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Lealdade

Diz-se que o torcedor de futebol é dos consumidores mais leais a uma marca se comparado a outras plataformas de consumo. Esse fato pode ser evidenciado ao observarmos que muitos clubes possuem representatividade global, com marcas mundialmente conhecidas, sendo que tanto seu faturamento quanto o número de funcionários o enquadraria em uma classificação de organização de médio porte e não como multinacional.

Sue Bridgewater*, no livro “Football Brands”, cita Reichheld (1997) ao analisar o que seria a evolução de um cliente em relação à marca de um clube de futebol ao passar por estágios de valor crescente ao longo do tempo:

- Retorno inicial (venda de ingressos);

- Aumento do volume da atividade (frequência mais regular de consumo; compra de réplica de camisa oficial ou consumo de produtos em promoção);

- Custos de marketing reduzidos (compra de ingressos para a temporada, com custos de comunicação mais baixos; envolvimento em atividades do clube de forma espontânea);

- Indicações (o cliente traz e pode influenciar positivamente outros clientes);

- Mais valia (indivíduos com mais recursos podem se envolver em patrocínio, eventos e ações corporativas e até mesmo investir no clube)

Essa classificação e evolução sistemática do consumo por parte dos torcedores em relação ao clube chamou minha atenção por perceber que, no Brasil, trabalhamos a partir de um conceito pouco customizado, ou seja, tratamos todos os torcedores de maneira idêntica e, consequentemente, subjugamos todo o potencial que alguns indivíduos podem ter em relação à marca do clube.

A gestão das informações também é falha. Desconheço clubes que alimentem um banco de dados com informações fidedignas sobre os movimentos de consumo de seus torcedores, contemplando uma visão geral sobre estes (ou outros quaisquer) fatores levantados e propostos por Reichheld.

As ferramentas para controle e acompanhamento dos consumidores são fundamentais para otimizar recursos e potencializar a relação de troca com os torcedores. Este é apenas mais um exemplo daquilo que muitos especialistas da área de marketing e gestão do esporte percebem como uma lacuna ainda mal explorada nos clubes brasileiros, havendo enormes possibilidades de avanço com a finalidade de se incrementar novas e duradouras receitas.

*BRIDGEWATER, Sue. (2010). Football Brands. Hampshire: Marwick Business School.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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Trilogia dos dólares

A “Trilogia dos dólares” é conhecida como a trinca de filmes que Sergio Leone, diretor italiano, produziu em sequência entre 1960 e 1970.

Por um punhado de dólares, Por uns dólares a mais e Três homens em conflito são os títulos que tornaram mundialmente famosos o gênero western spaghetti e o ator Clint Eastwood.

No primeiro filme, a personagem vivida por Eastwood, um misterioso e desconhecido pistoleiro, chega a um lugarejo dominado por dois grupos rivais, que disputam o contrabando local.

Assim, ele vê uma excelente oportunidade de se envolver com os dois lados, e ganhar dinheiro dos dois lados.

Já no segundo filme, Eastwood e Lee Van Cleef interpretam caçadores de recompensas, na disputa para capturar o bandido mais procurado e perigoso da região.

O dilema está entre eliminar um ao outro primeiro, ou unir forças, capturar o fugitivo e dividir a recompensa.

No terceiro filme – e o melhor – também conhecido como O bom, o mau e o feio, três errantes bandoleiros vão em busca de um tesouro perdido, em que cada um sabe apenas uma parte da localização exata. Eis que se unem, mas não estão dispostos a dividir o tesouro entre si.

Nos três filmes se percebe que os personagens são quase amorais, e que o único valor que enxergam à frente é o do dinheiro.

O futebol mundial e brasileiro, cada qual à sua forma e proporção, tem observado um período maquiavélico em que os fins justificam os meios.

A realização da Copa 2014 e as obras atrasadas, a falta de apoio da CBF ao futebol feminino, a desintegração do Clube dos 13 a partir do fracasso da renegociação dos direitos de TV, a falta de visão do futebol como efetivo meio de transformação social e educacional, a postura sublime dos dirigentes esportivos, perpetuados no poder, a falta de vibração e envolvimento legítimos e comprometidos dos jogadores com a seleção brasileira.

Tenho a impressão que estamos no meio de um cenário de Sergio Leone, numa trilogia de futebol spaghetti.

