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A dura missão de acabar com os Estaduais

Em São Paulo, Santos e Santo André fizeram um jogo épico, daqueles de ficar na memória do torcedor por vários e vários anos, especialmente o andreense. No Rio Grande do Sul, o Gre-Nal foi de arrepiar, com direito a briga de jogadores e o título gremista sempre com o gostoso sabor de ser sobre o maior rival. Em Minas Gerais, Diego Tardelli usou a “flanelinha” para lustrar a taça de mais uma conquista do Atlético.

Além dos detalhes que fizeram cada um desses jogos especial para os torcedores, está junto uma característica enraizada do brasileiro, desde sempre acostumado com a realização dos campeonatos estaduais.

Os estádios estavam cheios, a audiência na TV foi alta, as pessoas repercutiram os acontecimentos dentro do gramado pelos twitteres de todo o país.

Por mais sem sentido que seja, dentro de um calendário repleto de competições como o atual, o torneio estadual ainda está tão enraizado na cultura brasileira que é difícil de tirá-lo. E o motivo para isso não é nem tanto o sentimental, mas o financeiro.

Não é só a questão de poder soltar o grito de campeão que faz com que o Estadual permaneça no calendário brasileiro. Hoje, para os principais times do país, disputar a competição local representa uma efetiva chance de ganhar bastante dinheiro.

O campeão Santos, em São Paulo, tem a melhor premiação do país: pouco mais de R$ 7 milhões pela suada conquista sobre o Santo André. No Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, alguns milhões também foram para as contas de Botafogo e Grêmio.

Além disso, estádios cheios e audiência alta marcaram as decisões país adentro.

A CBF quer fazer com que o calendário do futebol brasileiro seja adequado ao europeu. A ideia é boa, e ajudaria bastante para melhorar ainda mais a organização do futebol nacional. Só que, nessa realidade, a pergunta que fica é simples. O que será dos Estaduais?

Depois da festa das torcidas, fica mais claro ainda que essa pergunta será muito difícil de calar…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br  

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Da África 10 ao Brasil 14

Uma fantástica ideia envolve a Copa do Mundo na África do Sul, o maior evento da história do continente africano, e a vida cotidiana do seu povo.

A iniciativa África 10 é a produção de um documentário – lançado em maio de 2010 – que acompanha as vidas de um grupo de africanos no período que antecede a realização do evento.

O projeto do documentário também está atrelado às atividades da África 10 Foundation, cujo objetivo é tornar realidade a juventude promissora do continente.

Ademais, a missão da A10 Foundation é criar um futuro seguro, sustentável e autodirigido pelos jovens do continente, inclusive formando líderes para estimular a união entre os povos.

A intenção é fazer com que parte da audiência global da Copa, estimada entre 2 e 3 bilhões de pessoas e concentrada na transmissão dos jogos, também possa voltar seus olhos para a diversidade, a paixão e as possibilidades do continente africano, por meio das histórias de pessoas.

Será um grande caleidoscópio social, cultural, econômico da África moderna. A abordagem do documentário envolve desde crianças jogando futebol nas ruas, torcedores apaixonados, ativistas sociais, líderes comunitários de alcance regional e até mundial, jovens promessas do futebol e grandes ídolos do passado e do presente.

Alguns deles são: bispo Desmond Tutu (líder sul-africano desde os tempos duros de Apartheid), Kofi Annan (ganês, ex-Secretário-Geral da ONU), Roger Milla (Camarões), Abedi Pelé (Gana), Mikel (Nigéria), Adebayor (Togo), Touré (Costa do Marfim), Pienaar (África do Sul).

O filme, em seu panorama geral, trata, pois, de ricos momentos e histórias que entrelaçam o futebol e a vida na África.

O maior objetivo do documentário é tornar evidente o poder transformador do futebol na vida de pessoas, de países e até mesmo de todo um continente.

A colcha de retalhos composta de forma diversificada e heterogênea serve, sobretudo, para criar um grande contexto peculiar ao continente e permitir ao mundo aproximar-se da verdadeira África – não daquela estereotipada a que estamos acostumados a ver, baseada, essencialmente, em desconhecimento, desgraça e desfavor social.

