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Entre o Direito e o Marketing do Futebol

Bem-vindos ao nosso mês de maio (mas já?) aqui no “Entre o Direito e o Esporte”. Nessas próximas quatro semanas vamos conversar sobre um assunto que é bem importante para o futebol de hoje e a sua indústria. Um assunto que dá a liga entre o futebol como direito e o futebol como negócio. Um assunto que está em todo o futebol, mesmo quando a gente não percebe. Em maio, nós vamos ver o que está entre o direito e o marketing: a propriedade intelectual no futebol.
Para deixar tudo programado, já vamos ficar de olho nas próximas semanas: hoje é aquela introdução do mês, uma base do que é propriedade intelectualno dia a dia do futebol. Semana que vem vamos ver mais sobre o que é conhecido como direito do autor– como o nosso jornal do esporte na hora do almoço. Na terceira semana do mês vamos conversar sobre os sinais distintivosno futebol – tipo o nome doseu time. E fechamos maio com as ideias de criação industriale de segredo industrial– como aquele material novo da chuteira da estrela do seutime e aquele suplemento especial que o fisiologista dá para os jogadores do seu time.
Só que hoje não vai ter regra geral, e sim vários exemplos. Bora lá?
O futebol de hoje não vive sem a mídia, sem propaganda, e sem marketing. O futebol hoje em dia precisa de alguém contando uma história. Uma história que a gente vê em comerciais na televisão, no rádio, e na internet. Um comercial que faz parte do nosso dia a dia – que nem aquele da Coca-Cola®, sabe?
É, você não está ficando louco! Realmente o link é para o YouTube® e esse comercial é um exemplo de direito do autor. Agora imagina só que você é o diretor desse comercial, o que é que você precisa antes? Um roteiro! Um roteiro para contar uma história, um roteiro para criar essa história. Uma história que também aparece no futebol.
Esse roteiro que é transformado em imagem, som, e palavras conta uma história – é a Nike®contando a história da nossa cultura do futebol. E essa gigante do esporte só consegue fazer isso por causa de tudo o que gira com o direito do autor: a música, a fotografia, e o conteúdo desse comercial fazem parte do que a gente vai ver na semana que vem. Tudo isso faz parte do direito do autor no nosso futebol.
Mais do que uma história, mais do que qualquer história. Um comercial conta a história de uma marca até quando traz só uma imagem, a imagem de uma marca – como a Coca-Cola®consegue em suas propagandas. É só ver o branco no vermelho em uma latinha que a gente já sabe o que é!
Esse tipo de conexão tem um valor ($). E esse valor é importante para a marca. Essa marca é o que faz o negócio rodar. E esse negócio também faz parte do nosso futebol. Faz parte do nosso futebol como o swoosh, que é o símbolo da Nike®. Todos sabem o que é, mesmo sem saber que issoé protegido como um sinal distintivo.
É o que a gente vai ver na terceira semana desse mês! Como o nome, a marca, o site e outros jeitos de “ser diferente” dos outros está entre o futebol e o direito da propriedade intelectual. Afinal, é disso que a indústria do esporte vive hoje.
Temos a marca, o nome, e o site. Temos a música certa, a melhor fotografia possível, e o roteiro fera. O que falta? O produto – a base de tudo. De novo, o que vem na cabeça quando a gente lembra da Coca-Cola®? Uma latinha vermelha com o nomeda marca em um tom branco, uma latinha feita de alumínio.
Essa latinha é uma criação industrial. Ela é feita de um jeito certo, com um material certo, e de um tamanho certo. Tudo isso pode ser registrado como uma patente– do mesmo jeito que acontece com as chuteiras. Chuteiras que estão nos pés dos nossos jogadores, chuteiras que são a mais pura tecnologia – como no comercial da Nike®.
E o que tem dentro da latinha? Esse é o grande mistério! A gente sabe o que é o refrigerante, só que a gente não sabe o que é a Coca-Cola®– a gente não sabe qual é a sua receita, qual é a sua fórmula. Esse segredo industrialtambém é usado no futebol para inovar no esporte– do mesmo jeito que a Nike®faz. A criação industrial e o segredo industrial andam lado a lado também no futebol, e são parte do nossodia a dia mais do que a gente vê, mais do que a gente sabe, e até mais do que a gente espera.
O esporte hoje é uma indústria. E como parte do esporte, o nosso futebol depende de como o seuclube consegue explorar o que tem depropriedade intelectual. Da chuteira da fornecedora do uniforme, da logomarca da patrocinadora máster, até a transmissão do jogo na televisão – tudo isso faz parte do negócio, tudo isso faz parte do jogo, e tudo isso faz parte do nossomês de maio aqui no nosso “Entre o Direito e o Esporte”.
Espero que tenham gostado dessa semana na Universidade do Futebol. E nos vemos na próxima sexta-feira para conversar sobre o direito do autorno nossofutebol. Fechou? Deixo meu convite para falarem comigo por aqui, pelo meu LinkedIn ou pelo meu Twitter. Bom final de semana para vocês, e até logo!
 

