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As lições de Bernardinho ao futebol brasileiro

No último domingo a seleção brasileira de voleibol, comandada pelo brilhante Bernardinho, conquistou o hexacampeonato da Liga Mundial. Apesar do orgulho brasileiro pela conquista, fica uma pontinha de inveja daqueles que gostam mais do futebol do que do vôlei. Bem que este título poderia ter sido do futebol.
 
Mas a explicação do por que a nossa seleção não conquistou o hexacampeonato na Alemanha foi dada pelo próprio treinador Bernardinho muito antes da Copa ser realizada.
 
Em dezembro de 2005 no II Fórum Internacional de Futebol, realizado no Rio de Janeiro, o consagrado treinador de voleibol, convidado para falar aos treinadores de futebol, já dava as dicas de como se pode ganhar um hexa. 
 
Em sua palestra destacou que os resultados só podem ser conseguidos através de uma gestão competente das pessoas. Transformar um grupo de pessoas em um verdadeiro time exige sacrifícios individuais na busca de objetivos que sejam comuns a todos.
 
“Não é só o talento que leva ao sucesso. Se fosse assim por que o Brasil ficou entre 1970 e 1994 sem conquistar nenhum título mundial?”, colocou o treinador, referindo-se ao rendimento da seleção brasileira de futebol neste período de mais de 20 anos sem conquistas.
 
Um dos pontos altos da fala de Bernardinho, entretanto, foi quando comentou sobre as armadilhas que o sucesso pode acarretar em uma equipe como a do Brasil, ampla favorita para conquistar a última Copa do Mundo. E justificou dizendo que o sucesso do passado não garante o sucesso no futuro. “Vencer como favorito é muito mais difícil”, pois entre outras coisas pode causar a acomodação, neutralizando a capacidade de mobilização dos atletas.
 
Pregou ainda que o treinador eficaz tem que saber como tirar os jogadores de sua “zona de conforto”. Criar “zonas de desconforto” é fundamental para alavancar o trabalho na direção das superações que fortalecerão a equipe.
 
E finalizou dizendo que ser treinador é uma relação de parceria que revela e liberta o potencial das pessoas de forma a maximizar suas performances. O líder não é só aquele que comanda. É também aquele que estuda e se prepara constantemente. Além do mais, precisa ser capaz de estimular paixão, alimentar necessidades e até provocar inconformismo em seus atletas.
 
Sabemos que um jogo de futebol contém dinâmica, variáveis e características muito distintas do voleibol, mas qualquer treinador de futebol que busca competência deveria estar atento aos conselhos e exemplos dados pelo hexacampeão mundial Bernardinho.

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Quem não comunica…

Se Chacrinha estivesse vivo, sem dúvida nenhuma ele olharia para o Corinthians e teria a dizer uma de suas geniais frases: “Quem não comunica, se estrumbica”. Um dos maiores problemas hoje do Corinthians é a falta de comunicação que existe no clube. Ou, melhor, a falha de comunicação.
 
Imagine que você tenha uma empresa em que seus funcionários não tenham um bom relacionamento. Para piorar, existe uma crise no Conselho Administrativo. E, para deixar a situação caótica, o seu diretor mais gabaritado e importante resolve falar o que lhe vêm à cabeça, sem se preocupar com o impacto daquilo que transmite para a imprensa.
 
Pois é assim que está o Corinthians atualmente. Um time que vive um estado de entropia, pronto para explodir por pressões internas, pelo caos absoluto que impera dentro de sua casa. E qual o reflexo que isso tem para quem está do lado de fora?
 
Sem dúvida alguma a falha na comunicação do clube é o mais gritante ponto, e isso reflete o desempenho dentro de campo. Afinal, ainda não está claro quem é que manda no futebol do Corinthians. É o presidente Alberto Dualib? É o seu parceiro MSI? Ou é Emerson Leão?
 
Das três alternativas, pelo menos de uma podemos ter alguma certeza. Apesar de ser contratado a peso de ouro, de ter certa autonomia para a tomada de decisões e de ter um currículo invejável no futebol, Emerson Leão nada mais é do que um funcionário.
 
