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Atualização tecnológica: mão dupla

Olá caros amigos! Constantemente falamos da necessidade de atualização tecnológica por parte do profissional do esporte. É evidente que se ampliarmos o escopo desta premissa, veremos que é uma necessidade global, todas as pessoas dos mais diversos setores precisam se atualizar frente aos avanços tecnológicos.

A datilografia de antigamente, hoje é mais do que uma simples digitação, e lidar com um programa de editor de texto, uma planilha de cálculos, um aplicativo de desenvolvimento de slides, e cada vez mais detalhes são acrescidos aos mais diversos profissionais.

Bom, desta vez não criticarei a nós, profissionais do meio, classificando-nos como os grandes culpados por não procurarmos nossa atualização tecnológica. Mas pretendo mostrar como outros setores criam oportunidades e qual a linha diretriz que está por trás dessas ações.

A Microsoft lançou no Brasil um programa denominado Dream Spark, programa de acesso gratuito a softwares destinado a estudantes de nível técnico e superior através de um convênio com o CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola). Dentre softwares de desenvolvimento e design foram criados também cursos e treinamentos online.

Nunca podemos ao certo afirmar os interesses que norteiam tais ações, mas é possível fazer uma avaliação das tendências que regem hoje o mercado tecnológico. Para quem milita no meio o termo Open Source já tem há algum tempo um tom de familiaridade.

Open source numa tradução simples significa Código Aberto. Conceitualmente (que me desculpem os especialistas pela simplicidade da definição) refere-se ao desenvolvimento de softwares livres de barreiras comerciais. Livre no sentido de permitir a cópia, uso e distribuição sem obrigações comerciais, compartilhando a propriedade intelectual com a sociedade.

Nesse conceito surgem o que chamam de Comunidades Open Source, no qual interessados em desenvolver uma solução compartilham informações e através dessa troca de experiências desenvolvem e aperfeiçoam soluções em comum. Muitas empresas têm se utilizados desse expediente e até mesmo em compartilhamento com seus grandes concorrentes.

Qual a loucura por trás disso? Imaginem uma empresa especialista em desenvolvimento de software abrir seus segredos de produção, e mais ajudar a desenvolver em ambiente aberto no qual o concorrente também compartilha de tais informações.

Para entender a motivação por trás do Open Source podemos fazer uma analogia com a construção civil. Duas construtoras podem juntar seus esforços no desenvolvimento de alicerces eficientes e compartilhar-los com o mercado diminuindo os custos de produção e pesquisa. Com isso podem dedicar-se e investir no que realmente será o diferencial para o cliente, o design e acabamento.

A evolução dos alicerces fica a cargo da comunidade que irá ao longo do tempo criar mecanismos para a sua construção baseados nos conceitos mais modernos e atualizados possíveis a um custo que foi diluído com a concorrência e com a própria comunidade.

É nesta lógica que gostaríamos de refletir no ambiente do esporte. Por um lado a capacitação do profissional fornecida pela Microsoft, preza pela necessidade de ampliar seu mercado mas sobretudo de atualizar e capacitar profissionais que desenvolverão as futuras ferramentas. É uma forma de investir no ciclo de renovação de idéias e profissionais capacitados.

Por outro lado temos o compartilhamento em prol de um bem comum. Ao abrir o desenvolvimento no mercado a empresa, naquilo que nós vemos risco ao permitir o concorrente usufruir de sua produção, enxerga uma maneira de envolver diferentes especialistas no tema em desenvolvimento, sem necessidade de ampliar sua alocação de recursos humanos. A aposta é mais uma vez no capital intelectual de quem faz a diferença com as informações ali compartilhadas.

A atualização tecnológica depende muito do profissional, deve ser uma busca constante daquele que pretende se diferenciar no mercado, mas também devemos cobrar e alertar as entidades envolvidas, que elas precisam criar mecanismos de capacitação dos profissionais para lidar com os avanços que hoje a ciência e tecnologia trazem para o esporte.

A questão que fica é: será que eles querem renovar e capacitar mais pessoas…?

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Sem chute

O Campeonato Brasileiro por pontos corridos é implacável e, cada vez mais, permite que se defina o time campeão sem precisar de tanto exercício de futurologia assim. O tricampeonato seguido do São Paulo, o sexto título tricolor da história, é perfeitamente racional e reforça a importância da continuidade no trabalho.

