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Para ampliar a discussão e acelerar a evolução do futebol brasileiro

Na semana passada, a Universidade do Futebol publicou na íntegra o post feito pelo zagueiro do Corinthians Paulo André, em seu blog oficial, a respeito das categorias de base, mais especificamente em relação ao clube que atua.

Uma semana depois, um importante canal de televisão brasileiro, em seu portal de notícias, promoveu uma matéria com um atleta corintiano recém-contratado, em que o tema principal era a qualidade da “resenha” do jogador e as mais de 500 mulheres com as quais ele já saiu.

Como devemos respeitar as diferentes interpretações/visões da realidade, feitas por cada indivíduo/sociedade, e compreender que questões como estas, ou então, de Luiza, do Michel Teló, além do episódio no BBB, são mais atrativas do que questões ideológicas e revolucionárias, prefiro, ao invés de criticar a referida matéria, divulgar a louvável iniciativa do zagueiro Paulo André e “brigar” para que ela ganhe maiores dimensões.

Há alguns dias, participei de uma matéria feita pelo canal SporTV que abordava a perda de prestígio dos treinadores brasileiros no cenário mundial. De uma maneira simplificada, a reportagem permitiu a compreensão de somente um pequeno fragmento do todo que tem desprestigiado nossos treinadores e, é claro, nosso futebol. A repercussão da matéria: mínima!

Da grande parte das ideias que tentei transmitir em cerca de cinco minutos de entrevista, somente alguns segundos foram ao ar. Estou certo de que muitas, senão todas as ideias que mencionei à jornalista já foram bastante discutidas/exploradas/evidenciadas na Universidade do Futebol. Porém, estas ideias (as minhas, as suas, as dos demais colunistas e colaboradores) não podem ter suas divulgações restritas somente a este espaço.

E é neste ponto que o atleta Paulo André pode contribuir com nossas reflexões diárias acerca do futebol.

Atleta profissional de um clube de massa, com respeito de diretoria, torcedores e mídia em geral, o valor simbólico da sua opinião é infinitamente superior a minha, colunista semanal e técnico adjunto do pequeno Paulínia FC.

Ao ler o post de Paulo André, redigi a seguinte opinião:

“Qualquer comentário sobre a atual situação do futebol brasileiro pode parecer pobre quando comentada em poucas linhas, ainda mais quando o assunto se refere às categorias de base, ou melhor, ao FUTURO do nosso futebol.

Já mencionei em uma das minhas publicações na Universidade do Futebol que o Brasil tem material humano suficiente para ter pelo menos um Barcelona (clube modelo de formação) por Estado. Para isso, falta o principal: gestão competente do departamento de futebol profissional dos mais de mil clubes espalhados pelo país.

Poderia comentar a visão da gestão para os diferentes perfis de clubes (formadores, clubes de massa, clubes pequenos) e também sobre os diferentes perfis de administração (terceirização, abandono, descaso, investimentos exorbitantes), que possibilitaria uma maior visão sobre as categorias de base no Brasil, porém, como você relata o case Corinthians (clube de massa com investimento anual exorbitante na Base), é nele que irei me prender.

Concordo plenamente que poucos jogadores estão maduros (fisica-técnica-tática-emocionalmente) aos 18 anos para ingressarem em alto nível no Depto. Profissional, porém, emprestar jogadores penso que não é a alternativa mais viável. Disputar competições com uma equipe B é uma opção plausível. O elenco principal teria mais tempo para a pré-temporada (e você mais tempo de preparação que tanto deseja) se vocês jogassem somente alguns jogos do Campeonato Estadual. Num ano em que vale o título ainda não conquistado (Libertadores), Campeonato Paulista não deve ser prioridade de título da diretoria. Eis um momento importante para jovens jogadores amadurecerem!

Sobre a mudança de idade da Copa SP, na minha visão, é indiferente. Clubes bem planejados, não devem fazer deste torneio o divisor de águas sobre um bom ou um mau trabalho. O São Paulo foi Campeão Paulista sub-20 e eliminado na 1ª fase da Copinha; sinal que está tudo errado e que alguém deve pagar por isso? De maneira alguma.

Caso o Corinthians seja campeão (assim como foi), também não significa que muitos estarão em condições de jogar no profissional. Com diversas competições nacionais e internacionais de categorias de base, a Copa SP é somente mais uma com mais visibilidade do que as demais devido ao recesso do futebol profissional.

Desfazer-se da categoria de base, no caso do Corinthians, é desfazer-se da grande identidade futura do clube. Qual o melhor ambiente para a raça corintiana (idolatrada pela torcida) ser adquirida que não no depto de formação do clube? Será que, ao longo do tempo, todos os jogadores contratados viriam com este sentimento/atitude?

Será que as contratações se encaixariam perfeitamente no Modelo de Jogo do clube (e não no Modelo do treinador)? Se tal Modelo estiver sendo desenvolvido desde o Dente de Leite (como faz o Barça) ao sub-20/sub-23, pouquíssimos jogadores precisariam ser contratados.

