Esta semana tive o privilégio de participar de uma aula intitulada organização ofensiva, ministrada pelo treinador Rodrigo Bellão, no 46º curso de treinadores do Sitrefesp.
O conteúdo da aula, que pode ser acompanhado no link http://www.futebolinteligente.com.br/organizacao-ofensiva-2/, contribui significativamente para que todos os profissionais do futebol, principalmente treinadores, reflitam criticamente sobre qual a sua contribuição na prática de um futebol ofensivo, imprevisível, criativo e refinado. Afinal, estas são algumas das características que destacaram o futebol brasileiro e, como é de conhecimento, tem sido gradativamente esquecidas e, por que não, negligenciadas.
Nesta perspectiva surge o mote para a publicação da coluna desta semana. O objetivo da mesma é, a partir da Universidade do Futebol, ampliar o rico debate proposto pelo treinador supracitado.
Para aumentar as possibilidades de êxito das ações ofensivas, ou seja, criar desequilíbrios na organização defensiva adversária e potencializar as chances de finalização, é importante ter todos os jogadores efetivamente participando deste momento do jogo. Além disso, quanto mais jogadores adiantados, logo, próximos à zona de risco do adversário, maiores as possibilidades de gerar superioridade numérica, princípio básico para vencer os confrontos territoriais permanentes num jogo de futebol.
Culturalmente, o futebol possui algumas “verdades”. Duas delas que provavelmente você já deve ter escutado são as seguintes: os laterais devem ultrapassar sempre por fora e que dois laterais não podem apoiar ao mesmo tempo. Será que essa “verdade”, criada, reproduzida é real ou será que podemos superar essa paradigma?
Para contribuir com a sua reflexão, segue, na sequência, um vídeo de algumas ações de organização ofensiva do Coritiba Foot Club sub-19, equipe que dirigi até meados de novembro. Peço que atentem as combinações de movimento de apoio dentro/fora entre os laterais e os extremos, permitindo a formação de triângulos e, também, ao apoio simultâneo dos laterais.
https://www.youtube.com/watch?v=Ksb-uCnzKb4
Seguramente não podemos nos oferecer ao jogo ofensivo e não nos preocuparmos em manter a equipe equilibrada e preparada para neutralizar contra-ataques do adversário. Isso é tema para uma outra coluna…
Abraços e até a próxima.
Mês: novembro 2015
Uma das maiores preocupações do esporte na atualidade é garantir a paridade de disputa por meio do combate à dopagem, ou seja, o uso de substâncias que melhorem o desempenho do atleta de forma artificial.
Diante disso, em 2004 foi criada a WADA (Agência Mundial Antidopagem), cujas regras são aplicadas a todas as modalidades que compõem o movimento olímpico internacional, inclusive o futebol. Busca-se, assim, padronização de substâncias e procedimentos e, quem não se adequar ou infringir as regras, será excluído das competições.
Neste sentido, a WADA alertou a ABCD (Agência Brasileira de Controle de Dopagem, criada justamente para atender à padronização) de que terá até 18 de março para se adequar ao novo Código Mundial Antidopagem, que entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 2015.
O Código Mundial Antidopagem tem por objetivo proteger o direito fundamental dos atletas de participar de competições esportivas livres de dopagem; promover a saúde, a justiça e a equidade no Esporte; e assegurar a promoção de programas de educação e prevenção contra a dopagem em nível internacional.
Segundo as normas da WADA, as federações devem ter o prazo de 21 dias para recorrer de decisões de processos disciplinares que tratem de doping. Entretanto, a Constituição Brasileira determina que os processos que tramitem na Justiça Desportiva devem ser julgados em 60 dias, ou seja, não seria possível atender ao prazo constitucional com os 21 dias para recurso.
A opção seria alterar o artigo 217 por meio de uma Emenda Constitucional. No entanto, a alteração constitucional corresponde a medida excepcional e não faria sentido neste caso.
Assim, a ABCD entende que a alternativa cabível seria a criação de um tribunal específico antidopagem, fora da estrutura da Justiça Desportiva e que funcionaria como segunda instância.
Importante destacar que outros países como Bélgica, França e Espanha também foram advertidos pela WADA e terão que adequar seus procedimentos.
Seguramente a ABCD solucionará a questão jurídica apontada e se adequará ao novo Código da WADA e o desporto brasileiro não terá prejuízos.
As expectativas para as categorias de base do Uberlândia Esporte não poderiam ser melhores neste momento. A partir da parceria do clube com a Universidade do Futebol, a diretoria mantém otimismo para impulsar o projeto de formação de atletas. Entre as propostas estão manter as três categorias em atividade em 2016, criar a sub-20 e promover pelo menos três atletas para a equipe principal na próxima temporada.
