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Como treinar o passe?

O passe é caracterizado pela transmissão da bola entre dois jogadores da mesma equipe. Para a realização do passe, o jogador pode utilizar qualquer parte do corpo, exceto braço, antebraço e mão. Isso tudo é óbvio, mas como treinar esse fundamento que é o de maior incidência no jogo de futebol?

Para iniciarmos essa discussão vamos a alguns fatos…

Na Copa do Mundo de 2010 o jogador espanhol Xavi foi quem mais realizou passes durante toda a competição, contabilizando 669 ações neste fundamento. Esse jogador participou de todas as sete partidas da Espanha jogando 636 minutos, ou seja, realizou pouco mais de um passe por minuto e teve um aproveitamento de 81%.

Podemos dizer que esse jogador atingiu a maestria no ato de passar a bola. Essa maestria ocorreu devido a diversos estímulos provenientes do treinamento e dos jogos ao longo dos anos.

Contudo, o gesto motor é que define a maestria desse jogador? Se o movimento for “perfeito”, os passes chegarão com precisão ao seu destino?

Vamos lá!

De todos esses passes realizados, nenhum aconteceu em um ambiente idêntico, em que os jogadores estivessem posicionados da mesma forma, a bola tendo percorrido a mesma distância, na mesma região do campo, etc.

Todos os passes foram realizados em um ambiente complexo e aleatório, no qual duas equipes se confrontaram em busca do melhor resultado para si. O ato de passar se releva maior que o gesto motor. Passar é apenas a manifestação da ação que começa na análise da situação, passa pela tomada de decisão e chega até o gesto motor propriamente dito, que também não é apenas o gesto, mas carrega uma série de construtos sociais, culturais, atitudinais, etc. do atleta.

Se uma solução apenas for treinada e mecanizada a fim de resolver todos os problemas envolvendo a transmissão da posse de bola, provavelmente o que teremos será um jogador incapaz de apresentar as melhores soluções dentro do jogo, pois estamos negando a complexidade do ato de passar e nos focando apenas no gesto estereotipado em si.

Sendo assim, como treinar o passe?

O passe deve ser treinado em um ambiente imprevisível e aleatório, onde o jogador será estimulado a resolver os problemas impostos pelo jogo a partir da transmissão da posse para um de seus companheiros de equipe.

Neste ambiente a análise da situação, a tomada de decisão e a ação estarão se desenvolvendo de forma integral tendo o jogo como norte.

Contudo, preciso alertá-los que o passe está inserido dentro das “competências essenciais” do jogo de futebol, mais precisamente dentro da “relação com a bola”. Vale destacar que as competências essências são habilidades fundamentais para o jogo. Além da “relação com a bola”, a “estruturação do espaço” e a “comunicação na ação” fazem parte dessas competências. Vale destacar ainda que essas competências devem ser o foco de desenvolvimento nas categorias menores dentro da base dos clubes.

Desenvolver o passe significa desenvolver a relação entre o jogador e a bola em todo o processo de transmissão da posse de bola, pois como foi descrito acima, o passe pode ser feito com diversas partes do corpo e quanto mais recurso o jogador tiver na “relação com a bola” maior será sua habilidade e sua capacidade de resolução de problemas quando este está em contato com o objeto de disputa do jogo.

Para tentar clarificar “praticamente” essa discussão, descrevo abaixo um exemplo de atividade que se bem orientada e inserida dentro de um processo de treino adequado pode contribuir para o desenvolvimento da relação com a bola no que diz respeito ao passe contextualizado ao jogo de futebol.

Descrição

Matriz
– Atividade é composta por duas equipes de cinco jogadores, mais dois coringas, que jogarão para a equipe que estiver com a posse de bola.
– O objetivo da equipe que está com a posse de bola é trocar 10 passes entre seus jogadores.

Variações
– 1º momento: passes serão livres.
– 2º momento: passes com a perna não dominante.
– 3º momento: o passe tem que ser de primeira se for realizado com a perna dominante e os toques são livres se o passe for realizado com a perna não dominante.
– 4º momento: a cada dois passes um deve ser de primeira.
– 5º momento: a cada dois passes um deve ser realizado para o quadrante oposto ao da bola.
 


 

Veja que as regras potencializam o passe como foi dito, mas cada uma das variações age de maneira diferente em todo o processo de análise da situação, tomada de decisão e ação motora.

No 1º momento, o foco é no passe e não há limites de toques na bola. Nos 2º e 3º momentos, o foco passa a ser na utilização da perna não dominante. Já no 4º e 5º momentos, o foco é na análise da situação e na tomada de decisão. Com isso há sempre um novo conflito sendo gerado e a evolução da relação com a bola é constante.

Por hoje cesso meus conflitos por aqui!

Até a próxima.

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Ao campeão da América, parabéns!

Em 2006, a seleção uruguaia não figurava entre os países que disputavam a Copa do Mundo do referido ano. Quatro anos mais tarde, após conseguir vaga na repescagem, conquista uma surpreendente quarta colocação sob o comando do técnico Oscar Tabárez, caindo somente nas semifinais diante da seleção holandesa. Em 2011, surpreende também nas categorias inferiores ao alcançar os vice-campeonatos sul-americano e mundial com a equipe sub-17 e ao obter a segunda colocação do sul-americano sub-20.

Na recém-encerrada Copa América, frustrante para os brasileiros mais imediatistas, o futebol uruguaio recebe elogios mundiais ao conquistar o 15º título continental e se tornar o país que mais vezes venceu esta competição.

Por trás dos resultados, obviamente, muito trabalho. Trabalho que abrange a cobrança feita pelo treinador aos dirigentes uruguaios em relação à necessidade de investimentos nas categorias de base, à detecção de talentos em todas as cidades do pequeno Uruguai (3,4 milhões de habitantes), ao planejamento de longo prazo para as seleções menores e à definição e aperfeiçoamento de um time-base vislumbrando resultados como consequência de um trabalho bem estruturado na equipe principal.

O encerramento do ciclo de alguns jogadores na seleção, a promoção de novos talentos e as peças de substituição também são temas do projeto coordenado por Oscar Tabárez e que pode ser acompanhado por entrevistas em diversos meios de comunicação.

Nestas entrevistas, o “pensar” do treinador é manifestado com a utilização de palavras e expressões que deveriam ser multiplicadas no universo do futebol: ser humano, exemplo, educação, trabalho em equipe, evolução e responsabilidade.

