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A judicialização do esporte

Por vezes, a grande maioria dos debates em torno da gestão do esporte se dá pelo questionamento sobre o dinamismo das entidades esportivas no sentido de promover e desenvolver suas atividades em parâmetros mais próximos do mercado de entretenimento. O que vemos é um ambiente extremamente burocratizado, em que as entidades colocam em prática processos morosos de trabalho no seu contexto de gestão.
Fiz uma pesquisa rápida para identificar o perfil dos presidentes dos 20 clubes da Série A para verificar se poderíamos encontrar algum indício dos “porquês”. Fiquei restrito à profissão (e, aqui, cabe um GIGANTESCO PARÊNTESES: não pretendo defender reserva de mercado para a Profissão A em detrimento à Profissão B. Acredito em competências e, por conta disso, independente da formação básica, o que importa na condução de uma organização está ligado muito mais com a inteligência de gestão do que propriamente com o nível de graduação ou especialização acadêmica).
No entanto, o que chamou a atenção foi que 65% dos presidentes (ou 13 em 20) têm formação na área do direito. O número chama muito a atenção, especialmente para uma reflexão sobre como são os processos de condução ao poder, que é sabidamente extremamente regulamentado.
Essa constatação, a bem da verdade, não é nova. Muitos artigos científicos atestam sobre um perfil similar em muitas entidades de prática ou administração do esporte. A grande questão é: para avançarmos com as mudanças necessárias, tão propaladas por inúmeros especialistas, será que não estamos esbarrando em organizações fortemente amparadas por procedimentos jurídicos? Para mudar, precisa de mais leis ou mais projetos e ações? Quem está apto a fazer, propor e implementar os melhores projetos e ações em prol do futebol?
As dúvidas ficam no ar justamente para gerar melhores reflexões e debates. Não parece haver resposta pronta, certa ou errada. O fato é que necessitamos de uma discussão bem mais profunda, com boa base analítica, para poder contribuir com o alcance de todo o potencial de negócios que se vislumbra no futebol brasileiro.

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Lições da carta de despedida de Kobe Bryant

