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Um pouco da minha história…

Na revista Ludens (Outubro-Dezembro de 1979) do ISEF de Lisboa, escrevi um artigo intitulado “Prolegómenos a uma ciência do homem”, isto é, há trinta anos, onde defendia que “o desportista do futuro não vai ser aquele que pratica tão-só, mas aquele que compreende as práticas corporais como formas universais de inteligibilidade” e portanto com a consciência também da necessidade de uma ciência que confira paradigma científico e dignidade universitária aos jogos, aos desportos (e ao treino desportivo), à ginástica. A essa ciência, proveniente de um corte epistemológico, no seio da educação física, entrei de chamar ciência do movimento humano, referindo que se tratava de uma ciência humana, mas confundindo movimento com motricidade, pois que acrescentava que o objecto de estudo deste novo paradigma é o ser humano em movimento intencional.

Ora, movimento com intencionalidade, segundo a fenomenologia, é motricidade. Três anos depois, já falava, nas minhas aulas, na ciência da motricidade humana (CMH) e apresentava o método integrativo (ou da complexidade) como o adequado a esta área do conhecimento.

De acordo com Louis Althusser, se há uma nova ciência, há uma nova teoria, uma nova metodologia e uma nova prática. A teoria é a CMH, a complexidade é o método, e a prática é a totalidade humana, em movimento intencional e não o físico tão-só. Eu sei que nada do que adianto neste artigo é novidade. Mas foi-o, há trinta anos, quando se escrevia: “É no âmbito da fisiologia aplicada, fisiologia do trabalho muscular e fisiologia do exercício que a metodologia do treino desportivo tem a sua fundamentação científica” (Teotónio Lima, Alta Competição – desporto de dimensões humanas, Livros Horizonte, Lisboa, 1981, p. 122). Nesta altura, já eu adiantava que a fundamentação científica do desporto era uma nova ciência humana, onde o físico está integral, mas superado.

Assim, se o desporto é um sistema de acção complexo que exige uma análise sistémica de causalidades múltiplas – na visão global do desporto e na preparação do desportista há muitas dimensões a ter em conta, para além do que geneticamente se é: a física, a psicológica, a sentimental, a moral, a social, a política -, todas elas elementos irrecusáveis do desporto e do desportista! Era o tempo em que se valorizava, com admiração incontida, o futebol-total holandês do treinador Rinus Michels e do jogador Johan Cruyff.

Também, inspirado no futebol-total, os treinadores russos Lobanovsky e Vassiliev criaram, na década de 70, o chamado futebol científico, onde Blokhine era, de facto, um intérprete genial. “Flecha da Ucrânia” assim o cognominavam os jornalistas. E, não sendo um Cruyff, mostrava uma intuição genial. Com mais poder físico do que Messi, aproximava-se dele (sem o igualar), no improviso das fintas. Em 1975, foi distinguido com a Bola de Ouro, sendo assim considerado o melhor jogador da Europa. Mas o futebol científico morreu, logo que Blokhine deixou o futebol.

 

Conheça um pouco mais da história de Oleg Blokhine

 

É que o futebol científico fundamentava-se nos Fundamentos do treino desportivo e em O processo do treino desportivo, de Metvéiev, onde a importância dos factores técnico e táctico se subordinavam à lógica da adaptação funcional do praticante.

“À medida que se aperfeiçoa o processo de treino desportivo, especialmente as suas bases científicas e metodológicas, o seu conteúdo, a sua orgânica, as disponibilidades materiais e técnicas aumentaram o seu efeito, no nível geral dos resultados desportivos” escreveu este autor nos Fundamentos do treino desportivo (1977). Só que os factores dinâmicos da adaptação funcional são simples elementos, ao lado de uma multiplicidade doutros factores que compõe a complexidade humana. No conhecimento científico, hoje, sempre que se pensa em um aspecto da realidade, há muitíssimos outros a ter em conta, sem os quais ele não se entende. A ideia de relação é, hoje, uma ideia nodal. A complexidade é a multiplicidade dos elementos, em relação incontornável, constante.

Portanto, no desporto, o que é humano comporta uma dimensão físico-biológica e o que é físico-biológico integra uma dimensão humana. Criar um novo paradigma (neste caso, uma ciência humana), organizar o desporto à luz deste novo paradigma e apontar a necessidade de aprender a pensar de forma relacional, no desporto, foi talvez a grande novidade que eu, com o pouco que tenho e o quase nada que sou, trouxe para o desporto, há trinta anos. Nós isolamos os factores, para podermos estudá-los. A complexidade, ao invés, diz-nos que tudo está ligado, nada está isolado, tudo é interdependente.

