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O ano de 2009 ainda mal chegou à metade e já nos pregou varias peças… Não! Não estou me referindo à queda de Wall Street e a crise que se seguiu à sua derrubada, mas sim à despedida deste mundo de grandes figuras humanas…
Aqueles que acompanham a história de nossa América do Sul receberam com tristeza a notícia do falecimento, dia 19 do mês de maio, do escritor uruguaio Mario Benedetti, “um poeta comunista que traduziu em poemas sua utopia”, segundo palavras estampadas em diário brasileiro.
Dias antes (02), logo no início desse mesmo mês, morria entre nós Augusto Boal, teórico, diretor e dramaturgo expoente do teatro de resistência à ditadura sob o jugo da qual vivemos por 20 anos, desde o golpe à democracia brasileira instado pelos militares em 1º de abril de 1964. Mês e meio antes de seu falecimento (25 de março), o criador do Teatro do Oprimido dizia – por ocasião de sua nomeação como embaixador do teatro pela Unesco – que “atores somos todos nós, e cidadão não é aquele que vive em sociedade, e sim aquele que a transforma!”.
Pois o que isso tem a ver com a Universidade do Futebol e esse canto que nela ocupo? Tudo!
Explico… Tenho acompanhado as recentes peripécias do Corinthians – cá pra nós, superando até as expectativas do mais fervoroso fiel torcedor -, as quais me fizeram lembrar de um cronista que ocupava um espaço semanal na Folha de S. Paulo lá pelo final da década de 70, início da de 80 do século passado (!!), vez ou outra escrevendo sobre uma de suas paixões, qual seja… O Corinthians.
Pois em 1977 – mais exatamente no dia 12 de novembro – Lourenço Diaféria -assim se chamava – se superou, escrevendo o que abaixo transcrevo a vocês.
Ele não faleceu em 2009, mas um pouco antes, em setembro de 2008. Mas como os que acima menciono, faz parte da galeria dos que enaltecem a raça humana!
Antena ligada
Troquei meu televisor em branco e preto por um em cores com controle remoto, para facilitar a vida de meus filhos, que agora, sabe como é, época de provas, estão se virando mais que pião na roda. Imaginem que outro dia um professor teve a coragem de mandar meu filho gavião-da-fiel fazer um trabalho sobre o Sócrates.
Fiquei uma arara.
Em todo caso, apanhei a revista Placar e recomendei que o garoto consultasse os arquivos esportivos aqui da Folha e do Jornal da Tarde. Não é por ser meu filho, mas o guri caprichou do primeiro ao quinto.
Tirou zero.
Puxa, assim também é demais. Resolvi levar um papo com o professor, ver se não era perseguição. O professor foi muito gentil, porém ninguém me tira da cabeça que ele é palmeirense disfarçado de sãopaulino. Garantiu-me que havia ocorrido um equívoco: o Sócrates que ele queria era um craque da redonda que tomou cicuta. Essa é boa. Por que não avisou antes? Como é que vou adivinhar que o homem jogava dopado?
Me manguei, mas o professor percebeu meu azedume. Disse que ia dar uma nova chance.
Falou e disse.
Preveni meu garoto que ficasse de orelha em pé, lá vinha chumbo. Dito e feito. O professor, deixando cair a máscara alviverde, deu uma de periquito campineiro e pediu um trabalho completo sobre o Guarani.
Deixa que eu chuto, falei a meu filho. Pode contar comigo na regra três. Eu mesmo cuido da pesquisa.
Peguei a escalação completa do Guarani, botei o Neneca no gol, fiz a maior apologia do time da terra das andorinhas. Pra me cobrir e não deixar nenhum flanco desguarnecido, telefonei pro meu amigo Antonio Contente, que transa em assuntos culturais e conexos, como seja a imprensa, e pedi por favor que ele me mandasse uma camisa oito autografada. Diretamente de Campinas e pelo malote.
Não é pra falar, mas o trabalho escolar ficou um luxo.
Sem falsa modéstia, estava esperando pro meu filho no mínimo aprovação cum laude e placa de prata, para não dizer medalha de honra ao mérito.
Pois deu zebra.
Começo a desconfiar que o tal professor me armou uma arapuca e entrei fácil, como um otário. O homem deve ser primo do Dicá. Sabem o que o mestre fez? Hem? Querem saber? Deu outro zero pro meu filho. O pior é que não devolveu a camisa oito autografada.
Essa não deixei barato. Fui de peito aberto, às falas.
– Ilustre – eu disse -, com o perdão da palavra, mas que diabo de safadeza vossa senhoria anda arrumando pro meu garoto gavião-da-fiel? Então eu perco tempo, pesquiso, consulto a história gloriosa da equipe campineira, faço a maior zorra com o time do Brinco da Princesa, e o garoto ganha cartão vermelho?
Que grande cínico! O homem me olhou com aqueles olhos de olheiras – acho que tem almoçado e jantado mal, sei lá dizem que professor padece um bocado -, coçou a cabeça, murmurou:
– Foi o senhor que fez a lição?
