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CAS – Decisão delicada

Caros amigos da Universidade do Futebol,
 
Recentemente a Corte Arbitral do Esporte – CAS, sediada em Lausanne, Suíça, proferiu decisão importante no mundo do futebol e que pode representar um importante precedente para discussões sobre a estabilidade no contrato de trabalho de jogadores profissionais de futebol.
 
Trata-se do Caso Webster vs. Midlothian. O jogador Andy Webster, que atuava no clube escocês Heart of Midlothian, decidiu rescindir antecipadamente o seu contrato de trabalho, infringindo as disposições dos Regulamentos da FIFA que trata sobre a estabilidade contratual mantida entre atleta e clube.
 
O caso foi parar no DRC (órgão interno da FIFA para dirimir conflitos dessa natureza). O DRC impôs penalidade ao atleta, como forma de inibir tal prática, com base, no valor de 625 mil libras esterlinas.
 
O jogador recorreu ao CAS (uma vez que os estatutos da FIFA expressamente elegem aquela Corte para dirimir pendências desportivas que extrapolem as vias administrativas).
 
O CAS veio a reverter a decisão do DRC e determinou a redução da pena para 150 mil libras. Essa pena corresponde exatamente aos valores pendentes de acordo com os termos do contrato de trabalho à época em vigor.
 
Apesar de aparentar uma certa lógica, a decisão do CAS pode representar um grande precedente para que jogadores (e também os clubes) rescindam seus contratos antecipadamente sem que seja respeitada a “estabilidade contratual”, que tanto preocupa a FIFA.
 
De fato, a estabilidade contratual é uma discussão de longa data, e que foi implementada justamente (e principalmente) para proteger o jogador contra clubes que simplesmente abandonavam atletas no curso de seus contratos caso o sucesso esperado não fosse alcançado.
 
A decisão alcançada por Andy Webster pode ser bastante positiva para ele em um primeiro momento (afinal, correspondeu a uma economia de quase 500 mil libras). Porém, ela poderá representar um “tiro no pé” de toda a classe de jogadores, que possivelmente perderão a tranqüilidade que hoje possuem durante a vigência de seus contratos.
 
Isso me faz lembrar a famosa jurisprudência de casos no Brasil relativos à Justiça do Trabalho. Determinados atletas conseguiram na Justiça a liberação de seus clubes que não pagavam em dia os direitos relativos ao direito de imagem (por equipararem tal direito ao salário).
 
Ocorre que, por conta dessa aparente vitória dos jogadores, toda a classe passou a carregar consigo um enorme passivo previdenciário referente aos valores recebidos pela cessão do uso de suas imagens aos clubes.
 
Em suma, entendemos que os atletas devem buscar seus direitos, como fez Andy Webster e tantos outros. Porém, isso deve ser feito com cautela e visão, para que “o feitiço não volte contra o feiticeiro”.
 

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Dilema

Reparou que o Brasil anda jogando muito, muito, muito na Inglaterra? Claro que reparou. Todo mundo reparou. Afinal, a seleção joga muito, muito, muito na Inglaterra. Depois da Copa do Mundo de 2006, foram cinco jogos no país da rainha e mais um jogo na vizinha Irlanda. O que é bastante coisa.
 
Muita gente acaba reclamando, o que é perfeitamente compreensível. Afinal, se a seleção é brasileira, por que diabos ela não joga no Brasil?
 
Isso tem, pelo menos, umas três razões de ser:
 
Razão número um: a seleção brasileira é provavelmente o time com maior valor de mercado do planeta e todo lugar quer hospedar um jogo que envolva o selecionado nacional.
 
Razão número dois: a Inglaterra é o país que mais gasta com futebol, principalmente com ingressos. Portanto, qualquer jogo que envolva grandes marcas de futebol tende a trazer bastante público e apresentar bons resultados para a empresa que eventualmente organiza e promove determinada partida. Como era uma data Fifa e não tinha outros jogos para assistir, por que não ir a um jogo da seleção brasileira? O que mais você tem pra fazer numa quarta-feira a noite em Londres no frio? Tem cerveja no estádio? Pronto.
 
