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Ausência

Caro leitor,

Informamos que a coluna de André Megale não será publicada nesta sexta-feira e aproveitamos o espaço para pedir desculpas pelo infortúnio.

Esperamos que a situação seja normalizada na próxima semana e estamos trabalhando para isso.

Obrigado!

Equipe Cidade do Futebol

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Inesperado

Eis que, no apagar das luzes da janela de transferência, o mundo do futebol sofreu uma abrupta transformação.

E não, não tem nada a ver com a janela em si ou com a transferência de algum jogador em particular, até porque a janela foi fraca como há muito não se via. Basta ver que para boa parte dos maiores clubes, pouca coisa mudou. Apesar da contratação do Berbatov, a grande tacada do Manchester foi manter o Cristiano Ronaldo. Apesar também da contratação do Ronaldinho, a grande tacada do Milan foi manter o Kaká. O mesmo vale pro Arsenal, que não perdeu o Adebayor e nem o Fábregas, pro Liverpool, que manteve o Fernando Torres, e para o Werder Bremen, que segurou o Diego. A coisa só não é a mesma para a Inter, para o Chelsea e para o Bayer porque eles contrataram novos técnicos, e só.

O único clube que talvez tenha fugido da regra foi o Real, mas não porque contratou o Van der Vaart, e sim porque vendeu o Robinho. Robinho, aliás, que faz parte da mudança anunciada ali no primeiro parágrafo. Não o Robinho em si, entenda, mas sim o que motivou a sua contratação. No caso, a compra do Manchester City pelo Abu Dhabi United Group.

Essa ninguém previa. Não que o ADUG tenha aparecido do nada, muito pelo contrário. Afinal, eles já tinham tentado comprar o Liverpool, o Arsenal e até o Newcastle. O que ninguém imaginava é que alguém iria comprar justo o Manchester City do Shinawatra, que por sua vez está cada vez mais enroscado com a justiça.

Foi, de longe, a grande transferência da temporada. Grande mesmo. De um dia pro outro, o Manchester City virou o clube mais rico do mundo. Muito, mas muito mais rico que o próprio Chelsea, que já era rico. Perto dos xeiques árabes, Abramovich parece um mendigo. Basta comparar. A fortuna do russo é estimada em 20 e poucos bilhões de dólares. O Abu Dhabi Investment Authority, fundo que controla o ADUG, tem quase 900 bilhões. É tão superior que levou o Robinho, que já tinha quase tudo certo com o Chelsea. E Abramovich ficou de mãos abanando, coisa com a qual, convenhamos, ele não está muito acostumado.

Como todo novo rico do futebol, os árabes começaram a investir pesado. O primeiro da leva foi o Robinho, por 32 milhões de libras, a maior transferência da história do mercado inglês. Agora, já se fala em uma proposta de 135 milhões de libras pra fazer o Cristiano Ronaldo atravessar a rua e trocar o lado vermelho pelo lado azul da cidade. Quase 500 milhões de reais para contar com um jogador por 05 anos. Coisa de quem tem dinheiro e quer mostrar. Coisa de novo rico.

Os efeitos da entrada do ADUG na indústria podem ser bons ou devastadores. Pelo lado positivo, ele vai injetar mais dinheiro num mercado que estava se aproximando de uma grande crise. Por outro, ele vai inflacionar ainda mais os valores de transferência e o salário de jogadores. Robinho virou o jogador de futebol mais bem pago do planeta. E se eles contratarem o C. Ronaldo? E o Kaká?

Para piorar, o ADUG, ao contrário de alguns recentes donos de clubes, como os estadunidenses do Manchester United, não estão nem aí pra ganhar dinheiro. O que eles querem é ganhar respeito e notoriedade no mundo do futebol. E no mundo do futebol, tudo tem um preço, principalmente respeito e notoriedade. O futebol mundial tem um novo dono. Curvemo-nos ao Manchester City.

Nunca imaginei que um dia eu escreveria uma frase como essa.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Querida encolhi os atletas! Chuteiras galácticas para os… ah! Os jogadores

Onde está a tecnologia no futebol? Em que aspectos ela está mais avançada? Ela inexiste nesse universo? Seria o futebol um vácuo, no qual a tecnologia não se propaga?