A aposentadoria de um grande nome do esporte é sempre um momento significativo. Em poucas vezes, contudo, o ocaso de uma estrela é tão didático quanto o de Kobe Bryant, 37. O astro do Los Angeles Lakers, time que disputa a NBA (liga profissional de basquete dos Estados Unidos), anunciou no último domingo (29) que vai deixar as quadras depois da atual temporada, a 20ª dele como profissional. E o esporte brasileiro tem muito a aprender com isso.
Bryant escolheu para o anúncio um site chamado “The Players Tribune” (“A tribuna dos jogadores”, em tradução livre). Criado por Derek Jeter, ex-atleta do New York Knicks, o portal tem propósito de estreitar a distância entre os esportistas profissionais e seus fãs. Não é preciso fazer uma leitura aprofundada para notar a qualidade dos textos, quase todos escritos em primeira pessoa.
Agora tente imaginar um produto similar no Brasil. Quais atletas poderiam escrever textos pessoais e pertinentes sem cair no discurso laudatório dos “boleiros” que têm dominado a TV fechada no país?
A formação de atletas no Brasil negligencia fortemente o senso crítico e a relação com o público. Há iniciativas de patrocinadores ou de equipes de comunicação, mas faltam projetos mais abrangentes e amplos. Neymar apoiou o candidato Aécio Neves na última eleição presidencial (e aqui não entra qualquer julgamento sobre a escolha), mas quais foram as reais contribuições que o jogador de futebol deu para qualquer discussão? O mais próximo que ele chegou disso foi dizer que não se considera negro.
Atletas são jovens, e jovens podem não ter o discernimento necessário para se posicionarem sobre diferentes temas. No entanto, se não houver um suporte adequado, a idade será sempre apenas uma desculpa para a falta de cultura ou de perspectiva de mundo.
Afinal, quais são os atletas brasileiros que têm visão crítica sobre o mundo atual? Quais falam sobre política ou conseguem aproveitar o potencial de influência que o esporte oferece para transformar de alguma forma positiva a sociedade em que estão inseridos?
Não é apenas uma questão de perfil, de falta de fórum ou de eles não serem as pessoas mais indicadas. A discussão é: quais atletas são preparados para isso? Quais conseguem usar o poder de influência para algo maior do que vender calçados ou disseminar cortes de cabelo?
O site escolhido por Kobe é apenas parte da lição que ele ofereceu. O maior ensinamento, na verdade, é o teor da carta. O jogador fez uma declaração de amor ao basquete, esporte que escolheu como meio de vida. É um texto contundente, extremamente emotivo, que mostra claramente o quanto aquilo é relevante para ele.
E aí cabe mais uma comemoração com o esporte brasileiro: quais atletas são tão apaixonados pelo esporte que praticam? Quais conseguem demonstrar tão claramente esse amor e usam isso para incentivar outros praticantes?
O Brasil carece muito de uma política pública de esporte, mas também carece de bons exemplos. De uma forma geral, temos uma população extremamente pouco vinculada ao esporte.
Kobe também antecipou uma decisão que poderia se arrastar por toda a temporada. E por que isso é relevante? Porque os jogos dos Lakers, a partir de agora, serão sempre “a última alguma coisa” do astro. A decisão dele criou para a franquia de Los Angeles (e para os rivais, também) uma série de oportunidades até a última partida.
No Brasil, o centroavante Luis Fabiano anunciou a duas rodadas do término do Campeonato Brasileiro que não vai continuar no São Paulo em 2016. Também foi nessa época que o técnico Levir Culpi, ídolo da torcida do Atlético-MG, deixou a equipe.
O campeão Corinthians também tem um caso assim. O time alvinegro ainda não conseguiu renovar contrato com o volante Ralf, jogador escolhido pelo técnico Tite para levantar a taça.
Que chances as torcidas de São Paulo, Atlético-MG e Corinthians tiveram para se despedir de seus ídolos? Quais oportunidades os rivais tiveram para fomentar o embate?
O São Paulo marcou um jogo de despedida para o goleiro Rogério Ceni, é verdade. Mas isso é tudo que merecia a aposentadoria do atleta que mais vezes vestiu a camisa tricolor? Que tipo de homenagem ele recebeu durante o último Campeonato Brasileiro, o último clássico, o último duelo em casa, a última viagem e tantos outros últimos?
No futebol ou em outros esportes, nós valorizamos pouco os ídolos. Isso tem a ver com questões culturais, mas também – e principalmente – com a comunicação deficiente. Perdemos chances de aproximar atletas e público, e muito desse desperdício acontece simplesmente porque não temos ambientes que fomentem isso.
O amor de Kobe Bryant pelo basquete é lindo, mas apenas admirar não basta. Precisamos trabalhar para incutir em nossos atletas essa relação com o ambiente que os cerca.

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A relação dentro/fora e o apoio simultâneo dos laterais

