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É provável

Tudo que acontece na vida de todos é resultado de uma combinação de incontáveis e imensuráveis fatores. E como ninguém consegue identificar e muito menos controlar esses fatores, tudo o que você pode fazer são apostas de que as coisas irão acontecer a seu favor. E, como são apostas, não dá pra prever o resultado final, então você tende a agir de maneira que as probabilidades de que as coisas aconteçam a seu favor sejam maiores.

Uma família, por exemplo, tende a querer que seu filho seja uma pessoa bem sucedida econômica e emocionalmente. Como ela não tem como determinar que isso vá acontecer com plena certeza, ela faz apostas que favoreçam esse resultado final. Para isso, por exemplo, a família busca colocar o filho nas melhores escolas e fazer com que ele frequente círculos sociais que lhe permitam desenvolver os valores que a família acredita que melhor contribuirão para o seu futuro. Entretanto, mesmo que a família siga essa cartilha, é impossível determinar que o filho será de fato uma pessoa bem sucedida.

Pessoas que frequentaram ótimas escolas e fizeram parte de círculos sociais muito bem sucedidos podem, eventualmente, ser fracassadas econômica ou emocionalmente. Assim como pessoas que frequentam escolas sofríveis e frequentam círculos sociais fragmentados podem se dar muito bem na vida. A questão é a probabilidade de isso acontecer, tanto pra bem quanto pra mal.

O futebol é igual. A quantidade de variáveis que incidem sobre uma partida é tão grande que ninguém consegue prever exatamente qual vai ser o resultado. Tudo o que você consegue fazer são apostas em fatores que tornarão mais prováveis a obtenção de um resultado favorável. É um jogo de números. Ou melhor, é um jogo de porcentagens. Toda vez que eu vejo o replay de um gol eu fico me perguntando qual era a probabilidade de aquele gol acontecer. Um chute que passa por baixo da perna de um zagueiro, bate no lado de dentro da trave, toca nas costas do goleiro e entra é resultado de uma combinação favorável de uma infinidade de variáveis. Se a bola tivesse sido chutada com um desvio de 0,1 grau, ela teria batido na perna do zagueiro e ido pra fora.

Se ela ainda assim passasse por baixo da perna do zagueiro, bateria na parte central da trave e rebateria para uma área do campo que não teria ninguém. Se nada disso acontecesse e o goleiro tivesse usado um pouco menos de impulso no pulo, ela não teria rebatido em suas costas.

Apesar de esse lance parecer algo extremamente complexo, lances mais corriqueiros também são resultados da mesma combinação de infinitas variáveis. Quando um jogador cruza uma bola na área e outro cabeceia para dentro do gol, qual era a probabilidade de o cruzamento ter sido feito naquela mesma altura, força e direção? Qual era a probabilidade de o cabeceador chegar na velocidade certa e posicionar a cabeça na direção correta para que a bola fosse a uma posição que se o goleiro tivesse um passo para o lado ele conseguiria defender? E se as probabilidades são tão distintas, por que os mesmos times conseguem ganhar mais partidas do que os outros?

A resposta é sempre a mesma: probabilidade. Se você comprar um juiz, por exemplo, não quer dizer que você vá ganhar uma partida, apenas que você terá maior probabilidade de vencê-la. A mesma coisa acontece quando uma equipe joga em seu estádio, quando a torcida faz foguetório na frente do hotel, quando o outro time faz declarações provocativas publicamente, e assim por diante. No futebol, e na vida, não existem fatores determinantes. Apenas medidas para aumentar a probabilidade de que aquilo que você quer que aconteça de fato aconteça. E tudo o que você pode fazer é trabalhar a favor do aumento das probabilidades. E também saber que aquilo que acabou de acontecer, seja algo positivo ou negativo, é também fruto da probabilidade. E que independe única e exclusivamente do seu controle, que no fundo pode ter tido apenas uma mínima influência em todo o processo.

O problema é quando alguém deixa de reconhecer isso. Quando se muda tudo por conta do desacerto do provável. Quando se põe por terra um trabalho que provavelmente estava certo em favor da mínima chance que deu errado. Decisões são tomadas acreditando que o que está certo está certo e o que está errado está errado. Que não há espaço para a influência da variável que não foi prevista. Que está tudo sobre controle.

Não. Não está tudo sobre controle. É impossível estar tudo sobre controle.

