Categorias
Colunas

A Copa do Mundo e o Verde-Amarelismo

Pois é, começou a Copa do Mundo. Face à indiferença aparente dos dias que antecederam o Mundial, aos poucos vai se sentindo o clima do torneio nas ruas, nas conversas das pessoas, no entusiasmo de quem já acompanha os jogos e transmite isso para os demais. De quatro em quatro anos este acontecimento chega e arrebata os corações mais frios. Faz parte da cultura e do imaginário coletivo nacional: os jogos em família, as tradições, os costumes e superstições. Necessário para qualquer homem e sociedade, é um ritual. 

Para muitos a Copa é importante para o Brasil por conta das conquistas. Entretanto, para entender isso, já foi visto aqui na coluna porque o futebol é algo bem forte para o país. O Mundial de futebol, especificamente o de 1938, pela primeira vez sintetiza a ideia de nacionalidade brasileira – sustentada sobretudo nas ideias do livro “Casa Grande & Senzala” de Gilberto Freyre. A seleção naquela Copa representava o sucesso da formação do Brasil: a da mistura das raças, em um terceiro lugar obtido na França naquele ano.

O Capitão do Brasil, Sr Carlos Alberto Torres, ergue a “Taça Jules Rimet” de Campeões do Mundo de Seleções de Futebol, em 1970. |Foto: Divulgação/FIFA

 

Em termos de marketing e comunicação estratégica, ganhar o torneio de 58 foi um “prato cheio” para o governo de um país em crescimento, de vanguarda, com uma nova capital. A de 1970 então, nem se fala. Vitórias maiúsculas e incontestáveis com um crescimento médio também maiúsculo. O Escrete se confundia com o regime em vigor na época. Ao mesmo tempo, a camisa amarela ficava conhecida e era admirada pelo planeta todo. Símbolo inconfundível do nosso país e de todas as coisas boas relacionadas ao Brasil: talento, improviso, criatividade, eficiência e excelência. Trato aqui da camisa, do uniforme somente e de quem o veste. Não do escudo que vai nele.

Com tudo isso, o futebol e a seleção nacional do Brasil da modalidade é uma das representações máximas da nação. Assim como é o mar para Portugal; assim como é a monarquia para o Reino Unido; a república para os franceses; a constituição para os estadunidenses e o exército para os russos. Quaisquer derrotas, tragédias. Uma goleada (como foi o 7 a 1), uma humilhação. Uma vitória não é apenas dentro de campo: simboliza o triunfo do Brasil, sobrevalorizado quando ele é sobre um país com índices sócioeconômicos melhores que o nosso.

Oxalá os problemas do país fossem resolvidos com as conquistas da bola. É preciso resgatar o ideal de nação, o que tem sido perdido aos poucos por inúmeros motivos. O futebol, através da seleção, é capaz disso.

Categorias
Colunas

O que foi claro na estreia do Brasil na Copa de 2018

A despeito de não fazer bom jogo, a seleção brasileira vencia a Suíça até os 9min do segundo tempo, quando Shaqiri bateu escanteio da direita. Zuber correu em direção ao primeiro pau, aproveitou uma falha de posicionamento da equipe sul-americana e deslocou Miranda, que também errou (em vez de encostar no adversário e limitar seu campo de ação, o camisa 3 virou o corpo totalmente para a bola e “ofereceu” as costas ao contato do rival. O contato foi indiscutível, mas a falta não. A única coisa clara na estreia do time comandado por Tite na Copa de 2018 foi a limitação de parte da mídia nacional.
Houve dois lances polêmicos no segundo tempo de Brasil 1 x 1 Suíça. Além da mão de Zuber nas costas de Miranda, Gabriel Jesus pediu um pênalti quando o jogo já estava empatado. A Copa de 2018 tem como grande novidade o uso do VAR (sigla em inglês para árbitro auxiliar de vídeo), mas a revisão oficial feita pela Fifa corroborou as decisões tomadas em campo pelo juiz mexicano César Ramos.
Em diferentes formatos e medidas, as decisões da arbitragem, mesmo com uso do VAR, dominaram o noticiário esportivo do Brasil no último domingo (17). Entre canais abertos e fechados, houve reclamação, críticas às decisões de Ramos, análise sobre o que seria empáfia do juiz por não ter mudado de ideia e até restrições ao próprio uso do equipamento eletrônico no jogo. Afinal, ao contrário da promessa, o advento do árbitro de vídeo não teria dirimido todas as polêmicas.
O uso do VAR, contudo, já evitou uma série de equívocos na Copa de 2018. No empate entre Portugal e Espanha, Isco pediu gol depois de um chute ter tocado no travessão e no solo. O árbitro simplesmente encerrou a reclamação ao mostrar que seu relógio não tinha apitado – há um dispositivo que avisa quando a bola ultrapassa a linha final. A vitória da França sobre a Austrália também teve papel determinante – e positivo – do árbitro de vídeo.
O ponto é que o árbitro que estava em campo e a equipe que trabalhava com o VAR na partida não tiveram convicção de que uma interferência externa era correta no lance do gol da Suíça ou no pênalti pedido pelos brasileiros. E isso foi suficiente para que o tema arbitragem ganhasse mais espaço na TV nacional do que o próprio jogo.
Discussões sobre arbitragem fazem parte do cotidiano do futebol. No entanto, é inadmissível que a estreia da seleção brasileira em uma Copa do Mundo seja reduzida a esse tema, a um “nós contra eles” ou a debates inócuos sobre “força nos bastidores”. Nesse caso, convém lembrar que o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), conhecido como Coronel Nunes, aprontou uma trapalhada gigantesca ao contrariar acordo da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), votar no Marrocos e preterir a candidatura vitoriosa de Estados Unidos, Canadá e México para receber o Mundial de 2026.
A Copa do Mundo dos bastidores é uma das sugestões mais patéticas e que mais prejudicam o debate. Se houve um benefício ao Brasil quando o árbitro anotou falta no pênalti que Nilton Santos fez contra a Espanha em 1962 ou quando Garrincha foi liberado para disputar a última partida apesar de estar suspenso, se houve um trabalho proposital para o pênalti cavado por Luizão ter garantido a vitória ao Brasil na estreia de 2002 ou para o árbitro ter prejudicado deliberadamente a Bélgica, isso é notícia. Não é tema para especulações ou debates cheios de insinuações. Já passou da hora de a mídia nacional ter maturidade suficiente para entender que não se pode levantar esse tipo de debate em assuntos que mexem tanto com a vida de outras pessoas.
Em um jogo da primeira rodada, Galvão Bueno se incomodou com um atacante que estava em posição irregular e optou por não participar da jogada. “Ele tem de correr. Vai que o juiz não vê”, disse o narrador da TV Globo. A fala prontamente repercutiu (mal) em redes sociais, o que é um avanço. Já existe uma parcela significativa da população brasileira que entende que o jogo de futebol, assim como a vida, não pode admitir todo tipo de jeitinho ou estratagema em nome da vitória.
O respeito ao jogo também é a valorização do que acontece em campo. As ações dos atletas e da comissão técnica são simplesmente mais relevantes do que decisões de arbitragem ou qualquer tipo de influência. A narrativa do “não fui eu” não contribui em nada para a valorização do esporte como produto.
Discutir arbitragem não é apenas o caminho mais fácil para audiência baseada em polêmica ou para encontrar subterfúgios. Também é um desrespeito a todas as camadas que compõem o jogo. Nesse contexto, chama atenção o fato de que comissão técnica e jogadores da seleção, ainda no calor da partida e diretamente influenciados pelas decisões da partida, tenham sido mais sóbrios do que grande parte da imprensa ao analisar o empate com a Suíça.
O “pachequismo” de parte da imprensa não é novo e nem é necessariamente um problema do ponto de vista da promoção do espetáculo (o que é bem diferente do trabalho do jornalista, é bom entender). A questão que o jogo do último domingo levantou é quando nos esquecemos do que acontece dentro das quatro linhas ou abraçamos o “ganhar a qualquer custo”. Aí o futebol expõe o que temos de pior.

