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O dilema de Muricy

Não sei, de fato, a quantas andam as conversas entre Palmeiras e Muricy Ramalho. Também não tenho ideia de quais seriam os fatores que possam ser decisivos para a escolha ou a recusa ao cargo de novo treinador do Palmeiras.

Dinheiro, provavelmente, não é. Muricy já foi muito bem remunerado no São Paulo e continuaria a ter um elevado patamar salarial no Palestra Itália. Garantia de trabalho de longo prazo também não deve ser um empecilho, principalmente porque o Palmeiras precisa, até por uma questão de imagem, manter seu treinador por mais tempo que o habitual.

O que deve estar pegando mesmo, a meu ver, é a imprensa. Ou, melhor, o quanto Muricy está preparado para deixar esse delicioso período de duas semanas de férias.

É muito provável que, na cabeça do treinador, um filme deva estar passando por sua cabeça. Viagens, concentrações, entrevistas coletivas… MEU DEUS! Não, por favor, não as coletivas…

Muricy encarnou, em três anos de São Paulo, o protótipo do ranzinza. Respostas atravessadas, pouca chance de se relacionar bem com os jornalistas, falta de vontade de falar, seja na alegria, seja na tristeza.

E, nessa disputa, estou totalmente do lado de Muricy. Nesses dias de sossego com a família, o treinador deve estar pensando, e muito, se vale o sacrifício de, mais do que ir ao treino, mais do que aguentar a pressão de jogadores e torcedores, mais do que ter de se relacionar com dirigentes, ter de enfrentar, todo dia, a mesma rotina, as mesmas perguntas, as mesmas indagações de por que o time vai mal ou por que ele vai bem.

Muricy poderia colocar uma condição para a diretoria do Palmeiras para aceitar o convite de ser o treinador. Entrevista coletiva, apenas duas vezes por semana. Uma antes de cada partida.

Depois dela, deixem os jogadores falarem.

É bem provável que a vida de Muricy, e da própria mídia, seria mais tranquila com um pré-requisito desses. E, no final das contas, quem sabe a imprensa começaria a refletir qual é, afinal, o real sentido de uma entrevista coletiva…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Seleção Brasileira de Futebol e os atalhos do jogo: menores distâncias percorridas e mais partidas vencidas

Chegou ao fim a “Fifa Confederations Cup”, ou simplesmente Copa das Confederações. A seleção brasileira de futebol foi mais uma vez campeã. Mas, como tudo passa muito rápido nesse nosso mundo, já não é mais notícia nos jornais esportivos Brasil a fora. Kaká, Copa Libertadores, pré-temporadas na Europa, Copa do Brasil, etc., etc., etc… Novos (ou velhos) assuntos vão chegando e saindo do noticiário esportivo, e a vida segue.

Pois bem. Ainda que possa parecer notícia atrasada – mas não tendo nada a ver com notícia e muito menos atrasada – quero hoje falar da Copa das Confederações; ou melhor, da seleção brasileira de futebol na Copa das Confederações.

O Brasil das confianças e desconfianças teve um desempenho muito bom. Se considerarmos que “no futebol competitivo, um bom treinador e uma boa equipe são os que vencem, são os campeões” e que isso “passa pela valorização futebolística e humana dos jogadores, pelo interesse que eles colocam no que fazem, pelo valor que eles descobrem em si mesmos e nas vitórias que perseguem” (MANUEL SÉRGIO, 2008, p.124), podemos dizer que o desempenho foi muito bom mesmo.

Se buscássemos entender e analisar o rendimento da equipe brasileira por outras lentes, que não somente a do resultado final, certamente teríamos muito para discutir. Talvez mais prós, talvez mais contras. O fato é que a seleção do Brasil foi campeã, e isso vai ser usado a favor do meu argumento que virá na seqüência.