O ser humano, analisado não só por sua qualidade técnica ou tática, mas também pelos seus sonhos, desafios e dificuldades. O exemplo que a seleção atual é para as seleções inferiores e futuras gerações do futebol uruguaio ao resgatarem o respeito mundial. A educação, também denominada pelo treinador de formação integral, como meio fundamental para obtenção dos resultados em longo prazo. O trabalho em equipe, muitas vezes esquecido nas gerações anteriores. A evolução, esperada por saber que estava no caminho certo e a responsabilidade de representar a nação que, hoje, sai às ruas não com as camisas de Barcelona, Boca Juniors ou Inter de Milão, e sim com as dos selecionáveis Lugano, Forlán ou Suárez.

Se nas entrevistas fica evidente o “pensar” do treinador, é no campo de jogo que o comportamento dos jogadores traduzirão se, de fato, este “pensar” se transformou no “jogar” de sua equipe. Nas seis partidas disputadas, foram três vitórias, três empates, nove gols marcados e apenas três gols sofridos. O grande jogo antes da final foi, sem dúvida, o duelo contra a anfitriã Argentina, vencido nos pênaltis, após partida impecável defensivamente e nas transições ofensivas, com um jogador a menos desde o final do primeiro tempo.

Entre os gols marcados, três foram feitos por posse em progressão (a partir de penetração, cruzamento e rebote do goleiro); dois por bola parada ( a partir de uma falta lateral e falta frontal); dois por transição ofensiva (a partir de assistência e drible) e dois por transição defensiva (a partir de passe vertical e assistência).

Nos primeiros jogos, o Uruguai foi ao campo no 1-4-3-3, porém, desde o último jogo da fase de grupos, estruturou o espaço no 1-4-4-2 (duas linhas). E, na partida final, conquistou o título sendo superior ao Paraguai durante todo o jogo.

O goleiro Muslera praticamente não foi acionado em situações de proteção do alvo. Agiu principalmente em ações de reposição e em uma interceptação.

A linha defensiva Maxi Pereira-Lugano-Coates-Cáceres não circulou a posse, subiu em bloco ofensivo com os laterais em amplitude e apoio frequentes, foi muito veloz nas transições defensivas, especialmente nas ações de recomposição e fechou todos os espaços possíveis de ação ofensiva paraguaia, ora equilibrando com os laterais a circulação da posse feita pela seleção paraguaia, ora subindo para diminuir o espaço entre-linhas. Nas bolas aéreas, Lugano-Coates foram superiores.

González-Perez-Arévalo-Alvaro Pereira compuseram a linha de meio-campistas. Orientados para recuperação da posse, ou conseguiam recuperá-la, ou apressavam o jogo paraguaio forçando-lhes o erro, nas transições ofensivas, o passe procurava por Suárez ou Forlán, com as subidas dos meias abertos para a construção do jogo ofensivo com muita progressão e rara manutenção; nas transições defensivas, a busca imediata pela posse.

E no ataque, Suárez-Forlán alternavam desmarcações, com Forlán mais próximo à zona de risco e Suárez movimentando muitas vezes nas faixas laterais. Na transição defensiva, queriam a bola e dificultavam a saída jogando do adversário. Defensivamente, a linha 2 foi referência de marcação durante todo o primeiro tempo e, na etapa final, atraíram o Paraguai, recuando mais uma linha. Nas transições ofensivas, Suárez era apoio imediato e Forlán dava profundidade à equipe.

Veja, abaixo, os gols da final da Copa América, com a identificação de algumas falhas da equipe Paraguaia:
 


 

Ao perguntarem para Oscar Tabárez se pretende jogar como o Barcelona, ele afirmou que, nas condições do futebol uruguaio, é improvável conseguir tal feito. Como nem todo bom futebol é tão belo quanto o do clube catalão, o do campeão da América merece parabéns e obrigado pelo competente exemplo!

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br  

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Você tem um plano B na manga?

Saudações a todos!

No último domingo (24/07), estava assistindo ao GP de Fórmula 1 na Alemanha vencida brilhantemente por Lewis Hamilton, e um assunto veio a minha mente: quanta estratégia e quantos planos uma equipe de ponta deve ter para encarar uma corrida?

A estratégia para uma corrida começa muito antes da largada da semana seguinte. Esta se inicia na montagem dos carros no meio da semana e neste momento a equipe já deve ter todos os seus planos traçados.

Com certeza existe um plano principal, o plano A, aquele em que tudo deve acontecer conforme o planejado. Funciona mais ou menos assim: se nos classificarmos na primeira fila, nosso sistema de largada certamente será o melhor, passaremos a primeira volta na primeira colocação. Desta forma, abriremos em média meio segundo de vantagem por volta, trocaremos os pneus nas 23ª e 46ª voltas, em média gastaremos 25 segundos em cada troca para entrar e sair do boxe e cruzaremos a linha de chegada com folga de 9 segundos sobre o 2º colocado. Enfim, tudo perfeito!

Ótimo se fosse sempre assim, não é? Mas na vida real, assim como na corrida, não é sempre que tudo ocorre como conforme o plano A.

Em uma corrida, os imprevistos podem ocorrer por conta da temperatura estar diferente da média nos dias de treino. Também pode chover, furar um pneu, acontecer uma batida, aparecer um “safety car”. Ou mesmo a largada pode não ser das melhores, a troca de pneus pode demorar mais que o previsto, etc. Em casos como estes, com certeza as equipes, além do plano A, contam com o plano B, C, D … e Z.

Buscando prever cada uma dessas situações e o que fazer para cada combinação de fatores, e se algo não for como previsto, cabe ao líder tomar a frente e decidir, no momento de pressão para a equipe – mas esse é outro tema que já falamos um pouco aqui e que voltaremos a falar novamente em outras oportunidades.

No futebol, também existem planejamentos e estratégias, acredito que não na mesma dimensão e sofisticação da F-1, mas existem. Por exemplo, se o adversário vier com uma formação específica ou com um determinado jogador, atuamos no plano A; se eles vierem com outra formação ou sem determinado jogador, vamos de plano B; se no primeiro tempo virarmos em vantagem fazemos desta forma; se virarmos empatando ou perdendo, fazemos de outra, e assim por diante. Algumas variáveis podem acontecer e cabe sempre ao líder decidir se algo sair fora do planejado.

Atualmente, a maioria das empresas, independentemente do seu porte, também têm seus planejamentos e estratégias. Longe do que acontece na em uma F-1, toda empresa precisa trabalhar, pelo menos, com um plano A e um plano B. Ter planos é muito importante, mas sabemos que o fator decisivo, e que falta na maioria das corporações, são atitudes acabativas, cumprir o que foi planejado!

A dúvida que fica é: a maioria das pessoas traçam seus planos e estratégias profissionais e pessoais?