Ouso indicar três roteiros:

Um agente de jogadores passa a representar um grande treinador, que chega a um grande clube. Ele vê a chance de ganhar dinheiro dos dois lados, ao oferecer jogadores ao treinador representado por ele mesmo. Afinal, quem paga a conta é o clube.

Um jogador e um diretor se odeiam, e um quer que o outro saia do clube. O problema é que dependem um do outro para que o clube possa conquistar vaga na Libertadores. Unir forças ou eliminar a força contrária?

Um governante, um presidente de clube e um dirigente estão às voltas com a construção de um estádio para a Copa. Cada um tem apenas parte da solução do problema. Acabam se unindo, mas não querem dividir os “restos a pagar” oferecidos por uma empreiteira.

O futebol também daria bons filmes.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br  

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O treino pautado na complexidade: trazendo o jogo para o treino

A preparação desportiva por muito tempo teve como objetivo principal o desenvolvimento físico e técnico dos atletas. Esse fato ocorreu, pois o futebol importou e incorporou as teorias provenientes do atletismo e do fisiculturismo.

Com o passar dos anos, as teorias e os paradigmas que norteavam o treino foram se modificando.

Hoje, estamos em pleno processo de integração das componentes do jogo de futebol. A complexidade é o paradigma emergente, porém não é trivial criarmos uma sessão de treino que integre e desenvolva as capacidades física/técnica/tática/mental dos jogadores de forma ideal.

Antes mesmo de pensar a sessão de treino é preciso olharmos para o jogo e fazer uma breve análise de como é nossa capacidade de entendimento do mesmo, pois a forma como enxergamos o jogo reflete diretamente na nossa concepção de treino. Logo, para podermos discutir e criar treinos sobre uma nova perspectiva, é preciso olharmos para o jogo através dos óculos da complexidade.

Com esses óculos podemos observar que o jogo é físico, é técnico, é tático e é mental de forma integrada. A partir dessa análise podemos iniciar o pensamento sobre o treino pautado na complexidade.

Se o jogo é físico, é técnico, é tático e é mental, o treino precisa ser da mesma forma. Se isso não ocorrer, estamos indo contra a especificidade da modalidade. O treino sobre a perspectiva da complexidade deve gerar adaptações específicas no jogar da equipe e não apenas no correr, passar ou ocupar um espaço dos jogadores.

Mas como fazer isso? Trazendo o jogo para o treino!

A resposta parece óbvia, mas carrega uma infinidade de conceitos e conteúdos. Trazer o jogo para o treino significa submeter os jogadores as imposições do jogo, porém de maneira orientada e sistematizada pela comissão técnica.

Trazer o jogo para o treino não significa ainda criar vários mini-jogos ou passar apenas coletivos para a equipe.

Trazer o jogo para o treino é criar um ambiente de desenvolvimento pautado no jogo e para o jogo. Neste ambiente, o DNA do futebol estará presente.

Este DNA nos mostra que o jogo é imprevisível, que seus acontecimentos são aleatórios, que há sempre uma disputa entre duas equipes, que há um campo e uma bola…

Porém, não basta apenas ter o DNA do jogo, senão ficaremos na “metodologia do jogo pelo jogo”. Precisamos ir além e criar regras que potencialize determinados comportamentos que desejamos para a equipe. Por exemplo, se quero trabalhar a manutenção da posse de bola, devo criar regras em que a equipe seja beneficiada quando fica com a posse de bola, ou seja, a equipe marca ponto quando fica com a bola por um determinado tempo ou quando trocar n passes.

Esse tipo de regra não descaracteriza o jogo e cria uma situação onde um determinado comportamento é estimulado.

Cada atividade com sua regra traz uma situação-problema para os jogadores que precisam criar estratégias para resolver cada uma delas. Essa capacidade de resolução de problema deve ser estimulada treino a treino; entretanto, para que isso ocorra de forma gradual, é preciso organizar um processo em que cada atividade terá ligação com as demais e trará sempre uma nova informação para cada um dos jogadores, criando assim um ambiente de aprendizado constante.

Criar as atividades e organizá-las processualmente não é nada trivial, entretanto é um desafio que se faz necessário nesta metodologia pautada na complexidade.

Por conta da “complexidade” do assunto, continuaremos discutindo essa temática nas próximas colunas!

Até a próxima!