O futebol sem dúvida envolve uma gama de vertentes e variantes: o espetáculo, o business, a performance, entre outras. É símbolo daquilo que o historiador e sociólogo francês Pierre Bourdieu define como campo esportivo, gerador de tantas funções e interesses que despertam de sua prática – os atletas, os jornalistas, as empresas de material esportivo, os empresários, e por ai a diante.

O que mais me chama atenção é a estratosférica distância que se estabelecem nesses campos em torno do futebol em relação aos avanços tecnológicos. A tecnologia está presente no futebol, sim! E com muito investimento! – O amigo que acompanha os textos dessa coluna deve estar confuso e estranhando, já que tenho sido tão crítico a falta de tecnologia na nossa querida modalidade, mas é ai que mora o grande abismo.

A tecnologia atinge algumas dessas vertentes. Não temos dúvida dos recursos e investimentos que são gastos para o desenvolvimento dos uniformes, da bola, das caneleiras, luvas, e a estrela maior da indústria do material esportivo, nada mais nada menos que ela… a chuteira.

De fibras de carbono, a titânio, de borrachas especiais a couro inimitável, com flexibilidade inigualável, ajustada aos pés dos maiores ídolos, testados impacto a impacto, estudada biomecanicamente em função das ações especificas, permitindo caracterizar uma chuteira em função do estilo de jogo do atleta, se ele corre mais com a base do calcanhar, utiliza mais força para o chute, se é mais técnico na corrida, enfim a chuteira é desenvolvida considerando cada ossinho, músculo e tendão em movimento.

Mas o que nos preocupa não são esses avanços, nem tantos outros importantes que já ocorrem como a evolução da grama, sistemas de irrigação, sem contar sistemas de avaliação física que tem se aprimorado cada vez mais. Somos extremamente favoráveis aos avanços, desde que não se esqueçam de uma figura importante nesse processo.

Algumas dessas vertentes do campo esportivo, no caso mais especifico o futebol, às vezes esquecem “daquilo” que está justamente atuando sobre o outro campo, aquele verde no qual coexistem com chuteiras e uniformes o que nos acostumamos chamar de atleta. Ah! Acaba parecendo que encolhemos esses atletas e o que vemos é um futebol praticado por chuteiras e uniformes.

Mas o amigo pode achar uma injustiça, alegando que muitas das tecnologias aplicadas visam justamente a melhoria de performance do atleta e que outras tantas atuam diretamente no atleta. Em tempo, é necessário frisar que tanto umas como outras têm como foco a melhoria do desempenho, considerando o atleta simplesmente como um instrumento no qual devem ser aplicados recursos para otimizar o desempenho, seja direta ou indiretamente.

Partindo do conceito de tecnologia que fundamenta nossas idéias, relembrando, tecnologia é processo e recurso que buscam otimizar os objetivos, até parece-nos adequado os grandes investimentos em alguns campos específicos do futebol. Mas o fato é que alguns dos principais fatores que deveriam ser considerados acabam ficando relegados nessa corrida de inovação tecnológica desordenada no mundo do futebol.

O que determina um resultado do jogo? Ah se eu tivesse a resposta, estaria milionário! Mas tenho convicção que dentre as variantes que influem significativamente estão as questões técnicas e táticas. E quem é o grande responsável por essas questões? Tchazan! O atleta, o mesmo atleta que utiliza as chuteiras galácticas desenvolvidas pela tecnologia, sobre gramados milimetricamente elaborados e estudados, e sobre o qual são aplicados os recursos mais fantásticos para otimizar sua performance.

Mas onde está a tecnologia para otimizar aquilo que pode ser o grande diferencial de um atleta que treina as mesmas coisas, com os mesmos recursos tecnológicos que os outros, mas que o torna diferente, aquilo que permite a imprevisibilidade através de elementos técnicos e táticos. Que se busque valorizar tais questões na formação do atleta. Não mais apenas pela altura ou força, mas pela capacidade de compreender um jogo.

Alguns poderiam dizer que é loucura falar em tecnologia para as questões de inteligência e dom dos atletas. Concordo, ainda que a genética já esteja por ai e não imaginamos o que pode vir de positivo e negativo dela.