Categorias
Colunas

O que significa “Periodização Tática”?

A designação Periodização Tática é um bocado agressiva, provocatória, precisamente para se saber que existe uma periodização, e quando se fala neste termo, deve-se saber o que eu estou a querer dizer com ele. Ou seja, é usar um determinado período de tempo para levar a efeito uma determinada ordem, mas se é Periodização Tática esse tempo é gasto para se conseguir dar ênfase ao lado tático, mas mesmo aqui é provocatório no sentido de que a concepção evidencie um tático que não é condizente com o que normalmente se refere. Ou seja é um aspecto meramente organizativo do jogar e intencionalizado, tem a ver com a aculturação de princípios na dinâmica do jogar de uma equipa e se de fato esse jogar tiver qualidade demora o seu tempo a construir. Isto foge a toda lógica da periodização convencional.

             (Vítor Frade[1])

Os conceitos têm o poder de atribuir significados e um sentido comum às palavras, proporcionando que as pessoas estejam na mesma sintonia/frequência, quando escutam ou leem determinadas palavras. Deste modo, evitam-se confusões e más interpretações.
Infelizmente, ao menos no Brasil, a metodologia Periodização Tática (PT), criada e sistematizada pelo professor Vítor Frade ao longo de mais de 40 anos, tem fugido à regra. As confusões conceituais e más interpretações são muitas, começando pelas palavras que compõe o seu nome. Algo que logicamente afeta a sua correta operacionalização e divulgação.
Com frequência o conceito de “tática” confunde-se com “tomada de decisão” ou “estratégia”. Contudo, dentro da perspectiva metodológica em questão, a (supra) dimensão tática se trata de uma organização intencionalizada, porque há uma intenção prévia relacionada à ação/interação, que é condizente com a ideia de jogo, ou seja, com o modo como queremos que a equipe venha a jogar.
Assim, a tática, como refere Frade[1], emerge a partir da relação intencional das ditas dimensões técnica, física, psicológica e estratégica. “Ela não é nenhuma delas, mas sem estas ela não existe, porque ela dimana destas”.
Pegando como exemplo a seleção brasileira que esta semana estreia na Copa do Mundo, sabemos que a ideia de jogo do Tite passa, dentre outras coisas, por garantir que a posse de bola seja assegurada nos dois primeiros terços do campo sem que se corram muitos riscos, privilegiando quem está melhor posicionado para que a bola e a equipe possam progredir juntos no campo, até as zonas de finalização.
Imaginemos uma situação em que o Brasil sai jogando desde atrás e o Casemiro fica sob pressão do adversário assim que recebe um passe do Marcelo. Casemiro domina e passa a bola para trás, para o zagueiro Thiago Silva.
Analisando esta situação, ao receber o passe do Marcelo, o volante Casemiro terá de optar por uma solução dentre as que julgar possível para aquele instante (tomada de decisão: passa a bola para um companheiro mais recuado? Dribla o adversário? Lança a bola para frente para os atacantes?), e termina optando por fazer o passe para o zagueiro Thiago Silva, que recebe a bola com liberdade e poderá dar seguimento à busca de espaços e à manutenção da posse da bola em segurança.
Além do aspecto decisório, neste passe está presente a dita dimensão técnica (gesto motor), o desgaste fisiológico implicado para controlar, comandar e executar tal gesto (e na sua ação posterior – um sprint, por exemplo, para oferecer uma nova linha de passe ao zagueiro), bem como a dita dimensão psicológica, já que Casemiro decidiu em realizar um passe de segurança, tendo como pano de fundo um sentimento (desejo de garantir o êxito na ação).
Facilmente percebemos que dentro da ação/interação de jogo executada por Casemiro, todas as dimensões do desempenho estão inter-relacionadas, e, mais do que isso, estão inter-relacionadas em função de um aspecto da ideia coletiva da equipe, que é a de manter a posse da bola em segurança na saída de bola. Em outras palavras, a ação/interação de Casemiro é intencional, há uma intenção prévia de agir/interagir desta maneira (à um nível macro).
Imaginemos agora uma situação em que o Brasil está marcando a França num bloco médio e a primeira pressão é superada com uma troca de lado da seleção francesa, gerando uma situação de “bola aberta”. Os volantes do Brasil estão longe para pressionar Pogba, que tem a bola controlada, com tempo e espaço para lança-la nas costas da defesa brasileira, visando aproveitar a velocidade do Mbappé e Dembélé.
Assim, a linha de 4 defensores do Brasil corre para trás, em grande velocidade para retirar a profundidade e prevenir o êxito do lançamento do adversário. Miranda consegue realizar o corte da jogada após um sprint de 20 metros.
Assim, tal como no primeiro exemplo, percebemos que as várias dimensões (técnica, física, psicológica, estratégica) se manifestam no mesmo lance, sendo que as ações e interações dos jogadores envolvidos no lance foram decorrentes e coordenadas em função de um determinado aspecto da ideia de jogo do treinador, de uma intenção prévia (neste caso hipotético baixar e proteger as costas, em situações que o adversário tem intenção de lançar e não há possibilidade de pressionar a bola rapidamente), ou seja, o tático que emerge de maneira intencional, deliberada. Se trata, portanto de uma execução (intenção em ato) condizente com a intencionalidade coletiva (intenção prévia).
Resumidamente, enquanto metodologia de treino, podemos afirmar que a PT proporciona a aquisição de uma forma de jogar específica (em todos os seus níveis), através da operacionalização da ideia de jogo do treinador. Embora a PT seja uma forma de treinar e não de jogar, por motivos lógicos, ela só faz sentido se o treinador possuir uma ideia de jogo coerente e sistematizada para sua equipe. Em outras palavras, o ponto de partida do processo se faz através da definição à priori, por parte do treinador, de como sua equipe, em termos gerais (macro e até mesmo, meso), irá interagir e se organizar durante os momentos de organização defensiva, ofensiva, transições e bolas paradas.
Para transformar estas ideias de jogo (e de tudo aquilo que irá surgir durante o processo, que a comissão técnica julgar conveniente), nos seus diferentes níveis de organização, em funcionalidade e padrão, a PT apresenta princípios metodológicos exclusivos que devem interagir e ser permanentemente operacionalizados em simultâneo (propensões, progressão complexa e alternância horizontal em especificidade) e uma matriz operacional, denominada Morfociclo Padrão.
Como a criação e a consequente aquisição de um jogar[2]por parte dos jogadores, não se faz da noite para o dia, há a necessidade de distribuir temporalmente tal aquisição, ainda que de maneira não linear -em termos gerais a temporada, em termos estruturais e operacionais o Morfociclo, daí o sentido de se falar em “Periodização”, e “Tática” por ser esta a supra dimensão que irá coordenar todo o processo de treino. É a periodização de um jogar.
Importante referir que outra preocupação fundamental desta metodologia é desenvolver, potenciar e maximizar as capacidades individuais (a todos os níveis -técnico, físico incluído) de cada jogador. Afinal, quem joga são os jogadores, e o lado coletivo só existe por causa das individualidades.