Durante a coletiva de imprensa em que a nova parceria com o clube foi anunciada, o diretor-executivo João Paulo Medina se mostrou engajado no assunto.
– Evidentemente um projeto de sucesso hoje no futebol tem que começar da base dentro de uma ideia atual de formação de atletas. É preciso ter jogadores inteligentes, que entendam que o futebol é coletivo e não individual. As mudanças precisam ser feitas e não apenas a partir da equipe principal, mas na base – comentou.
Confira o texto na íntegra clicando aqui.
Ainda faltam duas rodadas, mas o Corinthians já é o campeão com melhor desempenho na história do Brasileirão disputado por pontos corridos com 20 times na primeira divisão. O time alvinegro é o que mais venceu, o que menos perdeu, tem saldo positivo de 42 gos, é o mais disciplinado e tem 14 pontos de distância para o segundo colocado. São muitos os atributos positivos na campanha dos paulistas, mas há um título que pouca gente considera: o Corinthians também é campeão em aulas de comunicação.
Na história do futebol brasileiro, são poucos os clubes que oferecem tantos elementos para serem considerados nesse sentido. A história da temporada alvinegra, contudo, é praticamente um curso pronto.
Afinal, o Corinthians teve um ano cheio de percalços fora de campo. A diretoria atrasou salários, deixou de pagar premiações e negociou atletas importantes em meio ao Campeonato Brasileiro, por exemplo. Três titulares do time comandado por Tite deixaram o Parque São Jorge (o lateral esquerdo Fabio Santos e os atacantes Emerson Sheik e Paolo Guerrero).
A folha salarial é alta, com investimentos extremamente questionáveis. A lista de reforços para a temporada 2015 tem nomes como o zagueiro Edu Dracena, o volante Cristian e o atacante Stiven Mendoza, que não conseguiram espaço no grupo – o colombiano, aliás, nem está mais na equipe alvinegra.
O elenco mostrou deficiências durante a trajetória, que tiveram de ser corrigidas com contratações pontuais (os atacantes Rildo, Lucca e Lincom, por exemplo).
Fora de campo, o estádio ainda é uma conquista tão grande quanto o problema que ela criou. O clube tem uma dívida alta e mal equacionada, o que dificulta sobremaneira a obtenção de capital de giro.
Nada disso afetou a campanha alvinegra no Brasileirão. Jogadores com passado vencedor, como Danilo, Cristian e Vagner Love, ficaram no banco durante a competição nacional e não se manifestaram contra isso.
Outros jogadores, como Elias, Malcom e Jadson, foram colocados a serviço de um esquema tático específico, em funções que haviam desempenhado poucas vezes durante a carreira – na linha de armadores de um 4-1-4-1, modelo raro no futebol nacional.
O processo de convencimento e a criação de um ambiente positivo são duas importantes lições do Corinthians campeão. Os jogadores souberam tratar necessidades individuais sem colocá-las acima do contexto ou do todo, e aí começa o mérito do técnico Tite.
Tite é o mentor do Corinthians em muitos aspectos. Tem mérito sobre a implantação do 4-1-4-1 e sobre o modelo de troca de passes, por exemplo – o time alvinegro é hoje um dos que menos usam a bola longa no futebol nacional, e isso tem efeito direto em aspectos como a saída de bola. No entanto, é na gestão de pessoas que o técnico realmente se destacou em 2015.
O Corinthians vai ficar marcado como o time que fez tudo certo, a despeito de o ambiente no clube não ter tudo certo. É um elenco comprometido, e um dos reflexos disso é a goleada por 6 a 1 sobre o São Paulo no último domingo (22).
A vitória corintiana no clássico não tem a ver com disparidade técnica ou com o encaixe das equipes. É um reflexo, antes de mais nada, de organização e comprometimento. Foi um triunfo anímico antes de ser um triunfo na bola.
O Corinthians de 2015 pode deixar muitas marcas para o futebol brasileiro no futuro. Pode ser um precursor do 4-1-4-1 e da linha de defesa alta, por exemplo. No entanto, o diferencial dessa equipe é entender a necessidade da gestão de pessoas no processo de construção de um grupo de trabalho. Qualquer grupo.
A maior lição de comunicação que o Corinthians de 2015 oferece é que não há talentos individuais capazes de compensar um ambiente ruim. Em contrapartida, um ambiente vencedor potencializa os talentos. Basta ver a quantidade de jogadores da equipe alvinegra que têm rendido neste ano o que nunca haviam feito na carreira.