O site www.africa10.com contém todos os detalhes do projeto.

O próximo passo é replicar a beleza e pertinência do projeto no Brasil, ao longo dos anos que antecedem a Copa em 2014.

Temos muito de positivo para mostrar ao mundo já em 2010. Esperemos todos que em 2014 tenhamos um país ainda melhor termos de desenvolvimento socioeconômico sustentável, sem perder nossas raízes e identidade culturais.

Mas a bola da vez é a África.

Que a grandiosidade da Copa do Mundo possa dar as boas vindas ao povo africano e integrá-lo ao mundo globalizado, como tanto esperou e merece.

E que um dos valores centrais preconizados pela A10 Foundation ecoe de agora até 2014: acreditar no poder do esporte para transformar vidas. Ao promover lugares seguros para as crianças brincarem e jogarem, pode-se encorajar o crescimento pessoal, avivar a auto-estima e promover o aprendizado ao mesmo tempo em que se zela pela saúde e bem-estar.

Pelé já defendia isso, sabiamente e à sua maneira, quando fez o milésimo gol há quarenta anos.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Fazer pressão e fazer pressing: entendendo as diferenças

Bom, nesta semana, mais uma vez vou tentar uma “vídeo-coluna-tática”.

Introdução aos Aspectos Táticos do Futebol“: conheça o novo curso on-line oferecido pela Universidade do Futebol

A ideia é discutir os conceitos de pressão e de pressing, de maneira que possamos entender por que não são conceitos sinônimos (apesar de muitas vezes serem tratados assim).

O vídeo tem pouco mais do que oito minutos.

Espero que gostem…

Vamos lá!


 

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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A importância dos Estaduais

Caros amigos da Universidade do Futebol,

estamos chegando mais uma vez ao fim dos campeonatos estaduais pelo Brasil, e decidi dedicar esta coluna a essas competições tão importantes para o nosso futebol.

Em especial ao Campeonato Paulista, o qual, diante da decisão que nos brinda, mostra que é um campeonato moderno e com grande competitividade entre os clubes grandes e pequenos.

Como todos nós sabemos, todos os anos temos os Estaduais no primeiro semestre e o Brasileirão apenas começando por volta do mês de maio. Isso porque o Brasil é um verdadeiro continente no mundo do futebol, tamanha a importância das federações estaduais (para se ter uma ideia, a Federação Paulista de Futebol tem maior volume de jogos do que muita federação nacional, inclusive na Europa).

Basicamente, os Estaduais cumprem importante papel no cenário nacional por três razões.

Em primeiro lugar, porque permitem a viabilidade financeira dos clubes pequenos, que são justamente aqueles que revelam nossos craques. Sem os Estaduais, não teríamos essa enorme gama de agremiações formadoras em atividade por todo o nosso país.

Além disso, essas competições promovem o acesso de clubes para a Copa do Brasil, permitindo que equipes de menor expressão no cenário nacional possam enfrentar grandes clubes de outros Estados, dando a eles a chance de aparição na mídia nacional, podendo, muitas vezes, aparecer com a tão temida, mas admirada “zebra”.

Sem contar, por fim, a importância cultural dos Estaduais, que já fazem, há muito, parte da cultura do povo brasileiro.

Importante ressaltar o papel das federações estaduais, da TV, e de patrocinadores e investidores, que dedicam seus recursos para manter viva a competição estadual, em todas as suas divisões (só em São Paulo são quatro).

Aliás, vendo jogos da Champions League, em que sempre o mesmo grupo de meia dúzia de clubes vai às finais todos os anos, vejo a importância de termos clubes como o Grêmio Prudente e o Santo André chegando às semifinais e finais.

Isso mostra, em especial, a força que o futebol paulista tem.

Devemos olhar para outro lado e reconhecer que inovações e propostas para promover a melhoria nos campeonatos sempre serão benvindas. Não se pode fechar os olhos para isso. Porém, reduzir a importância dessa grande especificidade do futebol brasileiro, que são os Estaduais, isso nunca.