Este desenvolvimento individual será alicerçado em função dos propósitos da ideia de jogo. Ao longo da semana serão contemplados os planos macro, meso e micro do jogar, de modo que tal interação contribua para a melhoria do todo. Assim, a aquisição irá se centrar sobre o todo, o quase todo, o pouco mais que o individual e o individual, consoante os diferentes dias do Morfociclo, sempre respeitando uma lógica de desempenho e recuperação, garantindo assim que a aquisição pretendida aconteça, ao passo que os jogadores e a equipe como um todo possam se recuperar relativamente ao jogo anterior e estejam nas suas melhores condições de funcionalidade e fluidez para o próximo jogo, continuamente.

Trata-se de uma metodologia criada para atender as exigências do rendimento superior em que vale a pena o aprofundamento.

…Ao menos de quem pretende falar sobre ela.

 
[1]In. TOBAR, Julian. La Periodización Táctica Es… -1ª ed.- Ciudad Autónoma de Buenos Aires: LIBROFUTBOL.com, 2018
[1]In. MOURA, Fábio Alberto Ramos.O Período Preparatório como espaço privilegiado para a “plantação” do nosso «jogar», de forma a podermos cultivá-lo e enraizá-lo… dentro da lógica da Periodização Táctica!Dissertação de Licenciatura apresentada ao Instituto Superior da Maia. Portugal, 2010.
[2]Jogar: O jogaré o tipo de futebol que uma equipe produz. São regularidades que identificam uma equipe. Escrevo em itálico para diferenciar um jogarde um “Jogo Geral”.