Esta semana tive o privilégio de participar de uma aula intitulada organização ofensiva, ministrada pelo treinador Rodrigo Bellão, no 46º curso de treinadores do Sitrefesp.
O conteúdo da aula, que pode ser acompanhado no link http://www.futebolinteligente.com.br/organizacao-ofensiva-2/, contribui significativamente para que todos os profissionais do futebol, principalmente treinadores, reflitam criticamente sobre qual a sua contribuição na prática de um futebol ofensivo, imprevisível, criativo e refinado. Afinal, estas são algumas das características que destacaram o futebol brasileiro e, como é de conhecimento, tem sido gradativamente esquecidas e, por que não, negligenciadas.
Nesta perspectiva surge o mote para a publicação da coluna desta semana. O objetivo da mesma é, a partir da Universidade do Futebol, ampliar o rico debate proposto pelo treinador supracitado.
Para aumentar as possibilidades de êxito das ações ofensivas, ou seja, criar desequilíbrios na organização defensiva adversária e potencializar as chances de finalização, é importante ter todos os jogadores efetivamente participando deste momento do jogo. Além disso, quanto mais jogadores adiantados, logo, próximos à zona de risco do adversário, maiores as possibilidades de gerar superioridade numérica, princípio básico para vencer os confrontos territoriais permanentes num jogo de futebol.
Culturalmente, o futebol possui algumas “verdades”. Duas delas que provavelmente você já deve ter escutado são as seguintes: os laterais devem ultrapassar sempre por fora e que dois laterais não podem apoiar ao mesmo tempo. Será que essa “verdade”, criada, reproduzida é real ou será que podemos superar essa paradigma?
Para contribuir com a sua reflexão, segue, na sequência, um vídeo de algumas ações de organização ofensiva do Coritiba Foot Club sub-19, equipe que dirigi até meados de novembro. Peço que atentem as combinações de movimento de apoio dentro/fora entre os laterais e os extremos, permitindo a formação de triângulos e, também, ao apoio simultâneo dos laterais.
https://www.youtube.com/watch?v=Ksb-uCnzKb4
Seguramente não podemos nos oferecer ao jogo ofensivo e não nos preocuparmos em manter a equipe equilibrada e preparada para neutralizar contra-ataques do adversário. Isso é tema para uma outra coluna…
Abraços e até a próxima.

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Exigências da agência mundial antidopagem e a constituição brasileira

Uma das maiores preocupações do esporte na atualidade é garantir a paridade de disputa por meio do combate à dopagem, ou seja, o uso de substâncias que melhorem o desempenho do atleta de forma artificial.
Diante disso, em 2004 foi criada a WADA (Agência Mundial Antidopagem), cujas regras são aplicadas a todas as modalidades que compõem o movimento olímpico internacional, inclusive o futebol. Busca-se, assim, padronização de substâncias e procedimentos e, quem não se adequar ou infringir as regras, será excluído das competições.
Neste sentido, a WADA alertou a ABCD (Agência Brasileira de Controle de Dopagem, criada justamente para atender à padronização) de que terá até 18 de março para se adequar ao novo Código Mundial Antidopagem, que entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 2015.
O Código Mundial Antidopagem tem por objetivo proteger o direito fundamental dos atletas de participar de competições esportivas livres de dopagem; promover a saúde, a justiça e a equidade no Esporte; e assegurar a promoção de programas de educação e prevenção contra a dopagem em nível internacional.
Segundo as normas da WADA, as federações devem ter o prazo de 21 dias para recorrer de decisões de processos disciplinares que tratem de doping. Entretanto, a Constituição Brasileira determina que os processos que tramitem na Justiça Desportiva devem ser julgados em 60 dias, ou seja, não seria possível atender ao prazo constitucional com os 21 dias para recurso.
A opção seria alterar o artigo 217 por meio de uma Emenda Constitucional. No entanto, a alteração constitucional corresponde a medida excepcional e não faria sentido neste caso.
Assim, a ABCD entende que a alternativa cabível seria a criação de um tribunal específico antidopagem, fora da estrutura da Justiça Desportiva e que funcionaria como segunda instância.
Importante destacar que outros países como Bélgica, França e Espanha também foram advertidos pela WADA e terão que adequar seus procedimentos.
Seguramente a ABCD solucionará a questão jurídica apontada e se adequará ao novo Código da WADA e o desporto brasileiro não terá prejuízos.

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Aulas de comunicação do campeão brasileiro: a liderança pelo exemplo