Assim, proponho aplausos para o nosso futebol local. E que venham novas gerações desse empolgante time do Santos em novas edições, não só para o benefício do clube que os formar, não só para o Estado desse clube, não só para o Brasil; mas sim, para todo o mundo.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Por que o futebol não sai da Globo?

Se você está lendo esse texto, você gosta de futebol.

Se você gosta de futebol, você acha que todo brasileiro gosta de futebol.

E se você acha que todo brasileiro gosta de futebol, você também acha que o futebol é um baita produto de televisão, afinal todo mundo assiste.

Entretanto, é bem possível que, se você faz uso dessa lógica, você esteja bastante errado.

Não no seu gosto pelo futebol, é claro, mas em acreditar que todo mundo também gosta de futebol.

Essa é uma antiga mentira criada pelo Getúlio Vargas que, com seus 1,60 metro de altura, tinha pernas curtas.

Desde que o pequeno presidente subiu nas tamancas do poder, o futebol foi enfiado goela abaixo da população, ainda que esta não tenha reclamado. Mas se fez acreditar que o futebol é muito mais popular no Brasil do que ele realmente é. E é por isso que ele não sai da Globo. Porque se ele sair, a sua já questionável popularidade vai ficar menor que o nosso pequeno revolucionário supracitado.

A grande sacada do futebol europeu foi levar o futebol para a tv paga. Como as pessoas só conseguiriam assistir futebol assinando o canal, elas pagavam pra isso. Ganharam as empresas de televisão, que popularizaram suas plataformas, e ganharam os clubes, que ganharam muito mais dinheiro com os contratos de exclusividade com essas empresas.

No Brasil isso não deu e ainda não dá muito certo. As pessoas, ao que tudo indica, não querem pagar para ver futebol. Veem porque está lá. Em dias de futebol, a audiência da Globo em geral cai. E a dos outros canais aumentam. O futebol na tevê aberta – que é o que realmente agrega audiência – afasta espectadores. Por isso o futebol precisa da Globo, porque o canal carrega consigo uma audiência fiel e natural. Porque se ele for pra outro canal, uma grande parcela do já pequeno público vai deixar de assistir. E se isso acontecer, o já minguado dinheiro de patrocínio vai sumir. E se a Globo resolver promover exclusivamente o vôlei, por exemplo, a onipresença esportiva do futebol pode ser ameaçada. Mas, acima de tudo, porque ninguém mais tem dinheiro para pagar ao futebol o que a Globo paga hoje.

Achar que a Record irá, eventualmente, entrar em uma briga com a emissora carioca pelos direitos do Campeonato Brasileiro me parece meio fantasioso. Primeiro porque, como dito, o futebol não atrai tanta audiência assim na televisão aberta para justificar qualquer leilão. E segundo porque o futebol é produto de televisão paga, e a Record não tem canal de esportes pago. Ou seja, não apenas ela teria que comprar os direitos, mas também teria que investir uma boa grana em montar uma estrutura para criar um canal que talvez nem seja aceito pelas duas maiores plataformas de televisão fechada do país, que têm participação da Globo.

Ou isso, ou ela tentaria revender os direitos para a ESPN, o que parece ser bem complicado, ou para a própria Globo, o que seria uma piada.

Pior. A história mostra que quando direitos de transmissão são superinflacionados por um canal que não possui a estrutura necessária para a difusão correta, ou então quando o próprio produto não colabora, as chances de o canal comprador quebrar são grandes. Procure os casos da ITV Digital e da Setanta. São casos claros do risco envolvido nesse tipo de operação.

Além de tudo isso, você também pode adicionar teorias conspiratórias sobre o poder de investigação jornalística daqui ou de acolá, que certamente colabora, mas não parece ser determinante para que o conservadorismo dos direitos impere.

A hora que a Globo tinha para perder os direitos já passou. Era lá em meados dos anos 90, quando ela de fato chegou a quase perder uma coisa ou outra. Mas agora não parece que vá acontecer novamente. A verdade é que, pelo menos em relação ao Campeonato Brasileiro, aparentemente o futebol precisa mais da Globo do que a Globo precisa do futebol.

