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A queda no valor das ações, a quebra de algumas instituições financeiras e a escassez de crédito no mercado fez com que muitas empresas revissem seus investimentos para o futuro, obviamente.
Afinal, se o cenário de antes era bom e o de agora é ruim, não faz nenhum sentido manter a mesma perspectiva. Nada mais natural do que uma contenção de gastos, a começar pelos supérfluos.
É nessa que entra o mercado de patrocínio. Há uma tendência forte de redução de valores. Novamente, é algo bastante natural. Faz todo o sentido. Não me venham com essa que patrocínio é investimento. Tirando alguns poucos casos isolados, não é. Na grande maioria das vezes, principalmente – mas não isoladamente – em esportes de menor visibilidade, patrocínio é luxo, é ostentação.
Pesquisas, muitas pesquisas, apontam que uma das principais razões que levam empresas a patrocinar esportes é o gosto particular que o tomador de decisão possui por esse determinado esporte. A chefia gosta de golfe? A empresa patrocina golfe. A chefia gosta de cavalos? A empresa patrocina hipismo. A chefia gosta de música? A empresa patrocina a Macarena.
Ok. Ninguém patrocina a Macarena. Não mais, pelo menos. Acho.
De qualquer maneira, isso é fato. Empresas, em boa parte das vezes, não se preocupam muito com resultados das suas ações de patrocínios. Não chega a ser uma matemática exata. São tantas as variáveis que implicam no processo de compra de um produto ou serviço que é virtualmente impossível saber o quanto desse processo é exatamente motivado pelo patrocínio.
Diante dessa inexatidão, fica ainda mais compressível o motivo que leva empresas a não enxergarem o patrocínio como algo essencial ao seu processo mercantil. E daí o que leva elas a cortarem tantas verbas com o cenário e as perspectivas atuais.
Patrocínio, quando bem utilizado, é uma excelente ferramenta para alavancar negócios e não deve ser abandonado, até porque serve como fomentador de receita.
Quando é apenas uma vontade de quem controla o dinheiro, bem, aí é gasto mesmo.
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O maior espetáculo da Terra
O Real Madrid foi pentacampeão europeu, de 1956 a 1960. Voltou a ganhar a Europa em 1966, mas apenas com o excelente ponta-esquerda Gento dos craques lendários da máquina real das cinco coroas. Como o primeiro título mundial (Intercontinental, para os europeus…) só foi disputado em 1960, o maravilhoso e irreal Madrid de Di Stéfano, Puskás, Kopa e belíssima companhia só conquistou uma taça planetária.
Uma a menos que o Santos de Pelé, que, em 2008, celebra os 45 anos do bi do time de Pelé. Ou melhor: do time que nem precisou Dele para ser bi, contra o Milan, em três jogos, em 1963. Almir Pernambuquinho, o “Pelé branco”, ganhou a disputa com Amarildo, o Possesso milanista, bi mundial pelo Brasil em 1962, e ajudou um time espetacular a ganhar o planeta pela segunda vez. Sem Pelé – machucado.
O imenso mérito daquela seleção que se fez na Vila Belmiro foi independer de Pelé para ser maior que o mundo da bola. O Santos já era bi paulista (1955-56) quando Ele chegou ao time principal, ainda com 16 anos. Com Pelé, claro, passaria a patamares interplanetários. Campeão estadual em 1958, 1960 a 1962, 1964-65, 1967 a 1969. Pentacampeão do único torneio nacional da época, a Taça Brasil, de 1961 a 1965. Tetra do Rio-São Paulo. Duas Libertadores. E os dois mundiais.
O primeiro, em 1962, ganhando do Benfica por 3 x 2, no Rio. Goleando e encantando na Luz, em Lisboa, justificando o nome do estádio do rival, impiedosamente goleado por 5 x 2. Quando, na feliz imagem de um jornalista português, o Santos passou os 45 minutos iniciais sem tocar os pés no gramado. Tanto que jogou. Tanto que pelezou.
