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Sobre o Engenhão

Lembra que eu disse que o Macri iria ganhar a eleição pra prefeito de Buenos Aires? Pois é, ganhou. Um pouco mais de 60%. Barbada pura.
 
Lembra que eu disse que o Sheffield United iria por fogo na Premier League por achar que era o West Ham quem devia ser rebaixado no seu lugar? Não lembra? Pois é, eu disse. Aparentemente, porém, isso não vai acontecer. Quer dizer, os caras lá já definiram que o Sheffield tem que jogar a segundona, apesar de concordarem que o West Ham devia ter perdido pontos, mas agora a coisa pode ser levada para a Justiça Civil. Tapetão no melhor estilo brasileiro. O que não faz um punhado de milhões de libras esterlinas, não? Não está com cara de que vai acabar bem. Que nem o Engenhão.
 
Aliás, o Engenhão é um caso interessantíssimo de análise para prever como será o processo de reestruturação dos estádios brasileiros. É o mais moderno estádio do Brasil, visto que foi inaugurado semana passada, mas nem por isso, porém, ele tem cara de que foi uma coisa bem feita.
 
Um estádio de futebol, hoje, precisa seguir obrigatoriamente dois lemas: conforto e conveniência. O Engenhão pode até ser confortável, confesso que não sei, mas certamente não é conveniente. Não moro no Rio de Janeiro, tampouco sou um profundo conhecedor da geografia da cidade, mas sei que o estádio tem pouquíssimo estacionamento, que a estrutura viária dos arredores é precária e que o trajeto de trem é um tanto quanto espremido. Nada conveniente, portanto, principalmente se você levar em conta que esses percalços são somados a um certo sentimento de insegurança que toma conta de qualquer cidade brasileira. Muito menos conveniente.
 
Sem atender a esses dois requisitos básicos, não tem como um estádio se desenvolver comercialmente. Nesse cenário, outras questões mais pontuais como distância do público do gramado, pista de atletismo no contorno e eventuais dificuldades para captação de um patrocínio baseado nos naming rights devido ao estádio já ter um nome bastante popular acabam tendo pouca influência.

Caso um estádio não cumpra com essas premissas básicas, é certo que a maior parte do seu público em potencial vai achar melhor ficar em casa, assistindo ao jogo no sofá, comendo amendoim com procedência assegurada, tomando alguma coisa identificável e podendo estar na cama 15 minutos depois do apito final.

 
É muito mais confortável. É muito mais conveniente.

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As competências de um treinador de futebol

A profissão de treinador de futebol, pelo seu destaque e importância não só no cenário esportivo, como também social, deveria exigir mais do que a maioria de seus representantes é capaz de demonstrar na prática.
 
Um bom profissional, para poder comandar competentemente um grupo de atletas e levá-los às vitórias e conquistas precisaria reunir algumas competências básicas.
 
Um treinador necessita, antes de qualquer coisa, conhecer mais do que todos os outros, as táticas de jogo a serem adotadas para a sua equipe, bem como saber como neutralizar as equipes adversárias. Para isso precisa estar antenado com tudo que ocorre a este respeito ao seu redor e no mundo do futebol de forma geral.
 
Ele tem que ter visão estratégica para além daquilo que acontece dentro de campo e saber planejar cuidadosamente seu trabalho, organizar palestras, atividades e observar tudo que possa interferir direta ou indiretamente na performance de seus atletas, de sua equipe e de seus adversários.
 
O treinador precisa conhecer não apenas as técnicas que favoreçam a aplicação de metodologias modernas e avançadas, como também necessita uma sólida visão de conjunto que permita através de diferentes ciências, e em especial as ciências humanas, interagir adequadamente com o ser humano que está por trás de cada atleta.
 
Um bom profissional, para ser completo, não pode prescindir de princípios éticos que balizem suas ações e coloquem limites na busca de resultados.
 
Mas a mais básica das competências de um treinador parece ser a liderança. Seja ela mais autocrática ou mais democrática, o fato é que sem comando para alimentar permanentemente uma visão de futuro que leve os atletas a buscarem metas cada vez mais exigentes, todas as outras qualidades correm o risco de serem anuladas ou ficarem em um segundo plano.
 
