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– Inglaterra e Andorra fizeram um jogo para um Wembley quase vazio na tarde da última quarta-feira, horário de Brasília. Incautos diriam que a crise econômica pegou de vez o torcedor britânico. Arrojados suporiam que é um reflexo do afastamento do cidadão de símbolos nacionais em detrimento a símbolos mais locais. Mas foi tudo culpa da greve do metrô londrino.
– O confronto entre a PM e os estudantes da USP mostra que problemas de manifestação em massa não é uma exclusividade do futebol. Foi basicamente a mesma coisa, mas ao invés de torcedores, eram estudantes. Ao invés de pedaços de pau e rojões, livros. Fora isso, tudo igual. Ou é a polícia que não consegue se controlar ou é o cidadão brasileiro que não sabe protestar. Na Coréia do Sul os estudantes vão pro confronto vestindo capacete e colchão. Não colhão. Colchão mesmo. Cadastrem os estudantes.
– Alan Sugar comprou o Tottenham em 1991. Sulaiman Al-Fahim, árabe, está no processo de compra do Portsmouth, no meio da due dilligence. Alan Sugar apresenta o “O Aprendiz” inglês. Al-Fahim apresenta o Hydra Executives, uma versão árabe do programa. O que o Roberto Justus está esperando?
– O Milan perdeu o Kaká para o Real Madrid, na primeira vez na história que o clube italiano teve que se desfazer de um jogador pra ganhar dinheiro. O Maicon e o Ibrahimovic estão loucos por outros mercados. O Chelsea quer o Pato. A situação do futebol na terra do Calcio está tão complicada que a Inter perdeu até o Adriano para o Flamengo.
– O ticket médio do jogo do Brasil com o Paraguai foi mais do que 80 reais. E ninguém vaiou. O business plan perfeito.
– Pra fechar. Se a grama do Arruda fosse um pouquinho mais alta, o Santa Cruz poderia diversificar sua receita e apostar na venda de crédito de carbono.
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O banheiro do Papa e a Copa 2014
Assisti, há alguns meses, a um filme uruguaio muito inteligente, sensível e de pouca atenção recebida por parte do público e crítica no Brasil – “O Banheiro do Papa”.
Estamos em 1988 e o Papa João Paulo II está vindo para Melo, um pequeno vilarejo no interior do Uruguai. Um grande número de seguidores, a maioria brasileiros, deverá comparecer à cerimônia em que o Papa fará um discurso sobre a importância do trabalho.
Baseado em um fato real, o filme retrata o impacto da visita do Papa, na pequena cidade próxima à fronteira com o Brasil, onde muitos habitantes vivem de pequenos serviços, como contrabandear produtos de consumo comprados no Rio Grande do Sul.
A vinda do Papa é anunciada pela imprensa com grande alarde, noticiando 50 mil pessoas no evento. No panorama de dificuldade de emprego e oportunidades, a vinda do Papa é vista pela população de Melo como uma oportunidade de abrandar a pobreza, fazendo com que todos se mobilizem em torno do evento para dele tirar proveito próprio, especialmente com quitutes e bebidas.
E, para fazer jus ao título do filme, o protagonista Beto, “bagayero”, que com sua bicicleta troca os mais variados itens na fronteira e percorre 120 quilômetros até a fronteira. Embora não muito entusiasmado com a visita do Papa, tem uma idéia para ganhar dinheiro com os visitantes. Beto irá construir um banheiro em frente à sua casa e cobrará pelo uso.
O Papa chega
Copa do Mundo em 2014 no Brasil. Já tenho ouvido falar e visto, vividamente, de toda sorte de benefícios para a sociedade em geral, nas cidades-sede, além de pessoas e empresas interessados em “fazer negócio”, “ganhar dinheiro”, “aproveitar a oportunidade” do evento que ocorrerá em seus quintais.
De fato, um acontecimento deste porte possui o condão de impulsionar mudanças positivas num cenário mais amplo, cujos reflexos podem ser sentidos na economia, no esporte, na sociedade em geral.