Fiquei meio sem jeito:
– Bem, fazer não fiz. Dei uma orientação didática. Pai é para essas coisas…
Ele não se comoveu. Ao contrário, foi até rude:
– Se aceita um conselho, para de dar palpite na lição de casa de seu filho. O senhor não conhece nada do Guarani.
Falar isso na minha cara! Tive de agüentar calado. Nunca soube que no diacho do time campineiro figurasse uma dupla de área chamada Peri e Ceci. E com essa constante mudança de técnicos, como podia sacar que o técnico atual é o Zé de Alencar?
– Tá bem – eu disse -, não vamos brigar por tão pouco. O professor pode dar outra oportunidade ao menino?
Deu. O professor quer agora os capítulos completos de um romance, por
coincidência com o mesmo nome do time de Campinas: o Guarani. É qualquer coisa com índio sioux que de repente se vê obrigado a salvar uma mulher biônica das águas da enchente. Deve ser novela em cores. Mas só para complicar a vida de meu filho, o professor não revelou o horário. Porém desta vez ele não me ferra. Pela dica do enredo, que deixou escapar, deve ser mais uma dessas sucessões de cenas de violência que a gente é obrigado a engolir todas as noites na televisão.
Estou de antena ligadona, meu chapa.
Para interagir com o autor: lino@universidadedofutebol.com.br
Carlos Alberto Parreira está 40 anos à frente da maioria absoluta dos técnicos brasileiros.
Calma, sem polêmicas…
Não por sua sabedoria tática no comando de clubes e da seleção. Mas porque domina a língua inglesa, escrita e falada, desde o final da década de 1960, quando foi desbravar a então longínqua África para comandar a seleção de Gana.
Em 2010, a Copa do Mundo será na África do Sul, hoje comandada por outro brasileiro, Joel Santana – que não domina a língua e, naturalmente, isso lhe impõe muitas dificuldades no dia-a-dia do relacionamento com equipe, jornalistas e torcedores.
O “embromation” do treinador virou sucesso no Youtube e até ganhou versões funk e mixada com os desvarios de outro compatriota imperito na língua predominante no mundo, Anderson, meio-campista do Manchester United.
Não é só com o inglês que nossos profissionais sofrem. Luxemburgo também passou pelo mesmo enquanto foi “galáctico” no Real Madrid e destilava seu “portunhol” sem perder a pose jamás.
Aprender o inglês como segundo idioma, o espanhol como terceiro, o alemão como quarto não significa ser arrogante para atuar em um meio historicamente avesso aos letrados, estudiosos e ávidos por conhecimento.
Atualmente, isso é sinônimo de vantagem competitiva, pois dá aos profissionais mais chances de buscar dados e informações diretamente nas fontes de pesquisa (vide internet) para sua área de atuação, o que pode acarretar melhores contratos, mais chances de adaptação no estrangeiro e credibilidade.
Informação de qualidade e confiável vale muito num futebol fantasticamente globalizado em que vivemos hoje. Muito dela é produzida na esteira da vanguarda profissional européia e norte-americana, quando se trata de gestão esportiva e seus desdobramentos.
Para o Parreira sempre valeu muito, dentro do futebol, pois lhe possibilitou treinar várias seleções e clubes do exterior. E fora de campo, também, pois foi garoto-propaganda justamente de uma rede de escolas de inglês no Brasil durante a Copa do Mundo de 2006.
So, keep learning.
Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br
Olá amigos.
Gosto muito de alguns textos, fábulas e parábolas que, de maneira curta e sutil, nos trazem muitas lições. Em especial esta que apresento a vocês, me fez refletir sobre dois pontos, um que nos acostumamos a abordar nessa coluna e outro que foi repercutido nesta semana.
A difícil convergência entre alguns setores profissionais do futebol com os recursos tecnológicos e a saída de Muricy Ramalho do comando do São Paulo.
Eis o texto:
Durante uma era glacial, muito remota, quando parte do globo terrestre esteve coberto por densas camadas de gelo, muitos animais não resistiram ao frio intenso. Indefesos, morreram por não se adaptarem às condições do clima hostil. Foi então que uma grande manada de porcos-espinho, numa tentativa de se proteger e sobreviver, começou a se unir, e juntar-se mais e mais. Assim, cada um podia sentir o calor do corpo do outro. E todos juntos, bem unidos, agasalhavam-se mutuamente, aqueciam-se enfrentando por mais tempo aquele inverno tenebroso. Porém, vida ingrata, os espinhos de cada um começaram a ferir os companheiros mais próximos, justamente aqueles que lhes forneciam mais calor, aquele calor vital, questão de vida ou morte e afastaram-se feridos, magoados, hostilizados, por não suportarem mais tempo os espinhos dos seus companheiros.
Aqueles espinhos que aqueciam também feriam e doíam muito. Mais tarde, descobriram que essa não era a melhor solução: afastados e separados, logo começaram a morrer congelados, os que não morreram voltaram a se aproximar, pouco a pouco, com jeito, com precauções, compreensão, de tal forma que, unidos, cada qual conservava uma certa distância do outro, mínima, mas o suficiente para conviver, resistindo à longa era glacial.