Aceitar isso é fundamental para a melhor compreensão do funcionamento das coisas.
E, certamente, faz com que você seja uma pessoa muito menos estressada, principalmente com o seu time.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br  

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Vinte e dois atrás de uma bola

– Cansado, Oto?

– Rapaz, a gente estava jogando fruitbol. Fazia um calor danado no fundo da caverna.

Meu amigo de asas referia-se àquele joguinho que os morcegos aqui da caverna adoram jogar. Passam uma frutinha de boca em boca, tentando encaixá-la em um buraco na parede.

– Deu briga, Bernardo.

– Briga? Mas era só uma brincadeira.

– Ah, como se vocês humanos também não brigassem em qualquer brincadeira. Pior, até se matam. A gente tem umas briguinhas, mas todo mundo continua amigo.

Os morceguinhos ficavam eufóricos com o fruitbol. Jogavam horas seguidas e terminavam assim, esbaforidos, excitados. Terminado o jogo, Oto adorava me contar suas façanhas. Assisto a algumas partidas e nada do que ele conta é real. São fantasias, delírios, invenções de sua imaginação fértil, típicas daquele estado que costuma suceder o jogo.

– Tenho um primo em São Paulo que acha o nosso jogo uma besteira, uma perda de tempo. Sempre fala que não conhece nada mais estúpido que vinte e dois marmanjos correndo atrás de uma bola, ou vinte e dois morcegos, o que, para ele, dá na mesma – disse Oto.

– Imagino então que ele tem algum outro jeito de perder tempo – falei.

– Ele lê; nas prateleiras mais antigas das bibliotecas da USP. Mas para ele isso não é perder tempo – completou meu amigo – Diz que já voou até Coimbra, onde tem uma biblioteca muito frequentada por morcegos.

– Perder tempo é bom – prossegui – Quando o que fazemos não tem nenhum outro sentido que apenas viver, esse é o perder tempo que vale a pena.

– E correr atrás de uma bola é desse tipo de perder tempo? – perguntou Oto.

– É o que eu acho.

– Isso que vocês fazem, de ficar como doidos correndo atrás de uma bola para lá e para cá, gritando, chutando a canela um do outro, comemorando, xingando, brigando, serve para quê? – tornou a perguntar o morcego?

– Para nada – respondi.

– E tem alguma explicação?

– Para mim, nenhuma – respondi ao morcego.

– Dá mais saúde? – ele insistiu.

– Acho que isso não tem importância – eu disse.

– Produz o que? – o morcego teimou.

– Nada – eu falei.

– E não tem nenhuma outra importância, pequena que seja? – Oto já estava um tanto preocupado.

– Tanto quanto esta nossa conversa – arrematei.

– Mas para quê viver assim, sem utilidade, sem sentido, sem serventia? – perguntou Oto, acho que pensando lá no seu primo.

– É porque, quando se tira toda a utilidade de alguma coisa que a gente faz, e mesmo assim o gosto pela coisa continua, é porque vale a pena. Fazer por fazer é o mesmo que viver por viver – respondi.

– Mas, então isso é bom, faz bem, tem um sentido – concluiu o quiróptero.

– Se você quiser entender assim, que seja.

– Isso quer dizer que jogar futebol, correr como doido atrás de uma bola, é um bom jeito de viver – disse o morcego.

– É, é quando o que a gente faz é um fim e não um meio.

– Então perder tempo faz bem, Bernardo?

– O tempo que a gente tem é para ser perdido. Correr atrás de uma bola é uma boa maneira de fazer isso. A vida costuma ser melhor nesses momentos que naqueles em que fazemos coisas chamadas úteis. Às vezes basta viver, e isso pode ser feito correndo atrás de uma bola, conversando com você, ou dando cabriolas dentro da água, como nosso amigo Arnaldo, o bagre cego, aí no lago da caverna. Olha ali fora a coruja pousada há horas naquele galho seco, olhando, olhando… para onde? O que quer dizer isso?

– Você está me dizendo então que trabalhar é ruim? – perguntou o morcego com certo tom moralista na voz.

– Não dá para não trabalhar, senão a vida se acaba, não se sustenta. O trabalho equilibra esse perder tempo, que é o outro nome do jogo. Não se pode jogar indefinidamente, sem limites. Mas se a gente puder trabalhar e jogar ao mesmo tempo, melhor, não é? – acrescentei tentando responder ao meu amigo.

– Como se faz isso?

– Gostando muito do trabalho que a gente faz – respondi, tentando encerrar o assunto, que já me cansava.