Razão número três: todo mundo tem falado da Espanha ultimamente, mas o fervo dos brasileiros é Londres mesmo. Tem brasileiro saindo pelo ladrão. Chega a impressionar. E brasileiro com dinheiro, diga-se. Quer dizer, ganhando em libra, pelo menos, o que já é um bom começo. Se bem que quem ganha em libra também gasta em libra, mas aí já é outra história.
 
No final das contas, fazer um jogo do Brasil na Inglaterra faz perfeito sentido econômico. Além disso, fica perto da Suécia e dos países em que a maioria dos jogadores da seleção reside. Tudo bem que fica longe dos torcedores nativos, mas também ninguém manda ter a seleção mais vitoriosa da história.
 
O que um cidadão brasileiro prefere: ver a seleção no estádio ou ver a seleção no estádio perto da sua casa?
 
Acho que todos sabemos muito, muito, muito bem a resposta.
 

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A mídia quer manter a história

“A mídia faz as pessoas se importarem, porque repete, repete, repete e repete a história. Fica batendo até a morte. A mídia quer manter a história”.
 
A frase acima é de Gay Talese, um dos maiores jornalistas da história dos Estados Unidos e do mundo. Nesta segunda-feira, Talese fala no jornal “Folha de São Paulo” sobre o escândalo sexual que derrubou o governador de Nova York. Ferrenho defensor do fim dos bordéis e das casas de prostituição, Eliot Spitzer foi desmascarado pela mídia e revelou-se um freqüentador assíduo de uma casa de prostituição comandada por uma brasileira.
 
Talese analisa, entre outras coisas, o comportamento da mídia em relação ao que era feito há 20 anos. Segundo ele, muita coisa mudou na imprensa. A começar pela noção do que é notícia. Quando questionado sobre o que via de notícia no caso de Spitzer, e se ele daria essa notícia, o jornalista saiu-se com essa.
 
“Não vou dizer que não publicaria, porque, se alguém mais publicar, você tem que publicar. Você não pode fingir que não viu, porque todo mundo sabe sobre isso, está na televisão, nos websites. Se você está no negócio de publicar jornais, tem que publicar o que é considerado notícia. É que hoje em dia tudo é notícia, o que não acontecia 30 anos atrás. É bom ou ruim? Eu não sei. O que acontece é que pelo menos força as pessoas a viverem em coerência com o que dizem”.
 
E o que isso tem a ver com o futebol?
 
Nada. E tudo. Assim como na vida dos políticos, o futebol é esmiuçado até o último final de cabelo pela mídia. O jogador foi ao banheiro, ele foi visto em suas férias numa clínica de repouso, ele foi visto fugindo da concentração, ele tossiu na cara do outro jogador com quem está brigado…
 
O futebol é hoje uma espécie de “Big Brother”. Não o personagem do livro “1984”, de George Orwell, mas o programa de TV. Todos querem dizer o que acontece com quem está envolvido no futebol. Ainda mais se esse alguém é conhecido do público em geral. O sucesso atrai, invariavelmente, a atenção e a overdose de cobertura da mídia.
 
Spitzer caiu nos Estados Unidos por pregar uma coisa e fazer outra na prática. No futebol, muitas vezes assistimos a carreiras destruídas exatamente por isso. A vida particular do atleta, teoricamente, não diz respeito a ninguém. Obviamente que lhe é permitido sair à noite, beber de vez em quando, sair com mulheres, homens e afins. O que não pode é o atleta ter seu rendimento em campo influenciado por causa do que é feito extra-campo.
 
É nesse momento que a mídia cairá matando, que fará de tudo para desmascarar aquele que não cumpre com o dever do bom ofício. Até lá, o atleta pode levar uma vida comum. Mas, se não o fizer, cairá no que prega Talese no início deste texto. A mídia bate na história até as pessoas se importarem com aquilo. E quando isso acontece, o caminho é irreversível.
 

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O 3-5-2: defensivo ou ofensivo?