*Antigo professor do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.

Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo da motricidade. É reitor do Instituto Superior de Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Campus de Almada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia.

Esse texto foi mantido em seu formato original, escrito na língua portuguesa, de Portugal.

Para interagir com o autor: manuelsergio@universidadedofutebol.com.br

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A graça do futebol

Assim como em qualquer modalidade esportiva, a essência do futebol é a imprevisibilidade. Não saber previamente o resultado de uma disputa é algo que confere uma das maiores graças ao esporte. E, mais do que isso, no futebol, o imprevisto geralmente é maior ainda, permitindo a um time muito inferior a outro alcançar a vitória que parecia improvável.

No último sábado, tivemos dois exemplos de como o esporte depende da imprevisibilidade para se tornar atraente. Claramente, o interesse do torcedor aumenta conforme a incerteza que há sobre o resultado de uma partida.

Na Vila Belmiro, o time feminino do Santos foi a campo enfrentar o Caracas pela Copa Libertadores. Em menos de 20 minutos já vencia por 5 a 0. No final das contas, terminou o jogo com uma goleada por 11 a 0, a segunda com dois dígitos na competição e, como sempre, com um show de Marta, Cristiane e Cia.

No mesmo dia, só que um pouco mais tarde, o estádio Monumental de Nuñes, em Buenos Aires, foi o palco de um dramalhão argentino. Jogando a esperança de classificação para a Copa do Mundo, a seleção comandada por Diego Maradona ganhava no sufoco de um débil time do Peru. O 1 a 0 era sustentado pela fraqueza do adversário.

Aos 45 do segundo tempo, o Peru empatou a partida, em meio a um temporal que impedia até mesmo o torcedor em casa de conseguir ver alguma coisa na TV. O desespero bateu na porta argentina ao mesmo tempo em que o torcedor, de qualquer nação, não desgrudava os olhos da telinha. Três minutos depois, com mais de oito jogadores dentro da área, a Argentina conseguiu a vitória, num gol de oportunismo de Martin Palermo. O resultado devolvia aos hermanos uma condição favorável na tabela.

Na saída de bola, um jogador peruano deu um chute do meio de campo. A bola bateu no travessão argentino, lance suficiente para revirar do túmulo San Martin, um dos ícones do país.

Sim, é isso mesmo. Um jogo que foi 2 a 1 teve muito mais descrição e emoção do que aquele que foi 11 a 0. Assim como o time do Santos, a Argentina era muito melhor do que o seu adversário. Mas as circunstâncias da partida fizeram com que um jogo entrasse para a história, enquanto o outro será apenas “mais um”.

O futebol depende da imprevisibilidade. Desde o início sabia-se que o Santos seria arrasador nessa Copa Libertadores feminina. Mas qual é a graça de já se conhecer o campeão de véspera? Muito mais interessante, para todos, é ficar na poltrona até o final, hipnotizado por uma disputa sem qualquer prognóstico de quem vai vencer.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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A cláusula penal no término antecipado, sem justa causa, de relações laborais no futebol

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Antes de iniciar a coluna propriamente dita, me sinto na obrigação de abordar outra modalidade de justa causa. Aliás, uma das mais nobres justas-causas, e aquela que ocasionou a minha ausência nas últimas duas semanas. No último dia 1º de outubro, minha esposa e eu experimentamos a sensação única de ser mãe e pai pela primeira vez. Assim, esta coluna, não por ter um assunto específico, mas pelo momento em que é escrita, é dedicada ao pequeno Alexandre.

Muito discutimos neste espaço, sobre as peculiaridades das relações dentro do futebol e do esporte em geral, por conta do princípio da especificidade do esporte. Comentamos aqui que relações laborais, por exemplo, entre clubes e atletas não devem ser rigorosamente interpretadas perante a lei como qualquer outra relação dessa mesma natureza.

Os jogadores de futebol trabalham nos finais de semana, inclusive aos domingos, fazem pré-temporadas e concentrações por determinação do empregador, existe um mercado internacional envolvendo as transferências desses empregados para outros empregadores, entre tantas outras peculiaridades desta profissão.

Nesses termos, qualquer discussão que envolva uma relação no esporte, e, neste nosso caso, no futebol, deve sempre ser havida tomando-se certo cuidado, para que a lei não acabe por ser aplicada de forma desproporcional ou injusta a qualquer das partes.