Vejo por aí que muitos profissionais já traçaram um plano. Até mesmo os mais jovens já planejam e montam estratégias a longo prazo. Quando pergunto sobre seus planos para o futuro, muitos me respondem imediatamente: “quero atuar em determinada função por mais dois anos, depois obter uma função sênior e dentro de três ou quatro anos quero gerenciar uma equipe. No máximo em seis anos pretendo ser diretor nesta empresa ou em outra do mesmo segmento e, para isso, estou terminando a faculdade e em seguida aprimorarei meus conhecimentos em língua inglesa e uma pós na minha área. Paralelamente às atividades profissionais, na minha vida pessoal, pretendo ter um carro novo a cada dois anos, comprar minha casa em quatro anos, me casar e ter filhos”.

Como consultor, costumo receber muitos planos de empresas diversas. Sempre estudo o material, elogio as iniciativas, o planejamento estruturado e as ações encadeadas, dou sugestões, lapido alguns pontos, faço pequenos questionamentos e em seguida lanço uma pergunta: e se seu planejamento não sair de acordo com o que você espera, você tem um plano B?

Acreditem, 90% das respostas que recebo são as mesmas, inclusive com a mesma entonação de voz e espanto demonstrando no rosto: “plano B? Não havia pensando nisto! Meu plano estava tão bem estruturado, que não imaginei algo pudesse dar errado”.

Assim como na F-1 ou como em qualquer outro esporte, e também nas empresas, é fundamental ter, pelo menos, um plano B. Além disso, cada um de nós precisa pensar em planos e rotas alternativas para na nossa vida profissional e vida pessoal.

Todos nós desejamos que o nosso barco navegue em águas tranquilas e siga em rota desenhada. No entanto, se uma tempestade cair pelo caminho, é importante ter o desvio da rota previamente conhecido, senão o risco de afundar será maior.

Portanto, quem ainda não tem um plano A, faço o seu, e rápido! Para os que já o têm, pense em um plano B. Procure traçar rotas alternativas para nortear o que fará se sua promoção ou se seu aumento salarial não vier no tempo em que deseja, se seu noivado não virar casamento ou se sua viagem for adiada. Aprendi que frustração e decepção estão intimamente ligadas a desejos versus realidade: portanto, pensar em planos e rotas alternativas em nossa vida é, sim, algo saudável!

É isto pessoal! Agora, intervalo, vamos aos vestiários e nos vemos na próxima semana.

Abraços a todos!

Para interagir com o autor: ctegon@universidadedofutebol.com.br

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Futebol para civil ver?

Como todos sabem, infelizmente, o Brasil não se sagrou campeão da Copa do Mundo de Futebol Feminino. Pelo contrário, foi eliminado nas quartas de final pela equipe dos Estados Unidos em um fatídico 3 a 2, com direito a gol no finzinho da prorrogação. Mas, para compensar a tragédia, conquistamos o título de campeões nos V Jogos Mundiais Militares que terminaram no último dia 24 de julho no Rio de Janeiro.

Para quem não sabe, este foi o maior evento militar esportivo já realizado no Brasil com cerca de sete mil participantes (4.900 atletas e 1.800 delegados) vindos de mais de 100 países que disputaram 20 modalidades. O Brasil foi representado por cerca de 250 atletas e, no final, não somente o futebol feminino sagrou-se campeão, mas o país superou a China no quadro de medalhas e conseguiu o primeiro lugar da competição.

Mas será que realmente temos motivos para comemorar?

Ao ganhar o título de primeiro colocado podemos considerar que nosso Exército e nosso Esporte são realmente os mais fortes do mundo?

Como o nome já diz, “V Jogos Mundiais Militares”, era de se esperar uma competição militar, mas o que se viu não foi bem isso.

Com exceção de modalidades exclusivamente militares, vários outros esportes contaram com atletas já consagrados e que se tornaram militares exclusivamente por causa desta competição. Como exemplo desses “atletas-militares”, encontram-se: Flávio Canto (judô), Gabriel Mangabeira (natação), Joanna Maranhão (natação), Valeskinha (vôlei), Jadel Abul Ghani Gregório (atletismo), Vicente Lenílson (atletismo) entre outros.

Mais especificamente relacionado ao futebol, a equipe feminina também contou com a zagueira Tânia Maranhão e a meia Andréia dos Santos (ambas da seleção), que venceram a Alemanha por 5 a 0 na final e ficaram com o título.

Antes de você perguntar que mal há nisso, informo que muitos desses atletas não têm tanta evidência e alguns inclusive já se encontram em fim de carreira.

Sinceramente tenho certo receio de essa moda pegar e as Forças Armadas se tornarem asilo de ex-atletas…

É que no fundo, ao oficializar “atletas-militares”, as Forças Armadas demonstram que não há preocupação em formar militares-atletas. Com isso, permanece o bom e velho jeito brasileiro de resolver problemas imediatos, porém que se acumulam em longo prazo. Porque uma coisa é o sujeito ser militar e se desenvolver como atleta, e outra é o sujeito ser atleta e se tornar militar, pois mesmo com o título, fico me perguntando:

1. Qual a vantagem dessa política imediatista?

2. E de ser campeão destes jogos?

3. A quem impressionamos? Os brasileiros, os estrangeiros, todo mundo ou ninguém?

4. Será que podemos esperar o mesmo sucesso na Copa de 2014?

5. E nas Olimpíadas de Londres de 2012?

6. E em 2016 no mesmo Rio de Janeiro em que acontecerão os jogos?

Sem resposta para algumas dessas perguntas, penso que no final das contas não temos excelência no desenvolvimento do Esporte Militar brasileiro e, além de tudo, as Forças Armadas podem se tornar apenas uma opção para aqueles atletas que queiram prolongar a carreira por mais algum tempo.

E para piorar, nem temos esperança de que a formação esportiva fora das Forças Armadas seja melhorada. Nem no futebol, principalmente o feminino, nem em nenhum outro Esporte.

Para finalizar, só lamento o fato de esses Jogos Militares terem acontecido quase que simultaneamente à Copa América, pois muitos jogadores não puderam ser “recrutados”. Talvez nas Forças Armadas muitos deles demonstrassem mais amor e vontade do que na seleção. Sem contar o aspecto disciplinar. Já pensou todos com barbas e cabelos aparados só se preocupando em servir a nação? Poderíamos nem ganhar o título, mas talvez passássemos à semifinal vencendo a Argélia, que eliminou o Brasil nos pênaltis.

Ih!

Falei pênaltis?

Deixa pra lá vai…

Até semana que vem…

Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br  

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Espiral do conhecimento

No livro dos japoneses Takeuchi e Nonaka, Gestão do Conhecimento*, existe uma abordagem inicial que trata da “espiral do conhecimento”, detalhando de forma aprofundada as correlações dos conhecimentos tácito e explícito, que passam a ter um papel fundamental e dizem respeito a “abraçar os opostos” ou olhar de forma mais clara para a complexidade nas organizações. De acordo com os autores, as empresas fracassam por se curvarem a rotinas velhas criadas por sucessos passados.