Treinador, portanto, deveria ser sinônimo de liderança.

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O media trainning no futebol

Uma das mais efetivas ferramentas de trabalho das assessorias de imprensa é o media trainning. Ou, traduzindo para o bom português, o treinamento de mídia. Invariavelmente as grandes empresas de assessoria fazem, com seus clientes, trabalhos para treinar o porta-voz da empresa a dar entrevista.
 
Seja para TV, rádio, jornal, internet ou revista, o executivo de uma grande empresa deve sempre estar preparado num dos momentos mais importantes da divulgação de seu trabalho, que é aquele em que vai se relacionar com a imprensa.
 
No futebol, o conceito de media trainning parece não combinar com o trabalho dos assessores de imprensa dos clubes. Quase sempre vemos atletas e dirigentes totalmente abandonados quando têm de se relacionar com a imprensa.
 
Um caso emblemático dessa situação foi a “gafe” cometida por José Cyrillo Jr., vice-presidente do Palmeiras, que simplesmente deixou escapar uma frase dando a entender que o jogador Richarlyson, do São Paulo, seja homossexual.
 
Por mais que o dirigente brincasse com isso fora do ar (como mais da metade do meio do futebol o faz), nunca ele poderia, como representante de um dos cinco clubes com maior torcida do país, dar tal declaração. Ainda mais num programa de televisão.
 
A falha de Cyrillo é da mesma linha de inúmeras que permeiam o meio do futebol desde que Charles Miller aportou da Inglaterra rumo ao Brasil com as bolas de couro na bagagem. Por mais que o futebol tenha se profissionalizado, os profissionais da bola, invariavelmente, tornam-se folclóricos personagens quando existe um microfone ligado.
 
Não tenho conhecimento de nenhum clube de futebol que tenha convidado um jornalista para dar uma palestra a atletas, dirigentes e comissão técnica para expor como é o dia-a-dia da imprensa. Mais do que isso, nunca soube de um jornalista que vá ensinar aos futebolistas como se comportar no sempre duro relacionamento com a imprensa.
 
Em compensação, no meio empresarial, a adoção de um treinamento na relação com os jornalistas é parte do cotidiano dos executivos de uma corporação. E olha que nenhuma empresa, no mundo, consegue ter tantos consumidores fiéis como um único time de futebol.

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Uma questão de matemática

Seja para descreverem quantitativamente ações do jogo, seja para comporem a fotografia da disposição numérica dos jogadores em campo (3-5-2, 4-4-2, 4-5-1, 4-3-3, etc); os números estão presentes e intimamente ligados a complexidade do jogo de futebol.
 
Não tão simples como equacionar 2+2, é possível que tenha passado despercebido por torcedores, cronistas e porque não técnicos o fato de que no jogo de futebol, muitas situações conferem a matemática chave inicial para reflexão e entendimento de estratégias funcionais ao próprio jogo.
 
É mais do que comum (talvez, “comumomidade” = comum + comodidade) observar em partidas de futebol que mesmo quando uma equipe ataca, deixa em sua defesa um jogador a mais do que o número de atacantes do adversário. Então se os dois atacantes da equipe “A” não voltam para ajudar sua defesa no campo de defesa, acabam, mesmo assim, colaborando com o sistema defensivo de sua equipe, pois “prendem” com eles três jogadores da equipe “B” que não participam efetivamente das jogadas de ataque.
 
Isso significa que uma equipe tende a atacar com um jogador a menos do que o adversário se defende, e uma equipe tende a se defender com um jogador a mais do que a equipe que ataca. Vejamos, nos escanteios defensivos, as equipes em geral mantém perto da linha de meio campo um, dois e por vezes três “atacantes” para movimentação de contra-ataques. Em contrapartida a equipe que está atacando no escanteio mantém dois, três ou quatro defensores para inibir a movimentação de um possível contra-ataque do adversário. Sempre um defensor a mais do que um atacante.
 
E por que as coisas são sempre assim?
 
Bem, a resposta mais comum é a premissa de que ao se ter um jogador “de sobra” (a mais) há uma garantia maior de que ao se perder a bola, ficam diminuídas as chances do adversário de armar um ataque contundente. Mas por que não, adotar uma premissa diferente?
 
