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Aqui, lá e ali

Semana passada eu disse que se você quisesse jogar bola na Inglaterra, que procurasse o Liverpool. Agora, continuando o meu grande serviço público de aberturas de mercado do futebol, sugiro – mais ainda do que a Inglaterra -, que você procure outro país parecido, mas com uma moeda um pouco mais fraca. Quer dizer, cada vez mais fraca. Estados Unidos, ei-los.
 
Os Estados Unidos, como qualquer país desenvolvido, sofrem um problema de escassez de talento para esportes, em especial o futebol. Países com maiores desigualdades sociais revelam mais talentos. Países mais iguais, menos. Não obstante, o futebol por aquelas bandas anda crescendo, e bastante. Para se ter uma idéia, a MLS, principal liga de futebol do país, aumentará o número de equipes para 15 em 2009 e 16 em 2010.
 
Entretanto, tamanho crescimento de clubes não corresponde ao crescimento do número de revelação de jogadores. Com isso, a liga acumula um óbvio déficit de trabalhadores e precisa importar talento de outros países. E é aí que surge a oportunidade para o Brasil, e talvez para você, uma vez que aqui continua sendo a grande região fornecedora de talento do futebol mundial. Relação pura e simples de oferta e demanda.
 
A premissa é mais ou menos a que vale para o mundo todo. Na medida em que os mercados vão abrindo mais jogadores vão sendo exportados, uma vez que não se produz jogador de futebol profissional do dia para a noite. E talvez seja essa expansão mundial do futebol que seja a mais importante razão para a crescente exportação de jogadores brasileiros. Não a Lei Pelé e nem nada do tipo. A razão é pura e simples de mercado. Quem precisa, compra. Quem não precisa tanto, vende.

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Vivendo e aprendendo a jogar

Um dos pontos-chaves para a profissionalização da economia brasileira foi o irreversível processo, no final dos anos 80, de preparação dos executivos das empresas para falar em público. Com a Nova Constituição em 1988 e, posteriormente, com a promulgação do Código de Defesa do Consumidor, os executivos das companhias tornaram-se uma espécie de embaixador daquela empresa, um porta-voz que representa o pensamento e a maneira de atuação dela.
 
Foi nesse momento que proliferaram pelo país o uso do midia training por parte das assessorias de imprensa das empresas. Aliás, o primeiro passo dessa revolução foi a necessidade que as empresas viram em ter assessorias. O segundo foi o treinamento desses executivos.
 
A partir desse momento o jornalista de economia passou a ter muito mais dificuldade para conseguir uma falha na entrevista do executivo. Os principais planos estratégicos continuaram a ser guardados até o momento certo de ser anunciado. A pergunta para derrubar o entrevistado deixou de ser tão surpreendente.
 
O futebol brasileiro vive hoje uma era parecida com a que a economia nacional atravessava há questão de 20 anos. O Estatuto do Torcedor se tornou uma espécie de Código de Defesa do Consumidor do futebol. E deu muito mais responsabilidade ao dirigente esportivo. Hoje ele não pode falar qualquer bobagem que nada lhe acontece.
 
Só que, por incrível que pareça, bobagens são ditas a cada jogo. Culpar árbitros, tachar jogadores de incompetentes, esbravejar contra o comando da bola. A cada dia que passa, ou a cada derrota que se acumula, observamos pretensos dirigentes profissionais encontrarem no outro a razão para o seu fracasso.
 
Obviamente que a era paleozóica continua a ditar o ritmo do futebol. Assessoria de imprensa ainda é um tabu, o que dirá do treinamento aos profissionais encarregados de falar a público dentro desse clube. Para o clube, investimento continua a ser contratação de atletas e comissão técnica.
 
Pelo menos já evoluímos uma etapa. Falta agora percorrer o longo caminho da profissionalização da comunicação do clube. E isso não significa apenas oferecer café e bolacha aos jornalistas durante os treinos, além de um resumo informativo nos dias de jogos com estatísticas do time e atletas.
 