Há três anos que a comissão técnica do São Paulo é a mesma. Há três meses, sequer os treinadores de Ipatinga, Vasco e Figueirense eram aqueles que, no último domingo, disputaram a rodada derradeira do Brasileirão-2008. O que dirá da comissão técnica!

Até agora, parece que apenas o São Paulo entendeu que, para ter bom desempenho na era dos pontos corridos, é preciso ter o mínimo de seguimento ao trabalho. Num torneio em que o importante é ter constância, em que os erros devem ser minimizados pelo trabalho de longo prazo, trocar de treinador é o primeiro dos deslizes que se comete.

No início da competição, em maio, dois times eram apontados como francos favoritos à conquista: Palmeiras e Internacional. A vitória poderia ser justificada pela pujança do elenco das duas equipes. O Inter, aliás, se reforçou com D’Alessandro e Daniel Carvalho no meio do caminho, ficando ainda mais forte. Mas por que não ganharam?

O Inter trocou Abel Braga por Tite no andar da carruagem. O Palmeiras, a pedido de Vanderlei Luxemburgo, foi desmantelando a base montada por Caio Junior no ano anterior e criando um time à imagem e semelhança (cada vez mais disformes) do seu comandante. O resultado foi óbvio. Os times se perderam ao longo da competição, apesar de os gaúchos terem se encontrado na disputa da Copa Sul-Americana (com toda a imprevisibilidade do mata-mata).

Ao mesmo tempo, São Paulo e Grêmio mantiveram a linha de trabalho. Os tricolores não fizeram grandes mudanças, reforçaram os elencos que tinham em algumas posições, seguiram a linha de trabalho que já vinha sendo traçada.

Não à toa, no último domingo foram os dois que duelaram pela conquista da taça. E também não foi coincidência, sorte ou qualquer coisa do gênero o título continuar no estádio do Morumbi. Muricy Ramalho e companhia conhecem há três anos o grupo que lá está. Não precisam tirar coelhos da cartola para buscarem um resultado, basta seguir o trabalho.

No ano que vem, de partida já se pode dizer que o São Paulo é favorito ao título. Os outros candidatos à conquista nós teremos de esperar um pouco para dizer: não duvidem do Corinthians (que manteve Mano e a base construída no calvário de 2008). Ou do Inter (agora com Tite assegurado e o grupo mantido). Mas Palmeiras, Flamengo, Cruzeiro e Grêmio, para fazerem parte da lista, terão de fazer o básico neste ano que se encerra. Continuar o trabalho que teve início em 2008.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Se jogo é jogo e treino é treino, abandonemos os treinos (e fiquemos com o jogo!)

Faz alguns anos redigi um trabalho científico, em Ciências do Desporto, a respeito da imprevisibilidade como princípio de treinamento nos jogos desportivos coletivos. O trabalho fora aceito por uma revista científica mas acabou não publicado.

Passou um ano e recebi da mesma revista o “aviso” de que ele (o artigo) estaria presente na próxima edição. Como a Ciência é dinâmica, veloz e implacável com o tempo, achei por bem não mais autorizar a publicação (um ano havia se passado, e a contar os meses que levou para o aceite inicial, era tempo demais – o que poderia ser novidade em um primeiro momento, na minha opinião não causaria mais impacto algum).

Mas eis que dia desses, num embate científico surgiu a seguinte questão: a imprevisibilidade pode ser treinada (em nosso caso específico, no futebol)?

Já escutei muita bobagem a respeito do assunto. Certa vez um pesquisador aficionado por futebol disse que imprevisibilidade para ele era “urubu marcando gol” ou “bola murchando antes de cruzar a linha de meta”.

Obviamente a imprevisibilidade a que me refiro é a característica “mais inerente das inerentes ao jogo”; é e está no jogo assim que ele se inicia, independente de “urubus, corujas ou bolas furadas”.

E se há equívoco por um lado no conceito; por outro há na sua aplicação.

Dia desses, assistindo a um jogo do campeonato italiano, um dos comentaristas (brasileiro), ao explanar sobre um chute ao gol da região da meia-lua após passe vindo pela lateral esquerda, disse que “raramente acontece no jogo um lance como aquele, bem parecido com os treinamentos de finalização em que se repete à exaustão aquele tipo de movimentação”; e que por isso era inadmissível que o jogador tivesse chutado a bola para fora do gol.