Para interagir com o autor: bruno@universidadedofutebol.com.br

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O currículo de formação do atleta – parte III

É consenso que o jogar de uma equipe é construído no dia-a-dia de treinamentos, porém, como construí-lo já não compreende uma opinião comum de todos os profissionais do futebol. No processo de ensino-aprendizagem, os treinamentos analítico, integrado ou sob uma perspectiva sistêmica dividem seus seguidores de acordo com o olhar que cada um tem sobre a modalidade.

Pensando o futebol em sua totalidade e os treinamentos em função do jogo que se quer jogar, o currículo de formação já apresentado em colunas anteriores divide cada jogo (treino) em quatro diferentes classificações de acordo com a lógica do jogo de futebol.

A primeira, denominada jogo conceitual, apresenta dimensões distintas das oficiais, número de jogadores (ou até mesmo de equipes) diferentes e alvos em maior, menor ou igual quantidade em relação ao futebol formal. A manipulação destas variáveis, além das regras do jogo, permite a criação de infinitas atividades para aprendizagem, aperfeiçoamento ou domínio de determinado conceito.

As figuras abaixo ilustram alguns exemplos dos elementos que constituem os jogos conceituais:

Diversas regras podem ser utilizadas nos jogos acima, entre elas: tempo para recuperar a posse, tempo para ultrapassar o meio-campo, tempo para finalizar, limitação de toques, passes errados, drible obrigatório, utilização de perna não dominante, não devolver para o mesmo jogador que fez o último passe, quantidade mínima de passes para finalizar, quantidade máxima de toques para finalizar, setor de recuperação da posse, quantidade mínima de jogadores atrás da linha da bola, defesa completa do goleiro, etc.

Para todas as regras e pontuações que compuserem um determinado jogo, logo, para cada jogo, uma nova lógica interna existirá e que poderá estar muito próxima ou muito distante da lógica do jogo de futebol.

A segunda classificação se refere aos jogos conceituais em ambiente específico, com a mesma possibilidade de intervenções, respeitando o espaço formal de jogo. Neles, mantém-se também a estrutura de alvo a atacar e a defender como podem ser vistas nas figuras abaixo:

Assim como na classificação anterior, as regras do jogo e as pontuações definirão o quanto o jogo criado se aproxima do futebol.

O terceiro tipo de jogo denomina-se jogo específico e assemelha-se ao conhecido “coletivo apronto”. Nestes jogos, com a presença das regras oficiais, observa-se a aplicação do Modelo de Jogo da equipe e a transferência das aprendizagens dos dois tipos de jogos anteriores. Há possibilidade de alterações de caráter estratégico e também de treinos com superioridade ou inferioridade numérica.

A última classificação abrange os jogos contextuais, que são jogos específicos pensados em função das características de jogo do próximo adversário. A plataforma, os comportamentos ofensivos, defensivos, de transições e as características dos jogadores em cada posição tentam ser simulados pela equipe reserva com o objetivo de se aproximar da realidade da competição.

Então, a partir dos quatro tipos de jogos descritos, quais fatores considerar na elaboração do planejamento de treinos de uma equipe? São eles:

– Faixa etária
– Dia da semana
– Nível de aplicação do Modelo de Jogo pretendido
– Competição
– Objetivos do clube

Não existe receita pronta da quantidade de cada tipo de jogo e as melhores combinações para determinada equipe. Esta trabalhosa tarefa deve ser coerentemente definida por todos os membros da comissão técnica a fim de que as demandas técnicas, táticas, físicas e emocionais da competição sejam suportadas e para que as respostas coletivas ideais de cada problema do jogo sejam aplicadas.

Por exemplo, quem trabalha com categorias de transição (sub-11, 12 e 13) deverá perceber qual tipo de jogo melhor se adequa à realidade da sua equipe. Em outra situação, numa categoria sub-20 na antevéspera de uma partida, deverá ser pensado qual o tipo de jogo e por quanto tempo será aplicado.

Outro exemplo, de acordo com o Modelo de Jogo pretendido numa equipe sub-17, em determinada fase do jogo, montar o treino que será mais eficaz para evolução do jogar da equipe. Há também a definição da
atividade de acordo com a situação na competição e, ainda, o que o clube espera do elenco em questão.