Categorias
Colunas

Entre a Rússia e a FIFA

Bom dia a todos, e bem-vindos ao nosso “Entre o Direito e o Esporte” especial Copa do Mundo. Hoje nós vamos conversar sobre o regulamento da Copa do Mundo FIFA de 2018 na Rússia. Hoje nós vamos trocar ideias sobre como acontece o jogo dentro e fora de campo. Hoje nós vamos… falar sobre a Copa que acabou de começar!
O Regulamento da Copa do Mundo FIFA de 2018 na Rússia é a base dessa grande festa do esporte, e lá vamos achar três pontos principais que a gente vai perceber nessa Copa: as suas disposições gerais, que dão o tom do jogo. As suas disposições sobre a competição, que dão a forma para o jogo. E as suas disposições finais, que servem como moldura para segurar esse quadro (único) que é uma Copa do Mundo do futebol da FIFA.
Bora lá?
Tá, você leu, leu de novo, olhou e pensou “disposições gerais”? Isso é fácil, é o básico do básico! E é isso mesmo… só que… o que é o básico para a Copa do Mundo FIFA? Bom, imagina que você tem seu futebol de final de semana. Quais decisões você precisa tomar antes de qualquer coisa?
Primeiro decidir qual é o jogo que vocês vão jogar, certo? Daí qual grupo vai organizar a (coisa) toda e quem dentro desse grupo faz o que. Vai falar um pouco das regras (quais são os times, quem pode jogar), as regras do jogo que vocês vão seguir (pode lateral com o pé?), o que é falta e se pode jogar (“feliz”). Ah, e claro, como e para quem vai o dinheiro no fim do dia.
Então, na Copa do Mundo FIFA é a mesma coisa! As disposições gerais trazem o que é a Copa do Mundo (pois é!), quais as responsabilidades da associação organizadora, do comitê local de organização, e por aí vai. Ainda inclui regras sobre quem pode jogar (seleções e atletas), um pouco sobre as regras do jogo (alguém disser VAR aí?), questões de disciplina e de doping. E ainda chega nas regras comerciais e de operação.
Parabéns para você peladeiro de final de semana que não sabia que já organiza sua própria Copa do Mundo todo santo final de semana – e de graça! Tá bem, tem uma diferença aqui e outra ali. Por exemplo, nessa “primeira parte” a FIFA deixa bem clara a sua preocupação com segurança durante os jogos – afinal, ninguém quer que roubem as chuteiras antes da estreia (viu, Nike?).
Beleza, e… disposições sobre a competição… ai vai ter pegadinha, né? Então, e se eu te disser que não? Que é também bem fácil e direto! O que você diria que essa parte do regulamento traz para a gente?
Vamos lá para o nosso final de semana de novo! Já tem o lugar e tudo mais, o que falta acertar? Isso mesmo! Qual é o formato da competição – quantos times vão jogar e se vai ter grupo, mata-mata ou os dois! Os jogos vão ser todos na mesma quadra? Em quais dias e horários? Pessoal de fora pode assistir ou vai ter que pagar (alguma coisa) para quem está jogando?
Tudo isso também entra aí e junta alguns detalhes desses torneios menos “raiz”, sabe? Ou seja, fala um pouco da mídia, das bolas de futebol (e dos chips nessas bolas), e dos hotéis dos times. Também fala da infraestrutura dos estádios, dos campos de treinamento e equipamentos dos times.
Aliás, fala até do banco de reservas (sim, 11 membros da equipe técnica e 12 reservas em cada banco!) e da área de aquecimento para cada time (espaço para 06 atletas e 02 juízes ao mesmo tempo). Aliás… sabia que só o goleiro pode aquecer com bola? Pois é, nem eu! Outra curiosidade de época de Copa, essa parte do regulamento fala do que acontece em caso de empate de pontos na fase de grupo. E a regra é que o desempate se dá por:
I. Saldo de gols;
II. Gols marcados;
III. Pontos em confrontos diretos;
IV. Saldo de gol em confrontos diretos;
V. Gols marcados em confrontos diretos;
(até aqui beleza, né?)
VI. Pontos restantes após dedução por falta de fair play (cada cartão amarelo, cada segundo amarelo, cada vermelho direto e cada cartão amarelo seguido de vermelho direto afeta a chance da nossa seleção ir para a próxima fase! – em tese, pelo menos)
(já começou a ficar divertido, certo? Agora que tal tentar adivinhar a última parte da regra antes de ler a próxima frase? Alguém imagina o que sobra?)
VII. Sorteio – isso, o famoso sorteio de bolinhas da FIFA elevado a um novo potencial (será que vai ser nessa Copa que isso finalmente vai acontecer?).
Bom, agora já tem tudo o que precisa para jogar no final de semana ou na Copa do Mundo. Certo? Quase lá, amigo! Ainda faltam as disposições gerais e o que será que vamos achar por lá?
Final de semana, choveu. Vai ter jogo? Final de semana, ninguém lembra a regra do jogo. Quem decide? Final de semana, querem fazer postagem no Instagram. Pode? Tudo isso está nessa parte! Ou seja, o que acontece em “circunstâncias especiais”, o que acontece quando tem alguma dúvida sobre uma regra (ou qual a língua que vale durante a Copa), e o que acontece com a propriedade intelectual da FIFA.
E depois de tudo isso ainda sobra espaço para um “apêndice”! Pois é, nessa Copa do Mundo FIFA tem um regulamento sobre uma “competição dentro da competição”! Esse é o regulamento sobre o concurso de fair play que começou ontem com o jogo entre a Rússia e a Arábia Saudita! E esse concurso tem um objetivo: incentivar o fair play dando prêmios para quem for um jogador bom e não só um bom jogador.
Como falei no começo do mês, o Regulamento da Copa do Mundo FIFA de 2018 na Rússia é a base de tudo e sem ele não acontece nada dentro e fora de campo. Fico por aqui hoje e vejo vocês na próxima semana depois da estreia da seleção canarinho – e que espero não ficar com a cara da nossa mascote depois do jogo, né não?
Por hoje é isso, espero que tenham gostado da nossa terceira semana no especial sobre a Copa do Mundo FIFA®de 2018 na Rússia aqui no “Entre o Direito e o Esporte”! Eu fico por aqui e nos vemos na próxima sexta-feira para conversar sobre o Regulamento da FIFA sobre marketing e mídia dessa Copa. Fechou? Deixo meu convite para falarem comigo por aqui, pelo meu LinkedIn ou pelo meu Twitter. E #vaiBrasil!
 

Categorias
Colunas

Sem entusiasmo com a seleção brasileira

Reconheço o caráter diferente que uma competição como a Copa do Mundo carrega. São apenas sete jogos para ser campeão, o viés emocional e mental contam muito, já que os olhos do mundo todo se voltam para esse torneio e ao longo da história vimos seleções irem capengando no período pré-Copa e nos trinta e poucos dias do Mundial se fecharem, criando um espírito de coesão e erguendo o caneco.
Há um otimismo interessante com a seleção de Tite. Não entro no mérito se isso é ou bom ou ruim. Pegar seleções anteriores que saíram badaladas e voltaram sem o caneco e outras que saíram desacreditadas e erguerem o troféu não faz muito sentindo para mim. Cada época, cada seleção, tinha as suas circunstâncias, problemas e recursos.
Analisando a seleção atual vejo dificuldades na organização ofensiva. Primeiramente, a ausência de Daniel Alves causou um rombo no poderio pelo lado direito. Nem Danilo e nem Fágner demonstram personalidade e futebol por aquele setor. E nisso com o time tendo apenas o lado esquerdo, através de Marcelo e Neymar, para criar situações de gol o adversário já vê parte do trabalho defensivo facilitado.
É claro que temos também a explosão de Gabriel Jesus e as infiltrações de Paulinho. Mas vejo que vamos depender muito da criatividade de Willian e Coutinho para gerar outras opções ofensivas. E tenho minhas dúvidas quanto a personalidade de ambos para assumir o protagonismo no Mundial.
Tite nunca foi conhecido por grandes ideias ofensivas de jogo. Seus maiores sucessos foram com times muito sólidos defendendo. É claro que o talento pode decidir. Mas em tão alto nível vamos precisar mais do que nunca de conceitos coletivos com a bola nos pés para sermos vitoriosos na Rússia.
 

Categorias
Colunas

Época de Copa

O momento mais esperado por todos aqueles que gostam de futebol, a Copa do Mundo de futebol, pede passagem e invade nossos lares. Passa a fazer muita parte do nosso cotidiano. Compromissos são adiados e cancelados por conta de partidas de seleções de países que sequer sabemos tanto. Nas conversas com os amigos, comentários sobre jogadas de futebolistas que sequer também sabíamos que existiam.
Vai haver tudo isso sim, sem dúvida alguma. Entretanto, com menos frequência. A Copa do Mundo é sem dúvida o torneio de futebol mais importante que existe. E muitos esperam por ele, de fato. Porém, sobretudo nos últimos anos, as competições de clubes de futebol tomaram um alcance global e com atletas do mundo todo. A absoluta maioria deles que irá à Rússia atua nestas ligas e o Mundial de futebol não vai ser mais vitrine para revelar um ou outro talento. Ainda repercute a vitória do Real Madrid na Liga dos Campeões da Europa e o vai-e-vem do mercado da bola. Tudo bem, os tempos mudaram, mas em outros tempos não era bem assim: sentia-se o clima de Copa bem antes.

