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Futebol, valores e racismo

É comum o futebol ser entendido como um fenômeno que favorece o processo educacional, cultural e de conquista da saúde de um povo. Contrapondo a este entendimento podemos observar também que ele pode ser expressão de todas as mazelas presentes na sociedade.

 

Este esporte pode ser privilegiado instrumento de educação, mas pode ser também exemplo de mau comportamento. Pode ser expressão de cultura, como pode ser a mais clara representação de violência, agressividade e egoísmo. Pode significar caminho à saúde, como também uma forma de utilização de drogas em busca indiscriminada da alta performance.

 

O esporte, e em particular o futebol, não é bom nem ruim, por si só. Ele apenas representa aquilo que somos com nossas virtudes e defeitos.

 

Recentemente vimos manifestações que comprovam este paradoxo representado pelo futebol. O racismo é um exemplo bem acabado disso.

 

Seja no Brasil, na Arábia Saudita, ou em países considerados mais desenvolvidos como Espanha, Alemanha e Itália as manifestações racistas são observadas com bastante freqüência, mesmo em pleno século 21.

 

Tais fatos, indiscutivelmente intoleráveis, sempre que visiveis, são denunciados pela imprensa, pelo menos nos países mais livres, e provocam reações que permitem reflexões, muitas vezes, bastante instrutivas.

 

Por outro lado, entretanto, na maioria das vezes estas manifestações racistas são expressas em círculos tão fechados e restritos que não possibilitam o debate, a crítica e o repúdio no sentido de sua superação.

 

Fica apenas aquele sentimento de impotência e até de certa conivência na medida em que entendemos algumas dessas colocações e atitudes como simples brincadeiras inofensivas e que não devem ser levadas muito a sério.

 

E uma vez que tais fatos não sejam capazes de provocar indignação, com certeza também não provocarão qualquer modificação neste estado de coisas. 

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As estatísticas e o futebol

A estatística é uma ciência que muito tem contribuído para o desenvolvimento humano. No sentido de que ela pode ser tudo aquilo que conseguimos extrair dos dados, transformando-os em informações e conhecimentos, é inegável sua importância para o progresso de diferentes áreas do saber.

 

Há, entretanto, aqueles que contestam radicalmente as estatísticas. Aaron Levenstein, por exemplo, diz que elas são iguais a biquínis porque o que revelam é sugestivo, mas infelizmente escondem o essencial. Alguém disse também que há três espécies de mentiras: mentiras, mentiras deslavadas e estatísticas.

 

Sem querer desprezar o seu valor, penso que o mais sensato é manter-se uma visão crítica sobre o seu papel, caso contrário corremos o risco de, ao invés de revelar, escondermos a realidade das coisas e dos fatos, através dela.

 

Podemos encontrar provas de como a estatística pode falsear a realidade em qualquer campo do conhecimento, mas vamos ficar aqui no exemplo do futebol que é o nosso campo de reflexão e atuação.

 

Todos que acompanham com certa atenção o futebol sabem que alguns dados estatísticos costumam balizar as análises de jornalistas e profissionais que têm a tarefa de interpretar uma partida.

 

Porcentagem na posse de bola, número de chutes a gol, passes certos e errados, são alguns dos dados utilizados para justificar a superioridade de uma equipe sobre a outra.

 

Quando os dados, aparentemente frios e isentos, coincidem com o resultado final da partida, a estatística é a prova mais cabal da importância decisiva dos números apresentados.

 

Mas quantas vezes constatamos que uma equipe teve mais posse de bola, chutou a gol muito mais vezes do que o adversário, teve um número superior de acertos e menor de erros nos passes e, contudo, foi derrotada em campo?

 

Diriam alguns, contrapondo o argumento da fragilidade das estatísticas, que os exemplos citados se tratam de exceções. Penso que cabe aqui uma análise mais quantitativa dos números.