Um texto curto e simples, mas que, conforme afirmado anteriormente, se identifica muito com os casos citados.
Por mais que o espinho chamado tecnologia possa incomodar alguns profissionais, a convivência entre ambos é por demais necessária para que a tecnologia não morra, como também para evitar que o profissional se iluda com a falsa consciência de que não precisa de ninguém e de nada, pois já é auto-suficiente (diz que sempre ganhou tudo sem precisar de nada, ainda que nunca tenha ganho nada).
Em outro fato, temos a saída do tricampeão brasileiro Muricy Ramalho. Muitos espinhos sobram para todos os lados nesse fato. Seja na relação Muricy x imprensa, ou Muricy x diretoria, ou ainda diretoria x Copa do Mundo. Enfim, muitos caminhos.
Confesso que não sou um fã incondicional do Muricy Ramalho. O que para alguns pode ser uma tremenda heresia e um desconhecimento de futebol, por não considerar o que todos observam que ele é o técnico eleito melhor do Brasil por quatro anos consecutivos, tendo conquistado três títulos. Mesmo porque, penso existir diferentes formas de se desenvolver um trabalho sem que uma exclua a outra (sem que os espinhos sejam nocivos). Mas deixemos essa discussão para outra oportunidade.
Nesse momento, deve-se atentar que o São Paulo, reconhecidamente um clube estruturado e mestre em planejamento, deve ter motivos sólidos para suas ações. Apenas para reflexão, basta pesquisarmos a quanto tempo Arsène Wenger é técnico do Arsenal e pensar como seria se a cada eliminação do torneio intercontinental, ou ainda, no período de construção do estádio, ou nas reformulações do elenco, sua cabeça fosse colocada a prêmio.
O fato é que na era glacial que o São Paulo está passando, os muitos porcos-espinho se aproximaram demais uns dos outros e sabemos como é que é, a corda sempre estoura no “espinho mais fraco”.
Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br
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Gangorra da vida
Dunga, Ronaldo, Keirrison, Cuca, Muricy Ramalho. Semana sim, outra não, esses personagens dominam boa parte do noticiário esportivo. E, a cada sete dias que passam, a imprensa teima em sentenciar o destino já traçado para cada um deles.
Até a próxima rodada, é assim que a imprensa vai traçar os destinos desses personagens e de tantos outros que disputam uma partida profissional de futebol. No final de semana, foi a vez de a corda de Muricy Ramalho roer. Após quase quatro anos de tentativas insistentes da imprensa em decretá-lo como imprestável ao ser eliminado de uma Copa Libertadores, finalmente o São Paulo “cedeu” aos apelos e desfez-se do técnico mais vitorioso da década.
É curioso como o atleta e o treinador de futebol são tratados, em geral, conforme o resultado que apresentam dentro de campo. Se não houver um bom desempenho, a sentença derradeira é determinada, como se não fosse possível passar por uma má fase ou ter um dia ruim. Por outro lado, quando há resultado, tudo se transforma num mar de tranquilidade.
Muitas vezes a pressa no dia-a-dia do jornalista é vista como a grande vilã para que a mídia trate o trabalho no futebol como algo relacionado apenas ao resultado que é apresentado dentro de campo. Nesse cenário, não existe tempo para a análise crítica, para a criação de critérios mais claros que permitam um julgamento mais profundo do trabalho no esporte mais popular do país.
Mas o fato é que essa situação evidencia a falta de um trabalho mais estruturado, vindo lá da base, para a formação em educação física no nosso cotidiano.
Hoje, para trabalhar com o esporte profissional de alto rendimento, a pessoa tem de se especializar muito, tem de obter conhecimentos nas mais variadas áreas, tem de saber pensar para poder ter um bom desempenho profissional.
Treinador, psicólogo, fisiologista, médico, atleta, massagista, nutricionista, sociólogo, administrador, marketeiro. Todos os setores envolvidos no cotidiano de um time profissional de futebol tiveram de passar por um processo de ampliação dos estudos, da profissionalização e atualização constantes, para poder chegar ao nível que hoje estão.
Do outro lado, porém, a imprensa reflete a falta de educação na escola, que é a base para a formação da sociedade. O jornalista que hoje fala sobre esporte raramente possui uma qualificação interdisciplinar. Na verdade, dificilmente encontramos jornalistas que tiveram, de fato, uma educação física na escola.
Quando crianças, geralmente fomos ensinados a praticar esporte, e não a estudá-lo. Nas aulas, o professor dividia a classe em times e o melhor era sempre quem ganhava a partida. Na sua essência, essa aula era apenas para a prática do futebol. Estudar a história do esporte, para não sair do que é mais superficial, não fazia sequer parte dos planos de um professor de educação física. E, assim, a sociedade se acostuma a produzir pessoas capacitadas em ver apenas a necessidade do resultado.
