No texto inicial desta série, o foco foi para a questão da ciência e sua aproximação com o futebol. Dizíamos que:
“A ciência busca explicações e os significados dessas explicações. Essa busca permite compreender melhor os fatos e, assim, interpretar de forma mais incisiva, adequando os usos e aplicações, conforme às necessidades de quem está imerso no futebol.
A tecnologia casa perfeitamente com os preceitos da ciência e o profissional deve compreender que nada disso é teoria. Como fazer isso? Compreendendo a ‘Teoria da Tecnologia Esportiva’ para tornar sua prática, fruto de conhecimento e experiência”.
Para chegar à compreensão proposta, é necessário caracterizar o que é a tecnologia em si e quais as suas relações com a ciência, e também, como ambas constroem conhecimento aplicado ao futebol e aos esportes em geral.
Dentre as definições de tecnologia, sintetizamos e desenvolvemos nossas idéias baseados na caracterização do fenômeno como um conjunto de processos e recursos capazes de modificar e transformar a sociedade em todas as suas dimensões (sociais, políticas, econômicas, etc), buscando, desta forma, otimizar e facilitar os interesses dos seres humanos, sejam eles: melhorar qualidade de vida, precisão de diagnósticos, aumento de produtividade ou qualquer outra.
A tecnologia pode ser encarada como fruto da ciência ou como complementar a ela. Não entraremos nessa profunda e incansável discussão. Apenas delimitaremos que ambas estão muito próximas e podem juntas contribuir muito com o futebol.
Em muitos estudos que tratam da relação e dos impactos que a inserção da tecnologia traz para a vida moderna, podemos encontrar algumas questões que ilustram bem muitas coisas que ocorrem no futebol (o que é obvio, já que o futebol não está alheio à produção e aos produtos culturais da sociedade, ainda que, para alguns, ele tenha as suas próprias “leis”, mas… Voltemos aos impactos da tecnologia na vida moderna).
Tanto a tecnologia quanto a ciência não são invenções fora de contextos ou completamente equivocadas que não servem para nada. Ao contrario, são frutos de investidas de nós, seres humanos, movidos por distintos interesses em achar soluções para determinados problemas, os quais estão contextualizados no cotidiano da sociedade.
“A ciência e a tecnologia se baseiam em valores do cotidiano de cada época, que põem em questão as nossas convicções e o nosso conhecimento de mundo. Elas são, na maioria de seus aspectos, a aplicação sistemática de alguns valores humanos, tais como a diligência, a dúvida, a curiosidade, a abertura para novas idéias, a imaginação, e de outros como a disciplina e a perseverança, que precisam ser despertados em todos os seres humanos”. (BAZZO, 1998)
Essa familiaridade dos efeitos com as necessidades que os provocam são contraditórias quando a inserção de novos elementos da tecnologia causa o desconforto na rotina, conforme já tratamos em alguns textos anteriores.
Lima (2000), estudando os impactos e características da nova sociedade, a qual se denomina “sociedade digital”, fala sobre a transição da sociedade analógica, para a digital, de quando “vivíamos em um mundo onde as ideias se manifestavam de forma estruturada”, pegávamos essa estrutura e lógica e “aplicávamos a cada novo conhecimento adquirido para nos facilitar absorção das novas informações disponibilizadas” para uma sociedade na qual “o novo era tão novo ou diferente, que não tínhamos referências anteriores para fazer uso e aprender pelas diferenças e semelhanças com o já conhecido e dominado”.
Isto significa dizer que a aceitação da tecnologia passa pela compreensão das transformações nas formas de observar e entender o mundo, passando de uma lógica enraizada culturalmente, estabelecida na nossa zona de conforto, para uma era de diversidade de informações e velocidade que exige mentes mais abertas e capazes (como veremos em breve no texto que tratará do profissional frente a esses processos).
Continua…
Bibliografia
BAZZO, W. A. Ciência, Tecnologia e Sociedade e o contexto da educação tecnológica. Florianópolis: UFSC, 1998.
LIMA, F. O. A Sociedade Digital: o impacto da tecnologia na sociedade, na cultura, na educação
e nas organizações. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2000.