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A complexidade da função de treinador

Um dos inúmeros motivos que explicam a disparidade do futebol europeu para o praticado aqui no Brasil, é a formação dos treinadores. Já coloco aqui que não existe nenhum complexo de vira-lata em minha análise. É apenas uma constatação. Ao passo que os técnicos de lá ,há um bom tempo, não conseguem e nem podem trabalhar no alto rendimento,- se não tiverem os cursos básicos da Uefa-, aqui no Brasil só agora a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) dá os primeiros passos para formar nossos profissionais – e uma formação que ainda requer inúmeros ajustes, desde o custo até a didática do programa.
Rótulos são péssimos. São superficiais. Rasos. E não aprofundam a discussão. Dessa forma, não há nem treinador ‘boleiro’ e nem treinador ‘estudioso’. Se for para resumir, vamos falar que tem os bons e tem os ruins. Como em toda área de atuação profissional.
Mas dentro de um contexto de complexidade do futebol, ainda não aceito apenas as competências técnicas, táticas e metodológicas de treinamentos para classificar um treinador como bom. É necessário mais do que isso. Parece que nos esquecemos das habilidades interpessoais, que no passado fizeram tanta diferença no futebol brasileiro. Ou alguém duvida que um Luis Felipe Scolari, um Zagallo e até o folclórico Joel Santana não tiveram boa parte dos seus sucessos graças a hábil maneira de fazer o ambiente trabalhar em favor deles?
Por isso quando penso em um bom treinador, penso na junção de inúmeros elementos que dão vida a essa função. É necessário ter conteúdo, ideias de jogo e o conhecimento para operacioná-las nos treinamentos. Porém, haverá momentos que uma liderança eficaz e engajadora é que fará o resultado aparecer dentro de campo.
Talvez o maior modelo disso que estou falando seja Tite, não por acaso quem ocupa o mais alto cargo da função no Brasil. Ele é um gênio tático, um homem que revolucionou o jogo? Creio que não. Ainda vejo poucas ideias ofensivas da seleção brasileira. Mas o “jeito” de Tite cria a percepção no inconsciente coletivo de que ele sabe o que faz e dará conta do recado.
Assim como há cursos como o da CBF para aprimorar as habilidades técnicas dos profissionais de campo, também há formações em liderança, relações humanas, gestão de conflitos, coaching, programação neurolinguística, etc, que ajudam o treinador a responder melhor aos problemas quando eles aparecem. O sucesso custa caro e esforço. Vence quem paga o preço.
 

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Novo presidente eleito e o antigo, banido: qual a mudança que tanto se deseja?

Dias atrás a Confederação Brasileira de Futebol elegeu um novo presidente, Rogério Caboclo. O antigo, Marco Polo del Nero, foi banido da modalidade pela Federação Internacional de Futebol. Até que se prove o contrário, nada vai mudar no futebol do Brasil. Haja vista o cenário de como se deu a eleição, e todo o tempo que houve na preparação dos bastidores para que Del Nero pudesse fazer seu sucessor. Cumpre-se o ditado: “Tudo como d’antes, quartel-general de Abrantes”.

Já diz o Professor e Filósofo Manuel Sérgio: “o futebol é um serviço público”. É notável a exigência, por parte da opinião pública, por mudanças na entidade máxima do futebol do Brasil. Torcedores, imprensa e formadores de opinião. Entretanto, é preciso saber de maneira bem clara qual é a mudança que se quer para o futebol do Brasil. Depois disso, exigi-la.

Transparência no processo decisório é um item bastante questionado. Por mais que a confederação e as federações sejam entidades de direito privado, suas atividades comunicadas de maneira clara e acessível são capazes de aproximá-las e conectá-las ainda mais aos torcedores e formadores de opinião. Tomadas de decisão não são simples, levam tempo, e requerem, sobretudo, viés estratégico (o porquê de se decidir por algo, como e com que recursos), além de método e capacidade de execução. Observam-se estas características nas instituições voltadas para o mercado. Orientadas pelo lucro.