A pergunta, portanto, não deve ser por que o futebol não sai da Globo, mas o contrário. Por que, afinal, a Globo não larga o futebol?

Isso é assunto pra uma futura coluna.

E eu não tenho muita certeza se conseguirei responder.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Mini fórum: panorama sobre a tecnologia na arbitragem

Olá, amigos!

Fiquei muito feliz com a participação de vocês nessa proposta maluca de fazermos um “mini fórum” de discussão a respeito do uso da tecnologia no auxílio da arbitragem no futebol.

Muito rico evitarmos, ainda que um pouco, aquele famoso “acho que sim” ou “acho que não, porque não”. Tanto defensores como críticos apontaram sólidos argumentos a respeito da mesma. Uma pena que não sejam esses os argumentos debatidos e considerados no processo de decisão, pois tenho a certeza de que boa parte dos que escreveram e comentaram nesse espaço tem plenas condições de se posicionar frente aos “poderosos” responsáveis por essa discussão no âmbito da Fifa.

Identificamos três grupos de correntes de ideias comuns nessas semanas.

Um que chamamos de “Portões Fechados”, com os colegas que demonstraram suas razões para defender que o futebol não deva abrir as portas para tecnologia, ao menos nos moldes concebidos hoje.

Outro que defende uma posição intermediária: eis os colegas dos “Portões Encostados”, os quais entendem uma série de benefícios, porém com algumas importantes ressalvas e receios.

E o terceiro grupo a que chamamos de “Portões Abertos”, referente àqueles que acreditam que a tecnologia só tem a acrescentar benefícios ao esporte bretão.

A seguir, como entendo ser o papel de um fórum, ainda que mini, exponho um quadro dos tópicos levantados pelos colegas:


Amigos, eis uma síntese muito breve dos e-mails trocados com os diversos colegas que se propuseram a debater nesse espaço. Que compreenderam que temos e devemos discutir com mais seriedade e sem o ranço de que não seremos ouvidos ou de que nada serve falar aqui.

Afinal, mesmo que não sejamos ouvidos por quem achamos que deveríamos ser, ao menos aprofundamos nossas reflexões em alto e bom nível, tornando assim nossa atuação profissional mais completa na medida em que conseguimos nos expor e ser expostos a opiniões diferentes, mas bem argumentadas.

Até a próxima!

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br  

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Entretenimento ou jornalismo?

A pergunta é, a cada dia, mais recorrente nas redações esportivas do país. Afinal, quando se fala sobre esporte tratamos de jornalismo na essência ou de um entretenimento? Qual é a função do jornalista que hoje trabalha com o esporte?

Ao longo dos anos, o futebol foi tratado tão a sério nas mesas-redondas e redações que, ao que tudo indica, a fórmula se esgotou. Ninguém mais aguenta o excesso de informações que permeiam o meio futebolístico. Sabemos, pelos mais diferentes meios, absolutamente tudo o que acontece dentro de um clube, uma competição, na casa de um jogador…

Nesse contexto, o comentarista “sério”, que tenta informar e comentar a informação, tem caído cada vez mais em descrédito, especialmente entre os jovens. De que adianta ele fazer essa pose toda séria se já sabemos o que vai falar? Se a opinião dele não deixa de ser uma mera opinião, sem embasamento teórico, sem conhecimento técnico, sem nada além do que aquilo que o torcedor já sabe, ou pelo menos está acostumado a saber…

Dentro dessa realidade, o ano de 2010 pode significar uma pequena quebra de paradigma em relação à importância do jornalista de esporte enquanto jornalista de informação, de apuração de notícias. O espaço para uma “bomba” é cada vez menor. Mais do que isso, o que o torcedor quer é ver o atleta como centro do espetáculo, seja dentro de campo, seja depois, na hora do programa de TV.

Acabou essa história de que a informação do jornalista é preciosa. O que se quer consumir é uma maneira diferente de jornalismo, muito mais voltado para o espetáculo do que para a seriedade.