Uma discussão importante nessa seara é a da aplicação da cláusula penal existente nos contratos de trabalho dos atletas profissionais de futebol. Cláusula essa que veio, historicamente, substituir o passe que anteriormente existia na relação entre clube e jogador, e que é, atualmente, disciplinada e regulamentada pela nossa Lei Pelé.

A cláusula penal visa, basicamente, estabelecer o valor a ser pago no término antecipado e unilateral de um contrato de trabalho de atleta profissional de futebol. Na letra estrita da Lei: o contrato “deverá conter, obrigatoriamente, cláusula penal para as hipóteses de descumprimento, rompimento ou rescisão unilateral” (art. 28, caput).

Interessante observar que o parágrafo primeiro desse artigo 28 estabelece que “aplicam-se ao atleta profissional as normas gerais da legislação trabalhista e da seguridade social, ressalvadas as peculiaridades expressas nesta Lei ou integrantes do respectivo contrato de trabalho”.

Isto porque a questão que se coloca é: a cláusula penal vale igualmente para rescisões sem justa causa, motivadas pelo jogador (em que o clube faria jus ao valor da cláusula), e também para rescisões motivadas pelo clube?

No recente entendimento do Tribunal Superior do Trabalho (TST), em ação envolvendo a rescisão sem justa causa de atleta do Vitória S.A., a cláusula penal deve valer apenas na rescisão motivada pelo jogador. De acordo com a decisão proferida no caso, caberia ao jogador, quando da rescisão por parte do clube, apenas as indenizações previstas pela legislação trabalhista e não a aplicação da cláusula penal.

Trata-se de uma decisão bastante polêmica, especialmente por conta da redação final do parágrafo primeiro acima transcrito, que abre espaço para disposição em contrário no próprio contrato de trabalho. O que seriam, para o TST, as eventuais peculiaridades integrantes do respectivo contrato de trabalho?

Nosso receio é o de que a interpretação futura dessa decisão coloque em desigualdade as partes em uma relação laboral, o que não é, evidentemente, indesejável.

Caso a cláusula penal fosse aplicada a ambas as partes, entendemos que, eventualmente, teríamos uma adequação dos valores à realidade, de modo a evitar uma majoração desmedida por iniciativa dos clubes. Com a decisão proferida, clubes poderão fixar sempre essas cláusulas penais nos seus tetos máximos, pois saberão, de antemão, que não arcarão, em qualquer hipótese, com esse valor.

Será que o princípio da especificidade do esporte foi devidamente observado para que a decisão em comento fosse tomada? Fica a questão.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Comprando felicidade

Há meses atrás, participei de um debate sobre a Copa do Mundo de 2014, promovido pelo jornal Gazeta do Povo, aqui de Curitiba. Participaram, também, dois jornalistas e um professor de urbanismo da UFPR. O evento foi muito bem organizado e bastante interessante. O local estava lotado.

Mas talvez eu não devesse ter ido. Escapei de um linchamento público. De um tribunal de inquisição. Depois do debate, dei uma fuçada na internet para acompanhar a repercussão. Achei um ou outro comentário em alguns blogs pessoais. Todos os que eu li fizeram muito mal ao meu ego. Enalteciam o debate, mas reclamavam da minha opinião.

Pudera. Não fui nada otimista. Deixei bem clara a minha posição: nenhum estudo sério e independente aponta ganhos reais com a realização de mega-eventos esportivos para as localidades que o hospedam. Muito pelo contrário. Perde-se dinheiro. Algumas vezes um pouco. Muitas vezes, muito. No caso, era a Copa do Mundo. Mas poderia ser a Olimpíada.

A reclamação e as críticas a minha pessoa fazem total sentido. Ainda estou à mercê de uma titulação acadêmica. Por mais que esteja fazendo um doutorado, que já se arrasta há quatro anos, ainda não sou um Doutor. Um Dr. Um vírgula PhD. Minha qualificação como fonte de conhecimento ainda depende de um documento entregue e do crivo de uma banca. De fato, sou e represento muito pouca coisa. Não tenho titulação, tampouco ocupo uma posição de autoridade sobre qualquer coisa. A verdade é que qualquer um pode começar um doutorado, enrolar por um tempo e fingir que sabe alguma coisa. Por isso é justo que qualquer palavra ou conhecimento originado da minha pessoa seja visto com desconfiança. Eu mesmo não confio naquilo que falo.

Portanto esqueçamos a minha opinião. Foquemos no conhecimento alheio. Para buscar uma boa fonte de conhecimento, primeiro, é preciso confiar na plataforma em que esse conhecimento é publicado. Peguemos, assim, um grande jornal do Brasil. Aliás, pensemos grande. Pensemos no melhor, ou pelo menos no mais reconhecido jornal do planeta. Fiquemos com o The New York Times. Agora adicionemos um artigo escrito por alguma real autoridade no assunto. Melhor. Juntemos três. Tem-se, assim, três autoridades discutindo um mesmo tema no The New York Times. Acho que serve. Acho que dá pra confiar.