Recentemente levantei, aqui nesse espaço, questões e propus reflexões a respeito de outra forma de olhar para a fisiologia e para a preparação física no jogo de futebol. Sem querer mais polêmicas, mas com o intuito de uma sutil provocação quero dizer ainda aos que não tiveram acesso à informação: a seleção brasileira de futebol, a equipe campeã da Copa das Confederações foi a equipe que percorreu menor distância nos jogos dentre todas as participantes da competição.

Vejamos a figura abaixo:
 

 

Observemos que a equipe do Brasil não só foi a que percorreu a menor distância nos jogos, como também comparada a seleção dos Estados Unidos, que foi a vice-campeã, “desbravou” 34 quilômetros a menos no total percorrido nos cinco jogos que jogaram. Se levarmos em conta que um jogador em uma partida percorre em média entre 10 e 11 quilômetros, podemos dizer que a seleção norte-americana “correu” para mais três jogadores quando comparada ao Brasil.
 
A seleção brasileira ganhou, percorreu menor distância (correu pelos “atalhos”?!) e ainda – é só consultar o site da Fifa para conferir – acabou correndo menos também (em intensidade relativa as velocidades de deslocamento).
 
Não estou eu aqui a defender que não se corra em campo, que os jogadores não precisam se deslocar e que a movimentação não é importante no jogo.
 
Nada disso.
 
O que quero mais uma vez, é chamar a atenção para o fato de que o jogador se desloca jogando (por motivos, significados, intenções), para resolver problemas do jogo.
 
Isso quer dizer que para uma tarefa qualquer do jogo que precise ser resolvida, resolvê-la não significa necessariamente correr. Da mesma forma, percorrer maiores distâncias (ou correr mais) não vai necessariamente ser solução para os problemas que surgem no jogo.
 
Se fosse uma maratona, ou outra prova de corrida e resistência, e não o jogo de futebol, certamente os números da seleção brasileira com relação a distância percorrida não seriam animadores quando comparados aos dos seus adversários.
 
Há quem prefira dizer que esses resultados significam tão e somente que os jogadores brasileiros estavam mais cansados do que seus pares oponentes.
Pode ser. O fato é que, por esse ou por outro motivo qualquer, prefiro a idéia de que o Brasil correu “melhor” (e não “mais”) para resolver os problemas do jogo (e os seus).
 
Inegável é que a seleção brasileira, foi circunstancialmente melhor, afinal venceu a competição.
 
E para terminar, uma coisa:
 
– Ou eu ou o Van Gaal, um dos dois deve estar com problemas para entender futebol neste momento. Ao que me consta, e espero estar errado, ele não quer contar com o Lúcio (o Lúcio, capitão da seleção brasileira de futebol!) na sua equipe na Alemanha. Com tantas conquistas do treinador holandês, quem realmente deve estar com problemas sou eu. Espero melhorar…
 
Citação presente no corpo desse texto:
SÉRGIO, M. Textos insólitos. Lisboa: Instituto Piaget. 2008.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Lições da final da Copa do Brasil

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Esta semana foi marcada no cenário futebolístico do Brasil pela vitória do Corinthians na Copa do Brasil.

Pudemos tirar duas importantes lições desse fato, que devem servir de exemplo para os outros clubes e demais organizações de futebol do nosso país.

A primeira delas é positiva. Em diversas oportunidades, temos dito neste espaço que o futebol nacional precisa ser alavancado pela presença de grandes jogadores. O Brasil é sem dúvida nenhuma o maior produtor de craques, e é inadmissível que nossos campeonatos não tenham um nível de excelência em campo.

Temos ressaltado também que é impossível segurar nos nossos clubes os grandes astros da atualidade, como Kaká, Robinho, etc. Porém, perdemos todos os anos jogadores espetaculares que, se tivéssemos uma maior organização interna, não iriam para o exterior.

Além disso, temos a chance de trazer de volta grandes ídolos que já fizeram carreira internacional, e, hoje, estão mais perto da aposentadoria e ainda jogando no exterior.