 

Concentremo-nos na questão dos passes certos e errados numa partida de futebol. É muito comum os analistas destacarem os jogadores com altos índices de acertos nos passes, sem levar em conta as circunstâncias e situações de jogo. Uma coisa é um jogador acertar 95% dos passes, muitas vezes passes laterais e curtos, mas que em dois errados pode ser o causador direto da derrota de sua equipe.

 

Outra bem diferente é o atleta que acerta apenas cerca de 70% dos passes, mas que numa função de criação, de construção de situações ofensivas, pode propiciar a marcação de vários gols e decidir a partida em favor de sua equipe. 

 

Façam o teste. É quase matemático. Basta analisar os números e constatar: os jogadores mais criativos são exatamente aqueles que erram mais. Paradoxal mas verdadeiro. 

 

Não seria hora de revisarmos nossos conceitos sobre as estatísticas?

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O profissionalismo e a velocidade das mudanças no futebol

A velocidade com que as informações e o conhecimento circulam à nossa frente está cada vez maior.  Pensando nisso, e fazendo um exercício de futurologia, é bem provável que nas copas de 2020 ou 2024 a maior parte das coisas que sabemos hoje sobre futebol estará obsoleta. 

 

Fico imaginando que tipo de profissional teremos no mercado de trabalho daqui a 15 ou 20 anos. Teremos a capacidade de acompanhar esta velocidade sempre crescente e que ultimamente atinge níveis vertiginosos?

 

Vejam, por exemplo, o desafio que é fazer-se uma consulta ou pesquisa na internet. Teoricamente, através deste recurso tecnológico maravilhoso, temos à nossa disposição tudo quanto é tipo de informação, desde um simples horóscopo elaborado por um charlatão até trabalhos científicos valiosos contendo textos, sons, fotos, vídeos ou imagens animadas.

 

Acontece, porém, que o exercício de encontrarmos aquilo que realmente nos interessa não é tarefa das mais fáceis. Se bobearmos ficamos horas navegando na rede sem encontrarmos aquilo que precisamos ou que nos possa ser útil de alguma maneira. Além do mais é fundamental que saibamos transformar os dados, as informações em verdadeiro conhecimento. E esta tarefa também não um coisa simples para ser realizada.

 

Fica, portanto, o impasse entre a velocidade alucinante da circulação das informações e a nossa real capacidade de assimilarmos aquilo que possa nos servir para sermos melhores profissionais e, em última hipótese, termos uma vida melhor.

 

Tendo como modelo este nosso embate com os desafios de utilização dos recursos da internet, concluo que, embora nas copas de 2020 ou 2024 tenhamos à nossa disposição uma infinidade de novas informações que poderão transformar nossas práticas para melhor, nada garante que isso, de fato, ocorrerá.

 

Aqueles que forem capazes de superar, passo a passo, os obstáculos e tiverem sabedoria para driblar os desafios que terão pela frente, serão os profissionais mais preparados para este futuro não tão distante.

 

A capacidade de entendimento e interpretação dos dados e informações que chegam até nós depende de fatores psicológicos, neurológicos, sociais e culturais. O profissional que quer vencer este desafio terá que ter uma clara noção disso. Caso contrário não conseguirá pensar no futuro de forma muito diferente do que pensa no presente.

 

Para constatar isso basta observar que ainda hoje convivemos com profissionais que analisam, interpretam e intervêm no futebol exatamente da mesma maneira que faziam há 20 ou 30 anos.

 

De nada adianta termos um telescópio Hubble à nossa disposição se quisermos enxergar o mundo através de uma lupa.  

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Livros e futebol

A 19ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo começou e poderá ser visitada até o dia 19 de março. Este tipo de evento sempre estimula reflexões, reportagens e matérias nos meios de comunicação sobre a importância do livro na formação das pessoas.

Infelizmente, devido ao nosso atual estágio de desenvolvimento, somos um povo que tem dificuldades para o acesso à leitura. Ainda possuímos um grande número de analfabetos funcionais, cidadãos incapazes de interpretar textos elementares.