Este meu argumento poderia ser facilmente batido ao mencionar que o Real Madrid quase não tem jogadores da base. É fato, como também é certo que é muito custoso (muito mais que R$ 15 milhões) e que não é garantia de título. Faz anos que o Real não disputa uma final de Champions.

Concluindo, passa tudo pelo principal: gestão competente do depto de futebol profissional que deve estreitar a comunicação com a base, contratar profissionais capacitados para o depto. de formação, aproveitar as mudanças da Lei Pelé que privilegiam o clube formador com um contrato, transmitir uma filosofia desejada e supervisionar sua aplicação, profissionalizar com salário coerente, atletas em potencial e preparar os jogadores (fisica-técnica-tática-emocionalmente) com o que há de mais atual em relação à metodologia de treinamento e se desvincular de agentes/empresários que limitam a evolução do futebol brasileiro e prejudicam os clubes.

Enfim, é um processo demorado, trabalhoso, mas que pode dar sentido (lucro e sustentabilidade) à existência das categorias de base dos clubes de massa.

Talvez, com a operacionalização de tudo isso, jogadores mais “maduros” (atletas e não boleiros) apareçam em maior número e já nas idades de transição da categoria Júnior.”

O Paulo André ainda irá fazer mais três publicações sobre o mesmo tema. Irá, inclusive, contrapor a opinião da postagem inicial. Não deixe de se posicionar! Entre no blog do atleta e o instigue com reflexões, questionamentos e comentários. Enfim, faça sua parte. Quanto mais pessoas pensarem e intervirem nas questões do futebol de formação, mais rápida será nossa evolução.

Por enquanto, agradeço ao Paulo André pela iniciativa. Bem que poderíamos ter um jogador (atleta e não boleiro) como este por clube grande do futebol brasileiro!

Para interagir com o colunista: eduardo@universidadedofutebol.com.br

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Mecanismo de solidariedade: incentivo ao clube formador

Com o fim do passe, que segundo Luciano Brustolini, Diretor do Instituto Mineiro de Direito Desportivo, “era a compensação financeira, a quantia que um clube pagava a outro para transferir determinado jogador” (Acesso em www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=971_), aventou-se que poderia haver desestímulo aos clubes para a formação de atletas. Inclusive, o referido tema foi objeto de artigo de Danilo Ricchetti Basso, aqui na Universidade do Futebol.

Conforme destaca Carlezzo, “as transferências de jogares de futebol envolvem bilhões de dólares por ano e empregam milhões de pessoas ao redor do mundo. Praticado por mais de 242 milhões de pessoas em todo o mundo, o futebol faz parte do ‘segmento de massas’ e justamente por isso, tornou-se um negócio global multibilionário.”

Assim, objetivando incentivar os clubes formadores de atletas, a Fifa criou uma maneira de compensá-los financeiramente por meio de percentual dos valores das transferências internacionais dos jogadores de futebol, conforme estabelece o artigo 21 do Regulamento de Transferências da Fifa:
 

Artigo 21. Mecanismo de Solidariedade Se um Profissional for transferido antes do termo do seu contrato, qualquer clube que tenha contribuído para a sua educação e formação receberá uma percentagem da compensação paga ao clube anterior (contribuição de solidariedade). As disposições relativas às contribuições de solidariedade constam no Anexo 5 do presente Regulamento.
 

Segundo este Regulamento, para que um clube possa pleitear o pagamento do mecanismo de solidariedade, basta haver a existência de transferência internacional onerosa de jogador profissional de futebol.

Dessa forma, 5% do valor da transferência serão destinados aos clubes formadores. Havendo mais de um clube que registrou o atleta entre os 12 e 23 anos, esse valor será dividido proporcionalmente.

Segundo o Regulamento da Fifa, o pagamento do mecanismo de solidariedade deverá ser feito pelo clube que estiver contratando o atleta, em até 30 dias após o pagamento do valor da transferência. Ademais, caso necessário, o jogador deverá auxiliar o seu novo clube a cumprir a obrigação, informando todos os clubes que tenha atuado durante o período de formação, ou seja, entre os 12 e 23 anos de idade.

No caso de transferências nacionais, inspirado no Regulamentos da Fifa supracitado, a Lei Pelé, em seu artigo 29-A, inovou no direto brasileiro com o chamado mecanismo de solidariedade, pelo qual, conforme já mencionado, busca-se a valorização das entidades de prática desportiva que contribuíram para a formação do atleta profissional, fazendo com que elas, sempre que ocorram transferências, recebam percentual dos valores transacionados, obrigatoriamente distribuídos entre as entidades de prática desportiva que contribuíram para a formação do atleta, na proporção de: um por cento para cada ano de formação do atleta, dos quatorze aos dezessete anos de idade, inclusive; e meio por cento para cada ano de formação, dos dezoito aos dezenove anos de idade, inclusive.

Cabe à entidade de prática desportiva que recebe o atleta profissional a incumbência de reter do valor a ser pago à entidade de prática desportiva cedente (5%), distribuindo-o às entidades de prática desportiva que contribuíram para a formação do atleta.

