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A venda do Liverpool

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Novamente nos deparamos com rumores sobre a venda e compra de clubes de futebol na Inglaterra. Desta vez (e mais uma vez), envolvendo o tradicionalíssimo Liverpool.

Sempre batemos na tecla que clubes de futebol são hoje núcleos de negócios assim como tantas outras empresas dos mais diversos ramos de atividade. Mas também defendemos que o futebol está inserido no ambiente da especificidade do esporte, o que faz com que transações nesse meio sejam feitas com a observância de determinados critérios atribuídos exclusivamente ao esporte.

Os clubes do mundo moderno (e em especial na Inglaterra, onde investimentos estrangeiros são controlados, porém permitidos), notícias do mercado de fusões e aquisições são uma constante.

A Europa, em especial, vive um momento de disputa entre os países em que o investimento estrangeiro é limitado (liderados por França e Alemanha) e os países em que o investimento é “liberado” (liderado pela Inglaterra).

As ligas nacionais são verdadeiras competidoras. Se por um lado injeta-se muito dinheiro estrangeiro nos clubes ingleses, na França joga-se basicamente com jogadores (e recursos) nacionais. Essa diferença faz com que determinados países tenham suas ligas valorizadas na venda de direitos televisivos, por exemplo, em detrimento de outras, menos atrativas.

Essa disputa reflete também no desempenho de seus principais clubes nas ligas européias. Basta comparar a performance de clubes ingleses com clubes franceses.

Evidentemente que a Liga Francesa, seus clubes, e até autoridades públicas, não gostam nada disso. Dizem que na Inglaterra é lícita a prática do “financial doping” nos clubes, promovendo uma concorrência desleal no mercado europeu.

É nessa medida que a UEFA (liderada pelo Francês Michel Platini), estuda, há anos, a introdução de regras de controle financeiro nas ligas européias e de seus clubes, para viabilizar uma melhor competição entre um número maior de clubes, aumentando, por conseguinte, a incerteza dos resultados (principal chamariz de interesse público no esporte).

Pelos lados da rainha, essa notícia não é bem aceita, daí a resistência em se aplicar de uma vez a regra do controle financeiro a nível continental. Também pudera. As cifras introduzidas naquela nação não são nada diminutas.

Mas os efeitos colaterais em transações dessa natureza também existem. Relembrando o assunto da especificidade do esporte, é preciso considerar diversas variáveis inexistentes em outros mercados. Dentre elas, a torcida. E no caso do Liverpool, ela pesa bastante e influencia, sem sombra de dúvidas, o avanço ou não da venda do clube. Vamos acompanhar o desenrolar dos fatos…

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br 

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Gestão de crises

É interessante como a solução recorrente nos clubes de futebol do Brasil, quando atingidos por alguma crise que se torna pública, colocam a culpa nas pessoas, demitindo-as ou as afastando dos trabalhos regulares. Seria essa a melhor alternativa para resolver todos os seus problemas?

Importa considerar que ainda impera em alguns clubes uma mentalidade um pouco “canibal”, em que determinados grupos internos tentam derrubar os que estão no poder, causando zonas frequentes de instabilidade, impedindo uma comunicação eficaz a partir de uma ação mais planejada para se gerir uma crise.

Casos como o do Flamengo diante de seu maior ídolo, Zico, que tomam rumos de uma catástrofe meteórica em poucos dias, mostra o quão despreparada é a gestão do clube em momentos negativos. Por isso, questiono:

1) Há um Código de Ética distribuído para todos os funcionários para mostrar como devem se comportar em relação à imagem e à marca da entidade?

2) Como deve ser o comportamento de um gerente de futebol (por exemplo) perante o ambiente externo e o mercado?

3) Isto está previsto na análise e descrição de cargos, no departamento de recursos humanos? Qual o perfil desejado? Como é o processo de recrutamento e preparação das pessoas que ocupam determinados cargos gerenciais?

4) O que fazer quando ocorre um determinado problema? Existe uma comissão que pensa estrategicamente nisso?

Todos esses questionamentos e devaneios fazem parte de uma reflexão maior, procurando entender se a solução de crises não estaria no modelo de gestão ao invés de estar nas pessoas. A opção de manipular os recursos humanos pode não ser tão eficaz quanto analisar, entender e preparar todos os processos internos de gerenciamento da organização afim de se evitar situações desconfortáveis para a imagem institucional do clube.

