A saída de Fábio Carille do Corinthians

*Créditos: BeanyMan Sports
“Arséne Wenger (então treinador do Arsenal)gosta de jogar futebol, de ter a posse da bola… É como uma orquestra, mas é uma música silenciosa. Eu gosto mais de heavy metal. Eu não posso treinar o Arsenal porque sou um cara diferente. Se você me olhar durante um jogo, eu comemoro quando pressionamos o adversário e a bola vai para fora. (…) Se o time do Barcelona (do Guardiola) fosse o primeiro que eu vi jogar quando tive quatro anos de idade… ganhando de 5 a 0, 6 a 0… eu teria jogado tênis. Desculpe, mas isso não é o suficiente para mim. Não é o meu esporte. Eu não gosto de ganhar com 80% de posse de bola.
Treinadores vão dizer que não é importante para o time deles correr mais e preferem fazer os jogos da maneira certa. Eu quero fazer jogos somente no jeito certo e correr 10 quilômetros a mais. Se você não precisa dar tudo e ainda ganha, o que seria isso? Você não gosta desse jogo? É como se fosse assim (Klopp boceja). Não é a estatística mais importante, mas eu adoro ler que corremos mais que o adversário. Você pode obter o respeito se fizer isso e você tem mais chance de ser bem sucedido”.
Poucas entrevistas definem tão bem um treinador e uma filosofia quanto esta que Jürgen Klopp concedeu, quando ainda era treinador do Borussia Dortmund, em 2013[1].
No Liverpool, Jürgen Klopp dirige jogadores que se encaixam e conseguem dar vida ao seu estilo de jogo heavy-metal: uma linha defensiva sólida e agressiva (Van Dijk, Lovren, Robertson e Arnold); um trio de meio-campistas de incansáveis trabalhadores (Milner, Wijnaldum e Henderson) e um ataque simplesmente avassalador composto por Salah, Firmino e Mané, que já entraram para a história da Liga dos Campeões por serem o trio de ataque mais goleador de sempre (29 gols até o momento). O Liverpool ainda conta com o melhor ataque da competição com 40 gols marcados (contra 30 do Real Madrid), sofrendo 13 (contra 15 do Real Madrid).
Jogando um futebol agressivo, de poucas pausas, verticalidade e muitos gols, o Liverpool leva o caos aos seus adversários de diferentes maneiras, sendo capaz de estar nas zonas de finalização após trocar apenas 3 ou 4 passes.
Baseado numa posse de bola curta, busca agredir os espaços centrais e as costas da linha defensiva adversária no menor tempo possível, com ataques rápidos e diretos: tanto pelo chão, tanto com bolas longas, utilizando a velocidade do seu trio ofensivo, o preenchimento de espaços e a capacidade física do seu trio de meio campistas.
Mestre em contra-atacar após recuperar a bola estando organizado defensivamente, Klopp deixa mesmo sua marca nas transições defensivas – extremamente agressivas e sufocantes que visam recuperar a bola no menor tempo possível: o chamado gegenpressing.
Gegen, em alemão, significa “contra”. Em uma tradução livre, podemos definir como “contrapressing”, uma pressão ao contra-ataque adversário.
Quando o Liverpool perde a posse da bola, a intenção da equipe é, sempre que possível pressionar prontamente o portador da bola, no intuito de recuperá-la no menor tempo possível. Em caso da recuperação ocorrer, logo após a própria perda, teoricamente apanhará o adversário saindo em contra-ataque, ou seja, haverá espaços para contra-atacá-lo imediatamente. Em termos práticos, esta é a essência do Gegenpressing para Jürgen Klopp.
Por visualizar sempre o contra-ataque, a equipe de Klopp busca na organização defensiva uma maneira de potencializar o seu trio de ataque para este momento, fazendo com que, na medida do possível, eles não precisem voltar tanto para marcar, especialmente Salah.
Assim, há momentos em que conseguem ter solidez defensiva e um bom contra-ataque após roubar a bola. Porém, há momentos em que, por conta do papel que os extremos exercem, assumem alguns riscos e podem se expor defensivamente.
Outra arma do Liverpool são as bolas paradas, com destaque para o escanteio ofensivo, com bons cabeceadores e bons cobradores.
Após longos 11 anos de espera, e sem protagonismo no cenário europeu, o Liverpool voltará a disputar uma final de Liga dos Campeões. Isso por si só, já é um motivo de sobra para tentarmos entender como esta equipe joga.