Em outras palavras, podemos traduzir a assertiva para a primordial necessidade de aprendizado contínuo dentro das organizações. Na teoria parece óbvio, mas na prática isso dificilmente ocorre.

Por definição, conhecimento tácito tem relação com o conhecimento que não está na literatura e sim na cabeça e atitude das pessoas dentro de uma organização, incorporado ao longo da história do indivíduo. São difíceis de teorizar e de transmitir para terceiros – nas palavras de João Grilo, do filme “O Auto da Compadecida”, é algo como “não sei, só sei que foi assim…”.

Por explícito se compreende o conhecimento que pode ser teorizado e transmitido de pessoa para pessoa. É, dentre outras coisas e de forma bem sucinta, as informações que recebemos nos bancos escolares.

Nas organizações do futebol lidamos pessimamente com ambos, motivo pelo qual os clubes tendem sistematicamente a repetir erros do passado, com baixa capacidade de inovação. Takeuchi e Nonaka sugerem quatro padrões básicos para se criar conhecimento nas organizações, os quais iremos interpretar para aquilo que poderia ocorrer no contexto do futebol:

1. De tácito para tácito.

Compartilhar o conhecimento tácito de um indivíduo para outro. Seria como um atleta mais experiente a transmitir informações (e “dicas”) para os jogadores das categorias de base de como proceder diante de adversidades ou com relação ao árbitro do jogo. Neste campo, não há geração de novos conhecimentos, mas sim de assimilação e prática para posterior execução – quase que em um método experimental, de tentativa e erro.

2. De explícito para explícito.

Acontece na formalização de relatórios internos, como o de um Conselho Fiscal do clube. Dele não se cria nada, apenas se retrata o status da organização centrado em um único material.

3. De tácito para explícito.

É a conversão do conhecimento prático em um processo científico. Como um auxiliar técnico perceber, a partir de conversa com ex-jogadores, sobre a formação tática de algumas equipes e a dificuldade que encontravam para atacar alguns sistemas defensivos e desenvolver, a partir daí, um software que compila tais informações e possa ser transmitido de forma ordenada e clara para outros atletas na fase de treinamento.

4. De explícito para tácito.

Pode ser incorporado a partir da ideia proposta pelo Prof. Medina de implantação de Universidades Corporativas dentro dos clubes, a exemplo do que acontece em alguns setores dentro da Universidade do Futebol. A medida seria capaz de internalizar informações por parte dos colaboradores, que passariam a utilizar na prática este conhecimento, tornando-o tácito.

As duas últimas interações são as responsáveis por gerar inovações na organização. Ao ampliar a rotatividade de pessoas dentro dos clubes, seja na figura de técnico, jogadores, membros da comissão técnica ou mesmo pessoas de suporte da área administrativa e marketing, estas convergências se tornam imensamente dificultosas, pois cada novo colaborador precisa reaprender processos e conceitos daquela organização, minando em alguma medida a tal “espiral do conhecimento” proposta pelos autores.

Trabalhar de forma ótima a questão da gestão do conhecimento em clubes de futebol parece um grande desafio, mas que pode ser a chave para o crescimento institucional dos mesmos. Se tomarmos exemplos de sucesso recente no futebol brasileiro e mundial, saberemos enquadrar alguns destes ensinamentos da cultura japonesa para tais realidades.

* NONAKA, Ikujiro; TAKEUCHI, Hirotaka. Gestão do Conhecimento. Porto Alegre: Bookman.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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O treino pautado na complexidade: o processo

Processo tem como um de seus significados no dicionário: “série de ações sistemáticas visando a certo resultado.”No futebol o processo pode ser definido como: “série de exercícios sistematizados visando o desenvolvimento do jogar da equipe e de seus atletas”

 

Uma metodologia de treino pautada no jogo e para o jogo não pode se resumir a uma sequência de mini-jogos. Por isso, antes de chegarmos nas atividades práticas, vamos falar sobre o “processo de treino”.

O processo de treino pode ser definido como uma série de exercícios sistematizados que visam o desenvolvimento constante do jogar da equipe e de seus atletas.

Sistematizar os exercícios significa adotar uma progressão pedagógica entre as atividades, em que cada uma terá ligação com as demais. Além disso, ao longo do tempo, as regras dos jogos evoluirão e submeterão os jogadores a novas situações-problemas.

Pois bem.

Sendo assim, podemos supor que uma atividade de 1 x 1 deve vir antes de uma atividade de 11 x 11; uma atividade com regras de passes deve vir antes de uma atividade com regras de passe, chute, pressão e compactação…

Contudo, elaborar o processo não é tão simples assim!

Antes mesmo de definirmos as atividades, precisamos definir como os conteúdos devem ser distribuídos ao logo do planejamento.

Definir os conteúdos não é trivial e necessita de conhecimento adequado do grupo. A comissão precisa avaliar o nível de entendimento de jogo dos atletas para definir quais conteúdos serão abordados desde o início do processo.

Com a definição do nível dos atletas e levando em conta o Modelo de Jogo, os conteúdos devem ser distribuídos ao longo do planejamento.
A partir deste planejamento, as atividades serão concebidas. No início, as atividades terão um grau de complexidade menor (assim como os conteúdos a serem trabalhados) que será aumentado ao longo do tempo, progressivamente.

Abaixo, temos duas atividades que têm como ênfase o desenvolvimento da marcação zonal e da estruturação do espaço.

Atividade 1
– Atividade é composta por duas equipes de quatro jogadores, mais um coringa que joga sempre para a equipe que tem a posse de bola.

– O objetivo da equipe que está com a posse de bola é fazer o gol no golzinho central (dois pontos) ou derrubar os cones nas laterais (um ponto).

Atividade 2
– Atividade composta por duas equipes de quatro jogadores, mais um coringa que joga sempre para a equipe que tem a posse de bola.

– Objetivo da equipe que está com a posse de bola é fazer o gol no golzinho central (dois pontos), derrubar os cones nas laterais (um ponto) ou receber um passe a frente da linha tracejada (um ponto) – neste último caso o jogo não para.

Note que as atividades obedecem uma sequência lógica. A atividade 2 em comparação com a atividade 1 gera um novo conflito para a equipe que está sem a posse de bola, pois além de se preocupar com o gol e com os cones, agora a equipe precisa evitar a progressão da rival que está com a bola. Com isso um novo conteúdo surge dentro do processo e os jogadores precisam se auto-organizar de uma nova forma. Forma que, se o processo está adequado, deve ser superior a anterior e assim sucessivamente.

O processo não tem fim, porém a busca por uma forma de jogar superior deve ser constante.

