de adaptação.
Ao invés da pronta suspensão, a Diretriz poderia ter previsto advertência ou censura prévia.
Outrossim, deveria haver a previsão de prazo para cumprimento da pena e, até mesmo, a possibilidade do profissional se defender em respeito ao princípio da ampla defesa prevista na constituição.
Essas medidas, sobretudo o prazo para cumprimento de eventual suspensão, são muito importantes para que os meios de comunicação possam organizar a sua logística de viagens e escala de profissionais.
Trata-se, obviamente, de um primeiro passo da CBF no tratamento profissional do evento esportivo, como já ocorre na Europa e nos EUA, e, justamente por isso, eventuais imperfeições devem ser ajustadas a fim de não se prejudicar o trabalho de profissionais que, além de buscarem o seu sustento, querem levar ao público a melhor cobertura possível da competição.

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Choro

Para falar de comunicação, vamos falar de futebol. E para falar de futebol, vamos falar de basquete. E para falar de basquete, vamos falar de vida. E para falar de vida, vamos falar de emoção. É assim o ciclo, afinal: pretensiosos, tergiversamos até achar coragem e olhar corretamente; quando nos despimos e nos abrimos às inquietudes, enxergamos elementos que suscitam aprendizado. Lionel Messi. Cristiano Ronaldo. Kevin Durant. Tim Duncan. De alguma forma, os principais personagens do esporte mundial nos últimos dias nos serviram para mostrar o quanto é importante questionar coisas e pesar significados.
O choro de Lionel Messi depois do término da Copa América Centenário, por exemplo, carrega muito mais do que a derrota para o Chile nos pênaltis ou o longo hiato desde a última conquista da seleção argentina. São lágrimas de um jogador que foi muito questionado como homem e que sempre sofreu pelas decisões que tomou fora de campo. Quando buscou na Espanha o tratamento físico que o país natal não podia oferecer, Messi tornou-se também um personagem menos forjado pelo ambiente local. É difícil dissociar Messi de Barcelona ou imaginar um cenário em que estrela, time e cidade tivessem o mesmo sucesso se estivessem separados. O jogador ficou conhecido como camisa 10 do Barcelona antes de ser um astro em sua seleção e convive até hoje com as cobranças para ser ídolo nacional.
Depois da derrota para o Chile, na decisão da Copa América, Messi chegou a sugerir que seu período com a camisa da Argentina pode ter acabado. Se confirmar isso, perde a equipe nacional e perde o futebol de seleções. Entretanto, fica aqui mais uma marca: num gesto de amor altruísta, o camisa 10 considera a possibilidade de ser uma espécie de problema para seu time e abre mão dos valores individuais em nome da chance de ver o país voltar ao topo do pódio.
Não acho que a aposentadoria de Messi seja duradoura, mas a atitude revela mais do que uma simples frustração acumulada. É um sacrifício de alguém que sempre teve de lidar com uma carga muito maior do que a real. Ídolo do Barcelona, Messi sempre teve de ser mais argentino do que os argentinos. Quando atingiu o auge, sempre teve de conquistar títulos pela equipe nacional para ser finalmente equiparado a Diego Maradona.
Cristiano Ronaldo também chorou. Chorou inicialmente no primeiro tempo da decisão da Eurocopa, após ter sofrido falta dura de Payet. A entrada do jogador francês causou um problema no joelho do camisa 7 da seleção portuguesa, que perdeu ali sua grande referência técnica. Ainda assim, os lusitanos venceram por 1 a 0 – gol de Éder na prorrogação – e conquistaram no último domingo (10) o maior título da história do futebol do país. Findada a partida, Cristiano Ronaldo desabou no gramado e chorou.
O choro de Cristiano Ronaldo depois do jogo não foi uma atitude preocupada com telões, marketing ou imagem. Foi uma representação física de alguém que se esforçou muito para estar no nível de jogadores mais capacitados tecnicamente. Foi uma explosão de alguém que sempre foi questionado pelo comportamento e que teve de lidar com cobranças que nada tinham a ver com a eficiência ou a qualidade de seu trabalho.