Por isso, eu e Jorge Sáez[2], após analisarmos os jogos das quartas-de-final e semi-final, preparamos um material mais detalhado, com mais informações, fotos e vídeos que ilustram nossas percepções sobre os padrões de jogo da equipe treinada por Jürgen Klopp.
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[2]Jorge Sáez: Mestrando na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (Portugal), com ênfase em Futebol Alto Rendimento.
[1]http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/futebol-alemao/noticia/2013/11/klopp-diz-que-futebol-do-borussia-e-como-heavy-metal-e-critica-barcelona.html
É notório o investimento de clubes, ligas e federações para a criação de canais de comunicação para a divulgação dos seus produtos. Especificamente, na criação de canais de televisão e de emissoras de rádio próprias que geram conteúdo exclusivo, que os canais de televisão (aberta e por cabo) não possuem. Acessos privilegiados, entrevistas pontuais com convidados muitas vezes de difícil acesso. Quando permitido, narração e comentários bem parciais dos jogos. Algo inimaginável de se ver ou ouvir em emissoras de televisão e estações de rádio que estamos acostumados a assistir ou escutar.
Certa vez um comunicador brasileiro disse, em 2010: “Se a Disney fosse um clube brasileiro, venderia o Mickey Mouse e não os seus desenhos animados”. Oito anos depois, os “mickeys” seguem sendo vendidos, mas os “desenhos animados” estão sendo mais aproveitados. Ao acompanhar o canal a cabo do Real Madrid é possível ter a dimensão do que pode ser conseguido, desde engajamento e fidelização do torcedor até o retorno financeiro. A programação é vasta, vinte e quatro horas do dia e os jogos pelo canal transmitidos são anunciados da seguinte maneira: “os comentários do seu ídolo, sem o clubismo de quem não é dos nossos”. Oras, um chamariz importante para aquele que leva este fator (clubismo) em consideração. Qualquer clube da primeira divisão do futebol do Brasil é capaz de gerar – sem sombra de dúvidas – muito mais conteúdo.
Isso no Brasil tem tomado forma e quem ganha com isso é o torcedor. Não é preciso ser um canal a cabo ou com uma assinatura ainda mais exclusiva. E nem que o clube tenha milhões de torcedores. Basta que as próprias redes sociais do clube produzam este conteúdo e inclusive transmitam os jogos. Na minha cidade natal (bem longe de ser populosa), o clube faz isso: transmite os jogos pela rede social com o áudio de uma rádio local. O resultado é excelente: comentários em tempo real, engajamento e alcance nunca outrora imaginados. Ademais aproxima o torcedor à transmissão da rádio e aos trabalhos do clube, uma vez que o comentário fica lá registrado. A exposição dos patrocinadores aumenta e, consequentemente, o vínculo destas marcas com o clube. Tudo isso dentro de um planejamento estratégico que o clube estabeleceu a longo prazo. Toda a decisão tomada tem como base os princípios deste plano. A raiz deste plano, por sua vez, nasce – desculpem-me a repetição de ideias – em um começo: o estabelecimento de uma missão, uma visão e valores.
Com tudo isso, ações como estas estão ao alcance de todos os clubes, independentemente do tamanho, palmarés ou massa associativa. É um investimento que pode ser alto, mas se é uma tendência mundial, é porque tem dado certo. A concorrência na indústria do futebol tem aumentado e a instituição não quer perder torcedores para os seus similares. Sobretudo para os clubes europeus, que já produzem conteúdo em português do Brasil justamente para chamar a atenção de crianças e jovens.
Nós treinadores formativos no Brasil, atualmente, podemos ser vilões ou bons moços no desenvolvimento de jogadores e processos. Vilões se quisermos apenas nos promover, subir para o profissional, ganhar a qualquer custo, utilizando estratégias mirabolantes, negligenciando completamente a evolução individual dos jogadores e sua formação. Bons moços se pensarmos no jogador como uma estrutura individual e complexa, respeitando a natureza do jogo e as necessidades eventuais e contextuais que o jogador precisa passar, especialmente nas idades menores.
Rever nossos conceitos diariamente como treinadores é uma exercitação da paciência e sapiência. Tarefa que negligenciamos por vezes e desrespeitamos os estágios naturais e a ordem basilar das coisas no futebol. Na formação temos que entender esse dinamismo mais ainda.
O jogador de futebol que é a peça principal, não precisa ser apenas visto, atingido ou melhorado como um arqueiro, um alvo de arco e flecha ou um simples produto de venda. Deve ser concebido e otimizado por uma trajetória dinâmica, com velocidades distintas, que pode se reconhecer e ser reconhecido de uma forma particular com espaço para uma evolução complexa estrutural e se orientando pelo jogo e sua organização natural que é o grande instrumento formativo desse esporte.