Vale ressaltar que a correta distribuição destes jogos num processo de formação é somente uma das inúmeras variáveis que podem trazer resultado (lucro e sustentabilidade) em longo prazo para um clube. Como parte do currículo, os diferentes tipos de jogos estão sendo aplicados em cada categoria do Paulínia FC, considerando os fatores acima identificados.

Em colunas futuras, exemplos de jogos conceituais e jogos conceituais em ambiente específico serão apresentados para propor discussões teórico-práticas acerca do treinamento em futebol.

Treinamento este que, atualmente, é feito correndo em volta do campo, saltando, driblando cones, finalizando sem adversários para aperfeiçoar o gesto técnico; ou então, por meio de jogos reduzidos, de alta intensidade, em que o desenvolvimento da vertente física é a grande preocupação; e até mesmo, através de jogos que levem a performance da equipe ao utópico Modelo de Jogo da comissão técnica. Depende do olhar que cada um tem sobre a vida…

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

 

“Como Ensinar Futebol”: conheça o novo curso on-line oferecido pela Universidade do Futebol

Leia mais:
O currículo de formação do atleta de futebol – parte I
O currículo de formação do atleta de futebol – parte II

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Só se chega ao topo com uma base bem feita

Saudações a todos!

Vocês lembram que na coluna da semana passada citei o jogador de vôlei Giovane?

Coincidentemente, estava vendo o programa “Encontro de Craques”, no canal Bandsports, e quem estava lá? O próprio Giovane! No programa, ele falava de um assunto muito interessante e que está em total evidência no mundo coorporativo: a base e a formação no início de carreira.

O Sesi, time no qual ele é técnico, tem um projeto revolucionário e que com certeza dará muitos resultados para o esporte brasileiro. O clube elaborou uma metodologia de trabalho que é aplicada em todas as modalidades esportivas, como vôlei, basquete, judô e natação, entre outras. Os garotos e garotas, de 12 e 13 anos, recebem informações básicas sobre o esporte que praticam, como teoria, conceito e história.

Além disso, recebem treinamentos técnicos de como jogar. Segundo o exemplo que ele deu sobre o vôlei, foi criada uma forma de como se deve receber uma bola, como se deve levantar (o jeito e a técnica de bater na bola), como se deve passar, etc. Como ele mesmo disse, “(…) não pregamos que essa forma seja única, seja a melhor do mundo, mas é a nossa forma, o nosso jeito”. Ou seja, existe uma crença, os garotos e garotas sabem o porquê estão fazendo aquilo, por que fazem daquela forma, têm a base de sua atividade, o que será fundamental para o seu futuro.

Aprendi, nas palestras que presenciei da Universidade do Futebol, que no esporte existem outros grandes exemplos de uma formação de base sólida e com resultados expressivos. Só para ficar em dois casos de sucesso na base, temos o Barcelona e o São Paulo, este último brilhantemente coordenado pelo Marcelo Lima.

Hoje, o mundo coorporativo está carente dessa formação de base e sofrendo as consequências nas posições de direção. Os jovens chegam às empresas e começam a fazer o que lhes é pedido sem ao menos saber por que estão fazendo e crescem assim. Passam de estagiários para auxiliares, depois analistas e chegam às posições de chefia sem ter tido uma base sólida. Sabem apertar o botão e extrair a informação, mas não sabem de onde vem essa informação, por que vem, para onde vai ou como vai.

Dou sempre o exemplo da luz elétrica para evidenciar essa falta de base. Os jovens apertam o interruptor e a luz acende; se você pergunta por que a luz acendeu, eles respondem: “porque apertei o botão”, e ficam bravos se falha, se a luz não acende. Simples, né? Mas a grande maioria deles não tem ideia de que para acender a luz, foi necessário ter uma represa, uma barragem, uma turbina, um estação de transmissão, torres de transmissão, subestações, distribuição comum, poste, instalação local e, claro, o interruptor.

Com o aquecimento do mercado e a falta de mão de obra qualificada, as empresas retomaram suas formações de base. Hoje, existem empresas com processos de estágios e trainees muito bem elaborados, consistentes e que com certeza trarão ganhos significativos para as coorporações, mas esses frutos serão colhidos em, no mínimo, cinco anos. No entanto, até este dia chegar, existem oportunidades para os que estão aí, mesmo sem ter vivenciado uma experiência de base de formação.