Existe uma diferença financeira considerável no atual cenário do futebol brasileiro, é verdade, mas o Corinthians de 2015 não é o melhor por ser o mais rico. É o time que soube trabalhar com mais competência a comunicação interna e a gestão de pessoas. E isso não é pouca coisa.
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2016, o ano das ligas?
Com o sucesso da Liga do Nordeste e com a criação da Liga Sul-Minas-Rio (oficialmente denominada Primeira Liga), a ideia de se formarem ligas voltou à tona com muita força.
Prevista no artigo 20 da Lei Pelé, os clubes podem criar ligas independentes, ou seja, sem filiação ou concordância da CBF. O único requisito legal é que haja comunicação à entidade que administra o futebol no Brasil.
A criação de ligas pelos clubes, além de entregar aos personagens principais do espetáculo a sua organização, permite que se produza “produtos” para consumidores específicos que possam ser mais rentáveis aos clubes.
Nessa linha, este mês foi criada a Liga Paulista, que conta com clubes do interior paulista, em sua maioria inativos, mas que pretende viabilizar um calendário de maio a dezembro com transmissão em TV aberta.
A Liga Paulista pode, ao mesmo tempo, incentivar as rivalidades entre as cidades do interior de São Paulo e fazer ressurgir clubes que estão fora das competições organizadas pela Federação Paulista de Futebol pelos mais variados motivos, como dívidas e nao pagamento de taxas.
A ideia de se criar ligas com clubes menos expressivos, mas com certa tradição, pode chacoalhar o futebol brasileiro.
Imagine, por exemplo, uma Liga Fluminense ou Carioca de Futebol com clubes tradicionais do Grande Rio, como América, Bangu, São Cristovão, Olaria, Madureira, Bonsucesso, Nova Iguaçu, Portuguesa, Duque de Caxias e Tigres.
A Liga teria um custo baixo, eis que todos os deslocamentos se dariam de ônibus, ressurgiria a rivalidade entre clubes dos mais diversos bairros da capital e a TV poderia exibir jogos interessantes como América x Bangu.
Enfim, os próprios clubes poderiam criar uma competição para mantê-los em atividade por todo o ano e vender esse “produto”.
No futuro, as grandes equipes poderiam até participar com equipes B ou de aspirantes.
Todo esse movimento pode fazer surgir “pequenas ligas” de clubes e, dependendo dos resultados, pode levar à criação de uma Liga Nacional de Clubes.
Importante lembrar que o Novo Basquete Brasil (NBB), a Liga que tem tido grande sucesso e que hoje é reconhecida pela FIBA como campeonato nacional do Brasil, teve seu embrião na Nossa Liga de Basquete (NLB), que começou suas atividades de forma independente e paralela ao torneio nacional organizado pela CBB.
Portanto, as ligas podem se transformar em vetor do desenvolvimento do futebol brasileiro, assim como já ocorre na Europa e nos EUA, de forma que os clubes possam desenvolver e organizar competições rentáveis e interessantes para o seu mercado consumidor.
Partindo de uma visão atual do futebol, que propõe um treinamento que se trabalhe as vertentes física, técnica, tática e psicológica de maneira integrada, pensou-se que o preparador físico não teria mais o espaço e a importância de outrora. Mas, o profissional desta área continuou sendo essencial nos clubes e parte da engrenagem de uma comissão técnica, desde que esteja adaptado às exigências do momento.
André Galbe trabalha no time sub-20 do Corinthians e, recentemente, já como coordenador do departamento nas categorias de base, vivencia esta nova perspectiva da função. Os desafios já se apresentam no excesso de jogos e tempo de recuperação reduzido dos atletas, problemas ditos e repetidos no profissional e que também atrapalham o desenvolvimento dos garotos.
“Não precisamos nos apegar a aquela vitória no último minuto de jogo, pois isto pouco ou nada tem a ver com o treinamento físico. Temos que nos fazer importantes dentro daquilo que é essencial para o futebol moderno. O grande desafio é render mais treinando menos e isto não se consegue de qualquer jeito. São pequenos detalhes que fazem a diferença, e todo profissional é importante”, diz Galbe.
O preparador físico, que se especializou em treinamento e alto rendimento em uma universidade russa e tem como trabalho marcante a participação na classificação do Estoril (Portugal) para a Liga Europa, diz que as atividades no Corinthians têm ligação com a forma de jogar da equipe, aplicadas em trabalhos específicos. Entretanto, Galbe afirma que apenas o treinamento por meio do jogo não atende todas as necessidades dos atletas.
“O treinamento físico complementar, e não querendo ser protagonista, é muito importante e existe no mundo todo”, defende.