Para ajudar aqueles que já começam a despontar com esse tipo de jornalismo (o Globo Esporte, com Thiago Leifert no comando, evidenciou essa nova alternativa para se falar de esportes no Brasil), está aí um time como o do Santos, em que a prioridade é o gracejo em vez do futebol de resultados.

O ano de 2010 poderá ser emblemático em relação à transformação do jornalismo de esporte, na sua essência, num espetáculo de entretenimento, muito mais do que na sisuda mesa-redonda. E o time do Santos é a válvula de escape para que essa fórmula funcione.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br  

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Raízes do Brasil

Ouve-se muito falar que o brasileiro é um povo sem memória, que pouco valoriza e demonstra orgulho de suas tradições e origens socioculturais.

A falta de memória – memória recente, inclusive – também é caso grave quando o povo, chamado à maior demonstração e exercício da cidadania em um país democrático que é o voto, comete os mesmos erros e perpetua políticos desqualificados no poder.

Ainda que tenhamos grandes discrepâncias socioeconômicas em nossas regiões do Brasil, nunca fomos tão nitidamente desejos de um separatismo entre o Sul, o Norte, o Nordeste, o Sudeste e o Centro-Oeste.

A exceção foi a infame iniciativa denominada de Sul é o meu país, surgida no Paraná na década de 1990, que visava fundar o Estado do Iguaçu e se separar do resto Brasil, sob a alegação de que a região sustentava economicamente os devaneios políticos acima das fronteiras de São Paulo.

A força do Brasil está, justamente, em nossa rica diversidade cultural. Somos um país forjado pela miscigenação de povos ao longo dos anos, o que contribuiu, positivamente, para nossa reconhecida adaptabilidade e superação das adversidades, bem como ser visto como um povo cordial e convidativo aos forasteiros.

De tanta mistura, nem lembro direito o que aprendi nas aulas de História do Brasil, sobre o que significa cafuzo, mameluco, crioulo, caboclo.

Esse caldo tempera o nosso futebol até hoje, desde a sua formação. Um grande privilégio.

Na Áustria, por exemplo, você encontra somente jovens austríacos jogando futebol. Um ou outro vai ser filho de imigrante, e olha lá.

De vez em quando – muito raramente – vemos a exceção a essa regra, como nos casos de jogadores negros representando as seleções de Alemanha e Polônia recentemente.

Assim é em boa parte dos países do Velho Continente. Ao contrário do Brasil, onde estamos juntos e misturados.

Portanto, soa muito agressiva a manifestação racista do jogador Danilo, do Palmeiras, em direção ao jogador Manoel, do Atlético Paranaense.

O próprio conceito de raça já foi posto em cheque, logo, não haveria razão de ser utilizado de qualquer maneira.

Pior ainda quando levamos em conta que ambos foram colegas de clube até pouco tempo atrás.

Dizia um amigo meu, grande publicitário, a respeito de um exercício que fora feito numa aula, na qual os alunos assistiram a um comercial em que um ator negro contava piadas de negros: Sabe quando preto toma laranjada? Quando vai à feira. Sabe a diferença entre o pneu furado e a preta grávida? E por aí enfileirava umas três piadas no comercial e a turma toda ia às gargalhadas…

Até um momento em que a câmera fechava nele e, bem sério, perguntava: Quer ouvir mais uma? Você sabia que, no Brasil, não existe preconceito?

Será que não?

Disse-me que o silêncio na turma, nesse momento, foi absoluto e constrangedor.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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A final de um time só: equívocos no processo de formação de jogadores de futebol

Existem infinidades de questões que podem ser exploradas quando o tema em debate é o futebol de base

Das dimensões que envolvem o processo pedagógico, às que exploram aspectos bioquímicos e fisiológicos do jogador em formação, é ponto pacífico que nas categorias de base no futebol objetiva-se a formação de jogadores capazes de lidar com aspectos centrais do jogo, e outros tantos que estão ao seu entorno.