O time que não pisou no gramado do estádio da Luz
Mas, insisto, não era só Pelé. Era todo o time. Mesmo com um treinador que, na preleção, costumava pedir ao time para fazer um gol logo de cara para tranqüilizar e, depois, fazer o que eles (muito) bem entendiam. Esse era Lula, treinador multicampeão na Vila, de 1954 a 1967. Mas capaz de “preleções” dessa profundidade. Ou de pedir para que os dois pontas voltassem para o meio e, juntamente com os dois médios, fizessem um “triângulo” com quatro jogadores…
Podem dizer que um timaço como aquele não precisava de treinador… Pode ser. Mas Lula ganhou tudo isso. Sem ser nada daquilo. Palmas para ele. Mesmo quando fazia mexidas incompreensíveis. Até hoje, nenhum santista entende o porquê dele, no jogo decisivo contra o Benfica, em 1962, sacar o meia-direita Mengálvio (técnico, porém lento) para adiantar o polivalente lateral Lima para o meio, e deixar o veterano zagueiro Olavo improvisado na lateral-direita para marcar o ótimo ponta português Simão.
A idéia era marcar mais a partir do meio-campo, e deixar o time mais rápido. Foi uma temeridade. Simões jogou muito para cima de Olavo. Mas o Santos jogou ainda demais. Tem a ver com a mexida de Lula? Para o ponta-esquerda Pepe, maior artilheiro humano da história do clube (“Pelé nasceu em Saturno, responde ele), melhor treinador entre os craques bicampeões mundiais, Lula errou:
– Foi uma imprudência o que fez o nosso treinador. Mas deu tudo certo, apesar disso.
Lula quase repetiria seus experimentos contra o Milan, no segundo jogo decisivo do Mundial de 1963. O Santos precisava vencer. Perdera para a ótima equipe italiana por 4 x 2, em Milão. No Rio , só a vitória interessava. E Lula deixou escapar que colocaria o meia Batista no lugar de Pepe, para compor mais o meio-campo. Por sorte do Santos e da bola, o treinador foi convencido pela direção santista que Pepe não poderia ficar de fora. Depois de perder o meio-campo e o primeiro tempo por 2 x 0, o Santos virou para 4 x 2. Dois gols de Pepe, sob chuva pesada como a bola e as balas do Canhão da Vila.
Tudo dava muito certo porque era fácil jogar certo com tantas feras. Uma equipe que fazia seis ou sete, e tomava dois ou três. Não pela fragilidade defensiva, ou por insuficiência técnica. Mas pelo gosto em atacar. Na campanha da segunda Libertadores, o Santos fez 3 x 0 no Boca, no Maracanã, com 28 minutos. Levou um gol do ótimo meia Sanfilippo num contragolpe sofrido no fim do primeiro tempo. Quando o cabeça-de-área Zito resolveu se lançar ao ataque juntamente com o meia Lima, armando uma jogada com os dois pontas Dorval e Pepe enfiados, e mais a dupla Pelé-Coutinho na entrada da área. No contra-ataque, Sanfilippo foi lançado às costas do imenso Mauro, dos mais técnicos zagueiros da história brasileira, que fazia notável dupla com o quarto-zagueiro Calvet, de refinada técnica e capacidade de antecipação. A dupla exposta pelo time que atacava como se fosse o fim do mundo que, no fim, sempre acabava sendo santista. Mesmo com laterais que não eram brilhantes. Mas eram eficientes. Sobretudo Dalmo, que batia bem na bola e, destro, jogava com eficiência nos dois lados.
Soubesse segurar a bola um pouco mais, “administrar mais o jogo”, talvez o Santos tivesse ganho alguns jogos a mais nos anos 60. Certamente teria tomado menos gols. Mas não seria cultuado pela eternidade como o timaço que foi. Justamente por não se contentar apenas em jogar bola e fazer gols.
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Na semana passada tivemos no Rio de Janeiro a realização do V Footecon, um fórum organizado sob a tutela de Carlos Alberto Parreira para se discutir e trocar experiências acerca do futebol. Junto ao fórum, uma feira de empresas ligadas ao setor.
Nas palavras de Parreira, vemos sempre a questão da falta de encontros deste porte no Brasil, que reúna treinadores e outros profissionais para desenvolver a troca de informações e conseqüentemente compartilhar os avanços no futebol brasileiro, eventos que são tão comuns lá fora.
Sem sombra de dúvidas, a iniciativa que teve a sua quinta edição no corrente ano é de grande importância para o futebol brasileiro, mas permito fazer algumas considerações a respeito, após a minha terceira participação consecutiva.
Qual o verdadeiro significado de um evento deste porte?
Palestrantes internacionais sempre são trazidos e contribuem de forma magistral. Assim foi com Arrigo Sachi, Jurgen Klisman e e Lars Lagerbäck. Alguns brasileiros também se destacam como o próprio Parreira, Renê Simões e Tite. Na parte mais específica do treinamento físico temos Antonio Carlos Gomes, Sergio Gregório entre outros.