Se você está vivendo este momento, se está inserido nesta coluna, não perca sua chance: veja o que é necessário para suprir sua carência, descubra a razão pelaquel você faz uma determinda atividade, procure saber de onde ela vem, para onde vai e como pode contribuir para melhorar. Fazendo isto, você terá melhores resultados e poderá chegar ao topo de sua área com uma base sustentável.

É isto, pessoal. Agora, intervalo, vamos aos vestiários e nos vemos na próxima semana.

Abraços a todos!

Para interagir com o autor: ctegon@universidadedofutebol.com.br  

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A maturação sexual como divisor de águas no futebol feminino

Conforme o combinado, continuamos nossa proposta de discutir aspectos relacionados ao futebol feminino, apesar da tristeza de nossa seleção já estar fora da Copa do Mundo.

Mesmo assim, manifesto publicamente meus cumprimentos a todas as atletas e comissão pelo ótimo trabalho desenvolvido, pois sabemos de todas as limitações em relação à falta de apoio e de estrutura de nosso país.

Mas o assunto desta semana refere-se ao aspecto maturação.

Sabendo que o crescimento e desenvolvimento humanos seguem processos contínuos de transformações, uma pessoa que cumpra seu ciclo normal de vida percorrerá as seguintes fases: recém nascido, bebê, criança (primeira infância e segunda infâncias), pré-adolescência, adolescência, idade adulta e senescência.

No geral, aspectos relacionados à aquisição de gestos motores têm seus períodos ótimos de desenvolvimento antes da idade adulta, enquanto que alterações de composição corporal são normalmente decorrentes de hormônios produzidos a partir da puberdade.

Sendo assim, diferente dos meninos que saem da infância para adolescência com melhora de desempenho pelo aumento de testosterona, nas meninas a maturação pode ser um fator prejudicial.

Pelo fato do estrogênio (hormônio feminino) gerar acúmulo de gordura na região dos seios e do quadril, geralmente as meninas apresentam queda de rendimento nesta fase da vida, já que a gordura corporal é um tecido que pesa, ocupa espaço, porém não produz trabalho.

Isso significa que uma jogadora pré-puber, independente de sua capacidade técnica e de suas habilidades adquiridas, poderá ter seu desempenho futuro determinado por sua herança genética, pois quanto maior o acúmulo de gordura corporal pós puberdade, maior será o prejuízo em seu desempenho para o futebol.

Além disso, se contarmos que muitas meninas iniciam a vida sexual precocemente e passam a usar métodos contraceptivos que contribuem para maior retenção de líquido, alteração metabólica e maior acúmulo de gordura, temos mais um aditivo prejudicial ao rendimento esportivo.

Considerando, então, que as alterações advindas da puberdade são até certo ponto imprevisíveis, i.e., não há como estimarmos com acurácia o que irá acontecer exatamente com a estatura final, o tamanho dos seios ou a quantidade total de gordura que será acumulada em uma menina – esse é um problema longe de ser resolvido.

A única solução é deixar esse aspecto de lado e focar atenção no ensino correto dos gestos técnicos, desenvolver habilidades específicas da modalidade e, principalmente, massificar a prática para o maior número possível de meninas pré-púberes.

Desse modo, as garotas que geneticamente não sofrerem tantas transformações negativas para a prática do futebol poderão manter o desempenho e quem sabe um dia transformar a prática em carreira; e aquelas que, lamentavelmente, não se mantiverem competitivas, poderão utilizar a modalidade como lazer ou prática para manutenção de parâmetros de saúde, utilizando o futebol como meio de atividade física.

Mas será possível o futebol ser utilizado por mulheres como manutenção da boa forma e de parâmetros relacionados à saúde?

A resposta virá na próxima quinta!

Até lá.

Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br

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Um país sem memória

“Para todos os professores de História do Brasil, no seu trabalho anônimo de explicar as raízes de um país sem memória”. É nesta simples e impactante frase que Laurentino Gomes faz a dedicatória do livro 1822, que trata da época em que se proclamou a Independência do Brasil sob a regência de D. Pedro.

Se mudássemos algumas palavras do contexto e reproduzíssemos para a noção do futebol tupiniquim, teríamos um resultado muito semelhante. As ações de resgate histórico são muito pontuais e dispersas, diferente daquilo que percebemos em mercados mais maduros em termos de marketing esportivo e trabalho da marca dos clubes de futebol.