Ainda faltam duas rodadas, mas o Corinthians já é o campeão com melhor desempenho na história do Brasileirão disputado por pontos corridos com 20 times na primeira divisão. O time alvinegro é o que mais venceu, o que menos perdeu, tem saldo positivo de 42 gos, é o mais disciplinado e tem 14 pontos de distância para o segundo colocado. São muitos os atributos positivos na campanha dos paulistas, mas há um título que pouca gente considera: o Corinthians também é campeão em aulas de comunicação.
Na história do futebol brasileiro, são poucos os clubes que oferecem tantos elementos para serem considerados nesse sentido. A história da temporada alvinegra, contudo, é praticamente um curso pronto.
Afinal, o Corinthians teve um ano cheio de percalços fora de campo. A diretoria atrasou salários, deixou de pagar premiações e negociou atletas importantes em meio ao Campeonato Brasileiro, por exemplo. Três titulares do time comandado por Tite deixaram o Parque São Jorge (o lateral esquerdo Fabio Santos e os atacantes Emerson Sheik e Paolo Guerrero).
A folha salarial é alta, com investimentos extremamente questionáveis. A lista de reforços para a temporada 2015 tem nomes como o zagueiro Edu Dracena, o volante Cristian e o atacante Stiven Mendoza, que não conseguiram espaço no grupo – o colombiano, aliás, nem está mais na equipe alvinegra.
O elenco mostrou deficiências durante a trajetória, que tiveram de ser corrigidas com contratações pontuais (os atacantes Rildo, Lucca e Lincom, por exemplo).
Fora de campo, o estádio ainda é uma conquista tão grande quanto o problema que ela criou. O clube tem uma dívida alta e mal equacionada, o que dificulta sobremaneira a obtenção de capital de giro.
Nada disso afetou a campanha alvinegra no Brasileirão. Jogadores com passado vencedor, como Danilo, Cristian e Vagner Love, ficaram no banco durante a competição nacional e não se manifestaram contra isso.
Outros jogadores, como Elias, Malcom e Jadson, foram colocados a serviço de um esquema tático específico, em funções que haviam desempenhado poucas vezes durante a carreira – na linha de armadores de um 4-1-4-1, modelo raro no futebol nacional.
O processo de convencimento e a criação de um ambiente positivo são duas importantes lições do Corinthians campeão. Os jogadores souberam tratar necessidades individuais sem colocá-las acima do contexto ou do todo, e aí começa o mérito do técnico Tite.
Tite é o mentor do Corinthians em muitos aspectos. Tem mérito sobre a implantação do 4-1-4-1 e sobre o modelo de troca de passes, por exemplo – o time alvinegro é hoje um dos que menos usam a bola longa no futebol nacional, e isso tem efeito direto em aspectos como a saída de bola. No entanto, é na gestão de pessoas que o técnico realmente se destacou em 2015.
O Corinthians vai ficar marcado como o time que fez tudo certo, a despeito de o ambiente no clube não ter tudo certo. É um elenco comprometido, e um dos reflexos disso é a goleada por 6 a 1 sobre o São Paulo no último domingo (22).
A vitória corintiana no clássico não tem a ver com disparidade técnica ou com o encaixe das equipes. É um reflexo, antes de mais nada, de organização e comprometimento. Foi um triunfo anímico antes de ser um triunfo na bola.
O Corinthians de 2015 pode deixar muitas marcas para o futebol brasileiro no futuro. Pode ser um precursor do 4-1-4-1 e da linha de defesa alta, por exemplo. No entanto, o diferencial dessa equipe é entender a necessidade da gestão de pessoas no processo de construção de um grupo de trabalho. Qualquer grupo.
A maior lição de comunicação que o Corinthians de 2015 oferece é que não há talentos individuais capazes de compensar um ambiente ruim. Em contrapartida, um ambiente vencedor potencializa os talentos. Basta ver a quantidade de jogadores da equipe alvinegra que têm rendido neste ano o que nunca haviam feito na carreira.
Existe uma diferença financeira considerável no atual cenário do futebol brasileiro, é verdade, mas o Corinthians de 2015 não é o melhor por ser o mais rico. É o time que soube trabalhar com mais competência a comunicação interna e a gestão de pessoas. E isso não é pouca coisa.

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2016, o ano das ligas?