Mas vejo como imperiosa a preparação das condições para que este cenário aflore no futebol brasileiro o senso obrigatório de mudança, favorecendo o “legado da Copa” – expressão que resume todo o conjunto de benefícios tangíveis e intangíveis do maior evento do mundo – em nível individual, dos que desejam tornar esse esporte sua profissão, e também em nível coletivo, com a articulação inteligente das principais entidades que lhe dão base de sustentação.
Cito uma expressão consagrada e, de repetida, não consegui credenciar a fonte: cuidado com o que deseja, pois seu desejo pode se tornar realidade.
O de (quase) todos nós já se tornou. Copa 2014 no Brasil! A contagem regressiva começou. Melhor o Brasil e os brasileiros se prepararem com profissionalismo, fiscalização de investimentos públicos, qualificação técnica das pessoas cujas profissões serão essenciais ao evento, serviços públicos aperfeiçoados, benfeitorias viáveis econômica e ambientalmente nas cidades-sede.
Senão, teremos grandes chances de repetir a história da cidade de Melo, do protagonista Beto e de seus conterrâneos, numa escala muito maior de frustração.
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Olá amigos, no último texto, lançamos algumas perguntas sobre os impactos do videogame no ensino do futebol.
O que pode parecer um assunto descontextualizado para muitos, na verdade, deve ser observado como um importante ponto de reflexão da atuação dos profissionais no futebol hoje, sobretudo, daqueles que lidam com a modalidade em âmbito pedagógico, ou melhor, de formação, uma vez que trato pedagógico não se restringe às crianças.
A primeira questão levantada foi:
– O jogo de futebol pelo videogame pode ser considerado uma vivência da modalidade?
Sem entramos em discussões filosóficas sobre o que é ou não uma vivência, vamos direto ao ponto. O professor Mauro Betti, da Unesp, traz a ideia central que compartilho com os amigos leitores: “A vivência antecede a prática”.
Muitas vezes, o foco na formação futebolística de uma criança é dada em relação aos seus aspectos de crescimento e maturação, alguns ampliam ainda para os aspectos psico-cognitivos, mas quase sempre nos deparamos com ações isoladas e simplistas que não consideram a complexidade do ser humano, das interações que estabelecem e de suas bagagens de conhecimento e aprendizado.
Com base na necessidade de ampliar o foco no ser humano complexo, é que entendemos fazer sentido essa premissa da vivência anteceder a prática.
Quando a criança chega a uma aula de futebol, muito provavelmente ela já vem carregada de estímulos e exemplos baseados em outras interações que estabeleceu na sua curta, mas rica experiência de vida. E um desses estímulos sem dúvida é o videogame.
O videogame pode não permitir a vivência de elementos característicos do futebol, mesmo que os avanços recentes tentem dar mais movimentos de jogo, ainda que virtuais. Mas com certeza permite uma vivência de elementos que serão encontrados na prática propriamente dita.
Ao definir o posicionamento e estratégias de sua equipe em um jogo virtual, a criança já está sendo estimulada indiretamente a compreender alguns aspectos lógicos sobre a organização do jogo, que podem configurar-se em importantes links para a transferência de conceitos virtuais para a compreensão do jogo concreto.
E, ainda que pareça abstrato, tais transferências podem ser incorporadas pelo aluno, afinal, seus gestos técnicos e motores são influenciados pelos estímulos culturais e sobretudo, pelos significados que eles atribuem ao jogo, a partir da compreensão que ele tem do mesmo, o que nos leva a uma importante frase do professor Alfredo Feres Neto quando refere-se a essas novas vivências esportivas e diz:
” …eu sou o mesmo que pratica e assiste – eis em ambas, minha motricidade” (FERES NETO, 2001, p. 84).
Deste ponto, fazemos um destaque à possibilidade que os recursos tecnológicos abrem para explorar essa vivência e buscar tirar proveito sobre dois aspectos. Considerando que ao praticar, assistir, ou ainda jogar um videogame, as soluções encontradas são marcadas (enraizadas) na criança.
Primeiro sob o ponto de vista da compreensão do jogo que o videogame oferece e depois sobre as oportunidades de interação que podem ser estabelecidas.
