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Entretenimento ou jornalismo?

A pergunta é, a cada dia, mais recorrente nas redações esportivas do país. Afinal, quando se fala sobre esporte tratamos de jornalismo na essência ou de um entretenimento? Qual é a função do jornalista que hoje trabalha com o esporte?

Ao longo dos anos, o futebol foi tratado tão a sério nas mesas-redondas e redações que, ao que tudo indica, a fórmula se esgotou. Ninguém mais aguenta o excesso de informações que permeiam o meio futebolístico. Sabemos, pelos mais diferentes meios, absolutamente tudo o que acontece dentro de um clube, uma competição, na casa de um jogador…

Nesse contexto, o comentarista “sério”, que tenta informar e comentar a informação, tem caído cada vez mais em descrédito, especialmente entre os jovens. De que adianta ele fazer essa pose toda séria se já sabemos o que vai falar? Se a opinião dele não deixa de ser uma mera opinião, sem embasamento teórico, sem conhecimento técnico, sem nada além do que aquilo que o torcedor já sabe, ou pelo menos está acostumado a saber…

Dentro dessa realidade, o ano de 2010 pode significar uma pequena quebra de paradigma em relação à importância do jornalista de esporte enquanto jornalista de informação, de apuração de notícias. O espaço para uma “bomba” é cada vez menor. Mais do que isso, o que o torcedor quer é ver o atleta como centro do espetáculo, seja dentro de campo, seja depois, na hora do programa de TV.

Acabou essa história de que a informação do jornalista é preciosa. O que se quer consumir é uma maneira diferente de jornalismo, muito mais voltado para o espetáculo do que para a seriedade.

Para ajudar aqueles que já começam a despontar com esse tipo de jornalismo (o Globo Esporte, com Thiago Leifert no comando, evidenciou essa nova alternativa para se falar de esportes no Brasil), está aí um time como o do Santos, em que a prioridade é o gracejo em vez do futebol de resultados.

O ano de 2010 poderá ser emblemático em relação à transformação do jornalismo de esporte, na sua essência, num espetáculo de entretenimento, muito mais do que na sisuda mesa-redonda. E o time do Santos é a válvula de escape para que essa fórmula funcione.

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Raízes do Brasil

Ouve-se muito falar que o brasileiro é um povo sem memória, que pouco valoriza e demonstra orgulho de suas tradições e origens socioculturais.

A falta de memória – memória recente, inclusive – também é caso grave quando o povo, chamado à maior demonstração e exercício da cidadania em um país democrático que é o voto, comete os mesmos erros e perpetua políticos desqualificados no poder.

Ainda que tenhamos grandes discrepâncias socioeconômicas em nossas regiões do Brasil, nunca fomos tão nitidamente desejos de um separatismo entre o Sul, o Norte, o Nordeste, o Sudeste e o Centro-Oeste.

A exceção foi a infame iniciativa denominada de Sul é o meu país, surgida no Paraná na década de 1990, que visava fundar o Estado do Iguaçu e se separar do resto Brasil, sob a alegação de que a região sustentava economicamente os devaneios políticos acima das fronteiras de São Paulo.

A força do Brasil está, justamente, em nossa rica diversidade cultural. Somos um país forjado pela miscigenação de povos ao longo dos anos, o que contribuiu, positivamente, para nossa reconhecida adaptabilidade e superação das adversidades, bem como ser visto como um povo cordial e convidativo aos forasteiros.

De tanta mistura, nem lembro direito o que aprendi nas aulas de História do Brasil, sobre o que significa cafuzo, mameluco, crioulo, caboclo.

Esse caldo tempera o nosso futebol até hoje, desde a sua formação. Um grande privilégio.

Na Áustria, por exemplo, você encontra somente jovens austríacos jogando futebol. Um ou outro vai ser filho de imigrante, e olha lá.

De vez em quando – muito raramente – vemos a exceção a essa regra, como nos casos de jogadores negros representando as seleções de Alemanha e Polônia recentemente.

Assim é em boa parte dos países do Velho Continente. Ao contrário do Brasil, onde estamos juntos e misturados.

Portanto, soa muito agressiva a manifestação racista do jogador Danilo, do Palmeiras, em direção ao jogador Manoel, do Atlético Paranaense.