Para muitos outros, a aquisição de um simples exemplar é totalmente inviável devido ao seu preço. E ainda, se quisermos visitar ou freqüentar uma biblioteca pública, descobriremos que quase a totalidade delas, em nosso país, está descuidada, empobrecida, com enorme falta de recursos ou sucateada.

Portanto, um evento como a Bienal do Livro deve não só estimular a discussão sobre a fundamental importância do ato de ler como também a reflexão sobre como gerar as soluções para que os problemas estruturais que nos afetam sejam enfrentados com força e determinação.

Entre os profissionais do futebol, a exemplo da sociedade em geral, este fenômeno da falta de leitura é também facilmente observado. Em pesquisa informal feita com alguns treinadores, descobri que são bem poucos aqueles que efetivamente gostam ou têm o hábito da leitura sistemática e séria. Alguns apreciam, no máximo, os livros de auto-ajuda, de fácil leitura, enquanto muitos nem a isso se dão ao trabalho.

A própria produção literária no futebol brasileiro é pobre e incipiente. Felizmente nos últimos anos este quadro começa a mudar e algumas boas obras têm surgido no mercado. Neste ano de 2006 uma quantidade acima da média já começa a surgir nas livrarias. Mas nada comparável com a produção observada em alguns outros lugares.

Outro dia, por exemplo, viajando por países europeus, deparei-me com nada menos do que quatro livros diferentes sobre o treinador português José Mourinho, que possui uma carreira de sucesso relativamente recente. Um número ainda maior pode ser encontrado sobre Alex Ferguson, o treinador do Manchester United, já há mais anos na estrada.

Espero que este ano de Bienal do Livro e de Copa do Mundo possa representar um marco na produção de livros de boa qualidade sobre os diferentes aspectos e dimensões do futebol. Torço também para que estes eventos possam estimular a leitura crítica destas obras.

E para finalizar vale lembrar a frase do escritor francês André Maurois afirmando que a leitura de um bom livro é um diálogo incessante com a alma. De um lado, o livro fala; de outro, a alma responde.

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Lições do futebol inglês

Acabo de chegar da Europa onde prestei alguns serviços de consultoria ligados ao futebol. Numa passagem por Londres, capital de um país cujo povo, como nós brasileiros, também é apaixonado pelo futebol, pude notar algumas características que fazem com que os ingleses sejam diferentes de nós em vários aspectos.

 

Se, por um lado, o Brasil possui uma cultura futebolística capaz de produzir talentos em profusão, coisa que os ingleses têm muita dificuldade em conseguir, por outro, eles nos dão algumas lições quando o assunto é a administração do futebol voltada para o espetáculo e aos negócios.

 

Os responsáveis pelas instituições esportivas do país, com apoio governamental, conseguiram em poucos anos, transformar um futebol feio, de baixo nível técnico e cercado de violência e vandalismo, em um espetáculo altamente valorizado e profissional.

 

É bem verdade que muitos clubes das principais divisões ainda lutam com dificuldades para sobreviver e outros ainda podem ser questionados pela adoção de métodos administrativos pouco ortodoxos.

 

Entretanto, o fato é que algumas agremiações como Manchester United, Arsenal, Liverpool e Chelsea, com apoio da Football Association, conseguem, cada um ao seu modo, demonstrar que é possível fazer do futebol algo que vale a pena ser consumido enquanto produto.

 

Pena que nós, brasileiros, às vezes inebriados pelo talento natural de nossos craques, deixemos de aprender as lições que os ingleses têm para nos dar em termos de profissionalismo no futebol.

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Intuição, teoria e prática no futebol

O papel da intuição está em alta no mundo empresarial e dos negócios. Descobertas científicas recentes demonstram que as tomadas de decisão de líderes, apoiadas apenas na razão, sem a devida participação de variáveis emocionais que regulam nossa vida, devem ser consideradas coisas do passado.