Vejamos; se ao invés de partirmos do princípio de que devemos ter um jogador a mais na defesa, partíssemos da idéia de que ao manter igualdade numérica na defesa, teremos um jogador a mais participando efetivamente das ações de ataque, e que com um homem a mais o jogador de posse da bola terá uma alternativa a mais de passe (o que diminuirá as chances de que a equipe perca a bola e aumentará as chances de um ataque melhor construído).
 
Chamemos o primeiro princípio que enunciei de premissa “A”. Chamemos a segunda idéia de premissa “B”.
 
Vamos supor que uma equipe “A” constitua uma de suas lógicas de jogo através da premissa “A”, e que uma equipe “B” constitua uma de suas lógicas de jogo através de premissa “B”. A equipe B quando se defende, mantém dois jogadores posicionados de forma ofensiva. A equipe A, de acordo com sua premissa, manterá então três jogadores na sua defesa para marcá-los. Isso faz com que a equipe “A” ataque com sete jogadores e a equipe “B” se defenda com 8.
 
Fazendo valer sua premissa, a equipe “B” resolve aumentar de dois para três jogadores posicionados de forma ofensiva quando esta se defendendo. A equipe “A” de acordo com a sua premissa recua mais um jogador para a defesa quando está atacando. Isso faz com que a equipe “A” ataque com seis jogadores e a equipe “B” se defenda com sete. E se “B” resolvesse aumentar de três para quatro os jogadores ofensivos quando estiver se defendendo, o que aconteceria?
 
O que está em questão não é apenas um jogo de números que definirão uma parte da estratégia de jogo, mas o fato de que partindo da premissa “A” são diminuídos os jogadores de ataque para aumentar o número de jogadores na defesa. Partindo da premissa “B” aumenta-se o número de jogadores de ataque para aumentar o número de jogadores na defesa.
 
Muda-se a premissa, altera-se a estrutura. Altera-se a estrutura, muda-se a postura tática da equipe.
 
Pois bem, quando uma equipe está precisando fazer gols, muitas vezes o que acontece é a mudança de premissa. Muda-se da premissa “A” para a “B” (mas uma equipe não está sempre precisando fazer gols?).
 
Por vezes ocorre também uma mudança de lógica. Ao precisar emergencialmente de mudar um placar desfavorável as equipes acabam por abandonar a idéia da necessidade da vantagem numérica a favor da defesa quando estão atacando (deixando sua defesa jogando no 1X1, no 2X2, enfim no mano a mano caso sofram um contra-ataque). O futebol é um jogo em que a defesa prevalece ao ataque (diferente, por exemplo, do basquete, em que a grande maioria dos ataques se converte em pontos). Então parece mais um paradigma a ser quebrado do que uma verdade o fato de que “seria um risco irresponsável jogar sob a lógica de deixar a defesa em igualdade numérica quando a própria equipe está atacando”.
 
Na verdade nessa perspectiva a premissa deveria ser a de que há um jogador a mais participando da construção das jogadas ofensivas, e que a partir daí se houver a perda da posse de bola dever-se-ia buscar uma lógica norteadora que evitasse o contra-ataque (que não seja a necessidade da vantagem numérica dos jogadores de defesa).
 
Quando se está atacando, também se está defendendo. Quando se está defendendo também se está atacando.
 

A sua defesa determina o seu ataque ou o seu ataque determina a sua defesa? Qual a sua premissa? Qual o seu paradigma?…

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Sobre o Brasil e a Copa América

O Brasil não deveria jogar a Copa América. Não essa, pelo menos. Nem o Brasil, nem qualquer outro país, fora a Bolívia. A Copa América, nesses moldes, deveria ser um amistoso entre Venezuela e Bolívia. Talvez um gol a gol entre Chávez e Morales, com Rafael Correa esperando do lado de uma das traves.
 
A Copa América é uma piada. Virou uma quitanda de produtos populistas. Não foi feita para se jogar futebol, mas sim para propagar ideais defasados e incompatíveis com o mundo atual.
 