Com certeza, é de grande valia para os profissionais que estão no meio, tanto para quem está iniciando a carreira como para quem já está no campo há bastante tempo.
Mas dois pontos me incomodaram muito nesses três anos:
1.
Algumas palestras (ou pseudo-palestras) de treinadores consagrados e outros que se consideram como tal;2.
A postura desses profissionais perante o evento. Referente às palestras, confesso que, na condição de ouvinte, me senti muitas vezes decepcionado com o que o palestrante tinha a expor. Duvido que alguém que tenha tamanho envolvimento não tenha nada a acrescentar. Palestrantes utilizando em suas análises fontes de jornal (sim, são importantes, mas não são as mais especializadas, convenhamos), justificando que não encontram informações estatísticas e de qualquer outro tipo de análises especializadas. Ora, o amigo sabe que faço parte de uma empresa que trabalha especificamente com isso, não obstante, temos pelo menos mais duas empresas, sem considerar os profissionais autônomos que trabalham com isso no Brasil. E o pior, muitas vezes, o palestrante já se utilizou desses serviços… Outros caminhavam para a importância de interdisciplinaridade no comando da equipe, outros sobre planejamento, e por aí vai. Muita coisa interessante, mas até que ponto novo? Afinal, não é de hoje que vejo estudos ressaltando a importância do planejamento, da interdisciplinaridade, etc, etc, etc. Talvez, a proposta do evento (o qual apoio e acredito ser extremamente necessário para o futebol brasileiro) de fazer, por meio da troca de experiências e intercâmbio de idéias, evoluir alguns conceitos só sejam perceptíveis daqui a alguns anos. Mas, o fato é que passados três anos, pouca coisa mudou de uma palestra para outra. Parece que muitas vezes o fórum internacional de futebol se transforma num palco de contadores de história, o que é fantástico. Ouvir histórias de futebol é vibrante e apaixonante, mas em termos daquilo que o Parreira tenha se inspirado lá fora, de um fórum de conhecimento e debate, não esteja acontecendo. Sobre o outro ponto não vemos de fato um compartilhar de informações. Na verdade, me refiro a quem de fato esta na linha de frente do futebol. Para os iniciantes, com certeza alguma coisa fica e agrega aos seus conhecimentos, ainda que tenha ouvido de muitos colegas que não escutaram nada demais além do que vêm fazendo por ai. Mas, de maneira geral foi perceptível uma certa prepotência de alguns profissionais, ao não sentarem no auditório para prestigiar a palestra de um companheiro. Quando isso ocorre me recuso a dizer que há um compartilhamento, porque isso significaria que um ouviria o outro, e desta forma estabelece-se a forma mais simples do ensino: ambos aprendem e aperfeiçoam suas idéias. Mas, a postura que fica é de que alguns não consideram necessário aprender mais, ou que já estão num patamar que basta chegar, dar uma palestra, algumas entrevistas e tchau. Onde fica a troca de experiências? Quem estava na platéia com certeza absorveu muita coisa, mas por enquanto não são eles que estão na linha de frente. Tal postura refletiu-se também perante a feira agregada ao fórum. Tá certo que algumas empresas não detinham interesse algum para os técnicos, tinham outro target (público-alvo). Mas havia pelo menos três empresas com produtos e serviços destinados a atuação específica no campo de jogo. Mas sabemos que às vezes o fator convergente não está em questões lógicas. Bom, continuo achando necessário a atualização tecnológica por parte dos técnicos, assim como há a necessidade de se integrar uma gestão de conhecimento no comando das equipes. Mas fica sempre a pergunta: será que quem está na linha de frente do futebol, hoje, quer fazer isso ou ao menos enxerga algum sentido nisso?Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br
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Reforço de peso
Sim, sem dúvida a ambigüidade do título é sarcástica. Mas o impacto que a contratação de Ronaldo pelo Corinthians causou não permite nenhum outro trocadilho a não ser esse. Durante uma semana, pelo menos, Ronaldo canalizou toda a atenção da mídia esportiva para o Corinthians. E qual o impacto disso?
O primeiro deles é o efeito que isso causou para a imagem do clube. Recém-promovido da Série B do Campeonato Brasileiro, o Corinthians, apesar de toda a força que tem, estava “ofuscado” pela conquista do hexacampeonato brasileiro do São Paulo.
Considerando que ambos os clubes estão em busca de um patrocinador para 2009, a jogada corintiana foi ainda mais brilhante. Não só pelo reforço de marca que Ronaldo proporciona, mas também pela concentração de mídia que a contratação do Fenômeno provocou.