Impressiona como muitos clubes, em plena era da informação e do conhecimento, não têm o maior cuidado em preservar a imagem do presente e de suas mais belas histórias. Não preparam uma base de suporte para que a gestão seja bem sucedida no médio e longo prazo, dando sustentabilidade para os resultados esportivos, com um pensamento uniforme. Lamentável que as pessoas, de um modo geral e de maneira míope, enxergam apenas as quatro linhas do campo de jogo.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br  

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Neymar x Shrek

Falar sobre o caso Neymar pode ser oportunista e ao mesmo tempo atual, uma vez que com o movimento cíclico do futebol é bem possível que essa análise em futuros momentos possa ser considerada atual e pertinente, mudando-se os nomes e datas envolvidas.

Mas gostaria de fugir um pouco da polêmica superficial que tomou conta do nosso país nas mesas dos bares, nas bancas de jornais e nos hipertextos pelo mundo a fora.

Renê Simões, técnico renomado, e o qual tenho profunda admiração fez o alerta: “estamos criando um monstro”. Conheço o professor Renê e sei que não é de sua índole criar fatos para se promover, afinal nunca foi de seu feitio essa atitude. Eis o primeiro ponto que acredito que deva ser considerado.

Para uma pessoa do caráter e confiabilidade igual à de Renê Simões se manifestar desta forma com certeza as ações de Neymar merecem ser repensadas.

O clube e comissão técnica puniram o atleta. Ele pediu desculpas públicas e depois toda a repercussão ocorreu e desencadeou os fatos vistos que culminaram na demissão do técnico Dorival Junior, com inúmeros julgamentos favoráveis ou contrários ao jogador Neymar, sem que o mesmo tenha se quer se manifestado nesse meio tempo. Ou seja, crucificou-se ou defendeu-se o atleta através de ações e decisões alheias. Tudo bem que foram decorrentes de uma ação equivocada e passível de punição, como foi feito, porém até que ponto Neymar foi decisivo nisso ou até que ponto foi apenas pretexto.

A história é repleta e não nos cabe aqui detalhar mais do que já foi feito nesses últimos dias.

O que gostaria de fazer aqui é um gancho para que possamos compreender esse processo de mitificação que tem ocorrido no futebol brasileiro e em especial no caso do garoto Neymar.

Ao lançar o garoto ao status de ídolo beirando o mito, a imprensa e todo o campus que envolve o universo do esporte (utilizando o conceito de campus de Pierre Bourdieu) confunde as expectativas com o comportamento. O modelo do bom menino com habilidades extraordinárias cria-se no imaginário popular, porém é justamente a irreverência do menino Neymar, que o aproxima do status de ídolo. Isto porque transmite aquilo que os grandes heróis são experts em transmitir: uma displicência para com tudo aquilo que consegue desempenhar. Faz parecer fácil.

E com todos os pré-requisitos para herói, apresenta suas fraquezas, ou melhor, a sua criptonita, seu ponto fraco. Caillois (1980) falando sobre o surgimento do mito, comenta sobre a necessidade do rito, do ambiente atmosférico que faz com que o mito seja enraizado e no qual seus atos extrapolam , constituem num excesso permitido, que é o que caracteriza o herói. As extrapolias de Neymar acabam por criar esse ambiente atmosférico
É importante que possamos nesse momento fugir um pouco desse encantamento futebol e ídolo que faz parte do ambiente esportivo e foquemos por um instante a idade do atleta. Final da adolescência.

Não podemos padronizar nem generalizar muita coisa sobre o ser humano é verdade, afinal somos únicos e diferentes em nossas perspectivas, porém permito-me recorrer a estudos desenvolvimentistas clássicos sobre o comportamento humano, lembrando de Gallahue (2001) cuja definição para o período da adolescência é a caracterização de um período de transição entre a infância e a vida adulta, recheada por intensas modificações físicas, psicológicas e sociais.

Dentre essas alterações é normal que o individuo passe por instabilidades em relação as suas próprias habilidades, seja pela falta ou mesmo excesso dela, dificuldade de lidar com criticas, pressão e sobretudo com o receio de ter ou não feito a coisa certa. A tomada de decisão no fim da adolescência é algo que mexe muito com uma pessoa, afinal chega um momento no qual a responsabilidade pelas decisões tomadas começam a pesar cada vez mais.