Na hipótese do atleta se desvincular da entidade de prática desportiva de forma unilateral, mediante o pagamento da cláusula indenizatória desportiva, caberá à entidade de prática desportiva que recebeu a cláusula indenizatória desportiva distribuir cinco por cento de tal montante às entidades de prática desportiva responsáveis pela formação do atleta.

Os valores a serem repassados às entidades de prática desportiva formadoras deverão ser proporcionais ao tempo de permanência em formação do atleta, mediante comprovação por certidão expedida pela entidade nacional de administração do desporto (no caso, a CBF), no prazo máximo de trinta dias da efetiva transferência.

A entidade de prática desportiva formadora do atleta terá o direito de assinar com ele, a partir de 16 (dezesseis) anos de idade, o primeiro contrato especial de trabalho desportivo, cujo prazo não poderá ser superior a 5 (cinco) anos.

Segundo a Lei Pelé é considerada formadora de atleta a entidade de prática desportiva que forneça aos atletas programas de treinamento nas categorias de base e complementação educacional; e satisfaça cumulativamente os seguintes requisitos:

 

  1. estar o atleta em formação inscrito por ela na respectiva entidade regional de administração do desporto há, pelo menos, 1 (um) ano;
  2. comprovar que, efetivamente, o atleta em formação está inscrito em competições oficiais;.
  3. garantir assistência educacional, psicológica, médica e odontológica, assim como alimentação, transporte e convivência familiar;
  4. manter alojamento e instalações desportivas adequados, sobretudo em matéria de alimentação, higiene, segurança e salubridade;
  5. manter corpo de profissionais especializados em formação tecnicodesportiva;
  6. ajustar o tempo destinado à efetiva atividade de formação do atleta, não superior a 4 (quatro) horas por dia, aos horários do currículo escolar ou de curso profissionalizante, além de propiciar-lhe a matrícula escolar, com exigência de frequência e satisfatório aproveitamento;
  7. ser a formação do atleta gratuita e a expensas da entidade de prática desportiva;
  8. comprovar que participa anualmente de competições organizadas por entidade de administração do desporto em, pelo menos, 2 (duas) categorias da respectiva modalidade desportiva; e
  9. garantir que o período de seleção não coincida com os horários escolares.

À Confederação Brasileira de Futebol compete a fiscalização das operações pertinentes aos repasses previstos, bem como deverá certificar como entidade de prática desportiva formadora aquela que comprovadamente preencha os requisitos legais.

Portanto, o mecanismo de solidariedade constitui incentivo aos clubes para o investirem nas categorias de base, uma vez que pode representar importante fonte de receita para o custeio das atividades esportivas que demandam cada vez mais recursos para garantia de performances dos atletas de alto nível, além de atrair investidores.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br
 

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Coluna de estreia

Assim que conquistou o direito de organizar a Copa 2014 e as Olimpíadas 2016, o foco de notícias e investimentos voltou-se para o Brasil, principalmente em torno dos estádios e equipamentos que sediarão os eventos. No entanto, o país possui pouca experiência e é natural que busquemos exemplos internacionais como referência. Mas, também, nada nos impede que criemos nossa própria bagagem com novos experimentos, elaboração de novos estudos (acadêmicos e em testes nos estádios) mais adequados à nossa realidade social e, também, visando os valores culturais brasileiros – não o mero cumprimento dos requerimentos da Fifa.

É dessa forma que o Brasil ganha, não somente com a visibilidade internacional, mas com a evolução acadêmica, social, humana e urbana. No entanto, isso exige esforço de muitas partes.

Com a aproximação dos dois megaeventos, ambos por aqui, venho com esta coluna abordar temas relacionados aos mesmos, principalmente, considerando os estádios, sustentabilidade, técnicas e tecnologias novas, exemplos de sucesso e/ou fracasso em equipamentos esportivos e em eventos deste porte.

Como arquiteta e urbanista, pretendo mostrar um lado mais técnico e conceitos que foram ou poderiam ser usados na construção, reforma e uso desses “velhos recauchutados” ou jovens estádios que teremos para o nosso país. Com base nos questionamentos e notícias atuais, elaborarei textos que mostrarão, a fundo, argumentos que possam dar base a diversas opiniões, a novas discussões e debates, abrindo, assim, novas visões de fatos que são superficialmente tratados ou esquecidos pela mídia, pelo governo e pelos organizadores dos eventos.

Gostaria também, através deste espaço, levantar assuntos diversos buscando novas soluções para velhos problemas, como a segurança em estádios, por exemplo, baseando-me em setores da arquitetura raramente utilizados no Brasil – até mesmo mundialmente – e que, às vezes, são brevemente mencionados nas universidades.

Acredito que estes assuntos podem ser levados para muitos investimentos preparativos, levando benefícios a clubes grandes e pequenos, bem como às cidades envolvidas direta ou indiretamente com a realização dos eventos e outros setores da sociedade. Mostrarei, também, como o comportamento humano é parte fundamental nesse processo de adequação de nossos estádios.

Espero que agrade, não a todos, pois não pretendo formar opiniões, mas que esta coluna ajude a elaborar a sua própria visão. Se possível, peço os comentários dos leitores para que o debate se prolongue e a evolução seja, de fato, buscada.