Funcionário que tem de dar expediente, que precisa prestar contas a um patrão, que não pode fazer o que lhe vem à cabeça.
 
A partir do momento que Leão passa a falar o que bem entende em sua casa, o castelo começa a desmoronar. Não existe uma hierarquia de comando e, principalmente, não existe uma preocupação por parte do treinador de se preservar e preservar a imagem do local de trabalho de Leão.
 
Assim como fez no São Paulo, quando havia barrado Luizão. No Palmeiras, quando tentou brecar Edmundo, Leão havia preparado o bote. O alvo: Carlitos Tevez. O motivo: qualquer um. Leão não soube ter tato para trabalhar a imprensa. Ou, melhor, não se preocupou com o impacto que a retirada da braçadeira de capitão de Tevez teria no orgulho do jogador.
 
Leão jogou fora um investimento de US$ 22 milhões da parceria Corinthians-MSI. O mercado europeu será fechado brevemente. E Tevez não tem mais clima para voltar ao clube paulista.
 
E onde estão Corinthians e MSI para gerenciar essa crise? Como convencer Carlitos a regressar ao seu time? Ao seu empregador?
 
Leão não soube dizer como fazer. E os dirigentes e a assessoria de imprensa do clube e do MSI sem dúvida estão preocupados com alguma outra coisa mais importante do que o time se estapear verbalmente pelos microfones de todo o pais.
 
Se houvesse um planejamento de comunicação, a crise já teria sido contornada. Ou, ainda, Leão teria se colocado no seu devido lugar: como o competente técnico que já mostrou ser.

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Fogueira das vaidades

Vivemos numa sociedade cuja cultura é dualista, dicotômica e maniqueísta. Neste cenário não conseguimos muitas vezes distinguir as nuances e gradações entre o bem e o mal, o belo e o feio, o certo e o errado, o adequado e o inadequado. Nossa lógica cartesiana não admite contradições, ou combinações de opostos. Ou algo é ou não é. Não existe meio termo.
 
Nesta linha de raciocínio, os recentes episódios ocorridos no Corinthians, protagonizados pelos responsáveis da empresa investidora, diretoria do clube, treinador e seus jogadores, nos remetem a algumas reflexões.
 
Necessitando de uma intervenção forte num ambiente minado por interesses divergentes e, principalmente, onde a vaidade sobrepôs aos objetivos comuns e convergentes de um clube de futebol, para superar os catastróficos resultados dentro de campo, a opção foi contratar um treinador com pulso firme o suficiente para botar a casa em ordem.
 
O paradoxo é que para conter as vaidades o clube escolheu alguém cuja característica maior não é a humildade. Ao contrário, o escolhido foi o polêmico e vaidoso Émerson Leão.
 
Entre posturas e intervenções assumidas pelo treinador em seu início de trabalho para conter o ímpeto egocêntrico de certas individualidades que compõem o elenco corintiano, Leão tomou uma atitude que pode fazer todo o sentido em um aspecto, mas que em outro se mostrou de eficácia, no mínimo, duvidosa.
 
Ao destituir Tevez do papel de capitão do time, fato absolutamente comum e corriqueiro no futebol, o treinador, entretanto, cometeu um equívoco ao justificar que estava retirando a tarja de capitão do craque argentino por que é difícil entender o que ele fala.
 
Um princípio básico da psicologia comportamental que qualquer comandante deve levar em conta para manter o respeito diante de seus atletas é o de jamais menosprezar ou diminuir em público qualquer de seus comandados e em especial aqueles que possuem certa liderança ou ascendência sobre os demais do grupo.
 
A não ser que a sua intenção fosse mesmo a de deliberadamente afastar Tevez do clube, o fato é que a atitude de Leão poderá dificultar em muito um trabalho que parecia promissor no curto prazo.

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A comunicação nos clubes de futebol

A bola para o debate foi levantada mais uma vez nas últimas semanas dentro da imprensa paulista. O repórter da rádio Bandeirantes, Eduardo Affonso, fez questão de agradecer no ar à assessoria de imprensa do Internacional o tratamento dispensado aos diversos veículos de comunicação nos dias que antecederam ao jogo Inter e São Paulo, que decidiu a Libertadores. Os colegas da imprensa paulista ficaram felizes em poder entrevistar “todo e qualquer jogador do Inter”, sem restrição de horário ou de atleta.
 