 

Mas se este ingrediente para as decisões parece ser novo dentro das empresas, no futebol, entretanto ele é usado à exaustão. A intuição ocorre dentro de campo, a todo instante, nas decisões que cada jogador deve tomar para ajudar seu time a atacar e a se defender. Acontece também nas decisões dos treinadores que, muitas vezes, utilizam-se essencialmente dela para balizar suas ações estratégicas. E ocorre também até entre muitos dirigentes que, por exemplo, após derrotas de seu time, têm constantes intuições de que, se mudarem o treinador, o time vai reagir e render mais em campo, já a partir do próximo jogo.

 

Mas refletir sobre o papel da intuição nos leva, quase que inevitavelmente, a pensar na relação entre teoria e prática. O quanto a intuição, a teoria e a prática podem, de fato, ser úteis nas vitórias e conquistas de um time de futebol?

 

Para algumas pessoas, ser teórico é estar desligado da realidade e ser pouco prático. Mas há os que contrapõem esta afirmativa dizendo que nada é tão prático como uma boa teoria. 

 

Como nos ensinam Henry Mintzberg e James Brian Quinn no interessante livro O Processo da Estratégia, todo médico, engenheiro e físico de sucesso seriam incapazes de praticar seu trabalho competentemente sem teorias que dêem suporte às suas práticas. E concluem fazendo a seguinte pergunta: “Como alguém pode dirigir sistemas complexos se não compreender estes sistemas complexos?”.

 

E aí concluo que, salvo melhor juízo, um clube ou um time de futebol é um sistema complexo. Dirigi-lo, portanto, é um ato de tentar controlar variáveis de muitas ordens: física, técnica, operacional, administrativa, social, psicológica, emocional, espiritual entre tantas outras.

 

Se concordarmos com esta hipótese e levando-se em consideração que tudo evolui ou se transforma a todo o momento, é possível refletir que, será cada vez mais difícil conseguirmos bons resultados no futebol apenas com intuição, como ainda fazem muitos dirigentes e treinadores.

 

Definitivamente, dentro em breve não haverá mais espaços para profissionais apenas intuitivos e práticos. Estes se quiserem evoluir terão que entender que, sem boas teorias, não se faz boas práticas.

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O real valor do adversário

Os simpatizantes do futebol e, particularmente, os que torcem para este ou aquele clube, costumam, muitas vezes, depreciar o valor de seus adversários ou oponentes. Alguns mais apaixonados chegam a torcer para que esses times se enfraqueçam cada vez mais. Não duvido que até comemorariam se vissem seus rivais caírem de divisão.

 

Em um desses arroubos de desprezo pelo oponente, geralmente chamado de inimigo, li certa vez em um pára-choque de caminhão a seguinte frase: “Não basta vencer o adversário, é preciso humilhá-lo”.

 

Alguns argumentariam, em defesa destes apaixonados, que esta é uma reação natural ao próprio significado do futebol e do esporte, de uma forma geral. Assim também é a própria vida. O desejo que o adversário perca é inseparável do desejo de que o seu time ganhe. Pode ser, mas cabem aqui algumas reflexões em torno desta questão.

 

Numa outra perspectiva, mais oriental, mais holística talvez, a abordagem deveria ser diferente. E pensando nisso fico imaginando um outro cenário para o esporte e, em especial para o futebol, esta modalidade esportiva que tanto significado tem em nossa cultura. A competição é, via de regra, uma luta de oponentes em busca da vitória. Quanto a isso creio que estamos todos de acordo.

 

Entretanto não podemos negar que é a força do adversário que nos fortalece. Quanto mais poderosos nossos oponentes mais iremos precisar de força, técnica, estratégia, inteligência para superá-los. Um pensamento zen-budista chega a afirmar que em uma competição você e o seu oponente são um só. Há uma relação de coexistência entre um e outro. Eles se completam.

 

Por outro lado precisamos saber que, para sermos vencedores, temos que entender não só as forças e fraquezas do nosso oponente, mas, fundamentalmente, as forças e fraquezas que estão instaladas dentro de nós mesmos. Este é o ensinamento que nos dá o mestre em artes marciais, o japonês Hidetaka Nishiama: “O oponente mais poderoso está dentro de nós mesmos”.