O próprio conceito de raça já foi posto em cheque, logo, não haveria razão de ser utilizado de qualquer maneira.

Pior ainda quando levamos em conta que ambos foram colegas de clube até pouco tempo atrás.

Dizia um amigo meu, grande publicitário, a respeito de um exercício que fora feito numa aula, na qual os alunos assistiram a um comercial em que um ator negro contava piadas de negros: Sabe quando preto toma laranjada? Quando vai à feira. Sabe a diferença entre o pneu furado e a preta grávida? E por aí enfileirava umas três piadas no comercial e a turma toda ia às gargalhadas…

Até um momento em que a câmera fechava nele e, bem sério, perguntava: Quer ouvir mais uma? Você sabia que, no Brasil, não existe preconceito?

Será que não?

Disse-me que o silêncio na turma, nesse momento, foi absoluto e constrangedor.

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A final de um time só: equívocos no processo de formação de jogadores de futebol

Existem infinidades de questões que podem ser exploradas quando o tema em debate é o futebol de base

Das dimensões que envolvem o processo pedagógico, às que exploram aspectos bioquímicos e fisiológicos do jogador em formação, é ponto pacífico que nas categorias de base no futebol objetiva-se a formação de jogadores capazes de lidar com aspectos centrais do jogo, e outros tantos que estão ao seu entorno.

Muitas empresas sérias no Brasil têm investido grande soma em estrutura, equipamentos e profissionais de excelência para encontrar e desenvolver talentos, que em médio e longo prazo se transformem em jogadores de grande expressão no cenário mundial do futebol.

Essas empresas superam grande parte dos tradicionais clubes de futebol no país, dentre outras coisas, porque fundamentam seu trabalho em uma organização profissional, que é totalmente desvinculada dos “achismos” e vícios fincados no futebol, e é sustentada por profissionais gabaritados que possuem conhecimento “técnico-prático-científico” de alto nível.

A formação de um jogador de futebol é algo que transcende aos treinos de campo, e de maneira multi, inter ou transdisciplinar (dependendo do modelo que cada clube ou empresa formadora estabelece para o processo) abarca (ou deveria abarcar) o desenvolvimento pessoal total e completo do jogador, como ser humano que é.

Isso quer dizer que a responsabilidade, na gestão do jogador e no seu “crescimento total”, de um clube ou empresa que investe no processo de desenvolvimento de jogadores de futebol, é muito grande, e eu diria determinante para o sucesso deste processo.

Isso parece óbvio, mas não sei se todos os clubes envolvidos com a formação de jogadores realmente sabem disso.

Nesta semana, um tradicional clube de futebol de São Paulo deu um mau exemplo sem tamanho e precedência em sua também tradicional história: sua equipe sub-17 deixou de comparecer a um importante jogo porque três dos seus jogadores juvenis estavam suspensos (quatro cartões amarelos e um vermelho – punição como cumprimento às regras da competição).

O resumo da história é simples. Três jogadores suspensos e uma final de campeonato. O clube em questão tentou reverter a suspensão (ou melhor, alterar o regulamento da competição) até o último instante. Como não conseguiu, simplesmente deixou de comparecer!

Não compareceu por causa de três jogadores… Claro, como ir à disputa de uma partida de futebol se três dos seus vinte ou mais jogadores não poderiam estar presentes como titulares?

Ainda que fossem Pelés, Maradonas, Zicos ou Garrinchas (os jogadores suspensos eram dois atacantes e um meia), não vejo como justificar (especialmente em se tratando de categorias de base e formação) para os demais jogadores do grupo, que a equipe não disputaria a final do campeonato porque três jogadores estavam suspensos (como resultado de ações de responsabilidade de cada um deles).

Ora, se eram imprescindíveis ou insubstituíveis, por que os gestores da equipe não se preveniram, por que não se prepararam para poupar os ditos jogadores? Ah, planejamento, onde estás que não te vejo?

E que fique claro, falta de planejamento não é o problema!

O problema é a mensagem implícita que se esconde atrás dessa ausência a uma final de campeonato, que diz aos outros jogadores do grupo: “vocês não servem para nada sem os três suspensos”. Ou que diz aos três suspensos: “toda a equipe depende de vocês, sem vocês não temos um time”!