Assim como o processo, os conteúdos que envolvem o treinamento no futebol pautado na complexidade parece não ter fim, mas nossa busca por conhecimento deve ser constante…

Até a próxima!

Para interagir com o autor: bruno@universidadedofutebol.com.br  

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O Team Coaching, o futebol e as vitórias

Em diversas ocasiões, os treinadores têm um tempo relativamente curto para reverterem uma situação desfavorável. A preleção para uma equipe que se encontra na zona de rebaixamento da competição, a conversa no intervalo do jogo em que os jogadores parecem ter esquecido tudo o que foi treinado na semana e, inclusive, uma breve conversa antes das cobranças de penalidades máximas numa partida em que “só” faltou o gol.

 

 

Neste pouco tempo, tudo que for pronunciado tem que ser internalizado para que o “jogo jogado” na cabeça do treinador seja o mesmo na cabeça de cada um dos seus jogadores. Muitas vezes, nestas partidas, mais do que usar os minutos que se tem para discutir a tática-estratégia da equipe, usa-se o tempo para questões aparentemente “sine qua non”. Cobranças de atitude, comprometimento, concentração, tranquilidade, foco, coragem, responsabilidade e superação são feitas com o objetivo de melhorar a performance do time.

Enquanto passes errados se quantificam, não se sabe o quanto os jogadores estão comprometidos com suas obrigações profissionais. Enquanto as finalizações erradas aparecerão no canal esportivo no intervalo do jogo, mensurar a tranquilidade da equipe é algo impossível. Conhecer o tempo de posse de bola é seguramente mais fácil do que o percentual de superação da equipe.

Atualmente, métodos inovadores de ensino de futebol têm sido discutidos e aplicados com sucesso, porém, no multifatorial desempenho esportivo, sabe-se que eles não lhe garantirão a vitória. No leque de variáveis, treinar jogando é apenas uma delas. Outra variável, há tempos presente no mundo corporativo (muitas vezes tão distante do mundo do futebol), é a aplicação do Team Coaching.

Resumidamente, o Team Coaching é uma ferramenta de desenvolvimento efetivo de times na busca de um objetivo comum. No mundo empresarial, é missão de diretores, gerentes, coordenadores e supervisores aplicá-lo, para que, ao atuarem como coaches, gerenciem e desenvolvam suas equipes para entregarem resultados.

Já no ambiente esportivo (muitas vezes distante do mundo empresarial?!?!), o coach pode ser o próprio treinador.

A certificação em coaching e as competências para a aplicação do Team Coaching são oferecidas em institutos especializados no Brasil e no mundo. Neles, a observação do estado inicial da equipe e os estágios de formação de times são algumas das ferramentas aprendidas que, posteriormente, serão utilizadas na prática.

A primeira, realizada aconselhadamente com princípios de honestidade, chama-se roda de competências e permite a compreensão do perfil do grupo. Nesta roda, feita individualmente, cada pessoa preenche (sim, com papel e caneta) seu índice (de 0 a 10) em todas as competências analisadas, que são fundamentais para o bom desempenho do time.

Já na formação do time, são aprendidas quais as questões que devem ser trabalhadas em um determinado estágio (formação, conflito, normalização, desempenho, suspensão/término). Por exemplo, no estágio conflito, é momento de encorajar a interdependência entre elementos do time e permitir desacordos produtivos. Já no estágio desempenho, será necessário desafiar o pensamento do time e também propor metas mais desafiadoras.

A execução de todos estes estágios pode durar semanas, dias, horas ou, até mesmo, poucos minutos. Depende, é claro, do coach.

Mas para que melhorar a performance do time? Porque time ideal não existe! Cada um tem seus pontos fortes, que precisam ser extremamente explorados, e pontos fracos, que precisam ser emergencialmente minimizados. E também, porque no multifatorial desempenho esportivo, tudo que puder ser feito para aperfeiçoamento da sua equipe pode lhe proporcionar a esperada vantagem competitiva.

Vocês devem estar se perguntando se eu tenho formação em coaching! A resposta: Não, mas está no meu planejamento de carreira.

No entanto, tive uma grande oportunidade no final do ano de 2010 com o Executive Coach (do mundo corporativo) Rogério M. Z. de Caro. Ser capacitado por ele foi um privilégio e um imenso aprendizado.
Se já tenho um caso de sucesso?

Ainda como técnico do Sub-12, foi definido com o time os cinco grandes pontos fracos:

Três atletas inteligentes para o jogo e habilidosos que discutiam entre si e apontavam erros uns dos outros ao invés de coletivamente tentarem recuperar a bola;

Um atleta importantíssimo que se tornava violento e nervoso quando estava perdendo;

Dois líderes com dificuldade de comunicação;

Fazer com que os suplentes, ainda crianças, não ficassem tristes por jogarem menos;

Dois atletas que tinham medo de errar, logo, eram muito inseguros.

Ferramentas em mãos, várias conversas com meu coach e transferência prática em minha equipe com o auxílio do treinador adjunto.

Em jogos com grandes clubes do futebol paulista, a equipe fez belíssimas apresentações (com exceção do jogo em que o atleta nervoso ofendeu o árbitro) e perdeu na semifinal da competição para o Palmeiras por 1 a 0 com um gol de bola parada, no ângulo.

Continuei sem saber qual a porcentagem de comprometimento dos meus jogadores, o quanto eles se superaram ao enfrentar o campeão paulista do ano anterior (Ponte Preta), ou então, em que nível estavam tranquilos para resolverem os problemas do jogo. Porém, descobri que o Team Coaching faz gols!

Para quem tem me acompanhado com frequência: o espetáculo foi cobrado.

Até a próxima semana e obrigado pelos contatos feitos por e-mail.

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br  

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No fio da navalha

Saudações a todos!

Grandes resultados, grandes conquistas, ter sucesso, ser destaque, exigem, além de muito trabalho, muita dedicação, muito esforço, muito suor, correr riscos e ir sempre ao limite. Todos gostam dos louros, das medalhas e dos holofotes, mas poucos estão dispostos a realmente ir ao limite para obter esses resultados.

Nas palestras que faço exemplifico sempre esta realidade e pergunto se alguém já viu o Usain Bolt subir no pódio, pegar a medalha, ouvir o hino jamaicano, comemorar bastante e só depois dessa festa toda, alinhar e correr os 100 metros livres. Claro que não, né?

Ele até brinca um pouco antes da prova, mas em seguida se concentra, alinha, ouve o tiro de largada, corre muito, se esforça, vai ao limite, tem o risco de cair, ter uma distensão, mas só depois da prova, de todo esse esforço, do resultado atingido, ele pega sua merecida medalha.