Nesta entrevista à Universidade do Futebol, André ainda dá detalhes de como é organizada a semana de treino das categorias de base do Corinthians e fala sobre o trabalho de desenvolvimento dos jovens jogadores. Confira:
Universidade do Futebol – Fale de sua formação e conte como ingressou no futebol?
André Galbe – Minha graduação foi em Educação Física em 2004. Depois, fiz pós-graduação em treinamento desportivo e também em fisiologia do exercício. Por fim, fiz especialização em treinamento e alto rendimento na Universidade de Cultura Física, Esporte e Turismo da Rússia, em 2009.
Comecei no futebol profissional como professor estagiário em um centro de treinamento que trabalhava desde a iniciação esportiva até grupos de jogadores profissionais sem clubes. No ano de 2005, já graduado, realizei um projeto de preparação física no Clube Pequeninos do Jockey com as equipes que iriam disputar algumas competições pela Europa e, no retorno desta excursão, acabei contratado para o sub-15 e 17 do Desportivo Brasil, onde fiquei até 2011 depois de cumprir todas as etapas, passando inclusive pelo profissional.
Depois, recebi convite para ser o preparador físico da equipe profissional do Estoril, de Portugal, onde realizei duas temporadas completas (2011 e 2012) com um título e conquista inédita de vaga para a Liga Europa. Aí, voltei de Portugal direto para o Mogi Mirim, onde disputamos a Série C do Brasileiro em 2013 e o Paulistão de 2014.
Eu cheguei no Corinthians em maio de 2014 para exercer a função de preparador físico do sub-20 e fui promovido recentemente para coordenador da preparação física na base.
Universidade do Futebol – Quais as principais dificuldades que o futebol atual impõe aos preparadores físicos dos grandes clubes?
André Galbe – Com certeza, o calendário com grande número de jogos e muitos quilômetros para percorrer entre um Estado e outro.
Na minha opinião, e por ter vivenciado tal experiência, jogar duas vezes na semana não é a pior parte, e sim as viagens com logísticas difíceis e os horários dos jogos de meio de semana que terminam tarde e atrapalham a rotina de sono e alimentação dos jogadores, o que interfere diretamente na questão da qualidade da recuperação. Com tudo isso, além da comissão técnica ter que administrar o desgaste dos atletas, é preciso conter a ansiedade em realizar uma nova sessão de treino, que em muitos casos não é aconselhável.
Nas categorias de base, especificamente em São Paulo, o calendário é favorável, pois há condições de darmos férias para os atletas e comissão técnica e temos tempo suficiente para preparar as equipes antes das competições principais.
Encontramos algumas dificuldades com o excesso de campeonatos que, por melhor que seja o nível técnico, não são obrigatórios e a ânsia em participar de tudo que aparece sobrecarrega o período competitivo de algumas categorias.
Outra dificuldade é a rotatividade e o grande volume de atletas por categoria, que condiciona o treinamento no que diz respeito à otimização da sessão e a quantidade da qualidade da prática diária de cada atleta.
Universidade do Futebol – Quais os principais métodos que são utilizados na preparação física do Corinthians atualmente? É realizada algum tipo de periodização e como ela é feita e dividida por categorias?
André Galbe – Não falamos em métodos no Corinthians, e sim em princípios de treinamento e conteúdos essenciais. O grande princípio do treinamento aplicado a todas as categorias é o da especificidade. Princípios como individualidade biológica, sobrecargas e continuidade ganham mais importância de acordo com a categoria.
Os conteúdos relacionados à preparação física precisam ser respeitados, porém, fica difícil de adotar ou criar um método próprio por falta de estrutura, sendo que as nossas instalações não atendem todas as categorias na questão de disponibilidade dos espaços, horários e materiais, cenário que está prestes a mudar com a inauguração do nosso novo centro de treinamento da base.
Do sub-10 ao 14, os garotos cumprem um programa de desenvolvimento motor associado a fundamentos técnicos que indiretamente contribuem para o condicionamento físico geral.
A partir do sub-15, é dado uma atenção especial à capacidade de força. Nosso programa de treinamento de força visa dar suporte aos componentes técnicos e táticos. Em casos especiais, a prescrição é individualizada, fazendo ajustes pontuais nas necessidades dos atletas.
Não usamos um método específico, e sim uma ideia funcional de força aplicada ao movimento dando um sentido mais dinâmico e coerente no nosso ponto de vista.
Não temos uma periodização padrão, cada categoria organiza sua temporada da melhor forma possível, mas sem abrir mão dos conteúdos.
Universidade do Futebol – Como é feita a divisão entre trabalhos gerais e específicos? Qual o papel de cada um na preparação dos jogadores?