Pois bem. A primeira autoridade é Robert Barney, professor emérito e diretor do Centro de Estudos Olímpicos da University of Western Ontario, no Canadá, e autor de um livro sobre a comercialização das Olimpíadas. A segunda é Andrew Zimbalist, professor de economia do Smith College, uma reconhecida faculdade americana, e autor de diversos artigos e livros sobre economia esportiva, em especial, sobre estádios e outras estruturas. Por fim, a terceira autoridade é Victor Matheson, professor do College of the Holly Cross, uma das mais tradicionais faculdades americanas, e também autor de uma série de artigos sobre o impacto econômico de megaeventos esportivos. Serve? Ô.

E a qual conclusão chega o artigo do The New York Times sobre o impacto econômico das Olimpíadas para a cidade sede com três autoridades renomadas sobre o tema?

À única possível: megaeventos esportivos, como as Olimpíadas e a Copa do Mundo, dificilmente trazem algum impacto econômico positivo para quem os hospeda. A não ser que os investimentos possuam um grande apelo de massa após o fim dos jogos, o que raramente acontece, as estruturas viram “elefantes-brancos”. Isso aconteceu em Montreal, Seul, Barcelona, Atlanta, Sydney, Atenas e vai, eventualmente, acontecer em Pequim. Se uma cidade pretende ser revitalizada economicamente, o que me parece ser uma necessidade do Rio de Janeiro, existem maneiras melhores para se investir o dinheiro.

Mas não basta dizer, claro. É preciso apresentar dados. Vamos a eles:

– A Olimpíada de 1976, em Montreal, deixou a cidade com uma dívida de US$ 2,7 bilhões que só teve a sua última parcela paga em 2005;

– O Comitê Olímpico (CO) de Barcelona ficou empatado, sem ganho e sem dívida, mas o débito público decorrente dos Jogos de 1992 foi de US$ 6,1 bilhões;

– O CO de Atlanta também ficou na mesma situação. Mas, estudos econométricos indicam que houve ganhos insignificantes em vendas no varejo, em ocupações dos hotéis e no tráfego do aeroporto, durante os Jogos;

– O CO de Sydney também empatou, mas estimativas sugerem que o custo de longo prazo dos Jogos foi de US$ 2,2 bilhões, principalmente, porque custa US$ 30 milhões por ano para manter o Estádio Olímpico.

– Os Jogos de 2004, em Atenas, custaram US$ 16 bilhões, dez vezes mais do que o estimado. Os estádios nunca voltaram a ser devidamente utilizados. O custo de manutenção das estruturas no ano seguinte aos Jogos foi de US$ 124 milhões. A dívida acumulada pelo evento foi de, aproximadamente, US$ 75 mil pra cada domicílio no país. Pior, o fluxo de turistas para a cidade diminuiu 10% durante os Jogos, em relação ao mesmo período em outros anos.

Enfim. Está aí. Não sou eu, um pretendente a uma titulação acadêmica, dizendo que a Copa ou a Olimpíada não trazem dinheiro. É gente que entende sobre o que está falando.

Isso não quer dizer que seja ruim hospedar uma Copa ou uma Olimpíada. Claro que não. Muito pelo contrário. É claro que é legal. É claro que esse tipo de coisa traz felicidade para cada cidadão. Mas essa felicidade tem um preço. Que pode ser bem caro. E deixar muita gente bastante infeliz no futuro.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Receitas da história

Tive o privilégio, na semana passada, de conhecer de perto toda a infraestrutura do CA River Plate, em Buenos Aires, bem como sentir a importância do peso da história do clube para a cidade, para o país e no relacionamento com seus fanáticos torcedores.

Não imaginava que o Estádio Monumental, situado no bairro de Nuñez, justificasse a denominação. Mas o faz de sobra.

O clube, especialmente no estádio e em seu entorno, mantém uma instituição viva e próxima dos seus associados com inúmeras atividades desportivas, além de sociais e culturais destinadas à comunidade.

Verdadeiramente, reconheci-me na frase que afirma que o brasileiro gosta de futebol, mas o argentino gosta é do seu clube.