 

E para completar esta pequena reflexão sobre o real valor dos nossos adversários, deixo-os com o pensamento do grande líder político indiano Mahatma Gandhi que costuma nos inspirar com suas idéias. Mas que também na prática provou ser possível vencer de uma forma diferente. Ele nos dizia: “Só podemos vencer o adversário com o amor, nunca com o ódio”.

 

Será que a humanidade chegará a este grau de desenvolvimento espiritual capaz de levar estes conceitos para a prática do futebol?

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As estratégias de Luxemburgo

Questionado por suas atitudes e também pelo seu alto salário, que segundo alguns chega perto dos R$ 500 mil por mês, Vanderlei Luxemburgo foi o grande personagem do último clássico entre Corinthians e Santos pelo Paulistão 2006.

 

Quem esperava pelo destaque de alguns jogadores presentes em campo, corintianos ou santistas, acabou vendo a astúcia do treinador prevalecer sobre o talento dos atletas.

 

Tudo começou a ser tramado bem antes do jogo. Durante a semana Luxemburgo já ensaiava as ações estratégicas que ajudaram a levar seu time à vitória contra o badalado e atual campeão brasileiro, o Corinthians.

 

Na hora do jogo, armou um cenário que surpreendeu a todos, atrapalhando completamente o trabalho da imprensa e confundindo a cabeça do experiente Antônio Lopes, treinador corintiano.

 

Luxemburgo não divulgou a escalação da equipe santista. O time entrou em campo com 12 jogadores e só permitiu revelar os 11 que começariam a partida dois ou três minutos antes do jogo começar. 

 

Tal procedimento obrigou o treinador corintiano a correr, na última hora, atrás de seus jogadores para dar as últimas orientações sobre o plano tático, comprometido pela ausência de informações sobre o seu oponente.

 

Claro que poderíamos argumentar: se o Corinthians tivesse aproveitado as chances que criou, se as bolas na trave tivessem entrado, se isso, se aquilo… Mas acontece que, como costumamos dizer no futebol, o “se” não joga. E como o “se” não jogou no domingo, o que conta é a vitória do time santista.

 

O resultado final, favorável ao Santos, queira ou não, consagrou as ações de Luxemburgo. Tivesse o time corintiano vencido o jogo, provavelmente o técnico teria sido duramente criticado por suas atitudes. Mas não aconteceu isso.

 

Assim é o futebol. Assim é nossa cultura. Só sabemos dar valor ao vencedor. É a versão do vencedor que vale. E se assim é, esta foi uma vitória de Vanderlei Luxemburgo.  

 

Infelizmente nossa cultura ainda não aprendeu a levar em conta os méritos do perdedor. Tanto é que o vencedor brasileiro de 2005, Antônio Lopes, dois meses após a conquista do campeonato brasileiro, já corre riscos de perder seu emprego.

 

Lamentável, mas é assim que funcionamos.

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Ronaldinho Gaúcho e seu personal trainer

Dias desses lendo as páginas esportivas dos jornais deparei com uma notícia interessante. O nosso craque Ronaldinho Gaúcho, jogador do Barcelona, possui um personal trainer que cuida dos detalhes de sua preparação como atleta.

 

A medida embora não seja pioneira, pode representar um marco em se tratando daquele que acaba de ser eleito pela segunda vez o melhor jogador de futebol do mundo.

 

Esta tendência de personalizar-se a preparação dos atletas de modalidades esportivas coletivas também não é nova, mas deve ser incentivada pela preocupação implícita de individualização do trabalho que carrega em si.

 

Duas coisas, entretanto, causaram-me preocupação na reportagem sobre o profissional que cuida da saúde e da forma física do atleta.

 

Primeiro, pelo que li na notícia, o Moraci Sant’Anna, competente e cuidadoso preparador da seleção brasileira de futebol, desconhecia a existência do Quim, que é primo e o personal trainer de Ronaldinho Gaúcho.