Neymar com 13 anos tinha contrato profissional. Até jogar de fato pela equipe adulta tinha um salário que é maior que muitos executivos de multinacionais atingem perto de seus 40 anos, e agora com 18 anos tem valores não confirmados que beiram inacreditáveis 500 mil reais.

Não bastassem os problemas característicos da idade, existe uma série de variantes que intensificam a pressão sobre o menino, e o status de ídolo traz consigo o paradoxo de se tornar cada vez mais forte a cada fracasso (que traz o herói para próximo do ser humano), mas com a cobrança e expectativa de que aja como um lorde ou cavalheiro inglês, um gentleman.

O personagem Shrek da trilogia de sucesso produzido pela Dreamwork é um personagem que chega ao status de herói contra todo um estereótipo que se prega para o mesmo. A estética, graça, beleza e habilidades que faltam em Shrek são minimizadas para que seu carisma e poder de superação possa transformá-lo num herói, mas que também apresenta suas fraquezas e deslizes, como por exemplo, no último filme da trilogia.

Talvez o caminho de Neymar seja o de Shrek: de transformar-se, ou melhor, de ser transformado em herói ou anti-heroi por caminhos diferentes dos habituais, muitas vezes sem uma manifestação clara de sua habilidade. Afinal, sem jogar ele foi lançado ao status de marco para o futebol brasileiro ao recusar uma proposta milionária do futebol inglês, e agora alçado ao posto de monstro por má conduta no relacionamento perante aos companheiros e comissão técnica. Tudo toma dimensões desproporcionais.

Que os campus que circundam o futebol possam compreender por um lado as características de um jovem de 18 anos que passa por uma fase que não é estável , não é definitiva, mas com certeza é transitória, e por outro que o menino realmente possa se transformar no monstro.

Neymar, o monstro?… que seja igual Shrek e divirta multidões.

Essa coluna foi publicada originalmente no site Ludopédio em 29/09/2010 e foi autorizado pelo autor para uso no site Universidade do Futebol.

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Paixão na caverna

Arnaldo, o bagre cego, emagrecia a olhos vistos. Pairava na superfície do lago como a contar estrelas, que nunca viu. Oto, o morcego, já não aparecia para conversar comigo. Voava a esmo e deixava escapar até as mariposas mais lentas e suculentas.

– É paixão – disse-me Aurora numa madrugada de insônia. Eu não podia acreditar em tamanho disparate; Oto, o morcego mensageiro, ainda vá lá, voava por aí e volta e meia topava com lindas morceguinhas na flor da idade. Mas Arnaldo, como poderia estar apaixonado, sendo um bagre cego e confinado num lago escuro de uma caverna remota! Sua paixão por Ricardo Teixeira e Carlos Nuzman, que eu saiba, era de outro tipo.

– É paixão – insistiu Aurora, a coruja, numa outra madrugada, esta, linda, cheia de estrelas. – É melhor você averiguar.

Foi o que fiz. Tirei Arnaldo de sua flutuação letárgica com um cutucão e perguntei o que se passava. No fundo, o bagre é um tímido. Foi um custo fazê-lo falar, mas falou.

– Ah, meu amigo! Agora, quando me alcança a idade mais que madura, na fronteira da meia-idade, eis que meu coração se inquieta e bate forte, causando-me profundo desassossego – ele disse.

– Mas Arnaldo, o que acontece? Muito estranho. Você sequer vibrou com a convocação da nova seleção brasileira. Não ligou para o pronunciamento do presidente da CBF. Por quem bate, então, e de maneira descompassada, esse seu coração de peixe?

E o bagre me contou o inacreditável. Havia uma jovem bagre morando no lago. Como foi parar lá ele não sabia, e nem importava. Arnaldo descreveu-a como se a enxergasse. Jovem, excessivamente jovem e linda, uma ninfeta. Seu corpo ágil reluzia submerso. Suas barbatanas eram quase douradas e sua cabeça fina e delicada. Meu amigo bagre passava horas admirando suas evoluções e depois subia à superfície do lago e deixava-se flutuar enquanto, em sua cabeça de bagre, imaginava a ninfeta entre suas barbatanas, o que lhe causava profundas crises morais.

Não, pensava ele, ela é jovem demais para mim, eu não tenho o direito de tê-la. E eu dizia-lhe que sim, que tinha, e que a diferença de idade não importava, o que importava era o amor. Difícil era eu acreditar na existência de uma jovem bagre naquele lago. Como não a vira?