Talvez as histórias dos Dungas, dos Ronaldos e dos Cucas sirvam para nós de lição. Mostrem o caminho para que a gente entenda que o esporte não é apenas o resultado, que o que é ruim hoje pode ser excepcional amanhã.
Hoje, a gangorra na cobertura do futebol pela mídia mostra que, em todos os setores da sociedade, sofremos com a necessidade de ver o resultado positivo para poder aceitar algo como bom.
Quase sempre essa gangorra nos reforça a pensar e agir dessa forma, sem entender que, por trás de qualquer história de vida, estão pequenas narrativas de fracassos e conquistas.
A imprensa reflete hoje a falta de conhecimento que permeia a sociedade brasileira. E o nosso senso crítico é colocado quase sempre para escanteio, dando vazão, sempre, à irracionalidade. O que é besta vira bestial num piscar de olhos. E, assim, vidas vão sendo idolatradas e massacradas ao dissabor do resultado.
Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br
Não estou aqui a escrever esse texto para defender esse ou aquele treinador, nem tão pouco para apontar defeitos personificados em um sujeito qualquer que um dia decidiu se tornar treinador de futebol.
Quando aponto falhas no comportamento organizacional de uma equipe, não tenho pretensão alguma de criticar o trabalho do “comandante” da tal equipe, apenas quero discutir como ela joga o jogo.
Hoje, vou então abrir uma exceção, para escrever sobre o treinador da seleção brasileira de futebol, o Dunga.
Confesso ainda achar muito estranho que alguém assuma como primeiro trabalho em sua profissão (em sua carreira), aquele que é tido como o mais importante, difícil e valorizado dentre seus pares.
O fato é que depois de ouvir recentes depoimentos de jogadores brasileiros que jogam ou jogaram na Europa nos últimos anos, começo a pensar que aquela que era para mim a principal fragilidade (defeito, problema!) do treinador da seleção do Brasil, é na verdade sua principal arma (vantagem, qualidade, virtude).
Explico. É muitas vezes assustador assistir nos programas “especializados” em futebol na televisão brasileira as comparações infundadas sobre o futebol praticado na Europa e o praticado no Brasil. Um sem número de argumentos vazios é usado para tentar convencer aos ouvidos menos atentos de que dentro do campo, seja no âmbito da preparação física, técnica ou tática, nós brasileiros somos imbatíveis.
É um velho-novo discurso que, reduzindo o futebol à relações de causa-efeito, simplifica ao bel prazer dos achismos, fatos e teorias que explicam o ponto de vista que se quer defender.
É incontestável que fatores como a preocupação da Uefa com a qualidade da formação dos treinadores em ação no território europeu (da base ao profissional), a proximidade entre as Universidades (Ciência) e a prática em alguns centros, e o grande número de eventos que promovem discussão entre profissionais em diversos países da Europa têm garantido já há algum tempo um grande salto de qualidade no jogar das equipes européias.
Nossos jogadores saem do Brasil e no velho continente (aqueles que se adaptam aos novos paradigmas) aprendem coisas novas sobre o jogo, evoluem seu jogar e em contrapartida oferecem as suas equipes novas outras possibilidades (e está feita a troca).
E o Dunga com isso?
O treinador brasileiro passou cerca de 11 anos de sua carreira de jogador fora do Brasil (6 anos na Itália, 2 anos na Alemanha e 3 anos no Japão [fonte: Wikipédia]). Aprendeu muitas coisas por lá. Algum tempo depois de se “aposentar” no Brasil, tornou-se treinador – e logo da Seleção Brasileira.
Não precisou respirar os bastidores dos clubes brasileiros (em sua maioria viciados em um tempo “estragado” que parou no passado), nem conviver com alguns de seus jogadores acostumados com desmandos de um futebol que “é assim mesmo”.
Assumiu um cargo em que os seus comandados aprenderam coisas novas, experimentaram outros paradigmas, atravessaram o Atlântico e cresceram como atletas e como homens; passaram a jogar um futebol que o próprio Dunga tirou lições. E como não tinha experiência alguma como treinador tratou de buscar informação e conhecimento.
Sem os vícios que poderiam dificultar seu trabalho com os grandes astros do futebol brasileiro e com uma visão mais ampla sobre o que se faz no futebol europeu tem tentado, de certa forma, dar significado a coisas que antes eram substituídas ou ficavam ofuscadas por gritos na beira do gramado.
Não acredito que Dunga seja melhor ou pior o que esse ou aquele treinador. Penso somente que sua vantagem é não ter tido tempo e experiência como técnico dentro do nosso bom futebol brasileiro; e só com isso já tem tido resultados mais satisfatórios do que seus antecessores em vários aspectos.
O que acredito sim, é que estamos muito distantes ainda de ter uma seleção brasileira jogando de maneira a potencializar o talento de nossos jogadores ao mesmo tempo em que se apresenta como uma equipe tática avassaladora.