A começar pelo primeiro jogo, entre Venezuela e Bolívia, que – repito – poderia ser muito bem um gol a gol entre os respectivos presidentes. Ou uma disputa de embaixadinha. Alguma, qualquer, dúvida de que houve manipulação direta da tabela, e conseqüentemente da própria Copa em si, para servir a ideais populistas? É um absurdo que ninguém esteja falando nada.
 
Mais absurdo é que a Venezuela, Chávez, no caso, se auto proclame líder de um sistema político revolucionário que irá mudar o mundo, o tal do socialismo do século XXI, mas utilize práticas características de quase cinqüenta anos atrás. A Copa América de 2007 é muito semelhante à Copa do Mundo de 1978 na Argentina, e, porque não, à Copa de 50 no Brasil. É um evento bancado pelo Estado e, por conseqüência, serve como instrumento da propaganda estatal.
 
A Venezuela, sabe-se, não é um país muito adepto ao futebol. Tampouco tem lá muita tradição esportiva. Nem por isso deixou de construir novos e enormes estádios, na sua maioria ovais, seguindo ao padrão dos regimes militares. É a mesma coisa que aconteceu por aqui no século passado, e, se tudo der errado, vai ser a mesma coisa que vai acontecer por aqui em breve. É óbvio que os estádios vão ser subutilizados. É óbvio que é um desperdício de dinheiro. E é óbvio que os novos estádios servem para a mesma coisa que serviram o Maracanã, o Mineirão e o Monumental de Nuñez: para puro e simples populismo.
 
A Copa América pode até dar um certo início ao futebol na Venezuela, mas certamente vai condenar o esporte a anos, talvez décadas, de servidão ao interesse do Estado. Tal qual ocorreu por toda a América Latina, nos seus mais diferentes níveis. A Copa América serve, enfim, como um brinquedo bolivariano.
 
Um país como o Brasil, que dá sinais de tentativa de ingresso em mercados mais racionais e desprovidos de tanta influência política, jamais deveria consentir com um evento como esses, assim como não deveria consentir com tanta falta de atitude às bravatas e ações de Chávez.
 
Se bem que se for levar em conta que a idéia por lá é estrutura bancada pelo dinheiro público, tanque na rua pra garantir segurança e imagens de políticos aparecendo em todos os locais possíveis, não tem muito que o Brasil possa fazer. Afinal, antes de mexer na casa dos outros, é melhor arrumar a nossa própria.

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O que é velocidade no futebol?

Tanto um especialista, profissional do futebol, como o leigo ou um simples torcedor, sabem que a velocidade é hoje um componente fundamental para o sucesso nesta modalidade esportiva.
 
Entretanto é preciso entender o que, de fato, representa a velocidade numa partida de futebol.
 
José Mourinho, o inteligente treinador português que atualmente comanda o Chelsea da Inglaterra, nos dá o tom para entendermos este assunto sob outro ângulo.
 
Ele sugere imaginarmos o homem mais rápido do mundo, que faça 100 metros em menos de 10 segundos, jogando uma partida de futebol. Nenhum jogador de futebol profissional é capaz de igualar esta marca. Entretanto, num jogo, 11 contra 11, Mourinho acredita que o recordista de 100 metros seria lento, pois não saberia ler o jogo e tirar proveito de sua velocidade.
 
E explica, fazendo um contraponto e dando o exemplo do jogador Deco, brasileiro naturalizado português, que joga atualmente no famoso time catalão do Barcelona. 
 
Mourinho argumenta que se colocássemos o Deco numa corrida de 100 metros com homens do atletismo ele faria uma figura ridícula pela lentidão. No entanto, considera que num campo de futebol, trata-se de um jogador dos mais rápidos porque velocidade pura não tem nada a ver com a velocidade no futebol.
 
E complementa: a velocidade no futebol tem a ver com análise da situação de jogo, com as reações rápidas aos estímulos, como a correta posição no campo, a posição da bola, antecipar a ação e saber ou perceber o que o adversário vai fazer, entre outros detalhes.
 
Por isso conclui que trabalhar qualidades individuais, como a velocidade por exemplo, descontextualizadas da complexidade do jogo é, para ele, um grave erro.

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Honestidade e transparência

Denis Marques, Alecsandro, Rômulo, Alex Mineiro e, na última semana, Kleber. Esses cinco jogadores foram, ao longo deste ano, sondados e procurados pela diretoria do Palmeiras para que fossem jogar no clube paulista.
 