As entidades de administração do esporte, sobretudo as do futebol, foram construídas ao longo da história com base no favorecimento de um determinado grupo político, para fortalecimento dele e manutenção do poder. Apoiado pelos resultados dentro de campo (um pentacampeonato mundial, por exemplo), esses grupos ficaram fortes e criou-se uma cultura de poder difícil de erradicar. Toda a mudança que se propõe pode vir de baixo e emanar do movimento entre os clubes. No entanto, qual é o clube forte o suficiente para “comprar uma briga” com a federação estadual? E qual a federação que “compraria uma briga” com a confederação? Ao se colocar em uma balança, o prejuízo político deste clube ou da federação que “briga” pode ser bem alto e, por isso, não valer a pena.
 

Rogério Caboclo, presidente eleito da Confederação Brasileira de Futebol.|Foto: Divulgação

 

Então quer dizer que as entidades de administração do esporte, especificamente neste caso, do futebol, devem visar sempre o lucro, como capitalistas “famintos” por resultado financeiro? Sim! Agir como “famintos” é apenas como figura de linguagem. Acima de tudo, é preciso respeitar os dois elementos mais importantes do esporte: o atleta e o torcedor, que é o público-alvo. Ademais, fazer cumprir seus papéis que são de difundir e proteger o esporte.

Ao fechar-se em pequenos e restritos grupos, os dirigentes afastam cada vez mais torcida e opinião pública. Não agir de maneira transparente coloca em xeque todo o processo decisório das instituições e permite o levantamento de suspeitas acerca do favorecimento pessoal dos seus membros. A gestão se torna ineficiente, uma vez que tem como base o clientelismo e tráfico de influência. Não o mercado. A prazo, caem em descrédito, perdem a base de torcedores (que vão ver mais jogos de ligas estrangeiras) e a fuga de patrocinadores, que também exigem esta transparência e têm se organizado para apoiar as entidades que cumpram uma série de requisitos, dentre eles, a governança.

Portanto, a mudança acerca do processo decisório é apenas uma característica que a opinião pública exige das entidades de administração do esporte no Brasil. Mudar de presidente e banir o antigo não vai mudar muita coisa. Os problemas não acabarão em curto prazo. É preciso saber, antes de tudo, o que se quer mudar e exigir isso. O futebol mais acessível e ao alcance de todos, dentro e fora de campo. Por que é interesse público.

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Diretoria: uma das pernas na qual descansa o trabalho em equipe

Todo mundo sabe disso, mas no futebol é comum que a gente acabe se concentrando unicamente em indivíduos, mesmo que o resultado seja devido à um esforço coletivo. Pense em bônus por desempenho, promoções ou contratações. O foco está sempre em um ou outro, e isso acaba sendo um grande erro. Entretanto, para que o todo funcione muito bem, é evidente que se deve escolher corretamente aqueles que exercerão determinados cargos dentro do clube. Neste caso, não se escolhe somente a pessoa, mas fundamentalmente suas ideias e seu comportamento.
Após a escolha, o papel da direção do clube passa a ser um tanto amplo, ou seja, além de compartilhar as informações, deve-se fazer cumprir os projetos do clube por meio de um alinhamento absoluto de objetivo e confiança. Este caminho só pode ser percorrido com conceitos claros, contenção de excessos e um processo de avaliação constante.
Aqui recai uma das habilidades mais importantes de um diretor: a capacidade de perceber e desenvolver o potencial das pessoas. Todos nós temos limitações em determinadas áreas, em contrapartida somos muito bons em várias outras. Em uma equipe, os conhecimentos se completam e o respeito pelas habilidades e limitações de cada um é a chave para o bom andamento do trabalho. Não se trata de saber mais ou saber menos, mas sim de somar e potencializar os “diferentes saberes” em função do clube na busca pelos resultados desejados.
Vale lembrar que o resultado desejado no processo de formação, inclusive para o diretor, é fazer com que jogadores formados pelo clube se destaquem e subam ao profissional, ano após ano! Formar uma grande equipe, constituída em sua totalidade por jogadores do clube, não deveria ser tão utópico como parece; deveria ser o objetivo a ser alcançado. Mas para realizar um trabalho desta magnitude, o diretor não pode tratá-lo como um hobby. É preciso ser bem informado, observar a conduta de todos os envolvidos no processo, estar disponível para os staffs (principalmente para orientá-los), tomar decisões e agir respeitando sempre a identidade do clube, e o mais importante de tudo, ser o responsável pela construção e manutenção deste ciclo bem-sucedido.
 