Até a próxima semana!

Para interagir com o autor: lilian@universidadedofutebol.com.br
 
Leia mais:
Entrevista: Lilian de Oliveira, arquiteta e urbanista

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Nem sempre o campeão forma…

Para fechar o assunto “Copa São Paulo de Futebol Júnior”, vamos aproveitar a grande final da competição para levantar mais uma vez a noção de gestão de um processo de formação de atletas pela relação entre promoção de jogadores ao profissional ante os títulos precoces durante tais fases de desenvolvimento.

É bem verdade que a Copa São Paulo não pode ser classificado como um “título precoce”. Mas também não pode balizar todo um trabalho de formação de jogadores feito anteriormente, inclusive por outros clubes.

E o que chama a atenção é que, via de regra, os dois maiores detentores de troféus da Copinha, Fluminense e Corinthians, não possuem um aproveitamento tão significativo de jogadores formados em sua base no elenco profissional.

O gráfico abaixo procura ilustrar isto, quando fizemos um passeio sobre os últimos três anos dos dois clubes quanto à efetiva utilização de atletas formados na sua própria casa na equipe principal.


 

A leitura nua dos dados pode até revelar um bom aproveitamento numérico, em termos quantitativos, uma vez que a média gira em torno de 30% do elenco sendo formado na base, o que parece ser um número bastante razoável.

Contudo, quando se observa a efetiva utilização destes jogadores, percebe-se que o espaço fica bastante restrito, sendo que os jovens atletas têm dificuldade em manter uma sequência de jogos para a sua estabilização na equipe de cima, culminando quase que invariavelmente com empréstimos ou venda para mercados de menor expressão.

Apenas o Corinthians, neste exemplo dos dois finalistas da Copa São Paulo, pode ser citado por ter utilizado de maneira mais efetiva jogadores promovidos da base, como é o caso do goleiro Júlio César, titular absoluto da meta alvinegra, e do até pouco tempo ídolo do clube Dentinho, que acabou sendo vendido para o exterior. Os demais integrantes do elenco possuem participação coadjuvante dentro do elenco.

No caso do Fluminense, clube em que se percebe um investimento pesado para trazer grandes jogadores para o time profissional, os garotos das categorias de base possuem poucas chances de atuação na equipe principal, passando a seguir rumos profissionais longe das Laranjeiras.

A breve análise, que carece obviamente de um aprofundamento, além do levantamento de mais informações, serve para dar um panorama e fazer um alerta sobre a gestão de projetos ligados à formação de atletas, especialmente para casos em que se privilegia a exposição midiática precoce ante um desenvolvimento sustentável visando um aproveitamento otimizado de jogadores.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br
 

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Relação dos clubes com os incentivos e fomentos tecnológicos – parte I

Semana passada foi anunciada uma troca no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. O grande chamariz foi a saída de uma figura extremamente politica e sem relação nenhuma com a pasta para a entrada de um nome de respeito no setor, Marco Antônio Raupp.

O amigo deve estar se perguntando o que esse assunto está fazendo neste espaço. Mas, calma, vamos elucidar.

Muitas vezes falamos da necessidade de os clubes investirem em tecnologia de diferentes níveis e usabilidades para melhorar seus processos de gestão, processos de treino e planejamento, acompanhar desempenho, etc.

Em algumas palestras e através de algumas mensagens recebidas de amigos que acompanham a coluna, surgem questionamentos sobre a situação econômica dos clubes e o quanto de “saúde financeira” eles teriam para investir em tecnologia.

Um ponto que deve ser debatido previamente é que, ainda que financeiramente apresentem dificuldades, o que vemos é uma desvalorização do assunto por parte dos “profissionais” responsáveis pelas decisões. Seja pela incompetência, seja pelo receio de lidar com inovações, ou ainda pela incompreensão dos reais benefícios dos recursos tecnológicos, ora confundindo tecnologia com solução perfeita, ora considerando-a como gasto e não investimento em infraestrutura.

Assim, a ideia da coluna de hoje ao iniciar com a noticia da troca de ministros é justamente despertar a importância que deverá ser dada a essa temática.

Sabemos que no futebol os departamentos e vice-presidências se dividem e ganham ramificações cada vez maiores. Na última segunda-feira, mesmo, foi mencionada a diretoria de assuntos internacionais do Corinthians e a necessidade de fazê-la funcionar. Então, por que não vemos uma diretoria de tecnologia nos clubes?

O amigo pode questionar que alguns clubes apresentam hoje um “Data Center”, funcionários voltados à informatização (lembrando que informática não resume nem encerra todas as possibilidades tecnológicas). Porém, o que discutimos é que falta a figura de um departamento, ou alguém com poder de decisão e influência política, para dentre tantos outros assuntos estabelecer relações com o Ministério de Tecnologia, acompanhar editais de financiamento ou apoio a investimento em soluções tecnológica que surgem do governo e mesmo de outras instâncias, que elabore projetos de captação de recursos para o desenvolvimento de aparatos os quais supram e aprimorem as condições do clube.