Para ilustrar retomamos um trecho do texto desta coluna no dia 16 de setembro de 2008 (Os atletas antenados do futsal brasileiro) quando falávamos do trabalho de PC Oliveira técnico da seleção de futsal do Brasil, ao defender o uso de recursos com identidade e interatividade muito similares a de videogames no seu cotidiano de treino.
Um dos argumentos do técnico é que se os jogadores têm competência para manusear os inúmeros aparelhos que compram imediatamente a cada novo lançamento (notebooks, ipods, DVDs players, palms, celulares), sem contar como lidam com internet, não seria um empecilho utilizar desses meios como ferramentas complementares na preparação da seleção, facilitando ainda mais a compreensão de jogo.
E outro ponto que PC Oliveira levanta é que se queremos desenvolver atletas inteligentes (pois afinal são eles que fazem a diferença) nada como estimular isso, e com os recursos tecnológicos é possível visualizar, criar, modificar, compartilhar, e aprender…
Partir dessas vivências, pode trazer importantes aspectos ao ensino do futebol, mas tal ensino deve ser parametrado em propostas sólidas e profundas que respeite a complexidade do ser humano e do jogo de futebol, além de otimizar o uso de recursos tecnológicos para a consolidação de conteúdos.
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Crise de identidade
Obina não tem nem duas semanas e já virou ídolo no Palmeiras. Antes mesmo de entrar em campo, a expectativa da torcida era gigantesca. Bastou jogar a primeira partida e o apoio foi irrestrito, fazendo do jogador um dos casos mais bizarros dos últimos tempos.
Mas o que Obina pode ter que os outros não tem?
O carisma, sem dúvida, é um dos primeiros fatores. O atacante parece enfeitiçar o torcedor, enchê-lo de esperança de que dias melhores virão com a sua grandiosa presença na área rival.
Só que parece haver algo maior, uma característica que está presente em Obina e não tanto em diversos outros jogadores que atualmente desfilam pelos gramados brasileiros.
Sim, é isso mesmo. Desfilam. Porque se comportam como se estivessem apenas de passagem pelo país. Numa espécie de desfile para o comprador internacional. Tal qual a modelo que se exibe na passarela em busca de um contrato com uma grande agência, ou com uma grande marca, muitos jogadores que atuam hoje no Brasil se comportam dessa forma.
Especialmente nos times “de aluguel”, com atletas contratados por grupos de investimento. É o caso do Palmeiras, que tem hoje três jogadores que se identificam especialmente com a torcida. Marcos, cria da casa e há 17 anos no clube; Pierre, contratado na era pré-Traffic; e Obina, recém-chegado ao clube e que não teve a contratação avalizada pela “parceira”.
Esses três jogadores parecem ter criado uma clara relação com o torcedor. São aqueles que os representam dentro de campo, que quando vão jogar não estão preocupados com o desfile, mas sim com aquilo que é o bem mais precioso: a vitória.
A crise de identidade acomete atualmente a maior parte dos clubes. Com a transformação do futebol brasileiro numa grande vitrine para a Europa, o jogador muitas vezes vai a campo com a certeza de que está ali apenas de passagem. Que não é importante jogar bem, se dedicar, alcançar a vitória. Que o fundamental é preservar as canelas para que seu empresário o coloque, na próxima temporada, para atuar no Barcelona, no Real Madrid, no Manchester…
Os craques de bola, assim, deixam de ser ídolos. E o Brasil se acostuma a ver, no jogador dedicado, o potencial de identificação com a sua torcida. Para quem precisa do ídolo para gerar mais receitas e manter times vencedores, essa é a pior coisa que poderia acontecer…
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O treinamento de jogadores e equipes de futebol tem se apoiado em uma série de premissas que sustentam há tempos teorias constituintes das Ciências do Desporto.
Como já pontuei outrora, cada vez mais, na busca pela especificidade das cargas de treino e de resultados de altíssimo nível, novas premissas vêm apontando para caminhos pouco explorados no desenvolvimento da performance de jogadores e equipes de futebol.