Quanto a Oto, o caso era parecido, mas o morcego, apesar das muitas cabeçadas nos estalactites, vibrava; a morceguinha correspondia aos seus sentimentos e o morcego já pensava constituir família. Convidou-me para padrinho!

O que é o amor! Creio que nada mais tiraria Arnaldo de seu entusiasmo pelos projetos do ídolo e guia espiritual para a Copa 2014. Ricardo Teixeira falou ao lado de Mano Menezes e o bagre sequer percebeu, todo sensações pela ninfeta bagre.

O morcego, de sua parte, soube que uma nova seleção brasileira era montada pela velha CBF, mas o quiróptero nem ligou, sua cabeça estava longe. Em quinze dias anunciava o noivado.

Comentei o caso com Aurora.

– Eu não disse? – ela disse – Os sintomas da paixão são evidentes!

E a coruja me contou que também foi assim com ela, quando conheceu seu marido, aquele que morreu vítima de um tirombaço, no exato instante em que pousou na quina do travessão, lá onde, dizem os locutores de futebol, mora a coruja. E seguimos madrugada adentro, Aurora lembrando histórias de jogadores prisioneiros da paixão, como tantos de nós, ela que acompanhou a carreira de muitos futebolistas ao longo dos anos em que morou em buracos à beira dos gramados brasileiros. Histórias de craques perdidos no turbilhão de paixões, sem saber que rumo tomar, mas confiando no poder do dinheiro, nos carros de luxo, quem sabe nas lindas mulheres que podem contratar, nas amizades com traficantes e outros bandidos, mas nada, nada disso os livrava da enxurrada avassaladora produzida pela paixão mal vivida, mal compreendida. Lembrou-me uma música do Paulinho da Viola, aquela que diz, “Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar”, pois, apaixonados, somos passivos, e não será o salário milionário, as cem mulheres contratadas ou os carrões na garagem que nos guiarão a um porto seguro. Os craques da bola não são craques da paixão e raramente sabem conduzi-la ao amor perene, ao amor que redime e salva, mesmo que não seja para sempre.

Julgam que o dinheiro poderá conduzir a bom termo a aventura tempestuosa dos sentimentos indomáveis, mas talvez se percam exatamente aí. Querem uma mulher, mas contratam cem delas, sonham com um carro e enchem a garagem deles, ouvem falar de grandes vinhos, mas não aprendem a beber.

Dias depois, voltando de um passeio pelos arredores, surpreendi-me com Arnaldo absorvido, como tantas vezes o vi, pela voz que vinha da TV. Era seu ídolo, Ricardo Teixeira, que se pronunciava sobre a Copa 2014. O Morumbi, dizia ele, estava descartado, não cumprira as exigências da Fifa.

– Certíssimo – disse-me Arnaldo. – Não faltaram avisos. O São Paulo teve diversas chances e não aproveitou. A CBF não pode esperar indefinidamente pelo Tricolor. A cidade de São Paulo precisa construir um estádio à altura da importância do evento.

– E a jovem moradora do lago? – perguntei-lhe.

– Quem? Ah, aquela história que lhe contei. Sabe meu amigo, voltou-me a razão, foi-se a paixão. Aquilo foi fruto de uma fraqueza, um capricho da imaginação. Algo que pretendo esquecer, que me causa vergonha só de pensar.

Pobre Arnaldo. Terminaria os dias como tantos outros. Não teria sua Dulcinéia, e nem se permitiria tê-la em seus devaneios.

Nesse instante Oto passou voando desesperado à caça de uma suculenta mariposa.

– E então Oto, quando teremos o casório?

– Casório? Você está louco – falou, enquanto mastigava o pobre inseto.

Soube, por outros morceguinhos, que a morceguinha que se dizia apaixonada por Oto bateu asas e voou. Fugiu com outro, segundo ela, mais sério e responsável, um bom provedor.

Voltamos à velha rotina, eu com minhas conversas madrugada adentro com Aurora, Oto entusiasmado, ora por uma coisa, ora por outra, Arnaldo curvando-se em reverências aos seus ídolos de sempre, os do COB, os da CBF ou quaisquer outros que representem uma autoridade constituída. Melhor assim, prefiro a rotina. Na tela da TV o noticiário policial falava dos últimos casos envolvendo jogadores de futebol.

Para interagir com o autor: bernardo@universidadedofutebol.com.br

*Bernardo, o eremita, é um ex-torcedor fanático que vive isolado em uma caverna. Ele é um personagem fictício de João Batista Freire.