Ao contrário de Messi, Ronaldo sempre foi orgulho nacional. Entretanto, isso nunca foi suficiente. Assim como o argentino, o jogador do Real Madrid era o não-vencedor e simbolizava um sucesso individual a despeito dos defeitos coletivos da seleção.
Porque nós nos acostumamos a contar as histórias a partir dos vencedores, afinal. Buscamos personagens que tenham histórias de redenção e sucesso como se o esporte permitisse esse tipo de glória a um número grande de personagens. Não é assim, infelizmente.
É aí que entra Kevin Durant, terceiro maior cestinha da história da NBA (em média) e o maior definidor da liga profissional de basquete dos Estados Unidos nas últimas temporadas. O camisa 35 ficou sem contrato com o Oklahoma City Thunder e podia escolher onde jogar na próxima temporada. Cortejou algumas das principais equipes e escolheu o Golden State Warriors, duas decisões consecutivas (e um título conquistado).
A adição de Durant faz de Warriors o favorito obrigatório para a próxima temporada da NBA. O jogador escolheu justamente a equipe que o havia eliminado na final de conferência do campeonato anterior e se juntou a Stephen Curry e Klay Thompson, dois dos maiores arremessadores de todos os tempos. Escolheu o time que provavelmente dependeria menos de seus talentos para ser candidato a algo na liga.
A decisão de Durant abriu um debate extenso na NBA sobre o comportamento dos grandes astros. A liga não convivia com uma transferência tão polêmica desde que LeBron James resolveu deixar Cleveland para ser campeão no Miami Heat. Afinal, num ambiente em que todas as atitudes são submetidas a um escrutínio sem paralelo, qual é o significado de um astro escolher o “caminho mais fácil” para tentar ser campeão?
Se tivesse ido para qualquer outro time, Durant conviveria com questionamentos sobre ter deixado o Oklahoma City Thunder. Como escolheu Golden State Warriors, transformou a mudança em um debate sobre “ganhar a qualquer preço” ou “escolher o lado mais forte em uma briga”.
 
Sem-Título-2
E a comparação entre as três histórias mostra como o esporte é cruel. Durant poderia ter feito outra opção e poderia passar a vida sem chance de ser campeão da NBA. E no futuro, quando nos lembrássemos dele, falaríamos de um jogador de qualidades e o colocaríamos abaixo dos atletas que acumularam anéis de campeões.
Messi poderia ter mais sucesso se desse razão às críticas que ouvia no início da carreira na seleção e optasse pela Espanha. Era uma peça de talento individual que os ibéricos não tiveram sequer em seu período de maior sucesso. Cristiano Ronaldo também poderia ter abraçado a figura do craque isolado e se conformado com as limitações de sua equipe. Fez o contrário: mesmo depois de ter sido substituído, ficou no banco de reservas e participou ativamente do jogo.
Durant pegou o caminho mais curto, e isso reflete um pouco a crueldade de quem analisa o esporte. Ele pode não ser campeão no futuro imediato, mas buscou no Golden State Warriors uma chance de ser maior do que era no Oklahoma City Thunder.
Esportivamente, a carreira dele pode até ser maior nos próximos anos. As mãos de Durant podem até se encher de anéis e o rosto dele pode ter um sorriso constante por estar em um time que oferece prazer de estar em quadra. Contudo, Durant perdeu uma enorme chance de ser um personagem maior do que vitórias e derrotas. Perdeu uma chance de mostrar que o esporte pode ser muito mais do que isso.
Foi isso que fez Tim Duncan nesta segunda-feira (11), ao “anunciar” que havia se aposentado. Foi um comunicado oficial do San Antonio Spurs, na verdade, sem uma frase sequer do maior jogador da história da franquia. Após 19 temporadas e cinco títulos, ele preferiu sair de cena com discrição e sem os arroubos do ano derradeiro de Kobe Bryant, ala-armador que transformou a temporada do Los Angeles Lakers em uma turnê de despedida.