Hoje, mundialmente, várias são as frentes de pesquisas que estão em busca do melhor entendimento do jogo de futebol a partir das teorias da complexidade. E como se não bastassem as pesquisas (e realmente e obviamente, não bastam!) equipes de futebol européias tem reforçado na prática com suas conquistas e treinamento de alto nível, a necessidade de um entendimento da totalidade que envolve a preparação do futebolista.
Então, apesar de no Brasil tal idéia parecer engatinhar na prática dos clubes de futebol e andar vagarosamente nos centros de referência e pesquisas, em alguns outros países a consciência da necessidade de se entender o jogo em todas as suas dimensões de maneira transdisciplinar há tempos vem suplantando “antigos-novos” “pensamentos-barreiras” enraizados em um plano cartesiano sem fim.
E em quanto onde se engatinha, a busca está ainda em entender como treinar o jogo jogando, onde se anda a passos largos as buscas se centram cada vez mais no entendimento complexo do que é o jogo transcendendo seu significado comum.
Existem ainda muitas coisas para se descobrir, assim como existem muitos equívocos acontecendo na prática em função desse “à descobrir” (e também, inevitável, em função do mau entendimento daquilo que as teorias dizem).
Uma coisa que venho discutindo há algum tempo é a “crença” de que o jogo (ao se treinar jogadores e equipes “jogando”) por si só a partir de suas regras, seria capaz de gerar respostas adaptativas e ganhos (em todas as dimensões da preparação do jogador – físico-técnico-tático-psicológica) na performance desportiva de jogo. É claro que não!
Balbino (2005) já chamava a atenção para o fato de que a ação do treinador transecenderia o método. E isso não significa que o método não é importante; isso significa que o método por si só não garante êxitos se ação de quem o conduz não estiver voltada para aquilo que se quer alcançar.
Recentemente, Rampini et al (2007) mostrou em seu trabalho sobre fatores que poderiam influenciar as respostas fisiológicas de jogadores em treinamento de futebol a partir de jogos em espaços reduzidos, que a comunicação verbal com caráter “orientador” e “encorajador” por parte do treinador nos treinamentos pode alterar tanto a dinâmica quanto a resposta fisiológica de jogadores presentes nesses jogos.
Isso não quer dizer que ficar se “esgoelando” na beira dos “mini-campos” nos treinamento, dizendo o que o jogador deve fazer, levará a um desempenho de jogo melhor. O significado disso é que a atuação do treinador requer intervenções que sejam condizentes com os objetivos dos jogos, construídos a partir de regras específicas, e que contribuam para a melhor compreensão dos jogadores sobre o significado de suas ações no jogo, dando-lhes autonomia para tomar decisões.
Em outras palavras, a ação do treinador tem que, em conjunto com o jogo, potencializar os objetivos que serviram de parâmetro para a construção dessa ou daquela sessão de treino, desse ou daquele jogo em espaço reduzido.
A Fisiologia do Esporte, especialmente fora do Brasil, tem buscado se transformar em Fisiologia do Jogo; tentando entendê-lo melhor. Exemplos como o trabalho mais recente de Hill-Hass et al (2009) – analisando as respostas fisiológicas e a movimentação de jogadores de futebol S17 em treinamento a partir de jogos em espaços reduzidos – tem sido cada vez mais freqüentes.
Infelizmente em diversas áreas das Ciências do Desporto (e em outras também!) falta a compreensão de que a teoria só faz sentido se ela também for “a prática” (e também “à prática”), unidas em uma coisa só, dando significado uma a outra.
Não precisamos de respostas para perguntas que não fazem sentido. Não precisamos de respostas para perguntas que não foram àquelas que fizemos.
A prática tem que ser “praxis”, e a teoria… bom, a teoria também…
Trabalhos mencionados no texto:
BALBINO, HF. A pedagogia do treinamento: método, procedimentos pedagógicos e as múltiplas competências do técnico nos jogos desportivos coletivos. Tese de Doutorado. 2005. Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas.