Esse departamento tem de ser específico; não pode ser só técnico e operacional, tem e deve ser processual, criativo, planejado, articulado. Pois assim os recursos investidos em tecnologia teriam argumentos e análise mais aprofundada, e não veríamos comparações entre a capacidade de um computador fazer um gol com a de um atleta em vistas de ser contratado – e quando colocado na balança o dinheiro acaba indo para a contratação.

O investimento em tecnologia não deve concorrer com o investimento de contratações e administração do plantel. Ele faz parte dos recursos investidos pelo clube no aperfeiçoamento do desempenho de sua equipe e de sua gestão.

Assim, teríamos um departamento que estabelece relações, acompanha projetos de investimento público, consegue criar e desenvolver soluções captando mais recursos oriundos de um setor pareado com suas perspectivas.

Reforçamos que não adianta pedir ao marketing recursos para investir num equipamento, tão pouco para o departamento de futebol avaliar as qualidades de jogo de um recurso tecnológico. É preciso pensar em infraestrutura e, sobretudo, com mentalidade de inovação tecnológica.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Radar

Finalmente, consegui ter acesso ao meu primeiro livro de Jorge Valdano.

O ex-jogador e, há alguns anos, executivo de futebol, conhecido como “o filósofo do futebol”, publicou algumas obras interessantes. Porém, ou se encontram esgotadas no país de origem, muito menos possuem edições no Brasil.

Um sebo virtual me salvou, depois de algumas tentativas anteriores para adquirir e começar a ler seus escritos.

“Liderazgo”, em tradução livre para o português, “Liderança”, foi planejado e escrito em conjunto com Juan Mateo, economista e financista espanhol. Inclui ótimas entrevistas com protagonistas dos negócios e do esporte em âmbito mundial.

Da experiência acumulada pelos dois e somada surgiu também a empresa Make a Team, especializada em pesquisa, formação e desenvolvimento de equipes.

No livro, a abordagem se inicia com a exaltação da visão que todo e qualquer líder de equipe deve ter, amparada sempre nos sonhos que as pessoas projetam para suas vidas.

Uma vez que o radar do líder detecte – ou crie – os sonhos, inicia-se o processo de transformação racional em visão, dentro do contexto institucional em que se encontra, e a visão passará a definir as metas para que a equipe persiga.

A importância da visão no processo é tamanha que, antes de exemplificar com o anedotário de saborosas histórias, vaticinam que “é no futuro que passaremos o resto dos nossos dias”.

Assim, a discussão que paira, no momento, acerca da falta de embasamento metodológico-filosófico na formação de jogadores no Brasil, em contraponto à bússola orientada pelo FC Barcelona, prioritariamente, deveria levar em conta qual é a visão dos líderes que comandam nosso futebol.

Qual é o alcance desse radar dos que estão à frente da gestão do futebol no país?

O alcance poderia ser proporcional ao sonho de transformar o futebol brasileiro na maior e, principalmente, melhor indústria do segmento em todo o mundo.

Os autores citam o vitorioso treinador da NBA, Pat Riley: “tudo o que somos capazes de sonhar, somos capazes de conseguir”.

Mencionam o famoso toureiro espanhol Joselito. Quando lhe perguntaram se imaginava algum dia chegar tão longe na carreira, nas aulas de tauromaquia, afirmou: “Tinha um professor chamado Jose de La Cal que me contava suas histórias maravilhosas e de outros toureiros. Contava tão bem que isso fazia me enxergar na arena, e esses sonhos me fizeram viver”.

A história mais curiosa evidenciada é a de Hugo Sanchez, contada pelo companheiro de Valdano quando jogaram no Real Madrid.

Traduzo livremente: “Hugo Sanchez recebeu uma bola, a carregou de perigo com essa convicção cheia de pólvora que tinha e disparou sem piedade: Gol!

O narrador disse que Hugo havia chutado sem pensar. Aquele comentário me pareceu o menos adequado, pois sabia que Hugo levava uma vida imaginando aquele gol e todos os gols possíveis. Antes de dormir, no sinal vermelho e, claro, nos treinos, o verdadeiro esportista repassa mentalmente as jogadas prováveis, até o ponto em que, no momento verdadeiro, são seus músculos que se lembram. Se isso chega a acontecer é porque se cansou de pensar no chute e não porque chutou sem pensar.

Na análise posterior, o comentarista insistiu: ‘Hugo não pensou duas vezes antes de chutar’. De minha poltrona, respondi: ‘Duas vezes não, dois milhões de vezes’.”

Dizem, ao fim e ao cabo, os autores, que o sonho é um detector de oportunidades preparado para caçar qualquer possibilidade que entre na órbita das aspirações.

Em tempo: ainda está no meu radar o gol mais bonito do Hugo Sanchez, o “Hugol”, que gravei desde muito jovem no meu painel de sonhos:

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br
 

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Alguns mitos do nosso futebol

Nos últimos meses, foram levantadas muitas discussões e reflexões sobre o futebol brasileiro. Algumas conclusões foram tiradas em relação à nossa metodologia de treino, sobre a capacitação dos profissionais, a falta de renovação de treinadores, a diminuição do mercado externo para nossos profissionais, e por aí vai…

Por isso, resolvi compartilhar com vocês alguns mitos que estão presentes no cotidiano de treino e contribuem bastante para estarmos onde estamos!