Aqui em São Paulo, virou regra o controle às entrevistas de jogadores. Acabou aquela história de que todos podem falar após o treino, ou então de que o repórter tem livre acesso ao jogador antes, durante e depois dos jogos. No Sul, a felicidade foi poder entrevistar desde Renan, goleiro reserva de Clemer, até Rafael Sobis, o astro da primeira final.
 
O discurso dos jornalistas, porém, é curioso. Reclama-se de que não se pode entrevistar todos os jogadores. O argumento é de que, assim, não se consegue preparar um material diferenciado do da concorrência. O argumento é até coerente. Sim, de fato é complicado ter poucas fontes para se falar. Ainda mais quando não é o jornalista quem escolhe o entrevistado, mas sim o entrevistado que é “disponibilizado” para ser a fonte.
 
Só que não é o jornalista quem mais bate na tecla de que os clubes têm de ser profissionais, assim como os atletas? Então não se pode criticar a restrição às entrevistas.
 
Em qualquer grande empresa, a comunicação é parte integrante e fundamental do plano estratégico de crescimento. Por que num time de futebol tem de ser diferente?
 
O conceito foi desenvolvido pelo Manchester United, no início dos anos 90, quando o francês Eric Cantona criava uma crise a cada hora. Na concepção do clube, o jogador, para ser bom dentro de campo e bom vendedor fora dele também, tem de adquirir o status de superstar.
 
E como fazer isso? Dando uma exposição qualificada a ele na imprensa. Foi a partir disso que o Manchester fechou os treinos de seu time e passou a permitir que no máximo dois jogadores e o treinador concedessem entrevista diariamente. No começo, sem dúvida, os britânicos chiaram da decisão. Depois, porém, a imprensa inglesa incorporou o espírito e passou a se desdobrar para trabalhar numa nova realidade.
 
No Brasil, vivemos o início desse processo, quase 15 anos depois. Agora, os treinos são restritos, o acesso livre da imprensa aos atletas é dificultado por diversos assessores. No começo, em São Paulo, as restrições geraram polêmica. Mas, depois de quase cinco anos nessa nova realidade, as coisas começam a se arrumar.
 
No esporte e, principalmente, num clube de futebol, a comunicação é peça-chave para o sucesso de um projeto. É preciso haver unidade na transmissão da informação. É preciso tomar cuidado para não cair nas armadilhas de uma divergência de entrevistas.
 
Para isso, é fundamental filtrar a maneira como o clube se comunica com a imprensa. É duro para o jornalista não ter a mesma liberdade de antes. Mas é muito menos dolorido para o clube saber quem está falando e quando está falando.
 
Que o digam Corinthians e MSI, díspares nos pensamentos e nas declarações à imprensa. Será que a crise no Parque São Jorge não poderia ter sido menor se a comunicação estivesse integrada e funcionando harmonicamente?

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A dança dos treinadores

A constante troca de treinadores no futebol brasileiro nos remete a uma reflexão crítica sobre o real papel deste profissional para o sucesso ou fracasso de uma equipe.
 
Os números são impressionantes. Tomando por base o Campeonato Brasileiro da série A verificamos que em 2003, 40 treinadores deixaram seus cargos em 46 rodadas, com 24 clubes disputando a competição. Em 2004 as baixas foram de 38. Já em 2005, com a diminuição do número de clubes para 22, em 42 rodadas, 34 treinadores foram substituídos durante o Campeonato. Neste ano em apenas 16 rodadas, 17 profissionais já saíram de seus postos.
 
E por que esta dança dos treinadores ocorre em um ritmo tão intenso no futebol nos dias atuais?
 
O treinador é aquele que deveria exercer o papel de líder junto ao seu grupo de atletas, conduzindo-os da melhor forma possível em busca de seus objetivos comuns, quase sempre na direção de vitórias e títulos. Esta é sua missão.
 
Hoje em dia ser líder é tarefa cada vez mais complexa e difícil de ser exercida em qualquer área de atuação.
 