Onde e que valores norteiam o processo de formação desses jogadores?

Realmente é uma pena que o desenvolvimento de atletas nas categorias de base ainda seja tratado dessa forma. É uma pena que já nessas categorias aqueles que deveriam servir de exemplo tentam descumprir com regras, ou ainda manipulá-las ao bel prazer…

Ao menos para os que foram assistir à final de um time só, a certeza de que ela realmente seria de um time só, pois como haveria de ser diferente se o adversário não se apresentara ao “campo de batalha” porque estava com medo? (era isso que diziam, que só podia ser medo).

Nesse episódio, a imponência alviverde (ops?! – será que entreguei qual era a equipe?) sucumbiu às decisões duvidosas de um processo de formação de jogadores que agora também me deixa dúvidas.

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É provável

Tudo que acontece na vida de todos é resultado de uma combinação de incontáveis e imensuráveis fatores. E como ninguém consegue identificar e muito menos controlar esses fatores, tudo o que você pode fazer são apostas de que as coisas irão acontecer a seu favor. E, como são apostas, não dá pra prever o resultado final, então você tende a agir de maneira que as probabilidades de que as coisas aconteçam a seu favor sejam maiores.

Uma família, por exemplo, tende a querer que seu filho seja uma pessoa bem sucedida econômica e emocionalmente. Como ela não tem como determinar que isso vá acontecer com plena certeza, ela faz apostas que favoreçam esse resultado final. Para isso, por exemplo, a família busca colocar o filho nas melhores escolas e fazer com que ele frequente círculos sociais que lhe permitam desenvolver os valores que a família acredita que melhor contribuirão para o seu futuro. Entretanto, mesmo que a família siga essa cartilha, é impossível determinar que o filho será de fato uma pessoa bem sucedida.

Pessoas que frequentaram ótimas escolas e fizeram parte de círculos sociais muito bem sucedidos podem, eventualmente, ser fracassadas econômica ou emocionalmente. Assim como pessoas que frequentam escolas sofríveis e frequentam círculos sociais fragmentados podem se dar muito bem na vida. A questão é a probabilidade de isso acontecer, tanto pra bem quanto pra mal.

O futebol é igual. A quantidade de variáveis que incidem sobre uma partida é tão grande que ninguém consegue prever exatamente qual vai ser o resultado. Tudo o que você consegue fazer são apostas em fatores que tornarão mais prováveis a obtenção de um resultado favorável. É um jogo de números. Ou melhor, é um jogo de porcentagens. Toda vez que eu vejo o replay de um gol eu fico me perguntando qual era a probabilidade de aquele gol acontecer. Um chute que passa por baixo da perna de um zagueiro, bate no lado de dentro da trave, toca nas costas do goleiro e entra é resultado de uma combinação favorável de uma infinidade de variáveis. Se a bola tivesse sido chutada com um desvio de 0,1 grau, ela teria batido na perna do zagueiro e ido pra fora.

Se ela ainda assim passasse por baixo da perna do zagueiro, bateria na parte central da trave e rebateria para uma área do campo que não teria ninguém. Se nada disso acontecesse e o goleiro tivesse usado um pouco menos de impulso no pulo, ela não teria rebatido em suas costas.

Apesar de esse lance parecer algo extremamente complexo, lances mais corriqueiros também são resultados da mesma combinação de infinitas variáveis. Quando um jogador cruza uma bola na área e outro cabeceia para dentro do gol, qual era a probabilidade de o cruzamento ter sido feito naquela mesma altura, força e direção? Qual era a probabilidade de o cabeceador chegar na velocidade certa e posicionar a cabeça na direção correta para que a bola fosse a uma posição que se o goleiro tivesse um passo para o lado ele conseguiria defender? E se as probabilidades são tão distintas, por que os mesmos times conseguem ganhar mais partidas do que os outros?