Duncan é um exemplo raro numa época de superexposição do esporte e dos atletas. Não é uma figura midiática, não faz estripulias fora de quadra e raramente é lembrado por algo além das conquistas – nem mesmo por lances plásticos, por exemplo. É o personagem que preferiu sempre as vitórias e que fez isso em silêncio, sem vaidade ou individualidade.
Os choros de Messi e Cristiano Ronaldo podem ter muito de relação individual com o jogo. A decisão de Durant também. O que Duncan nos mostra, porém, é que não adianta olharmos apenas para a primeira camada. O esporte pode ser feito de pequenas conquistas individuais, mas precisa ser sempre visto um pouco além do impacto inicial.

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O Atlético não tem BI: mito ou verdade

Após o título do Atlético-MG na Libertadores, a torcida do Cruzeiro rebateu as piadas e “memes” dos atleticanos dizendo que o rival não tem bicampeonato.
O time mineiro não conquistou novamente a principal competição nacional, após o título do campeonato brasileiro de 1971.
Igualmente, a Libertadores de 2013 e a Copa do Brasil de 2014, foram os primeiros títulos do alvinegro mineiro nessas competições.
Naturalmente, a premissa inicial é de que não se consideram os títulos mineiros para essa contagem, em virtude da larguíssima vantagem de Atlético e Cruzeiro em relação aos demais clubes mineiros.
Em 1937, o Atlético conquistou um título importantíssimo que é extremamente menosprezado pela imprensa, pela CBF e pelo próprio clube mineiro, a Copa dos Campeões.
Organizado pela Federação Brasileira de Futebol, a Copa dos Campeões de 1937, foi a primeira competição nacional profissional do Brasil e reuniu campeões estaduais e era a maior competição nacional da época. Tanto que o Jornal Estado de Minas proclamou o Atlético campeão brasileiro.
Vale dizer que a primeira competição nacional reconhecida pela CBF é a Taça Brasil de 1969 que, desde 2010 junto com o ‘Robertão”, alçou seus vencedores à categoria de campeões brasileiros.
Apesar de ter sido a única competição nacional de época e de sua importância, o título de 1937 não foi sequer levado à CBF para reconhecimento. Entretanto não seria exagero considerar o Atlético campeão brasileiro deste mesmo ano.
Em 1992, a Confederação SulAmericana de Futebol, inspirada na Copa da UEFA, criou a Copa Conmebol que reunia os melhores clubes, não classificados para a Libertadores, dos campeonatos de seus países.
No caso do Brasil, do 2º ao 4º lugar no Campeonato Brasileiro e, o vice campeão da Copa do Brasil. As colocações do Brasileirão, que classificavam à Copa Conmebol, são as mesmas que atualmente classificam para a Libertadores.
Assim, especialmente, entre os anos de 1992 e 1997 quando foi criada a Copa Mercosul, a competição possuía nível técnico altíssimo com finais envolvendo clubes tradicionais da América do Sul como Olímpia, Peñarol, Lanús e Rosário Central, além dos brasileiros São Paulo, Santos, Botafogo e o próprio Atlético, que conquistou os títulos durante esses anos.
Além do bicampeonato extraoficial em competições nacionais e do bicampeonato oficial da Copa Conmebol, é importantíssimo destacar o tricampeonato brasileiro do futsal do Atlético (1985/1997 e 1999) que, especialmente nos títulos dos anos 90, encantou o Brasil com uma equipe repleta de craques como Manoel Tobias e Falcão (dois dos maiores de todos os tempos na modalidade).
Portanto, dizer que o Atlético não tem bi é MITO.

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Discurso de unidade

Não foi apenas pelos resultados recentes que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) escolheu Tite para ser o sucessor de Dunga, demitido após a fracassada campanha da seleção brasileira na Copa América Centenário. Os donos de cinco títulos mundiais caíram ainda na primeira fase, em um grupo em que Equador e Peru avançaram, e só conseguiram balançar as redes na partida contra o Haiti. O novo técnico da equipe nacional tem histórico extremamente prolífico nas temporadas em que comandou o Corinthians, é verdade (venceu um Paulista, uma Recopa Sul-Americana, uma Libertadores, um Mundial e dois Brasileiros em duas passagens, entre 2011 e 2015). O que os dirigentes que comandam o futebol em âmbito nacional buscaram nele, contudo, não foi desempenho: antes de ser uma proposta técnica ou uma solução para o rendimento da seleção, Tite é uma forma de abraçar o discurso de unidade.