A Fórmula 1 também tem exemplos emblemáticos desta realidade. Vettel, Alonso e Hamilton são sempre os destaques, estão sempre em evidência, são campeões mundiais. E esses resultados são explicados facilmente. Eles são sempre os que vão ao limite máximo, fazem o possível do impossível. Ou seja, andam sempre no fio da navalha. Quem acompanha os treinos da F-1 sabe que para chegar ao limite é necessário muito trabalho. Eles dão várias voltas, saem da pista, acham os atalhos do circuito, avaliam o melhor ajuste para o carro, etc. Conhecem profundamente o que fazem e com isso encontram a melhor forma de fazer o seu trabalho. Empregam muito esforço e com isso chegam ao limite.

Os outros pilotos estão lá, andando rápido, mas nem sempre conhecem tudo sobre seu trabalho, nem sempre se esforçam ao máximo, e por isso não chegam ao limite: ficam no meio do pelotão, sem o destaque que só os campeões têm.

Será que se a nossa seleção, ao invés de se encolher na prorrogação contra o Paraguai e chutar apenas uma bola ao gol, tivesse ido ao limite, tivesse continuado em cima, chutando em gol, o resultado seria outro? Eu creio que sim e obviamente seríamos recompensados pelo esforço e por ter ido ao limite. Se não tivesse, mesmo assim, tido sucesso, ficaria ao menos o sentimento de “fizemos o possível”. Mas isso é passado e ninguém pode ter certeza do que aconteceria de fato.

No mundo coorporativo, esta realidade não é diferente. Os profissionais que têm destaque, aqueles profissionais que brilham e alcançam o sucesso almejado por todos, são aqueles que se esforçam mais, que conhecem detalhadamente seu trabalho e que investem seu tempo de maneira útil no sentido de fazer sempre o possível do impossível, ou seja, quando alguém diz que “não vai dar”, eles vão lá e demonstram com esforço que dá.

Com a combinação de conhecimento do trabalho e esforço verdadeiro (não apenas para mostrar ao chefe ou aos pares), esses profissionais chegam ao limite e então saboreiam o sucesso tão desejado por todos. O sabor da vitória/realização é o alimento dos “diferentes”.

E você, sabe se está preparado para chegar ao seu limite? As perguntas abaixo ajudarão a responder essa questão:

– Você conhece detalhadamente seu trabalho?

– Sabe como fazer da melhor forma?

– Tem se esforçado para atingir pelo menos a média da equipe?

– Tem feito mais do que lhe é pedido?

Se respondeu “sim” para as perguntas acima, você está no caminho certo e mais próximo das medalhas. Se respondeu “não’, comece a correr, pois as medalhas estão bem longe de você.

Para você que respondeu “sim” para as questões acima, fique atento a detalhes tênues, fundamentais para chegar ao limite e considerar-se um vitorioso:

– Você consegue ser bom, ajudar aos outros, cooperar com a equipe, com seus subordinados, pares, ou superiores, sem ser “bobo”, prejudicar suas atividades e sem comprometer seus objetivos?

– Consegue expor suas opiniões, ser enérgico quando é necessário, defender suas crenças e agregar o grupo a você, sem ser estúpido, mal educado e desagregador?

– Consegue pedir e ser atendido, sem ter que mandar?

– Sabe pedir desculpas quando percebe sua falha?

Se as questões acima também foram respondidas com “sim”, parabéns! Suba ao pódio, pegue sua medalha, estoure o champanhe e comemore muito, pois você conhece seu trabalho, se esforça, tem discernimento para resolver questões tênues e sabe como atingir o limite máximo de desempenho e resultados. Se faltou somente esta parte, não desanime, continue correndo que em breve chegará ao seu limite e alcançará as medalhas.

É isto, pessoal! Agora, intervalo, vamos aos vestiários e nos vemos na próxima semana.

Abraços a todos!

Para interagir com o autor: ctegon@universidadedofutebol.com.br

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O futebol para promoção da saúde das mulheres

Na última semana terminei o texto da coluna com uma questão: “Será possível o futebol ser utilizado por mulheres como manutenção da boa forma e de parâmetros relacionados à saúde?”.

Como prometido, aí vem a resposta!

Estudo realizado na Universidade de Copenhagen-Dinamarca mostra efeitos positivos da prática de futebol em mulheres e alguns deles são mais benéficos do que a prática de corrida.

Durante 16 meses, 25 mulheres de 19 a 47 anos foram divididas de forma homogênea em três grupos. Um grupo jogou futebol (GF=7), outro praticou corrida (GR=8), e outro não fez nada (GC=7). O treino de corrida constou de duas sessões de uma hora por semana com intensidade próxima a 80% da frequência cardíaca máxima e o treino de futebol contou de uma hora de prática, duas vezes por semana com jogos de 4 x 4 ou 5 x 5, também com intensidade próxima de 80%. Nos momentos 0, 4 e 16 meses do período de intervenção as voluntárias realizaram as seguintes avaliações: mensuração da composição corporal (absorbância de raio x de dupla energia – DEXA), ecocardiografia, avaliação da força muscular, equilíbrio, tempo de reação e amplitude do movimento do tronco, frequência cardíaca, pressão arterial e glicemia de repouso, teste máximo e submáximo em esteira ergométrica e teste de velocidade.

Para o GF a densidade mineral óssea de corpo inteiro foi de 2,3±0,4 e 1,3±0,3% superior (P<0,05) após 16 meses em relação a 4 e 0 meses, respectivamente, porém sem diferenças entre GR e GC. As mudanças observadas na densidade mineral óssea em GF foram maiores (p<0.05) do que no GR. Para GF, a densidade mineral óssea das pernas foi 2,87±0,12 kg após 16 meses, o que não foi significativamente diferente entre 4 e 0 meses (2,76±0,11 e 2,80±0,12 kg). A densidade mineral óssea da perna aumentou de 0 a 16 meses no GR, mas nenhuma mudança foi observada na densidade de corpo inteiro dos 0 aos 16 meses nos grupos GR e GC.

A massa de gordura total não foi diferente em nenhum grupo entre 16 e 0 meses, contudo o percentual de gordura ginóide foi menor no GF (p<0.05) após 16 meses (41,6±1,7%) em comparação com 0 meses (44,1%±1,9). Para GF a massa corporal magra total foi de 1,0 e 1,7 kg maior (p<0.05) após 16 e 4 meses, respectivamente, em comparação com 0 meses. Nenhuma mudança foi observada na massa magra total de GR nem de GC, porém as mudanças observadas em GF foram maiores (p<0.05) do que em CG.