Por fim, só para constar, uma questão: por que os “especialistas futeboleiros” de maior “alcance” na mídia, diferente do que faziam (e fazem como praxe) com outros treinadores, vivem a elogiar o Dunga (a responsabilidade é sempre dos outros)?
Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br
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Um exemplo a ser acompanhado
Caros amigos da Universidade do Futebol,
Hoje tivemos uma notícia na Formula 1 de grande importância para o cenário do esporte mundial, em especial para o futebol.
Em colunas passadas, discutimos neste espaço o que aconteceria na hipótese de determinados clubes romperem com suas federações e ligas. Essa hipótese teve espaço quando foi recentemente veiculado na imprensa um possível rompimento entre ECA (associação dos principais clubes da Europa) e Uefa (confederação européia de futebol).
Apesar de posteriormente desmentido, esse boato despertou enorme curiosidade no mercado, que ponderou o que poderia acontecer nessa hipótese. Como jogadores, mídia, patrocinadores e torcedores reagiriam?
Seria de fato uma queda de braços interessante (porém com conseqüências negativas para todas as partes, não tenho a menor dúvida).
A questão ficou no ar, e a conclusão foi a de que dificilmente isso aconteceria na prática. Nenhuma das partes assumiria esse enorme risco, eventualmente irreversível, de abrir mão do apoio da outra na luta pela sua viabilidade financeira.
Enfim, hoje os agentes do futebol podem aproveitar do atual momento, e refletir sobre essas possíveis conseqüências sem as sofrerem na pele.
A Associação das Equipes de Fórmula 1 (Fota) anunciou ontem um rompimento com a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) e a conseqüente organização de uma competição própria entre suas escuderias. Aparentemente apenas a Williams e a Force Índia permaneceriam na competição da FIA.
Assim, será interessante observar qual vai ser o comportamento dos pilotos, dos patrocinadores e das televisões mundiais (isso na hipótese de essa posição da Fota ser efetivamente mantida).
Entendo que a FIA poderá impor multas relevantes aos “desertores”, incluindo eventualmente a recusa de poderem disputar, no futuro, qualquer prova organizada pela FIA. Se isso de fato ocorrer, teremos uma grande pressão sobre aqueles que estiverem planejando migrar para a competição da Fota.
Por outro lado, estamos falando de escuderias tradicionalíssimas, como o caso da Ferrari. Estaria a FIA em uma posição de abrir mão para sempre dessa escuderia em prol de um exemplo a ser seguido no futuro por seus membros?
Guardadas as devidas proporções, seriam as mesmas perguntas que estaríamos fazendo caso a notícia fosse a de que clubes como Milan, Manchester United, Real Madrid e outros grandes estivessem rompendo com a família da Fifa.
Infelizmente, para o mundo do automobilismo temos a chance, talvez única, de observar as conseqüências de um rompimento dessa magnitude na realidade.
Os próximos desenvolvimentos dessa briga serão cruciais e poderão ganhar contornos irreversíveis e irreparáveis. E que os agentes dos demais esportes tirem as suas lições.
Vamos acompanhar e manter nossos leitores informados.
Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br
No começo, achei que era coincidência, ilusão de ótica, desatenção.
Mas, rapidamente, constatei, por observar e por ouvir do próprio diretor de marketing do Corinthians, que “a camisa poluída de marcas de patrocinadores que fatura muito mais do que outras mais limpas” fez o clube a aumentar a área útil do outdoor ambulante.
Do meu tempo de atleta de futsal, lembro, perfeitamente, que uma das primeiras lições de comportamento e disciplina aprendida era que todos deviam colocar as camisas por dentro do calção – símbolo de ordem e organização da competição. Treinadores e juízes cobravam dos atletas esta postura que, no meu caso, permaneceu automatizada em todos os campeonatos e peladas que disputo até hoje.
No caso do clube paulista, todo o elenco entra com as camisas à mostra, por completo, desleixadamente, para expor a marca de um dos patrocinadores. Até agora, não testemunhei reprimendas ou corretivos por parte dos árbitros. E não será o Mano Menezes que irá fazê-lo.
Confesso que não encontrei informações credenciadas, na internet, que me levassem a afirmar se essa conduta é normatizada pela Fifa ou International Board e seus regulamentos, como proibida ou permitida. Mesmo porque, não é esse o ponto em questão.
Esse fato é, a meu ver, bastante ilustrativo de como o futebol brasileiro, em geral, e as competições, em particular, necessitam de organização, disciplina, de um roteiro ordenado segundo procedimentos profissionais e mercadológicos capaz de criar valor. Como ocorre na Europa, em geral e, em particular, na Champions League – e quem a acompanha, sabe que o espetáculo não ocorre somente na partida final.
A Uefa planejou todos os detalhes. Desde a entrada das equipes em campo, passando pela logomarca, propriedades de patrocínio e até mesmo o famoso hino, composto por uma grande orquestra européia. Não é por nada que, proporcionalmente, a competição rivaliza com a Copa do Mundo da Fifa nas finanças.