A resposta é sempre a mesma: probabilidade. Se você comprar um juiz, por exemplo, não quer dizer que você vá ganhar uma partida, apenas que você terá maior probabilidade de vencê-la. A mesma coisa acontece quando uma equipe joga em seu estádio, quando a torcida faz foguetório na frente do hotel, quando o outro time faz declarações provocativas publicamente, e assim por diante. No futebol, e na vida, não existem fatores determinantes. Apenas medidas para aumentar a probabilidade de que aquilo que você quer que aconteça de fato aconteça. E tudo o que você pode fazer é trabalhar a favor do aumento das probabilidades. E também saber que aquilo que acabou de acontecer, seja algo positivo ou negativo, é também fruto da probabilidade. E que independe única e exclusivamente do seu controle, que no fundo pode ter tido apenas uma mínima influência em todo o processo.

O problema é quando alguém deixa de reconhecer isso. Quando se muda tudo por conta do desacerto do provável. Quando se põe por terra um trabalho que provavelmente estava certo em favor da mínima chance que deu errado. Decisões são tomadas acreditando que o que está certo está certo e o que está errado está errado. Que não há espaço para a influência da variável que não foi prevista. Que está tudo sobre controle.

Não. Não está tudo sobre controle. É impossível estar tudo sobre controle.

Aceitar isso é fundamental para a melhor compreensão do funcionamento das coisas.
E, certamente, faz com que você seja uma pessoa muito menos estressada, principalmente com o seu time.

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Vinte e dois atrás de uma bola

– Cansado, Oto?

– Rapaz, a gente estava jogando fruitbol. Fazia um calor danado no fundo da caverna.

Meu amigo de asas referia-se àquele joguinho que os morcegos aqui da caverna adoram jogar. Passam uma frutinha de boca em boca, tentando encaixá-la em um buraco na parede.

– Deu briga, Bernardo.

– Briga? Mas era só uma brincadeira.

– Ah, como se vocês humanos também não brigassem em qualquer brincadeira. Pior, até se matam. A gente tem umas briguinhas, mas todo mundo continua amigo.

Os morceguinhos ficavam eufóricos com o fruitbol. Jogavam horas seguidas e terminavam assim, esbaforidos, excitados. Terminado o jogo, Oto adorava me contar suas façanhas. Assisto a algumas partidas e nada do que ele conta é real. São fantasias, delírios, invenções de sua imaginação fértil, típicas daquele estado que costuma suceder o jogo.

– Tenho um primo em São Paulo que acha o nosso jogo uma besteira, uma perda de tempo. Sempre fala que não conhece nada mais estúpido que vinte e dois marmanjos correndo atrás de uma bola, ou vinte e dois morcegos, o que, para ele, dá na mesma – disse Oto.

– Imagino então que ele tem algum outro jeito de perder tempo – falei.

– Ele lê; nas prateleiras mais antigas das bibliotecas da USP. Mas para ele isso não é perder tempo – completou meu amigo – Diz que já voou até Coimbra, onde tem uma biblioteca muito frequentada por morcegos.

– Perder tempo é bom – prossegui – Quando o que fazemos não tem nenhum outro sentido que apenas viver, esse é o perder tempo que vale a pena.

– E correr atrás de uma bola é desse tipo de perder tempo? – perguntou Oto.

– É o que eu acho.

– Isso que vocês fazem, de ficar como doidos correndo atrás de uma bola para lá e para cá, gritando, chutando a canela um do outro, comemorando, xingando, brigando, serve para quê? – tornou a perguntar o morcego?

– Para nada – respondi.

– E tem alguma explicação?

– Para mim, nenhuma – respondi ao morcego.

– Dá mais saúde? – ele insistiu.

– Acho que isso não tem importância – eu disse.

– Produz o que? – o morcego teimou.

– Nada – eu falei.

– E não tem nenhuma outra importância, pequena que seja? – Oto já estava um tanto preocupado.

– Tanto quanto esta nossa conversa – arrematei.

– Mas para quê viver assim, sem utilidade, sem sentido, sem serventia? – perguntou Oto, acho que pensando lá no seu primo.

– É porque, quando se tira toda a utilidade de alguma coisa que a gente faz, e mesmo assim o gosto pela coisa continua, é porque vale a pena. Fazer por fazer é o mesmo que viver por viver – respondi.

– Mas, então isso é bom, faz bem, tem um sentido – concluiu o quiróptero.

– Se você quiser entender assim, que seja.