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Cartório Fifa

Cartórios são serventias públicas ou privadas destinadas a custódia de documentos, registro de títulos e ofícios de atos privados, bem como o processamento das ações judiciais que tramitam nos fóruns e tribunais.

Em ambos os casos, o que se pretende com as atividades-fim destas entidades é preservar e emitir fé pública nas relações entre pessoas, empresas e órgãos da administração pública.

Em exemplos simples, basta que o leitor puxe à memória o reconhecimento de sua firma, a transferência de seu veículo, o registro de sua casa, o protesto de um cheque, ou o comparecimento em audiência no fórum para saber do que se trata.

Os cartórios, tabelionatos ou ofícios têm por essência disciplinar, organizar e certificar os processos, segundo a natureza específica de sua atividade acima descrita.

Naturalmente, há dificuldades operacionais e tecnológicas ainda graves, pois, principalmente, os cartórios judiciais sofrem com a demanda dos processos ajuizados e distribuídos pelo Brasil.

Entretanto, foi justamente o desenvolvimento e implantação de processos tecnológicos de ponta que permitiram a transição entre o arcaico e o burocrático, para o moderno e eficiente.

Há até pouco tempo, todos os atos processuais de uma ação judicial dependiam da participação direta e presencial dos advogados ou seus funcionários para dar seguimento. Ainda, tudo dependia de papel, abarrotando os espaços dos cartórios.

A Justiça Federal foi pioneira na criação do processo eletrônico, ou e-proc, que converte o papel em meios eletrônicos. O advogado é obrigado a cadastrar-se no e-proc, dando ao mecanismo toda a credibilidade e transparência necessárias, além, sobretudo, da segurança neste procedimento.

Diminuem-se custo, papel, filas, mau atendimento em balcão por funcionários lenientes, “jeitinhos” e até sumiço de processos.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br  

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Estratégia: o padrão de jogo e o modelo de jogo

Para os treinadores de futebol, a tomada de decisão e a escolha de uma estratégia de jogo, em detrimento de outra, pode definir o sucesso ou fracasso de sua equipe dentro do jogo.

Na imprevisibilidade das dinâmicas decorrentes do confronto de duas equipes de futebol em uma partida, terá mais chance de vencer aquela que apresentar dinâmicas que têm maior fluidez sobre as de sua adversária (que se encaixam melhor e respondem mais adequadamente aos problemas do jogo, sem muito gasto de energia).

São muitas as áreas da Ciência que estudam a arte da estratégia e do planejamento estratégico.

No futebol, ainda que muitas vezes seja de forma empírica e intuitiva, treinadores pelo mundo todo demonstram ser mestres no que diz respeito à elaboração e aplicação de estratégicas de jogo.

Sem contestar, ou deixar de dar grande importância a esse empirismo e intuição, é importante salientar que se avaliarmos as estratégias de jogo adotadas pelos diversos treinadores e equipes de futebol, Brasil à fora, notaremos que elas (as estratégias) podem estar associadas a níveis distintos da organização do jogo.

O jogo é imprevisível.

Há, porém, se olharmos para ele sob a luz da Teoria Sistêmica, dinâmicas individuais e coletivas, que em meio ao aparente caos, refletem um padrão de organização, que pode ser detectado, monitorado e até manipulado.

Essa “manipulação”, nada mais é, do que a ação individual e coletiva de uma equipe definida dentro de um plano estratégico, para tirar proveito ou vantagem desse padrão.

O grande “pulo do gato”, porém, está em entender que o padrão de jogo pode ser observado em níveis que vão desde a ação de um elemento do sistema (o jogador), operada por características singulares a ele, até a modelação coletiva da equipe em suas regras de ação ou maneira de estruturar o espaço de jogo.

E o que isso quer dizer?

Isso quer dizer em primeiro lugar, que padrões de jogo podem ser identificados dentro e fora de um modelo de jogo, e que, em segundo lugar, é preciso ter clara idéia de qual é o nível exato da organização do jogo, que se quer intervir (ou ainda, qual é o melhor nível para se fazer a intervenção).

 

 

Então, olhar para um jogo, tentar identificar e entender o modelo de jogo que norteia a comportamento dos jogadores de uma equipe é apenas um dos passos para identificar um pedaço fractal de um padrão de jogo.

