Crédito imagem – César Greco/Palmeiras
Pensar nos campeonatos estaduais em pleno 2021, talvez se apresente para alguns como retrocesso ou nostalgia. Entretanto, acredito que a existência dessas competições locais pode ser a retomada do Brasil como país do futebol. Sim, a partir de uma visão ampliada, o esporte mais praticado no mundo pode resgatar a paixão do torcedor brasileiro que o acompanha há mais de um século.
Não há no país o entendimento de que o futebol pode promover o seu desenvolvimento econômico, tanto local, ou regional, como nacional. Tal entendimento poderia contribuir para que o futebol se tornasse um gerador de riquezas, melhorando a distribuição de renda e ainda sendo um catalisador para a geração de empregos. Para isso, sugiro ao leitor que esqueçamos – por alguns momentos – a percepção que, historicamente, nutrimos pelo futebol no Brasil, como sendo uma atividade unicamente ligada às nossas paixões.
Esse jogo atrai milhões de espectadores pelos mais diferentes países do mundo e sua rentabilidade – crescente – alcança cifras em torno de bilhões de dólares por ano, representando parte significativa do PIB de muitos países, o que ainda não acontece no Brasil.
É preciso entender que, enquanto o mundo faz dinheiro com as mais diferentes atividades esportivas, seguimos perdendo oportunidades de ampliar a participação do nosso principal esporte na economia do país que – sob uma perspectiva mais estratégica – poderia ser um fator positivo na retomada da capacidade de novos investimentos; tanto públicos quanto privados.
Atualmente, o Brasil possui 691 clubes de futebol – segundo números atualizados existentes nos registros na CBF – muitos deles localizados no interior do país, mas que desenvolvem atividades econômicas, quando muito, em apenas seis meses por ano (durante a disputa dos campeonatos estaduais). No período restante, sobrevivem ‘por aparelhos’ após demitirem grande parte de seus jogadores para recontratá-los novamente no início de uma nova temporada. Sendo que, uma grande massa desses profissionais passa, a maior parte do ano, realizando atividades para as quais, muitas vezes, não estão capacitados ou engrossam as estatísticas de desempregados dentro do nosso país.
Gerenciar o interesse pelo esporte internamente, poderia ser lucrativo no momento no qual for oferecido um ambiente propício para esse segmento. A realização de um planejamento estratégico estruturado que contemple o mercado do futebol, possivelmente nos agregaria alguns pontos percentuais no PIB Nacional, pois induziria a um aumento significativo na arrecadação de impostos para o governo federal e na criação de novas receitas para estados e municípios. Outro ponto é que a promoção da prática esportiva tem a tendência a diminuir gastos com internações médicas, reduzir ociosidade infanto-juvenil e a evasão escolar. Já o oferecimento de novos postos de trabalho advindos da ampliação desse mercado resultariam em um incremento da população ativa.
Entender esse posicionamento economicamente mais competitivo é importante, pois temos as ferramentas para sermos líderes nesse rentável mercado – o mundo do futebol – mas, infelizmente, nos falta organização, planejamento estratégico e inovação criativa para estarmos preparados e lucrarmos nesse rico filão da indústria de entretenimento.
Nesse cenário, surgem as competições locais como um produto que pode ser melhorado e que está ao alcance de todos os estados brasileiros. Afinal, as rivalidades latentes entre as diferentes cidades mobilizam de uma forma mais intensa a atenção de torcedores. A proximidade geográfica faz com que se resgate esse sentimento histórico entre as populações envolvidas e, desde que não exista um incremento da violência entre torcidas, trata-se de algo desejável para o aumento do interesse desse público.
Entretanto, enquanto os torcedores dos times maiores almejam disputar torneios mais rentáveis no intuito de ver a expansão territorial e digital de seu clube de coração. Os apaixonados por clubes sem uma expressão nacional desejam apenas que a temporada se estenda por mais tempo do que apenas um semestre para que possam dar vazão à sua paixão pelo futebol. Surge então um ponto de atrito: uns querem menos datas por um calendário mais enxuto e rentável; os outros, buscam mais jogos para que consigam se manter ativos em uma maior parte do ano. A conversa não fecha. Apenas para esclarecer, atualmente, são 16 (dezesseis) datas reservadas para essas competições e muita reclamação de ambos os lados.
Todas as reflexões sobre esse assunto chegam até aqui sem uma solução. Então, nos próximos textos, será apresentado um redesenho para essas competições. Afinal, inovação no futebol não se resume apenas ao aspecto tecnológico; pensar ‘fora da caixa’ e propor novas formas de enxergar coisas antigas também é inovar! Delinearei isso não apenas de um ponto de vista esportivo, mas com um alcance macroeconômico. Onde serão reduzidas as datas exigidas para os clubes que disputam as principais séries nacionais e ampliadas a temporada de jogos para as equipes menores.