Então devemos melhorar ou otimizar os jogadores?
Por mais que são sinônimos e pareçam a mesma coisa, há uma diferença interpretativa entre melhorar e otimizar. A compreensão do significado dessas palavras pode fazer uma grande diferença quando é utilizada no futebol e na formação de jovens jogadores. E a utilização da palavra melhorar tem uma conotação imponente. O seu uso não está errado, todos querem melhorar, mas o contexto em questão pode fazer uma grande diferença conceitual e processual ao perceber essa leve e sensível diferença entre ambas e sua operacionalização prática.
Na formação de jogadores parece-me que a palavra otimizar cai melhor. Criar processos atingindo o indivíduo (individual) e a equipe (grupos e coletivo) é o grande desafio. Ter certeza que as tarefas de treinamento terão intencionalidade, contexto e relacionamento com a singularidade do indivíduo, sua evolucação e a exigência do Jogo e do jogo facilita a progressão do jogador.
Então, otimizar desempenhos futuros, não é simplesmente realizar exercícios, criar regras gerais, regras de pontos ou fazer exercícios reduzidos o tempo todo. É entender que o indívíduo e a equipe precisam ser atingidos na mesma proporção e que os pequenos detalhes fazem a diferença, criando cenários que tenham riqueza e simplicidade ao mesmo tempo, sem tirar o caminho da liberdade e o descobrimento do jovem jogador. A escolha é nossa entre essas palavras e seus possíveis caminhos.
Abraços e até a próxima!
Bem-vindos ao nosso “Entre o Direito e o Esporte”! Essa semana vamos continuar a nossa conversa sobre o que a gente acha “Entre o Direito e o Marketing do Futebol”. Essa semana nós vamos conversar sobre os sinais distintivos no futebol brasileiro. Essa semana a conversa aqui é sobre as marcas no nosso esporte.
E para deixar tudo mais tranquilo de seguir, segue o nosso mapa de hoje: a gente vai começar no que são esses tais de “sinais distintivos”, depois vamos parar na ideia de “marca registrada”, e terminamos a coluna dessa sexta-feira com algumas ideias diferentes sobre marca por aqui. A ideia é trazer o que a gente acha “Entre o Esporte e a Marca” e como o direito dá as caras no nosso futebol por aí.
Fechou?
Lembra que semana passada a gente conversou sobre o que a gente acha “Entre o Direito e o Futebol Arte”? Então, hoje está mais para a “arte no futebol”! Vamos começar conversando sobre o porquê desses tais de “sinais distintivos” serem importantes para o seu time – ah, hoje vamos seguir com um mesmo time, uma mesma torcida, e uma mesma Federação para manter a mesma linha, feito?
Bom, a regra geral aqui é: dinheiro (ou retorno financeiro, se preferir falar mais chique). Esses “sinais distintivos” são importantes para o seu time porque fazem a diferença no mercado. Imagina se o seu clube não tem uma “cara”! Como você, torcedor, vai saber que aquela camiseta, aquele chaveiro, ou aquela cachaça é do seu time?
A marca é a base de toda a indústria do esporte fora de campo – ainda mais quando o seu time vai jogar do outro lado da terra e todo mundo por lá conhece mesmo assim. A marca é um jeito do seu clube de se comunicar com todo torcedor. E a marca é uma necessidade hoje em dia!
Agora é que você me pergunta, “beleza… e cadê o direito nisso tudo?”. Fácil! A marca tem que ser registrada. Lembra aquele ® que vem perseguindo a gente aqui nas colunas faz umas semanas? Então, chegamos finalmente nele!
Imagina que o seu time tem um símbolo. Imagina que esse símbolo é único. Imagina que é tão único que representa só o seu time. Agora, pensa que você é o diretor de marketing do seu clube e tem esse símbolo único e representativo na mão. E mais, tem uma oferta de uma empresa de material esportivo para vestir o seu time! Animal, né?
Só que bem na hora que o representante dessa empresa chega no clube para negociar com você, surpresa! Um vendedor ambulante está bem na entrada vendendo “produtos não licenciados” com o símbolo do seu clube! A empresa ainda quer vestir o seu time, só que agora de graça – ainda mais porque descobriram que o seu time não registrou® a marca.
Essa marca tem que ser registrada para ficar protegida e ter mais valor numa hora como essa. Essa marca é a diferença entre deixar o seu time com mais dinheiro ou com menos dinheiro ao longo do tempo. Essa marca é o passado, o presente, e o futuro do seu time.