Mas o que já é possível falar sobre a tecnologia nesse processo (olha aí um dos termos que definem tecnologia), é uma das coisas mais valiosas atualmente: INFORMAÇÃO.  Alguém dúvida do que pode ser feito para armazenar, tabular, organizar, traçar tendências, identificar padrões, etc, etc, etc com a tecnologia que dispomos hoje? Eu não! Duvido apenas da capacidade dos homens do futebol (sempre há exceções, que não se sintam ofendidos aqueles que aqui se encaixam, nem que se considerem aqui presentes aqueles que não devem) de transformar tudo isso em informação.

Até lá torço para que nossos atletas mantenham suas técnicas e táticas bem armazenadas com os recursos tecnológicos presente em seus cérebros, para que não sejam encolhidos até o ponto do que uma vez Umberto Eco imaginou como o futuro das copas do mundo: um futebol de robôs, confrontando marcas, tecnologias…

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Marca forte

Um dos principais fatores para o fortalecimento da marca de um clube é, necessariamente, os ídolos que por ele passam. Jogadores que marcam a sua história no futebol e que reforçam momentos vitoriosos do clube são aqueles que, invariavelmente, elevam o nome da instituição onde quer que vão.

No último final de semana, a cidade de East Midlans, na Inglaterra, recebeu a abertura da Superleague Formula, competição entre carros que representam clubes de futebol. Foi o início do que pode se chamar de grande sacada esportiva, numa mistura de duas paixões mundiais: carro e futebol.

Mas do que adianta fazer uma corrida de carros de futebol se o que é mais precioso na história de um clube, que são os ídolos, não estiverem presentes. Foi assim que pensou o Milan, que faz parte da Superleague e que hoje é um dos mais avançados clubes em termos de marketing.

Em meio ao paddock, sala de imprensa e área VIP do autódromo de Donington, circulava entre as pessoas Franco Baresi. Sim, aquele zagueiro, que fez o Milan aposentar a sua camisa de número 6, aquele que Romário classificou como o jogador mais difícil que enfrentou durante toda a carreira.

Baresi estava lá, curtindo a prova, conversando com os jornalistas, sendo solícito aos pedidos para tirar fotos e dar entrevistas. Baresi cumpriu sua função como embaixador do Milan. Ajudou a reforçar a marca do clube na estréia milanista no automobilismo. E, também, ampliou a cobertura da mídia para o início da Superleague.

Por essas e outras que o futebol da Europa, cada vez mais, se assimila às ações de marketing das grandes ligas esportivas americanas. Em busca da massificação de um esporte, o Milan levou para a Inglaterra um dos jogadores que mais representa a história de seu clube. Foi o único, entre os 17 que participam da competição, a ter uma idéia parecida.

O Flamengo, em peso, esteve em Donington. Marcio Braga e Ricardo Hinrichsen, respectivamente presidente e vice-presidente de marketing. E Zico, Junior ou qualquer outro bom representante do clube Rubro-Negro?

O sucesso da estréia de uma nova modalidade que reúna clubes de futebol passa, necessariamente, pela exploração comercial das fortes marcas que são os clubes. Do contrário, será mais uma boa idéia jogada no lixo…

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Mourinho e as transições ofensivas

Não é de hoje que escrevo sobre as transições (defensivas e ofensivas) no futebol. Não é de hoje também que alguns treinadores europeus dão a elas foco destacado nos seus modelos de jogo.

Chamam muito a minha atenção as transições das equipes de José Mourinho. Especialmente as ofensivas.

Que muitos treinadores entendam a importância delas no futebol moderno e que tantos outros desenvolvam estratégias e lógicas ímpares para a sua execução, isso é inegável. Mas as das equipes de José Mourinho têm algo especial.

Basicamente quando uma equipe está a tentar recuperar a posse de bola deve ter bem definidas as formas coletivas para tal. Ao recuperá-la, de imediato, o 1º e/ou o 2º jogador (normalmente) tem rapidamente que decidir e definir qual curso dará a bola. Sua ação é decisiva para a organização de jogo da equipe.

Essa ação está (didaticamente) atrelada a quatro possibilidades imediatas na transição defesa-ataque:

1)    Manter a bola na zona de pressão sem progressão da jogada em direção do alvo (o que não costuma ser muito produtivo);

2)    Buscar rapidamente a progressão coletiva da jogada em direção à meta (mesmo que não haja diminuição considerável da pressão sobre a bola);

3)    Tirar horizontalmente a bola da zona de pressão (para depois avaliar qual a seqüência mais apropriada);

4)    Tirar verticalmente a bola da zona de pressão, afastando-a da meta ofensiva e aproximando-a da meta defensiva.