Era tarde. Oto distraiu-se e esqueceu de sair com os amigos para caçar. Preferiu ficar comigo naquela conversa que não levava a nada. A noite ia alta. Os meteoritos se travestiam de estrelas, fragmentando-se contra a atmosfera, riscando de luzes a noite escura. As estrelas piscavam chamando a atenção. Aurora piou longamente e alçou voo para perder-se na noite. Tudo funcionava sem muito sentido, e em harmonia. Não era preciso pensar para entender tudo aquilo. No céu, vinte e duas estrelinhas corriam atrás de um cometa.

*Bernardo, o eremita, é um ex-torcedor fanático que vive isolado em uma caverna. Ele é um personagem fictício de João Batista Freire.

Para interagir com o autor: bernardo@universidadedofutebol.com.br  

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Footville

As redes sociais, na internet, já são, notadamente, um grande e inteligente ambiente de comunicação e relacionamento entre as pessoas.

Muita gente, inclusive, relaciona-se muito mais virtualmente do que em carne e osso. É mais rápido, mais fácil – o trânsito não vira desculpa pra ninguém – e fica tudo bem entre todos, apesar da frieza aparente.

Ainda que se felicite o seu amigo deixando um recado no Orkut ou no Facebook.

É assim. E será cada vez mais comum e socialmente aceito enquanto comportamento.

Como meio de relacionamento, pois, as redes sociais já estão consolidadas. Não à toa que o Facebook desbancou o Google como site mais visitado em março.

O Second Life não emplacou porque era sofisticado e exigia demais em termos de tecnologia do usuário – não era qualquer computador que rodava.

Por outro lado, as redes sociais de hoje são facilmente acessadas até pelo telefone celular.

A partir de agora, o que se vê no horizonte é o que as pessoas vão fazer umas com as outras dentro das redes sociais.

Avançou-se da rede social 1.0, eminentemente individualista – eu coloco as minhas fotos, os vídeos preferidos, links, sites, amigos – para a rede social 2.0 – colaborativa, na qual eu posto comentários naquilo que os outros fazem, organizo as pessoas em torno de causas e interesses comuns (comunidades), faço uso de aplicativos sociais e também jogo socialmente.

Jogar socialmente? Com certeza! O grande fenômeno de jogos sociais se chama Farmville, no qual as pessoas são fazendeiros virtuais e interagem entre si, cuidando de tudo o que aconteceria numa fazenda real.

São 82 milhões de fazendeiros virtuais. E, no total, dos 400 milhões de usuários do Facebook, 230 milhões jogam socialmente.

No meio disso, existe dinheiro de verdade, sim. A moeda virtual é aceita, mas também a real, por meio de cartão de crédito. O fazendeiro pode acelerar a expansão e as benfeitorias gastando dinheiro de verdade, ou optar por fazê-lo a partir da inteligência e participação no jogo.

Sem contar, logicamente, na receita obtida pela publicidade feita por empresas interessadas em explorar o potencial das redes sociais.

O futebol, como parte integrante da sociedade brasileira e intrinsecamente ligado à própria formação do nosso povo, possui todas as características positivas para que se pudesse desenvolver um Footville.

Por enquanto, as iniciativas são tímidas ou se resumem a cópias simplistas, sobre um fenômeno complexo e com grande potencial de desenvolvimento como negócio na internet.

Os principais clubes de futebol no Brasil não se vangloriam de ter milhões de torcedores?

Todos eles devem estar, nos próximos anos, inseridos nas redes sociais da internet e jogando Farmville – na falta do Footville.

E a riqueza gerada pelos negócios não irá para o bolso do clube. Deverá ir para o BNDES virtual, como pagamento do financiamento para compra de máquinas, insumos e manutenção das fazendas.

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Marcação zonal: entendendo melhor o conceito

Nesta semana, vou tentar uma ideia diferente em minha “Coluna Tática”.

Se a repercussão for boa, e se o conteúdo cumprir com seus objetivos, quem sabe, não podemos fazer dessa ideia um hábito.

Ao invés de escrever uma “Coluna Tática”, proponho dessa vez um “Vídeo Coluna Tática”, que vai explorar o conceito da marcação por zona.

Introdução aos Aspectos Táticos do Futebol“: conheça o novo curso on-line oferecido pela Universidade do Futebol

É uma produção de aproximadamente sete minutos.

Ainda não sei bem como transformar uma coluna escrita em vídeo.