Agora… toda marca é igual nesse registro? Aí a resposta é um belo “não”! O Brasil (ou as leis brasileiras) reconhece alguns tipos de marca que são diferenciadas. Marcas que estão além das marcas registradas como quaisquer outras. Registro que pode até não ser necessário.
Imagina que depois de um tempo como diretor de marketingdo seu time você foi parar na Federação Estadual de Futebol do seu estado. Nessa Federação você cuida do comercial daquela competição de começo de ano, sabe? Isso, aquelecampeonato estadual que todo mundo ama e odeia ao mesmo tempo. Você fez um belo trabalho e criou uma marca própria para esse torneio com base em um regulamento da competição.
Essa marca vai ser usada por todos os clubes que fazem parte desse torneio. Os clubes têm que colocar essa marca no uniforme. E o regulamento da competição fala o jeito de colocar essa marca naquele uniforme do seu time. Essa marca tem que ser registrada, só que é considerada uma “marca coletiva”. Ela é diferente por isso!
Agora, não é a única “marca diferente”. Imagina que você cansou dessa vida “institucional” e resolveu seguir a sua paixão. Imagina que a sua paixão é ser da massa. E imagina que ser da massa aqui e agora é ser o presidente de uma torcida organizada. E como presidente da massa você “cuida da lojinha” – e dos produtos nela.
A organizada do seu time é tão famosa e existe faz tanto tempo que ninguém nem lembra quando o símbolo foi criado. Todo mundo conhece esse símbolo e tudo o que ele representa. Esse símbolo é tão famoso quanto o do seu clube. Aí essa marca é “notoriamente conhecida” e não precisa de registro – embora seja melhor registrar sempre.
Depois de toda essa sua carreira só falta uma última coisa, né? Isso, imagina agora que você é o presidente do seu clube – meus parabéns! Lembra aquele patrocínio legal que você estava de olho para o seu time? Finalmente eles vieram para a mesa e você está pronto para fechar. Uma marca tão grande quanto a do seu time.
E essa marca é tão grande que com um registro ela vira quase um “super trunfo”. Essa marca é protegida contra tudo e todos. Essa marca tem um registro “especial” e é conhecida como uma “marca de alto renome”. Esse é mais um tipo de registro que a gente tem por aqui no Brasil.
Beleza, você se aposentou com essa coroação. Qual foi a lição que você tirou de tudo isso? Ah, já sei! Não importa qual o tipo de registro da marca que você vê no seu dia a dia. O que importa é que essa marca exista, que essa marca seja registrada, e que essa marca seja protegida. Né?
Afinal, o nosso futebol hoje em dia depende do dinheiro. E é a marca do seu time que vai fazer a diferença no final do campeonato!
E chegamos ao fim dessa semana na Universidade do Futebol. E nos vemos na próxima sexta-feira para conversar sobre a criação industrial e o segredo industrial no nosso futebol aqui no “Entre o Direito e o Esporte”. Combinado? Deixo meu convite para falarem comigo por aqui, pelo meu LinkedIn ou pelo meu Twitter. Bom final de semana para vocês, e vejo vocês no fechamento do mês de maio por aqui!
A segunda-feira foi agitada por conta da convocação da seleção brasileira para a Copa. Agitação essa criada por algumas dúvidas que, no frigir dos ovos, pouca relevância efetiva terá durante o Mundial. O terceiro goleiro, o quarto zagueiro (na ordem de preferência) e o quinto atacante dificilmente terão um papel ao menos de coadjuvantes ao longo dos sete jogos, ou quantos o Brasil disputar na Rússia.
A questão chave é que Tite já tem um time. Uma ideia de futebol. Um modelo de jogo. Que, claro, precisam de ajustes.
O conceito de time no futebol é obviamente sempre coletivo. Se cada jogador responder de um jeito aos problemas do jogo não temos um time. E o trabalho em seleções se torna difícil neste aspecto pelo pouco tempo de treino e a grande distância entre os jogos. Não é simples criar uma identidade própria de jogo reunindo uma vez por mês atletas que vem de diferentes escolas do mundo. Sem falar que Tite pegou a equipe de Dunga no meio das Eliminatórias, pressionado e fora da zona de classificação para a Copa.
Por conta disso, amenizo a falta de excelência do Brasil em alguns momentos do jogo. Por exemplo, quando temos que atacar e enfrentamos defesas bem compactas temos dificuldades em quebrar linhas e gerar superioridade numérica. A nossa transição defensiva também não está bem sincronizada no ‘perde-pressiona’ que Tite tanto gosta.