Não é muito difícil imaginar que isso não seja nenhuma novidade para muitos treinadores de 1ª linha. E se não é novidade, não deve haver também grandes questões para serem acrescentadas ao tema, correto?

Nem tanto (ou melhor, nem um pouco!).

Ter quatro opções realmente não é um problema. Problema é ter coletivamente bem definida qual a melhor opção a ser escolhida para cada situação de recuperação da posse da bola no jogo.

Ainda que se tenha como parâmetros a região da recuperação da posse da bola (em suas coordenadas verticais e horizontais), o número de jogadores próximos a ela, a fase de organização do jogo adversário que ela fora recuperada, os princípios operacionais de defesa e ataque predominantes do adversário (e da própria equipe), qual o jogador que recupera a bola e/ou qual adversário que a perde; determinar com maiores chances de êxito, qual a melhor estratégia de transição ofensiva imediatamente após a recuperação da bola necessita de um refinamento, de uma capacidade coletiva de ler as situações-problema e de uma “experimentação” por parte dos atletas as tais situações-problema extremamente grandes e ricas (em qualidade).

E isso (qualidade), podemos notar nas equipes do treinador português.

Fora assim nos pouquíssimos jogos que tive acesso em sua época de Porto, fora assim no inglês Chelsea e já se mostrou assim em tão pouco tempo no Internazionale de Milão no jogo contra a Roma (especialmente no 1º tempo).

Evidente que Mourinho encontrou uma lógica para tal que confere à elas (as transições ofensivas) uma qualidade especial.

Mais evidente porém, é que o seu jogar treinando e o seu treinar jogando possibilita aos seus atletas as mais diversas situações-problema possíveis – e logo aumenta consideravelmente a capacidade deles, de tomar decisões.

Como a lógica da sua transição ofensiva (da de Mourinho) é inerente ao seu modelo de jogo, todos da equipe, coletivamente passam a ler o mesmo jogo o tempo todo (a partir daí as chances de acerto só tendem a aumentar).

Então, é necessário se destacar que possivelmente não esteja apenas no como (onde?, por quê?, quem?, quando?, o quê?) proceder nas transições ofensivas o caminho para torná-las mais eficazes.

O que é possível e também provável, é que um dos “grandes segredos” de tal eficácia esteja sim no como (onde?, por quê?, quem?, quando?, o quê?) construir os treinos para conduzir a equipe ao entendimento da lógica que orientará o modelo de jogo.

Como hoje no futebol as coisas vão meio no “não sou eu quem me navega; quem me navega é o mar (…)” (bela música “Timoneiro”, de Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho), e como o mar ainda parece estar mais para “Cymbospondylus” (réptil marinho primitivo) do que para submarino inglês, creio que os tripulantes da “embarcação futebolesca” ainda vão demorar um pouco para perceberem que estão na direção contrária.

E até lá, muitas vitórias daqueles que estão remando contra a maré…

Leia mais:
A tática, o coletivo e o José Mourino: uma questão de(o) português!

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Planejamento dos clubes e as janelas de transferência de jogadores

Caros amigos da Universidade do Fubebol,

A transferência internacional de jogadores é um tema bastante frequente nas épocas de meio e final de ano. O mercado do futebol fica agitado em que muita especulação ganha espaço na mídia.

E, como sabemos, o futebol tem a sua peculiaridade também no que se referei à transferência de empregados (jogadores) de um clube para outro. Diferentemente do que ocorre em outros ramos de atividade, os clubes somente podem “vender” os direitos sobre seus jogadores, e comprar o de outros clubes, em determinadas épocas do ano.

Pelo regulamento da FIFA, as federações nacionais devem escolher dois períodos, por ano, para que os clubes daquela jurisdição possam transferir jogadores. 

Em primeiro lugar, importante mencionar que existe discussão jurídica na Europa vis-à-vis a legislação comunitária. Restringir o período em que um clube pode contratar jogadores fere o princípio da liberdade de movimento de cidadãos e/ou o do direito ao acesso ao trabalho? Ou tal restrição se justifica no âmbito do escopo da especificidade do esporte?