Noto, nas minhas observações e nas falas do “cientista aficionado” e do “comentarista esportivo”, que ainda treina-se muito o que é previsível e que portanto não vai acontecer no jogo, porque ainda se considera que o que é imprevisível não é treinável (total desconhecimento sobre o jogo!).

A imprevisibilidade está no jogo, quer queiram ou não. Dominá-la totalmente seria o fim do jogo (a equipe que o fizesse não mais perderia). Mas não é possível, e não estou eu aqui a defender isso.

O que estou a defender é que o treinar tem que estar atrelado ao jogar (mais uma vez precisamos lembrar que “treino é jogo e jogo é treino”).

Treinar a imprevisibilidade significa possibilitar à equipe e jogadores pré-disposição e eficácia imediata para resolver problemas (situações-problema) tornando aqueles que seriam totalmente desconhecidos (imprevisíveis), parcialmente ou totalmente conhecidos.

Não se trata de tornar o jogo previsível, mas sim menos imprevisível.

Enquanto isso não for compreendido viveremos ainda do “treino é treino, jogo é jogo”. Então, treinar para quê?

Sendo assim, em prol do jogo, por fim sugiro: abandonemos os treinos.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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O “International Transfer Matching System” da Fifa

Caros amigos da Universidade do Fubebol,

Não só a Fifa, como também todas as partes envolvidas no mercado do futebol, estão preocupadas com a manutenção da credibilidade do futebol, perante torcedores, patrocinadores, mídia, etc.

Nesse âmbito, a Fifa tem demonstrado grande preocupação com a transparência das transferências internacionais de jogadores (em que ela tem competência para regular), bem como em garantir a traceabilidade dos recursos pagos em cada negócio realizado.  Como sabemos, são nessas transações onde residem as maiores suspeitas de atividades ilícias dentro dessa indústria.

Assim, durante o seu 57º congresso, realizado em maio de 2007, em Zurich, a Fifa decidiu introduzir dentro do escopo de sua Task Force “For the Good of the Game” a criação de um sistema de cruzamento de dados para transferências de jogadores, visando melhor monitorar as transferências internacionais de jogadores. Esse sistema deve alterar substancialmente o atual sistema em vigor, que determina que as diversas federações nacionais dos clubes vendedores e compradores devem simplesmente certificar as transferências via fac-símile.

A matéria foi inicialmente regulada no Ofício Circular da Fifa nº 1108, que apresenta o sistema denominado “International Transfer Matching System”, com o objetivo de “de um lado, garantir que as autoridades do futebol tenham maior detalhes disponíveis acerca de cada transferência, e, de outro lado, aumentar a transparência de cada transação, que por sua vez aumentará a credibilidade e todo o sistema de transferências de jogadores. Ao mesmo tempo o sistema deverá garantir que, de fato, um jogador está sendo transferido, e que não haja simplesmente uma transferência de valores com a transferência de um “jogador fictício” (i.e., lavagem de dinheiro). Finalmente, o sistema deverá garantir que todos os pagamentos relacionados com as transferências sejam feitos apenas de um clube para outro”.

Tão logo o sistema encontre-se totalmente em funcionamento, todas as transferências intenacionais deverão estar eletronicamente registradas, e devidamente checadas em um único sistema de base de dados.

O International Transfer Matching System encontra-se em fase experimental em algumas federações ao redor do mundo desde janeiro deste ano. Uma segunda fase deverá ser iniciada em breve, com o envolvimento de outras tantas federações.

De acordo com as deliberações tomadas na Fifa Exco de outubro de 2007, todas as atividades relacionadas com esse novo sistema deverá ser conduzido por uma empresa independente, chamada Fifa Transfer Matching System GmbH.

Entendemos positivas as alterações, em prol da credibilidade das transações, e também do afastamento em definitivo de pessoas que se utilizam do futebol para obter lucros a todo custo e para praticar atividades ilícitas.

Manteremos nossos leitores informados acerca do desenvolvimento dessa matéria.

Para interagir com o autor: megale@149.28.100.147

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O "International Transfer Matching System" da Fifa

Caros amigos da Universidade do Fubebol,

Não só a Fifa, como também todas as partes envolvidas no mercado do futebol, estão preocupadas com a manutenção da credibilidade do futebol, perante torcedores, patrocinadores, mídia, etc.

Nesse âmbito, a Fifa tem demonstrado grande preocupação com a transparência das transferências internacionais de jogadores (em que ela tem competência para regular), bem como em garantir a traceabilidade dos recursos pagos em cada negócio realizado.  Como sabemos, são nessas transações onde residem as maiores suspeitas de atividades ilícias dentro dessa indústria.