Nos parâmetros de força dinâmica, o GF teve o pico de força do quadríceps durante ações concêntricas rápidas (240º/s) 17% maior após 16 do que aos 4 meses de treinamento (p<0.05) e 11% maior nas ações lentas após os 16 meses em comparação com os valores basais. Para o GR e GC o pico de força do quadríceps não diferiu nas ações lentas (concêntricas e excêntricas) entre 16 e 0 meses. Já para as ações rápidas, as ações concêntricas de RG foi maior (p<0.05) após 16 meses em comparação com 4 e 0 meses (20% e 16%, respectivamente). Para os isquiotibiais, o GF apresentou pico de força maior (p<0.05) durante contrações concêntricas rápidas após 16 meses do que aos 4 e 0 meses (14% e 24%, respectivamente), assim como as ações excêntricas rápidas foram 21% maior após 16 meses do que o mês 0 (p<0.05).

Para GR e GC o pico de força não foi diferente entre os meses 16 e 0 para ações concêntricas de isquiotibiais. As ações excêntricas rápidas (240º/s) foram maiores para GR após 16 meses em comparação com 4 e 0 (14% e 12%, respectivamente; p<0.05). Nenhuma diferença significativa foi observada na força máxima de isquiotibiais entre os 16 meses comparado ao mês 0 nos grupos RG e CG. Aos 16 meses houve mudanças na força máxima excêntrica do quadríceps e de isquiotibiais durante os movimentos rápidos no GF maiores do que em GR (p<0.05) sendo que todas as alterações observadas em GF foram maiores do que para GC (p<0.05).

Quanto à máxima contração isométrica do quadríceps o GF teve aumento de 12% após 16 meses em comparação ao mês 0 (p<0.05). Para GF a taxa de desenvolvimento de força (TDF) máxima do quadríceps foi 35% maior (p<0.05) após 16 meses em comparação com o mês 0, enquanto a TDF do quadríceps aos 30, 50, 100 e 200ms não sofreram alterações em nenhum dos grupos. Para GF e GR o impulso contrátil do quadríceps em 30 e 50ms foi maior (p<0.05) após 16 meses do que aos 4 e 0 meses. O impulso no GF aos 100ms foi maior (p<0.05) após 16 meses em comparação com 4 e 0 meses em (39% e 41%) e o GR depois de 16 meses em comparação com 4 meses (43%). A contração isométrica máxima de isquiotibiais foi 23% maior (p<0.05) no GF após 16 meses em comparação com o mês 0. Ao comparar 16 meses com 4 e 0, o pico da TDF de isquiotibiais foi 51% e 29%; p<0.05 maior em GF do que nos outros grupos. Nenhuma diferença significativa foi observada na TDF máxima em ações rápidas de isquiotibiais entre 16 e 0 meses nem em RG nem em GC.

Quanto às respostas reflexas, o GF teve o tempo de parada no teste de carga de tronco 27% e 19% menor (p<0.05) após 16 e 4 meses, respectivamente, em comparação com 0 meses, e melhorias na distância de deslocamento do tronco correspondentes a 42% e 28%, respectivamente. Em RG o tempo de parada e a distância percorrida se reduziram em 14% e 29% (p<0.05) após 16 meses em comparação com o mês 0. As alterações observadas em GF foram maiores (p<0.05) do que GC, sem alterações ao longo do tempo para GC.

No teste do equilíbrio em uma perna, o número de quedas durante a posição estática unilateral foi reduzido de 42% e 32% (p<0.05) para a perna direita e 53% e 38% (p<0.05) para a perna esquerda no GF depois de 16 e 4 meses de treinamento respectivamente, em comparação com os valores basais. No GR o número de quedas após 16 meses foi de 38% e 42% menor (p<0.05) para a perna direita e esquerda, respectivamente, sendo que as alterações observadas para GF e GR foram maiores (p<0.05) do que em CG, sem mudanças ao longo do tempo para CG.

Nas variáveis ecocardiográficas, o GC reduziu a velocidade diastólica e o tempo de relaxamento total (0= 10,7±1,8ms; 4meses=8,7±1,8m/s e 16meses=8,3±1,5m/s). O GR melhorou somente a velocidade do pico sistólico (9,1±0,6; 11,0±0,5 e 10,8±0,5m/s aos 0, 4 e 16 meses, respectivamente) enquanto que o GF melhorou aspectos da morfologia e da função cardíaca de quase todas as variáveis, tanto na sístole quanto na diástole. Não houve diferença significante nas variáveis de pressão arterial em nenhum dos grupos.

Nas variáveis cardiorrespiratórias, o consumo máximo de oxigênio foi 14% e 16% maior no GF depois de 16 e 4 meses, respectivamente (p<0.05) em comparação com 0 meses. Os valores correspondentes para RG foram de 13% e 9%. A freqüência cardíaca de repouso foi reduzida em 8 e 4 bat/min (p<0.05) após 16 e 4 meses, respectivamente com mudanças no GR de 7 e 6 bat/min (p<0.05), respectivamente. As alterações observadas para GF e GR foram maiores (p<0.05) do que em GC sem mudanças para GC ao longo do tempo.

Para GF, o desempenho no teste incremental foi 26% e 22% melhor (p<0.05) após 16 e 4 meses, respectivamente, em comparação com o mês 0. O grupo GR teve mudanças correspondentes de 27% e 22%, respectivamente. Além disso, o desempenho do Yo-Yo IE2 foi melhor (p<0.05) após 16 e 4 meses, respectivamente do que ao mês 0 para GF (24% e 20%) e 29% e 27% para GR, porém sem alterações para o GC.

No tiro de 30m não houve diferença em função do tempo para nenhum dos grupos, porém as mudanças observadas para GF e GR na performance da corrida foram maiores (p<0.05) do que em CG.

O estudo conclui que a corrida é melhor do que não fazer nada, mas que o futebol recreativo praticado em longo prazo é capaz de surtir maiores efeitos em variáveis importantes para a manutenção da saúde e qualidade de vida. Os dados indicaram melhoras de maior magnitude na função muscular, na resposta reflexa, no equilíbrio e na densidade m
ineral óssea do GF, o que contribui para diminuir o risco de quedas e fraturas. Além disso, o treinamento de futebol foi capaz de aumentar o tamanho das câmaras cardíacas, melhorar a função sistólica e diastólica do ventrículo esquerdo. Essas adaptações de longo prazo podem ter uma influência favorável sobre a saúde cardiovascular e o desempenho físico das mulheres e pode ser utilizado como forma de prevenção de doenças cônico degenerativas não transmissíveis.

Portanto, caro leitor, não estranhe se daqui alguns anos você vir nas praças de sua cidade algumas senhoras jogando futebol e não vá pensar que alguma delas virou ladra se disser pra você que tomou uma caneta…

Obs.: Se alguém quiser o artigo na íntegra para maiores detalhes, é só me pedir por e-mail que o mesmo será encaminhado. Até a próxima quinta-feira!

Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br  

Referência bibliográfica

Krustrup P et. al. Long-term musculoskeletal and cardiac health effects of recreational football and running for premenopausal women. Scand J Med Sci Sports. 2010 Apr;20 Suppl 1:58-71.

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Segundo conto

Ela saiu da água com a naturalidade de uma sereia habituada ao livre trânsito entre o mar e a terra. No caminho até o guarda-sol azul das velhas senhoras, foi derrubando, um a um, os queixos dos craques do Jura Que Sabe. Com elas riu, tirou fotos, aceitou a caipirinha e sentou-se na cadeira de pano. Deviam ser suas tias as tais senhoras. Ficou pouco por ali. Inquieta, levantou-se e caminhou, como em câmera lenta, na direção de Guimba. A meio metro do craque, Dolores – era o seu nome – pediu:

– Tio, o senhor tem fogo? – ela segurava o cigarro na mão direita.

Tio! Foi como matá-lo. Tio! Um golpe certeiro, xeque-mate, a classificação final.

Foi a única vez que Guimba lamentou ter largado o vício. Não poderia servi-la, mas André, o antropólogo, sim. O jovem barbudo correu a acender-lhe o cigarro. Dolores agradeceu com um sorriso e voltou às tias, dando-lhes as costas.

Por alguns segundos ouviu-se um profundo silêncio de contemplação. Como se tivessem combinado, os craques respiraram fundo e retomaram, aos poucos, o fôlego e a fala. O assunto voltou a ser o jogo. Vieram a Suarão, ali no litoral Sul de São Paulo, para jogar contra uma equipe local. Apanharam no campo e fora dele. Os adversários eram violentos e o juiz mal intencionado. Depois da partida foram curar as dores da derrota na praia. Bramas e caipirinhas tinham poder de bálsamo. Dolores surgiu como um colírio inesperado, mas apenas para os olhos. Só que André não pensava assim. Os craques duvidando dele, diziam em tom de chacota, “vai lá, vai lá”. E ele foi. Aproximou-se tímido, sorriso amarelo, as tias olhando. E porque não sabia o que dizer, falou:

– Me dá um autógrafo?

E as tias riram, Dolores riu, as senhoras disseram “que gracinha!”, e isso animou André, que repetiu a pergunta.

– Me dá um autógrafo?

– Onde? – perguntou Dolores.

– Na minha mão.

E ela deu, escreveu um D bem grande seguido de seis letras pequenininhas. Por alguns segundos Dolores teve a mão de André entre as suas e ele pôde sentir-lhe o calor e a maciez. Adiou tirar a mão, esboçou um sorriso e um obrigado e voltou ao grupo, cabeça erguida, orgulhoso. Curiosos, os amigos serviram-lhe cerveja, queriam que ele contasse tudo, e André assim, assim, retardando a descrição, fazendo-se de difícil, curtindo o momento de glória!

– A boca, vocês viram? – dizia André. – Os lábios, o que é aquilo? Os olhinhos apertados, o cabelo caindo em cascatas pelos ombros.

– Volta lá, volta lá – diziam todos.

E ele foi. Foi e a convidou para tomar um picolé. As tias fizeram que sim com a cabeça e Dolores aceitou. E saíram os jovens pela praia, arrastando os pés pela areia. Pediram de uva. O sol era forte e o picolé pingou na mãozinha de Dolores. André pediu para limpar e o fez com a boca. Dolores riu. E assim eles andaram pela praia, os amigos acompanhando de longe. Foi quando um rapaz chegou onde estavam as tias e perguntou por ela. O moço era grande, do tipo sarado, um atleta. Disseram-lhe que Dolores tinha ido buscar um picolé, estava quente, que ele fosse dar uma volta, ela já voltava. O moço era calado e grande, e disse que preferia esperar ali.

– Ele vai matar o André – disse o Zoca.

– Se ele engrossar, a gente vai lá – falou o Guimba -, eu bato em cima e você pega por baixo – disse, dirigindo-se ao Zoca.

– Não sei, não – falou o Zoca -, o cara é muito grande.

– É grande mas não é dois. A gente pega ele se ele engrossar com o André – completou o Pé de Valsa, animado pelas bramas.

Daí a pouco chegou o casal.

– Oi, Du, esse é o André, um amigo que conheci aqui na praia. Ele me comprou um picolé.

E Dolores dizia isso como se fosse a coisa mais natural do mundo. André, pela cor do rosto, não parecia achar isso tão natural assim. Foi quando o moço resolveu levantar. E não parava mais de crescer. Olhou André lá de cima e disse:

– Faz o seguinte André, me busca um desse, de uva. Quanto é?

– Nada, não é nada – disse o nosso antropólogo. – Eu busco, eu busco.

E André ainda pôde ver o moço enlaçando a cintura de Dolores, que se entregava ao beijo com ardor.

Do lado do Jura Que Sabe a tensão se estabelecera. Eles eram muitos. Por mais que o moço fosse grande, se tivessem que defender André, o torcedor mais fervoroso do esquadrão, embora não jogasse nada, o fariam destemidamente.

André voltou correndo, para não dar tempo do picolé derreter. Tremia de apreensão quando entregou o sorvete ao moço. O pior de tudo era a calma do rapaz. Ele bem poderia ter visto André limpar o pingo do picolé com a boca.

Mas não, o moço não se alterou. Com Dolores enganchada em seu pescoço disse, simplesmente:

– Obrigado. Pode ir.

E André foi, um tanto cabisbaixo, em direção aos amigos. Chegou, sentou-se, pegou uma brama e bebeu direto da garrafa. Os amigos, indignados, comentavam, “Ele vai deixar barato?”, “Não vai reagir?”, “É muita humilhação, seria melhor apanhar”, “Foi tratado como menino de recados”. André tomava sua cerveja indiferente aos comentários. No guarda-sol das tias, Dolores, enganchada no pescoço do grandão, desfilava sua graça.

Guimba não aguentou. Sentou-se ao lado do jovem antropólogo, prestou solidariedade e perguntou se ele queria ajuda. Ele, Guimba, caso André quisesse, iria ao espaço das tias e chamaria o grandão às falas. Aquilo não se faz, dizia ele, e tamanho não é documento. Um membro do Jura Que Sabe não se curva a humilhações.

Estranha era a calma de André, a tal ponto que irritou Guimba. Quando o craque do Jura Que Sabe já se levantava para ir embora, André abriu lentamente sua mão direita e mostrou-a a Guimba. Lia-se, abaixo de Dolores, escrito em números pequenininhos e delicados, o celular da sereia.

Para interagir com o autor: jbfreire@universidadedofutebol.com.br