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Entre o Intermediário e a CBF

Bem-vindos ao nosso fechamento de abril aqui no “Entre o Direito e o Esporte”. Nesse mês a gente conversou bastante sobre os intermediários no futebol brasileiro e hoje vamos fechar com o sistema registro que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) mantém para e que todo intermediário tem que saber. É um dos primeiros passos para todo mundo que quer trabalhar representando clubes e atletas do nossofutebol.
E para deixar tudo mais tranquilo de seguir, o nosso mapa de hoje é o seguinte: vamos começar falando sobre como os “regulamentos do mundo do futebol” veem esse sistema de registro; para daí conversar sobre os requisitos para o registro do intermediário na CBF; e fecharmos o mês trocando algumas ideias sobre alguns pontos importantes que é bom a gente saber.
Bora?
O “mundo do futebol” vive dos seus regulamentos, certo? E os intermediários dão de cara com essas regras no seu dia a dia – como a gente conversou na segunda semana de abril. Isso vale também para a questão do registro. Registro… é, imagina que é época de Copa do Mundo (FIFA, marca registrada, e tudo mais). Imagina que você é muito fã de tudo isso. Imagina que você é tão ligado no 220v do futebol que coleciona o álbum (Panini, mais uma marca registrada) da Copa do Mundo (FIFA®).
Você recebeu esse álbum em mãos. Esse álbum não tem nenhuma figurinha ainda. Só que no lugar dessas figurinhas já tem o espaço de cada um. Né? Colar a figurinha é só registrar e deixar mais claro (e brilhante) quem é quem ali – e no caso da CBF é a mesma coisa! Esse registro é apenas para deixar mais claro (e transparente) quem é quem no “mundo do futebol”. E cada associação nacional tem que fazer isso – ou seja, é uma ordem da FIFA e não é só por aqui. E mais: esse sistema é público, assim como o álbum (da Panini®).
Na CBF esse registro é anual, é como se fosse um CPF (ou CNPJ) dos intermediários – dá “vida” a essas pessoas (ou empresas) para o “mundo do futebol”. E o intermediário para ter esse seu CPF da CBF tem que mostrar algumas coisas necessárias, algumas exigências que estão lá nesses regulamentos. É que nem no álbum da Copa® que só vão aqueles que “cumprem um pré-requisito” (como a gente fala no juridiquês), e nesse caso são só aqueles jogadores que tem a possibilidade de ir para o Mundial.
Já pelos lados da CBF… os intermediários têm que ter e demonstrar uma reputação impecável. Beleza, e o que é isso? Bom, por aqui o jeito é mostrar as chamadas “certidões negativas” – como as criminais, civis e de protestos de títulos. Além disso, o intermediário tem que entregar uma declaração de que não tem qualquer relação contratual com liga, federação, confederação ou com a FIFA que possam levar a um conflito de interesse – que a gente viu semana passada. Até aí tranquilo, né?
Para conseguir esse “CPF da bola” o intermediário tem que pagar uma “taxa de registro” e juntar uma cópia da apólice de seguro de responsabilidade civil que esteja de acordo com o que a CBF acredita ser necessário – e isso custa dinheiro, que nem o seuseguro de vida, do carro, saúde… Esse seguro é uma maneira de “garantir” os clientes caso “dê ruim” por culpado intermediário. Ou seja, é por um bom motivo, vai!
Beleza, agora é que você me diz que já é intermediário e se registrou. Então tudo tranquilo e favorável, né? Quase… todo e qualquer contrato que você participe (jogador com clube ou clube com clube) tem que ser registrado na própria Confederação Brasileira de Futebol também. Lembra, o sistema é público e tem que ser transparente (mesmo que seja transparente só para a CBF de vez em quando).
Aí é tipo a Receita Federal e o seuimposto de renda, sabe? Lembra da pizzaria? Então, tudo que você vendia lá tinha que ir para o livro-caixa da sua empresa e ser declarada no imposto de renda (de pessoa jurídica) para que tudo fique certinho. E aqui a ideia é a mesma! A CBF quer saber o que você fez e faz (sistema transparente e claro), e por isso cada intermediário tem que registrar esses contratos.
É agora que você vira para mim e fala: “e se eu não quiser?”. Cara, sugestão de amigo… melhor fazer tudo direitinho. A Confederação Brasileira de Futebol pode punir jogador, clube e intermediário se alguém “esqueceu” qualquer um desses detalhes– e vários outros. Inclusive, a CBF pode julgaressas pessoas no seu Comitê Nacional de Resolução de Disputas (CNRD) e decidir um monte de coisa.
Decidir que o jogador não pode mais atuar em qualquer atividade relacionada ao futebol (até treinar!), decidir que o clube vai ser rebaixado (pois é!), e decidir que o intermediário não pode mais trabalhar no sistema CBF (e todos os seusclientes vão embora). Claro, esse tipo de decisão (sanção) só acontece em casos muito absurdos – mas é bom lembrar que é sempre uma possibilidade, né? Imagina acontece com você! É quase como ser dono de uma pizzaria e não poder comprar mais farinha e tomate… o fim!
E, falando em fim, chegamos ao nosso aqui esse mês do “especial sobre intermediários” na nossacoluna. Aliás, pessoal, eu sei que deixei esse ®no mistério aqui hoje, né? Então, é que é esse o tema do nosso próximo mês quando vamos conversar sobre propriedade intelectual no futebol – e deixo assim, no ar!
Espero que tenham gostado desse nossoabril aqui “Entre o Direito e o Esporte”. E nos vemos daqui a uma semana no site da Universidade do Futebol para conversar sobre esse ®. Beleza? Deixo meu convite para falarem comigo por aqui, pelo meu LinkedIn ou pelo meu Twitter. Bom final de semana para vocês, e até logo!
 