Para quem teve seu desejo atendido, de realizar uma Copa do Mundo, o país do futebol tem muito a fazer ainda. Muitos detalhes somados, de agora até 2014, que, só assim, habilitarão o sucesso do evento e poderão perenizar os efeitos benéficos para a gestão do esporte no Brasil.
A “Teoria das Janelas Quebradas” enuncia a iniciativa do Metrô de Nova York para combater atos de vandalismo, pichações e calotes nas catracas na década de 1980. Seus criadores argumentavam que, se as pessoas que ali transitavam nesse ambiente depreciado, ou achariam que isso era normal, sempre fez parte do cenário, ou, pior, continuariam com o processo de degradação.
O plano obteve êxito e foi expandido para toda a cidade sob um plano de segurança pública, nas mãos do prefeito Rudolph Giuliani, que lhe deu notoriedade e ficou conhecido como “Tolerância Zero”.
No Brasil, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, lançou em 2009 o “Choque de Ordem” visando revitalizar áreas e serviços urbanos.
Será que teremos o “Choque de Gestão” no futebol brasileiro, ou ele continuará assim, como sempre foi?
Tem muita janela quebrada para consertar.
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Olá, amigos!
Não há como não falar do jogo da seleção brasileira, na última segunda, contra o Egito, e do fator decisivo da partida, repercutindo internacionalmente da forma que está.
O árbitro inglês Howard Webb teve ou não auxílio de alguém externo que lhe comunicou o pênalti que decidiu o jogo? E se teve, que recurso foi esse?
Polêmicas e mais polêmicas. No meio delas sempre surge a questão do uso ou não da tecnologia a serviço da arbitragem.
Repercutindo a rodada do fim de semana do Campeonato Brasileiro, até momentos antes do jogo de nossa seleção, o gol de Marcão pelo Palmeiras contra o Cruzeiro, no qual a bola não ultrapassou a linha de meta, seria o grande assunto sobre a necessidade de se utilizar recursos que auxiliem o árbitro.
Mas… O fato é que, como diz a música de Chico Buarque: “Roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda peão, o mundo rodou num instante”… E com certeza rodou e o foco tornou-se o suposto uso de recursos que auxiliaram o árbitro na marcação do pênalti que decidiu o jogo.
Fascinante esse tal futebol… Em minutos, discutia-se que não dava mais para depender única e exclusivamente da decisão humana (suscetível a falhas) do árbitro, abrindo mão das contribuições que a tecnologia pode fornecer. E agora, a suposta utilização de recursos pelo árbitro no jogo do Brasil divide opiniões.
Pode ser que do momento em que escrevo esse texto, ao momento em que o amigo o lê, tenham surgido novas informações a respeito. Mas o fato é que, até o presente momento, o árbitro nega a utilização de qualquer recurso e a Fifa não se manifestou a respeito.
Por isso, gostaria de listar abaixo algumas frases de jornais e sites sobre a repercussão do caso, lembrando que a informação é tomada a partir da credibilidade da fonte utilizada.
Existem algumas situações interessantes que nos auxiliam a debater sobre o já “imortalizado gol tecnológico”. Imortalizado porque pode ser um marco da transformação e evolução das mentalidades de quem rege as regras de futebol quanto ao uso da tecnologia, ou imortalizado pelo exagero atribuído a um processo de comunicação que apenas utilizou de recursos mais velozes para transmitir informação do que o velho e bom aceno do árbitro assistente (o também bom e velho bandeirinha).
Sob o título “Un gol tecnológico”[i] o jornal esportivo Ole, da Argentina, aponta que o Brasil ganhou por causa do comunicador, pelo qual o quarto árbitro informou o ocorrido. Resta saber se ele possui um olho biônico ou se utilizou o replay.
O auxiliar técnico da equipe egípcia Chawki Gharib teria dito, segundo o portal Terra[ii]:
“Tenho certeza que a Federação Egípcia de Futebol vai tomar alguma providência. Talvez tenha algo novo na regra. Mas, até onde sabemos, é o juiz que tem a decisão final“, disse o assistente.
E completando, ainda sobre o possível uso do monitor para sanar a dúvida, disse, segundo o diário espanhol Marca.
“Nos resulta muy extraño que el árbitro y juez de línea pitaran córner en el momento de los hechos y no penalti. Esto nos lleva a pensar que la decisión final de pitar penalti se tomó desde fuera del campo de juego. ¿Desde cuándo esto está permitido en una competición de la FIFA?”[iii].
O portal Globoesporte.com[iv] encerrou uma notícia sobre a polêmica com os seguintes dizeres:
“Durante conversa com Arnaldo César Coelho, comentarista da TV Globo, o árbitro Howard Webb afirmou que não teve influência de ninguém e que voltou atrás por uma decisão própria”.
O jornal Zero Hora[v] colocou em seu site como titulo de uma reportagem: “Um golpe de morte nos conservadores do futebol”.
Enfim, apenas para provocar a reflexão, seguem algumas observações em caráter de suposição e hipóteses a respeito desses pontos de vistas.