O brilhantismo da estratégia de comunicação corintiana foi digno de um trabalho eficiente de gerenciamento de crise dentro de uma empresa. O problema (no caso, o triunfo são-paulino) estava ali, exposto. Em dois dias, o Corinthians não só deixou esse assunto esquecido como passou a causar intenso barulho sobre a sua marca.
No domingo seguinte à conquista tricolor, o alvinegro dominou o noticiário, com reportagens gigantescas sobre a história de Ronaldo, as perspectivas da contratação, o time dos sonhos do Corinthians, etc.
Mas o que foi mais interessante ainda foi poder perceber o amadurecimento da imprensa. Em vez de criticar o Corinthians pela contratação de risco, a maior parte da mídia entendeu que ela tem muito mais sentido do ponto de vista do negócio do que do esporte.
Sem dúvida a contratação de Ronaldo é uma das grandes notícias do negócio esportivo em 2008. E promete ser um bom divisor de caminho na cobertura esportiva brasileira. Afinal, qual jornalista não se empolgará em poder entrevistar Ronaldo? Qual jornalista não começará a defender estratégias ousadas de marketing para o país repatriar jogadores de renome?
Que Ronaldo faça com que, em 2009, nossa imprensa esteja mais consciente com a presença do marketing esportivo, entendendo que ele é parte importante do esporte.
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O Scout que não explica o jogo
Uma das diversas coisas que me desperta interesse no futebol é o “scout” de jogo.
Ferramenta informativa, pode ser, dependendo como é construída, uma fiel explicação dos “porquês”, “como”, “quês”, “onde” e “quando” do jogo.
Tenho uma ligação profunda com estudos de scout. Entre trabalhos que escrevi, orientei e fui banca, são pelo menos 15. Então me sinto no direito de mais uma vez chamar a atenção para algo que ainda me incomoda.
Quando alguém faz um conjunto de exames que supostamente deveriam diagnosticar uma doença e esses não a acusam quando ela está presente, temos um grande problema.
Se um exame não consegue diagnosticar aquilo que se propõe, não serve para o diagnóstico. Se diversos exames apontam “saúde” em uma pessoa enferma, é porque o exame correto ainda não fora realizado.
O scout pode ser como um exame para explicar patologias já instaladas, mas também pode ser “check-up” preventivo antes da doença realmente aparecer (ou simplesmente um relato sem utilidade para explicações de causa-efeito por não se correlacionar com os fenômenos presentes no jogo – é o que na maioria esmagadora das vezes acontece).
Para ficar mais claro o que quero dizer exponho abaixo algumas das informações de um jogo que aconteceu recentemente. Selecionei algumas das informações do relatório de scout (mas acreditem todas elas levariam a mesma conclusão!).
Eis as equipes:
Os números do jogo:
Os números do jogo:
Quem ganhou o jogo?
Abaixo, alguns dados do jogo no campograma:
Eu poderia aqui “encher” a coluna de informações do relatório do jogo. Todas elas direcionariam nosso pensamento para o mesmo lugar.
Um dos “scoutistas” chegou até a dizer “como pôde, com esses resultados, a equipe “?” ter perdido o jogo”?
Exatamente caro amigo, como pôde?
E está aí a questão necessária que uma análise de jogo precisa responder (não coloquemos a responsabilidade disso na “sorte”).
Se nesse caso em especial, o objetivo do scout fora explicar o jogo, não conseguiu.
A equipe “B” venceu a partida. Os “exames” apontaram o contrário.
Então fazemos o que? Mudamos o scout ou o resultado do jogo?
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Caros amigos da Cidade do Fubebol,
O Tribunal Arbitral do Esporte divulgou recentemente a decisão do caso envolvendo o clube português FC Porto e o técnico holandês Jacobus Adriaanse.
Em 2005, o técnico deixou o clube durante antes do término de seu contrato de trabalho. De um lado o FC Porto ingressou com ação na FIFA para reclamar reparação dos danos sofridos. De outro, o técnico também entrou pleiteando o suposto pagamento de bônus que não teria sido efetuado a ele.
Em 2007, o Juíz Singular do Players´ Status Committee proferiu sua decisão, em que determinou que o técnico deveria pagar ao clube uma quantia equivalente a um milhão, cento e cinquenta mil euros pelo descumprimento unilateral do respectivo contrato de trabalho.