O primeiro grande mito que escuto desde o dia em que iniciei meu trabalho de campo na universidade foi: “essas metodologias novas só servem na Europa”

Por que?

Qual é a diferença?

Para explicar um mito, surge outro: “os jogadores de lá são os melhores do mundo. Quero ver se funciona com jogador cabeça de bagre”

Como???

Será?

Nossos jogadores são cabeça de bagre? Não acredito nisso!

Sou adepto de que todos temos um potencial enorme de desenvolvimento e em muito lugares nossos atletas não chegam nem perto de alcançá-lo, pois submetemos os mesmos a treinos que só dão informações pouco relevantes.

Além disso, hoje o Brasil modificou sua característica exportadora de atletas – temos muitos jogadores voltando e alguns desenvolvendo suas careiras aqui.

Mas voltemos às metodologias…

Não estou defendendo que devemos copiar o que é feito nesse ou naquele país, mas sim discutir, analisar, criticar, elogiar e transformar o que é feito de melhor em qualquer parte do mundo em algo condizente com nossa cultura e alinhada com os objetivos do nosso futebol.

Isso é feito em qualquer outro ramo de nossa economia!

Por que no futebol não pode ser feito?

Alguns então vão lançar mão de outro mito: “tudo bem, então essas metodologias podem ser utilizadas em clubes grandes que têm bons jogadores e uma boa estrutura”

Pergunto novamente, será?

Eu iniciei meu trabalho como a maior parte de nós, com três bolas (quando não sumia uma ou duas no treino, pois o campo não tinha redes e nem alambrado), com meia dúzia de cones e sem coletes, onde se jogava com camisa e sem camisa (para fazer coringa, colocava metade da camisa ou a amarava na cabeça).

Mesmo assim, implantei a metodologia dita “diferente” e conseguimos bons resultados culminando até com um título inédito.

Vejo que esse mito é mais uma coisa de nossa cabeça do que uma realidade, pois nos clubes menores, nas escolas de futebol ou até mesmo em equipes universitárias, a pressão é menor e geralmente a resistência a novas metodologias por parte dos jogadores e da diretoria é menor também (E para você se destacar é preciso fazer algo novo!).

Outro mito: “esses jogos no treinamento só servem para descontrair o grupo. Treinamento tem que ser duro e chato”!

A melhor forma de treinar o jogar é jogando!

Claro que se o jogo não for bem orientado pode ser descaracterizado e virar uma brincadeira sem objetivo, mas quando o mesmo faz parte de um processo e os jogadores sabem muito bem o porquê e quais objetivos estão sendo desenvolvidos, é impossível que o mesmo vire uma brincadeira.

Além do mais, todos os jogadores querem se desenvolver, querem evoluir e é preciso criar um ambiente saudável para isso e ele não precisa ser chato e entediante, mas sim desafiador.

O ambiente também pode ser chato, e muitas vezes é, mas a chatice do treino não pode ser uma ferramenta de análise do treino.

Existem muito outros mitos que gostaria de compartilhar, mas não caberia em uma coluna…

E conto com a ajuda de vocês para enfrentar cada um deles!

Até a próxima!

Para interagir com o autor: bruno@universidadedofutebol.com.br

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O futebol "invisível"

Alguns jogos precisam ser guardados para serem revistos ao longo do tempo. Ver uma partida diversas vezes, podendo pará-la, estudá-la, analisá-la, enfim, ser crítico sobre as inúmeras ações que ocorreram no confronto e que permitiram que uma equipe levasse vantagem sobre a outra, é tarefa necessária para quem pretende aperfeiçoar a sua leitura do jogo de futebol.

E, para aperfeiçoar a sua leitura do jogo, “enxergar” o futebol aparentemente “invisível” será determinante na composição de uma opinião sistêmica da modalidade.

O trecho abaixo, retirado do penúltimo clássico Real Madrid x Barcelona, válido pelo 1º turno do Campeonato Espanhol e que a equipe catalã venceu por 3 a 1, é parte de um destes jogos que devem ser vistos repetidas vezes. De acordo com o tema da semana, a preocupação da edição das imagens deu-se exclusivamente com o referido futebol “invisível”, mais especificamente com um único jogador:
 


 

Grande parcela da mídia, dos torcedores e até dos próprios treinadores, tende a analisar um jogo e/ou um jogador exageradamente pela “qualidade técnica”. Atributos como passe, cabeceio, finalização, desarme, são as características observadas para a definição do nível do atleta.

Porém, quem é leitor assíduo da Universidade do Futebol, seguramente, já observou que ter simplesmente as informações técnicas de determinado jogo ou jogador, desconectadas do Modelo de Jogo da equipe, dirá muito pouco desta equipe e do próprio jogador.