– Isso quer dizer que jogar futebol, correr como doido atrás de uma bola, é um bom jeito de viver – disse o morcego.

– É, é quando o que a gente faz é um fim e não um meio.

– Então perder tempo faz bem, Bernardo?

– O tempo que a gente tem é para ser perdido. Correr atrás de uma bola é uma boa maneira de fazer isso. A vida costuma ser melhor nesses momentos que naqueles em que fazemos coisas chamadas úteis. Às vezes basta viver, e isso pode ser feito correndo atrás de uma bola, conversando com você, ou dando cabriolas dentro da água, como nosso amigo Arnaldo, o bagre cego, aí no lago da caverna. Olha ali fora a coruja pousada há horas naquele galho seco, olhando, olhando… para onde? O que quer dizer isso?

– Você está me dizendo então que trabalhar é ruim? – perguntou o morcego com certo tom moralista na voz.

– Não dá para não trabalhar, senão a vida se acaba, não se sustenta. O trabalho equilibra esse perder tempo, que é o outro nome do jogo. Não se pode jogar indefinidamente, sem limites. Mas se a gente puder trabalhar e jogar ao mesmo tempo, melhor, não é? – acrescentei tentando responder ao meu amigo.

– Como se faz isso?

– Gostando muito do trabalho que a gente faz – respondi, tentando encerrar o assunto, que já me cansava.

Era tarde. Oto distraiu-se e esqueceu de sair com os amigos para caçar. Preferiu ficar comigo naquela conversa que não levava a nada. A noite ia alta. Os meteoritos se travestiam de estrelas, fragmentando-se contra a atmosfera, riscando de luzes a noite escura. As estrelas piscavam chamando a atenção. Aurora piou longamente e alçou voo para perder-se na noite. Tudo funcionava sem muito sentido, e em harmonia. Não era preciso pensar para entender tudo aquilo. No céu, vinte e duas estrelinhas corriam atrás de um cometa.

*Bernardo, o eremita, é um ex-torcedor fanático que vive isolado em uma caverna. Ele é um personagem fictício de João Batista Freire.

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Footville

As redes sociais, na internet, já são, notadamente, um grande e inteligente ambiente de comunicação e relacionamento entre as pessoas.

Muita gente, inclusive, relaciona-se muito mais virtualmente do que em carne e osso. É mais rápido, mais fácil – o trânsito não vira desculpa pra ninguém – e fica tudo bem entre todos, apesar da frieza aparente.

Ainda que se felicite o seu amigo deixando um recado no Orkut ou no Facebook.

É assim. E será cada vez mais comum e socialmente aceito enquanto comportamento.

Como meio de relacionamento, pois, as redes sociais já estão consolidadas. Não à toa que o Facebook desbancou o Google como site mais visitado em março.

O Second Life não emplacou porque era sofisticado e exigia demais em termos de tecnologia do usuário – não era qualquer computador que rodava.

Por outro lado, as redes sociais de hoje são facilmente acessadas até pelo telefone celular.

A partir de agora, o que se vê no horizonte é o que as pessoas vão fazer umas com as outras dentro das redes sociais.

Avançou-se da rede social 1.0, eminentemente individualista – eu coloco as minhas fotos, os vídeos preferidos, links, sites, amigos – para a rede social 2.0 – colaborativa, na qual eu posto comentários naquilo que os outros fazem, organizo as pessoas em torno de causas e interesses comuns (comunidades), faço uso de aplicativos sociais e também jogo socialmente.

Jogar socialmente? Com certeza! O grande fenômeno de jogos sociais se chama Farmville, no qual as pessoas são fazendeiros virtuais e interagem entre si, cuidando de tudo o que aconteceria numa fazenda real.

São 82 milhões de fazendeiros virtuais. E, no total, dos 400 milhões de usuários do Facebook, 230 milhões jogam socialmente.

No meio disso, existe dinheiro de verdade, sim. A moeda virtual é aceita, mas também a real, por meio de cartão de crédito. O fazendeiro pode acelerar a expansão e as benfeitorias gastando dinheiro de verdade, ou optar por fazê-lo a partir da inteligência e participação no jogo.

Sem contar, logicamente, na receita obtida pela publicidade feita por empresas interessadas em explorar o potencial das redes sociais.