Assim, durante o seu 57º congresso, realizado em maio de 2007, em Zurich, a Fifa decidiu introduzir dentro do escopo de sua Task Force “For the Good of the Game” a criação de um sistema de cruzamento de dados para transferências de jogadores, visando melhor monitorar as transferências internacionais de jogadores. Esse sistema deve alterar substancialmente o atual sistema em vigor, que determina que as diversas federações nacionais dos clubes vendedores e compradores devem simplesmente certificar as transferências via fac-símile.

A matéria foi inicialmente regulada no Ofício Circular da Fifa nº 1108, que apresenta o sistema denominado “International Transfer Matching System”, com o objetivo de “de um lado, garantir que as autoridades do futebol tenham maior detalhes disponíveis acerca de cada transferência, e, de outro lado, aumentar a transparência de cada transação, que por sua vez aumentará a credibilidade e todo o sistema de transferências de jogadores. Ao mesmo tempo o sistema deverá garantir que, de fato, um jogador está sendo transferido, e que não haja simplesmente uma transferência de valores com a transferência de um “jogador fictício” (i.e., lavagem de dinheiro). Finalmente, o sistema deverá garantir que todos os pagamentos relacionados com as transferências sejam feitos apenas de um clube para outro”.

Tão logo o sistema encontre-se totalmente em funcionamento, todas as transferências intenacionais deverão estar eletronicamente registradas, e devidamente checadas em um único sistema de base de dados.

O International Transfer Matching System encontra-se em fase experimental em algumas federações ao redor do mundo desde janeiro deste ano. Uma segunda fase deverá ser iniciada em breve, com o envolvimento de outras tantas federações.

De acordo com as deliberações tomadas na Fifa Exco de outubro de 2007, todas as atividades relacionadas com esse novo sistema deverá ser conduzido por uma empresa independente, chamada Fifa Transfer Matching System GmbH.

Entendemos positivas as alterações, em prol da credibilidade das transações, e também do afastamento em definitivo de pessoas que se utilizam do futebol para obter lucros a todo custo e para praticar atividades ilícitas.

Manteremos nossos leitores informados acerca do desenvolvimento dessa matéria.

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Sócio é tão bom assim?

Com a conquista da Copa Sul-Americana pelo Internacional ontem a noite, nada mais natural que se dê início a um ode à administração colorada, mais ou menos no mesmo esquema que se faz sempre que uma equipe conquista um título, uma vez que muitas análises feitas utilizam o fim para enaltecer o meio.

Uma das coisas que mais se falou e mais se irá comentar é a política de sócios do Internacional, que conseguiu a façanha de preencher o estádio apenas com os membros do clube. Ato, a princípio, louvável. Quem mais é capaz de tal coisa no Brasil?

Muitos enxergam na expansão do número de sócios algo muito positivo e utilizam o extremo referencial do Barcelona como prova desse sucesso. É um raciocínio simples, lógico e bem fundamentado, ainda que o Benfica tenha mais sócios que o próprio Barcelona e não é lá um grande exemplo de sucesso esportivo na atualidade. Agora, ter um estádio cheio de sócios é bom ou é ruim?

Pode ser bom, claro, uma vez que o sócio é um tipo de público mais identificado com o clube, com muito mais vínculo do que um torcedor normal. O sócio é mais interessado, tende a consumir mais produtos e em geral acredita que o clube é, de uma forma ou de outra, algo que faça parte da vida dele.

Isso, por um lado, é ótimo. Mas tem um lado complicado. Primeiro que, financeiramente falando, vale mais a pena ter um estádio lotado de torcedores normais do que de sócios. Em geral, o programa de sócio se confunde com um pouco com um pacote de ingressos, ou seja, ou dá o ingresso de graça, ou dá o ingresso com desconto. Pelos números, vale mais a pena ter um estádio cheio de pessoas que paguem mais do que pessoas que paguem menos. Além disso, o sócio tem um custo de manutenção relativamente alto, no qual incide brindes, camisetas, eventos especiais, tecnologia e pessoal para ativação e manutenção de relacionamento, e assim por diante.