Além de ter sido artífice de um período extremamente vencedor no Corinthians, Tite forjou imagem de profissional ilibado e comprometido. A despeito de não ter entrado em campo e de não ter protagonizado lances decisivos, transformou-se no grande símbolo dessa era e se tornou ídolo da torcida alvinegra. Emerson Sheik fez os gols que definiram a conquista da Copa Libertadores de 2012 e Paolo Guerrero definiu a vitória sobre o Chelsea na partida que valia o título mundial do mesmo ano, mas nenhum deles, por diversos motivos, desfruta do mesmo status do treinador.
Tite também se destaca por ter pouca rejeição. Construiu grande parte da carreira entre times do Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais. Mesmo nas ocasiões em que foi demitido, saiu sem ter a imagem extremamente desgastada. Nas últimas temporadas de Corinthians, agregou a consolidação de um estilo respeitoso e até de reverência em relação a rivais. As pessoas podem até não gostar do estilo do técnico, mas é difícil acusá-lo de menosprezo ou de posturas polêmicas.
Foram muitas as facetas do seu trabalho no Corinthians. O time competitivo de 2011/2012 e a equipe brilhante da temporada passada, tiveram erros em proporções parecidas – escolha de atletas, categoria de base preterida, benevolência com erros e insistência com peças e formações, por exemplo. No entanto, o técnico deixou marcas que contribuíram para sua imagem: conseguiu blindar o vestiário, ganhou o respeito de diferentes grupos de atletas, sobreviveu a reformulações mal planejadas, forjou o desenvolvimento individual de uma série de jogadores e evoluiu.
Por todas essas características, incluindo a educação no trato com jornalistas e rivais, o respeito conquistado durante anos de trabalho e a evolução em aspectos técnicos e táticos, Tite era a única opção para a CBF. Se ele dissesse não, a entidade teria de substituir Dunga por outro nome com alto índice de rejeição e encontraria mais dificuldade para amainar o ambiente na seleção.
O Brasil é hoje o sexto colocado nas Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2018, que será disputada na Rússia, e apenas os quatro primeiros têm vaga assegurada no torneio – o quinto ainda pode se classificar via repescagem. O trabalho do novo técnico não é simples: recuperar a autoestima do grupo, reincorporar jogadores desprezados por Dunga, recobrar a relação entre seleção e torcida e, formar um time capaz de chegar ao Mundial. Isso sem contar a criação de um ambiente positivo com os atletas – o antecessor dele tinha problemas de relações pessoais e já não funcionava como um líder incontestável.
O treinador tem na seleção um desafio profissional praticamente inigualável: se vencer, subirá a um patamar de idolatria em âmbito nacional; se perder, terá justificativas como a falta de talentos ou o início ruim de trabalho sob a gestão de Dunga. A escolha, contudo, não podia ser mais respaldada. A CBF buscou a unidade ao elegê-lo para o cargo
Além disso, Tite se preparou para o cargo. O treinador sempre deixou claro que almejava trabalhar na seleção e vinha fazendo o possível para estar pronto quando o convite aparecesse – ele esperava ter sido chamado em 2014, depois da Copa do Mundo, quando a CBF preferiu Dunga.
Ao contratar o treinador, portanto, a CBF faz um apelo à popularidade dele. É uma tentativa de resgatar o apoio do público à seleção e ao menos reduzir a crise de imagem vivida pela equipe nacional nos últimos anos. Para fazer isso, a entidade aposta num profissional carismático, defendido pela massa e com pouca rejeição, mas também entrega uma mensagem subliminar de valorização do trabalho e da preparação para as oportunidades.