Há uma série de minúcias do caso, inclusive com relação ao também descumprimento contratual do auxiliar técnico, Olde Riekerink.
Importante destacarmos alguns elementos da decisão, que devem servir de base para balizar o comportamento de técnicos e auxiliares técnicos ao redor do mundo.
Em primeiro lugar, aplicação do regulations a técnicos.
Também é importante ressaltar que a decisão esclarece mais uma vez que o não pagamento salarial, por si só, não dá direito a rescisão contratual, antes de serem tomadas outras medidas visando o respectivo recebimento.
Além disso, o comportamento dos torcedores não pode ser evocado em uma demanda dessa natureza. Isto porque o técnico alega que, por conta de atos de vandalismo por parte de torcedores, ele teve danos em seu carro, e que portanto o clube não garantia a ele a segurança necessária para trabalhar. Esse argumento foi descartado pelo Tribunal no âmbito da discussão do rompimento contratual.
Uma última questão relevante é a discussão sobre a aplicação do Regulation on the Status and Transfer of Players da FIFA. Segundo o CAS, o documento é claro ao dizer que ele aplica-se aos jogadores, não a técnicos. Assim, discussões sobre o cálculo da indenização com base no respectivo Artigo 17 foram totalmente afastadas.
Assim, o CAS acabou por confirmar o entendimento do Juiz Singular da FIFA, condenando técnico aos efeitos da rescisão unilateral do contrato de trabalho. Entretando, entendeu por bem reduzir substancialmente o valor da indenização, que passou a ser de 995.238,00 euros.
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Não foi tão competitivo assim
Ao contrário daquilo que muita gente disse ao longo dessa semana, o Campeonato Brasileiro de 2008 não foi o mais competitivo da história.
Certo. Havia tempo um campeonato não ia para a rodada final com o título em jogo, mas isso jamais pode servir de parâmetro para a análise de todo o campeonato.
Subjetivamente falando, a competição final não foi tão grande assim. Na última rodada, apenas dois clubes lutavam pelo título. Havia duas vagas para a Libertadores e três clubes lutando por ela. Só um ficaria de fora. A Sul-Americana não conta. E, na briga contra o rebaixamento, havia quatro clubes para duas vagas. Dos vinte clubes participando da competição, apenas nove brigavam por alguma coisa na rodada final, isso porque o Campeonato Brasileiro tem a grande sacada de rebaixar quatro times. Fossem dois rebaixados apenas, como na maioria dos lugares, o cenário seria menos competitivo ainda.
Mas também não dá pra reclamar de boca cheia. Poderia ser pior. Poderíamos ter chego à rodada final com tudo definido. Mas o futebol brasileiro não é assim. Como os clubes são bastante nivelados, dificilmente isso irá acontecer.
Esse nivelamento pode ser comprovado matematicamente. Existe uma fórmula que pode ser utilizada para mensurar a competitividade real de um campeonato. Os idealizadores dessa fórmula são os pesquisadores do Sport Business Centre da London University. Ela não é nada mais do que uma ferramenta normalmente utilizada para se mensurar a competitividade de mercados aplicada ao futebol.
Basicamente, pela fórmula chamada de H-Index, somam-se todos os pontos conquistados no campeonato e redistribui-se um percentual para cada clube. Aplicam-se médias e compensações, e no final você consegue chegar a um número que serve como uma pontuação da competitividade. Quanto menor for esse número, melhor.
O Brasileirão de 2008, por exemplo, teve o ‘H-Index’ de 104,4. Se comparado com os resultados dos últimos campeonatos finalizados pelas 5 maiores Ligas européias, o Brasil se sobressai. O campeonato Espanhol teve 107 pontos, o Alemão 107,4, o Italiano 108,8, o Francês 105,9, e o Inglês, o menos competitivo de todos, 113,7. O Brasil tem o campeonato mais competitivo, de longe.
É bom ressaltar que essa fórmula entende por competitividade o equilíbrio de pontuação entre as equipes, estejam elas em zonas de classificação ou não. Dessa forma, o campeonato mais competitivo que existe é aquele que todos os competidores acabam com o mesmo número de pontos. A fórmula não contempla as nuances de quantas equipes estão disputando um número x de vagas. A fórmula é aplicada a todos os lugares da tabela, e não apenas àqueles que brigam por conquistas ou contra o rebaixamento.