Enquanto esse dia não chega, uma solução é colocar mais MPB nos rádios dos dirigentes. Quem sabe, ao som de Elis Regina, eles aprendem a jogar. “Nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar”…
 

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O 4-4-2. Do senso comum aos conceitos comuns

Quatro jogadores de defesa, quatro jogadores de meio-campo e dois atacantes. É assim que Jens Bangsbo e Birger Peitersen iniciam suas ponderações sobre o 4-4-2 no livro que escreveram no ano 2000 (“Soccer Systems e Strategies”). Ainda que não seja necessário ser especialista sobre o assunto para descrever didaticamente a estrutura desta plataforma de jogo, saliento que a partir dela é possível fazer uma boa discussão em torno do 4-4-2.
 
Muito conhecido de nós brasileiros, aprofundado e defendido por Parreira como parte importante da cultura tática do futebol no Brasil, o 4-4-2 tornou-se muito comum em diversos países dos diferentes continentes e diferentes estilos de se jogar futebol no nosso redondo planeta.
 
E ainda sendo o mesmo 4-4-2, fora ao longo dos anos ganhando novos formatos e identidades, adquirindo características peculiares a forma de jogar de equipes e suas “nacionalidades”.
 
Tornou-se muito comum em alguns países sul-americanos o 4-4-2 em linha (por vezes com estruturas de marcação individual, por vezes em zona) – anunciado de “boca cheia” pelos nossos especialistas como esquema de “duas linhas de quatro”. Na Inglaterra, foi o 4-4-2 em linha zonal, com uma estrutura bem definida e desenhada, que o fizera famoso no Liverpool, no Arsenal e no Manchester United.
 
E ainda que se diga que o 4-4-2, o 4-3-3 ou qualquer outra plataforma de jogo sejam apenas representações numéricas e fotográficas do jogo, e que portanto nada mais são do que números, é necessário se destacar que pequenas alterações nos formatos dessas plataformas podem possibilitar variadas e dinâmicas alternativas na forma de se jogar.
 

Então o 4-4-2 que pode ter na sua “linha de defensores” uma real disposição de linha, pode também ter um zagueiro mais recuado com relação a linha de jogo dos seus companheiros de defesa. Na “faixa” de meio-campo, que pode ser mesmo uma linha, também podem se apresentar formatos de triângulo, quadrado, losango ou trapézio (também chamado de arco).

Alguns livros e alguns treinadores remetem a idéia de que é necessário, para se formar tal plataforma, jogadores com características específicas. Tal idéia pode facilmente ser contestada e derrubada pelo fato de que a compreensão da lógica do jogo e da dinâmica da plataforma que se escolhe utilizar, transcende a necessidade de jogadores com características específicas (em outras palavras as características dos jogadores devem guiar as dinâmicas do modelo de jogo a partir da lógica do jogo, de acordo com qualquer plataforma escolhida).

 
No Brasil, o 4-4-2 muitas vezes, pela típica marcação individual – com foco no jogador e não na posição da bola – acabou muitas vezes por fazer recuar um jogador de meio-campo (em geral o “volante”) para marcar um dos atacantes adversários, fazendo com que um dos zagueiros pudesse se posicionar como “sobra”.
 
Tornou-se também muito comum o recuo do “volante” diretamente para fazer “a sobra” dos zagueiros (quase como um terceiro zagueiro), e aí o 4-4-2 acabara quase que se configurando em um 3-5-2 (contestado e criticado 3-5-2!). Como nossos “especialistas” têm dificuldade para enxergar essa pequena sutilidade, continuam a criticar o 3-5-2, mas não percebem que o 4-4-2 pode por vezes acabar assumindo características do tal; mas como é 4-4-2, não é criticado e massacrado como “esquema defensivista”.
 