Com o sucesso da Liga do Nordeste e com a criação da Liga Sul-Minas-Rio (oficialmente denominada Primeira Liga), a ideia de se formarem ligas voltou à tona com muita força.
Prevista no artigo 20 da Lei Pelé, os clubes podem criar ligas independentes, ou seja, sem filiação ou concordância da CBF. O único requisito legal é que haja comunicação à entidade que administra o futebol no Brasil.
A criação de ligas pelos clubes, além de entregar aos personagens principais do espetáculo a sua organização, permite que se produza “produtos” para consumidores específicos que possam ser mais rentáveis aos clubes.
Nessa linha, este mês foi criada a Liga Paulista, que conta com clubes do interior paulista, em sua maioria inativos, mas que pretende viabilizar um calendário de maio a dezembro com transmissão em TV aberta.
A Liga Paulista pode, ao mesmo tempo, incentivar as rivalidades entre as cidades do interior de São Paulo e fazer ressurgir clubes que estão fora das competições organizadas pela Federação Paulista de Futebol pelos mais variados motivos, como dívidas e nao pagamento de taxas.
A ideia de se criar ligas com clubes menos expressivos, mas com certa tradição, pode chacoalhar o futebol brasileiro.
Imagine, por exemplo, uma Liga Fluminense ou Carioca de Futebol com clubes tradicionais do Grande Rio, como América, Bangu, São Cristovão, Olaria, Madureira, Bonsucesso, Nova Iguaçu, Portuguesa, Duque de Caxias e Tigres.
A Liga teria um custo baixo, eis que todos os deslocamentos se dariam de ônibus, ressurgiria a rivalidade entre clubes dos mais diversos bairros da capital e a TV poderia exibir jogos interessantes como América x Bangu.
Enfim, os próprios clubes poderiam criar uma competição para mantê-los em atividade por todo o ano e vender esse “produto”.
No futuro, as grandes equipes poderiam até participar com equipes B ou de aspirantes.
Todo esse movimento pode fazer surgir “pequenas ligas” de clubes e, dependendo dos resultados, pode levar à criação de uma Liga Nacional de Clubes.
Importante lembrar que o Novo Basquete Brasil (NBB), a Liga que tem tido grande sucesso e que hoje é reconhecida pela FIBA como campeonato nacional do Brasil, teve seu embrião na Nossa Liga de Basquete (NLB), que começou suas atividades de forma independente e paralela ao torneio nacional organizado pela CBB.
Portanto, as ligas podem se transformar em vetor do desenvolvimento do futebol brasileiro, assim como já ocorre na Europa e nos EUA, de forma que os clubes possam desenvolver e organizar competições rentáveis e interessantes para o seu mercado consumidor.

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Uni duni tê dos atletas

Com a temporada chegando ao fim, os clubes de futebol começam a preparar as famosas listas de dispensa dos atletas. Isso é frequente no futebol e este momento de reflexões sobre o elenco é inevitável.
Geralmente quando os atletas são contratados, muitas expectativas são depositadas e a responsabilidade de uma adequada adaptação aos novos times recai fortemente sobre eles. Os clubes têm sua parcela de responsabilidade nesta adaptação, pois o enquadramento ao ambiente e aos jogadores já inseridos no grupo é uma etapa importante e a gestão precisa estar atenta neste aspecto.
Mas, em muitos casos isso não acontece e no final da temporada os atletas que tinham potencial para apresentar grandes desempenhos não vingam e são dispensados pós uma necessária reformulação.
Agora, já repararam que os atletas geralmente não possuem apoio para esse processo de seleção natural dos clubes em busca por melhores elencos? É um momento em que o jogador acaba por ser dispensado do seu time e vê a carreira em risco.
Com isso, acredito que devemos estar mais sensíveis a estes momentos e de alguma forma contribuir tanto na adaptação de novos atletas que chegam a um novo clube, quanto e, principalmente, para os que são dispensados e colocados de volta ao mercado de trabalho.
Até a próxima.