São ajustes finos, mas que fazem com que eu não coloque o Brasil como o grande favorito para levar o Mundial. Assim como em 1994 e 2002 também havia outras seleções com trabalhos mais consolidados e foi a brasileira que levou o caneco. O tempo de preparação e a excelente comissão técnica de Tite podem fazer a seleção evoluir na execução das ideias e até criar alternativas de jogo que hoje nem existem.
E Tite tem o principal: suas habilidades comportamentais. Em uma Copa, em que as emoções se afloram tanto, isso pode ser decisivo. Internamente, criando um ambiente prazeroso para os jogadores e externamente na imagem carismática que o povo brasileira nutre por ele.
A convocação que realmente importa, que são os titulares e os reservas imediatos já estava pronta, testada e definida. A Copa do Mundo começou faz tempo para a seleção brasileira.
Há poucos anos, dirigente de um clube brasileiro disse que o futebol não é mais para todos e boa parte da opinião pública condenou esta afirmação. Em recente pesquisa do Datafolha, verificou-se que o interesse pelo futebol, pela Copa do Mundo e pela frequência nos estádios, diminuiu, sobretudo dentro da parcela mais numerosa da população, que ganha até cinco salários mínimos, o que corrobora, em parte, o que disse aquele dirigente.
São inúmeros os fatores que fazem 41% dos entrevistados demonstrarem desinteresse pela modalidade: ingressos caros, acessibilidade (transporte público, estacionamento, trânsito, preço do estacionamento, preços de “flanelinhas” e ações de quadrilhas de “guardadores de carro”), a falta de transparência e corrupção, o desconforto e insegurança nos recintos esportivos. Estes, apenas alguns dos fatores.
Há não muito tempo os ingressos eram mais acessíveis para a grande maioria da população. Entretanto, esbarrava-se em outros inúmeros problemas que afastavam o público dos estádios. A atuação de agentes e empresários, os altos salários dos futebolistas e a abertura do mercado do futebol nos anos 1990 foram os primeiros movimentos que tornaram o esporte mais caro. A Copa do Mundo de 2014 empurrou para a administração de clubes e instituições públicas, a administração de estádios que, obrigatoriamente, devem dar lucros financeiros. Ao mesmo tempo, estimulou dentro da iniciativa privada a construção de outros novos, para aumentar as receitas. O futebol ficou ainda mais caro. Soma-se isso à falta de planejamento urbano – algo que praticamente inexiste no país desde os tempos em que a população das cidades passou a ser maior que a do campo -, não permitiu ainda de maneira completa que os estádios se integrassem ao ambiente e à sua infraestrutura.
Ademais, a inexistência de um órgão, associação ou entidade que regulasse o crescimento da indústria do futebol no Brasil ou que promovesse boas práticas de gestão do esporte (movimento que acontece há poucos anos), permitiu o inchaço desta bolha que, se não estiver prestes a estourar, está à beira de se esvaziar, haja vista os resultados da pesquisa: o crescente desinteresse pelo futebol.
Uma comunicação eficiente, uma equipe e campeonatos competitivos fazem com que os estádios estejam lotados com frequência, mas por quem tem condições de pagar – literalmente – por um alto preço e paciência para os contratempos a que se está sujeito. É possível sim fazer com que este índice de 41% de desinteressados caia: setores mais populares, produtos mais acessíveis, iniciativas diversas para que o fã de futebol se sinta pertencido, para que o torcedor ausente seja “abraçado” e para que o completo desinteressado comece a mudar de opinião. O futebol a serviço de todos, não apenas dentro das quatro linhas, com ações que promovam a cidadania, a justiça social, igualdade de gêneros e boas práticas na sociedade.
O desinteresse pela modalidade, dentro de um país que se diz sendo o do futebol, dá-se muito em função da falta de credibilidade e da falta de contribuição para a sociedade. Com tudo isso, é preciso perguntar: o que o futebol e as instituições a ele ligadas podem fazer para a população? Títulos não bastam. Este esporte é de todos e tem que ser para todos.
PS: Tenham acesso à pesquisa, clicando aqui.
Na carreira de um jogador de futebol, profissional acostumado desde cedo ao altíssimo grau de competitividade, não existe funil mais estreito do que a Copa do Mundo. Ser chamado para disputar o torneio é um privilégio de um grupo extremamente restrito, e todos os números contabilizados na competição colocam os atletas em estatísticas ainda mais raras. Por esse perfil, a convocação de uma seleção nacional oferece importantes lições de comunicação. E como quase sempre acontece, esses exemplos práticos são provenientes do fracasso.