No jogo identificado acima, o atleta analisado realizou nove passes horizontais, seis passes verticais no sentido da própria meta, 12 passes verticais no sentido da meta adversária, errou dois passes, fez sete interceptações completas, oito interceptações incompletas, dois desarmes completos e perdeu a posse de bola uma vez, totalizando 47 ações.

Esta análise pode ser feita por um software quantitativo de análise de jogo, ou então, manualmente (o meu caso) para quem não dispõe deste recurso tecnológico. Estas 47 ações, facilmente visíveis, são somente uma pequena parte dos 90 minutos do jogo de futebol que, no plano individual, é jogado a maioria do tempo sem a bola.

(Em tempos de Copa-SP e exacerbação de comentários sobre bons jogadores de futebol, respeito a importância da análise técnica de um atleta, porém, é incompreensível que uma análise se reduza a esta vertente).

Após um parêntese necessário, retornemos ao vídeo e ao futebol invisível que, jogado sem bola durante quase todo o jogo, infelizmente, poucos enxergam.

Para cada lance, o que poucos enxergam:

1-A velocidade (de decisão) em abrir linha de passe;
2-A diagonal para evitar a penetração;
3-A recomposição para evitar a penetração;
4-O posicionamento com nítida atenção às referências do jogo (alvo, bola, companheiros adversários);
5-O atraso da ação adversária com nítida atenção às referências do jogo (alvo, bola, companheiros adversários);
6-A cobertura defensiva e a proteção do alvo;
7-O posicionamento com nítida atenção às referências do jogo (alvo, bola, companheiros adversários);
8-A ampliação do campo efetivo de jogo com a equipe em posse de bola;
9-A recomposição e o posicionamento para cortar um possível cruzamento;
10-O atraso da ação adversária para posicionamento dos companheiros;
11-A rápida recomposição mesmo quando é ultrapassado;
12-O atraso da ação adversária para posicionamento dos companheiros;
13-A velocidade (de decisão) em abrir linha de passe mesmo que não receba a bola;
14-A rápida diagonal para posicionar-se entre bola e alvo;
15-A diagonal para evitar a penetração;
16-O equilíbrio defensivo, a eficiente diagonal e o foco na trajetória da bola, e não no corpo do adversário;
17-O bom posicionamento defensivo quando distante da bola;
18-A rápida recomposição mesmo quando é ultrapassado;

A partida só não foi perfeita para este jogador, pois em duas situações do jogo errou a decisão (e a ação), como pode ser observado no pequeno trecho abaixo:
 


 

Na primeira imagem, opta pelo combate em detrimento à recomposição e cobertura, permitindo o passe adversário para um setor desprotegido. Na sequência, passa da bola e não prevê o corte para dentro; quando resolve voltar, é tarde demais.

Quanto mais pessoas enxergarem o futebol sem bola, mais rapidamente acontecerão as urgentes transformações do futebol brasileiro. Na perspectiva administrativa, contratações mais assertivas poderão ser realizadas; na perspectiva técnica, principalmente em relação à metodologia de treinamento, será compreendido que cada ação de um jogador no jogo, como bem diz o Dr. Alcides Scaglia, é pautada por uma intenção, portanto, carregada de significado. E este significado (indispensavelmente correlacionado ao futebol) deve ser buscado em cada sessão de treinamento.

Já num plano comercial, se mídia e torcedores brasileiros um dia enxergarem o futebol “invisível”, serão mais críticos na análise do que deveria ser um espetáculo.

Sem dúvida, ganhariam todos! Hoje, quem mais ganha é o futebol europeu! Representado na coluna por Carles Puyol que, ao contrário de muitos defensores brasileiros com mais de 30 anos de idade, sobe o bloco quando sua equipe tem a posse de bola, pressiona constantemente em espaço e tempo seus adversários, sai jogando predominantemente com passes curtos, além dos comportamentos que puderam ser observados no vídeo. Tudo isso com uma altura (1,80m), para muitos, inapropriada para zagueiros.

Uns dizem que os jogadores do Barcelona se entregam ao jogo, outros que treinam muito passe, outros ainda que tudo que aconteceu foi obra do acaso: “você junta os jogadores e as coisas acontecem naturalmente”.

Prefiro dizer que eles dominam o futebol invisível. Visto nesta coluna no plano individual e que deve ser feito no jogo, por todos, no plano coletivo.

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O ABC do UFC: aspectos jurídicos

O mundo tem presenciado um estrondoso crescimento do UFC. NO Brasil não é diferente. Após transmissão em TV aberta pela RedeTV, a Rede Globo de Televisão adquiriu os direitos e está transmitindo o evento com seu primeiro time de esportes, inclusive, com narração do polêmico Galvão Bueno que imediatamente criou o bordão “gladiadores do terceiro milênio” para definir os atletas.

O interesse da Globo não foi sem motivos: a transmissão do UFC 134 pela RedeTV em agosto de 2011 rendeu à emissora um inédito primeiro lugar no IBOPE.

