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Entre o Direito e o Jogo na Copa

Bom-dia, pessoal! E bem-vindos a mais um “Entre o Direito e o Esporte”, onde vamos continuar a nossa conversa sobre como o direito aparece na Copa do Mundo®FIFA de 2018 na Rússia. Hoje vamos conversar sobre como as regras do jogo de ontem não são as mesmas de agora. Vamos conversar sobre as mudanças apresentadas pela International Football Association Boarde que já valem para esse junho.
E para deixar mais fácil, dividi essas mudanças em três pés que são a base dessa coluna de hoje: para começar, vamos ver como essas mudanças nas regras aparecem para os atletas. Depois, vamos dar uma olhada em como as coisas mudaram para os técnicos. E terminamos hoje trocando uma ideia sobre o árbitro e a Copa do Mundo.
Bora lá?
E o que mudou para os atletas nessa Copa do Mundo®? Mais regras! Imagina que você é um jogador e voltou no tempo para o Brasil em 2014. Imagina que seu time se classificou para a final. E imagina que você foi substituído faltando três minutos para comemorar o título. Isso mesmo, perdeu playboy– não vai comemorar na beira do campo até o jogo acabar!
Só que agora em 2018 você pode! E você vai poder sentar bonitinho no campo de reservas da sua seleção mesmo depois de ser substituído! Mas vale lembrar um detalhe, se você saiu de campo e voltou sem a autorização, “bão”, é falta… aliás, se interferir no jogo pode ser até pênalti!
Essas foram as duas principais mudanças… ah, claro, teve mais uma e pode ser resumida com um “não mordas”. Pois é, a IFAB incluiu nas regras que “morder o amiguinho durante a partida” é um “não-não” – ou seja, uma falta direta.
Tá, beleza. E para os técnicos? Mudou alguma coisa? Imagina que você é um jogador e voltou no tempo para o Brasil em 2014. Imagina que seu time se classificou para as quartas e foi para o tempo extra. Imagina que você se machucou. E aí? Seu time ficou com um jogador a menos, né?
Pois é, isso mudou já para essa Copa! E agora o seu time pode ter uma substituição “extra” para o tempo “extra”! O que é lindo para o técnico do seu time – né não? Esse jogador a mais sempre pode dar uma forcinha extra quando a gente precisa!
E o que mais? Ah, sim! A equipe técnica pode usar tablets (sim, tipo um iPad) no banco de reservar para dar uma olhada em questões táticas e melhorar a segurança do jogador monitorando o que acontece em tempo real pelos sensores que os atletas usam em campo – isso, bem high teche até meio “nossa, tem isso no futebol?” (é, talvez não tão cedo no seu time daqui. Mas já dizem que é moda na Alemanha… melhor deixar para lá, eu sei!).
E para o árbitro… mudou alguma coisa? Aí sim! Aí mudou e muita coisa! Para começar: “quantos dedos você vê aqui?”. Não, você não tá vendo dobrado! Agora tem muito mais árbitro em uma partida e tudo isso porque agora a IFAB “liberou geral” e colocou o tal do VAR na Copa do Mundo – sim, habemus árbitro de vídeo “em campo” (na verdade, fora dele).
Isso leva a algumas questões interessantes! Ponto 01: jogador que entra na área de uso de árbitro de vídeo (beira do campo) é advertido. Ponto 02: jogador que entra na cabine do árbitro de vídeo (vai que tem um louco) é expulso. Ponto 03: em algumas situações o árbitro pode rever um cartão vermelho (juro que quero ver isso acontecer na Copa!) mesmo depois que o jogo recomeçou!!! (imagina, expulsa o Neymar, a torcida chia, juiz desiste?)
Fora isso, o árbitro não pode carregar câmera em campo (afinal, a gente via muito juiz tirando selfie no meio da partida. Né?) e a parada de hidratação não pode demorar mais de um minuto – só me pergunto o que ele vai fazer se demorar mais de um minuto (dar vermelho para todo mundo também ia ser legal e fazer a minha Copa! Não?).
Ah!! Importante, o tempo que o juiz gastar com o VAR e com o tempo de hidratação é “tempo a mais para o jogo”. Então não estranha se aos 43 minutos do segundo tempo você ver uma placa de “25 minutos de acréscimo” – não custa sonhar!
Agora, talvez até mais importante que tudo isso foi a mudança na regra do… impedimento! (afinal, todo mundo super entendia a regra antiga e era algo mega claro para todo mundo. Né?). Agora o que define se “pode” ou “não pode” é o primeiro toque do jogador e não o final do movimento!
Assim, o cara encostou na bola e o amigo tava “moscando”… danou e é impedimento!
Falando em impedimento, acho que estou no meu aqui já… pelo menos na regra antiga já que terminei meu movimento de escrever por hoje aqui no que a gente acha “Entre o Direito e a Copa do Mundo” – mais regras, sim! E espero que tenham gostado dessa nossa segunda semana no especial sobre a Copa do Mundo®FIFA de 2018 na Rússia aqui no “Entre o Direito e o Esporte”!
Por hoje é isso, eu fico por aqui e nos vemos na próxima sexta-feira para conversar sobre o Regulamento da FIFA sobre esse Mundial. Combinado? Deixo meu convite para falarem comigo por aqui, pelo meu LinkedIn ou pelo meu Twitter. Bom final de semana, e vejo vocês logo mais… fui!