Único país presente em todas as edições do Mundial, o Brasil teve pouco mais de 400 vagas para preencher na lista de inscritos, de 1930 até aqui. No entanto, são muitos os exemplos de longevidade e de atletas que permaneceram por mais de um quadriênio (os recordistas são Cafu, Castilho, Djalma Santos, Emerson Leão, Nilton Santos, Pelé e Ronaldo, quatro convocações cada).
Em quase 90 anos de história, portanto, menos de 400 jogadores brasileiros tiveram o privilégio de disputar uma Copa. E esse privilégio, importante lembrar, está diretamente ligado a uma lista subjetiva. É a decisão tomada por uma pessoa (ou uma comissão técnica liderada por ela, vá lá). Nasce dessa característica a enorme lista de jogadores que se sentiram “injustiçados” por nunca terem ido a um Mundial.
A convocação de Luiz Felipe Scolari para a Copa de 2002, por exemplo, tinha o meia Djalminha, cortado posteriormente por ter agredido o técnico de seu clube em um treino do Deportivo La Coruña. O treinador preteriu Alex, homem de confiança em seu período no Palmeiras, e não recorreu ao armador nem quando precisou fazer mudanças na lista original. No momento em que procurou um jogador da mesma função, Felipão ouviu uma campanha assertiva de Carlos Alberto Parreira, que na época dirigia o Corinthians, e se rendeu ao bom momento de Ricardinho, levado para substituir o lesionado Emerson.
Foram pelo menos três chances para Felipão levar Alex, portanto, e o treinador acabou alijando da Copa um dos melhores jogadores do Brasil naquela década. Se o Mundial tivesse sido realizado em 2003, ano em que o meia foi destaque no Cruzeiro multicampeão, teria sido ainda mais difícil tomar essa decisão.
Esse exemplo mostra que a convocação para a Copa do Mundo carrega uma enorme lista de fatores. Depende do momento, por exemplo (a competição, afinal, é o retrato de um mês e não do que aconteceu em quatro anos), mas também considera aspectos como tática, técnica, física e análises comportamentais feitas pelos treinadores. Até mesmo um bom cabo eleitoral pode ter peso.
É possível discutir se Luan merecia estar na Copa de 2018, por exemplo, mas não dá para não aceitar os argumentos de Tite para preteri-lo. O meia-atacante gremista joga numa posição que não condiz com o esquema usado pela seleção, não foi bem em nenhuma função do sistema proposto pela equipe nacional e não apresentou nos treinos o nível de competitividade que a comissão técnica esperava. Podemos não concordar com isso, mas dentro de critérios subjetivos é uma análise que tem lógica.
Ainda assim, até casos em que as decisões são mais simples podem gerar frustração. Novamente falando de 2002, um dos exemplos mais conhecidos é o do atacante Euller, que organizou uma festa para acompanhar a convocação. Dias antes, o jogador havia sido avaliado por membros do estafe da seleção e teve conversas com a comissão técnica. Também tinha sido lembrado em amistosos da reta final e tinha convicção que estaria na lista. Quando ouviu os nomes lembrados por Felipão e descobriu ter sido preterido, não conseguiu esconder a frustração.
A convocação da seleção para a Copa pode ser uma metáfora para várias etapas das nossas vidas. Pode ser um vestibular, uma prova de um concurso, uma seleção de um emprego, uma disputa por uma promoção ou uma avaliação de um projeto pessoal, por exemplo.
Independentemente da relação proposta, o fato é: gerar expectativa em episódios assim é um convite a frustrações. A passagem de um momento tão marcante deve ser resultado de uma construção desenvolvida ao longo de quatro anos. Pensar apenas no agora é menosprezar o que significa estar em uma Copa.
Passada a convocação, um ponto importante é entender como os jogadores que não serão lembrados vão lidar com isso. Há três caminhos, basicamente: a frustração, direcionar a culpa a outros ou repensar sua própria carreira.
No primeiro caso, o perigo é um evento assim conduzir o profissional a um processo de depressão. É possível que essa tristeza extrapole o ambiente corporativo e que influencie até as relações humanas alheias ao trabalho.
A culpa direcionada a alguém é uma espécie de escapismo. É mais simples lidar com uma tristeza dessa proporção se você tiver alguém para apontar o dedo e dizer que alguém é responsável por isso. É mais simples, mas também é menos honesto e menos produtivo.
No terceiro grupo está o ala Victor Oladipo, titular do Indiana Pacers, que fez neste ano a melhor temporada de sua carreira na NBA (liga profissional de basquete dos Estados Unidos). Eliminado nos playoffs, o jogador não esperou sequer o dia seguinte. Ainda na madrugada da derrota, mandou uma mensagem para seu treinador pessoal e perguntou quando os treinos recomeçariam.