RAMPININI E; IMPELLIZZERI FM; CASTAGNA C; ABT G; CHAMARI K; SASSI A; MARCORA SM. Factors influencing physiological responses to small-sided soccer games. Journal of Sports Sciences, 25(6): 659-666, 2007.
HILL-HAAS, SV; DAWSON, BT; COUTTS, A; ROWSELL, GJ. Physiological responses and time-motion characteristics of various small-sided soccer games in youth players. Journal of Sports Sciences, 27(1): 1-8, 2009.
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Corrida contra o relógio
Caros amigos da Universidade do Futebol,
Estamos em uma verdadeira corrida contra o relógio para a organização da Copa de 2014. Como tivemos a oportunidade de notar, a CBF anunciou na recém-realizada reunião do Comitê Executivo da Fifa, através de seu presidente Ricardo Teixeira, as cidades-sede da Copa.
São elas, em ordem alfabética:
* Belo Horizonte
* Brasília
* Cuiabá
* Curitiba
* Fortaleza
* Manaus
* Natal
* Porto Alegre
* Recife
* Rio De Janeiro
* Salvador
* São Paulo
Acredito que não tivemos grandes surpresas na escolha, principalmente considerando as tradições futebolísticas da maioria dessas cidades.
Ocorre, entretanto, que temos muito pouco tempo para que essas cidades consigam organizar esse grande evento, tanto com relação a condições individuais (estádios, hotelaria, transportes intra-municipais, etc), como também com relação ao coletivo (estrutura nacional de transporte, por exemplo).
Tudo deverá estar praticamente pronto para 2013, quando da realização da Copa das Confederações. Ou seja, falta muito pouco.
Entendo que os estádios poderão até ficar todos prontos a tempo. Porém, principalmente em termos de capacidade de transporte, acho que já estamos bem atrasados nas obras. Obras de metrô, ampliação de aeroportos, estradas, outros transportes públicos, dificilmente ficarão prontas para 2014, e muito menos para 2013.
É importante que essas obras sejam feitas de forma cautelosa, para que a herança pós-Copa do Mundo seja aproveitada pela população brasileira. Não queremos gastar fortunas com estádios, por exemplo, que não tenham sua utilização pós-Copa bem planejada.
O Estado, por exemplo, caso participe do financiamento, deverá exigir uma reserva de uso dessas estruturas para permitir que o esporte amador e de formação possa ser beneficiado em um segundo momento. Dessa forma, aqueles que hoje não tem acesso a estruturas de primeira linha dentro da estrutura piramidal do esporte, possam tê-las com o efeito da Copa.
Isso. Projetos sociais também devem ser beneficiados com essa nova estrutura, de forma sustentável e planejada, dentro de um princípio democrático e de solidariedade.
Não queremos também, que a estrutura de segurança pública seja reformulada apenas para garantir a segurança dos turistas e delegações, e que após a Copa tudo volte à mesma situação (ou pior) do que temos hoje.
Para que tudo isso faça sentido, é preciso que todas as obras tenham uma voz de cada grupo, que representem diversos atores do nosso dia-a-dia, como autoridades do esporte, autoridades públicas, clubes, atletas, representantes de determinados setores na sociedade, empresas, entidades que desenvolvem projetos sociais, etc.
Temos que maximizar o boom da Copa para o benefício de todos nós, brasileiros, e, principalmente, da camada mais carente da nossa sociedade. Mas isso somente será possível com obras e projetos que tenham sido bastante discutidos e pensados.
Espero que essa corrida contra o relógio não coloque todo esse planejamento de lado…
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Ciência
Enfim definiram as sedes para a Copa de 2014. Em menos de cinco anos, as cidades têm que se coçar para construir estádios, melhorar a infra-estrutura de acesso e de transporte, melhorar os aeroportos, melhorar a segurança, melhorar a segurança e tudo mais. O tempo urge. Tamanha é essa urgência que é difícil acreditar que as coisas prometidas vão ser realizadas. Os estádios certamente irão. De resto, possivelmente não. Em cinco anos, dá pra planejar e implementar um projeto de um trem bala que ligue dois pontos a 500 quilômetros de distância um do outro? Não faço idéia. Acho que quem anunciou o projeto também não.