Muito comum em tempos não muito distantes, que no 4-4-2 a “subida” dos laterais fosse sincronizada de forma inversa. Quando o da esquerda subia ao campo de ataque, o da direita permanecia em espera fechando a defesa; quando o da direita subia, o da esquerda se recolhia. E como essa subida sincronizada fora mais um daqueles paradigmas que sobreviveram (ou ainda sobrevivem) muito tempo no futebol; em algum momento também desataram a “cair”. Então hoje é possível notar em alguns jogos a liberação dos dois laterais ao mesmo tempo e a contenção de dois volantes (um para “sobrar” e um para o balanço defensivo).
 
E aqui é bom que se diga que o já outrora criticado Parreira, em 1994 na seleção brasileira, chegou em algumas partidas liberar os dois laterais brasileiros ao mesmo tempo sem necessariamente “prender” os dois “volantes”.
 
Então, em suma, seja qual for a plataforma, mais vale uma dinâmica inteligente que a conduza do que ela mesma, a plataforma em si. Mais vale o entendimento da complexidade do jogo e suas possibilidades do que as “altivas” ponderações dos nossos famosos especialistas esportivos e as suas “tortas” opiniões que formam opinião…
 

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Quer jogar pelo Liverpool?

Quer jogar bola pelo Liverpool?
Envie seu currículo.
 
Vou repetir.
 
Quer jogar bola pelo Liverpool?
Envie seu currículo.
 
Digo, inclusive, pra onde você deve mandar: http://www.parrysongs.co.uk/afcliverpool/players.html.
 
Ok, não é o Liverpool de verdade, pelo menos não aquele que se imagina, como alguém pode eventualmente ter suspeitado. Desculpe pela pergunta tendenciosa. Mas também não é um Liverpool de mentira, mas sim o AFC Liverpool, um clube formado por torcedores que foram ‘priced out’ do Liverpool FC, ou seja, torcedores antigos do famoso time que hoje não conseguem mais ir ao estádio simplesmente porque não tem mais dinheiro pra isso.
 
É um processo similar ao realizado pelo FC United of Manchester, criado por antigos torcedores do Manchester United que ficaram tão desgostosos com o viés absurdamente comercial assumido pelo clube que resolveram fundar a própria agremiação. O FC United é pequeno, mas dá pra ficar em pé no estádio, você consegue conversar com os jogadores, dá pra tomar cerveja e gritar sossegado, além de ser bem mais barato. Na verdade, umas cinco vezes mais barato. Tudo o que um torcedor antigo do futebol inglês quer.
 
A idéia inicial do FC United aparentemente deu certo e agora inspira novos projetos, como o do AFC Liverpool. É conseqüência direta do movimento de pós-comercialização em curso no futebol inglês. Na medida em que você busca novos torcedores, você também deixa obrigatoriamente outros de lado, principalmente aqueles que possuem características bastante opostas ao seu novo público.
 
Curiosamente, a visão desses novos clubes para a melhora do futebol é justamente oposta àquela vigente no Brasil. Por aqui, a idéia é que o futebol é extremamente sub-aproveitado e deve ser mais comercializado e buscar mais dinheiro. Lá, a idéia é que o futebol tem dinheiro demais e se esqueceu dos valores que sempre fizeram parte da sua essência, como a aproximação e a valorização do torcedor e da comunidade.
 
Cada um com a sua idéia, cada um com os seus problemas.
 
E o problema do AFC Liverpool aparentemente é arranjar jogador.
Eu, se fosse você, mandava o currículo. O nível não deve ser dos melhores.

Vai que dá certo?

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Escada para o fracasso

Reconhecido, com méritos, como o clube mais profissional do Brasil, o São Paulo começa a dar mostras de que o sucesso subiu à cabeça. Tal qual um jogador que, após seguidas críticas elogiosas da imprensa resolve achar que está acima do bem e do mal, o Tricolor paulista começa a agir como se, de fato, estivesse num estágio superior a todos os outros clubes.
 