Se souber usar isso, o treinador desfrutará de uma autonomia que ninguém tem no posto desde Luiz Felipe Scolari na seleção pré-Mundial de 2002. Na época, o dilema era parecido: a seleção acumulava crise de identidade e resultados ruins, e a CBF atravessava momento político conturbado – Ricardo Teixeira, presidente no período, convivia com denúncias e estava fragilizado, situação que também emula o panorama atual de Marco Polo del Nero. Felipão usou o influxo e conseguiu liberdade em aspectos como planejamento, convocações e metodologia.
A presença de Edu Gaspar, que era gerente de futebol do Corinthians e servirá como elo entre Tite e a diretoria da CBF, sugere que o técnico também conseguiu algum respaldo. O ex-jogador pode ser um preposto ou um representante em assuntos políticos. Assim, além de isolar o trabalho de campo, evitaria um contato mais próximo entre o comandante e dirigentes – Tite assinou em dezembro, é bom lembrar, um manifesto pedindo a saída de Del Nero e de toda a atual cúpula da CBF.
Até por isso, Tite perdeu uma chance de fazer história. Ele teria dado um recado incrível se renunciasse ao cargo e anunciasse ter feito isso em nome das questões políticas da CBF. Mas esse era apenas um caminho e não, necessariamente, o mais eficiente. Se tiver autonomia e tempo, o treinador pode promover mudanças em aspectos concernentes a seu trabalho – o campo, a postura dos atletas e o orgulho da seleção, por exemplo.
Ter confiança no caráter de seus superiores é sempre o cenário ideal, evidentemente, mas não é sempre a única solução (infelizmente, diga-se). É possível trabalhar com pessoas que tenham posturas discutíveis, desde que isso não contamine suas escolhas ou prejudique sua autonomia. O ambiente é uma influência relevante, é claro, mas não é tudo. Dizer coisas como “todo político é corrupto”, “todo mundo é corrupto em determinada empresa” ou “trabalhar para tal pessoa é ser conivente com as ações dela” é um reducionismo perigoso e ignora noções extremamente pessoais.
É lícito que Tite tenha o sonho de dirigir a seleção brasileira e é justo que ele imagine ter algo a contribuir com o futebol nacional. É perfeitamente compreensível que ele entenda que estar dentro é a melhor forma para isso. Desde que exista liberdade de trabalho, é claro.
Por isso o discurso de unidade é tão importante agora. Tite não é apenas uma aposta diferente para o comando técnico da seleção brasileira, mas uma chance de mudança real na equipe e no futebol nacional. Basta saber se ele e as pessoas que comandam o esporte local saberão aproveitar isso.

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Quando as pessoas não falam a mesma língua

Kaká fez tratamento médico intensivo para estar na Copa do Mundo de 2010 com a seleção brasileira; em 2016, um dia antes de ser cortado da Copa América Centenário, viajou com outros jogadores da equipe nacional para assistir ao jogo entre Golden State Warrios e Cleveland Cavaliers na decisão da liga profissional de basquete dos Estados Unidos (NBA). Neymar, capitão e principal referência técnica do elenco (ainda) comandado por Dunga, não comprou briga com o Barcelona para estar na competição disputada em solo norte-americano; enquanto o time canarinho era eliminado ainda na primeira fase após derrota para o Peru, o camisa 10 curtia férias e festejava em Las Vegas.
Foram seis as dispensas da seleção brasileira antes da Copa América (além de Kaká, Dunga perdeu Douglas Costa, Ederson, Luiz Gustavo, Ricardo Oliveira e Rafinha). Neymar nem chegou a ser convocado – a comissão técnica priorizou os Jogos Olímpicos, e o Barcelona não liberaria o atacante para as duas competições.
Lesões, desgaste mental, calendário e outros aspectos que podem ter influenciado nos cortes são assuntos recorrentes para qualquer seleção no atual momento da temporada. Não é essa a discussão sobre o time brasileiro: especificamente falando do elenco montado para 2016, o que chama atenção é o distanciamento de objetivos.