De qualquer forma, é importante focar naquilo que vai ter que obrigatoriamente ficar de pé, os estádios.
Os projetos são sensacionais. Um mais bonito que o outro, principalmente com a lotação máxima, os fogos de artifícios, os papéis picados e tudo mais que apresentaram junto com as projeções das construções.
Aparentemente, entretanto, quem montou os projetos não conhece muito bem o mercado de futebol brasileiro, ou então não está preocupado com ele. Porque é fato que os projetos não são minimamente racionais.
Uma prova disso é que dos 12 estádios escolhidos, cinco mantêm o formato oval, e apenas um desses cinco tem uma pista atlética. Ser um estádio oval com uma pista atlética já é um desperdício. Ter um estádio oval sem pista atlética, então, beira a ignorância.
Para começar, nenhum estádio justifica uma pista atlética. É um baita desperdício de dinheiro. Fora um ou outro evento, que acontece uma ou outra vez por década, nenhum estádio lota por causa de atletismo. É uma triste verdade.
E não ter a pista é pior ainda. Isso é um certo padrão da arquitetura atual dos estádios brasileiros, e a Copa é a grande chance de mudar isso. Ao afastar o público do campo, você minimiza a atmosfera do jogo o que implica em uma grande perda de atratividade. Estádios com arquibancadas mais próximas do gramado atraem mais torcedores. Isso é fato comprovado. A diferença é algo em torno de 20%.
Além disso, a área que fica entre a arquibancada e o gramado não pode ser utilizada para nada. Uma das tendências de comercialização de estádios é maximizar a utilização do espaço que fica abaixo das arquibancadas. Os 10 ou
Mas isso, por si só, não demonstra a falta de compreensão do mercado de futebol do Brasil. O pior é o tamanho dos estádios. É óbvio que a estrutura montada será um exagero. É um exagero tão grande que chega a ser ridículo.
A média de lugares dos 12 estádios é de 58.400 lugares por estádio. A melhor média de público de um Campeonato Brasileiro foi em 1983, com 23.000 torcedores por jogo, o que corresponderia a uma taxa de ocupação de 39% dos novos estádios. A média histórica dos Campeonatos Brasileiros é de 14.300 torcedores, o que corresponde a uma taxa de ocupação de aproximadamente 25% dos novos estádios.
Ou seja, pra ficar bem claro, a capacidade média dos novos estádios é quatro, eu disse quatro vezes maior do que a média histórica de público no melhor campeonato do Brasil.
O Brasiliense, time mais bem colocado de Brasília, joga a Série B do Campeonato Brasileiro. Ele vai passar a jogar no novo estádio Mané Garrincha. A capacidade do novo Mané Garrincha será de 76.323 torcedores. A média de público do Brasiliense em 2008 foi de 3.018 pagantes por jogo, o que corresponderia a uma taxa de ocupação de 4%. Quatro por cento! Arredondando para cima!
É óbvio, portanto, que quem fez os projetos dos estádios para a Copa do Mundo não conhece o mercado de futebol do Brasil. Ou isso, ou está pouco se lixando com esse mercado. Ou então, os dois. Não faço idéia de qual seja a opção mais verdadeira. Quem anunciou o projeto, porém, deve saber.
Alguma coisa, pelo menos, tem que saber.
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Inteligência competitiva
Muito tenho ouvido de amigos, reclamações sobre decisões dos dirigentes dos seus clubes do coração, sobre contratações, ou a falta delas, em busca da melhoria dos elencos e, consequentemente, da busca por títulos nas distintas competições.
Ao mesmo tempo, como torcedores inteligentes e críticos, sabem que os clubes também não devem realizar loucuras administrativas que ponham em risco o seu fôlego financeiro no médio-longo prazo.