E isso é perceptível no comportamento de seus dirigentes nas declarações para a imprensa. Desde as repatriações de Adriano e Carlos Alberto, em que o clube fez questão de se posicionar como o “salvador de craques adormecidos”, até o último sábado, quando o presidente Juvenal Juvêncio mais do que pisou na bola em entrevista antes do jogo contra a Portuguesa.
 
Juvêncio afirmou que o rival não poderia nunca ser considerado um time grande, já que não tinha grande torcida. Para ele, a Lusa era “um time pequeno”.
 
Juvenal, pegou mal.
 
A Lusa não só ganhou por 2 a 0 como jogou para arrasar o Tricolor. Não tem um time tão bom quanto o do rival, sem dúvida, mas teve o ingrediente que sempre tempera qualquer confronto: a vontade do cala-boca.
 
Para piorar a situação de Juvêncio, sua declaração colocou a própria torcida são-paulina contra o dirigente. Para começar, não existe mais tanta rivalidade contra a Portuguesa quanto no passado. Além disso, o dirigente deu a declaração exatamente num momento tenso do clube, que ainda não se acertou nos campeonatos que disputa, apesar de só ter perdido dois jogos nesta temporada.
 
Não existe clube que saiba tão bem usar a imprensa para comunicar seus feitos como o São Paulo. Mas nos últimos tempos seus dirigentes têm exagerado na certeza de que são melhores do que os outros.
 
Ninguém está livre do erro. Ainda mais quem costuma estar por muito tempo no topo sofre com a pressão dos outros sobre eles. É o caso de Barak Obama nas eleições presidenciais dos Estados Unidos. Tudo corria bem, até ele começar a ganhar muito. Os jornalistas começaram a vasculhar todo seu passado em busca de alguma falha que possa ser explorada.
 
O sucesso muitas vezes causa inveja. Quando as pessoas começam a falar mais do que devem, é sinal de que o sucesso subiu à cabeça. E que o tombo está próximo.
 
O segredo tricolor é trabalhar incessantemente em busca de um objetivo. Este ano, parece que seus dirigentes já estão certos de que o objetivo será alcançado pela superioridade do clube. E é aí que está metade do caminho percorrido para o fracasso.
 

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É possível hoje jogar no 4-3-3? Reflexões sobre os "antigos pós-modernismos"

Ao longo da história do futebol, muitos “modismos” tomaram frente na crença de torcedores e especialistas. Sobre os aspectos táticos do jogo, a imprevisibilidade que lhe é característica associada a inteligência e criatividade humana possibilitou transformações interessantes na forma de se jogar.
Se num primeiro momento a evolução teve, pelo surgimento de novas situações-problema e estratégias de jogo, uma migração continuada de jogadores das linhas mais avançadas para linhas médias do campo (onde a ação especializada característica de uma posição qualquer fora dando lugar a competências mais amplas – exigindo do atleta capacidade para atuar de forma mais “completa”), hoje a evolução tem gerado respostas que seguem outra direção.
Na década de 60 e 70, especialmente no Brasil, causou grande repercussão o fato de equipes que não mais atuavam no conhecido 4-2-4 estarem a levar vantagem nos jogos e competições sobre as equipes que o faziam. A mudança era sutil, mas parecia, se credenciar como grande possibilidade para se jogar futebol. Solidificava-se então o 4-3-3.
Os anos foram se passando e a resposta mais comum para as novas situações que iam surgindo caminhava sempre na mesma direção. Se um dia houve o 1-1-8 e bem mais a frente o 4-2-4, o processo evolutivo (cruel ou não) em sua constante “movimentação” continuava com a migração de jogadores das linhas mais adiantadas para linhas mais “defensivas”. Então, o 1-1-8 que um dia tornou-se 4-2-4, passara pelo 4-3-3, 4-4-2, 3-5-2, 3-6-1, etc e tal e parecia dar sinais claros de que ele, o 1-1-8 corria o risco, de já tão “vivido e transformado” acabar em um 5-5-0 (melhor do que um 8-1-1!?).
Mas as direções mudaram. O que parecia ser uma tendência (receio que ainda pareça) começou a competir com uma sinalização de novas perspectivas.