Ou seja, na ponta do lápis, se você consegue naturalmente ter um estádio lotado sempre, sócio não é uma coisa boa. Isso vale tanto aqui no Brasil quanto na China ou em qualquer outro lugar do mundo. Mas como isso é muito complicado, também valendo para qualquer localização geográfica que seja, o sócio é uma excelente maneira para fazer disso uma coisa mais freqüente.

Ter um estádio lotado de sócios é excelente, mas não é o ápice. O melhor é ter um estádio lotado sempre. O programa de sócios é uma ótima ferramenta para isso.

É o meio, e não o fim.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Arbitragem eletrônica…

Na semana passada, polêmica no jogo Flamengo x Cruzeiro. Carlos Eugenio Simon não marcou pênalti para a equipe carioca. Deu a repercussão que deu. Foi ou não pênalti? Por uma câmera de uma TV, foi pênalti claro, por outra câmera de outra TV, não foi de jeito nenhum, pela mesma câmera da mesma TV foi e não foi.

Agora, nesta semana, abrimos as noticias e vemos, meio em tom de brincadeira, meio em tom de provocação, o técnico Mano Menezes reclamar do mesmo arbitro, perguntando se pelo suposto erro dele na partida do já campeão Corinthians, jogando com o time reserva (algo como um time C ou D da equipe) contra o América de Natal, ele não deveria ser rebaixado para a série C, uma vez que só veio apitar a série B pelo erro no jogo do Flamengo x Cruzeiro.

Não nos cabe aqui avaliar o Simon, costumo ser bem pragmático em relação aos números.  É só ver os importantes torneios e jogos que ele vem apitado ultimamente, e ninguém me convence, justificando que só apita jogos importantes por questões políticas e de interesse, porque se fosse isso, o Edilson ” Máfia do Apito” estaria por ai ainda. Ninguém sustenta uma posição de destaque sem o mínimo de competência (assim, penso eu).

Mas, vamos ao que interessa: o amigo Gheorge me sugeriu o tema com a discussão que o Juca Kfouri abordou no seu blog.

“Daí a necessidade da arbitragem eletrônica, embora neste caso do Mineirão, já imaginou que rolo daria? Uma imagem mostra o pênalti, a outra não mostra…”

Bom, sabemos que muitos se deliciariam com essa situação dizendo que se não fossem essas polêmicas o futebol não teria graça.

É verdade. Se estivéssemos avançados a ponto de termos uma arbitragem com suporte tecnológico para minimizar os erros humanos (lembrem humanos erram, é normal)… Não teríamos esse polêmica, aliás, não estaria escrevendo sobre isso, e é bem provável que boa parte do que escrevo sobre o analfabetismo tecnológico no futebol também não faria o menor sentido.

Mas a questão é conforme apontou Juca, mesmo com toda tecnologia aplicada, o que aconteceria se uma câmera mostra uma coisa e outro mostra uma situação antagônica?

Amigos, desculpem ser simplista de mais, mas acredito que a situação chegue a beira de uma “banalidade complexamente simples”. Frente as divergências de recursos tecnológicos gerados pelas diferenças de imagens, o que impede o arbitro de tomar uma ação como o faz hoje, por interpretação.

A grande diferença estaria em inúmeras outras situações que na dúvida do arbitro as imagens pudessem dar uma solução concreta.

Lógico que defendo tal inserção dos recursos tecnológicos no futebol, mas tão óbvio é que isso deva ser parte do campo de jogo, nunca levada para uma decisão posterior , em tribunais e por ai a fora.

O arbitro deve, no momento da polêmica, fazer uso de algum recurso tecnológico que apenas ele e seus auxiliares (consultem no momento). Com certeza, as milhares de câmeras depois vão mostrar os lances e gerar discussões, isso não acabará, nem deve. Mas no momento de consulta os árbitros podem fazer como no futebol americano: num local reservado, com as imagens e câmeras que eles escolherem, reprisadas quantas vezes achar necessária, tomar sua decisão.

Convenhamos não é nenhuma descaracterização da modalidade, pelo contrário, é um estimulo a credibilidade a organização tão em moda nos tempos modernos.

Ou será que photo finish , recurso praticamente centenário descaracterizou as corridas de cavalos, e hoje no atletismo perguntem se o atleta que ganha uma medalha em razão de similar recurso tecnológico, se é contra ou a favor, afinal o aparato apenas lhe deu o que foi de direito, a comprovação de um fato.