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O equilíbrio para decidir no futebol

Ainda temos no Brasil o costume de achar que os melhores jogadores juntos vão formar o melhor time e alcançar os melhores resultados. Ou então para comparar a eficiência de duas equipes pegamos jogador a jogador por posição e tentamos ver qual é a melhor. Talvez isso funcionasse se o jogo não fosse complexo, caótico e dinâmico. Mas ele é tudo isso e mais um pouco.
Ter os melhores jogadores não garante absolutamente nada. É claro que se pegarmos o líder da Serie A do Campeonato Brasileiro e colocarmos diante do último colocado da Serie D a diferença técnica irá prevalecer. Porém, em times de poderio parecido há outros aspectos que farão mais diferença do que a qualidade técnica individual.
É comum vermos jogos em que temos a impressão de que uma equipe tem quatorze jogadores em campo. Ou então outras que parecem ter nove – e não por ter alguém expulso e sim por conta das relações entre os integrantes da equipe que não estão ajustadas. Isso se dá também através da potencialização das individualidades que um jogo coletivo bem elaborado produz. Você pode, por exemplo, ter os quatro melhores atacantes do mundo jogando juntos. Porém se eles não auxiliarem na marcação em algum momento a habilidade ofensiva não será suficiente para a vitória. O todo sempre será maior que a soma das partes.
Não quero tirar aqui a magia dos craques. São eles que nos fazem amar o jogo. Mas o romantismo acabou. Não temos mais jogos que terminam 7 x 6. Hoje ganha quem erra menos e não quem acerta mais. Não defendo a robotização do jogo. E sim a ideia de que plano tático, estratégico e funções bem definidas com e sem a bola dentro de um time cada vez mais estarão sobrepostas ao talento individual. Nem o Real Madri da época dos Galáticos tinha onze jogadores em campo que eram os melhores das suas respectivas posições. No futebol atual o melhor time é o mais equilibrado.
 

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O futebol explica o Brasil e vice-versa

Há uns dias o treinador do Coritiba, Eduardo Baptista, fez uma declaração acerca da greve que parou o país e dos desdobramentos políticos para por fim a ela. Muitos compatriotas pensam de maneira semelhante e compartilham o desabafo. A verdade é que estamos todos cansados de um sistema que privilegia poucos em detrimento de muitos, de nepotismo, tráfico de influência e interesses políticos. De resultados imediatos (eleições) e sem planejamento a longo prazo (sem pensar nas futuras gerações). Das estatais que abastecem este sistema e os benefícios infinitos e vitalícios aos que não servem: ou não possuem quaisquer relações ao serviço público ou aos que possuem, são demasiados.

É baseada nesta estrutura que o futebol do Brasil foi construído. Ademais, os clubes fornecem uma ampla base de eleitores. Dentro de campo, como reflexo da sociedade, a máxima de levar vantagem nas situações conduz à dissimulação, à falsidade e à mentira. Em alguns casos, à extorsão. No desafio da autoridade do Árbitro, por analogia, é desafio à autoridade das leis que regem o país e à nossa Carta Magna: desde não parar na faixa de pedestres, conduzir acima da velocidade permitida ou sonegar impostos.

Atletas do São Paulo, vice-campeão da Copinha, em Janeiro, aplaudem os campeões do Flamengo: um gesto à altura da grandeza do clube. Foto: Divulgação/FPF

 

Paulatinamente o respeito se perde e a confiança entre os cidadãos, também. Não há autoridade, só se percebe a impunidade. É isso que queremos deixar para as futuras gerações, nossos filhos e netos? Não há dúvidas de que queremos o melhor cenário para todos eles, e isso se constrói com respeito, cultura de diálogo e meritocracia. O que é mais importante: as eleições ou o Brasil? Os títulos ou a existência e sustentabilidade de um clube? Disso, surge a pergunta: um clube vive apenas de títulos? Não! A preservação da identidade, a cultura, os princípios; a governança, transparência, meritocracia e filosofia de trabalho da instituição são seus pilares e conduzem aos resultados. Meritocracia, governança, respeito e transparência são características pouco observadas no universo da gestão do futebol brasileiro.