Para além dessa questão, temos também a de ordem prática a ser ressaltada. Os clubes precisam ter a exata informação das chamadas “janelas de transferência” de outros países, em linha com a sua política estratégica de formação e dissolução de elenco. Principalmente aqueles clubes que tem como objetivo a formação de jogadores e a sua colocação em outros mercados como fonte legítima e alternativa de receita.

Por exemplo. Muito se fala em “janela de transferência européia”. O que é isso? Quando começa e quando termina? Na verdade, esse termo não existe legalmente. O que existe é um período entre 1 de julho a 31 de agosto, em que a federação da marioria dos países europeus escolhe como período de transferência de jogador. 

No entanto, não é regra para todos os países. Dentro do princípio da subidiariedade, amplamente reconhecido na esfera desportiva e também nos tribunais europeus, a competência para a decisão de tal matéria cabe à Federação à nível nacional. 

Na Suécia ou na Irlanda, por exemplo, a janela terminou no final de julho. Na França, a janela foi aberta em maio. Durante o período de interrupção das competições no inverno, a dicrepância entre os países ainda é maior. A grande maioria tem a janela durante o mês de janeiro. Na Finlândia, porém, a janela de transferência abre apenas em março, fechando em abril.

Esses são apenas alguns exemplos, dentre diversas peculiaridades que cada país europeu apresenta com relação aos seus períodos de transferência.

Cada vez mais o sucesso dos clubes está relacionado a um planejamento organizado, que deve sempre ser embasado em informações precisas e acuradas, em um ambiente em que haja a devida segurança jurídica. Só assim o profissionalismo pode de fato ser estabelecido no futebol e, em especial, na gestão de nossos clubes.

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Fast Ûber Alles

Quando se fala em exemplo de futebol para o mundo, logo se menciona a Europa, claro.

E quando se fala em exemplo de futebol Europeu, logo se menciona a Inglaterra, logicamente. Afinal, qual é a liga mais rica do mundo? Onde estão os melhores jogadores? Os maiores patrocinadores? A maior atenção do mercado? Inglaterra, claro.

Entretanto, porém, todavia, um novo fenômeno mercadológico vem tomando forma e despertando a atenção de todos quando se fala de desenvolvimento futebolístico: a Bundesliga.

A liga alemã vem, ano após ano, exibindo franco desenvolvimento e um modelo administrativo mais sustentável do que qualquer outro existente por aí. E os números comprovam. Hoje, a Bundesliga só perde em receita para a Premier League inglesa. No último relatório da Deloitte, a Bundesliga gerou 1,379 bilhões de euros contra 1,32 e 1, 16 da Primera Liga e da Serie A, respectivamente. A Premier League vai longe, com 2,2 bilhões de euros.

Logicamente que existem alguns fatores impulsionando a Bundesliga em relação aos campeonatos espanhol e italiano. Primeiramente, a Alemanha ainda está sob o efeito da Copa de 2006, que deve durar pelo menos mais uma temporada. Esse efeito aumenta o número de pessoas dentro do estádio, o que permite que a Bundesliga registre uma média de público de mais de 37 mil pessoas por jogo, a maior da Europa pela quinta vez consecutiva. Com isso, aumenta o potencial comercial dos clubes, fomentado pelos novos estádios construídos para a Copa. 

Além disso, a decadência do campeonato italiano, que enfrenta sérios problemas de público e de credibilidade após os recentes escândalos de arbitragem, e a concentração do poder comercial do campeonato espanhol na mão de dois clubes, Real e Barcelona, permitem que a Bundesliga consiga se sobrepor dentro do cenário.

Mais impressionante, porém, é o fato da Bundesliga ser também a liga mais rentável entre os principais campeonatos europeus. Mais, até, do que a Premier League. O lucro da Bundesliga na temporada 06/07 foi de 250 milhões de euros, 78% maior que o lucro da Premier League, que foi de 140 milhões de euros. Aos olhos dos investidores, portanto, é natural que a Bundesliga comece a tomar um lugar de destaque no mercado.