Pois bem, o 4-3-3, tradicionalmente conhecido por ter em sua composição quatros jogadores na linha defensiva (composta por dois zagueiros e dois laterais), três no meio-campo (com dois meias de marcação e uma mais avançado, ou um meia defensivo e dois mais ofensivos, etc) e três na linha de ataque (com dois rápidos pontas avançados e um atacante centralizado) reapareceu transformado, com ares de inteligência e modernidade.

Ele que ainda hoje é símbolo do futebol holandês, tenha talvez tido na gerência de um português uma das mais estruturadas formas de se jogar (José Mourinho em épocas determinadas no Porto e no Chelsea).
A idéia tradicional do 4-3-3, certamente seria vulnerável e pouco eficaz se fosse inserida nos novos paradigmas que hoje vive o futebol (e sendo vulnerável, remeteria a idéia de que jogar em tal plataforma não seria bom).
Porém, a questão aí não é se ele (o 4-3-3) é ou não bom, eficiente e consistente, mas sim qual a lógica que o conduz dentro de campo. Se a lógica for equivocada, não será a plataforma de jogo a responsável pela derrota ou vitória.

O Barcelona, por exemplo, que hoje tem dificuldades jogando no 4-3-3 também já foi quase imbatível em anos anteriores jogando no mesmo “esquema tático”. Em uma reflexão simplista e ansiosa é possível que, sem pestanejar, atribuamos as dificuldades atuais do Barcelona às mudanças de alguns jogadores em determinadas posições. Isso também é variável interferente, mas não é a única. Fato mesmo é que a “culpa” não é do ex-herói, o 4-3-3.

No caso do Chelsea (nos primórdios da “fase Mourinho”), que apresentava um 4-3-3 diferente do Barcelona, também muitas conquistas (e como a derrota não pode ser atribuída somente e imprudentemente a plataforma de jogo, também não pode e não deve, à vitória).

Tanto Barcelona, quanto Chelsea apresentaram modelos de jogo potencializados pelo moderno 4-3-3 que levavam a campo.
O 4-3-3 é, na perspectiva da estruturação e ocupação do espaço de jogo (vide texto sobre esse tema em colunas anteriores) a plataforma que proporciona, “estaticamente” a melhor distribuição geométrica dos jogadores em campo, e isso é uma grande vantagem. A questão é como dimensionar uma dinâmica de movimentação de jogo que possibilite a potencialização dessa vantagem, no sistema defensivo, ofensivo e de transições, integralmente, sem distinções ou fragmentações.
Obviamente é mais fácil seguir o “ritmo evolutivo” e rechear o meio campo com o maior número de jogadores possível. Então para quê pensar no 4-3-3, se podemos formar um 4-5-1?
O fato é que, quebrando paradigmas e refletindo sobre a lógica do jogo de futebol, nada poderá impedir que essa ou aquela plataforma de jogo torne-se frágil ou ultrapassada.
Se tradicionalmente os atacantes no 4-3-3 tinham que fazer gol e esquecer o jogo defensivo, hoje ganharam novos atributos. Isso não quer dizer que precisem voltar atrás da linha da bola ou acompanhar volantes, zagueiros e/ou alas que partem para o campo de ataque – porque aí também estaríamos reforçando um raciocínio atrasado preso no passado.
Hoje, seja o 4-3-3, o 4-4-2 ou qualquer outra a plataforma que se deseje utilizar é prudente notar que não se pode jogar no século 21 com paradigmas e idéias de jogo do século 20.
Como ainda não inventaram a máquina do tempo (pelo menos ninguém do futuro veio nos avisar e também nenhum homem das cavernas fora trazido para nos contar histórias), talvez o “gosto” de se aprisionar ao passado seja uma forma poética ou filosófica de fazer viagens a tempos de glórias; glórias essas que não voltam pela simples reprodução das “receitas de bolo”.