Quem vai a Barcelona fatalmente reservará um período do passeio para conhecer o Camp Nou e o memorial do “Més que un Club”. Para os amantes ou não da modalidade, fazendo parte da grande maioria dos roteiros turísticos da cidade.

Este é apenas um exemplo de tantos outros que poderíamos citar…

No Brasil, o Museu do Futebol, no Pacaembu, é dos poucos exemplos positivos que temos. Alguns colegas que já o visitaram sempre comentam e recomendam o espaço pela qualidade e diversidade, mesmo aqueles que não são tão apaixonados pelo futebol – o que representa uma informação bastante valiosa com um olhar sobre a geração de novos negócios e o potencial do segmento.

Ainda assim, as entidades de esporte apenas o apóiam, sem desenvolver um trabalho mais sólido e próximo neste campo, sem que haja uma atuação mais direta para o potencializar de fato. O Museu do Futebol é na verdade parte da iniciativa de um veículo de mídia com o governo local, o que mostra o olhar totalmente míope que os agentes do esporte têm sobre seu próprio produto.

Voltando a exemplos análogos: se formos a Berna, capital da Suíça, poderemos visitar o Museu de Albert Einstein; em Amsterdam, capital da Holanda, é possível conhecer o Museu de Van Gogh; no Brasil, não sabemos contar a história do maior atleta do século, Pelé, uma das personalidades mais conhecidas do mundo.

No meu ponto de vista, impera no Brasil uma cultura de passado bastante estranha. Acredita-se que a história de alguns clubes ou do futebol esteja em bens tangíveis, como um estádio, servindo como desculpa para não modernizá-lo ou colocá-lo no chão para construir um novo.

Em Stanford Bridge, o estádio do Chelsea, restou apenas um muro para cumprir este efeito, servindo como memorial do clube. A antiga arena veio abaixo para na atual se trabalhar os conceitos e mensagens que remetem ao passado da equipe.

Penso que temos um campo enorme para trabalhar o intangível, ou seja, o imaginário das pessoas e o que as mobiliza ao lembrar das histórias e dos momentos vividos pelos ídolos, torcedores e dirigentes em épocas gloriosas (ou não) de suas agremiações.

É possível, sim, fazer diferente e sair do já enfadonho e pouco criativo processo de lançar modelos de camisa comemorativa do passado e fazer os antigos ídolos desfilarem ou darem o pontapé inicial em datas especiais antes de algum jogo.

O resgate histórico de jogos, acervos, documentos, craques, casos etc. é só mais uma área dentro dos aspectos ligados às marcas dos clubes do futebol brasileiro que merecem maior atenção e podem trazer resultados positivos tanto para a marca, quanto para o incremento das receitas das entidades.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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A montagem de um elenco

Montar um elenco de uma equipe profissional de futebol não é uma das tarefas mais simples. Mas o que deve servir de parâmetro e quem são as pessoas que precisam gerir e tomar decisões neste processo?

Virou chavão no futebol dizer que hoje os clubes devem agir como uma empresa e como tal tomar decisões racionais e fundamentadas.

Como consequência da impregnação desse chavão temos uma dicotomia marcante. De um lado os que acreditam fielmente que esse é o caminho para o futebol, já que cada vez mais é um negócio e como tal necessita de processos racionais para obter sucesso. Por outro lado temos os críticos desse processo e defensores do romantismo, da paixão e significados culturais que o futebol possui.

Tanto um como outro devem considerar a outra parte, já que os extremos não condizem com uma administração necessária ao futebol. Sim, o futebol é um negócio, e como tal, seus resultados, ainda que possam aparecer financeiramente, são bem mais potencializados quando vêm juntos ao resultado de jogo, isto é, junto a conquistas e vitórias.

Como complemento, não adianta apenas usar os processos gerenciais de grandes multinacionais e trazê-las ao futebol, haja vista que as emoções sempre existentes no mercado como um todo, porém fazem parte de forma incisiva e marcante no ambiente esportivo, seja para o torcedor, para o diretor do clube, jogadores, enfim todas as partes envolvidas.

Assim, ao montar um elenco, devemos respeitar alguns critérios, inclusive com o uso de recursos tecnológicos, científicos, psicológicos, e com isso fazer projeções.