Muitas empresas sérias no Brasil têm investido grande soma em estrutura, equipamentos e profissionais de excelência para encontrar e desenvolver talentos, que em médio e longo prazo se transformem em jogadores de grande expressão no cenário mundial do futebol.

Essas empresas superam grande parte dos tradicionais clubes de futebol no país, dentre outras coisas, porque fundamentam seu trabalho em uma organização profissional, que é totalmente desvinculada dos “achismos” e vícios fincados no futebol, e é sustentada por profissionais gabaritados que possuem conhecimento “técnico-prático-científico” de alto nível.

A formação de um jogador de futebol é algo que transcende aos treinos de campo, e de maneira multi, inter ou transdisciplinar (dependendo do modelo que cada clube ou empresa formadora estabelece para o processo) abarca (ou deveria abarcar) o desenvolvimento pessoal total e completo do jogador, como ser humano que é.

Isso quer dizer que a responsabilidade, na gestão do jogador e no seu “crescimento total”, de um clube ou empresa que investe no processo de desenvolvimento de jogadores de futebol, é muito grande, e eu diria determinante para o sucesso deste processo.

Isso parece óbvio, mas não sei se todos os clubes envolvidos com a formação de jogadores realmente sabem disso.

Nesta semana, um tradicional clube de futebol de São Paulo deu um mau exemplo sem tamanho e precedência em sua também tradicional história: sua equipe sub-17 deixou de comparecer a um importante jogo porque três dos seus jogadores juvenis estavam suspensos (quatro cartões amarelos e um vermelho – punição como cumprimento às regras da competição).

O resumo da história é simples. Três jogadores suspensos e uma final de campeonato. O clube em questão tentou reverter a suspensão (ou melhor, alterar o regulamento da competição) até o último instante. Como não conseguiu, simplesmente deixou de comparecer!

Não compareceu por causa de três jogadores… Claro, como ir à disputa de uma partida de futebol se três dos seus vinte ou mais jogadores não poderiam estar presentes como titulares?

Ainda que fossem Pelés, Maradonas, Zicos ou Garrinchas (os jogadores suspensos eram dois atacantes e um meia), não vejo como justificar (especialmente em se tratando de categorias de base e formação) para os demais jogadores do grupo, que a equipe não disputaria a final do campeonato porque três jogadores estavam suspensos (como resultado de ações de responsabilidade de cada um deles).

Ora, se eram imprescindíveis ou insubstituíveis, por que os gestores da equipe não se preveniram, por que não se prepararam para poupar os ditos jogadores? Ah, planejamento, onde estás que não te vejo?

E que fique claro, falta de planejamento não é o problema!

O problema é a mensagem implícita que se esconde atrás dessa ausência a uma final de campeonato, que diz aos outros jogadores do grupo: “vocês não servem para nada sem os três suspensos”. Ou que diz aos três suspensos: “toda a equipe depende de vocês, sem vocês não temos um time”!

Onde e que valores norteiam o processo de formação desses jogadores?

Realmente é uma pena que o desenvolvimento de atletas nas categorias de base ainda seja tratado dessa forma. É uma pena que já nessas categorias aqueles que deveriam servir de exemplo tentam descumprir com regras, ou ainda manipulá-las ao bel prazer…

Ao menos para os que foram assistir à final de um time só, a certeza de que ela realmente seria de um time só, pois como haveria de ser diferente se o adversário não se apresentara ao “campo de batalha” porque estava com medo? (era isso que diziam, que só podia ser medo).

Nesse episódio, a imponência alviverde (ops?! – será que entreguei qual era a equipe?) sucumbiu às decisões duvidosas de um processo de formação de jogadores que agora também me deixa dúvidas.

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É provável

Tudo que acontece na vida de todos é resultado de uma combinação de incontáveis e imensuráveis fatores. E como ninguém consegue identificar e muito menos controlar esses fatores, tudo o que você pode fazer são apostas de que as coisas irão acontecer a seu favor. E, como são apostas, não dá pra prever o resultado final, então você tende a agir de maneira que as probabilidades de que as coisas aconteçam a seu favor sejam maiores.