· Se o árbitro – assistente ou o quarto árbitro, que tem tido aval da Fifa para auxiliar o árbitro principal em lances difíceis, informaram-no do ocorrido, onde está a revolução tecnológica, além, é claro, do comunicador que facilita a transmissão da informação, que antes era dada por um gesto, por um chamado verbal?
· Se foi utilizado algum recurso de imagem, isso não justifica aquilo que questiona o auxiliar da seleção do Egito sobre o árbitro ter a decisão final, pois o mesmo continua com tal decisão. Se ele por algum motivo não quisesse “bancar” a informação recebida, caberia a si a decisão, como aconteceu ao considerar a informação.
· Ainda, se foi utilizado algum recurso de imagem, o questionamento do auxiliar-técnico está correto agora. Se a Fifa utiliza esse uso, por que não oficializa isso?
· Se o árbitro diz não ter ouvido ninguém, podemos ir por dois caminhos: ou imaginamos que ele está faltando com a verdade, ou que ele realmente considerou outros fatores que podem perfeitamente ter influenciado na decisão tomada, como, por exemplo, a manifestação clara e espontânea de toda seleção brasileira (que ainda que não seja sempre confiável, é diferente de quando um jogador manifesta-se isoladamente e depois “esquece”).
· Agora, tendo ou não utilizado recurso de imagens, a repercussão é, de fato, um golpe nos conservadores do futebol.
Por fim, esperamos que isso possa ser um indício de que os tempos estão mudando e que o uso da tecnologia na arbitragem, mais do que jogo político e de interesse, possa ser visto com coerência e seriedade, com estudos que viabilizem e oficializem (tornar a regra clara) seu uso.
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Ambiente sagrado
Ah, as entrevistas coletivas pós-jogo… Sinceramente acreditava já ter visto de tudo nesse circo em que se transformou a entrevista à imprensa depois de uma partida. Técnico emburrado, time todo chorando a derrota, respostas atravessadas, time derrubando jogador, time derrubando treinador, treinador se derrubando, treinador sendo derrubado enquanto falava, juiz sendo ironizado de tudo quanto é jeito, perguntas bem-feitas, perguntas repetitivas…
Tudo para mim era próprio do ambiente de trabalho de um pós-jogo. Ainda mais quando era uma partida decisiva. Afinal, nervos à flor da pele geralmente provocam respostas espontâneas. E essas, por sua vez, quase sempre geram uma grande polêmica.
Mas não é que neste último domingo tivemos mais um episódio inédito na história das entrevistas coletivas? Netas de um treinador participando da sabatina feita pelos jornalistas, sinceramente, foi demais para a minha cabeça!
Que a entrevista coletiva geralmente serve para não dizer nada todos nós já sabemos. Mas o que justifica levar a neta para ficar ali, ao lado das câmeras do país todo? Ainda mais depois de uma vitória do time por 3 a 1 em casa?
Talvez nos anos 60 fosse até natural que os familiares frequentassem o ambiente de trabalho de um jogador. Mas, naquela época, não tínhamos tanta exposição do esporte na mídia e, muito menos, tanta necessidade de fazer entrevistas coletivas para conter o avanço da imprensa.
Luxemburgo, mais uma vez, ultrapassa a tênue linha que delimita a ética na profissão. Além do mais, expõe suas netas a um ambiente de conflito e discussão que geralmente envolve uma sala de imprensa em entrevista coletiva após um jogo.
Se Dunga foi tão criticado por usar roupas de gosto questionável produzidas pela sua filha, porque não questionar a atitude de Luxemburgo?
Não é legal expor crianças de dois até seis anos às câmeras de televisão e aos cliques dos fotógrafos. Ainda mais quando elas não têm a menor necessidade de estarem em frente a elas.
Ao ligar a TV depois do jogo do Palmeiras, confesso que levei um baita susto ao ver as netas de Luxemburgo ali, ao lado dele. As meninas até que foram bem-comportadas, considerando-se a idade que têm.
Deixar isso acontecer, porém, é que foi demais. Ambiente de trabalho é algo geralmente sagrado. Não é para qualquer um, tanta interferência atrapalha. Imagine se cada jornalista decidisse levar seu filho para assistir a uma coletiva pós-jogo?
O pior foi não ter visto ainda nenhuma crítica construtuiva contundente a mais uma atitude despropositada de Vanderlei Luxemburgo…
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Com objetivo de auxiliar as “discussões de boteco” Brasil afora sobre os jogos das equipes “do coração” de torcedores e especialistas, reproduzo abaixo parte de um texto produzido por esse que vos escreve – (LEITÃO, 2009) – mas que ainda não está disponível na internet; partindo dos construtos de Júlio Garganta. É mais um dos óculos para enxergar o jogo com contornos diferentes:
“(…) Segundo Garganta (1998), os “jogos desportivos coletivos” (JDC) pertencem a um grupo de esportes – no qual se enquadra o futebol – que se caracterizam por apresentarem dois traços fundamentais que lhes asseguram conteúdos ricos e de identidade ímpar:
a) são esportes em que há um apelo a cooperação entre jogadores de uma mesma equipe para obter sucesso na oposição aos jogadores adversários, permitindo a eles exprimir suas individualidades e manifestar suas capacidades, ao mesmo tempo que aprendem a subordinar seus interesses pessoais aos interesses da equipe.
b) são esportes em que há apelo a inteligência, pois há necessidade constante de elaborar e operar respostas adequadas aos problemas que surgem de forma diversificada e aleatória no jogo.