Porém podemos, no presente, escolher se vamos seguir em frente com mais ou com menos velocidade. Então, se o século 21 é um “tempo” que ainda não chegou para muitos no nosso futebol, “nós outros” devemos mesmo é acelerar. Quem quer ficar para trás, que fique…

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Código de Justiça Desportiva: penas muito severas ou aplicação mal feita?

Caros amigos da Universidade do Futebol,
 
Nessa semana, durante uma entrevista para um colega da mídia carioca, discutimos sobre o caso da final da Taça Guanabara e a possibilidade de serem aplicadas a jogadores e técnico do Botafogo penas muito severas pelo Tribunal de Justiça Desportiva.
 
Por conta da confusão ocorrida no final da partida contra o Flamengo, tais atletas e técnico foram levados a julgamento e poderiam receber suspensões que poderiam chegar a anos de inatividade (caso do técnico Cuca, por exemplo, que havia sido indiciado em três artigos diferentes e a somatória das penas poderia chegar a dois anos de suspensão).
 
A questão é interessante. As penas previstas no Código são muito rigorosas? O Código deveria ser revisto nesse sentido? Em nossa opinião, não.
 
Para que se entenda a dinâmica dos julgamentos, é preciso esclarecer que, caso os auditores do Tribunal entendam que o indivíduo praticou determinada conduta típica (prevista no Código), a correspondente pena lá prevista deve ser aplicada.
 
Portanto, em um primeiro momento, cabe aos auditores analisarem a descrição da conduta contida no Código e verificarem se o que aconteceu de fato corresponde à mesma ação.
 
Em caso afirmativo, o julgadores devem decidir qual pena deve ser aplicada ao agente da conduta típica.
 
Nessa segunda etapa do julgamento, a subjetividade é maior, uma vez que o código estabelece penas mínimas e máximas para cada conduta. Dependendo do nível de gravidade da conduta, e depois de aplicados os devidos atenuantes ou agravantes, o julgador aplica a pena para aquele caso específico.
 
Tudo isso para dizer que o auditor é vinculado ao que dispõe o Código. Não pode ele decidir dar pena menor ou maior do que aquela prevista, por entender que a conduta não foi grave, ou que foi mais grave do que imaginavam aqueles que elaboraram o Código.
 
Dessa forma, discutem alguns que as penas do Código são muito severas, e que o Código deveria ser revisto. Não entendo assim.
 
As penas devem ser mesmo severas para inibir a conduta não desejada por aqueles que atuam no espetáculo do futebol. Reduzir as penas poderia soar como um incentivo para o descumprimento do Código.
 
O centro da questão, na verdade, é a coerência dos julgamentos. É a maneira em que o Código é aplicado. Esse sim é o grande desafiio a ser atingido.
 
Não podemos mais tolerar que julgamentos sejam tendenciosos por conta da relevância das partes envolvidas, ou do certame analizado. O mesmo rigor aplicado a atletas de um time, deve ser imposto a atletas de outro time, ainda que os julgadores sejam outros.
Como vimos, por mais detalhado que seja o Código de Justiça Desportiva, sempre haverá subjetividade dos julgadores nas decisões.
 
Porém, não podemos permitir que essa subjetividade dê margem para os auditores não respeitarem decisões anteriores e não aplicarem o Código de forma uniforme a qualquer pessoa que o discumpra.
 
Nos dias de hoje, não se pode conceber um Tribunal que não tenha a imparcialidade e a independência ao aplicar o Código.
 
Assim, concluo que não temos que gastar nossos esforços para alterar o Código. O que temos que fazer, é fiscalizar os aplicadores do Código para que sejam absolutamente imparciais e coerentes nas decisões.
 