Uma família, por exemplo, tende a querer que seu filho seja uma pessoa bem sucedida econômica e emocionalmente. Como ela não tem como determinar que isso vá acontecer com plena certeza, ela faz apostas que favoreçam esse resultado final. Para isso, por exemplo, a família busca colocar o filho nas melhores escolas e fazer com que ele frequente círculos sociais que lhe permitam desenvolver os valores que a família acredita que melhor contribuirão para o seu futuro. Entretanto, mesmo que a família siga essa cartilha, é impossível determinar que o filho será de fato uma pessoa bem sucedida.

Pessoas que frequentaram ótimas escolas e fizeram parte de círculos sociais muito bem sucedidos podem, eventualmente, ser fracassadas econômica ou emocionalmente. Assim como pessoas que frequentam escolas sofríveis e frequentam círculos sociais fragmentados podem se dar muito bem na vida. A questão é a probabilidade de isso acontecer, tanto pra bem quanto pra mal.

O futebol é igual. A quantidade de variáveis que incidem sobre uma partida é tão grande que ninguém consegue prever exatamente qual vai ser o resultado. Tudo o que você consegue fazer são apostas em fatores que tornarão mais prováveis a obtenção de um resultado favorável. É um jogo de números. Ou melhor, é um jogo de porcentagens. Toda vez que eu vejo o replay de um gol eu fico me perguntando qual era a probabilidade de aquele gol acontecer. Um chute que passa por baixo da perna de um zagueiro, bate no lado de dentro da trave, toca nas costas do goleiro e entra é resultado de uma combinação favorável de uma infinidade de variáveis. Se a bola tivesse sido chutada com um desvio de 0,1 grau, ela teria batido na perna do zagueiro e ido pra fora.

Se ela ainda assim passasse por baixo da perna do zagueiro, bateria na parte central da trave e rebateria para uma área do campo que não teria ninguém. Se nada disso acontecesse e o goleiro tivesse usado um pouco menos de impulso no pulo, ela não teria rebatido em suas costas.

Apesar de esse lance parecer algo extremamente complexo, lances mais corriqueiros também são resultados da mesma combinação de infinitas variáveis. Quando um jogador cruza uma bola na área e outro cabeceia para dentro do gol, qual era a probabilidade de o cruzamento ter sido feito naquela mesma altura, força e direção? Qual era a probabilidade de o cabeceador chegar na velocidade certa e posicionar a cabeça na direção correta para que a bola fosse a uma posição que se o goleiro tivesse um passo para o lado ele conseguiria defender? E se as probabilidades são tão distintas, por que os mesmos times conseguem ganhar mais partidas do que os outros?

A resposta é sempre a mesma: probabilidade. Se você comprar um juiz, por exemplo, não quer dizer que você vá ganhar uma partida, apenas que você terá maior probabilidade de vencê-la. A mesma coisa acontece quando uma equipe joga em seu estádio, quando a torcida faz foguetório na frente do hotel, quando o outro time faz declarações provocativas publicamente, e assim por diante. No futebol, e na vida, não existem fatores determinantes. Apenas medidas para aumentar a probabilidade de que aquilo que você quer que aconteça de fato aconteça. E tudo o que você pode fazer é trabalhar a favor do aumento das probabilidades. E também saber que aquilo que acabou de acontecer, seja algo positivo ou negativo, é também fruto da probabilidade. E que independe única e exclusivamente do seu controle, que no fundo pode ter tido apenas uma mínima influência em todo o processo.

O problema é quando alguém deixa de reconhecer isso. Quando se muda tudo por conta do desacerto do provável. Quando se põe por terra um trabalho que provavelmente estava certo em favor da mínima chance que deu errado. Decisões são tomadas acreditando que o que está certo está certo e o que está errado está errado. Que não há espaço para a influência da variável que não foi prevista. Que está tudo sobre controle.

Não. Não está tudo sobre controle. É impossível estar tudo sobre controle.

Aceitar isso é fundamental para a melhor compreensão do funcionamento das coisas.
E, certamente, faz com que você seja uma pessoa muito menos estressada, principalmente com o seu time.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br