André Galbe – O geral é o que chamamos de complementar e que envolve o treinamento de força, velocidade, neuro proprioceptivo, flexibilidade e as técnicas de recuperação. São geralmente aplicados no início da sessão no lugar do aquecimento tradicional. O foco do treinamento geral é o próprio treino subsequente e o objetivo é estimular bem os atletas para a especificidade. Seria como treinar para melhorar o treino e, consequentemente, o jogo.
O trabalho específico é determinante na preparação física dos atletas e por isso é aplicado todos os dias da semana. Ele que molda todas as capacidades, promovendo uma adaptação única e intimamente ligada à forma de jogar da equipe.
O exercício geral tradicional como a corrida, por exemplo, não é descartado. Utilizamos com atletas acima do peso, em transição do departamento médico ou com alguma restrição momentânea.
Universidade do Futebol – Vocês se utilizam de jogos reduzidos na preparação física? Caso sim, como são alteradas as variáveis de treino de modo a atingir os objetivos propostos?
André Galbe – Utilizamos sim, porém a preparação física nunca é o objetivo principal, e sim uma consequência. Nem por isso desconsideramos a importância do componente físico, que é estimulado o tempo todo.
Já é conhecido que alterar o espaço de jogo, número de atletas, ter baliza ou não, criar regras e a interatividade com o treinador modificam as características físicas dos exercícios e alteram a densidade das ações e os componentes de força e resistência.
De forma geral, espaços menores exigem muito do componente neuromuscular, consequentemente são exercícios mais curtos e com mais tempo de intervalo.
Espaços maiores, com número de jogadores ajustado, exigem muito do componente cardiorrespiratório, permitindo uma recuperação ativa dentro do próprio exercício, que faz com que este formato possa ser aplicado por períodos mais longos.
Universidade do Futebol – Quais ferramentas são utilizadas por vocês para planejar, quantificar e avaliar as cargas de treinamento?
André Galbe – Utilizamos a percepção subjetiva de esforço (PSE) para calcular a carga. A PSE é uma escala adaptada, com âncoras numéricas e verbais onde classificamos a sessão de treino e o jogo por meio de uma nota dada pelos atletas. Sempre ao final de cada sessão, passamos de forma individual uma tabela com valores de zero (0), que representa estado de repouso, a dez (10), que representa esforço máximo.
Está nota multiplicada pelo tempo de atividade do atleta nos dá a carga de treino expressa em unidades arbitrárias (UA).
Além disso, nós monitoramos treinos e jogos com sistema de GPS, onde os dados mais relevantes são distância percorrida, número de ações intensas e o tempo que o atleta permanece andando ou parado durante o trabalho.
Universidade do Futebol – Você poderia falar, de modo geral, como é organizada a semana de treino das categorias de base do Corinthians?
André Galbe – No sub-20, nós utilizamos um microciclo padrão com seis a sete sessões de treino, que são divididas em quatro partes. Começamos com um treino físico complementar, que substitui o aquecimento tradicional e tem duração de 20 minutos. Depois, nós partimos para 12 minutos de exercício analítico, em que treinamos fundamentos com combinações de passes. Aí vem a parte principal, que dura de 40 a 50 minutos e contempla o desenvolvimento do modelo de jogo. Na parte final, reservamos 10 minutos para a prática de fundamentos com supervisão. De segunda a quarta-feira, o foco é o nosso modelo e comportamento. Quinta e sexta-feira, entra a aplicação em função do adversário.
Universidade do Futebol – Como é feito o monitoramento para saber se os atletas estão em estirão de crescimento. Vocês utilizam essa informação para fazer algum ajuste individual na periodização do treinamento? E caso usem, como é feita a intervenção? O volume de treino desse adolescente é reduzido?
André Galbe – Monitoramos por meio da curva de crescimento e sinais da maturação sexual. A curva de crescimento é um gráfico do acompanhamento do aumento de estatura dos atletas, onde observamos o momento do estirão de crescimento de cada garoto e quantos centímetros estão crescendo a cada trimestre, semestre e ano. Desta forma, é possível detectar indivíduos tardios e precoces. Vale lembrar que está é a fase de transição do pré-pubere para a puberdade e, neste momento, ocorrem muitas mudanças de forma abrupta no corpo e organismo dos atletas, como por exemplo a desordem motora causada pela mudança do centro de gravidade, aumento da força e do tamanho dos membros inferiores e superiores, o que muitas vezes afetam o rendimento técnico do atleta.
Todo ajuste é feito sempre em função de nunca prejudicar os atletas tardios e não vemos necessidades de acelerar o processo para os atletas mais maturados, a não ser que eles sejam promovidos de categoria de forma precoce.