Ainda que se resista em admitir, o 3-5-2 é hoje uma plataforma tática que permite dinâmicas de jogo bastante ofensivas. Muitos insistem em enxergá-lo como o “esquema dos três zagueiros” (e para quem tem dificuldades em entender ou admitir a complexidade como conceito, uma equipe que tem três zagueiros é mais “defensiva” do que uma com dois).
 
Apesar de óbvio para muitos treinadores em todo o mundo que o argumento não é verdadeiro, a ofensividade ou não de uma equipe é muitas vezes dada pela distribuição numérica didática dos jogadores em campo (a plataforma de jogo). Pouquíssimas vezes é levado em conta, dentre outras coisas, o número de jogadores com que uma equipe ataca quando está construindo suas ações ofensivas (ou ainda quantos jogadores ficam à frente da linha da bola em uma situação de ataque). É possível, por exemplo, uma equipe que joga no 4-3-3 (saudada pela “imprensa especializada” como ofensiva por levar a campo três atacantes) atacar efetivamente com quatro ou cinco jogadores e outra no 3-6-1 ter sempre sete jogadores participando diretamente das ações ofensivas.
 
Então, não se pode dar crédito a argumentação de que uma plataforma de jogo, que na estrutura da equipe contempla três zagueiros, é necessariamente “defensiva”. Mas como nem toda informação chega onde tem de chegar (difícil acreditar, em um mundo globalizado, que a informação tenha dificuldade de chegar a algum lugar), a ignorância gera “burrice” e a “burrice”, mais “burrice” – e no final solidificam-se os preconceitos e os mitos.
 
Talvez sejam os preconceitos e os mitos os grandes “dificultadores” do “enraizamento” do 3-5-2 em culturas futebolísticas, como por exemplo, as que estão presentes no Brasil (o país do 4-4-2).
 
Em sua proposta inicial, o 3-5-2 trazia como elemento inovador duas possibilidades que logo chamaram a atenção das equipes em alguns países europeus:
 
1 – ter cinco jogadores com características de meias na estrutura da equipe, podendo construir ou destruir jogadas;
2 – ter um jogador que pudesse “sobrar” aos zagueiros, prevenindo possíveis falhas do sistema defensivo.
 
Em sua formação básica, a idéia era possibilitar mais jogadores participando da criação das jogadas de ataque sem prejuízo para o sistema defensivo (e sem a necessidade de congestionar o meio-campo de jogo com um sem número de “volantes”). Logo, os alas ganharam vez em lugar dos originais meias e o 3-5-2 passou a ser um sistema com grande equilíbrio defensivo mesmo quando na sua formação encontrava-se apenas um “volante” (ao mesmo tempo em que garantia boas possibilidades ofensivas com a progressão simultânea dos dois alas e dos dois meias-armadores).
 
Hoje, para os adeptos da marcação individual, o 3-5-2 tem sido alternativa quase que constante no futebol que antes o rejeitava (o futebol brasileiro). Para os países que evoluíram da marcação individual para a zona ele tem perdido seu espaço (especialmente nos países em que a lógica norteadora para a marcação zonal está nas “linhas” horizontais imaginárias do campo de jogo).
 
Naqueles em que a lógica é dada pelas “faixas” verticais imaginárias do campo, ele ainda continua sendo alternativa.


O alto nível competitivo presente no futebol mundial requer cada vez mais equilíbrio defensivo e ofensivo, velocidade, e atenção especial as transições constantes presentes no jogo. Especialistas ainda hoje divergem quando a questão é a plataforma de jogo que garante a equipe cada um dos requisitos condizentes ao bom e competitivo futebol mundial.
 
Enquanto ainda para alguns o 4-3-3, o 4-4-2, o 3-5-2 ou qualquer outra representação numérica nada mais é do que isso (uma representação numérica didática estática), para outros é o “esqueleto” que gera maiores ou menores possibilidades de ações tático-estratégicas em um jogo. Enquanto para alguns as “linhas” nada mais são do que as marcas brancas que delimitam o campo de jogo, e as faixas nada mais do que projeções de uma mente sem nada mais para fazer, para outros são a possibilidade de mais uma vitória. Enquanto para alguns marcar individualmente ou em zona é uma questão de gosto, para outros é um norte balizador das ações no jogo.
 