É por isso que ela permite dizer que esse campeonato não foi o mais competitivo de todos. Ele foi, na verdade, o terceiro menos competitivo desde a época dos pontos corridos. O mais competitivo foi o de 2005, com 103,2 pontos. Depois dele, vem o de 2003, que o Cruzeiro conquistou com 13 pontos a mais que o Santos, com 104,1 pontos, e o de 2004, com 104,2 pontos. O menos competitivo foi o de 2006, com 105,2 pontos e depois o de 2007, com 104,8 pontos. Nota-se, portanto, uma certa tendência de diminuição de competitividade ao longo dos anos, o que é natural na indústria do futebol. Com o tempo, caso as coisas se racionalizem, alguns poucos clubes deverão dominar os campeonatos.
Sorte que os clubes brasileiros são imprevisíveis. Amanhã, os clubes grandes de hoje podem ser rebaixados. Melhor assim.
Ainda bem que somos desorganizados. A graça é bem maior.
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Atualização tecnológica: mão dupla
Olá caros amigos! Constantemente falamos da necessidade de atualização tecnológica por parte do profissional do esporte. É evidente que se ampliarmos o escopo desta premissa, veremos que é uma necessidade global, todas as pessoas dos mais diversos setores precisam se atualizar frente aos avanços tecnológicos.
A datilografia de antigamente, hoje é mais do que uma simples digitação, e lidar com um programa de editor de texto, uma planilha de cálculos, um aplicativo de desenvolvimento de slides, e cada vez mais detalhes são acrescidos aos mais diversos profissionais.
B
om, desta vez não criticarei a nós, profissionais do meio, classificando-nos como os grandes culpados por não procurarmos nossa atualização tecnológica. Mas pretendo mostrar como outros setores criam oportunidades e qual a linha diretriz que está por trás dessas ações. A Microsoft lançou no Brasil um programa denominado Dream Spark, programa de acesso gratuito a softwares destinado a estudantes de nível técnico e superior através de um convênio com o CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola). Dentre softwares de desenvolvimento e design foram criados também cursos e treinamentos online. Nunca podemos ao certo afirmar os interesses que norteiam tais ações, mas é possível fazer uma avaliação das tendências que regem hoje o mercado tecnológico. Para quem milita no meio o termo Open Source já tem há algum tempo um tom de familiaridade. Open source numa tradução simples significa Código Aberto. Conceitualmente (que me desculpem os especialistas pela simplicidade da definição) refere-se ao desenvolvimento de softwares livres de barreiras comerciais. Livre no sentido de permitir a cópia, uso e distribuição sem obrigações comerciais, compartilhando a propriedade intelectual com a sociedade. Nesse conceito surgem o que chamam de Comunidades Open Source, no qual interessados em desenvolver uma solução compartilham informações e através dessa troca de experiências desenvolvem e aperfeiçoam soluções em comum. Muitas empresas têm se utilizados desse expediente e até mesmo em compartilhamento com seus grandes concorrentes. Qual a loucura por trás disso? Imaginem uma empresa especialista em desenvolvimento de software abrir seus segredos de produção, e mais ajudar a desenvolver em ambiente aberto no qual o concorrente também compartilha de tais informações. Para entender a motivação por trás do Open Source podemos fazer uma analogia com a construção civil. Duas construtoras podem juntar seus esforços no desenvolvimento de alicerces eficientes e compartilhar-los com o mercado diminuindo os custos de produção e pesquisa. Com isso podem dedicar-se e investir no que realmente será o diferencial para o cliente, o design e acabamento. A evolução dos alicerces fica a cargo da comunidade que irá ao longo do tempo criar mecanismos para a sua construção baseados nos conceitos mais modernos e atualizados possíveis a um custo que foi diluído com a concorrência e com a própria comunidade. É nesta lógica que gostaríamos de refletir no ambiente do esporte. Por um lado a capacitação do profissional fornecida pela Microsoft, preza pela necessidade de ampliar seu mercado mas sobretudo de atualizar e capacitar profissionais que desenvolverão as futuras ferramentas. É uma forma de investir no ciclo de renovação de idéias e profissionais capacitados. Por outro lado temos o compartilhamento em prol de um bem comum. Ao abrir o desenvolvimento no mercado a empresa, naquilo que nós vemos risco ao permitir o concorrente usufruir de sua produção, enxerga uma maneira de envolver diferentes especialistas no tema em desenvolvimento, sem necessidade de ampliar sua alocação de recursos humanos. A aposta é mais uma vez no capital intelectual de quem faz a diferença com as informações ali compartilhadas. A atualização tecnológica depende muito do profissional, deve ser uma busca constante daquele que pretende se diferenciar no mercado, mas também devemos cobrar e alertar as entidades envolvidas, que elas precisam criar mecanismos de capacitação dos profissionais para lidar com os avanços que hoje a ciência e tecnologia trazem para o esporte. A questão que fica é: será que eles querem renovar e capacitar mais pessoas…?Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br
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Fé cega
Ontem, pela manhã, dei de cara com Arnaldo estrebuchando no salão da caverna, fora do lago onde mora. Estava roxo e se debatia como uma minhoca assustada. Corri e o joguei de volta na água. Por uns trinta segundos ele desapareceu no lago; confesso que temi por sua vida. Subitamente voltou à superfície, ofegante, lerdo ainda, mas animado; a cor voltara ao normal.