Naturalmente, esse cenário de grandes margens de lucro vem com um preço. Boa parte do lucro da Bundesliga é proveniente de uma forte política de controle de salários para jogadores. A Alemanha, de um modo geral, não consegue segurar jogadores mais qualificados porque não consegue competir no mercado. Como essa é uma situação comum à grande maioria dos clubes, ela não apresenta problemas internamente. Externamente, porém, é outra história. Grandes lucros internos significam pouca performance externa. Não é de se estranhar, portanto, que sejam raros os casos de clubes alemães que conseguem alcançar estágios mais avançados da Champions League, uma vez que as suas folhas salariais não se equiparem aos padrões ingleses, italianos e espanhóis.

Na indústria do futebol, como em quase qualquer outra coisa que existe, tudo que acontece tem um preço. Inclusive o lucro. Resta o velho dilema: ganhar dinheiro ou ganhar um jogo?

Typisch.

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TPJO (Tensão Pós Jogos Olímpicos): "Fecham-se as cortinas e termina o espetáculo"

Sempre que se encerram os Jogos Olímpicos nós, amantes do esporte, sentimos aquele vazio, aquela tristeza, o famoso TPJO (Tensão Pós Jogos Olímpicos), o que fazer até passarem-se quatro anos ?  Afinal para quem vive do, pelo e para o esporte e nas horas vagas se entretêm com ele sem dúvidas vive um momento mágico.

Torcer, como um povo sofrido pelo sentimento de união da nação, de força, de superação. Criticar, como observadores, o planejamento, a falta de investimento, o desvio de verbas, o descaso com a ciência. Misturar entre tantos outros sentimentos, orgulho, frustração, indignação, alegria e emoção com o hino nacional raramente tocado. É sem dúvida uma complexa relação que estabelecemos com os jogos, para alguns excessiva, para outros natural, enfim opiniões tão diversas como as possibilidades de reflexão que se abrem.

Modernidade, organização, precisão, imagens sensacionais, não dá para esquecer da famosa imagem em “câmera ultra-lenta”, nem tão pouco das falhas como o sumiço da vara, que transformou a atleta Fabiana Murer em verdadeira protagonista de uma tragédia Grega.

Faço minha reflexão, com muito receio, pois dei uma repassada nos textos anteriores, e gostaria de ser menos pessimista e ranzinza com as questões tecnológicas no esporte nacional, sobretudo no futebol, mas sou brasileiro e não desisto de trazer em textos futuros boas novas para a torcida brasileira eternizada na voz do saudoso Fiori Giglioti, (que fico aqui imaginando como ele teria narrado o ouro de Cesar Cielo), mas enquanto isso tento me ater nas condições sob aquilo que conduz meus olhares.

Sempre ouvimos ao término dos jogos, o discurso de reflexão, de aprendizado, de evolução do esporte nacional, e ficamos numa análise mais racional desapontados com a distância que nossa estrutura está em relação as demais. Ouvimos promessas, expectativas de evolução fenomenal para o próximo e tão orgulhosamente chamado ciclo olímpico, mas o fato é que parece um discurso gravado numa fita cassete e transposto para um CD ou DVD, e provavelmente na próxima, esse discurso já esteja gravado no BLU-RAY (para alguns, a evolução do DVD).

Mas o amigo da Cidade do Futebol pode se perguntar o que dizer do Cesar Cielo ? Com muito orgulho e emoção vibrei com a conquista desse fantástico nadador brasileiro que treinou ou treina nos Estados Unidos com um técnico australiano, e que por sorte nossa não desistiu de representar seu país natal, que acredito pouco ter contribuído com o desenvolvimento desse campeão olímpico.

As cortinas foram fechadas, e é mais do que necessário para aqueles que defendem e atuam no esporte de competição em alto nível , que mais do que os batidos discursos, de nossos dirigentes, pós jogos olímpicos temos que observar profundamente as razões de tais diferenças. E esse observar vai muito além de por um óculos para enxergar melhor.

Nos aspectos tecnológicos a frase Alan Kay em destaque no inicio dessa coluna, representa um ponto importante no qual precisamos refletir.

Enquanto para nós o show de imagens é o marco da invenção tecnologia que fica desses jogos, para outros países habituados a tecnologia, que nasceram ou fizeram nascer deles inúmeros recursos, o desempenho esportivo é fruto de nada mais nada menos que um cotidiano de planejamento , de investimento (e isso falta no nosso pais, e não só no aspecto financeiro, mas também no aspecto de prioridade dos profissionais e capacitação para lidar e exigir tais condições).