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A paixão pelo patrocínio

Estava programado para falar sobre a recente celeuma entre Palmeiras e seu patrocinador master, a Crefisa, ante um evidente caso de paixão que transcende a razão necessária do investimento em patrocínio. No entanto, Erich Beting escreveu de forma brilhante nesta semana um enredo que, quando construído com bases frágeis, pode se transformar em um turbilhão de emoções.
O complemento vai muito na linha que tenho seguido e que reforcei no início do ano com uma pesquisa sobre as ocupações preenchidas em clubes de futebol. As tarefas dos gestores remunerados nos clubes é eminentemente operacional. Os profissionais não ocupam vagas de estratégia, planejamento, inteligência de mercado e, tampouco, de vendas! Exatamente! Vendas!
Enquanto um clube como o Manchester United possui 195 profissionais distribuídos nas áreas comerciais e de marketing, apenas para ficarmos em um exemplo extremo, por aqui, quem executa esse tipo de atividade são os diretores estatutários que são, teoricamente, bem relacionados no mercado e, por conta disso, até vendem algumas propriedades de patrocínio… em um modelo de negócio antigo! Por isso, tem dificuldade de entregar aquilo que vendem. Diretores estatutários comercializam, via de regra, a paixão! É nesta perspectiva que o Palmeiras está, como bem descreveu Beting.
Os departamentos de marketing dos clubes, se quiserem verdadeiramente planejar, vender e entregar patrocínio, precisam ser multiplicados por dez na grande maioria dos principais clubes do país. A distância é exatamente essa: sair de uma estrutura de empresa familiar para chegar a uma proporção de uma empresa que fatura ao redor de R$ 300 milhões ano e tem potencial para, no mínimo, dobrar de tamanho no curto prazo se for composta por especialistas!

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Quando o esporte é menos importante

O presidente da França, Fraçois Hollande, estava no Stade de France quando houve a primeira explosão. Uma bomba no portão J matou três pessoas e deixou uma série de feridos – o artefato foi parte de ação terrorista deflagrada naquela tarde, que matou pelo menos 129 pessoas em Paris. Em campo, França e Alemanha deram sequência à partida amistosa – os gauleses venceram por 2 a 0. Continuou o futebol, continua a vida. A vida pode continuar?
Existe questões a serem consideradas: não havia qualquer prova de que o interior do estádio estava em perigo, a evacuação poderia ser complicada e aumentar o clima de terror, empresas de mídia e patrocinadores pagaram por aquela partida e obter um consenso entre federações nacionais demandaria algum tempo.
Também existe uma questão moral: dar sequência ao jogo naquele instante era uma forma de não alastrar ainda mais o clima de terror e mostrar aos terroristas que eles não conseguiriam interromper a rotina de toda a cidade.
O esporte não pode ser maior do que a vida. Como disse o italiano Arrigo Sacchi, técnico da seleção vice-campeã do mundo em 1994, o futebol é a coisa mais importante entre as coisas menos importantes.
No entanto, é uma questão de contexto: o jogo não podia ter continuado porque o futebol é só isso, afinal: um jogo.
Da mesma forma, é até difícil condenar o zagueiro brasileiro David Luiz pela atuação desastrosa no empate por 1 a 1 contra a Argentina, em Buenos Aires, na mesma sexta-feira 13. O jogador defende o Paris Saint-Germain, mora em Paris e certamente tem um círculo de convivência na capital francesa – incluindo a namorada. Como estaria a sua cabeça se você soubesse dos atentados e tivesse um compromisso profissional horas depois?
Depois do jogo – e de ter sido expulso de forma infantil no segundo tempo –, David Luiz disse que não sabia sobre os atentados. Talvez tenha tentado minimizar uma ligação entre as duas coisas ou talvez tenha sido realmente blindado, mas a ameaça estava lá. Jogadores de futebol são profissionais como os de qualquer outra categoria, e como qualquer profissional também são afetados por todo tipo de influência externa.
É por isso que o desabafo do meia Diego Souza, do Sport, tem tanto sentido. Depois de uma derrota por 3 a 0 para o Cruzeiro no último domingo (15), o jogador reclamou da arbitragem de forma veemente: “A gente sai como chorão, infelizmente, mas eles [juízes e auxiliares] têm de entender que a pressão não é apenas para eles. A gente representa milhões aqui dentro. Com um resultado como esse, não posso nem sair para jantar ou levar meu filho para a escola. Sofremos as mesmas pressões”.
De uma forma geral, com jogadores, árbitros ou outras classes envolvidas no futebol, temos um grau de tolerância extremamente baixo. Consideramos inaceitáveis os erros do comentarista, do narrador, do técnico, do zagueiro, do goleiro, do dirigente, do bandeirinha…
O futebol tem de ser levado a sério, é claro, mas não pode admitir toda essa pressão. Não pode admitir que seus elementos sejam vistos como infalíveis ou que sejam cobrados por isso.
O futebol é uma válvula importante para uma série de imperfeições da vida, é verdade, mas também é feito de gente. E gente é algo muito mais complexo do que o que acontece nas quatro linhas.