– O que aconteceu? – perguntei-lhe – Como foi parar fora da água?
Tive que lhe pedir que refreasse a sofreguidão, que se acalmasse um pouco, pois, dessa maneira eu não conseguia entender sua fala de bagre. Aos poucos, Arnaldo fez-se inteligível e pude entender: ele assistia ao noticiário noturno na televisão que fica num dos cantos do salão da caverna, quando, sobre a realização da Copa do Mundo de 2014, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol começa a falar. Interrompi-o:
– Mas você não enxerga Arnaldo, como pôde assistir ao Ricardo Teixeira pela televisão?
– Mas é como se eu enxergasse – redargüiu o bagre -Assim que ele começou a falar eu vi que era ele, sua voz inconfundível, aquela segurança de quem sabe aonde quer chegar, única no futebol brasileiro.
O fato é que Arnaldo entusiasmou-se além da conta com a entrevista. Lembrando minha conversa com o bagre, consigo visualizar a cena: o presidente da CBF falando e meu amigo torcendo-se no lago, erguendo metade do corpo fora da água, cabriolando e aplaudindo com suas nadadeiras. Enquanto cofiava o barbilhão, o troglóbio dizia de sua admiração pelo homem que, segundo ele, foi o responsável pela emancipação do futebol brasileiro e pela definitiva internacionalização de nossa arte de jogar o esporte bretão; inclusive, palavras do bagre, pela inclusão de um item fundamental nos créditos de nossa balança comercial: a exportação de craques. Centenas, milhares deles foram vendidos ao exterior, da Espanha ao Azerbaijão. Além disso, mais que espalhar a cultura brasileira por todo o mundo, obrigamos os brasileiros, se quiserem ver futebol de qualidade, a sintonizar a TV nos canais internacionais, incorporando, dos estrangeiros mais civilizados, a língua, os costumes, os consumos, e aquilo que Arnaldo chama sempre, referindo-se aos europeus mais evoluídos, de finesse.
Perguntei-lhe o que achava da realização da Copa do Mundo de Futebol no Brasil, em 2014, e o bagre me disse que achava o mesmo que o Sr. Ricardo Teixeira. Insisti e ele me respondeu, um tanto ofendido, que, se o presidente da CBF achava que era bom para o Brasil, ele assinava embaixo.
– Será o maior acontecimento da década, senão do século – proclamou Arnaldo.
– Mas você acredita na lisura dos procedimentos, na transparência das licitações? – perguntei, ao mesmo tempo argumentando em sentido contrário ao do bagre.
– Os fins justificam os meios – ele disse.
E creio que, com isso, Arnaldo pretendia encerrar o diálogo, pois que o incomodava profundamente a saraivada de críticas ácidas esgrimidas diariamente pela mídia mal esclarecida do esporte brasileiro. Acredita o bagre que a perseguição feita pela mídia contra homens do quilate do presidente da CBF, um verdadeiro brasileiro, é absolutamente vergonhosa. Um desses hereges da imprensa brasileira, dizia-me Arnaldo, vocifera diariamente em seu pasquim eletrônico, que toma chá de cadeira esperando a queda do Ricardo Teixeira.
– Ora – indignou-se o peixe – Ricardo Teixeira!!!, como se ele tivesse intimidade para chamar dessa maneira uma das figuras mais respeitáveis da cena nacional. Ah, e tem aqueles que contestaram a escolha da filha do presidente para integrar o comitê organizador da Copa do Mundo. Afinal, é claro que a filha, o filho ou a esposa são muito mais confiáveis que qualquer outra pessoa desligada de parentesco. E ficamos aqui no Brasil com essa história do judiciário proibir a contratação de parentes em cargos públicos. Se a gente não puder mais confiar nossos serviços aos parentes, a quem mais os confiaríamos. E além do mais, a CBF não é um órgão do governo. A solidez de uma sociedade prende-se, acima de tudo, aos laços familiares. A família deve transcender o teto da casa onde moram pai, mãe, irmãos, e estender seus braços ao trabalho, à política, quiçá à religião. Padres devem casar, seus filhos devem ser os coroinhas, seus cunhados os sacristãos, suas mulheres as confessoras. O que o nosso querido presidente da CBF faz não é outra coisa que dar o exemplo, que demonstrar ser tão importante o cargo que ocupa que não o dividiria com quem não seja seu parente, e próximo.