Estar fora de uma lista como a de convocados para a Copa pode ser uma tristeza enorme – as reações listadas aqui não são excludentes, e é até possível que a mesma pessoa passe pelos três grupos. A evolução de um profissional, contudo, depende substancialmente da capacidade de olhar para episódios assim e pensar no que é possível extrair como aprendizado.
Não importa o quanto o funil é estreito ou os critérios usados para extrair os donos das vagas. O que importa em casos como esse é como você pode transformar uma notícia ruim em um feedback sobre sua capacidade ou seu nível de entrega profissional. E como isso pode gerar ações simples e diretas para resolução dos problemas. Evolução é isso, afinal.
Nos últimos dias andei conversando com algumas pessoas sobre a iniciação no futebol, mas uma em particular me chamou bastante a atenção. Um amigo próximo, ex-jogador de futsal, me disse estar espantado, pois seu filho de 4 anos já está participando de campeonatos e se especializando em uma posição dentro da quadra! A comparação feita foi com ele próprio, dizendo que em sua época, com 4 anos, estava somente brincando na rua.
Continuei a conversa, pois se tratava de um tema muito interessante, e lhe disse que em Portugal o sub-7 joga 3×3 com golzinhos e sem goleiro. Não há campeonatos, muito menos posição fixa. O objetivo primordial é continuar desenvolvendo o gosto pelo jogo, de forma lúdica e recreativa.
O papo estava realmente agradável e por isso continuei dando alguns exemplos, como o da Europa (UEFA) que a partir do ano 2000introduziu o futebol de 7 como obrigatório para as categorias sub-10 e sub-12. Esta decisão contribuiu muito para uma melhor aprendizagem do jogo e uma formação mais eficaz, além de respeitar as diferentes fases de desenvolvimento do futebolista e servir de guia para os professores e treinadores.
Em seguida ele me fez a grande pergunta: e porquê aqui é diferente?
Bom, é óbvio que o futebol de 11 apresenta uma estrutura e um conjunto de situações muito complexas e incompatíveis para o desenvolvimento de uma criança ou de um jovem futebolista. Por isso, em 2016o ex-jogador de futebol e da seleção brasileira, Mauro Silva (atual vice-presidente de integração com atletas da Federação Paulista de Futebol), tomou a frente das ações para tentar modificar o formato de jogo do sub-11. A proposta era que em 2017, o campeonato paulista da categoria fosse realizado num campo menor (73x50m), com bolas e balizas adaptadas à idade e num formato de 9×9 incluindo os goleiros.
Pude perceber algum alívio da parte dele e por isso segui o raciocínio, dizendo que seria fundamental adaptar e adequar todo o contexto que envolve o jogo de futebol de acordo com as motivações e características dos jovens futebolistas. Ou seja, o jogo (futebol de 3, 5 e 7) praticado em campos com medidas e dimensões reduzidas reúne as melhores condições para o ensino e aprendizagem do futebol nos primeiros escalões de formação. Neste caso, é o jogo que se adapta à criança e não o contrário.
Resolvi então fazê-lo entrar no contexto! Imagine que você e teu filho estão na quadra da praça jogando basquete. O garoto vai arremessar um lance livre com uma bola oficial, estando à uma distância de 5 metros da cesta que se encontra à 3,05 metros do chão, com precisão e técnica adequadas?
Resposta: Em hipótese alguma!!!
Voltamos ao futebol e lhe disse que deveríamos pensar a respeito das dimensões da bola, do espaço de jogo, do tamanho da baliza, do número de jogadores e algumas adaptações às regras do jogo para cada escalão. Tudo isso precisa estar de acordo com os níveis físicos, fisiológicos e cognitivos do jovem futebolista. Do contrário, continuaremos observando partidas de distintas categorias em campos de futebol de 11 e nos deparando com situações nocivas como, por exemplo, quando um goleiro de 10 anos não alcança a bola após um chute, pois a bola foi muito alta e as dimensões da baliza não permitem intervenções adequadas.
Uma ideia de progressão mais adequada seria a inclusão do futebol de 3 para iniciantes (sub-7) e o futebol de 5 para sub-9 antes de chegar ao futebol de 7. Seguindo este exemplo que é bem parecido com modelos utilizados por países representativos no panorama europeu e de outros esportes coletivos, esta progressividade da relação entre o espaço de jogo e o número de jogadores contribuiria para uma melhor aprendizagem do jogo. Além disso, é um modelo que permite que cada jogador intervenha mais vezes, ou seja, aqueles que estão no jogo, realmente participam do jogo.