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Não é coincidência o São Paulo não ganhar nada há tanto tempo

Mais do que ninguém sou apaixonado pela imprevisibilidade do futebol. Um esporte em que nem sempre o melhor vence, é algo que me prende e me fascina. E, entender o caos e a complexidade que circunda o jogo é algo que me move a estuda-lo cada vez mais.
Porém, mesmo diante desse cenário, o sucesso no futebol não é obra do acaso. Ele é planejado. É merecido. E deixa rastros e pistas para todos.
Clubes que foram vitoriosos por pelo menos um período médio de tempo – e não apenas ganharam um troféu aqui e outro alí – tiveram algo em comum na maioria das vezes; a manutenção de uma ideia de jogo. Uma identidade. Uma filosofia.
Vamos lembrar de equipes que ganharam com consistência no futebol brasileiro recentemente? Anote aí: nos anos 90: o São Paulo do inicio da década, o Palmeiras nos meados dela e o Corinthians da virada do século. Nos anos 2000, o Santos ressurgindo com os meninos da Vila, o São Paulo soberano e esse Corinthians que ressurgiu da Série B para ganhar praticamente tudo até agora.
Repare que não falei de jogadores e treinadores. Falei de eras. De conceitos. E todos representado por vários e diferentes atletas, técnicos e estilos. Mas cada um mantendo uma identidade padrão.
Basta uma mínima análise para ver as pistas que esses sucessos deixaram: continuidade, convicção, manutenção de filosofia de gestão e ideia de jogo.
Trazendo para os dias de hoje, qual clube grande paulista é o menos vitorioso dos últimos anos? Será que por mera coincidência é o que mais trocou de filosofia de futebol? – e aí entra no balaio mudança brusca não só no perfil de técnicos e jogadores, mas também de dirigentes. Pois é, falamos do São Paulo.
Que em abril já trocou de treinador. Que em abril tem jogador estreando (Everton). Que em abril já pensa em liberar para outro clube a sua grande aposta da temporada (Diego Souza). Que em abril já sabe que não será neste ano que ocupará sua galeria de conquistas com um troféu da Copa do Brasil.
É fato que no futebol, assim como na vida, sucesso e fracasso são opções. São escolhas. Algumas variáveis não podemos controlar dentro de um jogo de futebol. Mas outras variáveis, principalmente fora das quatro linhas, podemos. E é aí que a interferência deve ser mais assertiva e determinante. Tanto para o bem, como para o mal.