E por fim, enquanto para os desavisados, ter quatro equipes inglesas entre as oito classificadas para as quartas-de-final da Champions League 07/08 é algum tipo de coincidência, para outros a explicação é a real aplicação de conceitos e princípios inerentes à lógica do jogo de futebol.
 
Você acredita em coincidências?

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Aqui, lá e ali

Semana passada eu disse que se você quisesse jogar bola na Inglaterra, que procurasse o Liverpool. Agora, continuando o meu grande serviço público de aberturas de mercado do futebol, sugiro – mais ainda do que a Inglaterra -, que você procure outro país parecido, mas com uma moeda um pouco mais fraca. Quer dizer, cada vez mais fraca. Estados Unidos, ei-los.
 
Os Estados Unidos, como qualquer país desenvolvido, sofrem um problema de escassez de talento para esportes, em especial o futebol. Países com maiores desigualdades sociais revelam mais talentos. Países mais iguais, menos. Não obstante, o futebol por aquelas bandas anda crescendo, e bastante. Para se ter uma idéia, a MLS, principal liga de futebol do país, aumentará o número de equipes para 15 em 2009 e 16 em 2010.
 
Entretanto, tamanho crescimento de clubes não corresponde ao crescimento do número de revelação de jogadores. Com isso, a liga acumula um óbvio déficit de trabalhadores e precisa importar talento de outros países. E é aí que surge a oportunidade para o Brasil, e talvez para você, uma vez que aqui continua sendo a grande região fornecedora de talento do futebol mundial. Relação pura e simples de oferta e demanda.
 
A premissa é mais ou menos a que vale para o mundo todo. Na medida em que os mercados vão abrindo mais jogadores vão sendo exportados, uma vez que não se produz jogador de futebol profissional do dia para a noite. E talvez seja essa expansão mundial do futebol que seja a mais importante razão para a crescente exportação de jogadores brasileiros. Não a Lei Pelé e nem nada do tipo. A razão é pura e simples de mercado. Quem precisa, compra. Quem não precisa tanto, vende.

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Vivendo e aprendendo a jogar

Um dos pontos-chaves para a profissionalização da economia brasileira foi o irreversível processo, no final dos anos 80, de preparação dos executivos das empresas para falar em público. Com a Nova Constituição em 1988 e, posteriormente, com a promulgação do Código de Defesa do Consumidor, os executivos das companhias tornaram-se uma espécie de embaixador daquela empresa, um porta-voz que representa o pensamento e a maneira de atuação dela.
 
Foi nesse momento que proliferaram pelo país o uso do midia training por parte das assessorias de imprensa das empresas. Aliás, o primeiro passo dessa revolução foi a necessidade que as empresas viram em ter assessorias. O segundo foi o treinamento desses executivos.
 
A partir desse momento o jornalista de economia passou a ter muito mais dificuldade para conseguir uma falha na entrevista do executivo. Os principais planos estratégicos continuaram a ser guardados até o momento certo de ser anunciado. A pergunta para derrubar o entrevistado deixou de ser tão surpreendente.
 
O futebol brasileiro vive hoje uma era parecida com a que a economia nacional atravessava há questão de 20 anos. O Estatuto do Torcedor se tornou uma espécie de Código de Defesa do Consumidor do futebol. E deu muito mais responsabilidade ao dirigente esportivo. Hoje ele não pode falar qualquer bobagem que nada lhe acontece.
 
Só que, por incrível que pareça, bobagens são ditas a cada jogo. Culpar árbitros, tachar jogadores de incompetentes, esbravejar contra o comando da bola. A cada dia que passa, ou a cada derrota que se acumula, observamos pretensos dirigentes profissionais encontrarem no outro a razão para o seu fracasso.
 
Obviamente que a era paleozóica continua a ditar o ritmo do futebol. Assessoria de imprensa ainda é um tabu, o que dirá do treinamento aos profissionais encarregados de falar a público dentro desse clube. Para o clube, investimento continua a ser contratação de atletas e comissão técnica.
 