Como é a minha primeira tentativa, sei que se outros (vídeos) vierem, com o que vou aprendendo, cada vez mais, vai ficando melhor.

Segue, então minha “Vídeo Coluna Tática”:


 

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Notas desconexas

1- Se você perguntar para o Jérôme Valcke – que ninguém lembra, mas foi o cara responsável pelo rolo entre a Fifa, a Mastercard e a Visa, no qual disse que no mundo dos negócios não se diz necessariamente a verdade, o que é chamado de mentira comercial – qual é a maior preocupação da sua vida no momento, ele certamente não dirá que é o Morumbi. Afinal, ele é o cara responsável por Copas do Mundo na Fifa, e a África do Sul, no momento, está possivelmente trazendo mais tristezas do que alegrias para o secretário geral do futebol mundial.

Os hotéis cancelaram milhares de reservas, a venda de ingressos está abaixo da expectativa, a segurança sul-africana está sendo cada dia mais questionada, os funcionários públicos ameaçam entrar em greve e por aí vai. Não que isso vá gerar uma Copa do Mundo vazia. Longe disso. É bastante provável que os estádio estejam entupidos, de um jeito ou de outro. Agora já está muito tarde para pensar em outras estratégias, o negócio é vender ingresso. Nem que seja em supermercado. E isso, certamente, vai ter consequências para a Copa no Brasil.

A Fifa deve endurecer o jogo. Ela está aprendendo na marra que África do Sul não é igual Alemanha, Japão e Coréia. E vai perceber que o Brasil é mais parecido com a primeira do que com os últimos. Pior para quem organizar as coisas por aqui.

2- A eleição do Clube dos Treze foi bastante esquisita. Ficou parecendo que ninguém queria brigar de verdade com ninguém, independentemente das promessas feitas em troca de votos. No fim, analisando quem votou em quem, deu pra perceber que os clubes tentaram diluir o risco.

Dos quatro principais clubes de SP, dois votaram em um candidato e dois em outro, o que garantia um equilíbrio representativo independente de quem ganhasse. A mesma coisa valeu pra RJ, MG e PR e BA. Só o RS votou em peso no Fábio Koff, mas lá o cara tem os naming rights do campeonato, então já era imaginado que isso fosse acontecer.

Quem acabou decidindo foram a Portuguesa, o Guarani e o Sport. Dos estados que votaram no Kléber Leite, só Goiás não votou também no Koff. Não que isso vá gerar maiores problemas pro clube. No final, todo mundo se acerta.

No Brasil, ninguém gosta muito de brigar. Basta lembrar que o país deve ser o único lugar no mundo em que houve um golpe militar para assumir o governo sem que nenhuma gota de sangue fosse derramada.

3- O futebol brasileiro vive em constante esperança de mudanças nas estruturas de seu futebol desde os anos 1970, quando começaram a falar que mudanças eram necessárias. De lá para cá, bem verdade, pouca coisa mudou. É por isso que eu sou um pouco cético com relação a qualquer declaração esperançosa de que o futebol brasileiro passará por uma revolução.

Basta lembrar da recente histeria com relação à violência nos estádios. Criminalização, carteirinha, câmeras, diabo a quatro. Apesar do rebuliço, nada, absolutamente nada mudou de lá para cá. Na verdade, foi tudo esquecido. Parece que nem teve nada disso, tipo quando você está de ressaca. Você acha que aconteceu, mas não tem muita certeza. Daí meu ceticismo. Recomendo-o.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Tecnologia no futebol – "Mini fórum" com os leitores: os portões abertos

Olá, amigos!

Nesta semana, a palavra é para o grupo de amigos leitores que defendem os portões abertos do futebol para a tecnologia e seu uso na arbitragem.

O grupo de e-mails de pessoas que defendem o uso da tecnologia é numerosamente maior que os demais, o que nos mostra certa convergência daqueles que discutem futebol, respeitando, com certeza, a colocação dos outros colegas que se manifestaram contrários totalmente ou parcialmente.

Mas isso não nos apresenta valor, uma vez que não foi a importância estatística e quantitativa de respostas que pretendíamos com esse debate, e sim a discussão sob os mais diversos pontos de vistas com base para reflexões mais aprofundadas e de alto nível, contando com a colaboração de opiniões aprofundadas sejam elas com o juízo de valor que tiverem.

Apenas mencionei o volume de informações com intuito de me desculpar antecipadamente por um eventual deslize e esquecimento de algum dos nomes de nossos amigos colaboradores.
 