Como ficamos sabendo disso? Não foi necessário nenhum grande trabalho de apuração jornalística. Não foi nenhum empresário que alardeou encontros secretos com o objetivo de aumentar o valor do salário de seu atleta. Muito menos foi um clube que se sentiu lesado com a negociação que abriu o berreiro.
 
A própria diretoria do Palmeiras disse à imprensa que estava negociando com empresários e/ou clubes a contratação desses atletas. Sem dúvida foi louvável a atitude dos diretores alviverdes de não esconderem dos repórteres as negociações que estavam em curso. Mas nitidamente essa estratégia tem se mostrado um verdadeiro desastre.
 
Está mais do que claro que, no meio do futebol, você não pode ser 100% transparente no tratamento de dia-a-dia com a imprensa. Ainda mais num clube do tamanho do Palmeiras, com cerca de dez a 15 veículos cobrindo diariamente a equipe, a pressão e o massacre da mídia são constantes.
 
Ao ser totalmente transparente com os jornalistas, os diretores do Palmeiras abriram espaço para que outros clubes tivessem o interesse nos jogadores que estavam sendo anunciados. E, a partir disso, atravessaram o negócio e/ou tornaram-se concorrentes na busca do atleta.
 
Foi assim com Alecsandro (o Sporting, de Portugal, anunciou que não deixaria o atleta voltar ao país e contratou-o do Cruzeiro). Depois, com Denis Marques (o Atlético Paranaense disse publicamente que por menos de US$ 4 milhões o atleta não sairia). Na seqüência, Rômulo, do Cruzeiro, foi tido como bola da vez, e a bola murchou tão logo Dorival Junior disse que esperaria para ver se contaria ou não com o atleta.
 
Depois, foi Alex Mineiro, que entrou em leilão, vencido pelo mesmo Atlético de Denis Marques e que aumentou o quanto pagava ao atleta após o Palmeiras ajudar a despertar a vontade de Fluminense e Santos.
 
Mas o último caso, envolvendo Kleber, ex-Necaxa, mostra a total falta de preparo dos dirigentes alviverdes em lidar com a imprensa. O Palmeiras anunciou data e hora de uma reunião com o jogador, na qual apenas oficializaria o acordo apalavrado. Na segunda-feira passada, Kleber não apareceu. Na terça, descobriu-se que Vanderlei Luxemburgo havia lhe telefonado. No mesmo dia, o atacante Florentín abandonou o clube da capital por conta dos salários atrasados…
 
O resultado foi desastroso. Kleber fechou com o Santos, que atravessou o negócio depois de o Palmeiras afirmar publicamente que estava com o acordo apalavrado.
 
Em todos esses casos, ficou claro que ainda falta um norte, pelo menos no que tange ao relacionamento com a imprensa, para a nova direção palmeirense. Não podem os diretores do clube anunciarem seus passos estratégicos para a imprensa. É dar aos seus rivais, de presente, um tempo para pensar num contra-ataque.
 
A atitude da diretoria palmeirense seria, mais ou menos, como se uma multinacional anunciasse que iria adquirir uma empresa do mesmo ramo de atuação antes de o negócio ser sacramentado. Sem dúvida alguma haveria um atraso ou mesmo o cancelamento do acordo.
 
E é assim que tem trabalhado a nova diretoria alviverde. Sem um amparo profissional para o relacionamento com a imprensa. Sem estar preparada para trabalhar a imagem do clube. Sem saber que rumo tomar quando tem de falar com um jornalista.
 
É óbvio que o clube tem procurado mudar a cultura dos últimos 20 anos de relacionamento duro e difícil com os jornalistas. Mas não será dando a cara ao tapa que se mostrará uma nova atitude.
 
A não ser que nada tenha mudado, e até agora a diretoria apenas blefou, usando a imprensa para ficar bem com a torcida, mas blefando que estaria negociando uma nova contratação, enquanto tenta reequilibrar as contas do clube.
 
O certo é que ter honestidade não significa ter 100% de transparência no tratamento com os jornalistas. E isso, ao que parece, a diretoria palmeirense ainda não aprendeu.