Pelo menos já evoluímos uma etapa. Falta agora percorrer o longo caminho da profissionalização da comunicação do clube. E isso não significa apenas oferecer café e bolacha aos jornalistas durante os treinos, além de um resumo informativo nos dias de jogos com estatísticas do time e atletas.
 
Enquanto esse dia não chega, uma solução é colocar mais MPB nos rádios dos dirigentes. Quem sabe, ao som de Elis Regina, eles aprendem a jogar. “Nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar”…
 

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O 4-4-2. Do senso comum aos conceitos comuns

Quatro jogadores de defesa, quatro jogadores de meio-campo e dois atacantes. É assim que Jens Bangsbo e Birger Peitersen iniciam suas ponderações sobre o 4-4-2 no livro que escreveram no ano 2000 (“Soccer Systems e Strategies”). Ainda que não seja necessário ser especialista sobre o assunto para descrever didaticamente a estrutura desta plataforma de jogo, saliento que a partir dela é possível fazer uma boa discussão em torno do 4-4-2.
 
Muito conhecido de nós brasileiros, aprofundado e defendido por Parreira como parte importante da cultura tática do futebol no Brasil, o 4-4-2 tornou-se muito comum em diversos países dos diferentes continentes e diferentes estilos de se jogar futebol no nosso redondo planeta.
 
E ainda sendo o mesmo 4-4-2, fora ao longo dos anos ganhando novos formatos e identidades, adquirindo características peculiares a forma de jogar de equipes e suas “nacionalidades”.
 
Tornou-se muito comum em alguns países sul-americanos o 4-4-2 em linha (por vezes com estruturas de marcação individual, por vezes em zona) – anunciado de “boca cheia” pelos nossos especialistas como esquema de “duas linhas de quatro”. Na Inglaterra, foi o 4-4-2 em linha zonal, com uma estrutura bem definida e desenhada, que o fizera famoso no Liverpool, no Arsenal e no Manchester United.
 
E ainda que se diga que o 4-4-2, o 4-3-3 ou qualquer outra plataforma de jogo sejam apenas representações numéricas e fotográficas do jogo, e que portanto nada mais são do que números, é necessário se destacar que pequenas alterações nos formatos dessas plataformas podem possibilitar variadas e dinâmicas alternativas na forma de se jogar.
 

Então o 4-4-2 que pode ter na sua “linha de defensores” uma real disposição de linha, pode também ter um zagueiro mais recuado com relação a linha de jogo dos seus companheiros de defesa. Na “faixa” de meio-campo, que pode ser mesmo uma linha, também podem se apresentar formatos de triângulo, quadrado, losango ou trapézio (também chamado de arco).

Alguns livros e alguns treinadores remetem a idéia de que é necessário, para se formar tal plataforma, jogadores com características específicas. Tal idéia pode facilmente ser contestada e derrubada pelo fato de que a compreensão da lógica do jogo e da dinâmica da plataforma que se escolhe utilizar, transcende a necessidade de jogadores com características específicas (em outras palavras as características dos jogadores devem guiar as dinâmicas do modelo de jogo a partir da lógica do jogo, de acordo com qualquer plataforma escolhida).

 
No Brasil, o 4-4-2 muitas vezes, pela típica marcação individual – com foco no jogador e não na posição da bola – acabou muitas vezes por fazer recuar um jogador de meio-campo (em geral o “volante”) para marcar um dos atacantes adversários, fazendo com que um dos zagueiros pudesse se posicionar como “sobra”.
 
Tornou-se também muito comum o recuo do “volante” diretamente para fazer “a sobra” dos zagueiros (quase como um terceiro zagueiro), e aí o 4-4-2 acabara quase que se configurando em um 3-5-2 (contestado e criticado 3-5-2!). Como nossos “especialistas” têm dificuldade para enxergar essa pequena sutilidade, continuam a criticar o 3-5-2, mas não percebem que o 4-4-2 pode por vezes acabar assumindo características do tal; mas como é 4-4-2, não é criticado e massacrado como “esquema defensivista”.
 