Bem-vindos ao nosso “Entre o Direito e o Esporte” dessa segunda sexta-feira de maio! Hoje vamos continuar a nossa conversa sobre o que a gente acha entre o direito e o marketing do futebol, hoje vamos dar uma olhada em como o futebol, a arte e o direito viram um só no nosso esporte. Hoje vamos ver como o direito do autor aparece no nosso esporte.
E o nossoguia de hoje é esse: vamos começar com o que esse tal de “direito do autor” (além dos comerciais da semana passada), depois a gente vai falar sobre o porquê isso importa para o seu time, e vamos fechar com como tudo isso aparece no marketingdo futebol.
Bora lá?
Afinal, o que raios é direito do autor? O direito do autor é uma categoria jurídica que protege expressões artísticas (literárias e científicas também) e… tudo bem, te deixei com sono já. Né? A regra geral é que o direito do autor diz que quem faz alguma coisa(um quadro, um livro, um programa de computador) é dono dessa coisa.
Imagina que você é um jornalista famoso que viveu muito do nosso futebol. Imagina que você está para se aposentar. Imagina que para “fechar a sua carreira” você resolve escrever um livro. Esse livro é original, esse livro foi escrito por você, esse livro foi publicado. Parabéns, os direitos do autor desse livro são seus!
E isso vale para muitas coisas no nossodia a dia que a gente nem percebe. O futebol é cercado disso hoje! Quem não tem um livro sobre futebol em casa? Quem não tem o hino do seu clube no celular? Quem “não viu o filme do Pelé”? Tudo isso é protegido por esse tal direito do autor.
Agora, por que isso muda a nossavida de torcedor? Simples, a regra geral aqui é que quem é o dono de alguma coisa decide o que fazer com essealguma coisa. É que nem durante a prova na escola: a prova é sua, as respostas são suas, e a escolha de passar essas respostas na prova para seu coleguinha também é sua (não façam isso, viu?).
Isso vale também para aquele comercial da semana passada. A música é de uma pessoa, o roteiro é de outra pessoa, e a fotografia é de mais outra pessoa. E cada um pode escolher o que faz com isso! E isso inclui cederou licenciaros direitos do autorpara outra pessoa – que foi o que todas essas pessoas fizeram ao autorizar a Nike a fazer a propaganda.
E é aí que entra o porquê de isso ser importante para o futebol hoje em dia. Todas essas criações movimentam a indústria do nosso futebol, movimentam o dinheiro para dentro da indústria do nosso futebol, fazem a indústria do nosso futebol o showque ela é hoje. E esse espetáculo do nosso futebol só existe porque quem faz parte dele tem essa proteção.
E essa proteção cria parte do mercado do futebol. Um mercado que a gente vê sempre que liga a televisão, ouve o rádio, ou entra na internet. Um mercado que faz parte do dia a dia do nosso jogo tanto quanto o elástico, a bicicleta, e o rolinho. O futebol de hoje é um produtoque diverte as pessoas. Um produto que precisa de proteção para ter um valor. Um produto que com esse valor cria uma indústria.
Beleza, entendi. Isso tudo importa porque dá dinheiro – é isso? É, o direito do autoré um dos direitos de propriedade intelectualque faz o mercado do esporte a indústria (do entretenimento) de hoje. E é sóisso, então?
Quase! O direito do autor importa porque a gente (como torcedor) vive isso no nosso futebol. Imagina se não tivesse transmissão na televisão, se a gente não ouvisse o jogo no rádio, ou se não olhasse o placar da partida do nosso time na internet. O que seria do futebol? Nosso é que não seria mais!
O direito do autor ajuda a manter a nossa paixão pelo jogo acesa. Ajuda a mostrar o jogo para todo o mundo. Ajuda a fazer o futebol cada vez mais a nossa cara. É assim que o nosso jogo aparece na sua casa, que a história dos campeonatos chega em você, e que o amor pelo seutime é contado. O direito do autor dá a cara do nosso futebol hoje em dia – e é, por isso, que importa!
O nosso futebol é arte, e como arte tem que ser protegido.
Espero que tenham gostado dessa semana na Universidade do Futebol. E nos vemos na próxima sexta-feira para conversar sobre os sinais distintivos no nosso futebol aqui no “Entre o Direito e o Esporte”. Fechou? Deixo meu convite para falarem comigo por aqui, pelo meu LinkedIn ou pelo meu Twitter. Bom final de semana para vocês, e até logo!