Como resolver este impasse? Uma das respostas, um tanto óbvia, é investir na formação de jogadores em suas categorias de base. O problema, aqui, é o tempo que se leva para bons jogadores surgirem e se somarem aos elencos – a torcida, em geral, não tem paciência para esperar tal tempo…
Outro caminho é aproveitar oportunidades de mercado com jogadores experientes e que se encaixem no perfil desejado pelo clube, sem onerar o orçamento e, dentre outros obstáculos, sem concorrer em leilões com clubes de maior capacidade de investimento.
E como isso seria possível? Inteligência competitiva.
Segundo o site da Associação Brasileira de Inteligência Competitiva, ela é “um processo informacional proativo que conduz à melhor tomada de decisão, seja ela estratégica ou operacional. É um processo sistemático que visa descobrir as forças que regem os negócios, reduzir o risco e conduzir o tomador de decisão a agir antecipadamente, bem como proteger o conhecimento gerado. Esse processo informacional é composto pelas etapas de coleta e busca ética de dados, informes e informações formais e informais (tanto do macroambiente como do ambiente competitivo e interno da empresa), análise de forma filtrada e integrada e respectiva disseminação”.
Portanto, os diretores de futebol do seu clube deveriam buscar o máximo de informações possíveis sobre o mercado de jogadores no Brasil e, por que não, no exterior, com fontes que lhe sejam confiáveis, tais como treinadores, preparadores físicos, médicos, jornalistas, outros jogadores, para formar sua convicção quando tomarem uma decisão de contratar um candidato.
Normalmente, decisões como essa envolvem contratos de prazo longo e valores altos, razão pela qual devem ser minimizados os riscos em benefício da instituição.
E a maioria dos dados e informações são de acesso facilitado e público. Por exemplo, o próprio site da CBF informa sobre a vigência dos contratos dos jogadores com os clubes no Brasil.
Fernando Carvalho, respeitado ex-presidente do Internacional e que hoje desempenha função como diretor de futebol, revelou, recentemente, em entrevista, que possui uma caderneta onde anota e comenta todas as informações referentes aos jogadores que, supostamente, interessam ou podem vir a interessar ao seu clube. Também confirmou que seu processo de tomada de decisão passa por inúmeros conselhos dos profissionais citados acima.
Resultados práticos em contratações onde a relação custo x benefício causou espanto positivo no mercado do futebol: Yarley (seguido desde quando atuava no Paysandu e contratado junto ao Dorados do México); Andrezinho (promissor no Flamengo e que veio ao final do contrato com o ex-clube coreano após quatro anos); Arilton (jovem lateral do Coritiba que despertou a atenção do dirigente na última partida disputa entre os dois clubes em 2008. Veio de graça, sem pagamento de transferência, pois o contrato havia terminado); Guiñazú (adversário de clubes brasileiros quando atuava pelo Libertad do Paraguai e se destacava pela articulação do jogo e vigor físico).
Portanto, no mundo dos negócios em que se encontra o futebol, a margem de erro nas decisões é cada vez menor. Nada será por mero acaso, sorte, azar. Será resultado de muito trabalho.
Inteligente. E ético. Procure essa palavra no texto, pois ela está aqui.
Para azar do dirigente acomodado em sua cadeira e que dá meio-expediente no seu clube.
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“Microsoft lança sistema para disputar mercado com Wii da Nintendo!”.
Calma amigo, você não entrou em site errado, tampouco esse que vos escreve ficou louco (assim imagino).
A manchete que extraí de um portal de noticias de ontem fala sobre videogames que possibilitam o uso de movimentos corporais, sem o uso do tradicional (ou para ser mais preciso, antigo) controle com fios e um botão unicamente.
As tecnologias modernas, hoje, lançam videogames e jogos que permitem o reconhecimento dos movimentos corporais, do rosto dos usuários e até mesmo da voz. Além das inúmeras ações e possibilidades referentes ao jogo, destacando-se ainda diversos games com a temática esportiva.
Aproveito para levantar alguns pontos (e apenas levantar as questões), não pretendo esgotar com poucas palavras, no texto de hoje, coloco-os para emitir alguns pensamentos e dúvidas que tenho acerca do tema, e para instigar o amigo que quiser emitir algum comentário a respeito.