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O Brasil pode ser maior

O roraimense Thiago Maia é, provavelmente, a revelação do Campeonato Brasileiro 2015. Recentemente, ao Globoesporte.com, o volante santista detalhou os primeiros passos de sua história no futebol. Deixou a região Norte rumo a São Paulo ao lado da mãe, aos 13 anos, para testar no Corinthians. Foi reprovado, bateu à porta de clubes, passou necessidades, morou em um motel e, por sorte, encontrou o futuro na Vila Belmiro. Não é uma trajetória tão rara assim.
Hoje, no futebol brasileiro, as oportunidades não estão concentradas em todos os estados. Migrar como Thiago Maia fez, muitas vezes, é uma aposta a ser feita no país que não aproveita suas dimensões continentais para alcançar a excelência no esporte. Mas pode haver, a médio prazo, um futuro diferente.
Em Porto Velho (RO), as obras para um centro de treinamento bancado pela Fifa, com lucros provenientes da Copa do Mundo 2014, estão em andamento. Serão 15 estados contemplados em um orçamento total de 100 milhões de dólares. Exatamente, as capitais que não receberam jogos do Mundial. É a chance de se mudar, de alguma forma, uma parte da história do futebol brasileiro.
Entre os 23 jogadores convocados por Luiz Felipe Scolari para a Copa, apenas nove estados brasileiros foram contemplados com representantes. Não havia ninguém nascido no Norte, com mais de 17 milhões de habitantes. Do Nordeste, vieram, além do baiano Daniel Alves, o paraibano Hulk, o pernambucano Hernanes e o também baiano Dante. Desses três últimos, em comum, o fato de que não se afirmaram como esportistas nos clubes de seus estados. Também precisaram migrar em algum momento.
Na prática, o Brasil aproveita apenas uma parte de seu potencial como país com dimensões continentais. Em sua passagem como coordenador das seleções de base, entre 2010 e 2012, Ney Franco diagnosticou o problema. Eram raros os casos de jogadores chamados de clubes das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, com exceção da dupla Bahia e Vitória. A ideia de Ney era estimular todos os estados com visitas e convocações, o que também fez Alexandre Gallo.
Mas, a rigor, pouco se evoluiu para que jovens como Thiago Maia pudessem ser encontrados em Roraima, sem precisar atravessar o País em aventuras incertas e arriscadas. Além disso, quantos jogadores com potencial renunciaram a esse sonho? Atingir cada garoto que deseja ser jogador é uma das margens para crescimento no futebol brasileiro. O exemplo vem justamente do país que nos aplicou 7 a 1.
Além de criar mais de 360 centros de treinamento como os 15 que a CBF pretende construir, a Federação Alemã (DFB) fechou parceria com a Mercedes-Benz para um projeto chamado DFB Móvel. Com 30 viaturas da montadora, técnicos visitaram semanalmente as cidades onde não há um campo da Federação. Em cinco anos, segundo dados oficiais, 10 mil visitas foram realizadas atrás de garotos talentosos, além de dar noções de formação aos treinadores locais.
Desenvolver políticas desse tipo, que aumentem a abrangência do país, mudaria o futebol brasileiro de patamar. Os centros de treinamento em 15 estados seriam o pontapé ideal. Tudo dependerá do plano de administração que a CBF dará a eles.
PS.: Em aparições na Universidade do Futebol, propostas como essa serão apresentadas para o crescimento do futebol brasileiro.