Mas toda vez que penso neste tema, imagino, será que são as mesmas pessoas que defendem o profissionalismo do futebol, uma organização uma estrutura melhor desenvolvida e que defendem também a incerteza, os erros que podem ser minimizados (nunca eliminados como no fato do pênalti citado) através da aceitação dos recursos tecnológicos como ferramentas complementares da arbitragem.

O que você me diria sobre o contador que fazia seus cálculos no Ábaco, depois nas calculadoras, e hoje se espalham em planilhas eletrônicas e softwares sofisticadíssimos, que surgiram frente a realidade moderna e ajudam a minimizar falhas, imagine se ele chegasse a você com um lápis e papel de pão para fazer a auditoria de sua empresa? Por mais credibilidade que a pessoa tenha, no mínimo alguma estranheza nos causaria quando nos mostrasse os números…

Vivemos numa era tecnológica, mas devemos sobretudo compreender o que significa, nem gerar expectativas de que ela resolverá tudo, afinal ela existe como meio facilitador de nossos processos, nem tampouco ignorar suas possibilidades.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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O homem do hexa

No fim, ficou para a última rodada a decisão, quase sacramentada, do título de campeão brasileiro de 2008. O São Paulo entra como Lewis Hamilton no GP Brasil de Fórmula 1. Vantagem gigantesca para ser campeão, dependendo apenas de suas forças, mas com a maior parte da torcida jogando contra.

Sim, porque nada mais sem graça para aquele que era o mais gracioso campeonato nacional de futebol do planeta do que ter o seu primeiro tricampeão da história. São quase 40 anos de Brasileirão e nunca um time foi capaz de ser três vezes seguida o primeiro colocado.

E o São Paulo deve ratificar essa condição no domingo que vem, apesar dos pesares, e talvez com tanta dificuldade quanto o inglês na F1. E, mais uma vez, muitos dirão que o título teve o dedo de Muricy Ramalho, que as defesas de Rogério Ceni foram insuperáveis, que o sistema defensivo fez a diferença, ou que Borges surgiu como artilheiro na hora em que foi mais necessário um time desacreditado se superar e ser o novo supercampeão do Brasil.

Só que boa parte do mérito dessa conquista vem de lá de trás, há cerca de cinco anos, quando o São Paulo voltou a ser um time que “incomodava” os seus adversários. Depois de uma década de relativo ostracismo pós-bicampeonato mundial, o Tricolor voltou a figurar como gente grande no Brasil e no exterior.

O terceiro título mundial, em 2005, coroou uma renovação que teve início em 2002, quando Marcelo Portugal Gouvêa se tornou presidente do clube. Naquela época, o clube vivia um período de seca de títulos e, principalmente, de instabilidade interna. Foi o ápice da discussão entre Rogério Ceni e o então presidente Paulo Amaral, que quase resultou na saída do goleiro. Não fosse a vitória de Gouvêa, muito possivelmente Rogério estaria noutro clube qualquer em 2002.

Mas Portugal Gouvêa venceu. E, numa de suas primeiras atitudes, rompeu o vínculo que o Tricolor tinha com a CBF. Deixou de pedir dinheiro emprestado, voltou a investir na formação de atletas e nas boas negociações para contratar e vender jogador.

Dois anos depois, o clube caiu nas semifinais da Libertadores. Em 2005, foi campeão. E, no ano seguinte, vice do torneio continental e campeão Brasileiro pela primeira vez após 15 anos, quebrando o maior jejum de títulos da história do Tricolor numa competição nacional.

Portugal Gouvêa tinha muito do dirigente à moda antiga, que centraliza todas as decisões, está mais preocupado com o futebol do que com o restante do clube e que sabe conduzir muitíssimo bem o relacionamento com a imprensa. Sua figura, sem dúvida, ajudou a recolocar o São Paulo no caminho da vitória e, mais do que isso, o clube no trajeto do saneamento fiscal.

Tive o prazer de entrevistá-lo incontáveis vezes como repórter do “Lance!”. Foram raras as vezes em que ele não quis atender o telefone, ou não podia fazê-lo. E, quando atendeu, sempre foi solícito e prestativo ao passar a informação. Em pouco tempo de liderança no Tricolor, Gouvêa acabou com a turbulenta relação que havia com a imprensa, tirando mais um peso das costas de atletas e dirigentes e ganhando a confiança dos jornalistas.