O futebol, como parte integrante da sociedade brasileira e intrinsecamente ligado à própria formação do nosso povo, possui todas as características positivas para que se pudesse desenvolver um Footville.

Por enquanto, as iniciativas são tímidas ou se resumem a cópias simplistas, sobre um fenômeno complexo e com grande potencial de desenvolvimento como negócio na internet.

Os principais clubes de futebol no Brasil não se vangloriam de ter milhões de torcedores?

Todos eles devem estar, nos próximos anos, inseridos nas redes sociais da internet e jogando Farmville – na falta do Footville.

E a riqueza gerada pelos negócios não irá para o bolso do clube. Deverá ir para o BNDES virtual, como pagamento do financiamento para compra de máquinas, insumos e manutenção das fazendas.

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Marcação zonal: entendendo melhor o conceito

Nesta semana, vou tentar uma ideia diferente em minha “Coluna Tática”.

Se a repercussão for boa, e se o conteúdo cumprir com seus objetivos, quem sabe, não podemos fazer dessa ideia um hábito.

Ao invés de escrever uma “Coluna Tática”, proponho dessa vez um “Vídeo Coluna Tática”, que vai explorar o conceito da marcação por zona.

Introdução aos Aspectos Táticos do Futebol“: conheça o novo curso on-line oferecido pela Universidade do Futebol

É uma produção de aproximadamente sete minutos.

Ainda não sei bem como transformar uma coluna escrita em vídeo.

Como é a minha primeira tentativa, sei que se outros (vídeos) vierem, com o que vou aprendendo, cada vez mais, vai ficando melhor.

Segue, então minha “Vídeo Coluna Tática”:


 

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Notas desconexas

1- Se você perguntar para o Jérôme Valcke – que ninguém lembra, mas foi o cara responsável pelo rolo entre a Fifa, a Mastercard e a Visa, no qual disse que no mundo dos negócios não se diz necessariamente a verdade, o que é chamado de mentira comercial – qual é a maior preocupação da sua vida no momento, ele certamente não dirá que é o Morumbi. Afinal, ele é o cara responsável por Copas do Mundo na Fifa, e a África do Sul, no momento, está possivelmente trazendo mais tristezas do que alegrias para o secretário geral do futebol mundial.

Os hotéis cancelaram milhares de reservas, a venda de ingressos está abaixo da expectativa, a segurança sul-africana está sendo cada dia mais questionada, os funcionários públicos ameaçam entrar em greve e por aí vai. Não que isso vá gerar uma Copa do Mundo vazia. Longe disso. É bastante provável que os estádio estejam entupidos, de um jeito ou de outro. Agora já está muito tarde para pensar em outras estratégias, o negócio é vender ingresso. Nem que seja em supermercado. E isso, certamente, vai ter consequências para a Copa no Brasil.

A Fifa deve endurecer o jogo. Ela está aprendendo na marra que África do Sul não é igual Alemanha, Japão e Coréia. E vai perceber que o Brasil é mais parecido com a primeira do que com os últimos. Pior para quem organizar as coisas por aqui.

2- A eleição do Clube dos Treze foi bastante esquisita. Ficou parecendo que ninguém queria brigar de verdade com ninguém, independentemente das promessas feitas em troca de votos. No fim, analisando quem votou em quem, deu pra perceber que os clubes tentaram diluir o risco.

Dos quatro principais clubes de SP, dois votaram em um candidato e dois em outro, o que garantia um equilíbrio representativo independente de quem ganhasse. A mesma coisa valeu pra RJ, MG e PR e BA. Só o RS votou em peso no Fábio Koff, mas lá o cara tem os naming rights do campeonato, então já era imaginado que isso fosse acontecer.

Quem acabou decidindo foram a Portuguesa, o Guarani e o Sport. Dos estados que votaram no Kléber Leite, só Goiás não votou também no Koff. Não que isso vá gerar maiores problemas pro clube. No final, todo mundo se acerta.

No Brasil, ninguém gosta muito de brigar. Basta lembrar que o país deve ser o único lugar no mundo em que houve um golpe militar para assumir o governo sem que nenhuma gota de sangue fosse derramada.