 


“Como Ensinar Futebol”: conheça o novo curso on-line da Universidade do Futebol

 

Nas próximas colunas abordaremos tópicos específicos que acredito serem importantes para a montagem de uma equipe. Começamos com:


Compartilhamento de responsabilidades

 
Não pode ficar a cargo de uma única pessoa (o técnico). A responsabilidade deve ser compartilhada; para tanto, é necessário que as pessoas envolvidas estejam aptas a opinar com conhecimento necessário sobre o futebol, sobre a mentalidade de trabalho (a famosa filosofia de jogo).

Assim conseguimos mesclar os extremos citados anteriormente. Com mais opiniões ou mesmo relatórios sistematizados sobre os atletas, racionalizamos o processo de contratação, minimizando a aquisição por simples e pura emoção, o que poderia resultar em custos não justificáveis, que não alcancem os objetivos esperados por fatores que poderiam ter sido identificados.

Ainda, ao compartilhar as responsabilidades, diminui-se a dependência da montagem de um único profissional, o que para o futebol, com mudanças tão drásticas de comando em curto espaço de tempo, torna-se fundamental.

Para que isso ocorra, é imprescindível o desenvolvimento de recursos dinâmicos, interativos e modernos, a fim de que esse processo possa ser amplamente desenvolvido.

Compartilhar não precisar ser apenas em duas pessoas (técnico e diretor), mas pode envolver funções diferentes, com maior ou menor peso, mas que devem ser consideradas em função das variáveis apresentadas.
 
Sabemos que em uma reunião presencial com muitas pessoas a decisão acaba ficando prejudicada, porém ao passo que se sistematiza e organiza um procedimento para isso, podemos pensar em um recurso que agrupa relatórios com diferentes pontos observados por diferentes profissionais, facilitando assim o processo de análise, tornando uma reunião de decisão mais objetiva e analítica com base em documentos adquiridos e disponibilizados com rapidez e precisão.

Na próxima semana, continuaremos com mais um tópico a respeito da montagem de um elenco discutindo sobre que profissionais devem ser ouvidos na montagem e quais os recursos podem auxiliar neste processo.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br  

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Precisamos dos ovos

O fulano vai ao médico e diz:

– Doutor, tenho um problema grave na família!

O Doutor, preocupado, retruca:

– Mas o que é, me diga?

O consulente lhe relata:

– Meu irmão, Doutor. Ele pensa que é uma galinha!

Ao que o Doutor, prontamente, vaticina:

– Pois então vamos interná-lo imediatamente. Traga-o aqui.

E recebe como resposta:

– Isso eu não posso fazer! Preciso dos ovos…

Tanta coisa pesada e inacreditável que acontece no futebol nos faz, por vezes, perder o gosto, o entusiasmo.

Poderíamos listar aqui um sem número de “falcatruas e crocodilagens”, parafraseando um amigo, que fazem do esporte algo menos atraente aos impulsos sérios, profissionais e comprometidos que muitos desejamos aplicar à indústria.

De escândalo na Fifa em escolha de sedes de competições às novelas de estádio para a Copa 2014 no Brasil.

De CPI do futebol às declarações totalitaristas de Ricardo Teixeira na entrevista à Piauí.

Da maluca proposta de trem-bala Cuiabá – São Paulo, que usa como justificativa desenvolvimentista – e muito mais eleitoreira – a Copa do Mundo.

Das obras e licitações atrasadas, sendo, muitas delas, já necessárias ao país, com ou sem Copa do Mundo.

Passando, também, pelo mais novo golpe: cobrança de propina para que falsários assegurassem Centros de Treinamento na lista dos locais a receber delegações estrangeiras em 2014.

E, sem deixar de mencionar que, dentro de campo, até o futebol de Messi se apequena, quase some, numa enfadonha Copa América, tecnicamente falando.

A grande questão é que somos apaixonados pelo futebol, e a ele nos dedicamos intensamente.

A paixão é aquilo que move nossa vida.

Preciso consultar meu médico.

Só espero não sair mais confuso ainda, se ele me perguntar quem veio primeiro: o ovo ou a galinha…

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Sobre boleiros e boleiras

Há não muito tempo, o título desta crônica seria inimaginável, principalmente entre nós, brasileiros, pois futebol era tido como coisa pra homem e… Ponto final.

Hoje, muitos se pegam diante da TV acompanhando a nossa seleção feminina de futebol com muito mais entusiasmo do que assistem aos rapazes na Argentina.