A saber, além do trivial das quadras poliesportivas, das piscinas, do estádio e do campo, vale destacar que, sob as arquibancadas, existem 600 metros de instalações a destacar: teatro, salas de aula para o ensino primário e para dois cursos superiores, agência bancária, gestão de projetos de responsabilidade social, restaurante para 400 pessoas, e, pasmem, a concentração do elenco profissional (reservada e com 15 quartos).

Toda a imponência traduz o forte vínculo da instituição com a comunidade que o suporta ao longo da trajetória. A história se faz presente nos relatos dos que trabalham no clube, nos painéis fotográficos do café, nas revistas e programas de jogo.

E a maior surpresa da visita foi acompanhar as últimas obras do Museo River Plate, anexo ao estádio. Belíssima obra, excelente curadoria, que dividiu os espaços internos em períodos históricos (décadas) do clube e sob um contexto da história da própria Argentina.

Um investimento maciço, inspirado no Epcot Center, da Flórida, de aproximadamente US$ 4 milhões (boa parte bancados pela Adidas, fornecedora oficial de material esportivo do clube) e impulsionado – não, os dirigentes não reconheceram – pelo exemplo de sucesso do rival Boca Juniors, que tem o seu Museo de la Pasión Boquense.

Mais além do posicionamento da marca junto aos torcedores e aos turistas, existe uma estimativa preliminar e modesta de receber as mesmas 600 pessoas que fazem o tour pelo estádio, atualmente, no futuro museu.

Porém, com o ingresso cobrado em 50 pesos (R$ 25,00). Calculamos? Sim. Seiscentas (pessoas) x R$ 25,00 x 30 (dias) = R$ 450.000,00 por mês de receita. Num ano, pois, R$ 5,4 milhões. Isso é mais uma fonte de receita, sim.

O benchmarking é o próprio museu do rival, onde já existem picos de visitação de 5.000 pessoas aos mesmos R$ 25. Fique à vontade para calcular.

E isso sem contar a grande loja de artigos esportivos da Adidas, na saída, para que levemos uma lembrança para casa…

Há casos de sucesso ainda mais grandiosos. Segundo a página oficial do Barcelona, o museu do clube é o mais visitado da Catalunha com 1.200.000 visitantes/ano. Levando-se em conta que os não-sócios pagam entre sete e 13 euros, geram-se 12 milhões de euros ao ano. Se analisarmos o orçamento do clube em anos recentes, de aproximadamente 380 milhões de euros, vemos que o museu traz ao clube 3,15% de todo o seu faturamento. Eu não acho pouco.

No Brasil, o êxito maior reside no Museu do Futebol, situado no Estádio do Pacaembu. Em um ano de vida, é o segundo mais visitado da cidade. O restante se resume a bem-intencionados memoriais.

Cadê a história dos grandes clubes do futebol brasileiro? Mostrem-me de maneira organizada que eu pago. E ainda compro uma lembrancinha.

Para interagir com o autor: barp@niversidadedofutebol.com.br

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Futebol e responsabilidade ambiental

O mundo vive hoje uma onda de sustentabilidade, de preocupação com o meio ambiente. Por todos os lados, o tema surge e, com certeza, deve ser discutido. Até a Fórmula 1 entrou nessa onda.

De tanto ver e ouvir falar nessa tal responsabilidade social e ambiental, o tema virou recorrente em conversas com amigos.

Um amigo me apresentou um site de busca que roda em cima do famoso Google, e compartilho a dica. Um site de busca com preocupação ambiental. O www.eco4planet.com, que tem, entre suas premissas, efetuar o plantio de árvores de acordo com o número de pesquisas realizadas por meio dele, além de economizar energia, pois possui uma tela predominantemente preta, e um monitor utiliza até 20% menos energia para exibi-la, se comparado à tela branca.

Conversas vão e vem e fica aquela ponta de desconfiança. Como exemplo, os membros do COI perguntaram tanto sobre sustentabilidade, e todos, na ponta da língua, tinham uma resposta. Fiquei pensando… Até que ponto não seria demagogia, afinal, nem tela preta meu computador tinha, agora um pouco mais consciente, aderi à sugestão, imagina os “caras” lá.

Demagogias a parte, resolvemos em conversas de bar (onde as conversas com os amigos ganham corpo, teorias e fundamentações irrevogáveis) discutir como o futebol pode apresentar uma preocupação ambiental. Logo de cara, o amigo palmeirense levantou e disse que já estávamos vivendo essa era, afinal, o verde está em alta no Brasileirão da série A e também na B, em alusão ao Guarani. Estamos na era do Campeonato Ecológico?

Brincadeiras a parte, a conversa foi tomando um rumo interessante.

Enfim, quais as possibilidades de desenvolver uma preocupação ambiental com o negócio futebol?