Tampouco no governo.

Portanto, o futebol possui um papel importantíssimo em relação à sociedade, forma opinião, serve de exemplo às crianças e adolescentes deste país. A sociedade dá muitos créditos à modalidade e a própria nacionalidade brasileira foi celebrada neste esporte. Que ele também sirva de instrumento para a mudança que tanto queremos para o país: governança, transparência, meritocracia e respeito. Para os nossos filhos e nossos netos.

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Atenção aos “detalhes” no futebol. Eles fazem a diferença

Em função da recente transformação metodológica e conceitual que o treino de futebol vem passando (saindo da fragmentação e tentando atender à uma lógica complexa), estranha e erroneamente, a atenção e o treinamento dos aspectos mais individuais do jogador, tem sido esquecida ou, até mesmo, negligenciada.
Na coluna de hoje, dentre estes aspectos micro, ao nível do “detalhe”, destacamos a capacidade de jogar com a cabeça erguida, com e sem a bola, olhando ao redor sempre que possível, de maneira a tirar vantagem de cada situação.
Algumas destas vantagens que o jogador pode tirar, quando está permanentemente olhando (de preferência antes de receber a bola ou participar diretamente da jogada) são:
– Aumento da percepção do que está ocorrendo ao seu redor – captação de informações;
– Controle do adversário direto e/ou do espaço;
– Antecipar o que poderá acontecer no lance e nos próximos lances;
– Melhoria do seu perfilamento e ajuste corporal;
– Facilitar a escolha do gesto técnico (ofensivo e defensivo) que deve ser utilizado;
– Facilitar a escolha do espaço que deve ser ocupado;
– Levar vantagem na ação subsequente;
– Potencializar acertos e, consequentemente, evitar erros;
Vejamos isso de maneira prática, no vídeo abaixo:

(O vídeo acima contém imagens da FIFA, UEFA, Premier League, La Liga e @allasfcb)

 
Como vimos, estar com o radar[1] ligado favorece o desempenho do jogador e, consequentemente, da equipe. Sem dúvida, um pormenor, que na realidade, quando pensamos no alto nível, trata-se de um pormaior.
Assim, em nosso processo de treino, devemos criar exercícios que propiciem que esse tipo de situação aconteça muitas vezes.
Já dizia o ditado: “detalhes fazem a perfeição, e a perfeição não é um detalhe”.
 
 
[1]Radar: dispositivo que permite detectar objetos no espaço.
 

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Entre o Direito e a Copa do Mundo