Os portões abertos

É quase que unânime a opinião de que os benefícios da tecnologia na arbitragem surgem como instrumento de credibilidade que vem a somar com os árbitros, e não substituí-los. Argumentos que defendem a tomada de decisão do árbitro, apenas contando agora com instrumentos mais eficazes.

Em tópicos:

O uso da tecnologia oferece mais transparência e decisões objetivas da regras, minimizando o erro humano (Luis Sérgio, Carlos Batista, Ferreira Santos, Mario Furns, Fabio Lins, Romeu R., Lucas Proença, Ana Maria Siqueira, Xandinho);

A precisão da tecnologia permite que os questionamentos e intimidações de atletas percam sentido, indo de acordo com o tão chamado Fair Play que a Fifa prega, uma vez que jogadores e técnicos não teriam como intimidar psicologicamente um aparato tecnológico para errar ou acertar na chamada lei da compensação (Ana Maria Siqueira, Peterson Figueiredo, Jonas Mariano);

A tecnologia pode contribuir com o tempo de bola em jogo, diminuindo o tempo perdido com lances polêmicos (Carlos Batista, Jonas Mariano, Mario Furns, Fabio Lins, Romeu R., Peterson Figueiredo, Lucas Proença, Ana Maria Siqueira, Xandinho, Zé Luis, Fabio Guedes)

Tornaria o jogo mais centrado em estratégias, planejamento e, sobretudo, na ação do talento individual como fatores de decisão de resultados (Ana Maria Siqueira, Jonas Mariano, Luis Sérgio);

Assim como a adoção do cartão para facilitar a comunicação, a adoção do spray em alguns lugares para manutenção da distancia regulamentar da barreira, e da mais recente comunicação via rádio pelos árbitros, a adoção de outros recursos viriam como instrumentos auxiliares aos árbitros para tomadas de decisão (Fabio Guedes, Lucas Proença, Isabel Martinelli, Carlos Batista, Fabio Lins, Ferreira Santos, Xandinho);

Sobre os altos custos de implementação de maneira universal, alguns defendem que é um preço que tem de se pagar, e outros que isso seria absorvido naturalmente com o tempo e barateado cada vez mais quando adotado em escalas maiores.

Agradeço a participação de todos ao longo dessas semanas. Na próxima, montaremos um painel com as três linhas de argumentos e teceremos algumas considerações.

Fico com a certeza de que essa troca de experiência e opiniões é muito rica e “sem sombra de dúvidas” modificou um pouco de cada uma de nossas ideias, entendendo um ponto de vista aqui, discordando de outro acolá, mas sempre em busca de um aprofundamento consistente.

Abraços e até a próxima terça!

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Clube da (des)União*

Em 1987, os clubes de maior torcida do país se uniram para criar uma liga nacional de futebol. Meio que nos moldes do que é o modelo americano de gestão de competições esportivas, a ideia era de que os clubes assumissem as rédeas para controlar o principal torneio do país, o Campeonato Brasileiro.

Pouco mais de 20 anos depois, e o que era para ser a liga brasileira de futebol vai virar pó. Na tarde desta segunda-feira, não importa quem vença as eleições para a presidência do Clube dos 13, o futebol brasileiro estará mergulhado num racha que pouco vai beneficiar o futuro do que deveria ser a gestão do principal produto do esporte no país: o Campeonato Brasileiro de Futebol.

Fábio Koff gaba-se de valorizar os contratos de TV nos últimos anos, gerando uma considerável fonte de receita para os clubes. Deveria agradecer, lá no final dos anos 90, ao SBT e ao estouro do mercado mundial de compra de direitos de transmissão, que levaram o preço do Brasileirão ao seu primeiro salto. Depois, tem de agradecer à conjunção de dois fatores. O primeiro, à adoção dos pontos corridos, que fez o torneio ter mais datas. Depois, à disputa Globo x Record, nos últimos anos, que fez o preço dobrar.

Foi assim que os contratos de TV se valorizaram tanto sob “sua gestão”. E é esse o maior motivo de orgulho da atual gestão do Clube dos 13 em quase 15 anos à frente da entidade. Porque, com o passar dos anos, quase nada de novo foi feito.

A gênese do C13, lá em 1987, era com o intuito de criar um órgão que representasse os clubes e organizasse as principais competições entre eles. Ao longo do tempo, isso se perdeu, especialmente em 2001, quando a ideia de uma Liga Nacional estava montada, mas a força da CBF fez com que Fábio Koff se contentasse em apenas negociar contratos com a TV.