Muitos autores estudam na Educação Física, a utilização das mídias no processo de ensino enquanto recursos e conteúdos do processo. Não conseguiremos falar de todos, mas entre eles, temos os professores Mauro Betti, Alfredo Feres Neto e Giovani de Lorenzi Pires, e me permito algum espaço na discussão sobre o tema, ainda que de forma periférica, em relação a tão experientes e estudiosos professores.
Assim, trago alguns pontos para o futebol, que acredito, podem ser discutidos sob a perspectiva dos integrados aos avanços tecnológicos, e sob um olhar apocalíptico, parafraseando Umberto Eco.
· O jogo de futebol pelo videogame pode ser considerado uma vivência da modalidade?
· Que impacto cultural tem a usabilidade e manuseio do videogame em relação ao conhecimento e compreensão do jogo?
· Os recursos tecnológicos utilizados no desenvolvimento dos games são precursores, acompanham as tendências da tecnologia do esporte, ou nem podem ser comparados?
· Pode o videogame ser um simulador e, como tal, um recurso do processo de ensino dentro de uma perspectiva da complexidade do jogo?
Enfim, são dúvidas que acredito possam ser aprofundadas e melhor repensadas com o debate e a reflexão. E encerro o breve texto de hoje com a motivação que me trouxe a escrever sobre esse tema: a pergunta de um aluno de graduação (que é estagiário de uma escolinha de futebol) sobre como proceder com um garoto que questionava suas opções táticas frente a premissas que defendia baseadas no videogame.
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Vitrine ou vidraça?
O Brasil deu ontem seu primeiro passo concreto para abrigar a Copa do Mundo em 2014. Após 19 meses de muito lobby político e quase nenhuma ação prática, o país definiu as 12 sedes do Mundial que será disputado daqui a cinco anos.
Propalada como uma “escolha técnica”, a definição das sedes foi pautada pela política. No final, surpreenderam as vitórias de Natal e Cuiabá, regiões com pouca tradição no futebol nacional e com diversas dúvidas sobre aproveitamento futuro da infraestrutura que uma Copa do Mundo obriga um país a ter. Da mesma forma, Manaus tem sua escolha muito contestada, mas o potencial turístico da região amazônica justifica a decisão “técnica”.
Abrigar uma Copa do Mundo é uma oportunidade única para o desenvolvimento de uma nação. Não apenas no futebol, mas em diversos outros setores do país. Só que é preciso ter o mínimo de dedicação e de planejamento para que o retorno seja obtido.
Já se passou um ano e sete meses do anúncio de que o Brasil abrigaria a Copa para que tivéssemos as definições das sedes. A Fifa, que no passado havia afirmado ser inviável uma edição de Mundial com mais de dez sedes, abriu uma exceção para o país e permitiu que fossem 12 cidades escolhidas. E, durante 19 meses, o que se viu foi um intenso jogo político para definir as vencedoras.
Outro ponto ainda em aberto é a definição do Comitê Organizador da Copa. Até agora não foi indicado quem será o diretor executivo do órgão, que é o meio-campo entre a Fifa e o país-sede, é quem teoricamente desburocratiza todo o processo dentro e fora do Brasil.
Tudo isso faz com que a oportunidade única de o país abrigar uma Copa, de ser uma vitrine para o mundo, seja colocada em xeque. O torneio fará com que o planeta volte seus olhos para cá pelos próximo cinco anos. Investimentos serão feitos, países estarão dispostos a mostrar seus serviços para o Brasil, que pode alavancar sua economia e revelar o grande país que tem potencial para ser.
Muito dinheiro será gasto na construção e melhoria de infraestrutura, e mais um punhado para erguer ou melhorar os estádios que farão parte da competição. Do jeito que a coisa está, porém, o Brasil pagará por mais de 30 anos a conta pelo sonho de ter feito uma Copa do Mundo.
Sem o planejamento, a iniciativa privada está longe de fazer parte da história desse Mundial.
E a vitrine vai se tornando, a cada dia que passa, uma vidraça. E a pedra vem vindo em direção a ela com cada vez mais força. Daqui a cinco anos, estoura…
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