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Imortalidade imprevisível

Escrevo depois da final da Copa Libertadores, que – como você bem sabe numa hora dessas – foi conquistada pelo Boca Juniors.
 
Nenhuma surpresa, aliás. Afinal, o Boca Juniors é sempre favorito a conquistar campeonatos sul-americanos, principalmente depois que Maurício Macri chegou à presidência do clube, em 1995. Macri, aliás, é uma figura interessantíssima. É possivelmente o maior presidente que o Boca Juniors já teve, e foi o grande responsável por tornar o clube, hoje, em uma das mais reconhecidas marcas da Argentina.
 
Em 2003, Macri se candidatou a Chefe de Governo da Cidade Autônoma de Buenos Aires. Ganhou no primeiro turno, perdeu no segundo. Acabou, no fim das contas, se elegendo deputado federal de Buenos Aires em 2005. Em 2007, saiu novamente candidato a Chefe de Governo. Por isso, dizem alguns, preocupou-se tanto em reforçar a equipe do Boca para a disputa da Libertadores. O sucesso no gramado seria essencial para o sucesso nas urnas. Muitos atribuem a estranha vinda de Riquelme para o time no começo do ano a uma manobra política de Macri para conseguir ainda mais popularidade. Aparentemente deu certo. No primeiro turno das eleições pra Chefe de Governo, Macri ficou com 45% dos votos. Ontem, o Boca foi campeão da Libertadores. A votação do segundo turno é neste sábado. Alguém tem alguma dúvida do resultado? Também não deve ser nenhuma surpresa.
 
Surpresa, porém, foi o Grêmio ter chegado à decisão da Copa Libertadores. Quer dizer, pra quem acompanha o futebol brasileiro regularmente, nem é tanta surpresa assim. Dizem que o time é bom e que o técnico também. Porém, é sempre bom lembrar que dois anos atrás o Grêmio estava disputando a segunda divisão do Campeonato Brasileiro.
 
O fato de o Grêmio ter conseguido ser promovido para a primeira divisão em um ano e no seguinte conseguir se classificar à Libertadores já é, por si só, um feito digno de nota. Seria um caso impensável em alguns outros mercados, mas é algo que vem se tornando corriqueiro no Brasil. Basta lembrar que o Palmeiras havia disputado a segunda divisão em 2003, mas nos dois anos seguintes terminou em quarto lugar da primeira divisão.
 
O Grêmio, porém, fez mais. Não só se classificou pra Libertadores como chegou à decisão do principal campeonato do continente, dois anos depois de estar na segunda divisão do campeonato nacional. Para se ter uma idéia de como isso soa estranho para os ouvidos de quem não está muito acostumado com a dinâmica do futebol sul-americano, seria mais ou menos a mesma coisa que o Treviso, time italiano que foi promovido para a primeira divisão na temporada de 2004/2005 da Itália, tivesse sido o campeão da Champions League desse ano, e não o Milan.
 
O feito do Grêmio é comparável ao feito do São Caetano, que quase foi o campeão continental em 2002. A diferença é que o São Caetano vinha de um campeonato brasileiro disputado com as finais em mata-mata, o que sempre favorece a imprevisibilidade, ainda que o time tenha acabado em primeiro na fase classificatória.
 
De qualquer maneira, são fenômenos não muito incomuns por aqui. A capacidade da América Latina de produzir elementos-surpresa em campeonatos é impressionante – Grêmio, São Caetano, Once Caldas, e assim por diante.
 
Os fatores que contribuem para esses fenômenos são diversos, e passam por contratos de curta duração, pouca responsabilidade fiscal, mercado voltado para exportação e todas essas outras coisas que você já deve bem saber. E isso tudo acaba criando uma aura de possibilidades em que boa parte dos clubes, independentemente da sua condição, acredite que tenha chance de vencer o campeonato.
 
Foi isso que permitiu ao Grêmio chegar à decisão e acreditar, novamente, em ser imortal, visto a remota possibilidade de vitória depois do primeiro jogo contra o Boca.
 
Imortal, também, será Daniel Filmus, se conseguir vencer o Macri na eleição de sábado. Mas aí o resultado é bem mais previsível.