No futebol praticado neste século 21 há dois fatores complicadores para que o treinador possa bem exercer suas funções e, em especial, sua liderança.
 
O primeiro fator é a própria complexidade do futebol atual em termos da exigência de conhecimentos específicos necessários ao bom rendimento. Não basta ao treinador ter noções gerais sobre estratégias e táticas sobre o futebol e de como sua equipe deve jogar. Ele precisa também saber interagir com inúmeras áreas e profissionais que, de forma crescente, dão suporte à performance desportiva, tais como preparadores físicos, médicos especialistas, fisioterapeutas, fisiologistas, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais entre outros.
 
O segundo fator, tão complexo quanto o primeiro, é a sua relação com os dirigentes, empresários, imprensa, torcidas organizadas, agentes e procuradores de jogadores. O treinador que não souber administrar esta relação terá muitas dificuldades para se manter no cargo. E pior ainda é quando vemos certa promiscuidade nas tentativas de interação entre as partes.
 
Portanto, no futuro, se quiser ter alguma garantia de permanecer por algum tempo no cargo e com condições de realizar honesta e eficazmente o seu trabalho, o treinador terá que lidar melhor com estas novas demandas que cercam as suas atividades.
 
Não obstante à postura inadequada de dirigentes e empresários predominante nos clubes, o fato é que sem compreender este cenário, os treinadores, com raras exceções, parecem cada vez mais despreparados para a função que exercem.

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A CBF e a coordenação técnica

O cargo de coordenador técnico existiu na CBF de 1992 até poucos dias atrás, quando foi sumariamente extinto. A nova “Era Dunga” que começa neste período pós-Copa do Mundo, dispensa a figura do chamado coordenador técnico. E imagino que, da forma como era exercido, não fará mesmo muita falta.
 
Embora o cargo tenha sido ocupado por profissionais com graus diferentes de experiência no futebol como Zagallo, Zico e Antonio Lopes, a função de coordenador técnico,como o próprio nome indica, nunca existiu. Os ocupantes deste cargo foram, na realidade, muito mais assessores ou conselheiros dos treinadores do que verdadeiramente coordenadores.
 
É lamentável que este cargo, que durou quase 15 anos na seleção brasileira, jamais tenha se tornado uma função.
 
Numa época em que as especializações exigem cada vez mais conhecimentos específicos mesclados com conhecimentos gerais, a figura de um verdadeiro coordenador técnico se impunha.
 
Entretanto, para exercer esta função, relativamente nova e complexa, o coordenador técnico deveria, tanto nos clubes como na seleção, possuir alguns conhecimentos e qualificações especiais. Deveria ter noções básicas a respeito de todas as áreas que coordena, sejam elas técnicas, de saúde, administrativas ou de serviços, sem que precisasse ser especialista em qualquer uma delas. 
 
Fundamental é que tivesse uma vivência futebolística sólida, se possível uma formação de nível superior, e, sobretudo, que acompanhasse permanentemente os avanços constantes das técnicas e ciências esportivas e administrativas. 
 
Além disso, seria indispensável que este profissional tivesse também liderança, capacidade de avaliar situações com ponderação e equilíbrio, objetividade, eficiência e eficácia no conjunto de suas ações e, finalmente (mas não menos importante), capacidade de comunicação e relacionamento.
 
Deveria, enfim, ser capaz de:
1) Planejar as atividades voltadas para o alto rendimento esportivo;
2) Controlar, de forma rigorosa, individual e coletiva, esse rendimento; e finalmente
3) Buscar a melhoria permanente e sustentável dos processos que conduzem ao alto rendimento esportivo.
 
Trata-se, portanto, de uma atividade complexa e difícil de ser exercida que requer conhecimentos, habilidades e atitude. É uma função, na forma como a entendemos, tão importante que sua escolha deveria anteceder a do próprio treinador e estar respaldada por um projeto para o futebol brasileiro. Nestas condições de organização seria o coordenador técnico que escolheria o treinador e não o contrário.
 

Infelizmente ao longo de mais de uma década a CBF não conseguiu transformar o cargo em função. Pelo contrário, descaracterizou-a. A solução que encontrou foi extingui-la.

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