Taça da Copa do Mundo e a bola oficial do torneio deste ano, na Rússia, a “Telstar 18”. Foto: Divulgação/FIFA

Inúmeros fatores explicam isso: o que foi citado no parágrafo anterior, a distância (não apenas física, mas de conexão) da Rússia em relação ao futebol e aos países mais ligados à modalidade, e do grande protagonismo que os grandes clubes do mundo obtiveram recentemente. Não em detrimento das seleções nacionais, mas eles acabaram se tornando conglomerados globais de entretenimento que se valorizam de um calendário bem recheado de jogos que acabam por ajudar a formular um excelente produto. Algo que as equipes nacionais não conseguem ter e, por isso, não conseguem concorrer.
A FIFA estuda a possibilidade de aumentar para 48 os participantes da Copa do Mundo. Ainda é preciso bastante estudo para saber se isso é ou não viável. Entretanto, já é um – importante – passo para mudar este cenário incerto sobre o futuro do futebol de seleções: a Copa das Confederações, em 2017, já foi esvaziada. Diante deste processo, o Mundial de futebol pode pouco a pouco perder o prestígio.
Diante do produto que é o futebol em nível de seleções nacionais, a Copa do mundo, hoje, tem tudo para mais uma vez ser um grande sucesso. No entanto, até quando este sucesso vai se manter, uma incerteza. A Rússia é uma incógnita. O Qatar, em 2022, será ainda mais. Estaria a FIFA a “pagar” pelo preço destas candidaturas a países-sede que levantaram suspeita? Pode ser. E este erro pode sair caro.
Boa Copa do Mundo a todos!

Categorias
Colunas

Sobre os técnicos do Campeonato Brasileiro

O choro de Vinícius Júnior depois da vitória do Flamengo por 2 a 0 sobre o Paraná Clube, no último domingo (10), é uma das imagens do Campeonato Brasileiro de 2018. Negociado com o Real Madrid por 45 milhões de euros (R$ 196,8 milhões), o atacante de 17 anos ainda não tem data certa para trocar a Gávea pelo Santiago Bernabéu, mas se emocionou naquela que pode ter sido sua última partida no Maracanã com a camisa rubro-negra.
As lágrimas de Vinícius Júnior, contudo, não são apenas porque ele vai. O camisa 20 chorou principalmente por se lembrar de onde veio. O menino de origem humilde está às portas de entrar para o grupo de celebridades mais relevantes do planeta.
A história do Flamengo no Campeonato Brasileiro de 2018 passa necessariamente pelas categorias de base. Líder da competição nacional após 11 rodadas, dono de uma das melhores arrancadas da história do torneio, o time carioca anotou 20 gols até aqui. Vinícius Júnior (quatro), Felipe Vizeu (três) e Lucas Paquetá (três) contribuíram com exatamente a metade – e nesse caso, importante dizer, as bolas nas redes adversárias nem de longe encerram uma avaliação sobre a relevância dos meninos forjados no clube.
Flamengo e Atlético-MG, times que ocupam as duas primeiras posições do Campeonato Brasileiro de 2018, possuem em comum o fato de terem apostado em novatos para o comando técnico. O time carioca é dirigido por Mauricio Barbieri, 36, que a cada rodada afasta um pouco mais o rótulo de interino, e os mineiros são treinados por Thiago Larghi, 37, responsável por uma estabilidade que a equipe jamais havia atingido nas mãos de seu antecessor, Oswaldo Oliveira, 67.
Além da juventude de seus comandantes, o que une Flamengo e Atlético-MG é uma noção muito clara do uso das características de seus principais talentos. É o caso de Róger Guedes, que tem encontrado em Larghi os conceitos ideais para a evolução de seu jogo.
O próprio Barbieri é um dos responsáveis pela evolução de Lucas Paquetá, um dos grandes nomes do início do Campeonato Brasileiro, e também possui o mérito de ter apostado em Vinícius Júnior em detrimento de medalhões – nesse caso, contribuiu sobremaneira a boa vontade da maioria dos torcedores com uma cria do próprio time.
Entre os comandantes da Série A do Campeonato Brasileiro, é nítido o rejuvenescimento. Barbieri e Larghi são exemplos de um mercado que se fechou para nomes como Vanderlei Luxemburgo, Dorival Júnior ou Celso Roth. O atual campeão brasileiro, vale lembrar, é Fabio Carille, que amealhou três taças em pouco mais de 18 meses à frente do Corinthians.
A ascensão de uma nova geração de treinadores sempre gera expectativa por mudanças na estética e nos conceitos do jogo. São novas ideias, afinal, e com isso podem acontecer alterações mais contundentes de perspectiva.
No entanto, o movimento no Brasil não é exatamente assim. Vinícius Júnior, aliás, é um dos motivos para isso. Assim como o atacante, o futebol local perdeu neste ano nomes como o próprio Vizeu, além de Paulinho (Vasco) e Maycon (Corinthians), que estiveram longe de construir história em seus times antes de migrar para a Europa. Rodrygo, em ascensão no Santos, pode ser o próximo. E a janela internacional ainda está longe do fim…
Num cenário em que os jovens duram pouco e deixam rapidamente os clubes que os formaram, a construção de uma identidade segue sendo um desafio. Se o Flamengo de Barbieri continuar o processo de consolidação, quanto tempo vai conseguir segurar Lucas Paquetá? Róger Guedes é outro que tem recebido ofertas e pode não terminar o Brasileiro que começou tão bem.
Sem conseguir manter o talento, o futebol brasileiro prescinde de ideias. E quando tenta algo inovador, expõe as deficiências locais. É o que tem acontecido no Atlético-PR com Fernando Diniz, cuja filosofia está longe de assimilar o nível técnico do elenco.
Num contexto em que os jovens duram pouco e as ideias padecem diante da falta de talento, toda essa roda impele os treinadores a buscarem propostas cada vez mais conservadoras. E o futebol brasileiro, pressionado pela economia e pelo calendário, acaba abraçando os meios mais fáceis.
A renovação dos treinadores, nessa perspectiva, tem muito mais a ver com a supervalorização que essa categoria profissional teve nos últimos anos. Luxemburgo não perdeu mercado por conceitos que não se atualizaram, mas porque custa caro. Osmar Loss não foi a solução ideal para o Corinthians, mas o ideal dentro do contexto financeiro do clube.
Até por isso, qualquer análise sobre a nova geração de treinadores do futebol brasileiro precisa ser conduzida com uma série de ressalvas. Basta ver que o sucesso de Tite na seleção brasileira está longe de ser apenas questão de escolhas certas ou de talento na função.
A equipe nacional evoluiu a partir da construção de um entorno favorável e adotou um grau mais alto de preocupação com detalhes de preparação. É essa minúcia a principal evolução que a seleção de 2018 tem em relação a times de ciclos passados.
No contexto nacional, porém, quem tem condição de mudar procedimentos e repensar estruturas? É mais fácil fechar o time e jogar no contra-golpe, mesmo. O processo pode ser mais sofrido, mas os riscos são bem menores.