É desta forma que medidas como as conhecidas “viradas de mesa” deixam de existir. E, se alguém praticar uma conduta prevista no código, que pague com o cumprimento da justa pena.
 

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É ruim, mas é bom

Existe uma espécie de ditado no mercado de futebol que diz que quanto mais ódio existe na relação entre dois clubes, melhor. Ou seja, quanto mais um torcedor de um time A odeia o torcedor de um time B, mais possibilidades de exploração mercadológica existem.
 
Natural, afinal o combustível, a essência mais básica do futebol é a rivalidade. Não existe jogo sem combate, não existe vitória sem derrota e não existe redenção sem a vontade de vingança. Quanto mais intensas forem essas características, mais intenso será o jogo e mais intensa será a ligação da torcida com o seu clube. E, obviamente, maior intensidade na relação torcida-clube significa maiores possibilidade de captação financeira dentro desse processo.
 
É claro que para uma observação mercadológica e social esse ódio precisa ser controlado sem que ultrapasse o tênue equilíbrio entre o respeito e a violência. Ódio é bom, violência é péssimo.
 
Bom. Tudo isso foi para falar sobre como as movimentações bélicas deflagradas por Venezuela, Equador e Colômbia podem afetar o futebol. Contemporaneamente, a América do Sul, pelo menos sob a perspectiva brasileira, não é um grande caldeirão de rivalidades pátrias. Obviamente existem discordâncias e afins, mas nada que signifique maiores tradições bélicas, com anos e anos de conquistas de territórios, mortes e coisas parecidas. Só uma guerrinha aqui, outra ali, mas nada que faça com que os habitantes de cada país manifestem seus desgostos em uma partida ou que motive dirigentes a fazerem declarações polêmicas na antecedência de algum confronto.
 
A coisa por aqui sempre foi meio tranqüila, principalmente se compararmos com Europa, Ásia ou, quiçá, África. Pelo menos até agora.
 
Futebol é notoriamente um dos grandes símbolos de uma nação, e isso toma muito corpo nas partidas entre seleções rivais. É, com o perdão do imenso clichê, uma batalha resumida a 90 minutos. E é em parte por isso que as pessoas gostam de futebol, porque ele permite que você xingue alguém sem que isso seja considerado uma ofensa pessoal. É coisa de jogo, é coisa de rivalidade. E, no mundo racional, o futebol possui essa permissividade.
 
É difícil acreditar que vá ocorrer um confronto de maiores proporções, mas certamente esse recente entrevero favorece, e muito, o recém começado campeonato continental. Mas é bom atentar que para o conflito ser benéfico, o ódio controlado é necessário não apenas entre nações, mas também entre cidadãos. Caso o problema seja apenas de ordem institucional, ou seja, caso ele não represente o real sentimento da população como um todo dos países envolvidos, as partidas dificilmente refletirão uma nova situação. Continuará tudo mais ou menos na mesma.
 
Levando-se em conta que o histórico da América Latina mostra que dificilmente uma população de um país é plenamente representada pelo seu governo, é provável que nada vai mudar e que a última hipótese tende a ser a verdadeira.
 

O que é ruim, mas é bom.

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Quem acredita?

Dois meses. Esse foi o tempo que durou a paz de Adriano no São Paulo. Até que foi muito. Afinal, já são alguns jogos que o atacante não marca e também que o time paulista não engrena dentro de campo. Mas, se a imprensa estava até que paciente, bastou o primeiro deslize público para tudo desandar.
 
Desembarcar de viagem sem o uniforme do clube, chegar atrasado ao treino, ter o carro batido por um amigo, sair antes do treinamento após discutir com o superintendente de futebol do São Paulo.
 
De fato foi uma seqüência intensa, no melhor estilo “24 horas”, para um craque que perdeu o pé depois que, pelo visto, perdeu a cabeça pelas farras da vida que fazem parte de quem tem 20 e poucos anos. Mas que não devem, pelo menos publicamente, aparecer no cotidiano de um jogador de futebol. Ainda mais se ele for um atleta de primeira grandeza.
 