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Por onde também passa o futuro do futebol feminino no Brasil

Há algumas semanas esta coluna tratou do crescimento e desenvolvimento do futebol feminino no Brasil. Foram levantados alguns aspectos da modalidade, do seu envolvimento com a sociedade, algo sobre gênero e algumas hipóteses do porquê da falta de interesse por parte do público. Entretanto, o futuro deste esporte, praticado entre as mulheres, também passa pela maneira como é comunicado. 
Por como é comunicado se entende em como a mensagem do futebol é transmitida para determinado público-alvo. Pode ser ele com base na faixa etária, localização, equipe preferida e, claro, gênero. Nesse sentido, algumas emissoras de rádio e televisão contam com profissionais especializados em futebol para o público-alvo de interesse. É inegável que as mulheres formam hoje grande parte do mercado da modalidade – muito diferente de um tempo não tão distante – e, desta maneira, precisam de respostas que atendam às suas demandas (o tratamento da informação e a maneira como ela será transmitida, por exemplo).
Neste sentido, é crescente o número de narradoras e mulheres especialistas em futebol. E não apenas em futebol feminino. Que bom! Infelizmente, é comum perceber que elas precisam romper inúmeras barreiras ainda. No entanto, este cenário é uma realidade (não apenas com o futebol do Brasil, mas também com todas as questões relacionadas ao gênero na sociedade brasileira) sine qua non para que se alcance, de fato, uma igualdade plena de gêneros em nosso país. Muito se fala da projeção do futebol feminino dentro de campo, só que é preciso que o mesmo aconteça fora dele. Com o tempo, a contribuição das mulheres com o universo do futebol aumenta e a difusão do futebol praticado por elas, também: dependendo da qualidade da mensagem que é transmitida, vai haver mais meninas se interessando em praticar o jogo. 

Isabelly Morais, da Rádio Inconfidência, em jogo no Estádio Independência, em Belo Horizonte/MG. Foto: mg.superesportes.com.br

 
Portanto, é muito saudável perceber que mais mulheres estão envolvidas com o futebol, não apenas dentro de campo. Na gestão do esporte, elas vão ter um papel bastante semelhante. Quem dera fosse outra realidade a do Brasil – que isso surgisse natural e espontaneamente. Haver exemplos é fundamental para a continuidade de um propósito. No caso, o da igualdade de gêneros. Que surjam mais iniciativas como esta! 

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Entre o Intermediário, o atleta e os clubes