Agora, surge com força o nome de Kléber Leite para “renovar” o C13. Renovar entre aspas, porque Kléber não é alguém preocupado em dar força aos clubes, em criar um modelo mais independente de entidade representativa dos times de futebol (seja ela na negociação do contrato de TV ou de patrocínios para os campeonatos do país).

Leite se calca em dois apoios de peso. CBF e Corinthians.

Impossível uma entidade que quer representar, nem que seja comercialmente, os clubes, estar vinculada tão diretamente com a CBF.

Não vai dar liga. Ou, se der, será uma liga capenga, formada com base em acordos políticos, e não em interesses comuns (organizarem o campeonato mais equilibrado possível para gerar a maior receita possível aos clubes).

Sem um executivo independente, vindo do mercado, preocupado em ser, de fato, um diretor cujo objetivo é trabalhar para a geração de receita dos clubes, não há consenso.

A União dos Clubes do Brasil já se foi. Pela política. E a eleição desta segunda-feira é a prova de que não irá para a frente qualquer projeto de liga independente no país. O futebol no Brasil continua a ter um dono. Cada vez mais poderoso. Pelo menos até 2014…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

*Atualizada às 14h59

O atual presidente do Clube dos 13, Fábio Koff, se manteve no cargo após a eleição. Na sede da entidade em São Paulo, os 20 principais clubes do país deram seu voto aberto. Koff derrotou Kléber Leite, candidato da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), por 12 votos a 8, e alcançou o seu sexto mandato. Ele já está há 14 anos no cargo.

Em um pleito disputadíssimo, obteve 12 votos no total. Flamengo, São Paulo, Palmeiras, Fluminense, Atlético-MG, Atlético-PR, Sport, Grêmio, Internacional, Guarani, Bahia e Portuguesa apoiaram Koff.

Já Kléber Leite contou com os oito votos restantes de: Corinthians, Santos, Cruzeiro, Botafogo, Goiás, Vitória, Vasco e Coritiba. O ex-comandante flamenguista precisava do apoio de 11 clubes, no mínimo, para vencer. Se houvesse empate, o presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio, teria o voto de minerva por ser o representante mais velho.

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Diário de viagem – Final

O último, mas não menos importante, capítulo de nossa viagem à acolhedora e fascinante Irlanda foi desfrutado na sede da Federação Irlandesa de Futebol (FAI).

A FAI dispõe de uma vasta área nos arredores de Dublin, onde se encontram campos para treinamento e a sede administrativa.

Vizinha a ela, pudemos ver as instalações do Comitê Olímpico Irlandês.

O executivo-chefe da FAI, John Delaney, é reputado como o grande protagonista da transformação do futebol irlandês nos últimos anos. Além disso, ocupa uma das Vice-Presidências do Comitê Olímpico Irlandês.

E não se trata de acumular mais um salário – a integração entre as duas entidades funciona muito bem.

Passamos o dia todo envolvidos num ciclo de palestras.

Na primeira dela, o chefe de segurança da FAI apresentou, no Plano de Ação para o Dia de Jogo, todos os detalhes da organização conjunta entre a federação, a polícia, a prefeitura e os estádios onde se realizam os jogos amistosos e oficiais das seleções nacionais.

O documento é um enorme dossiê, fruto do envolvimento coordenado dos líderes de todas aquelas entidades preocupadas em garantir a segurança e bem-estar dos torcedores. Não se percebe jogo de empurra-empurra quanto às responsabilidades de cada órgão.

E o número de maus torcedores fichados pelo controle da FAI e da polícia impressiona: sete (antes do jogo contra o Brasil eram apenas seis).

A seguir, tivemos contato com toda a gama de projetos desenvolvidos pela FAI.

Em todos eles, ficou claro uma coisa: o futebol é um meio absolutamente importante de inclusão social, que extrapola a detecção e formação de talentos.

Em outras palavras, isso é um pano de fundo importante na política de gestão – não a gestão política.

O Programa de Desenvolvimento do Futsal conta com a participação de um treinador brasileiro, como auxiliar. Trata-se de algo estrategicamente relevante para o país, por dois motivos: o futsal, além de poder ser praticado nas escolas, num país com invernos rigorosos, é considerado como importante na formação complementar de futuros jogadores do futebol de campo.