 

Em um trabalho que se caracteriza pelo detalhamento e sutiliza de suas intervenções, tal desconhecimento não pode ocorrer. Tudo que é feito pelo Ronaldinho, dentro e fora do campo, deveria ser discutido entre os responsáveis por sua preparação, no caso, entre os preparadores físicos do Barcelona, da seleção brasileira e o personal trainer.

 

Como cada um dos profissionais que trabalha com o atleta poderá dosar de forma equilibrada e adequada as atividades se um desconhece o trabalho do outro?

 

A segunda preocupação é em relação ao fato do personal trainer declarar que o Ronaldinho chega a praticar perto de três horas de futevôlei na areia, às vezes, altas horas da noite ou de manhã, bem cedo, para evitar o assédio de curiosos e fãs.

 

Qualquer preparador físico, minimamente competente, sabe a importância do trabalho na areia para melhorar força e velocidade, estes dois componentes fundamentais para a prática do futebol moderno. Mas praticar cerca de três horas desta modalidade em paralelo com a programação de treinamentos e jogos do clube e seleção é, sem sombra de dúvidas, preocupante.

 

Torço para que o personal trainer do Ronaldinho Gaúcho tenha exagerado nas declarações sobre as cargas de trabalho que está aplicando a um dos maiores talentos do futebol da atualidade. Mas se a informação for verdadeira, um dos nossos mais destacados craques corre sérios riscos de não poder mostrar todo o potencial de sua arte durante a próxima Copa do Mundo a ser realizada na Alemanha.

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Romário, futebol e envelhecimento

A vida de todo ser humano tem seu ciclo vital. Qualquer profissional, seja qual for a carreira escolhida, também terá os seus ciclos. Com o jogador de futebol não é diferente.

 

Todos sabemos que o futebol hoje em dia exige uma apurada condição física e fisiológica. O esporte é praticado em uma velocidade cada vez maior e este fato tende a eliminar aqueles que não conseguem acompanhar um ritmo tão intenso.

 

Após os 29, 30 anos, o corpo do atleta começa a perder a massa muscular e, conseqüentemente, a velocidade e a força, entre outros aspectos. Mudanças hormonais provocam o processo de deterioração das melhores condições atléticas necessárias à alta performance.

 

Nesta perspectiva um jogador como o Romário, com perfil de boêmio e que acaba de completar 40 anos pareceria, a um primeiro olhar, um exemplo típico de profissional em decadência, totalmente incapaz de acompanhar a dinâmica exigida pelo futebol atual.

 

De certa forma isto tem se dado, na prática. Visivelmente o jogador já não tem mais a mesma condição de 10 ou 20 anos atrás. Entretanto, e felizmente, o ser humano não é constituído apenas por aspectos puramente biológicos ou fisiológicos. 

 

O envelhecimento pode ser considerado como a perda das habilidades de adaptação ao meio e, portanto, pesam aqui os aspectos biológicos e funcionais.

 

Mas contrapondo-se aos aspectos biológicos, puramente físicos, existem outros elementos, como os psicológicos, sociais, culturais e espirituais que permitem aos mais tenazes, aqueles que amam a vida e aquilo que fazem, enfrentar o inexorável processo do envelhecimento.

 

Neste sentido, inteligência, maturidade, equilíbrio e autoconfiança são alguns dos ingredientes necessários para este embate. E é interessante ver como algumas pessoas conseguem fazer isso com graça e sabedoria.

 

Por outro lado, o desenvolvimento cultural e científico acelerado pelo qual estamos passando, cujo pano de fundo é a globalização, vai obrigar-nos a buscar novos conceitos em termos de idade e velhice.

O futebol também passará por processos profundos de mudanças. Uma delas será permitir que os atletas prolonguem sua vida útil como profissionais, apesar da velocidade crescente com que o jogo é jogado.

 

Concordando com esta tendência, e facilitado pelo fato de que o melhor do futebol brasileiro não está no Brasil, já podemos antever o ano que vem, quando Romário estiver completando 41 anos, o craque chamando a atenção do mundo todo para as partidas-exibição que estará realizando numa obstinada busca pelo seu milésimo gol, encerrando assim sua polêmica e brilhante carreira.

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