O volume não é reduzido nestes casos, mas os treinos físicos complementares são individualizados. Vale lembrar que os treinos complementares são ajustes físicos feitos de forma coletiva e individual e que utilizamos para ativação, desenvolvimento e manutenção de componentes físicos dos jogadores. Atletas com necessidades maiores realizam exercícios ou sessões extras. Por exemplo, aqueles com histórico de lesão no tornozelo fazem atividades extras de treinamento neuroproprioceptivo, jogadores com encurtamento muscular fazem mais exercícios para aumento da amplitude do movimento, e assim por diante
Universidade do Futebol – O Corinthians possui estratégias de hidratação dos jogadores? Se sim, como é feito o monitoramento?
André Galbe – De um modo geral, colocamos à disposição água, isotônico e maltodextrina em todos os treinos e jogos. O atleta precisa ter consciência da importância da hidratação e isso é passado constantemente.
Em dias mais quentes e, principalmente nos jogos, damos uma maior ênfase no momento de hidratar.
Em competições curtas, como a Copa São Paulo de Futebol Júnior, os quartos são abastecidos com água e isotônico diariamente e os jogadores ficam à vontade para ingerir quando quiserem.
Universidade do Futebol – Como é feito o trabalho de integração entre a preparação física na base e profissional? O método de trabalho é alinhado?
André Galbe – São trabalhos diferentes e com objetivos diferentes. O nosso objetivo e compromisso é entregar ao futebol profissional atletas saudáveis, sem histórico de lesões graves e com cultura de treinamento.
A categoria sub-20 realiza periodicamente a mesma bateria de testes e avaliações do profissional e que são, inclusive, realizados no CT Joaquim Grava pelos profissionais de lá.
Universidade do Futebol – Como você vê o papel do preparador físico em um clube de futebol no futuro? Quais são as novas tendências aplicadas à modalidade e o que se pode esperar dessa área no futuro dentro do futebol?
André Galbe – Vejo com bons olhos. A disposição e disponibilidade do atleta nos treinos e, consequentemente nos jogos, dependem muito do estado físico e mental de cada um. Atletas mais saudáveis se encontram mais disponíveis.
A saúde do atleta reflete diretamente na sua capacidade de trabalhar com um nível elevado de exigência e de sempre estar recuperado.
Ter força muscular, corpo equilibrado e baixo percentual de gordura são sinais de bom estado físico e, muitas vezes, o treinamento somente por meio do jogo não atende estas necessidades.
O treinamento físico complementar, e não querendo ser o protagonista, é muito importante e existe no mundo todo.
Ter conhecimento sobre as ciências que envolvem o treinamento é essencial na elaboração do plano de trabalho para uma temporada.
Os jogadores passam a temporada toda próximos dos seus limites físicos e emocionais.
A consequência de anos de prática muitas vezes faz com que o atleta necessite de cuidados especiais com o físico, em função do desgaste provocado pelo tempo, lesões crônicas, desequilíbrios, encurtamentos e envelhecimento.
O controle de carga aumenta a qualidade da recuperação dos atletas, o que acaba sendo essencial pelo elevado número de jogos e é um grande desafio.
Aqui no Corinthians, um atleta que vai para departamento médico continua treinando quando a lesão permite para manter o condicionamento físico geral e o controle da composição corporal. Por exemplo: se a o atleta tem uma entorse de tornozelo, do local da lesão para cima ele treina tudo o que for possível enquanto está em tratamento e impedido de treinar no campo, assim acaba minimizando o destreinamento e fica mais rápido à disposição do técnico após sua liberação.
Tudo isto quem faz é o preparador físico e não é menos importante do que todas ações intensas que um jogador realiza durante o jogo.
Não precisamos nos apegar a aquela vitória no último minuto de jogo, pois isto pouco ou nada tem a ver com o treinamento físico. Temos que nos fazer importantes dentro daquilo que é essencial para o futebol atual.
O grande desafio do futebol moderno é render mais treinando menos e isto não se consegue de qualquer jeito. São pequenos detalhes que fazem diferença e todo profissional é importante.
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Uni duni tê dos atletas
Com a temporada chegando ao fim, os clubes de futebol começam a preparar as famosas listas de dispensa dos atletas. Isso é frequente no futebol e este momento de reflexões sobre o elenco é inevitável.
Geralmente quando os atletas são contratados, muitas expectativas são depositadas e a responsabilidade de uma adequada adaptação aos novos times recai fortemente sobre eles. Os clubes têm sua parcela de responsabilidade nesta adaptação, pois o enquadramento ao ambiente e aos jogadores já inseridos no grupo é uma etapa importante e a gestão precisa estar atenta neste aspecto.