Categorias
Colunas

(Re) Estruturando o modelo de formação – Parte 3

Como pretendemos (re)estruturar o nosso futebol, não podemos trabalhar ao acaso implementando os mesmos conteúdos e métodos de treino nos diferentes escalões. Por assim dizer, desde a iniciação os jogadores deveriam passar por um processo de formação coerente, com objetivos, estratégias e conteúdos adequados. Neste processo, é essencial que os princípios de jogo estejam presentes.
Por definição, os princípios de jogo são basicamente um conjunto de normas que orientam a tomada de decisão dos jogadores e por isso são colocados como conteúdos centrais dentro do processo de ensino/aprendizagem e devem ser ensinados de forma explícita, começando pela organização do centro de jogo – favorecendo a aprendizagem dos princípios fundamentais– e evoluindo progressivamente para o ensino dos princípios específicos de organização coletiva, ou seja, de aspectos fora do centro de jogo.

Exemplificação do centro de jogo

 
Como podemos ver na figura acima, trata-se do centro de decisão e ação do jogo e daqui derivam os princípios fundamentais, que são aqueles comportamentos inerentes ao jogo, que se manifestam indiferentemente do modelo de jogo adotado. Aqui nos deparamos com situações de jogo que podem variar desde um simples 1×1 até situações de 3×3, com ocorrências mais espontâneas e comportamentos mais imprevisíveis, podendo-se observar situações similares, mas nunca iguais.
Com poucos jogadores participando diretamente do jogo, a base desta ideia recai, novamente, num aspecto muito importante no que diz respeito à formação: a densidade de ações. Isto importa, pois, um grande número de ações ajuda-o praticante a conhecer melhor onde centrar a atenção, proporcionando informação suficiente para tomadas de decisão mais rápidas e acertadas. Neste sentido, conforme aumentam as habilidades decisionais, as habilidades de execução e de rendimento também aumentam.
Veremos então, que cada princípio de ataque corresponde a um princípio de defesa, e em função do que ocorre no jogo, todos os jogadores devem orientar seus comportamentos em função destes oito princípios (seis princípios individuais e dois princípios coletivos):
Progressão
Objetivos: criação de vantagem espacial e numérica, atacando o espaço ou o adversário, preferencialmente em direção à baliza adversária. Basicamente, fazer com que o centro de jogo progrida em direção à baliza adversária.
Comportamentos: atacar a bola e direcioná-la para a baliza adversária. Livre de oposição, progredir em direção à baliza adversária e tentar a finalização. Em caso de oposição, atacar o defensor na tentativa de ultrapassá-lo (1×1) ou criar uma situação de superioridade numérica (2×1) e decidir qual a melhor condição para se chegar à baliza adversária o mais rapidamente possível.
O princípio da Progressão se caracteriza pela evolução do jogo, em situações onde o portador da bola consegue progredir em direção à baliza adversária, em busca de áreas do campo que oferecem maior risco ao adversário. A ação de progredir no campo de jogo começa antes mesmo do contato com a bola, ou seja, o jogador deve ir de encontro (atacar) à bola e direcioná-la para onde desejar, mas preferencialmente em direção à baliza adversária. Uma das ações técnicas de suporte, a condução deve ser realizada com a maior velocidade possível e com muitos toques na bola, proporcionando um melhor controle da mesma. Fintas, dribles e o passe são outras ações técnicas que favorecem o ganho de espaço e a criação de uma situação vantajosa para finalização.
 
Contenção
                                                                           
Objetivos: impedir a progressão do atacante adversário, parar ou atrasar o ataque ou contra-ataque do adversário, impedir a finalização à própria baliza e recuperar a posse da bola.
Comportamentos: diminuir rapidamente o espaço em relação ao portador da bola. Se posicionar entre o adversário, a bola e a própria baliza. Tentar orientar o adversário para as linhas laterais ou para próximo de outro defensor.
O princípio da Contenção se caracteriza pela ação de oposição do defensor sobre o portador da bola com o intuito de impedir a progressão do adversário, defender a própria baliza e recuperar a bola. A ação de conter a progressão do adversário (i.e., pressionar o adversário) começa no momento em que a posse de bola é perdida. Imediatamente, o defensor deve se posicionar entre o portador da bola e a própria baliza e diminuir rapidamente a distância entre os dois. A ideia passa por pressionar o atacante o mais longe possível da própria baliza, possibilitando recuperar a bola mais próximo à baliza adversária, ou atrasar a ação ofensiva adversária e com isso ganhar tempo para reorganizar a equipe defensivamente e impedir a finalização contra a própria meta.
 
Cobertura Ofensiva
Objetivos: apoio ao companheiro com bola, possibilitando uma situação de superioridade numérica (2×1) ou uma linha de passe de segurança. Manutenção do equilíbrio defensivo em caso de perda da bola.
Comportamentos: posicionar-se atrás e ao lado do portador da bola, de forma que o defensor não possa cortar a linha de passe (manter a superioridade numérica – 2×1). Em caso de perda da bola, auxiliar o companheiro a tentar recuperá-la.
O princípio da Cobertura Ofensiva se caracteriza pelo apoio dos companheiros de equipe ao portador da bola (criação de superioridade numérica). Trata-se de uma linha de passe de segurança (atrás e ao lado) com o objetivo de proporcionar a continuidade no jogo ou, uma possibilidade de linha de passe à frente, após uma movimentação de infiltração (Mobilidade). Defensivamente, a ideia passa pela função de contribuir ao equilíbrio defensivo e por beneficiar as primeiras ações defensivas em caso de perda da posse de bola favorecendo uma posterior transição defensiva.
 