Do que vejo, concluo que tem muita mulher jogando melhor do que muito marmanjo e que a tese de que a ginástica – assim se chamava a atividade física – deveria ser estendida às mulheres desde que respeitada suas formas feminis e as exigências da maternidade futura, como apregoava ao final do século XIX Rui Barbosa, tido em meados do século passado, até os anos 1980, nada mais nada menos como o “paladino da educação física brasileira”, ficou no passado, embora até hoje muita gente ainda não se conforme com outros papéis sociais da mulher que não o de mãe…

Mas não só no jogar futebol se percebem mudanças, como também na apropriação pelas meninas de jargões próprios à cultura futebolística, que até recentemente só faziam parte do vocabulário dos meninos…

Isso tudo me fez recordar uma situação por mim vivida na metade da década de 1980. Na ocasião estava vivendo com minha família em São Paulo, dando tratos ao meu processo de titulação acadêmica, cursando mestrado na PUC/SP. Morávamos em um apartamento em Perdizes, bairro paulista onde ela se localizava…

… Num belo dia, me via às voltas com o estudo de um – dos muitos – texto, quando vi entrar pela porta meu filho Alexandre, sujo, suado e com cara de poucos amigos.

Percebi mascarada em seu silêncio a vontade de falar. Fechei o livro, sinalização de que estava aberto à conversa, rapidamente por ele iniciada…

– Oi, pai! Tô vindo lá da quadra… Jogamos contra o time daquele prédio lá da esquina…

– E como foi o jogo, perguntei…

– IH pai! Nos f…! Perdemos de goleada…

Antes mesmo que eu pudesse dizer qualquer coisa, desandou a falar:

– Sabe pai, eles jogaram melhor… Nada deu certo pra nós…

E percebendo que eu estava interessado na história, se empolgou:

– Mas teve um lance pai… A menina veio pelo alto… Matei ela na caixa pai! Aí vi um carinha se aproximando e não tive dúvidas, meti ela no meio das canetas dele… Aí percebi outro chegando e… Dei um drible da vaca, pai! Quando dominei ela, vi o goleiro saindo e não tive dúvidas: taquei o pé embaixo dela e mandei ela lá onde a coruja dorme, pai, um golaço!

De imediato pensei com meus botões: “estou rico!”. Sim, pois se com aquela idade ele tinha feito tudo aquilo, era só uma questão de tempo pra ele chegar a algum time europeu… Mas logo em seguida caí na real e me dei conta tanto de como era grande a capacidade imaginativa da criança, quanto do fato de que aquele diálogo seria impossível de ser feito se no lugar dele estivesse uma filha…

Sim, pois àquela altura somente um menino teria acesso a expressões próprias ao universo do futebol, já que às meninas era vetada a entrada nele, sob pena de ser de imediato estigmatizada por se fazer presente em um lugar de ingresso restrito aos homens…

Assim sendo, dificilmente uma garota saberia que a menina do relato era a bola; que caixa era o peito e matar a menina na caixa era amortecê-la (carinhosamente) nele…

… Que canetas eram as pernas do moleque; que drible da vaca significa jogar a bola de um lado do adversário e ir buscá-la pelo outro; e, por fim, que lá onde a coruja dorme era o ângulo superior da meta ou arco defendido pelo goleiro…

Hoje esse diálogo já se faz possível, pois o futebol deixou de ser território exclusivo dos homens. Parte por conta do processo de emancipação feminina, da luta das mulheres por igualdade de gênero. Parte, por outro lado, da indústria cultural do entretenimento própria à sociedade de consumo, que percebeu o potencial consumidor de um segmento social até então impedido de consumir tudo aquilo que fosse pertinente ao mundo do futebol…

Mas o desafio da construção da cultura corporal esportiva dos brasileiros e brasileiras longe ainda está de superar os preconceitos. O portal UOL nos traz uma foto das nossas atletas de futebol com os seguintes dizeres: “Atletas defendem ensaios sensuais e reclamam de preconceito com gays”.

Nada melhor do que lembrar a frase do cartunista Laerte, “senta aqui, Bolsanaro”, proferida em tom de brincadeira por ocasião de sua participação em debate sobre homofobia realizado no espaço da FSP na Flip – Festival Literário de Parati, para, brincando, levar a sério a construção de valores ético-políticos que não os defendidos por aquele “nobre” deputado.

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