Muito comum em tempos não muito distantes, que no 4-4-2 a “subida” dos laterais fosse sincronizada de forma inversa. Quando o da esquerda subia ao campo de ataque, o da direita permanecia em espera fechando a defesa; quando o da direita subia, o da esquerda se recolhia. E como essa subida sincronizada fora mais um daqueles paradigmas que sobreviveram (ou ainda sobrevivem) muito tempo no futebol; em algum momento também desataram a “cair”. Então hoje é possível notar em alguns jogos a liberação dos dois laterais ao mesmo tempo e a contenção de dois volantes (um para “sobrar” e um para o balanço defensivo).
 
E aqui é bom que se diga que o já outrora criticado Parreira, em 1994 na seleção brasileira, chegou em algumas partidas liberar os dois laterais brasileiros ao mesmo tempo sem necessariamente “prender” os dois “volantes”.
 
Então, em suma, seja qual for a plataforma, mais vale uma dinâmica inteligente que a conduza do que ela mesma, a plataforma em si. Mais vale o entendimento da complexidade do jogo e suas possibilidades do que as “altivas” ponderações dos nossos famosos especialistas esportivos e as suas “tortas” opiniões que formam opinião…
 

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Quer jogar pelo Liverpool?

Quer jogar bola pelo Liverpool?
Envie seu currículo.
 
Vou repetir.
 
Quer jogar bola pelo Liverpool?
Envie seu currículo.
 
Digo, inclusive, pra onde você deve mandar: http://www.parrysongs.co.uk/afcliverpool/players.html.
 
Ok, não é o Liverpool de verdade, pelo menos não aquele que se imagina, como alguém pode eventualmente ter suspeitado. Desculpe pela pergunta tendenciosa. Mas também não é um Liverpool de mentira, mas sim o AFC Liverpool, um clube formado por torcedores que foram ‘priced out’ do Liverpool FC, ou seja, torcedores antigos do famoso time que hoje não conseguem mais ir ao estádio simplesmente porque não tem mais dinheiro pra isso.
 
É um processo similar ao realizado pelo FC United of Manchester, criado por antigos torcedores do Manchester United que ficaram tão desgostosos com o viés absurdamente comercial assumido pelo clube que resolveram fundar a própria agremiação. O FC United é pequeno, mas dá pra ficar em pé no estádio, você consegue conversar com os jogadores, dá pra tomar cerveja e gritar sossegado, além de ser bem mais barato. Na verdade, umas cinco vezes mais barato. Tudo o que um torcedor antigo do futebol inglês quer.
 
A idéia inicial do FC United aparentemente deu certo e agora inspira novos projetos, como o do AFC Liverpool. É conseqüência direta do movimento de pós-comercialização em curso no futebol inglês. Na medida em que você busca novos torcedores, você também deixa obrigatoriamente outros de lado, principalmente aqueles que possuem características bastante opostas ao seu novo público.
 
Curiosamente, a visão desses novos clubes para a melhora do futebol é justamente oposta àquela vigente no Brasil. Por aqui, a idéia é que o futebol é extremamente sub-aproveitado e deve ser mais comercializado e buscar mais dinheiro. Lá, a idéia é que o futebol tem dinheiro demais e se esqueceu dos valores que sempre fizeram parte da sua essência, como a aproximação e a valorização do torcedor e da comunidade.
 
Cada um com a sua idéia, cada um com os seus problemas.
 
E o problema do AFC Liverpool aparentemente é arranjar jogador.
Eu, se fosse você, mandava o currículo. O nível não deve ser dos melhores.

Vai que dá certo?

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Escada para o fracasso

Reconhecido, com méritos, como o clube mais profissional do Brasil, o São Paulo começa a dar mostras de que o sucesso subiu à cabeça. Tal qual um jogador que, após seguidas críticas elogiosas da imprensa resolve achar que está acima do bem e do mal, o Tricolor paulista começa a agir como se, de fato, estivesse num estágio superior a todos os outros clubes.
 