Bem-vindos ao mês da Copa do Mundo aqui no “Entre o Direito e o Esporte”. Esse mês é aquele que todo mundo espera. Esse mês é aquele que o nosso país para. Nesse junho começa a Copa do Mundo FIFA®de 2018 na Rússia. E como era de se esperar, junho aqui na nossacoluna da Universidade do Futebol vai ser sobre essa festa do futebol como globalização, como cultura, e como negócio.
Como todo começo de mês, já vou adiantar as nossas próximas quatro semanas aqui e depois dar uma “resuminho” do que a gente vai ver entre o Direito e a Copa do Mundo.
Nessa próxima semana a gente vai conversar sobre as “regras do jogo” antes que o jogo comece. Depois vamos dar uma olhada no regulamento da Copa do Mundo (pois é). Daí na quarta semana vamos ver o regulamento de marketing e de mídia da FIFA para o seu maior evento. E fechamos o mês falando sobre as regras do torcedor nos estádios da Rússia.
Bora lá?
Imagina que você voltou para o seu tempo de escola. Imagina que lá você vai começar uma prova. Imagina que no comecinho dessa prova tem uma série de “regrinhas” que falam o que você pode ou não pode fazer durante a prova. O regulamento sobre as regras do jogo é a mesma coisa e serve para a Copa do Mundo.
Afinal, como todo jogo, o futebol precisa de regras para ser “jogável” dentro das quatro linhas – e essa é a regra geral mais geral que tem até. Agora, as regras são sempre as mesmas? Não necessariamente! E é justamente isso que vamos ver semana que vem, o que mudou para essa Copa do Mundo – e vou te falar, só com o tal do VAR já mudou muita coisa!
Agora imagina que antes de você chegar na sala para a sua prova você foi parado no corredor pelo diretor. Imagina que você tinha levado seu cachorro com você para a escola – sem querer, já que ele te seguiu e você nem percebeu. E imagina que ninguém pode levar cachorro lá. Essa é uma regra que não é sobre a prova só que acaba dando as caras no dia dessa prova.
O Regulamento da Copa do Mundo FIFA de 2018 na Rússia é bem isso! É a regra geral para o jogo que não acontece em campo. Esse regulamento faz com que o jogo dentro de campo possa acontecer porque tudo fora de campo está em ordem. E é isso que a gente vai conversar na terceira semana de junho!
A prova começou, você está respondendo as questões, e de repente um flash. Sim, o seu professor estava gravando a sua sala fazendo a prova. E pode? É essa a pergunta que o Regulamento sobre Mídia e Marketing responde.
A Copa do Mundo é o maior evento de futebol, cada um de nós quer assistir e ficar de olho em tudo o que acontece. A Copa do Mundo vende desde pacote de televisão até pacote de férias, e deixa alguém da Islândia perto de alguém do Egito. A Copa do mundo tem seu valor para quem quer chamar a atenção. E para chamar a atenção com “a competição da FIFA”tem que seguir regras, e é isso que vamos ver na quarta semana desse mês!
Depois de todo o caos que foi fazer com o que seu professor parasse de gravar a prova, o jogo continuou. A sala continuou fazendo a prova. E você continuou com uma pulga atrás da orelha. Parecia que ainda tinha alguma coisa estranha ali. E, ahá, tinha mesmo! Os seuspais estavam lá, e tinham levado os seus cadernos e rojões para festejar a sua nota. E pode isso?
É essa a pergunta que o Código de Conduta nos Estádios da Copa do Mundo FIFA de 2018 na Rússia responde! Lá vai ter um pouco de tudo sobre o que o torcedor pode ou não pode fazer dentro das arenas russas. E, acredite, para alguns vai fazer até mais sentido ter seuspais assistindo você fazer a sua prova! E é assim que vamos fechar o mês de junho aqui na nossacoluna.
Como a gente já tem conversado desde dezembro, entre o direito e o esporte a gente acha um monte de regras que dão as caras no nosso dia a dia como torcedor, como atleta, e como alguém que trabalha com o esporte. E na Copa do Mundo não é diferente!
Por hoje é isso, eu fico por aqui e nos vemos na próxima sexta-feira para conversar sobre as regras do jogo dessa próxima Copa do Mundo aqui no “Entre o Direito e o Esporte”. Combinado? Deixo meu convite para falarem comigo por aqui, pelo meu LinkedIn ou pelo meu Twitter. Bom final de semana para vocês, e até a próxima!
 

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Osmar Loss x Fábio Carille

Pegou todos de surpresa na semana passada a “paralisação” do técnico Fábio Carille de “abastecer” o Corinthians com os seus trabalhos. É claro que apesar dos rumores, não se esperava que em questão de dias o treinador bicampeão paulista e atual campeão brasileiro deixasse o Timão. Como consequência, também repentina, Osmar Loss assumiu a equipe. E na loucura do calendário brasileiro, dois jogos em quatro dias. Duas derrotas corintianas.
Não dá para traçar qualquer paralelo e relação dessas derrotas com Osmar Loss. Ele não teve tempo para treinar. Para colocar qualquer ideia em prática. Concedeu a entrevista coletiva de apresentação na quarta-feira, na quinta encarou o Millonários e no domingo pegou o Sport. É bem verdade que emocionalmente nunca é bom perder em estreias. Ainda mais duas derrotas assim na sequência. Mas cabe ao torcedor corintiano entender não só esse contexto de fatos inesperados, como também visualizar que o Corinthians sem Cássio, Fágner, Ralf, René Júnior e Clayson fica fragilizado. Independentemente do treinador.
Osmar Loss é muito prestigiado por todos que trabalham com categoria de base no Brasil. Seu currículo vencedor impõe respeito. Ele teve uma formação sólida no Internacional e vê o técnico Guto Ferreira como uma referência.
As equipes de Loss sempre foram fortes e organizadas defensivamente, procurando um ataque mais vertical e direto, mas principalmente com um futebol muito intenso e vibrante nos quatro momentos do jogo (ataque, defesa, transição defensiva e transição ofensiva). Se pegarmos a grosso modo, não foge muito das características do Corinthians campeão de Carille.
É claro que o ambiente do futebol profissional é bem diferente do da base. Loss precisa entender isso de uma maneira muito rápida e responder positivamente já no próximo jogo. E se a torcida e a diretoria corintiana derem tranquilidade, a adaptação dele será mais fácil.
 

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Sob controle: criação de subsidiárias para trabalhar o conteúdo multimídia do futebol

Recentemente o Bayern de Munique anunciou a criação de uma subsidiária que fará o controle multimídia do conteúdo gerado por todos os produtos do clube, seja ele para a TV, rádio, redes sociais e mídia impressa. Tudo isso para aprimorar seu conhecimento digital mas, sobretudo, ter o controle de tudo que é gerado pela instituição.  