Cobertura Defensiva
Objetivos: apoiar o companheiro que marca o adversário com bola (1×2). Evitar a todo o custo a inferioridade numérica. Entrar em contenção caso o 1º defensor seja ultrapassado.
Comportamentos: posicionar-se atrás e ao lado do 1º defensor, de preferência em direção ao corredor central, dando maior proteção à própria baliza. Pressionar o atacante, caso este ultrapasse o 1º defensor. Em caso de igualdade numérica (2×2), ficar atento às movimentações do 2º atacante e decidir qual a melhor condição para defender a própria baliza.
O princípio da Cobertura Defensiva se caracteriza pelo apoio dos companheiros de equipe ao jogador que pressiona o adversário com bola, evitando assim, situações de 1 contra 1 e de inferioridade numérica. O ideal é realizar a Cobertura Defensiva em superioridade numérica (1×2), pois facilita o combate às ações do ataque, uma vez que a preocupação se foca basicamente no portador da bola. Em caso de recuperação da posse de bola, o jogador que realiza a Cobertura Defensiva deverá criar uma linha de passe imediatamente.
 
Mobilidade
Objetivos: desequilibrar ou romper a estrutura defensiva adversária. Criar, ocupar e utilizar espaços livres à frente da linha da bola (linhas de passe para receber a bola). Criar superioridade numérica constantemente.
Comportamentos: movimentações de apoio ao companheiro com bola (linhas de passe para manutenção da posse de bola) ou de ruptura da organização defensiva adversária (linhas de passe em profundidade).
O princípio da Mobilidade se caracteriza por uma grande variabilidade de comportamentos, partindo da iniciativa dos jogadores de ataque sem posse de bola em criar linhas de passe (desmarcações de apoio ou de ruptura da estrutura defensiva adversária) e ocupar os espaços livres em busca de posições ótimas para a recepção da bola. Além disso, as movimentações favorecem o aparecimento de espaços livres e situações ofensivas bastante vantajosas (p.e., situações de 1×1, 2×1 e 1 contra o goleiro).
 
Equilíbrio
Objetivos: manter a estabilidade e o equilíbrio da estrutura defensiva. Impedir que os atacantes em mobilidade recebam a bola sem oposição. Buscar uma superioridade numérica defensiva no Centro de Jogo ou ao menos garantir a igualdade numérica. Apoiar os companheiros que executam as ações de Contenção e Cobertura Defensiva.
Comportamentos: ajustar rapidamente o posicionamento defensivo em relação às movimentações dos adversários, impedindo a criação de situações de superioridade numérica. Cobrir espaços livres e marcar eventuais linhas de passe, sempre protegendo a própria baliza.
O princípio do Equilíbrio se caracteriza por movimentos que permitam superioridade, ou ao menos garantam a igualdade numérica dos jogadores de defesa no Centro de Jogo e podem ser detectadas a partir da disposição equilibrada dos jogadores entre adversário, bola e a própria baliza, realizando assim a cobertura dos espaços e de eventuais linhas de passe.
 
Espaço
Objetivos: ampliar o espaço de jogo efetivo da equipe para poder originar desequilíbrio na defesa adversária. Facilitar as ações coletivas da equipe, favorecendo a criação de situações de superioridade numérica.
Comportamentos: imediatamente após recuperar a bola, ampliar o espaço de jogo ofensivo em largura e profundidade. Ocupar os melhores espaços oferecendo linhas de passe que propiciem situações de superioridade numérica.
O princípio do Espaço se caracteriza pela estruturação e racionalização das ações coletivas ofensivas para dar maior amplitude ao ataque. Parte-se do pressuposto de que os outros jogadores da equipe atacante, principalmente aqueles que se situam fora do Centro de Jogo, devem buscar por posicionamentos mais distantes do portador da bola, criando espaços que podem beneficiar as ações ofensivas (p.e., situações de 1×1 ou de superioridade numérica). Este aumento do espaço de jogo efetivo condiciona a tomada de decisão que, dentre outros fatores, é influenciada pela distância entre atacante de defensor.
 
Concentração
Objetivos: reduzir o espaço de jogo efetivo da equipe adversária aumentando a proteção da própria baliza. Facilitar a recuperação da posse de bola mediante à um incremento da pressão no Centro de Jogo devido à uma maior proximidade dos defensores.
Comportamentos: imediatamente após perder a bola, diminuir rapidamente o espaço de jogo em largura e profundidade. Posicionar-se entre o adversário e a própria baliza. Ocupar o espaço de forma a garantir um correto posicionamento das linhas defensivas e favorecer a criação de superioridade numérica defensiva.
O princípio da Concentração se caracteriza pela estruturação das ações coletivas defensivas com o intuito de aumentar a proteção à baliza e restringir o espaço de jogo, obrigando o adversário a jogar em espaços reduzidos. Desta forma, busca-se facilitar as ações defensivas com criação permanente de superioridade numérica, dificultando as ações ofensivas do adversário. O bom cumprimento dos princípios defensivos aliado ao aumento de pressão no Centro de Jogo, permite à equipe em defesa condicionar o jogo ofensivo adversário para zonas de menor risco do campo de jogo.
No próximo texto falaremos sobre ocupação do espaço e os princípios de organização coletiva!