E aqui, sem querer parecer oportunista, existe um problema de comunicação nevrálgico no trabalho de Dunga. Ao contrário do que aconteceu no ciclo anterior do treinador na seleção – ele trabalhou no time nacional entre 2006 e 2010 –, o grupo atual não “comprou” o discurso do comandante. Os exemplos são grandes, como Kaká ou Neymar (que estavam totalmente dentro do direito deles, diga-se), ou pequenos, como jogadores que não se encaixaram no que o comandante imaginou para o funcionamento coletivo da equipe.
Porque sim, a crise da seleção brasileira passa diretamente por um problema de comunicação. Isso não é uma simplificação – existe um problema maior, que passa pela estrutura do futebol nacional e que inclui toda a cúpula da falida CBF (Confederação Brasileira de Futebol), mas um aspecto relevante na lista é a dissociação entre o discurso do treinador e as atitudes de seus atletas.
Antes de 2010, Dunga conseguiu moldar um elenco que cumpria suas determinações táticas com a mesma voracidade com a qual assimilava a ideia de grupo que o treinador tinha fora de campo. Esse elã não se repetiu em momento algum na atual jornada. Independentemente da lista de convocados ou da equipe disposta em campo, o Brasil não conseguiu repetir a formação de um elenco orgânico e disposto a representar os pensamentos de futebol e de mundo de seu criador.
Isso passa, é claro, por alterações na comissão técnica. O Brasil de Dunga na passagem anterior tinha Jorginho como auxiliar técnico. Hoje treinador do Vasco, era ele o responsável por atividades diárias e por muitas conversas com os atletas – o grupo que se unia em torno da fé evangélica, principalmente. Andrey Lopes, o Cebola, auxiliar da vez, é descrito por atletas como um estudioso. Tem treinos mais atualizados e ajuda na construção de um time que troca passes e muda rapidamente de direção, mas não contribui para os problemas de Dunga na gestão de pessoas.
A mudança de perfil dos atletas também influencia, é claro. Jogadores – e jovens – de hoje têm objetivos de vida distintos e maneiras diferentes de assimilar discursos. O treinador nunca foi um bom gestor de grupo, mas tornou essa característica ainda mais evidente ao não se atualizar.
Dunga de hoje não é como o Dunga de outrora. O técnico mudou em vários aspectos, do visual ao trato com a imprensa. No entanto, a sua personalidade segue com um problema intrínseco: é difícil formar um grupo coeso se você não souber como abordar personalidades diferentes usando caminhos diferentes.
Não é apenas pela falta de resultados que a situação de Dunga na seleção brasileira é insustentável. A demissão do técnico é questão de tempo porque ele não conseguiu ser o gestor de pessoas que o elenco necessita. E isso, por ser um problema pessoal, não tem a ver com crise técnica, problemas de gestão ou com a formação do atleta brasileiro, embora tenha relação de causa e efeito com tudo isso.
O futuro da seleção brasileira pode passar por diferentes perspectivas de jogo, diferentes atletas ou diferentes estratégias. Em todos os casos, contudo, é fundamental que a CBF pense em caminhos para que o espaço entre treinador e elenco seja menor do que o buraco existente atualmente.
A seleção brasileira não vive uma crise apenas dentro de campo. Enquanto a discussão for sobre fulano escalado em determinada posição ou beltrano ausente em sei lá quantas convocações, seguiremos vendo problemas como a avalanche provocada pela atual gestão de Dunga. O time nacional não deixou de ser prioridade para os atletas apenas por questões de status ou de carreira. Existe um problema de comunicação em aspectos como formação de grupo, clareza de objetivos e transparência sobre funções. E isso o treinador não parece sequer preocupado em mudar.
 
 
 

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Conversando sobre “a lógica do jogo de futebol”…

Olá amigos!