Um cotidiano que leva o treinamento de um Michael Phelps para túneis de água e recursos biomecânicos para aproveitar sua estrutura corporal aos melhores e mais adequados movimentos dentro da água, que leva aos atletas o treinamento numa Hydro Physio Lifestyle Water Resistance, equipamento de treino resistido na água, que estuda ação dos adversários em busca do melhor proveito como a técnica da seleção feminina de futebol dos Estados Unidos, enfim poderíamos aqui enumerar uma gama de recursos e possibilidades que pudemos observar no decorrer desses jogos, mas seriamos extremamente repetitivos.

E antes que nos conformemos que tudo isso é muito caro para a realidade brasileira, lembro que temos no Brasil, empresas e universidades que desenvolvem grandes trabalhos e pesquisas, que acabam achando mercado muito mais receptivo fora do nosso país, principalmente pela capacidade dos profissionais estrangeiros de priorizar tais recursos no planejamento e treinamento.

Fica a reflexão, fica o olhar, ficam os recordes e as medalhas, ficam as imagens, mas sinceramente espero que não fiquem os discursos. Espero que possamos nascer para o mundo tecnológico no esporte.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

 

“A tecnologia só é tecnologia para quem nasceu antes dela ter sido inventada.”
( Alan Kay )

 

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Quem morreu?

“Que cara é essa, morreu alguém?”. Dessa maneira “delicada”, Dunga começou a entrevista coletiva de imprensa após a conquista da medalha de bronze pelo time de futebol do Brasil nos Jogos Olímpicos de Pequim.

Sim, o técnico da seleção, como bem colocou o repórter do “UOL” Bruno Freitas “surtou” quando foi atender à imprensa após o frustrante bronze na China. E o recado, segundo a reportagem, era para a TV Globo. Até o próprio Dunga confirmou isso:

“Aqui dentro tinha esquema. Comigo não tem. Acabei com o privilégio, e isso causa revolta”, disse o treinador, mostrando claramente que tentou dar nova cara ao relacionamento entre comissão técnica, jogadores e imprensa desde que assumiu o “trono” de técnico da seleção em 2006.

De fato Dunga não permitiu que o time do Brasil se tornasse uma espécie de figurinha carimbada da Globo, como havia acontecido com o time do Brasil de Parreira na Copa da Alemanha. Não que toda a invasão de privacidade fosse a única responsável pelo oba-oba exagerado em cima daquele time e, conseqüentemente, pela derrota apática para a França.

Só que, naquela ocasião, Dunga atuava como comentarista pelo BandSports. Da cabine do estádio em Frankfurt, viu o time de Parreira ser aniquilado por Zidane e Cia. E percebeu, na pele, a dificuldade que a imprensa “comum” tinha em conseguir alguma coisa com aquela seleção.

Quando assumiu o comando brasileiro, Dunga fez mais ou menos o jogo que acabou tornando-o figura abominável pela mídia em 1994. Sem regalias, sério, fechado, jogando duro. Assim começou a ser implantado o “estilo Dunga” na equipe do Brasil.

Só que, diferentemente de 1994, a seleção não ganhou o caneco, ou o ouro. Amargou o terceiro lugar, e com isso a paciência da imprensa com Dunga se esvaiu, assim como havia sido em 1990, quando ele virou o símbolo de uma geração derrotada em campo.

Agora, Dunga é sinônimo de insucesso fora de campo. Suas atitudes, que condiziam com aquilo que se considera bom jornalismo, acabaram se tornando sinônimo de antipatia e podem acabar por destruir o trabalho que começou a ser feito por ele (goste ou não goste, ele conquistou uma Copa América e um bronze olímpico).

Mas agora o buraco é mais embaixo. Dunga começou a atacar uma seara complicada. Envolve não apenas a mídia como um todo, mas uma das mais poderosas parceiras comerciais da CBF, que é a TV Globo. Afinal, ela é quem compra os direitos de transmissão das competições organizadas pela CBF. Ela é quem paga US$ 500 mil em média pelo amistoso do time nacional. Ela é quem muitas vezes tira alguns clubes da pindaíba, a pedido da própria CBF.

Será que Dunga está com a razão? Muitas vezes, sim. No caso do tratamento com a mídia, é notável que o trabalho ficou mais “justo”, permitindo a todos os veículos acesso a atletas e comissão técnica, sem papagaiadas de ficar acordado até tarde para dar “Boa noite” no Jornal Nacional.