Já no programa Football for all (“Futebol para todos”), o objetivo principal é dar oportunidade às pessoas que não teriam, em princípio, a chance de praticar o futebol. Aqui, são desenvolvidas atividades e competições para surdos, cegos, pessoas com paralisia cerebral, sem-tetos, amputados e cadeirantes. Ademais, jovens em situação de risco também são levados a praticar, aprender e ensinar o futebol dentro das penitenciárias – para ver de perto o que significa abrir mão da liberdade…

Nos Summer Soccer Schools, os acampamentos são utilizados, no verão, para despertar nas crianças o interesse pela prática do futebol. Utiliza-se como etapa de iniciação esportiva.

O Football Intercultural Programme é um dos mais interessantes. A Irlanda, após ter ingressado na União Européia, passou a ser destino de muito imigrantes de todas as partes do mundo. E isso, naturalmente, provocou atritos socioculturais. Assim sendo, a FAI estimula a interação entre pais e filhos de irlandeses e imigrantes, por meio do futebol. O próprio ensino do inglês é feito durante os exercícios do futebol.

O Departamento Técnico cuida da formação e aperfeiçoamento dos profissionais que irão atuar diretamente em todo o sistema de futebol do país. São vários cursos ofertados.

Por fim, cabe mencionar o School Football, por meio do qual o futebol é inserido no ambiente das escolas, como parte indissociável da formação dos jovens.

A fascinante e acolhedora Irlanda nos presenteou com uma lição.

Que futebol é educação. É integração social. É formação do caráter. É solidariedade. É amizade. É transformação de um país em algo mais.

Por lá, o futebol não se encerra em si mesmo. Não é fim. É meio.

Que possa servir como inspiração para o Brasil 2014.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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O exemplo do modelo americano de Ligas

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Na última quinta-feira, em uma das aulas que ministro em gestão do futebol, surgiu um assunto bastante interessante. Bem verdade que mais acadêmico que prático, mas de toda forma muito pertinente.

Discutíamos a construção histórica dos esportes nos Estados Unidos, e o caráter exclusivo com que as relações esportivas profissionais foram desenvolvidas naquele país. Como o esporte norte-americano teve, desde seu início, uma orientação voltada para o profissionalismo e o lucro.

Fazendo o paralelo para o modelo de ligas europeu, pode-se perceber que o sistema norte-americano permite uma maior intervenção dos órgãos reguladores sobre os clubes (ou franquias), viabilizando um maior controle do chamado equilíbrio competitivo (competitive balance).

No modelo europeu, temos uma maior liberdade para o fortalecimento dos clubes maiores, em detrimento da grande massa dos pequenos clubes, cada vez mais enfraquecidos.

Recentemente, a Uefa na Europa sinalizou com a preocupação da proteção de clubes menores, e, com apoio da Liga Francesa e do Michel Platini, tentam implementar um sistema de licenciamento financeiro dos clubes, para começar a promover um maior controle sobre os clubes. Em outras palavras, se os clubes maiores forem compelidos a pagar suas dívidas (ou ao menos gerenciarem seus passivos), poderíamos ter um maior equilíbrio.

Também deveria haver um controle maior sobre a distribuição solidária de receitas entre os clubes menores, de forma a sempre permitir que clubes menores estejam fortes nas suas competições (para permitir que semifinais como a que vemos hoje em São Paulo aconteçam com maior frequência).

O modelo americano de ligas fechadas é impossível de ser implementado no nosso modelo europeu de divisões abertas, com promoções e rebaixamentos. Porém, é preciso olharmos para alguns princípios lá vigentes, que poderiam ser úteis para nós e, principalmente, fortalecer clubes formadores, pequenos e tradicionais, que são, no frigir dos ovos, o combustível principal que movimenta a nossa indústria do futebol profissional.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br  

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Porque o Brasil não dá Liga

Prega a epistemologia que, para dizer o que uma coisa é, primeiro é preciso definir o que ela não é. E a impressão que eu tenho é que muita gente no Brasil não sabe muito bem o que é uma liga. Então, vamos primeiro definir o que não é uma liga.

O Clube dos Treze não é uma liga.

Não é, nunca foi e nunca será.

Quando ele nasceu em 1987 e criou a Copa União, quase virou uma liga. Mas ficou por aí, no quase.

Uma liga é, de maneira bem simples, um campeonato. Nada mais do que isso.

Ela é constituída pelos clubes que disputam esse campeonato e serve como uma instituição coletiva que se preocupa com a organização, a comercialização e a sustentabilidade do torneio.