No último sábado, o coração de Gouvêa não resistiu. Parou de bater aos 70 anos. Muito jovem para quem costumava estar sempre preocupado com a saúde. E, mais do que isso, muito cedo para alguém que merecia, pelo menos, ver o São Paulo se tornar o clube mais vencedor dentro do Brasil. O caminho do hexa começou há questão de seis anos, com Marcelo Portugal Gouvêa. O jogo em Brasília será um mero detalhe.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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O grito do gol

A determinação da toda poderosa Federação Internacional de Football Association, Fifa, com relação à limitação das expressões de alegria em campo a meros cumprimentos formais, nas ocasiões de comemoração de gols, momento supremo do jogo de bola, é muito mais significativa do que desejam alguns que a defendem como instrumento coibitivo dos excessos, tais como os beijos e abraços, nas horas dos gols,

posicionamento este no mínimo de alto significado machista.

 

Na verdade está em jogo nada mais nada menos do que a própria liberdade de expressão do indivíduo, de cunho, neste caso específico, totalmente popular, dada a presença do futebol como parte integrante da cultura popular brasileira.

 

Se, como era de se esperar, pronunciamentos das autoridades responsáveis pelo futebol nacional, não foram ouvidos (pois é lógico o interesse que a eles, o controle das manifestações populares, desperta, fazendo-as permanecerem sob seus domínios), é digno de aplausos os diversos depoimentos de atletas de destaque no cenário futebolístico brasileiro, que com palavras refutaram tal deliberação, dando na prática a verdadeira e merecida resposta a tão repugnante imposição:

 

Gols, cada qual mais festejado do que nunca!

 

Este recente episódio de autodeterminação dos atletas brasileiros nos reporta a um outro ocorrido nos idos de 1927, e detalhado no livro de Mário Filho, O negro no futebol brasileiro, e que pedimos licença aos leitores para, neste artigo, passar a narrar.

 

… Cinqüenta mil pessoas comprimidas nas arquibancadas gerais, de pé, batendo palmas para o Presidente da República. Era gostoso receber uma ovação daquelas, nada preparado, tudo espontâneo. Washington Luís descobria, ao mesmo tempo, a força e a beleza do esporte. Subitamente o jogo pára, não continua… O juiz tinha marcado um pênalti contra os paulistas, os paulistas iam abandonar o campo. Washington Luís fica sério, dá uma ordem a um oficial de gabinete. Era a ordem para o jogo continuar, uma ordem do Presidente da República.

 

E lá desce o oficial de gabinete… A notícia se espalha, Washington Luís tinha mandado acabar com aquilo… O jogo ia recomeçar. O oficial de gabinete entra em campo debaixo de palmas, vai até Amílcar e Feitiço. E de cara amarrada dá o recado: – O Presidente da República ordenava o reinício do jogo. A resposta de Feitiço, mulato disfarçado, que nem era capitão do escrete paulista, foi que o doutor Washington Luís mandava lá em cima – lá em cima sendo a tribuna de honra… Cá embaixo – cá embaixo sendo o campo – quem mandava era ele. E para mostrar que mandava mesmo, que não era conversa, fez um sinal, os jogadores paulistas saíram atrás dele. Washington Luís, Presidente da República, não teve outro remédio, senão ir embora, ofendidíssimo.

Para interagir com o autor: lino@universidadedofutebol.com.br

*Lino Castellani Filho é Doutor em Educação, docente da Faculdade de Educação Física/Unicamp, pesquisador-líder do "Observatório do Esporte" – Observatório de Políticas de Educação Física, Esporte e Lazer – CNPq/Unicamp, e foi Presidente do CBCE (1999/2003) e Secretário Nacional de Desenvolvimento do Esporte e do Lazer/Ministério do Esporte (2003/06)
 

 


 

[1] Publicado na seção opinião do diário O Jornal – São Luis, MA – do dia 14 de outubro de 1981, quinta feira. 

 

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O experimento “quase científico” de uma vitória

Dia desses fiz um experimento “quase científico” em uma partida realizada pela equipe que dirijo. Era um jogo amistoso, parte dos preparativos para uma competição futura.

Sob a perspectiva organizacional do jogo, as duas equipes iniciaram a partida com a organização defensiva adequada para controlar as organizações ofensivas adversárias. A minha buscava a recuperação da posse da bola na “linha 1”; a adversária, impedir progressão a partir da “linha 3”.

Os princípios operacionais de ataque das duas equipes não eram os adequados para desequilibrar as organizações defensivas propostas.