Após um pequeno tempo ausente, retorno aqui para mais uma discussão, em cima do seguinte questionamento: qual é a lógica do jogo de futebol? Bom, como sempre, vale lembrar que a ideia não é conceituar (até porque alguns autores já o fizeram em um espaço muito maior que este). A ideia é debater, provocar, refletir, pensar, conversar…
Buscando algumas referências na literatura, encontraremos autores dizendo que há uma lógica comum a todos os jogos desportivos coletivos. Outros dirão que o futebol tem uma lógica interna específica. Alguns defenderão que cada equipe tem (conscientemente ou não, bem estruturada ou não) sua própria lógica interna de jogo, e que uma equipe deve procurar fazer prevalecer sua própria lógica. Encontraremos muitas informações relacionadas também às maneiras de cumprimento da lógica do jogo de futebol a partir do conhecimento e utilização de suas regras, princípios e referências norteadoras. Recomendo a busca de autores franceses (Gréhaigne), portugueses (Garganta, Castelo) e brasileiros (Scaglia, Leitão, Freire, Daolio) para aprofundar os detalhes conceituais desta questão.
Conversando informalmente com algumas pessoas que transitam no meio futebolístico, fiz a pergunta tema desta coluna, solicitando uma resposta simples de um parágrafo (eu sei, o tema é complexo, mas o fiz de propósito). A ideia era que as respostas viessem de um sistema cognitivo de fácil acesso – responda aquilo que lhe vem na cabeça espontaneamente e de imediato. Foram interessantes respostas. Sem querer generalizar, encontrei algumas ideias similares (na minha interpretação, que fique claro), outras nem tanto. As respostas mais comuns foram “a lógica do jogo de futebol é fazer mais gols do que o adversário” ou “vencer o adversário”. Outros disseram que a lógica do jogo está relacionada com fazer o gol com o menor esforço possível, ou ainda, com o menor número de ações possíveis, ou chegar ao gol de maneira mais óbvia e efetiva. Também ouvi que a lógica do jogo está relacionada aos caminhos que levam ao cumprimento do objetivo do jogo (este sim seria fazer mais gols do que o adversário), e outra muito interessante também, onde a lógica do jogo está diretamente relacionada ao prazer em jogar. Este rápido levantamento não tem cunho científico, era apenas uma busca informal por padrões de respostas imediatas.
Mas para que discutir sobre a lógica do futebol? Seja a lógica interna ao jogo de futebol ou comum a todos os jogos, interna à equipe, relacionada aos meios de cumprir o objetivo do jogo, relacionada ao prazer em jogar, devemos conhecê-la no nosso ambiente para buscar o acesso ao bom jogo. Entre os vários motivos para isso, vou me atentar apenas a dois aqui neste espaço. O primeiro deles é, a partir do conhecimento da lógica do jogo, ter um norte para modulação do treino. Cada sessão de treino, cada detalhe, cada atividade, deve ter como norte a melhora no cumprimento da lógica do jogo, seja ela qual for. Por exemplo, se para efetuar a lógica do jogo devemos fazer mais gols que o adversário, é pertinente sabermos, entre outras várias coisas, como acontece a maioria dos gols no jogo de futebol – regiões de finalizações, melhores regiões e momentos para recuperação da posse, estruturação de espaço para aumentar as chances de fazer o gol, entre outros – e assim estimularmos isso no dia a dia. Outro motivo para conhecermos a lógica do jogo é termos uma diretriz para avaliação do trabalho, e as ferramentas que serão utilizadas para mensurar a performance da equipe.
Conhecer a lógica do jogo e preparar-se adequadamente para seu cumprimento não garante a vitória, infelizmente, por conta de um pequeno detalhe: a imprevisibilidade. Mas sem dúvida, nos aproxima de jogar de maneira bem elaborada e estar mais perto da conquista dos nossos objetivos. A ideia não é simplesmente definirmos a lógica do jogo, até porque simples ela não parece ser. A ideia é pensar, discutir, questionar.
Proponho o seguinte exercício para finalizar. Como sua equipe (que você treina, que você torce) ou a equipe adversária, ou ainda, alguma equipe qualquer de alto nível busca cumprir a lógica do jogo? Que elementos você consegue reconhecer e relacionar com o cumprimento da lógica? Aguardo sua resposta. Escreva para rafael@universidadedofutebol.com.br e vamos debater!
Um grande abraço e até a próxima!

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Novos rumos da Justiça Desportiva do Futebol

No meio do ano terminam os mandatos dos auditores e do Procurador Geral de Justiça do Superior
Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) da CBF.