Ao trabalhar neste sentido, o Bayern se projeta de maneira mais competitiva no mercado, em busca de manter e também ampliar o seu mercado consumidor. Ajuda no processo de internacionalização da marca e, a prazo, colabora em atrair novos investidores e patrocinadores. A televisão segue sendo importante, entretanto, há inúmeros outros meios, veículos derivados da TV que o clube tem mais autonomia para trabalhar. E tudo isso será transmitido com base na tradição, nos valores e histórico da instituição. Em outras palavras, a identidade do Bayern será divulgada, a cativar e atrair mais simpatizantes. Ademais, fornece um “know-how” que pode ser oferecido à indústria do esporte pelo mundo afora.

O conteúdo é vasto. Talvez infinito. A começar, uma organização esportiva (clube, liga, torneio, evento) possui história, palmarés, efemérides. Recintos esportivos memoráveis. Torcedores, simpatizantes e fãs. Um clube possui inúmeras categorias, quer seja a faixa etária e o gênero. Treinos, conferências de imprensa. Possui ídolos, que têm seus próprios ídolos. É bastante coisa que pode ser feita, trabalhada em diversas ocasiões, para os mais distintos públicos-alvo e em muitos idiomas.

Sede do FC Bayern de Munique |Foto: Divulgação/FC Bayern München

 

Portanto, faz bem o Bayern e organizações esportivas com semelhante iniciativa, a de terem uma empresa que tenha o controle multimídia do conteúdo gerado pela organização. De novo aqui neste texto a frase usada na coluna anterior: “Se a Disney fosse um clube brasileiro, venderia o Mickey Mouse e não os seus desenhos animados”. Pois bem, é o controle do “desenho animado” que o Bayern está a fazer.


 

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A importância de lembrar que o atleta é humano

A imagem do esporte no último fim de semana foi o choro do goleiro Loris Karius, 24. Titular do Liverpool, o alemão cometeu duas falhas gritantes na decisão da Liga dos Campeões da Uefa e foi determinante para a derrota por 3 a 1 para o Real Madrid, que amealhou sua 13ª conquista na competição. O camisa 1 do time inglês pediu desculpas para os seus torcedores, mãos unidas e semblante emocionado. Desabou no gramado, chorou de forma acintosa e mostrou em poucos minutos o quanto é errado excluir de qualquer análise sobre o jogo o fato de todo atleta ser, antes de qualquer coisa, um ser humano.
“Não consegui dormir até agora. As cenas ainda estão correndo por minha cabeça de novo e de novo. Peço infinitas desculpas aos meus colegas de equipe, aos torcedores e a toda a comissão técnica. Sei que estraguei tudo com meus erros e decepcionei vocês”, escreveu Karius no domingo (27), um dia depois da decisão da Liga dos Campeões, em seus perfis oficiais em redes sociais.
O primeiro erro de Karius aconteceu aos 6min do segundo tempo, quando o placar ainda não havia sido alterado. O goleiro tinha a bola dominada em suas mãos, mas errou a reposição e arremessou nos pés de Benzema. Com a meta vazia, o francês só precisou desviar para as redes. O Liverpool chegou a empatar – gol de Sadio Mané –, mas Bale fez o segundo do Real Madrid de bicicleta, sem chance para o camisa 1 rival. O drama do alemão aumentou a sete minutos do fim, quando o mesmo Bale chutou de longe – e no meio do gol. A bola passou entre as mãos de Karius e selou o placar.
Karius está longe de ser unanimidade no Liverpool. Contratado do Mainz 05 em 2016, ganhou a posição do belga Mignolet na segunda metade da temporada 2017/2018, mas viu a diretoria da equipe inglesa seguir em busca de outro goleiro. O brasileiro Alisson, atualmente na Roma, foi um dos nomes procurados.
Os erros diante do Real Madrid fizeram muito mais do que alimentar a desconfiança. Pela proporção e pelo momento decisivo, é provável que afetem de forma definitiva os próximos passos de Karius no futebol. A repercussão das falhas atinge níveis individuais (a posição, a continuidade no Liverpool e o futuro no futebol) e coletivos – o alemão prejudicou as aspirações de seus companheiros, que (também) lutaram muito para chegar à decisão, e também sepultou as esperanças dos torcedores. Nesse contexto, importante lembrar: os ingleses já eram azarões e ainda perderam no início da decisão o atacante Mohamed Salah, sua principal referência técnica.
A proporção dos erros de Karius é gigante em qualquer âmbito. O choro, contudo, não se deve apenas a isso. Na hora, no calor do jogo, é até difícil imaginar que o goleiro conseguiu contextualizar suas falhas. É mais fácil imaginar isso numa comparação com a reação de Guilherme Mantuan, 20, lateral direito do Corinthians. O camisa 2 escorregou ao dominar uma bola no último domingo (27), aos 47min do segundo tempo, e ofereceu ao atacante Rossi o segundo gol do Internacional. Os gaúchos venceram por 2 a 1.
Assim como Karius, Mantuan chorou muito. Ainda em campo, foi consolado por companheiros e até rivais. O jogo não era decisivo, e um revés fora de casa não chega a ser um absurdo em uma competição de pontos corridos. A falha pode ter custado um ponto ao Corinthians, mas é bem mais fácil esconder isso no todo do que lidar com os erros do goleiro do Liverpool.
Um exemplo diferente aconteceu no jogo do Botafogo no último domingo. Jefferson, ídolo e um dos mais experientes do elenco alvinegro, errou em uma saída de bola e proporcionou o primeiro gol do Vitória. Não chorou, não reagiu de forma efusiva. Minutos depois, deu um lançamento longo que originou o empate dos cariocas.
O que Jefferson ensina a Karius e Mantuan é que o esporte, mais do que praticamente todos os outros segmentos, oferece incontáveis chances de reação e de apagar os erros. Ninguém precisa se limitar a um lance ou a uma partida.
O que os dois ensinam a todos nós é que esse processo de reação não é nada simples. Como qualquer pessoa, jogadores podem se abalar com erros no ambiente profissional. Podem sofrer, podem ter milhares de inseguranças em decorrência disso. E se não lidarem com uma comunicação clara sobre processos, metas e expectativas, podem se apequenar a cada falha.
Erros fazem parte de qualquer ambiente profissional. Como lidar com eles é um desafio de comunicação para qualquer pessoa – e não apenas para os gestores de grupo. Karius e Mantuan, quando choraram, também emitiram um pedido de ajuda. Os companheiros que preferiram reagir com críticas e revolta não estão errados, mas esgarçaram – talvez definitivamente – uma relação de grupo que pode ser importante no futuro.
 