Bem-vindos ao nosso terceiro encontro nesse abril aqui no “Entre o Direito e o Esporte” – o “mês dos intermediários” aqui na nossa coluna! E hoje vamos conversar sobre o “modelão” na intermediação para seguir na linha do que combinamos no começo do mês. Hoje é o dia daquele contrato básico, aquele mínimo do mínimo que todo intermediário vê no seu escritório. É hoje que a gente vai ver o que o intermediário precisa no seu contrato.
É mais fácil seguir o jogo se as regras são claras, então já deixo aqui as quatro linhas bem desenhadas: as duas linhas de fundo são as bases do contrato de representação do intermediário. Já a lateral onde ficam os bancos é a forma de pagamento do intermediário. E a linha que sobrou são os detalhes importantes para fechar o campo de jogo.
Vamos lá?
No contrato-modelo de representação de um intermediário a gente vai ver o básico do básico e isso a gente já sabe. Agora, o que é esse básico? É fácil, juro. É que nem quando a gente quer fazer brigadeiro e meio que já sabe que tem que colocar na panela em fogo médio o leite condensado, o chocolate em pó e a manteiga.
No contrato de representação esses ingredientes são vários, como os nomes do representante (intermediário) e representado (clube ou atleta) com todas as informações possíveis. Além disso é importante colocar quanto tempo esse contrato vai durar, os tipos de serviço (e onde), e como esse contrato chega ao seu fim.
Daí é só misturar uma vez que a gente tem tudo isso, e esperar ferver para comer. Ou, no caso do intermediário, cobrar. Aliás, aí é outro ponto importante para se colocar no contrato: como que se dá o pagamento do intermediário – afinal, essa pessoa também precisa comer e viver.
Imagina agora que você vai começar um trabalho novo. Imagina que nesse trabalho novo você vai poder negociar o seu salário. Imagina que o seu trabalho é vender esses brigadeiros que o seu amigo fez para restaurantes na região central da cidade de São Paulo. Esse seu contrato tem que ter como que a pessoa que te contratou vai calcular o quanto que vai te pagar por isso, certo?
O contrato de representação do intermediário vai ter a mesma coisa. Alguns preferem trabalhar com um valor que fica lá pelos três por cento (3%) do que o jogador vai ganhar. Outros preferem trabalhar com um valor fixo fechado num pacote de vários serviços. Seja como for a preferência, esse valor é pago por alguém e esse alguém é quem contratou o intermediário – a não ser que o seuclube concorde em pagar o intermediário do atleta, daí vai ser uma exceção à essa regra geral.
Agora, ainda tem três detalhes importantes.
Imagina que você vende esses brigadeiros do seu amigo e esse amigo é menor de idade. E aí? O responsável por esse seu amigo (como os pais) tem que autorizar e o mesmo vale para o atleta profissional de futebol que for menor de idade.
Imagina que você vende esses brigadeiros do seu amigo e descobre que mais alguém vende esses brigadeiros no mesmo lugar que você. E aí? O seu amigo pode escolherse você é o único representante dele e o mesmo vale no “mundo do futebol” – seja esse seu amigo um atleta ou um clube.
Imagina que você vende esses brigadeiros do seu amigo e te perguntam até quando você pode representar o seu amigo. E aí? O contrato com o seu amigo vai ter um tempo fixo para  você vender esses brigadeiros e a mesma coisa vale para o nosso esporte – o intermediário vai ter um contrato com o seuclube ou um atleta de no máximo 24 meses que pode ser renovado por escrito desde que todo mundo concorde.
Fazer um contrato básico de representação é como fazer um brigadeiro. É simples na hora de colocar os ingredientes só que a gente sempre corre o risco de errar no ponto, ainda mais se o fogão ou a panela são novos. Agora, nem sempre tem espaço para o básico. Né?
É por isso que é importante pensar no que mais a gente quer que tenha no contrato antes de assinar, e pensar bem sobre isso. Desde o que pode dar errado depois e até o que pode dar certo. Quanto mais completo for o contrato, melhor. Essa qualidade a mais fica muito mais fácil de mostrar depois na hora de contar a história de quem você representa.
E quem prestou atenção em tudo até aqui já sabe que falta um último passo para terminar o brigadeiro, né? Colocar o granulado! Afinal, esse contrato tem que ser registrado na Confederação Brasileira de Futebol. E é bem isso que a gente vai ver semana que vem, fechou?
Espero que tenham gostado do nosso “Entre o Direito e o Esporte” aqui na Universidade do Futebol. A gente continua nossa conversa na próxima sexta-feira para fechar o nosso “mês dos intermediários”. Aproveito e deixo meu convite para falarem comigo por aqui, pelo meu LinkedIn ou pelo meu Twitter. Bom final de semana para vocês, e até logo!

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Quer entender o Atlético-PR de Fernando Diniz? 

Entender o jogo de Fernando Diniz não é fácil. Juro que já tentei. Falando diretamente com ele. Algumas vezes. A mais recente foi no final do ano passado. Ele desempregado. Rebaixado com o Audax.
Diniz nos brindou com sua presença no grupo de estudos que temos na Universidade do Futebol, capitaneado pelo brilhante professor João Paulo Medina. Me lembro como se fosse ontem: no final da reunião, após termos debatido e estudado o assunto do dia, puxei o meu celular e peguei um vídeo enviado por mais um amigo, o auxiliar de Diniz, Eduardo Barros: esse vídeo mostrava o Audax em organização ofensiva, encurralando o Palmeiras, em pleno Aliianz Parque. Eu na minha fome de estudar o jogo, sedento por entender tudo de tática, análise de desempenho e metodologia de treinamento, já fui indagando Diniz sobre os princípios e sub-princípios que estavam ali envolvidos.
E ele calmamente me respondeu que antes da tática vem as relações pessoais. Poxa, como assim as relações? Por exemplo: para jogar apoiado, em que o portador da bola tem duas opções de passe na formação de um triângulo pelo menos um jogador vai ficar sem receber a bola. Como se diz na gíria, vai ter ‘corrido a toa’. Para o goleiro fazer parte do modelo de jogo e da construção ofensiva o grupo todo tem que confiar nele. É contra-cultura aqui no Brasil o goleiro jogar com os pés. Afinal, se ele fosse bom estaria na linha, argumentam os mais conservadores. Para toda hora ter cobertura defensiva, há de se ter um espírito de equipe. E aí, está: se não houver grupo, companheirismo, senso coletivo e ajuda mútua esse tipo de jogo não vai rolar.
É por isso que Fernando Diniz considera muitas vezes mais importante fortalecer as relações do que treinar princípios e sub-princípios.
O atual técnico do Atlético-PR acredita piamente que com esse espirito e com esse tipo de jogo sua equipe estará mais próxima da vitória.
Ele diz sempre que todo garoto que vira jogador em algum momento da sua adolescência foi o melhor ou da rua ou da escola. Por que engessa-lo e podá-lo quando chega ao profissional? Resgatar o homem antes do jogador é o que mais fascina Diniz, que também é psicólogo. Entender o porque de esse jogador talvez não ser mais o melhor do pedaço faz com que Diniz dedique quatro, cinco horas conversando com esse homem e desvendando tudo o que passou. Eles se abraçam, choram, riem. Tudo junto.
Portanto, depois dessa conversa passei a entender melhor. Realmente antes da amplitude, da profundidade, da ultrapassagem e da compactação vem a forma com o que o grupo é construído. Diniz é assim na derrota e na vitória. Um time é o retrato fiel da personalidade de seu treinador. Não pense que o técnico do Furacão está empolgado com os últimos elogios. Assim como ele não mudou suas convicções quando foi rebaixado com o Audax e passou mais de seis meses desempregado. Você pode gostar ou não. Mas Fernando Diniz é um dos poucos, senão o único aqui no Brasil, que joga por uma filosofia, por uma missão, por um propósito.
 