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Futebol e meditação transcendental

Não sei se todos os leitores já ouviram falar em meditação transcendental. Embora essas duas palavras possam no levar a conclusões precipitadas sobre algo místico, esotérico ou de caráter religioso, a verdade é que se trata de uma técnica mental simples, natural, feita sem esforço durante 15 ou 20 minutos diariamente e muito fácil de aprender.
 
Seus efeitos sobre o corpo enquanto um sistema complexo, bioenergético e de relação com o mundo, com a natureza, com a sociedade e consigo mesmo são cientificamente comprovados.
 
Pesquisas realizadas no início da década de 70 já demonstravam que no estado de meditação ocorrem mudanças radicais no metabolismo e até nas ondas cerebrais. O interessante é que a experiência meditativa pode ser reproduzida e, portanto, seus resultados podem ser cientificamente mensurados.
 
Alguns estudiosos consideram a estado de consciência alcançado pelo exercício da meditação transcendental como um quarto estado de consciência. Os outros três são o estado desperto ou de vigília, o estado do sono e o estado do sonho profundo. Todos eles podem ser observados através de eletro encefalogramas, nos quais se percebe ondas cerebrais características e distintas.
 
Sonho em ver um dia essa técnica aplicada ao futebol. Phil Jackson, o famoso treinador do não menos famoso jogador de basquete Michel Jordan, já a adotava com seus atletas há pelo menos 10 anos.
 
Estudos sinalizam que muitas manifestações de criatividade e genialidade expressas na arte e no esporte são produzidas em estados de consciência semelhantes aos atingidos no estado meditativo. Vejo, portanto, para o bem do esporte, como muito promissoras as aproximações entre futebol e meditação transcendental.

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A proeza de Ceni

 

Um pedido de desculpas de Milly Lacombe. Assim poderia ter se encerrado o caso Rogério Ceni e Milly travado desde o ano passado, quando a jornalista foi incisiva demais num comentário e teve de bater-boca com o goleiro são-paulino no ar, em pleno Arena Sportv.
 
O caso tornou-se famoso no meio do futebol. Milly perdeu espaço dentro da Sportv. Rogério teve o direito de resposta que se espera. Mas o bafafá não parou por aí.
 
Na semana passada o desfecho do episódio foi noticiado em todos os veículos. Milly pediu desculpas publicamente por ter dito que Rogério havia forjado assinatura num documento com uma suposta proposta do Arsenal para tirá-lo do São Paulo ainda em 2001.
 
O tal documento misterioso foi matéria da Folha de S. Paulo naquele ano, mostrando que a tal proposta do Arsenal havia sido enviada, na verdade, de uma casa de venda de instrumentos musicais no bairro de Pinheiros. E, à época, a Folha foi além, mostrando que o dono da loja era amigo de Ceni, que por sua vez era inimigo do presidente são-paulino Paulo Amaral.
 
Milly esqueceu-se de lembrar esse pequeno caso quando da discussão pública com Rogério. No fim, ficou chato para ela. E Rogério, por ser “chato”, conseguiu ter os seus direitos preservados e, na semana passada, foi além. Obteve da jornalista a necessidade de pedir desculpas.
 
Mas Rogério não se contenta com uma simples vitória. Na Justiça, o jogador ainda cobra uma indenização por danos morais. O goleirão são-paulino quer mais de R$ 150 mil de Milly. Esse processo deve demorar mais um pouco para dar frutos, se é que de fato os dará.
 
Independentemente do que for decidido, a vitória de Rogério nos tribunais é, também, a vitória do jornalismo em geral. Sem dúvida que, depois do ocorrido, muitos jornalistas vão pensar duas vezes antes de falar qualquer coisa com o microfone como testemunha. As mesas-redondas estão cheias de irresponsabilidades. E parece cada vez mais claro que o público está cansado das mesas-redondas.
 
Ou o jornalismo na TV se reinventa, ou que todos passem a ser como Rogério Ceni, que de tão chato que é, fez com que a Justiça fosse cumprida. Mais do que as desculpas públicas do jornalista, Rogério conseguiu fazer o jornalista parar e pensar antes de falar.
 
Isso sim é uma proeza.

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