A vinda do Ronaldo para o Corinthians foi não só uma grande jogada de marketing, como também influenciou diretamente os resultados do time dentro de campo. Esse modelo de ação estratégica deve ser ressaltado e seguido por outros clubes, na medida de suas capacidades. Tudo em prol de um maior desenvolvimento de nossos campeonatos pátrios.

A lição é que temos que fazer o possível para manter, ou trazer de volta, nossos grandes valores.

A segunda grande lição da final da Copa do Brasil é a questão disciplinar. E essa é negativa.

Em um jogo de grande interesse por parte de investidores, mídia e torcedores, não podemos mais aceitar impunemente cenas de incitam a violência e o anti-jogo.

Dentro desses atos, incluem-se as cenas de brigas, que são obviamente lamentáveis, mas também a cena do jogador do Corinthians que impede que seu companheiro de clube levante-se, sugerindo que permaneça no gramado para retardar o reinício do jogo. Esse ato, naquela altura do jogo, provocou uma reação desmedida dos jogadores do Inter e deve ser igualmente repreendida.

Uma final como aquela aguça o emocional de quem quer que assista a partida. São esses sentimentos que fazem com que exista investimento no futebol.

E nosso papel é proteger esses momentos e blindá-los contra qualquer tipo de atitude negativa.

E parabéns ao Corinthians e ao Inter pelo belo espetáculo de futebol. Todos nós agradecemos.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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O meu doutorado

Acabei o primeiro capítulo do meu doutorado. Na verdade, na verdade, é o segundo. É sobre a indústria do futebol europeu. O primeiro foi sobre o ambiente brasileiro. Só que esse eu escrevi em 2006 e em português. Ou seja, além de desatualizado, está na língua errada. Esse de agora, sobre o futebol europeu, resolvi escrever direto em inglês para poupar tempo. Não é nada fácil. Mas é melhor do ter que traduzir depois.

Nesse capítulo foram utilizadas 84 referências diferentes, 67 artigos e 17 notícias de jornais diversos. Ainda não contabilizei os livros e as revistas, mas deve ser pouco mais do que isso. O grosso é artigo mesmo. Tem até um falando sobre o futebol norueguês.

Eis o que tem de interessante:

– Os clubes da Premier League devem, conjuntamente, mais do que £3 bilhões. Metade disso é responsabilidade do Manchester United e do Chelsea;

– Em 10 anos, a receita dos clubes das cinco principais ligas da Europa cresceu 284%. O gasto com salários e transferências, em compensação, subiu 323%;

– De 1999 a 2001, o Leeds pegou £109 milhões emprestados e gastou £70 milhões só com transferências. Deu no que deu;

– A receita de camarotes do Emirates, novo estádio do Arsenal, gera a mesma grana por jogo que o antigo estádio inteiro, o Highbury;

– O Chelsea gastou £20 milhões em seu novo CT;

– Em 1991, sem a Premier League, a Sky tinha 2,1 milhões de assinantes. Em 2008, depois de 16 anos com a Premier League, a Sky tem 13,5 milhões de assinantes;

– O site da Bundesliga teve em média mais de 90 milhões de pageviews por mês na temporata 2007-2008;

– Os quatro clubes com maiores contratos de patrocínio da Premier League receberam em conjunto £ 36 milhões na última temporada. Os quatro menores receberam 10 vezes menos;

– Nos últimos 10 anos, todas as principais ligas da Europa viram um significativo aumento de torcida no estádio, menos a Itália, que passou de 31 mil a 23 mil torcedores por jogo.

Fora isso, é tudo enrolação, que se arrasta por 21 longas páginas. Trabalho acadêmico bom é aquele que você escreve o conteúdo de uma linha em uma página.