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Começou o Campeonato Brasileiro: o maior do mundo

Certamente muitos discordaram do título deste artigo e vão dizer sobre as ligas da Inglaterra, e da Alemanha, sobretudo. Sem dúvida que o futebol de clubes do Brasil está longe de ter a estrutura (dentro e fora de campo), o profissionalismo, a governança e a cultura de mercado que outros lugares possuem. Fatores que permitem grandes investimentos, em favorecimento do esporte. Como consequência, um dos produtos finais, o jogo, acaba por tornar-se um “espetáculo”.

Abre parênteses: em uma análise mais densa, é possível considerar até que ponto a política (o tráfico de influência, o nepotismo, a impunidade) do país chega a influenciar más práticas de gestão do esporte, especificamente o futebol. Fecha parênteses.

Volta-se ao título do artigo: a começar pela Série A, são todos clubes grandes. Alguns possuem projeção mais nacional, mas em geral todos são. Os jogos são na maior parte competitivos e capazes de atrair grande público, preencher a capacidade máxima dos estádios. O porquê ou não de ocupar essa capacidade máxima é outra história e tema para outro texto. Os jogos destes grandes clubes sugerem vários clássicos. Para ser campeão brasileiro, é preciso vencê-los, praticamente um seguido do outro. O resultado de um clássico é imprevisível, o que chama ainda mais a atenção do torcedor e da mídia.

Já são quinze anos de Campeonato Brasileiro disputado no formato de pontos corridos. Premia-se a regularidade e a constância de uma equipe na competição, fundamentais para um trabalho a longo prazo no esporte, com sustentabilidade. Sem contratações curtas, desesperadas e caras – que comprometem as finanças da instituição -, a fim de salvar do rebaixamento ou conseguir na última rodada a classificação para a fase de “mata-mata”.

Cruzeiro Esporte Clube, vencedor do Campeonato Brasileiro da Série A quando disputado por pontos corridos pela primeira vez, em 2003. | Foto: cruzeiro.com.br

 

Por muitos anos o mercado brasileiro foi fechado para o mundo. Há pouco mais de duas décadas isso começou a mudar. Aos poucos o esporte do Brasil está mais voltado para o mercado e a internacionalização é necessária. O Real não é tão forte quanto a Libra, o Euro e o Dólar. Ademais, a América do Sul é a região mais isolada do planeta.

Por outro lado, o Brasil possui: um grande e forte mercado consumidor e publicitário, respectivamente. Uma população com considerável poder de consumo. Torcedores, que gostam, consomem o futebol e querem isso muito mais. É possível ser bem maior do que já é. Entretanto, é uma conjuntura que vai proporcionar as condições necessárias para que isso aconteça.

Diante disso, esta conjuntura será construída a partir de um discurso unificado sobre o futuro do futebol de clubes do Brasil. Qual o ponto-de-situação e onde se quer chegar. Mudanças de ordem de governança, transparência e cultura de mercado, sempre com respeito ao torcedor e ao atleta. Com o tempo, adquire-se credibilidade da opinião pública (imprensa, torcida e setores não ligados ao futebol) e, consequentemente, haverá o retorno financeiro. No texto, aqui, parece muito fácil. Mas não é! No entanto, basta trabalho e vontade. Muita vontade em fazer e mudar.