Da mesma maneira, a partir do melhor entendimento do padrão de jogo (individual e coletivo), deve-se ter clareza para definir com exatidão, em qual nível desse padrão é possível agir com maior eficácia.

É preciso que se entenda que o “modelo de jogo” é um subsistema do sistema “padrão de jogo”, e que esse é um subsistema do sistema “cultura de jogo” (que é por sua vez subordinado ao jogo).

Toda e qualquer decisão estratégica, vai de certa forma, mexer com os níveis de organização de uma equipe e de sua forma de jogar.

 

 

Então, seja para agir diretamente sobre a operacionalização coletiva das ações, sobre a estruturação coletiva do espaço de jogo, sobre a ação específica dos elementos do sistema, ou ainda, sobre suas inter-relações ou suas interdependências, é importante que o “tiro” seja certeiro, e que haja o entendimento de que a ação sobre qualquer uma dessas variáveis, afetará diretamente a outra, com maior ou com menor magnitude.

Identificar padrões de jogo em distintos níveis não é tarefa das mais fáceis, porque requer muitas vezes observação repetida de um mesmo jogo, ou de diversos jogos de uma mesma equipe.

De qualquer forma, vale salientar que muitos treinadores pelo mundo, inconscientemente ou não, acabam por tomar decisões estratégicas sempre atuando sobre o mesmo nível organizacional e sempre (ou quase sempre) sobre a mesma variável da organização sistêmica.

Isso quer dizer que muitas vezes, entendendo o tipo de decisão estratégica que um treinador toma, é possível entender também com quais óculos ele enxerga o jogo, e aí talvez, seja possível vencer sua equipe antes mesmo de conhecer seus padrões.

Com que óculos você enxerga o jogo?

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br  

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O futebol como ferramenta para a educação

*Uma das grandes funções do esporte é a educação. A educação, aliás, é a base fundamental da sociedade. Sem uma educação adequada, os demais sistemas (de saúde, segurança, econômico, etc) não funcionariam de forma apropriada.

Segundo a nossa Constituição Federal de 1988, Art. 217, II, “é dever do Estado fomentar práticas desportivas (…) observadas a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacional (…)”.

O futebol, sendo o esporte mais popular no Brasil e de maior interesse entre as crianças e jovens (tanto para assistir como para praticar), tem um papel fundamental nessa função do esporte.

A questão que nos salta aos olhos é: será que o Estado reconhece esse dever previsto no texto constitucional transcrito acima, e destina prioritariamente fundos para o esporte educacional? Ou será que o esporte de alto rendimento ganha do esporte educacional nessa preferência governamental?

Os programas de incentivo ao esporte não mencionam o esporte como educação. As loterias criadas não têm a destinação específica de auxiliar as escolas deste país a terem mais quadras esportivas e professores de educação física qualificados.

Na verdade, o que vemos é um desenvolvimento quase que orgânico das práticas esportivas entre as crianças deste país. A famosa pelada na rua com bola de meia, que tanto foi dita por Pelé como seu início no esporte, é de fato como a maioria das crianças praticam o futebol no Brasil.

As escolas, principalmente as públicas, raramente possuem mais do que uma quadra poliesportiva de cimento, com linhas demarcatórias que quase não se percebem e traves enferrujadas.

E mesmo assim o Brasil é o país que mais revela jovens jogadores de futebol ao mundo. Mas isso, na minha opinião, é obra divina, e não das nossas políticas de esporte educacional.

*Esta coluna é dedicada ao pequeno Alexandre, que hoje completa seu primeiro ano de vida.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Manter é preciso

Na sua coluna dessa semana na Folha de São Paulo, Tostão destacou a importância que tem o gramado no futebol. O gramado é, sem qualquer dúvida, muito importante na qualidade do futebol jogado. Não é preciso ser um ex jogador de tamanha importância como o Tostão pra saber disso. Mas é impressionante como os gramados de alguns estádios no Brasil são mal cuidados.

Estamos passando por uma onda de projetos de novos estádios no Brasil. Planos pra aqui, plano pra lá e planos pra acolá. A moda agora é construir estádios. Novinhos em folha. Tinindo. Mesmo que sua cidade não tenha clube profissional. O esquema é construir. E isso é muito bom pra indústria. Desde que, é claro, os projetos estejam sendo de fato sendo feitos com um mínimo de planejamento. Afinal, construir um estádio é uma coisa. Mantê-lo é algo completamente diferente.