Ainda pensei em mencionar as suspeitas de lavagem de dinheiro e a história de Liechtenstein, mas o bagre estava ficando novamente roxo. Infelizmente não me segurei e falei dos contratos com a Nike. Arrependi-me. Arnaldo passou de vermelho a roxo, torceu-se todo, espumou, deu um salto e caiu uns três metros fora do lago, e dessa vez, mesmo que o tenha jogado imediatamente de volta à água, ele não voltava a si. Percebi seu corpo inerte rolando no fundo do poço, apanhei-o com um puçá remendado que eu guardava de antigas pescarias de siri e o levei para meu tanque de lavar roupas. Arnaldo só voltou a si com respiração boca a boca. Presenteei-o com uma camisinha da CBF e uma foto do presidente Ricardo Teixeira sorrindo, e ele voltou, amuado mas feliz, para o poço que habita e de onde me faz companhia em minhas frias noites de inverno neste fundo de caverna para onde me retirei, cansado dos nepotismos e lavagens de dinheiro desse mundo de meu deus que é o nosso grande Brasil.
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Sem chute
O Campeonato Brasileiro por pontos corridos é implacável e, cada vez mais, permite que se defina o time campeão sem precisar de tanto exercício de futurologia assim. O tricampeonato seguido do São Paulo, o sexto título tricolor da história, é perfeitamente racional e reforça a importância da continuidade no trabalho.
Há três anos que a comissão técnica do São Paulo é a mesma. Há três meses, sequer os treinadores de Ipatinga, Vasco e Figueirense eram aqueles que, no último domingo, disputaram a rodada derradeira do Brasileirão-2008. O que dirá da comissão técnica!
Até agora, parece que apenas o São Paulo entendeu que, para ter bom desempenho na era dos pontos corridos, é preciso ter o mínimo de seguimento ao trabalho. Num torneio em que o importante é ter constância, em que os erros devem ser minimizados pelo trabalho de longo prazo, trocar de treinador é o primeiro dos deslizes que se comete.
No início da competição, em maio, dois times eram apontados como francos favoritos à conquista: Palmeiras e Internacional. A vitória poderia ser justificada pela pujança do elenco das duas equipes. O Inter, aliás, se reforçou com D’Alessandro e Daniel Carvalho no meio do caminho, ficando ainda mais forte. Mas por que não ganharam?
O Inter trocou Abel Braga por Tite no andar da carruagem. O Palmeiras, a pedido de Vanderlei Luxemburgo, foi desmantelando a base montada por Caio Junior no ano anterior e criando um time à imagem e semelhança (cada vez mais disformes) do seu comandante. O resultado foi óbvio. Os times se perderam ao longo da competição, apesar de os gaúchos terem se encontrado na disputa da Copa Sul-Americana (com toda a imprevisibilidade do mata-mata).
Ao mesmo tempo, São Paulo e Grêmio mantiveram a linha de trabalho. Os tricolores não fizeram grandes mudanças, reforçaram os elencos que tinham em algumas posições, seguiram a linha de trabalho que já vinha sendo traçada.
Não à toa, no último domingo foram os dois que duelaram pela conquista da taça. E também não foi coincidência, sorte ou qualquer coisa do gênero o título continuar no estádio do Morumbi. Muricy Ramalho e companhia conhecem há três anos o grupo que lá está. Não precisam tirar coelhos da cartola para buscarem um resultado, basta seguir o trabalho.
No ano que vem, de partida já se pode dizer que o São Paulo é favorito ao título. Os outros candidatos à conquista nós teremos de esperar um pouco para dizer: não duvidem do Corinthians (que manteve Mano e a base construída no calvário de 2008). Ou do Inter (agora com Tite assegurado e o grupo mantido). Mas Palmeiras, Flamengo, Cruzeiro e Grêmio, para fazerem parte da lista, terão de fazer o básico neste ano que se encerra. Continuar o trabalho que teve início em 2008.
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