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(Re) Estruturando o modelo de formação – Parte 2

A adaptação do jogo ao aluno/praticante passa pela ideia de que as experiências de aprendizagem devem ser recompensadoras e produtivas. Obviamente que num jogo há sempre aquele que obtém maior sucesso em detrimento do outro, mas um ponto importante para uma aprendizagem produtiva é o claro entendimento do que se deve alcançar, seja ganhando ou perdendo.
Então, como tornamos possíveis insucessos ou derrotas, recompensadores? A ideia fundamental neste caso é fazer com que o aprendiz possa participar ativamente e muitas vezes das situações que envolvem o jogo, transformando a atividade em algo motivador e proporcionando uma grande densidade de ações e decisões. Além do que, pessoas altamente motivadas dedicam maior esforço à tarefa, são mais atentas durante as sessões de treino e estão mais dispostas a praticar por maiores períodos de tempo.
De modo a complementar, a ideia consiste em fazer cada vez melhor o que se pode fazer no jogo, ou seja, melhorar 1) a ocupação do espaço de jogo; 2) as ações tanto com a bola quanto sem a bola; 3) a interpretação do que ocorre no jogo e suas decisões; 4) e aumentar as possibilidades de intervenção.
Scaglia et al (2013), ilustram bem esta ideia ao afirmar que:
“… estruturar o espaço num mini-campo de futebol é relativamente fácil para uma criança de 10 anos. Já um campo oficial requer muita habilidade dos jogadores que, transitando da iniciação à especialização, enfrentam o problema de dominar o espaço de um campo oficial de futebol”.
Ao mencionar que o espaço deve ser estruturado para o aprendiz, ou seja, o campo de jogo deve ser adaptado ao jovem futebolista e não o contrário, o autor acima vai de encontro a um pré-requisito muito importante para uma aprendizagem produtiva; isto é, transformar a atividade em algo mais desafiador, com objetivos realistas e perfeitamente atingíveis. Desta maneira torna-se mais possível conseguir executar as ações desejadas de forma adequada e eficiente.
Uma vez identificado que um aspecto estrutural do jogo (neste caso o espaço) interfere de forma relevante no que diz respeito à aprendizagem, devemos ter em conta que existem outros elementos estruturais que precisam da mesma atenção. Assim, quando nos referimos aos aspectos estruturais do jogo, estamos nos referindo aos elementos que definem a modalidade.
A partir daqui, devemos considerar dois tipos de estruturas e saber diferenciá-las:
– Estrutura formal ou lógica externa do jogo, constituída por uma série de características que tendem a ser comuns a todos os esportes coletivos (espaço de jogo, bola, baliza, tempo/duração do jogo, número de jogadores e suas regras).
– Estrutura funcional ou lógica interna do jogo, a qual também caracteriza os esportes coletivos e consiste em entender o jogo como resultado das interações entre jogadores de uma mesma equipe, com ou sem a bola, estando a equipe atacando ou defendendo, com a finalidade de atingir os objetivos propostos.
Isto nos leva a pensar em possíveis adaptações da estrutura formal para cada escalão. Uma ideia é a utilização de formatos de jogos de 3×3, 5×5 e 7×7, o que facilitaria o processo de aprendizagem já que todas as ações com bola ocorrem próximas aos jogadores e à baliza. Tal diminuição do espaço, somada à uma adequação do tamanho e peso da bola, além de se adaptarem às características do jovem futebolista, permitiria ao mesmo mover a bola com maior precisão, favoreceria a uma participação imediata e a uma melhor organização no espaço de jogo.
Parece compreensível que tais adequações somadas às do tamanho da baliza, do tempo/duração do jogo e das regras do jogo também se fazem necessárias, de maneira que estes aspectos não se convertam em um bloqueio ao desenvolvimento do jogo. Desta forma, estabelecer uma progressão adequada e adaptada na estrutura formal do jogo ajudaria no processo de aquisição de habilidades técnico-táticas que requer o jogo.