Confesso que nenhuma das ideias surgidas ali me cativaram e fiquei pensando: será que os amigos que têm a paciência de lerem meus textos têm alguma ideia? Fica a proposta para sugestões.

Com certeza, um primeiro tópico de discussão que levantaria seria o desenvolvimento de tecnologia baseadas no principio da sustentabilidade. Mas, como defender tais preocupações num ambiente em que os resultados são observados por olhares desatentos, que a sua busca (dos resultados) não reflete critérios claros e precisos.

Ora, como uma árvore plantada pode ajudar o futebol? Pensaria a maioria quando a proposta é justamente o contrário: como o futebol pode ajudar o meio ambiente?

Que não me venham com a resposta que a construção desenfreada de estádios é uma excelente saída, afinal, possui uma vasta área verde.

Para pensar em responsabilidade ambiental no futebol, deve-se, primeiro, reciclar uma série de conceitos e pessoas para, desta forma, compreendermos o valor cultural do esporte-bretão.

E mais do que isso, para quem acha baboseira, pessoas com esse tipo de preocupação, com certeza, teriam muito a oferecer para a gestão do esporte nacional, seja em marketing ou na própria prática.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Jogar bem, e perder o jogo é possível?

Recebo muitos e-mails comentando as colunas que escrevo. Muitos mesmo! Não consigo responder a todos. Ainda não encontrei a melhor logística para conseguir dar conta de todas as mensagens que recebo.

Em um dia desses, recebi uma bastante interessante. Ela tratava de aspectos observados em um determinado jogo de futebol.

Nesse jogo, uma das equipes, líder da competição, foi jogar no estádio do adversário, que naquele momento encontrava-se em terceiro lugar na classificação do campeonato.

Segundo o e-mail que recebi, a equipe “líder”, começou “atropelando” seu adversário, conseguindo rapidamente fazer um gol. A frente no placar, continuou “jogando bem”, mas agora, em vez de ser objetiva e procurar o gol, passou a tocar mais a bola, fazendo-a circular, “fácil e bonito”.

O jogo permaneceu 1 x 0, a favor da equipe “líder” até o final do segundo tempo quando, em dois lances de “bola parada”, sua adversária conseguiu empatar e virar o placar do jogo. Resultado final 2 x 1 a favor da equipe da casa (a terceira colocada).

Vem daí a indagação, mais ou menos assim, que recebi em minha caixa postal: “Quem assistiu o jogo observou a superioridade da equipe “líder”, mas quem ganhou foi a outra. O que vale mais, jogar bem, com toda equipe bem compacta e bem treinada e sair derrotado, ou, sem apresentar aparentemente jogo elaborado, vencer?”.

Sem ter visto o jogo, gostaria de destacar algo importante na descrição que li sobre partida (no e-mail).

A equipe líder, se é líder, deve realmente ter um bom jogo. A outra, está em terceiro lugar, o que também não parece ser nada mau.

O fato é que jogar bem não significa necessariamente jogar bonito, fácil, etc. Jogar bem significa cumprir bem a lógica do jogo, alcançando o objetivo máximo inerente a ele: o gol.

É possível, e provável, que a equipe líder, na maior parte de suas partidas, consiga realmente jogar bem (ou seja, cumprir a lógica do jogo) – por isso deve vencer mais e estar em primeiro lugar na competição. Mas, pela descrição do jogo mencionado acima, sinto que, quando ela optou por não ser objetiva, perdeu exatamente aquilo que é a essência do jogo – cumprir a sua lógica.

Muitas vezes, observando partidas de futebol e conversando com “especialistas”, percebo que se faz uma correlação falsa entre a realidade dos fatos, e aquilo que se diz sobre eles.

É inegável que se uma equipe vence um jogo, foi melhor do que sua adversária em cumprir a lógica do jogo. Isso é fato.

O problema é que muitas vezes qualificamos o desempenho desta ou daquela equipe, observando “princípios” ou “sub-princípios” do jogo, de maneira que aquela que os cumpri melhor, aparentemente joga melhor.

Isso é um erro grave, porque qualquer “princípio” ou “sub-princípio”, referências ou estruturas de jogo, devem servir, única e exclusivamente, para cumprir a lógica do jogo.

Em outras palavras, isso quer dizer que, no jogo, diversos são os problemas técnico-tático-físico-psicológicos que precisam ser resolvidos de maneira aleatória, imprevisível e emergencial, de forma integrada; e resolvê-los não significa cumprir bem qualquer princípio que seja, mas sim, utilizar a ferramenta necessária a cada circunstância para gerar soluções.