Categorias
Colunas

Entre o Direito e o Jogo na Copa

Bom-dia, pessoal! E bem-vindos a mais um “Entre o Direito e o Esporte”, onde vamos continuar a nossa conversa sobre como o direito aparece na Copa do Mundo®FIFA de 2018 na Rússia. Hoje vamos conversar sobre como as regras do jogo de ontem não são as mesmas de agora. Vamos conversar sobre as mudanças apresentadas pela International Football Association Boarde que já valem para esse junho.
E para deixar mais fácil, dividi essas mudanças em três pés que são a base dessa coluna de hoje: para começar, vamos ver como essas mudanças nas regras aparecem para os atletas. Depois, vamos dar uma olhada em como as coisas mudaram para os técnicos. E terminamos hoje trocando uma ideia sobre o árbitro e a Copa do Mundo.
Bora lá?
E o que mudou para os atletas nessa Copa do Mundo®? Mais regras! Imagina que você é um jogador e voltou no tempo para o Brasil em 2014. Imagina que seu time se classificou para a final. E imagina que você foi substituído faltando três minutos para comemorar o título. Isso mesmo, perdeu playboy– não vai comemorar na beira do campo até o jogo acabar!
Só que agora em 2018 você pode! E você vai poder sentar bonitinho no campo de reservas da sua seleção mesmo depois de ser substituído! Mas vale lembrar um detalhe, se você saiu de campo e voltou sem a autorização, “bão”, é falta… aliás, se interferir no jogo pode ser até pênalti!
Essas foram as duas principais mudanças… ah, claro, teve mais uma e pode ser resumida com um “não mordas”. Pois é, a IFAB incluiu nas regras que “morder o amiguinho durante a partida” é um “não-não” – ou seja, uma falta direta.
Tá, beleza. E para os técnicos? Mudou alguma coisa? Imagina que você é um jogador e voltou no tempo para o Brasil em 2014. Imagina que seu time se classificou para as quartas e foi para o tempo extra. Imagina que você se machucou. E aí? Seu time ficou com um jogador a menos, né?
Pois é, isso mudou já para essa Copa! E agora o seu time pode ter uma substituição “extra” para o tempo “extra”! O que é lindo para o técnico do seu time – né não? Esse jogador a mais sempre pode dar uma forcinha extra quando a gente precisa!
E o que mais? Ah, sim! A equipe técnica pode usar tablets (sim, tipo um iPad) no banco de reservar para dar uma olhada em questões táticas e melhorar a segurança do jogador monitorando o que acontece em tempo real pelos sensores que os atletas usam em campo – isso, bem high teche até meio “nossa, tem isso no futebol?” (é, talvez não tão cedo no seu time daqui. Mas já dizem que é moda na Alemanha… melhor deixar para lá, eu sei!).
E para o árbitro… mudou alguma coisa? Aí sim! Aí mudou e muita coisa! Para começar: “quantos dedos você vê aqui?”. Não, você não tá vendo dobrado! Agora tem muito mais árbitro em uma partida e tudo isso porque agora a IFAB “liberou geral” e colocou o tal do VAR na Copa do Mundo – sim, habemus árbitro de vídeo “em campo” (na verdade, fora dele).
Isso leva a algumas questões interessantes! Ponto 01: jogador que entra na área de uso de árbitro de vídeo (beira do campo) é advertido. Ponto 02: jogador que entra na cabine do árbitro de vídeo (vai que tem um louco) é expulso. Ponto 03: em algumas situações o árbitro pode rever um cartão vermelho (juro que quero ver isso acontecer na Copa!) mesmo depois que o jogo recomeçou!!! (imagina, expulsa o Neymar, a torcida chia, juiz desiste?)
Fora isso, o árbitro não pode carregar câmera em campo (afinal, a gente via muito juiz tirando selfie no meio da partida. Né?) e a parada de hidratação não pode demorar mais de um minuto – só me pergunto o que ele vai fazer se demorar mais de um minuto (dar vermelho para todo mundo também ia ser legal e fazer a minha Copa! Não?).
Ah!! Importante, o tempo que o juiz gastar com o VAR e com o tempo de hidratação é “tempo a mais para o jogo”. Então não estranha se aos 43 minutos do segundo tempo você ver uma placa de “25 minutos de acréscimo” – não custa sonhar!
Agora, talvez até mais importante que tudo isso foi a mudança na regra do… impedimento! (afinal, todo mundo super entendia a regra antiga e era algo mega claro para todo mundo. Né?). Agora o que define se “pode” ou “não pode” é o primeiro toque do jogador e não o final do movimento!
Assim, o cara encostou na bola e o amigo tava “moscando”… danou e é impedimento!
Falando em impedimento, acho que estou no meu aqui já… pelo menos na regra antiga já que terminei meu movimento de escrever por hoje aqui no que a gente acha “Entre o Direito e a Copa do Mundo” – mais regras, sim! E espero que tenham gostado dessa nossa segunda semana no especial sobre a Copa do Mundo®FIFA de 2018 na Rússia aqui no “Entre o Direito e o Esporte”!
Por hoje é isso, eu fico por aqui e nos vemos na próxima sexta-feira para conversar sobre o Regulamento da FIFA sobre esse Mundial. Combinado? Deixo meu convite para falarem comigo por aqui, pelo meu LinkedIn ou pelo meu Twitter. Bom final de semana, e vejo vocês logo mais… fui!

Categorias
Colunas

O equilíbrio para decidir no futebol

Ainda temos no Brasil o costume de achar que os melhores jogadores juntos vão formar o melhor time e alcançar os melhores resultados. Ou então para comparar a eficiência de duas equipes pegamos jogador a jogador por posição e tentamos ver qual é a melhor. Talvez isso funcionasse se o jogo não fosse complexo, caótico e dinâmico. Mas ele é tudo isso e mais um pouco.
Ter os melhores jogadores não garante absolutamente nada. É claro que se pegarmos o líder da Serie A do Campeonato Brasileiro e colocarmos diante do último colocado da Serie D a diferença técnica irá prevalecer. Porém, em times de poderio parecido há outros aspectos que farão mais diferença do que a qualidade técnica individual.
É comum vermos jogos em que temos a impressão de que uma equipe tem quatorze jogadores em campo. Ou então outras que parecem ter nove – e não por ter alguém expulso e sim por conta das relações entre os integrantes da equipe que não estão ajustadas. Isso se dá também através da potencialização das individualidades que um jogo coletivo bem elaborado produz. Você pode, por exemplo, ter os quatro melhores atacantes do mundo jogando juntos. Porém se eles não auxiliarem na marcação em algum momento a habilidade ofensiva não será suficiente para a vitória. O todo sempre será maior que a soma das partes.
Não quero tirar aqui a magia dos craques. São eles que nos fazem amar o jogo. Mas o romantismo acabou. Não temos mais jogos que terminam 7 x 6. Hoje ganha quem erra menos e não quem acerta mais. Não defendo a robotização do jogo. E sim a ideia de que plano tático, estratégico e funções bem definidas com e sem a bola dentro de um time cada vez mais estarão sobrepostas ao talento individual. Nem o Real Madri da época dos Galáticos tinha onze jogadores em campo que eram os melhores das suas respectivas posições. No futebol atual o melhor time é o mais equilibrado.