3- O futebol brasileiro vive em constante esperança de mudanças nas estruturas de seu futebol desde os anos 1970, quando começaram a falar que mudanças eram necessárias. De lá para cá, bem verdade, pouca coisa mudou. É por isso que eu sou um pouco cético com relação a qualquer declaração esperançosa de que o futebol brasileiro passará por uma revolução.

Basta lembrar da recente histeria com relação à violência nos estádios. Criminalização, carteirinha, câmeras, diabo a quatro. Apesar do rebuliço, nada, absolutamente nada mudou de lá para cá. Na verdade, foi tudo esquecido. Parece que nem teve nada disso, tipo quando você está de ressaca. Você acha que aconteceu, mas não tem muita certeza. Daí meu ceticismo. Recomendo-o.

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Tecnologia no futebol – "Mini fórum" com os leitores: os portões abertos

Olá, amigos!

Nesta semana, a palavra é para o grupo de amigos leitores que defendem os portões abertos do futebol para a tecnologia e seu uso na arbitragem.

O grupo de e-mails de pessoas que defendem o uso da tecnologia é numerosamente maior que os demais, o que nos mostra certa convergência daqueles que discutem futebol, respeitando, com certeza, a colocação dos outros colegas que se manifestaram contrários totalmente ou parcialmente.

Mas isso não nos apresenta valor, uma vez que não foi a importância estatística e quantitativa de respostas que pretendíamos com esse debate, e sim a discussão sob os mais diversos pontos de vistas com base para reflexões mais aprofundadas e de alto nível, contando com a colaboração de opiniões aprofundadas sejam elas com o juízo de valor que tiverem.

Apenas mencionei o volume de informações com intuito de me desculpar antecipadamente por um eventual deslize e esquecimento de algum dos nomes de nossos amigos colaboradores.
 

Os portões abertos

É quase que unânime a opinião de que os benefícios da tecnologia na arbitragem surgem como instrumento de credibilidade que vem a somar com os árbitros, e não substituí-los. Argumentos que defendem a tomada de decisão do árbitro, apenas contando agora com instrumentos mais eficazes.

Em tópicos:

O uso da tecnologia oferece mais transparência e decisões objetivas da regras, minimizando o erro humano (Luis Sérgio, Carlos Batista, Ferreira Santos, Mario Furns, Fabio Lins, Romeu R., Lucas Proença, Ana Maria Siqueira, Xandinho);

A precisão da tecnologia permite que os questionamentos e intimidações de atletas percam sentido, indo de acordo com o tão chamado Fair Play que a Fifa prega, uma vez que jogadores e técnicos não teriam como intimidar psicologicamente um aparato tecnológico para errar ou acertar na chamada lei da compensação (Ana Maria Siqueira, Peterson Figueiredo, Jonas Mariano);

A tecnologia pode contribuir com o tempo de bola em jogo, diminuindo o tempo perdido com lances polêmicos (Carlos Batista, Jonas Mariano, Mario Furns, Fabio Lins, Romeu R., Peterson Figueiredo, Lucas Proença, Ana Maria Siqueira, Xandinho, Zé Luis, Fabio Guedes)

Tornaria o jogo mais centrado em estratégias, planejamento e, sobretudo, na ação do talento individual como fatores de decisão de resultados (Ana Maria Siqueira, Jonas Mariano, Luis Sérgio);

Assim como a adoção do cartão para facilitar a comunicação, a adoção do spray em alguns lugares para manutenção da distancia regulamentar da barreira, e da mais recente comunicação via rádio pelos árbitros, a adoção de outros recursos viriam como instrumentos auxiliares aos árbitros para tomadas de decisão (Fabio Guedes, Lucas Proença, Isabel Martinelli, Carlos Batista, Fabio Lins, Ferreira Santos, Xandinho);

Sobre os altos custos de implementação de maneira universal, alguns defendem que é um preço que tem de se pagar, e outros que isso seria absorvido naturalmente com o tempo e barateado cada vez mais quando adotado em escalas maiores.

Agradeço a participação de todos ao longo dessas semanas. Na próxima, montaremos um painel com as três linhas de argumentos e teceremos algumas considerações.