Eles (os JDC) são atividades em que a ação do jogador em campo é determinada pela manifestação complexa da interação de fatores de natureza psíquica, física, tática e técnica, que surgem em resposta a acontecimentos de frequência, ordem cronológica e complexidade imprevisíveis, e das quais a qualidade depende do conhecimento (vivência) que o jogador tem do jogo.
Então, de acordo com o conhecimento que os jogadores têm sobre o jogo, as suas formas de jogar se modificam em direção a uma dinâmica mais elaborada.
Para Garganta (1998), existem nos jogos indicadores que representam níveis de evolução do jogo e que podem sinalizar, a partir de sua identificação, a fase (nível) do jogar (em direção ao jogo elaborado) em que se encontra uma equipe. Então, tanto para níveis mais fracos de jogo quanto para níveis de bom jogo é possível definir aspectos que os caracterizam. Em geral, os aspectos que caracterizam um jogo de nível fraco são os seguintes:
a) aglutinação de jogadores próximos a bola;
b) ações com bola centradas em um jogo individual;
c) ausência de movimentações para procurar espaços e facilitar o passe do companheiro que está com a bola;
d) não defender;
e) comunicação verbal exagerada para pedir a bola e/ou criticar os companheiros de equipe;
f) desrespeito as decisões do árbitro.
Já para um bom nível de jogo, os aspectos que o caracterizam são:
a) boa movimentação da bola através de passes;
b) distanciamento do companheiro de equipe que está com a bola;
c) busca de espaços vazios no sentido de receber a bola;
d) intenção de receber a bola e observar o jogo, lendo-o;
e) movimentação para criar linha de passe após ter passado a bola;
f) buscar espaço adequado a organização da equipe, afastando-se do companheiro que tem a bola;
g) não esquecer o objetivo do jogo (no caso do futebol, o gol).
Tanto em níveis mais baixos (fracos) de jogo quanto em níveis mais elaborados, é possível reconhecer várias fases do jogar em função das características reveladas pelos seus praticantes a partir de como eles estruturam o espaço de jogo, como se comunicam nas ações do jogo e como se relacionam com a bola (Quadro 1).
A estruturação do espaço de jogo está associada à ocupação individual/coletiva do terreno de jogo, defensivamente e ofensivamente, de maneira inteligente tanto pra criar vantagens espaciais e numéricas e ocupar de forma equilibrada as zonas do terreno, quanto para aumentar ou diminuir o espaço efetivo de jogo em largura e profundidade.
A comunicação na ação, por sua vez, refere-se à transmissão da informação, verbal ou não verbal, sobre as ações e circunstâncias do jogo, individuais ou coletivas dos jogadores; e a relação com a bola refere-se ao controle e domínio das ações realizadas com bola a fim de resolver problemas do jogo.
Então, a partir de uma análise do jogo pautada nesses aspectos, é possível caracterizar jogos com indicativos de anarquia (jogo anárquico), com indicativos de descentração (jogo descentrado), com indicativos de estruturação (jogo coordenado ou estruturado) e com indicativos de elaboração (jogo elaborado).
Ainda que o jogo possa ser observado a partir de aspectos que o caracterizam em níveis e fases, há de se destacar que existem também etapas de referência que
correspondem a distintas relações entre os elementos do jogo “jogador, bola, companheiros, adversários e alvo”. Esses elementos, segundo Garganta (1998), produzem relações distintas, que, para aprendizado e evolução do jogar, podem ser enunciadas em “eu-bola” (centro na familiarização, controle e ação do jogador com a bola), “eu-bola-alvo” (centro no objetivo final do jogo através do arremate), “eu-bola-adversário” (centro na combinação de habilidades, na conquista e manutenção da bola; além da busca à finalização), “eu-bola-colegas-adversários” (combinação de habilidades, com transmissão da bola e exploração de conceitos de defesa e de ataque) e “eu-bola-equipe-adversários” (com aproximação do jogo formal e exploração de princípios de jogo, de defesa e de ataque).
O domínio das habilidades técnicas (passe, condução, finalização, etc.) “embora se constitua como um instrumento sem o qual é muito difícil jogar e impossível jogar bem, não permite necessariamente acesso ao bom jogo” (GARGANTA, 1998, p. 21).”
Trabalho mencionado nesse texto: GARGANTA, J. Para uma teoria dos jogos desportivos coletivos. In: OLIVEIRA, J.; GRAÇA, A. (org.). O ensino dos jogos desportivos coletivos. 3.ed. Porto: Universidade do Porto,1998.
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