E isso é perceptível no comportamento de seus dirigentes nas declarações para a imprensa. Desde as repatriações de Adriano e Carlos Alberto, em que o clube fez questão de se posicionar como o “salvador de craques adormecidos”, até o último sábado, quando o presidente Juvenal Juvêncio mais do que pisou na bola em entrevista antes do jogo contra a Portuguesa.
 
Juvêncio afirmou que o rival não poderia nunca ser considerado um time grande, já que não tinha grande torcida. Para ele, a Lusa era “um time pequeno”.
 
Juvenal, pegou mal.
 
A Lusa não só ganhou por 2 a 0 como jogou para arrasar o Tricolor. Não tem um time tão bom quanto o do rival, sem dúvida, mas teve o ingrediente que sempre tempera qualquer confronto: a vontade do cala-boca.
 
Para piorar a situação de Juvêncio, sua declaração colocou a própria torcida são-paulina contra o dirigente. Para começar, não existe mais tanta rivalidade contra a Portuguesa quanto no passado. Além disso, o dirigente deu a declaração exatamente num momento tenso do clube, que ainda não se acertou nos campeonatos que disputa, apesar de só ter perdido dois jogos nesta temporada.
 
Não existe clube que saiba tão bem usar a imprensa para comunicar seus feitos como o São Paulo. Mas nos últimos tempos seus dirigentes têm exagerado na certeza de que são melhores do que os outros.
 
Ninguém está livre do erro. Ainda mais quem costuma estar por muito tempo no topo sofre com a pressão dos outros sobre eles. É o caso de Barak Obama nas eleições presidenciais dos Estados Unidos. Tudo corria bem, até ele começar a ganhar muito. Os jornalistas começaram a vasculhar todo seu passado em busca de alguma falha que possa ser explorada.
 
O sucesso muitas vezes causa inveja. Quando as pessoas começam a falar mais do que devem, é sinal de que o sucesso subiu à cabeça. E que o tombo está próximo.
 
O segredo tricolor é trabalhar incessantemente em busca de um objetivo. Este ano, parece que seus dirigentes já estão certos de que o objetivo será alcançado pela superioridade do clube. E é aí que está metade do caminho percorrido para o fracasso.
 

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É possível hoje jogar no 4-3-3? Reflexões sobre os "antigos pós-modernismos"

Ao longo da história do futebol, muitos “modismos” tomaram frente na crença de torcedores e especialistas. Sobre os aspectos táticos do jogo, a imprevisibilidade que lhe é característica associada a inteligência e criatividade humana possibilitou transformações interessantes na forma de se jogar.
Se num primeiro momento a evolução teve, pelo surgimento de novas situações-problema e estratégias de jogo, uma migração continuada de jogadores das linhas mais avançadas para linhas médias do campo (onde a ação especializada característica de uma posição qualquer fora dando lugar a competências mais amplas – exigindo do atleta capacidade para atuar de forma mais “completa”), hoje a evolução tem gerado respostas que seguem outra direção.
Na década de 60 e 70, especialmente no Brasil, causou grande repercussão o fato de equipes que não mais atuavam no conhecido 4-2-4 estarem a levar vantagem nos jogos e competições sobre as equipes que o faziam. A mudança era sutil, mas parecia, se credenciar como grande possibilidade para se jogar futebol. Solidificava-se então o 4-3-3.
Os anos foram se passando e a resposta mais comum para as novas situações que iam surgindo caminhava sempre na mesma direção. Se um dia houve o 1-1-8 e bem mais a frente o 4-2-4, o processo evolutivo (cruel ou não) em sua constante “movimentação” continuava com a migração de jogadores das linhas mais adiantadas para linhas mais “defensivas”. Então, o 1-1-8 que um dia tornou-se 4-2-4, passara pelo 4-3-3, 4-4-2, 3-5-2, 3-6-1, etc e tal e parecia dar sinais claros de que ele, o 1-1-8 corria o risco, de já tão “vivido e transformado” acabar em um 5-5-0 (melhor do que um 8-1-1!?).
Mas as direções mudaram. O que parecia ser uma tendência (receio que ainda pareça) começou a competir com uma sinalização de novas perspectivas.