Mas, em muitos casos isso não acontece e no final da temporada os atletas que tinham potencial para apresentar grandes desempenhos não vingam e são dispensados pós uma necessária reformulação.
Agora, já repararam que os atletas geralmente não possuem apoio para esse processo de seleção natural dos clubes em busca por melhores elencos? É um momento em que o jogador acaba por ser dispensado do seu time e vê a carreira em risco.
Com isso, acredito que devemos estar mais sensíveis a estes momentos e de alguma forma contribuir tanto na adaptação de novos atletas que chegam a um novo clube, quanto e, principalmente, para os que são dispensados e colocados de volta ao mercado de trabalho.
Até a próxima.
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A paixão pelo patrocínio
Estava programado para falar sobre a recente celeuma entre Palmeiras e seu patrocinador master, a Crefisa, ante um evidente caso de paixão que transcende a razão necessária do investimento em patrocínio. No entanto, Erich Beting escreveu de forma brilhante nesta semana um enredo que, quando construído com bases frágeis, pode se transformar em um turbilhão de emoções.
O complemento vai muito na linha que tenho seguido e que reforcei no início do ano com uma pesquisa sobre as ocupações preenchidas em clubes de futebol. As tarefas dos gestores remunerados nos clubes é eminentemente operacional. Os profissionais não ocupam vagas de estratégia, planejamento, inteligência de mercado e, tampouco, de vendas! Exatamente! Vendas!
Enquanto um clube como o Manchester United possui 195 profissionais distribuídos nas áreas comerciais e de marketing, apenas para ficarmos em um exemplo extremo, por aqui, quem executa esse tipo de atividade são os diretores estatutários que são, teoricamente, bem relacionados no mercado e, por conta disso, até vendem algumas propriedades de patrocínio… em um modelo de negócio antigo! Por isso, tem dificuldade de entregar aquilo que vendem. Diretores estatutários comercializam, via de regra, a paixão! É nesta perspectiva que o Palmeiras está, como bem descreveu Beting.
Os departamentos de marketing dos clubes, se quiserem verdadeiramente planejar, vender e entregar patrocínio, precisam ser multiplicados por dez na grande maioria dos principais clubes do país. A distância é exatamente essa: sair de uma estrutura de empresa familiar para chegar a uma proporção de uma empresa que fatura ao redor de R$ 300 milhões ano e tem potencial para, no mínimo, dobrar de tamanho no curto prazo se for composta por especialistas!
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O Brasil pode ser maior
O roraimense Thiago Maia é, provavelmente, a revelação do Campeonato Brasileiro 2015. Recentemente, ao Globoesporte.com, o volante santista detalhou os primeiros passos de sua história no futebol. Deixou a região Norte rumo a São Paulo ao lado da mãe, aos 13 anos, para testar no Corinthians. Foi reprovado, bateu à porta de clubes, passou necessidades, morou em um motel e, por sorte, encontrou o futuro na Vila Belmiro. Não é uma trajetória tão rara assim.
Hoje, no futebol brasileiro, as oportunidades não estão concentradas em todos os estados. Migrar como Thiago Maia fez, muitas vezes, é uma aposta a ser feita no país que não aproveita suas dimensões continentais para alcançar a excelência no esporte. Mas pode haver, a médio prazo, um futuro diferente.
Em Porto Velho (RO), as obras para um centro de treinamento bancado pela Fifa, com lucros provenientes da Copa do Mundo 2014, estão em andamento. Serão 15 estados contemplados em um orçamento total de 100 milhões de dólares. Exatamente, as capitais que não receberam jogos do Mundial. É a chance de se mudar, de alguma forma, uma parte da história do futebol brasileiro.
Entre os 23 jogadores convocados por Luiz Felipe Scolari para a Copa, apenas nove estados brasileiros foram contemplados com representantes. Não havia ninguém nascido no Norte, com mais de 17 milhões de habitantes. Do Nordeste, vieram, além do baiano Daniel Alves, o paraibano Hulk, o pernambucano Hernanes e o também baiano Dante. Desses três últimos, em comum, o fato de que não se afirmaram como esportistas nos clubes de seus estados. Também precisaram migrar em algum momento.
Na prática, o Brasil aproveita apenas uma parte de seu potencial como país com dimensões continentais. Em sua passagem como coordenador das seleções de base, entre 2010 e 2012, Ney Franco diagnosticou o problema. Eram raros os casos de jogadores chamados de clubes das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, com exceção da dupla Bahia e Vitória. A ideia de Ney era estimular todos os estados com visitas e convocações, o que também fez Alexandre Gallo.