Tabela 1. Exemplo de progressão das adaptações na estrutura formal do jogo para cada escalão

*Jogo de 3×3 sem goleiro

 
Ao adequar os formatos de jogo para cada escalão, permite-se que a estrutura formal tenha uma influência muito positiva na estrutura funcional do jogo. Fundamentalmente, o jogo passa a apresentar um aumento significativo de intervenções e um conjunto de situações mais simples que vão ao encontro das motivações dos praticantes, às suas características e ao seu nível de desenvolvimento.
Sustentando esta ideia, estudos realizados por Pérez e Vives (1996) e Casáis, Dominguez e Lago (2011), verificaram que o número de intervenções é maior quanto menor seja o formato de jogo utilizado, de forma que o número de ações como fintas, desarmes, finalizações ao gol, passes e condução de bola em formatos de jogo de 5×5 apresentem uma média de intervenções por minuto quatro vezes maior quando comparado ao formato de 11×11.

Tabela 2. Quadro comparativo entre os formatos de futebol de 7 e futebol de 11

Dados retirados de: Fútbol Base: El entrenamiento en categorías de formación

 
Aplicando a ideia de forma adequada, teríamos um aumento progressivo do campo de jogo e do número de jogadores de acordo com a idade e à medida que estes jogadores vão desenvolvendo suas capacidades no decorrer do processo de formação.
Seguindo a ideia, Ferreira (2013) cita que:
“Desta forma, os jovens futebolistas vão ter o jogo de futebol ajustado às suas características em termos de complexidade, fomentando o gosto pela prática e tornando o seu processo de formação mais estruturado, respeitando uma progressão pedagógica em termos de ensino na procura de um melhoramento a nível de jogo das crianças”.
 
Bibliografia
CASÁIS, L.; DOMÍNGUEZ, E.; LAGO, C. Fútbol base: el entrenamiento en categorías de formación. 2ed. MCsports, 2011.
FERREIRA, F. A transiçãod o futebol de 7  para o futebol de 11 de acordo com os princípios de jogo comuns. 2013. (Mestrado). Faculdade de Desporto, Universidade do Porto.
PÉREZ, L. A.; VIVES, E. V. La importância del fútbol 7 como passo prévio al fútbol 11. El entrenador Español, 70, 12-18, 1996.
SCAGLIA, A. J. et al. O ensino  dos jogos esportivos coletivos: as competências essenciais e a lógica do jogo em meio ao processo organizacional sistêmico. Revista Movimento, v. 19, n. 4, p. 227-249, 2013.

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Entre o Direito e a sua chuteira

Bem-vindos a nossa última coluna de maio aqui no “Entre o Direito e o Esporte”. Hoje vamos fechar o nosso mês do “marketingdo futebol”. E depois de ver nessas semanas o que a gente acha “Entre o Direito e o Marketing do Futebol” e falar um pouco sobre o direito do autor e os sinais distintivos no esporte, nessa sexta-feira vamos conversar sobre as “criações e os segredos industriais” no futebol.
Para deixar tudo do jeito que a gente gosta e mais organizado, segue o mapa do dia: vamos começar com o que é o desenho industrial e como isso aparece na chuteira que a gente acha na loja; depois vamos ver o que é a patente e como isso faz uma chuteira nova aparecer na loja; e fechamos com o segredo industrial e como isso faz com que aquela chuteira daquela marca® que você gosta seja diferente daquela cópia quase igual que a gente não deveria comprar naquele lugar, sabe?
Bora lá, então?