Mas, sem a habilidade política que o cargo de técnico da seleção brasileira exige, quem será que vai morrer primeiro nessa história?

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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O treino tático e o conceito de processo

O que significa processo?
 
Estou eu aqui sempre a falar sobre o tal. Treinamentos exigem processo; educação exige processo; formação de atletas exige processo; resultados exigem processo. Das definições que o Moderno Dicionário Michaelis de Língua Portuguesa oferece, aquelas que melhor se encaixam naquilo que o “processo” que digo, se refere, vão todas na mesma direção.
 
Por exemplo: segundo o dicionário, processo pode ser a “sucessão sistemática de mudanças numa determinada direção”; pode ser “série de ações sistemáticas visando a certo resultado”, “ações ou operações contínuas que ocorrem de uma maneira determinada”, ou ainda “ação de ser feito progressivamente”.
 
Pois bem. Ainda que não nos prendamos nas definições, mas no conceito, continuará evidente que um treinador de futebol, profissional ou das categorias de formação, precisa (muito!) conhecer e entender sobre “processo”.
 
Na revista Soccer Coaching de dezembro/janeiro de 2008, em uma matéria sobre meu trabalho nas categorias de base, propus uma seqüência de exercícios referente a uma temática específica da marcação em zona.
 
É comum que me peçam algum exemplo de atividade para se trabalhar esse ou aquele conceito. O que é mais comum ainda é que na maior parte das vezes não há o entendimento de que esse ou aquele exercício, esse ou aquele treino, desvinculado do “processo”, não terá o efeito desejado e muito menos servirá para aquilo que fora destinado.
 
Hoje, então, apresentarei uma idéia, de como em dado período específico, do planejamento ou da periodização tática, pode-se construir (de forma processual) o conceito de marcação em zona (referente à linha de defesa e à de meio-campo) aplicada ao 1-4-4-2 em linha a partir da linha três (no fim do texto, veja o quadro explicativo que resume as atividades – use-o para acompanhar a leitura).
 
 
 
Em um primeiro momento, a lógica básica para a construção da marcação zonal em linha (das linhas de defesa e meio-campo) ocorre a partir do desenvolvimento do conceito da ocupação racional do espaço, independentemente da quantidade de jogadores adversários distribuídos em dado setor do campo.
 
Então, progressivamente, com poucos jogadores, podemos criar situações de igualdade e desvantagem numérica para a defesa, de tal forma que aumentando o número de jogadores cheguemos efetivamente nas duas linhas de quatro.

 
Como a idéia de início é construir o conceito da marcação zonal, é importante que os jogadores que estão defendendo tenham liberdade de ação e posicionamento, para que orientados pelo treinador comecem a perceber racionalmente qual a melhor ocupação do espaço em função da posição da bola, estando eles em igualdade ou desvantagem numérica.
 
 
 
Quando, na evolução das atividades, a defesa estiver efetivamente com oito jogadores realizando o exercício em igualdade e desvantagem numérica, há de se partir então para outro nível da construção dos conceitos: a formação efetiva das duas linhas.
 
 
 
Na concepção e apresentação das atividades desse novo nível, a construção das linhas inicialmente não é explícita na intervenção do treinador, mas ocorrerá em conseqüência da estrutura das próprias atividades.
 
Nesse novo nível, antes efetivamente do 11 contra 11 é necessária ainda a execução em igualdade e desvantagem numérica (figuras 11 e 12).
 
 
 
Depois do11 contra 11, outros níveis precisam ser alcançados até que o 1-4-4-2 em linha esteja bem organizado para responder ao maior número possível de situações-problema. A construção da orientação do espaço da linha de ataque também é algo que precisa ser inserido no desenvolvimento de todos os níveis de construção para se chegar efetivamente no “jogo formal”.
 
E esse, caro leitor, é o seu desafio. Como você faria para desenvolver o conceito de forma integrada com a linha de ataque? Se essa for fácil, pense então como faria para realizá-la de forma “pressionante”; ou ainda, como trabalharia para desenvolver esse conceito de marcação a partir da linha 1 (linha mais adiantada)?
 
Até a próxima…
 
Quadro resumo-esquemático:
 

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