Mas, a rigor, pouco se evoluiu para que jovens como Thiago Maia pudessem ser encontrados em Roraima, sem precisar atravessar o País em aventuras incertas e arriscadas. Além disso, quantos jogadores com potencial renunciaram a esse sonho? Atingir cada garoto que deseja ser jogador é uma das margens para crescimento no futebol brasileiro. O exemplo vem justamente do país que nos aplicou 7 a 1.
Além de criar mais de 360 centros de treinamento como os 15 que a CBF pretende construir, a Federação Alemã (DFB) fechou parceria com a Mercedes-Benz para um projeto chamado DFB Móvel. Com 30 viaturas da montadora, técnicos visitaram semanalmente as cidades onde não há um campo da Federação. Em cinco anos, segundo dados oficiais, 10 mil visitas foram realizadas atrás de garotos talentosos, além de dar noções de formação aos treinadores locais.
Desenvolver políticas desse tipo, que aumentem a abrangência do país, mudaria o futebol brasileiro de patamar. Os centros de treinamento em 15 estados seriam o pontapé ideal. Tudo dependerá do plano de administração que a CBF dará a eles.
PS.: Em aparições na Universidade do Futebol, propostas como essa serão apresentadas para o crescimento do futebol brasileiro.
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Quando o esporte é menos importante
O presidente da França, Fraçois Hollande, estava no Stade de France quando houve a primeira explosão. Uma bomba no portão J matou três pessoas e deixou uma série de feridos – o artefato foi parte de ação terrorista deflagrada naquela tarde, que matou pelo menos 129 pessoas em Paris. Em campo, França e Alemanha deram sequência à partida amistosa – os gauleses venceram por 2 a 0. Continuou o futebol, continua a vida. A vida pode continuar?
Existe questões a serem consideradas: não havia qualquer prova de que o interior do estádio estava em perigo, a evacuação poderia ser complicada e aumentar o clima de terror, empresas de mídia e patrocinadores pagaram por aquela partida e obter um consenso entre federações nacionais demandaria algum tempo.
Também existe uma questão moral: dar sequência ao jogo naquele instante era uma forma de não alastrar ainda mais o clima de terror e mostrar aos terroristas que eles não conseguiriam interromper a rotina de toda a cidade.
O esporte não pode ser maior do que a vida. Como disse o italiano Arrigo Sacchi, técnico da seleção vice-campeã do mundo em 1994, o futebol é a coisa mais importante entre as coisas menos importantes.
No entanto, é uma questão de contexto: o jogo não podia ter continuado porque o futebol é só isso, afinal: um jogo.
Da mesma forma, é até difícil condenar o zagueiro brasileiro David Luiz pela atuação desastrosa no empate por 1 a 1 contra a Argentina, em Buenos Aires, na mesma sexta-feira 13. O jogador defende o Paris Saint-Germain, mora em Paris e certamente tem um círculo de convivência na capital francesa – incluindo a namorada. Como estaria a sua cabeça se você soubesse dos atentados e tivesse um compromisso profissional horas depois?
Depois do jogo – e de ter sido expulso de forma infantil no segundo tempo –, David Luiz disse que não sabia sobre os atentados. Talvez tenha tentado minimizar uma ligação entre as duas coisas ou talvez tenha sido realmente blindado, mas a ameaça estava lá. Jogadores de futebol são profissionais como os de qualquer outra categoria, e como qualquer profissional também são afetados por todo tipo de influência externa.
É por isso que o desabafo do meia Diego Souza, do Sport, tem tanto sentido. Depois de uma derrota por 3 a 0 para o Cruzeiro no último domingo (15), o jogador reclamou da arbitragem de forma veemente: “A gente sai como chorão, infelizmente, mas eles [juízes e auxiliares] têm de entender que a pressão não é apenas para eles. A gente representa milhões aqui dentro. Com um resultado como esse, não posso nem sair para jantar ou levar meu filho para a escola. Sofremos as mesmas pressões”.
De uma forma geral, com jogadores, árbitros ou outras classes envolvidas no futebol, temos um grau de tolerância extremamente baixo. Consideramos inaceitáveis os erros do comentarista, do narrador, do técnico, do zagueiro, do goleiro, do dirigente, do bandeirinha…
O futebol tem de ser levado a sério, é claro, mas não pode admitir toda essa pressão. Não pode admitir que seus elementos sejam vistos como infalíveis ou que sejam cobrados por isso.
O futebol é uma válvula importante para uma série de imperfeições da vida, é verdade, mas também é feito de gente. E gente é algo muito mais complexo do que o que acontece nas quatro linhas.