Daí, portanto, a razão de o C13 não ser uma liga. Apesar de ele, de fato, ser responsável por uma parte significativa da comercialização da Série A do Campeonato Brasileiro, o órgão não é formado pelos clubes que participam da competição, e sim por um grupo de clubes que não necessariamente toma parte do torneio. É, enfim, uma aberração esportiva.

Suponhamos que o Brasil tivesse uma liga, tipo a Bundesliga – provavelmente o melhor exemplo de liga no futebol tirando a MLS, e que ela se chamasse ‘Liga Brasil’, pra facilitar as coisas. Fosse verdade, o nome certamente não seria esse, já que iriam inventar algo do tipo ‘Grande Liga Brasileira’ ou homenagear algum personagem histórico da administração do futebol nacional, tipo ‘Liga Onaireves Moura’.

De qualquer maneira, a Liga Brasil teria que ser uma entidade independente e soberana, onde fariam parte do seu conselho os representantes de todos os clubes que disputam o campeonato ou campeonatos, caso a LB também cuidasse da Série B. Nesse conselho, os clubes teriam voto único e teriam que obedecer a um estatuto muito bem redigido que deixaria o poder da LB superior à vontade desses clubes sob qualquer hipótese.

Para uma liga dar certo, ela precisa ser muito mais importante que os clubes que fazem parte dela, independentemente do tamanho ou importância histórica do clube.

Aí já aparecem dois problemas que inviabilizam a formação de uma liga no Brasil. Primeiro, porque a igualdade entre clubes nunca vai acontecer. Essa igualdade não se dá apenas na representação política, ou seja, na ideia do “um voto para cada participante da liga”. A igualdade, na verdade, se faz muito mais presente na distribuição de receitas, já que todos os clubes participam do mesmo campeonato e cinco clubes sozinhos não conseguiriam disputar uma competição que durasse um ano inteiro.

Como as receitas provenientes de outras fonte é escassa – como as receitas de dia de jogo -, os clubes grandes só conseguem obter vantagem competitiva através do formato atual do contrato de televisão. Portanto, eles não estariam dispostos a abrir mão da atual divisão de receitas em prol do fortalecimento da liga sob o risco de perder dinheiro e, consequentemente, vantagem competitiva.

O segundo impeditivo é quem seria o representante do clube na LB, ou LON, no conselho da liga. No C13, quem representa os clubes são os presidentes. Em uma eventual liga, os representantes precisariam ser executivos remunerados e com dedicação exclusiva aos clubes, uma vez que o fato de um presidente eleito de clube só permanecer no cargo por um período que pode ser a partir de dois anos faz com que a rotatividade do conselho da liga seja muito alta, o que certamente atrapalharia seu funcionamento.

Pior: presidentes que se movem por ações políticas e ações políticas de clubes dificilmente se conciliam com o interesse da coletividade. Para o presidente de um clube (e principalmente para seus eleitores), é muito mais importante superar o grande rival e ter vantagem em tudo que for possível do que pensar num acordo coletivo. Isso invariavelmente afeta o comportamento de uma liga e impede que ela consiga ser mantida por muito tempo. Um executivo provavelmente teria não apenas mais segurança de continuidade como pautaria suas decisões em concordância com variáveis mais racionais.

Adicionando a esses dois fatores, a própria ideia fundamental de uma liga impede a sua criação de maneira apropriada no Brasil. Uma liga tem que buscar a sustentabilidade financeira do seu campeonato. Portanto, mais importante do que gerar receitas, uma liga bem sucedida precisa implementar fórmulas de contenção de custos. De nada adianta aumentar receitas se os custos com salários e transferências aumentam ainda mais. Só que para controlar esse tipo de coisa, a liga precisaria, novamente, afetar os clubes, principalmente os grandes.

Métodos de controle de gastos teriam que ser implementados, o que impediria clubes de cometerem loucuras financeiras em prol do resultado em campo. E dificilmente o presidente de um grande clube conseguiria se submeter a esse controle caso o time estivesse seriamente ameaçado de rebaixamento.

No fim das contas, a verdade é que uma liga precisa favorecer a pluralidade em detrimento da individualidade. E no Brasil, clubes, presidentes, conselhos e sócios estão mais preocupados com o seu próprio umbigo. Enquanto isso permanecer – e nada indica que haverá qualquer mudança -, qualquer tentativa de liga não conseguirá funcionar direito por muito tempo. Independentemente de quem for o seu presidente. Nem se for o Onaireves Moura.

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