Fico com a certeza de que essa troca de experiência e opiniões é muito rica e “sem sombra de dúvidas” modificou um pouco de cada uma de nossas ideias, entendendo um ponto de vista aqui, discordando de outro acolá, mas sempre em busca de um aprofundamento consistente.

Abraços e até a próxima terça!

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Clube da (des)União*

Em 1987, os clubes de maior torcida do país se uniram para criar uma liga nacional de futebol. Meio que nos moldes do que é o modelo americano de gestão de competições esportivas, a ideia era de que os clubes assumissem as rédeas para controlar o principal torneio do país, o Campeonato Brasileiro.

Pouco mais de 20 anos depois, e o que era para ser a liga brasileira de futebol vai virar pó. Na tarde desta segunda-feira, não importa quem vença as eleições para a presidência do Clube dos 13, o futebol brasileiro estará mergulhado num racha que pouco vai beneficiar o futuro do que deveria ser a gestão do principal produto do esporte no país: o Campeonato Brasileiro de Futebol.

Fábio Koff gaba-se de valorizar os contratos de TV nos últimos anos, gerando uma considerável fonte de receita para os clubes. Deveria agradecer, lá no final dos anos 90, ao SBT e ao estouro do mercado mundial de compra de direitos de transmissão, que levaram o preço do Brasileirão ao seu primeiro salto. Depois, tem de agradecer à conjunção de dois fatores. O primeiro, à adoção dos pontos corridos, que fez o torneio ter mais datas. Depois, à disputa Globo x Record, nos últimos anos, que fez o preço dobrar.

Foi assim que os contratos de TV se valorizaram tanto sob “sua gestão”. E é esse o maior motivo de orgulho da atual gestão do Clube dos 13 em quase 15 anos à frente da entidade. Porque, com o passar dos anos, quase nada de novo foi feito.

A gênese do C13, lá em 1987, era com o intuito de criar um órgão que representasse os clubes e organizasse as principais competições entre eles. Ao longo do tempo, isso se perdeu, especialmente em 2001, quando a ideia de uma Liga Nacional estava montada, mas a força da CBF fez com que Fábio Koff se contentasse em apenas negociar contratos com a TV.

Agora, surge com força o nome de Kléber Leite para “renovar” o C13. Renovar entre aspas, porque Kléber não é alguém preocupado em dar força aos clubes, em criar um modelo mais independente de entidade representativa dos times de futebol (seja ela na negociação do contrato de TV ou de patrocínios para os campeonatos do país).

Leite se calca em dois apoios de peso. CBF e Corinthians.

Impossível uma entidade que quer representar, nem que seja comercialmente, os clubes, estar vinculada tão diretamente com a CBF.

Não vai dar liga. Ou, se der, será uma liga capenga, formada com base em acordos políticos, e não em interesses comuns (organizarem o campeonato mais equilibrado possível para gerar a maior receita possível aos clubes).

Sem um executivo independente, vindo do mercado, preocupado em ser, de fato, um diretor cujo objetivo é trabalhar para a geração de receita dos clubes, não há consenso.

A União dos Clubes do Brasil já se foi. Pela política. E a eleição desta segunda-feira é a prova de que não irá para a frente qualquer projeto de liga independente no país. O futebol no Brasil continua a ter um dono. Cada vez mais poderoso. Pelo menos até 2014…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

*Atualizada às 14h59

O atual presidente do Clube dos 13, Fábio Koff, se manteve no cargo após a eleição. Na sede da entidade em São Paulo, os 20 principais clubes do país deram seu voto aberto. Koff derrotou Kléber Leite, candidato da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), por 12 votos a 8, e alcançou o seu sexto mandato. Ele já está há 14 anos no cargo.

Em um pleito disputadíssimo, obteve 12 votos no total. Flamengo, São Paulo, Palmeiras, Fluminense, Atlético-MG, Atlético-PR, Sport, Grêmio, Internacional, Guarani, Bahia e Portuguesa apoiaram Koff.

Já Kléber Leite contou com os oito votos restantes de: Corinthians, Santos, Cruzeiro, Botafogo, Goiás, Vitória, Vasco e Coritiba. O ex-comandante flamenguista precisava do apoio de 11 clubes, no mínimo, para vencer. Se houvesse empate, o presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio, teria o voto de minerva por ser o representante mais velho.