Adriano acertou ao trocar a badalada Milão pelo midiático São Paulo. O clima para ele na Itália não estava bom. Já em terras brasileiras ele foi recebido de braços bem abertos, prontos para dar o carinho que um atleta quer ter. Em troca, não se pedia muito. Apenas boas exibições, gols e, de preferência, a conquista de títulos para o campeoníssimo São Paulo.
 
O script era o melhor possível. Faltou ao ator principal ensaiar um pouco melhor a peça.
 
Adriano não está assessorado neste retorno ao país de origem. Não existe um conselheiro amigo, de confiança, preparado para dar o puxão de orelha necessário a quem está próximo de abrir mão de uma das mais promissoras carreiras desde o fenômeno Ronaldo, o Fenômeno.
 
Faltou ao atacante tricolor a ajuda de um assessor para preservar uma imagem já mundialmente desgastada. Se, desde o avião onde supostamente o atleta suou a ponto de ter de trocar de roupa, alguém bem preparado estivesse a seu lado, nenhuma crise teria acontecido.
 
Adriano teria esperado o furacão da mídia passar para então descer. Ou sairia ao lado do técnico Muricy Ramalho, explicando o motivo da troca de roupa ali, na hora, sem dar margem a suposições. Pior ainda foi a revolta no dia seguinte, durante o treino, quando além do atraso foi indagado sobre o acidente envolvendo seu carro, mas não a sua pessoa.
 
Resultado: mais um dia se passou, com a imprensa mundial malhando o imperador, até que viesse uma coletiva de imprensa para Adriano voltar no tempo até dezembro de 2006.
 
Sim, quem estava acompanhando de perto o Campeonato Italiano sabe que Adriano já havia culpado a pressão da imprensa dizendo que ela só existe porque ele é ele, campeão de uma Copa América e de uma Copa das Confederações. E que a resposta viria com os gols e o bom futebol.
 
Roberto Mancini, técnico da Internazionale, agüentou um ano esse papo. Agora, pegou mal ele rebobinar a fita e só apertar a tecla SAP para falar em português. Quem acredita nesse discurso?
 
Pelo visto a tolerância do São Paulo está próxima do fim. E o abandono da gestão da imagem de Adriano leva ao desespero.
 
Alguém realmente acredita que ele possa voltar a ser o Imperador?
 

Talvez, nem ele.

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Proposta obriga estádios a instalar câmeras de vídeo

O Projeto de Lei 2494/07, do deputado Eugênio Rabelo (PP-CE), exige a instalação de câmeras de vigilância em estádios de futebol credenciados para realizar partidas oficiais. As câmeras deverão filmar, de maneira simultânea, todos os locais do estádio onde haja concentração de público.

Pela proposta, os administradores dos estádios terão um ano para se adequarem à norma. O governo federal regulamentará o valor das multas para o descumprimento da lei em 90 dias. Esse valor, de acordo com o projeto, não poderá ser superior a R$ 50 mil.

Eugênio Rabelo argumenta que brigas entre torcedores, invasões de campo e arremesso de objetos no gramado em direção a jogadores e árbitros atrapalham o futebol brasileiro. A dificuldade para identificar os responsáveis, explica o parlamentar, dificulta a punição dos responsáveis. "A experiência tem demonstrado que a medida [a instalação de câmeras] é eficaz na redução da violência nos estádios de futebol", afirma.

Rabelo acredita que, além de resolver o problema, a instalação de câmeras de vigilância evitaria punições injustas aos clubes mandantes das partidas. Isso porque o Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) prevê perdas de mando de campo e multas para casos em que objetos sejam arremessados em campo.

Tramitação
O projeto foi apensado ao PL 451/95, do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), que estabelece regras para prevenção e repressão de violência em estádios de futebol e competições esportivas. Os projetos tramitam em regime de urgência e estão prontos para análise do Plenário.

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