Obviamente que com poucos minutos de jogo ficava evidente a necessidade de uma intervenção que mudasse o princípio operacional de ataque dominante (tanto da minha equipe, quanto do adversário).

Ficávamos com a bola, controlávamos o jogo, ocupávamos melhor os espaços e não corríamos risco algum de sofrer um gol (mas também não chegávamos nem perto de “assustar” o goleiro adversário).

Exceção feita aos princípios operacionais de ataque (e de transição ofensiva), todas as outras dimensões de controle estavam apropriadas ao jogo e sendo bem executadas (tarefas de ação, plataforma de jogo, princípios estruturais, norteadores da ação, etc) na direção do cumprimento da lógica do jogo.

Todas as evidências apontavam para a necessidade de alteração dos princípios operacionais de ataque; mas…

Resolvi mexer em todas as variáveis “alteráveis” menos nos princípios operacionais de ataque e observar mudanças que isso desencadearia.

Em tese, as “alterações desnecessárias” deveriam alterar um pouco (bem pouco!) a dinâmica do jogo, mas não “resolvê-la” (pois os problemas que estavam associados à dinâmica daquele jogo, naquele momento, não teriam correlação alta com as mudanças que eu estava realizando).

O tempo foi passando. Terminou o 1º tempo. O jogo continuava apresentando o “mesmo rosto”. Insisti no experimento. Não alterei o que precisava ser mudado e aguardei ansioso para saber quais seriam as “mexidas” do meu companheiro de profissão do “banco ao lado”.

Cinco minutos de algum desequilíbrio (mudei jogadores de posição e dei funções que normalmente não eram as deles) e lá voltou o mesmo jogo do 1º tempo.

A lógica do jogo pedia, para seu cumprimento, alterações nos princípios de ataque.

O jogo caminhava para o zero a zero. Quando faltavam 15 minutos para o término da partida, fim do “experimento”; veio então a grande substituição da minha equipe no jogo: saía o princípio operacional de ataque “manutenção da posse da bola” e entrava a “progressão ao alvo” (terminava o jogo em largura, com muitos passes horizontais, de circulação da bola sem intencionalidade clara de progressão, e começava o jogo de profundidade, vertical, mas sem bolas alongadas, com “desapego” a manutenção da posse da bola, e com chegada rápida ao alvo).

O jogo se mudou completamente.

Como o adversário manteve sua organização de ataque da mesma maneira, o jogo se transformou em um “ataque versus defesa”. Resultado: vencemos por um a zero.

Poderia ter terminado zero a zero (assim como, antes da grande alteração, a partida já pudesse estar com um ou dois gols para uma das equipes). O fato é que quando fora alterada pontualmente aquela variável que estava comprometendo a dinâmica ofensiva de minha equipe no jogo, ele (o jogo) se transformou por completo.

Nesse caso em especial, a alteração de um princípio operacional gerou uma grande alteração no jogo em direção ao cumprimento de sua lógica. Mas nem sempre é assim. Algumas vezes o problema para o cumprimento da lógica do jogo não está no cumprimento ou alteração deste e daquele princípio.

E é bom que isso fique bem claro, porque, equivocadamente, treinadores, pesquisadores e equipes dão maior valor ao cumprimento de um princípio operacional do jogo, em detrimento do cumprimento da lógica do jogo.

A lógica do jogo deve ser sempre a meta a ser cumprida. Princípios operacionais, estruturais, etc e tal, são meios para alcançá-la (a lógica do jogo).

Equipes de futebol devem ser preparadas para o cumprimento da lógica do jogo (e isso é o “jogar bem”).

Cumprir a organização defensiva, por exemplo, de acordo com um modelo de jogo, pautada em determinado princípio, só fará sentido se isso for feito para se alcançar o cumprimento da lógica do jogo.

Caso determinada variável do modelo de jogo não esteja adequada em uma partida (ou momento da partida), é ela, a variável, que deve ser alterada.

Porém, o que tenho notado, é que muitas decisões acabam sendo tomadas para mudar não as variáveis do modelo de jogo, e sim a lógica do jogo.

Como ela (a lógica do jogo) é imutável, decisões erradas fazem com que, na tentativa de se aproximar do jogo e da vitória no jogo, muitos treinadores, pesquisadores e equipes têm cada vez mais se distanciado do próprio jogo e da conquista da vitória.

E aí, o de sempre. Equipes continuarão ganhando e perdendo sem saber exatamente porque.

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