E a ciência do gramado é basicamente essa. Não adianta apenas plantar, tem que manter e, eventualmente, trocar. E se não fizer isso, aos poucos a coisa vai se deteriorando, como fica claro no exemplo do Engenhão, um projeto muito bacana, novinho em folha, e com um gramado deplorável. Antes de fechar para reformas, o Maracanã estava igualzinho, tal quais tantos outros estádios ao redor do país. Sinal evidente da falta de planejamento de manutenção do campo.

Manter um gramado, porém, não é barato. Custa bastante. Muitas vezes é preciso manter uma equipe de profissionais dedicada exclusivamente a isso. E justamente por custar um certo dinheiro é que os clubes tendem a não se preocupar muito em manter um padrão elevado de qualidade. Isso porque ao destinar verba para isso, você necessita diminuir verbas para salários. Vinte mil reais para cuidar do gramado representa um jogador com salário de vinte mil reais a menos no time, o que, para boa parte dos clubes brasileiros, é um jogador de média qualidade, para compor o elenco, mas que pode ser muito importante em caso de lesões e suspensões.

A solução, mais uma vez, passa por quem administra o campeonato. Não dá para esperar que os clubes sozinhos irão cuidar por conta própria dos seus gramados. Como não existe requisito mínimo de qualidade do campo para a disputa de uma partida, nem todos os clubes gastam dinheiro com manutenção do gramado, o que deixa o clube que se preocupa com isso em desvantagem competitiva por ter uma verba reduzida para o pagamento de atletas. A única solução é estabelecer um piso orçamentário obrigatório para a manutenção e um padrão mínimo de qualidade do gramado, sob pena de perda de mando de campo, multa ou perda de pontos. Assim, os clubes são obrigados a se preocupar em deixar os campos menos esburacados. Com menos buracos, além de diminuir riscos de lesões, jogadores conseguem também elevar o seu próprio nível de precisão, contribuindo com a melhoria estética do jogo e diminuindo a incidência de acasos não relacionados aos times na construção do resultado final de uma partida (vulgarmente conhecido como morrinho-artilheiro).

A ideia sempre defendida e bastante disseminada de que a capacidade de improvisação do futebol brasileiro é proveniente dos campos esburacados em que as crianças aprendem a jogar bola é até um pouco lógica. Ela só não precisa ser estendida para os gramados do futebol profissional. 

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br  

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Brasileiros e o profissionalismo

Muricy Ramalho, técnico do Fluminense, no último fim de semana (26-set), suscitou uma polêmica que se transformou em uma grande discussão nos principais meios de comunicação do país: trata-se da diferença de comportamento de jogadores brasileiros em comparação aos argentinos, entoando um coro em favor do profissionalismo apresentado pelos “hermanos” à equipe que representam.

Tomo por base uma reportagem de capa do jornal esportivo espanhol “Marca”, do dia 17 de janeiro de 2007, cujo título era o seguinte: “El ‘Real Brasil’ deja paso al ‘Madrid de los pibes’: menos samba y más ‘trabajar'”. Pelo título da reportagem não é preciso mais delongas, contando a trajetória da época do Real Madrid que se transformou completamente com a saída de jogadores brasileiros da era Luxemburgo para a chegada de atletas argentinos com Fábio Capello.

O texto constata, em suas últimas linhas, que os argentinos proporcionaram claramente um futebol comprometido, prático, solidário e tático e compara o perfil de ambos da seguinte maneira:

É possível ver que esse debate trazido pelo Muricy não é de hoje, defendendo que o resultado do sucesso de Conca no Brasil está diretamente relacionado com o seu comprometimento ao treinamento.

Na Europa, os clubes já se auto questionavam há algum tempo sobre esse tema, o que talvez explique superficialmente que, mesmo havendo inúmeros clubes dedicados à exportação de craques para o futebol internacional aqui no Brasil, a Argentina, com uma população cinco vezes inferior, conseguiu superar nosso país em número de transferências internacionais no ano de 2009, de acordo com pesquisa divulgada no Estadão em 17 de setembro – foram 1.716 argentinos para o exterior ante 1.443 brasileiros.

É bem verdade que a mesma reportagem discute o fato de os atletas do país vizinho têm saído cada vez mais cedo para o exterior face às enormes dívidas acumuladas pelos clubes, causando um enfraquecimento de seus campeonatos, fato que o Brasil tem conseguido superar ano após ano.