O imprevisível estará sempre presente, faz parte do jogo, e ele sim precisa ser “treinado”. No final das contas, o que garante vitórias, é jogar bem (cumprir a lógica!), e não bonito – ainda que quando se joga bem, o jogo tende a ficar belo!

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Cem mil

Quanto vale R$ 100.000,00? Pra mim, vale bastante. Mas, também, não é tanto assim.

Com R$ 100.000,00, você pode comprar um carro legal e pagar a gasolina e as taxas e seguros equivalentes por uns três anos. Mas não dá pra comprar um carro super legal. Um carro supimpa.

Com R$ 100.000,00, você compra, no máximo, um quarto de um imóvel bacana e bem localizado.

Você paga uns mil jantares bacanas pra sua namorada. Ou umas quinhentas baladas desproporcionais para você mesmo.

Você pode aplicar e ganhar mais uns R$ 7.000,00 por ano na poupança. Ou um pouco mais no Tesouro Direto. Ou perder tudo em ações.

Você pode entrar em umas cinco boas mesas de pôquer. Fazer uma boa viagem com a sua família. Viajar 10 vezes de primeira classe.

Mas não muito mais que isso.

No fim das contas, se você calcular bem, R$ 100.000,00 não é muito dinheiro. Não resolve a vida de ninguém.

Muito menos de um clube de futebol.

Que diga o Atlético-PR, que perdeu o jogo contra o Palmeiras e ganhou R$ 100.000,00. O clube perdeu a chance de se afastar da zona de rebaixamento. E ganhou um troco por conta disso.

Se já é pouco pra uma pessoa com limitações de ganhos como eu e você, imagina para um clube de futebol. R$ 100.000,00 é menos do que 0,1% do faturamento de um grande clube do país. E não paga quase nada.

Com R$ 100.000,00, um clube grande consegue pagar, no máximo, um ano de salário de um jogador promissor da base, com todos os encargos já adicionados. Promissor, mas longe de ser um talento nato. E nenhum talento nato vai pro clube só por R$ 100.000,00. Paga, no máximo, um quarto da transferência, 25% dos direitos econômicos, e olhe lá.

R$ 100.000,00 servem pra pagar uma semana do salário de uma grande estrela, com encargos e com carteira assinada. Serve pra dar só uma melhoradinha no gramado. Pagam cinco horas de refletores acesos no estádio. E não muito mais do que isso.

Parece pouco, mas valeu a pena para o Palmeiras gastar R$ 100.000,00 pelo Danilo?

É absolutamente impossível dizer. Sem o Danilo, talvez o Palmeiras tivesse perdido. Mas também talvez tivesse ganhado com mais facilidade do que encontrou. É impossível prever qual seria o resultado, portanto, é impossível fazer qualquer juízo.

Prever o resultado dessa aplicação também é complicado. Essa vitória significará mais R$ 100.000,00 de receita para o clube? Gerará mais torcedores no estádio a ponto de justificar o investimento? Esses R$ 100.000,00 serão convertidos em algo mais tangível do que os três pontos pela vitória e a sensação de sucesso? E se o clube perder os três próximos jogos? Terão os R$ 100.000,00 valido a pena? Qualquer resposta aqui será puro e absoluto “achismo”. Ninguém pode dizer, porque a quantidade de variáveis envolvidas nessa análise é impossível de contar.

O que é fato é que o Palmeiras gastou R$ 100.000,00 com prazer. E o Atlético-PR recebeu o trocado com desgosto. Mas, pelo menos, o clube agora pode deixar a luz do estádio acesa por mais um tempo.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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FootballSystem: juntando conhecimento e tecnologia

Olá, amigos!

Nesta terça-feira abro espaço para falar de um caso que ilustra muito o que sempre argumentamos sobre a tecnologia ser desenvolvida essencialmente através do conhecimento do profissional que conhece o esporte.

Desde os tempos de faculdade – como alguns devem saber, sou formado em Educação Física -, quando o assunto era treinamento esportivo, uma série de nomes russos formavam a base bibliográfica desse conhecimento. Uma Ciência do Treinamento Desportivo. Dentre esses nomes, era frequente um tal de Antonio Carlos.

“Pera aí”, amigo, o colunista não enlouqueceu. Eu sei que vocês esperavam eu dizer algo terminado com o sufixo oviski ou algo similar, afinal estou falando de russo. Mas é Antonio Carlos mesmo.

Genuinamente russo. Ao menos em sua fundamentação teórica sobre o treinamento desportivo.