Esta semana, Wellington Campos divulgou em primeira mão, na Itatiaia, os prováveis nomes dos novos
auditores e do novo Procurador Geral.
Importante destacar que o Pleno do STJD é composto por nove membros, sendo 2 indicados pela CBF, 2
indicados pelos Clubes da Série A, 2 indicados pelos atletas, 1 indicado pelos árbitros e 2 indicados pela
OAB.
Dentre os prováveis vários nomes conhecidos e, com grande respeito no direito desportivo nacional,
estão:
a)Indicados pela CBF
Dr. Mauro Marcelo de Lima e Silva (SP) é delegado de polícia e presidente do TJD da Federação
Paulista de Futebol. Lima e Silva leva para o STJD sua experiência como presidente da Justiça
Desportiva da principal Federação estadual do futebol brasileiro.
Dr. Paulo César Salomão Filho (RJ) está no pleno desde 2012 e deve ser reconduzido. Salomão é
auditor do STJD do basquete, foi presidente da Comissão de Direito Eleitoral da OAB/RJ e membro do
Tribunal de Ética e Disciplina da OAB/RJ.
b)Indicados pelos Clubes
Dr. José Perdiz (DF) atualmente presidente da Quinta Comissão Disciplinar (1ª instância) do STJD da
CBF. Sua indicação demonstra a importância da Comissão Disciplinar.
Dr. João Bosco Luz (GO) é ex-presidente do Goiás, ex-procurador do STJD da CBF e é advogado
atuante no Direito Desportivo. Membro da Academia Nacional de Direito Desportivo, Bosco leva ao
Tribunal o casamento da teoria acadêmica e da prática.
Os nomes indicados pelos clubes teriam surgido de um consenso entre os 12 clubes de SP, MG, RJ e
RS que disputam a Série A.
c)Indicados pelos Atletas
Dr. Décio Neuhaus (RS) está no Pleno desde 2012 e deve ser reconduzido. Nuhaus é advogado
atuante no Direito Esportivo, advogado do Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado do Rio Grande do
Sul desde os anos 90. E, desde 2008, da Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol, a
Fenapaf. Já foi auditor do TJD-RS.
Dra. Arlete Mesquita (GO) é membro do TJD-GO e advogada do Sindicato de Atletas Profissionais do
Estado de Goiás. Mesquita advoga para uma série de entidades sindicais e deve ser a única mulher a
compor a cúpula do Tribunal. Conhecida pela boa fundamentação em seus julgamentos, ela levará ao
Tribunal os debates que tem proporcionado a Justiça Desportiva goiana.
d)Indicado pelos árbitros
Dr. Ronaldo Piacente (SP) atual vice-presidente do STJD, e cotado para ser o novo presidente, deve
ser reconduzido. Piacente foi presidente do TJD-SP .
e)Indicados pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)
Dr. Otávio Noronha (DF), advogado militante, atualmente é auditor da Primeira Liga e da Quinta
Comissão Disciplinar (1ª instância) do STJD da CBF. Sua indicação demonstra a importância da
Comissão Disciplinar.
Dr. Antonio Vanderler (RJ), advogado militante, foi presidente do TJD-RJ e possui o Legal Law Master
pelo IBMEC-RJ. Atualmente, é auditor do TJD-RJ.
f)Procuradoria-Geral
Dr. Felipe Bevilacqua (RJ) é auditor do STJD da CBF. Advogado militante e professor da Universidade
Cândido Mendes, Bevilacqua é bastante respeitado no meio jusdesportivo. Mais um nome que levará ao
Tribunal o casamento da teoria acadêmica e da prática.
Caso se confirmem os nomes divulgados pelo Wellington Campos, haverá significativa renovação na
Justiça Desportiva brasileira, apontando para uma grande gestão que deve ser pautada pela tecnicidade
dos votos e pela qualidade dos debates.
A maior missão do “novo STJD” deve ficar a cargo do Procurador Geral Dr. Felipe Bevilacqua que deverá
substituir o competente e polêmico Dr. Paulo Schimitt.
Como ponto negativo, a falta de um representante mineiro.