Peço desculpas pelo teor da coluna. Sei que tem coisa muito mais importante pra falar do que o meu doutorado. Mas, acredite, o dia que você tiver a infeliz idéia de fazer uma tese de doutorado, você vai perceber que não consegue falar sobre mais nada além dela.

O primeiro capítulo, ou o segundo, pelo menos, já foi.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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O jogo da lei contra o mercado

O Direito, expressado por sua regulamentação normativa, normalmente, surge como consequência dos acontecimentos sociais, não como sua causa. 

A legislação, quando é meramente proibitiva, costuma engessar a capacidade de evolução da atividade humana. É melhor regulamentar do que apenas proibir. Sempre. 

No futebol, não seria e não é diferente. Legislação desportiva – amplamente considerada aqui, e que inclui regulamentos e normativas da própria Fifa e desígnios do sistema jurídico no Brasil – e as movimentações dos atores no grande mercado esportivo mundial costumam vivenciar momentos de tensão e energia transformadora, de tempos em tempos, para, como nos terremotos, acomodarem-se as placas dos interesses em disputa.

Não só nestes casos, mas também isso ocorre, ainda que de maneira latente, em contratos válidos e em vigor, que se transformam na chamada “lei entre as partes”.

Ilustremos este embate de forças por meio de quatro recentíssimos temas que impulsionam a discussão sobre a prevalência de um sistema sobre o outro.     

1. Miranda: o jogador foi para a seleção brasileira campeã da Copa das Confederações e teve visibilidade internacional ainda maior do que o prestígio conquistado em tempos de São Paulo. O Milan demonstrou interesse, segundo o próprio jogador. Lei: paga-se a cláusula penal em favor do São Paulo, estimada em US$ 20 milhões e o jogador é transferido. Mercado: o São Paulo necessita de dinheiro em caixa e admitiu vender o jogador por menos. Vitória para o mercado. 

2. Kaká: foi para o Real Madrid vendido pelo Milan por estimados US$ 65 milhões. Talvez a cláusula penal de seu contrato fosse maior do que isso e o valor/utilidade do jogador sejam maiores. Mas o Milan também precisava de dinheiro. Vitória para o mercado.

3. Copa Paraná: a Lei Pelé obriga as entidades de administração do esporte que, em seu âmbito de atuação, federal ou estadual, ofereçam calendário de competições oficiais durante o ano todo para os clubes filiados. No Paraná, para a disputa da copa estadual, no segundo semestre, houve apenas três clubes interessados. Os demais alegaram prejuízos insanáveis para disputá-la e a competição foi cancelada. Vitória para o mercado.

4. Lúcio: um dos melhores zagueiros do futebol mundial nos últimos anos e capitão da seleção brasileira, além de nove anos de sucesso no futebol alemão. Com este histórico, acaba de ser dispensado pelo novo técnico de seu clube, Louis Van Gaal, do Bayern de Munique, mesmo tendo mais um ano de contrato. Provavelmente, jogador e clube entrarão num acordo amigável para liberação e, por ser o Lúcio quem é, será contratado por um grande clube do futebol internacional, por valores muito menores do que seria em uma transferência como a de Kaká. Vitória para o mercado.

Em minhas contas, goleada do mercado sobre a lei, por pujantes 4 X 0.

Essa é a tendência. As tentativas da lei de encerrar o mercado numa redoma regulatória, fundamentalmente, servirão para conter abusos e equilibrar forças e disputas de poder entre os atores do palco chamado futebol.

Não é suficientemente eficaz e inteligente enclausurar o futebol num escafandro de ferro chamado contrato, pois ele irá quebrá-lo ou morrer sufocado, se não houver este equilíbrio de forças e clareza de propósitos entre aqueles que o firmaram e, por que não, quando chega o momento de resolvê-lo consensualmente. 

O mercado, atualmente, é time grande e global, como Real Madrid, Milan, Barcelona, Manchester. A lei, talvez seja convidada para disputar a Copa Paraná.

Em 2010, se houver quórum…

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br