Fonte: www.footyheadlines.com

 
Só de olhar de cara eu te pergunto: o que essa chuteira (que o Pierre-Emerick Aubameyang usou um tempo atrás) tem de diferente da que ele usa hoje? Fácil, a resposta mais simples é “todo esse design chique aí”. E esse é bem o nosso primeiro ponto do dia, o desenho industrial! Que é “todo esse design chique aí” ou, em outras palavras, a forma e o padrão gráfico dessa chuteira.
Essa “cara” da chuteira pode ser protegida quando registrada como “desenho industrial”. Essa “cara” é o “jeitão” da chuteira (como ela aparece para a gente). Essa “cara” tem uma forma (aspectos tridimensionais, como o tamanho) e o padrão gráfico (aspectos bidimensionais, como as cores).
A forma e o padrão gráfico deixam essa chuteira “única”, como essa cor meio amarela (ou laranja?), verde e preta em umas formas diferentes (o swoosh da Nike, as estrelinhas, a forma do raio, e por aí vai) no tipo (Hypervenon) criado pela gigante do Oregon nos Estados Unidos.
Isso dá o valor de mercado ($) dessa chuteira e facilita o trabalho da Nike na hora de fazer o marketing da chuteira e vender para quem joga bola no final de semana, por exemplo. Sem essa proteção, tudo isso seria bem mais difícil.
Fonte: www.footyheadlines.com

Agora você me diz “beleza, concordo. Só que não é só isso que faz diferença nesse trem aí, amigo!”. E eu vou concordar com você, e te agradecer por me lembrar disso! Essa chuteira também é diferente porque ela é feita de alguns materiais específicos colocados juntos de uma maneira determinada (tipo para construir um muro, sabe? Tijolo, cimento, tijolo).
E aí que está o ponto principal! Isso tudo depende de dois tipos de “criações industriais”: a patente de invenção (como os materiais específicos) e a patente de modelo de utilidade (a maneira determinada de colocar esses materiais específicos). E o jeito “mais fácil” de ver isso é olhar bem embaixo da chuteira, olhar as travas da chuteira.
Essas travas são feitas com um material específico que alguém criou para resolver um problema técnico (“como fazer uma trava boa”) das chuteiras de futebol (patente de invenção). Essas travas têm esse material específico colocado de uma maneira determinada para melhorar a função de cada trava (“como melhorar o jogo de quem usa a chuteira”) quando alguém usa lá no gramadão (patente de modelo de utilidade).
Essas patentes novas, criativas e que podem ser copiadas para todas as chuteiras, servem como um dos melhores “jeitos” para diferenciar a chuteira daquela marca® que você gosta, daquela outra que você sente que não te cai bem na hora de dar uma caneta. Sabe?
Fonte: www.footyheadlines.com

 
Agora, tudo isso parte de uma ideia só: para você proteger tudo isso, você precisar registrar cada uma dessas ideias. E registrar quer dizer que todo mundo vai saber o que você faz, com o que você faz e o jeito que você faz essa chuteira. E tem coisa que a gente não quer que todo mundo saiba, né?
Lembra aquela história da “fórmula da Coca-Cola”? Aquela história que quase ninguém sabe do que ela é feita. História que leva a ideia de “segredo industrial”. Isso quer dizer que a Coca-Cola não registrou com o que e o como ela faz o seu refrigerante, e o motivo é simples: se ninguém sabe o “que” e o “como”, não tem como copiar.
A mesma coisa pode acontecer no futebol e com as chuteiras. A Nike tem até um caso interessante sobre isso quando “processou” (lá nos Estados Unidos) três designersque saíram de lá e pularam o muro para a Adidas (que também tem um pé ali no Oregon). E “processou” justamente porque eles levaram alguns desses segredos para a rival, segredos que ainda eram conceitos e por isso não tinham sido registrados.
Esse know-how (o conhecimento técnico dos funcionários) é valioso e pode valer mais a pena deixar ali dentro de uma “porta fechada” do que registrado e numa redoma de vidro para todo mundo ver.
Bom, aqui chegamos ao fim do nosso mês de maio aqui na Universidade do Futebol – o mês de tudo o que a gente acha “Entre o Direito e o Marketing do Futebol”. E agora quando amanhã você for assistir a final da Champions League® já vai saber dizer como funciona toda aquela história do hino, do símbolo, e até daquele tipo novo de tecnologia de transmissão da partida no conforto do seu sofá. Né?
Fico por aqui hoje e nos vemos na próxima sexta-feira para começar um novo mês do nosso futebol aqui no “Entre o Direito e o Esporte”. O mês da Copa do Mundo! Combinado? Deixo meu convite para falarem comigo por aqui, pelo meu LinkedIn ou pelo meu Twitter. Bom final de semana para vocês, e vejo vocês no fechamento do mês de maio por aqui!