Falo do professor Antonio Carlos Gomes. Para quem é do meio, imagino não precisar de apresentações, mas refresquemos a memória: professor que desenvolveu grande parte de sua carreira acadêmica na Rússia, tendo passagens por Olimpíadas e outras competições internacionais e mais recentemente marcado pela sua trajetória vitoriosa como diretor técnico e cientifico do Atlético Paranaense.

Bom, não sou agente nem empresário de tal professor, ainda que tenha tido o privilegio de conhecê-lo e ouvir um pouco de suas boas histórias. Para quem não o conhece, além de conhecimento, possui o dom também de contar bons causos.

Mas e o que isso tem a ver com tecnologia e futebol ? Simples. Quando dizemos que algumas áreas do futebol já possuem certo avanço em termos de tecnologia, talvez a dimensão da preparação física esteja entre essas um pouco mais adiantadas. Afinal, muitos profissionais lançam mão de recursos tecnológicos para predizer, armazenar, tabular e organizar seus processos de treinamento, testes e avaliações. E aí já aparece um grande passo para a boa utilização da tecnologia, o processo, a organização das ações e conhecimento em busca de otimizar os resultados.

Nesse ponto, ainda que possam existir algumas divergências, o professor Antonio Carlos Gomes é uma das referências quando se fala em planejamento e periodização do treinamento. Haja vista os livros e palestras que se espalham pelo Brasil afora. E agora transfere seus conhecimentos para um sistema (software) direcionado ao futebol, com base nos seus anos de estudos e em dados peculiares a modalidade.

Essa transferência de conhecimento, e esse é o termo que devemos usar mesmo, pois para que um recurso tecnológico se torne eficiente e utilizável, ele precisa essencialmente do conhecimento específico. E este, com todo respeito ao excelente trabalho dos engenheiros de computação e sistemas, que não é nada mais além do que um simples (ou um complexo) recurso, se não tiver por trás as informações, os dados e frutos de pesquisas de um profissional, ou um grupo desses, não sai do escopo de um aparato tecnológico para uma tecnologia a serviço do futebol.

É por essa significativa junção do conhecimento com a tecnologia que abri o espaço para a divulgação desse sistema. Confesso-me empolgado pela vivencia na prática daquilo que há um certo tempo defendemos sobre a importância do profissional no desenvolvimento das inovações. E para quem quiser ver um pouco desse fruto, vai a indicação para download:
http://www.mresolucoes.com.br/footballsystem/

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Até onde deve ir o poder da TV

Que a TV é essencial para a promoção do esporte, não há dúvida alguma. Mas, neste final de semana, tivemos uma mostra de que os interesses dos meios de televisão não podem ser superiores ao esporte em si.

Internacional x Flamengo disputaram uma maratona aquática no estádio Beira-Rio. O jogo era o escolhido pela TV para compor a grade de programação da emissora no domingo. Só que o aguaceiro que castigou Porto Alegre fez com que o óbvio aparecesse: era impossível jogar futebol no gramado do Beira-Rio.

Só que o árbitro Sandro Meira Ricci, do Distrito Federal, achou melhor não contrariar os interesses daquela que pagou R$ 400 milhões para exibir o campeonato em 2009. E, assim, decidiu fazer a bola rolar (?) no gramado (?) do Beira-Rio.

O que se viu a partir daí foram 90 minutos de nenhuma bola rolando e de muita água espalhada, chute errado, canela preservada… Futebol, daquele que a gente gosta de assistir, não teve absolutamente nada.

Em vez de preservar a qualidade do espetáculo, o árbitro da partida preferiu dar bola para a emissora de TV, que por sua vez teve de tudo para mostrar, menos a bola de fato!

Imprevistos acontecem, e a própria emissora que detém os direitos de transmissão sabe disso. E, se é para exibir um jogo de futebol em que não se há jogo, o melhor é reprisar um filme enlatado ou até mesmo mudar o sinal para outra partida que acontece no mesmo horário, algo que é absolutamente compreensível para o torcedor. Além de ser mais justo para ele.

O poder de decisão da TV no futebol tem um limite. Ela até pode determinar alguns horários, escolher quando será uma partida para atender seus interesses de grade de programação ou pedir que um determinado time esteja mais vezes na TV. Afinal, é ela quem paga a maior parte da conta de um torneio.

Mas o limite da TV é, claramente, o limite da preservação da qualidade do produto. Se esse status inviolável do esporte for preservado, todos saem ganhando. Inclusive a TV. Afinal, não seria melhor se neste último domingo houvesse um jogo de futebol transmitido na telinha em vez da maratona aquática do Beira-Rio?

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br