Mas essa declaração do Muricy pode ser analisada com maior profundidade por sociólogos, se pretendêssemos chegar a uma explicação mais precisa a partir de uma informação empírica. Arrisco-me uma a divagação por números clássicos sobre economia e desenvolvimento humano:


* De acordo com o Fundo Monetário Internacional
** índice de Desenvolvimento Humano – de acordo com a ONU

 

Essa disparidade entre o Brasil econômico e o Brasil social já foi tratada em muitas situações e reflete bem a negligência sobre a educação e a saúde em nosso país. Talvez isso explique um pouco o comportamento de muitos astros do futebol nacional que, mesmo ganhando mais em comparação com os argentinos, não são devidamente preparados pelos clubes e pela sociedade como um todo para serem as estrelas que são.

A educação é elemento-chave na gestão de carreira de jogadores, apesar de ser deixada como segundo plano em muitos programas de formação de atletas. O valor desse tipo de discussão serve para gerar novas reflexões e uma postura de mudança partindo dos clubes para oferecer melhores cidadãos para o mundo, profissionais mais dedicados e empenhados às suas funções, ou seja, “atletas profissionais” de fato, pela acepção da palavra. Pelo menos é isso que esperamos.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br  

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Adilson Batista e o uso da tecnologia: podemos mais…

Em notícia recente no site Globoesporte.com o técnico Adilson Batista revelou usar recursos tecnológicos na preparação da equipe.

“Como eu sempre faço, mostrei para os jogadores algumas jogadas no computador. Mostrei fotos com o posicionamento dos adversários e situações que poderiam acontecer no jogo. Acabou dando certo contra o Santos – explicou o comandante alvinegro.”*

Para nós, que defendemos o uso dos recursos na preparação da equipe, poderia ser uma grande notícia. Mas devemos ser críticos e não superficiais.

Mérito de Adilson, sem dúvidas. Talvez esteja aí um dos motivos que o projeta como um dos treinadores de ponta para os próximos anos. Um dos motivos, não o único.

Ao reconhecer que seu trabalho pode ser ajudado pelos recursos, o Adílson dá sinais de que tem humildade suficiente para assumir que ele sozinho não é o senhor de todo os métodos e conhecimentos, como há muito vemos no futebol. Além da humildade, o comandante alvinegro apresenta uma capacidade rara aos treinadores, que é a habilidade de tirar proveito dos recursos para aperfeiçoar seus métodos.

Isso porque além daqueles que se julgam superiores a tudo, inclusive mais rápidos, mais dinâmicos e com memória maior do que o mais incrível computador já feito pelo homem (não estamos falando de inteligência, essa sim exclusiva do homem), existe uma outra leva de profissionais que criticam ou recriminam o uso da tecnologia pelo simples fato de criar expectativas erradas, ao esperar que um notebook entre na área e mande a bola para o gol após uma cobrança de escanteio.

Assim, ressalto a capacidade de Adilson em entender os recursos como auxiliares, ferramentas de otimização de seu trabalho. Mas ainda aproveito a notícia para levantar uma reflexão.

Apenas o uso de imagens pode ser considerado como grande avanço tecnológico? Será que os recursos hoje disponíveis no mundo não podem ser mais bem utilizados ou ainda melhores desenvolvidos para servirem aos técnicos?

Julgo então, que uma notícia com esse teor, ganhar o destaque que ganhou, é preocupante para nós que trabalhamos com a tecnologia no futebol e defendemos seu uso. Isso porque já imaginávamos que a tecnologia a serviço dos técnicos estivesse alcançando outros níveis de maturidade em alguns casos.

E o problema não está na escassez de recursos ou tecnologias disponíveis para desenvolver ferramentas cada vez mais práticas e importantes para os técnicos. Falta para alguns a consciência e tranquilidade que Adilson teve para assumir a “ajuda” tecnológica, entendendo que ela não desmerece nem desqualifica seu trabalho, e falta também a competência para transformar os dados em conhecimento.

Porque computadores trazem dados, já o conhecimento é parte do homem. É nesse sentido que precisamos caminhar, pois só imagens com ângulos, focos, ou replays variados estão longe de atingir a capacidade do ser humano em usar a tecnologia.

Finalizo com a frase que sintetiza isso, que já utilizei em outros momentos.

“Nossa tecnologia passou a frente de nosso entendimento, e a nossa inteligência desenvolveu-se mais do que a nossa sabedoria.” (Roger Revelle)

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br