Pois bem, o 4-3-3, tradicionalmente conhecido por ter em sua composição quatros jogadores na linha defensiva (composta por dois zagueiros e dois laterais), três no meio-campo (com dois meias de marcação e uma mais avançado, ou um meia defensivo e dois mais ofensivos, etc) e três na linha de ataque (com dois rápidos pontas avançados e um atacante centralizado) reapareceu transformado, com ares de inteligência e modernidade.

Ele que ainda hoje é símbolo do futebol holandês, tenha talvez tido na gerência de um português uma das mais estruturadas formas de se jogar (José Mourinho em épocas determinadas no Porto e no Chelsea).
A idéia tradicional do 4-3-3, certamente seria vulnerável e pouco eficaz se fosse inserida nos novos paradigmas que hoje vive o futebol (e sendo vulnerável, remeteria a idéia de que jogar em tal plataforma não seria bom).
Porém, a questão aí não é se ele (o 4-3-3) é ou não bom, eficiente e consistente, mas sim qual a lógica que o conduz dentro de campo. Se a lógica for equivocada, não será a plataforma de jogo a responsável pela derrota ou vitória.

O Barcelona, por exemplo, que hoje tem dificuldades jogando no 4-3-3 também já foi quase imbatível em anos anteriores jogando no mesmo “esquema tático”. Em uma reflexão simplista e ansiosa é possível que, sem pestanejar, atribuamos as dificuldades atuais do Barcelona às mudanças de alguns jogadores em determinadas posições. Isso também é variável interferente, mas não é a única. Fato mesmo é que a “culpa” não é do ex-herói, o 4-3-3.

No caso do Chelsea (nos primórdios da “fase Mourinho”), que apresentava um 4-3-3 diferente do Barcelona, também muitas conquistas (e como a derrota não pode ser atribuída somente e imprudentemente a plataforma de jogo, também não pode e não deve, à vitória).

Tanto Barcelona, quanto Chelsea apresentaram modelos de jogo potencializados pelo moderno 4-3-3 que levavam a campo.
O 4-3-3 é, na perspectiva da estruturação e ocupação do espaço de jogo (vide texto sobre esse tema em colunas anteriores) a plataforma que proporciona, “estaticamente” a melhor distribuição geométrica dos jogadores em campo, e isso é uma grande vantagem. A questão é como dimensionar uma dinâmica de movimentação de jogo que possibilite a potencialização dessa vantagem, no sistema defensivo, ofensivo e de transições, integralmente, sem distinções ou fragmentações.
Obviamente é mais fácil seguir o “ritmo evolutivo” e rechear o meio campo com o maior número de jogadores possível. Então para quê pensar no 4-3-3, se podemos formar um 4-5-1?
O fato é que, quebrando paradigmas e refletindo sobre a lógica do jogo de futebol, nada poderá impedir que essa ou aquela plataforma de jogo torne-se frágil ou ultrapassada.
Se tradicionalmente os atacantes no 4-3-3 tinham que fazer gol e esquecer o jogo defensivo, hoje ganharam novos atributos. Isso não quer dizer que precisem voltar atrás da linha da bola ou acompanhar volantes, zagueiros e/ou alas que partem para o campo de ataque – porque aí também estaríamos reforçando um raciocínio atrasado preso no passado.
Hoje, seja o 4-3-3, o 4-4-2 ou qualquer outra a plataforma que se deseje utilizar é prudente notar que não se pode jogar no século 21 com paradigmas e idéias de jogo do século 20.
Como ainda não inventaram a máquina do tempo (pelo menos ninguém do futuro veio nos avisar e também nenhum homem das cavernas fora trazido para nos contar histórias), talvez o “gosto” de se aprisionar ao passado seja uma forma poética ou filosófica de fazer viagens a tempos de glórias; glórias essas que não voltam pela simples reprodução das “receitas de bolo”.

Porém podemos, no presente, escolher se vamos seguir em frente com mais ou com menos velocidade. Então, se o século 21 é um “tempo” que ainda não chegou para muitos no nosso futebol, “nós outros” devemos mesmo é acelerar. Quem quer ficar para trás, que fique…

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