O UFC remete à sigla “Ultimate Fighting Championchip” e corresponde a uma espécie de liga de lutadores de várias artes marciais, o que corresponde a uma especialidade da modalidade arte marcial denominada MMA (Artes Marciais Mistas), tal como o futebol de salão é uma especialidade da modalidade futebol.

Esta liga surgiu no início dos anos 1990 quando o brasileiro Rorion Gracie, no intuito de divulgar a arte marcial, o “brazilian jiu-jitsu”, inventada pelo seu pai, Hélio Gracie, convidava amigos para assistir às suas lutas para provar que era imbatível.

A competição começou a tomar corpo quando o publicitário Art Davie, aluno de Rorion Gracie, juntamente com o diretor de cinema John Milius (de Apocalipse Now) associaram-se ao lutador e colocaram anúncios em periódicos convocando atletas das mais variadas modalidades de artes marciais. Assim, com oito participantes, em 12 de novembro de 1993, nascia em Denver o UFC.

O que era para se ater a uma edição passou a contar com outras que, no começo, ocorriam sem muitas regras (combates sem luvas, por exemplo). Diante disso, alguns Estados americanos passaram a proibir o evento, o que quase extinguiu o UFC; até que em 2001, o empresário Dana White, juntamente com dois investidores, comprou a marca e reinventou esta liga de MMA.

Atualmente, o UFC é uma das marcas esportivas mais valiosas do mundo. Tanto que, em 2011, um xeque árabe comprou 10% dos direitos por 200 milhões de dólares, preço pago pela integralidade do evento em 2001. Transmitido para 150 países e território e em 22 línguas, o UFC possui uma audiência de cerca de 597 milhões de famílias.

Apesar de chamado de “vale-tudo”, atualmente o UFC possui regras gerais, quais sejam: obrigatoriedade do uso de luvas de dedo aberto, de coquilha (protetor genital) e protetor bucal e possibilidade de se usar sapatilhas, protetores para os joelhos e cotovelos e bandagem para tornozelos e punhos.

Além disso, houve divisão em sete categorias de acordo com o peso e há uma série de proibições, como dar cabeçada, puxar os cabelos, colocar o dedo nos olhos ou ter conduta antiesportiva que cause dano ao oponente.

Cada evento do UFC tem cerca de 10 lutas, sendo uma delas que pode valer um cinturão, a principal. Cada luta tem três rounds de cinco minutos com um de intervalo, exceto a luta principal que pode ter cinco rounds.

Há quem entenda se tratar de um esporte muito violento, porém, sob o ponto de vista jurídico, a violência corresponde a exercício regular de direito, eis que as regras da competição não são vedadas em lei e os participantes anuem a elas, ou seja, exponham-se aos riscos.

Portanto, o Código Penal Brasileiro prevê o exercício regular de um direito como excludente da ilicitude, tendo em vista que se uma conduta é admitida por outro ramo do Direito, não pode ser objeto de punição pela legislação criminal.

Destarte, a doutrina entende que lesões são componentes naturais de determinados esportes, não havendo, em princípio, responsabilidade criminal, uma vez que se trata de ter sido praticado no exercício regular de um direito. Assim se manifesta, majoritariamente, a doutrina, senão vejamos:
 

“Em certos tipos de esportes regulamentados (futebol, boxe, judô, etc.) podem resultar lesões nos contendores. Estarão elas compreendidas nesta causa de exclusão, desde que obedecidas as regras próprias do esporte que disputavam”.( Código Penal Comentado / Celso Delmanto – 7 ed. – Rio de Janeiro: Renovar, 2007.)

Deve-se considerar que a Constituição da República determina ser dever do Estado incentivar as práticas desportivas (Art. 217, caput), assim, a imputação de responsabilidade criminal teria o condão de neutralizar a intenção do legislador constitucional, conforme ressalta o renomado penalista Julio Fabbrini Mirabete.
 

“Há esportes que podem provocar danos à integridade corporal ou à vida (boxe, luta livre, futebol, etc.). Havendo lesões ou morte, não ocorrerá crime por ter o agente atuado em exercício regular de direito. O Estado autoriza, regularmente, e até incentiva a prática de esportes, socialmente úteis, não podendo punir aqueles que, exercitando um direito, causam dano”.( Manual de direito penal, volume 1: parte gral, arts. 1° a 120 do CP / Julio Fabbrini Mirabete, Renato N. Fabbrini. – 24. ed. Rev. e atual. até 31 de dezembro de 2006. – São Paulo: Atlas, 2007)

Para deslinde, cita-se o professor Álvaro Melo Filho:
 

Cumpre, aqui, saber se os golpes e lesões causadas decorreram, ou não, do exercício regular de determinado desporto e se houve, ou não, observância de suas regras de jogo para que se possa aferir responsabilidade jurídica. Induvidosamente o risco é inerente à práxis desportiva. (…). Em suma, a fronteira entre a impunidade e a punibilidade na práxis desportiva decorre da observância das regras de jogo que se colocam como limite para haver, ou não, a punibilidade, sendo apenáveis as condutas que causem lesão em face do menosprezo ou desrespeito às regras da respectiva modalidade desportiva (FILHO, Álvaro Melo. Artigo científico: CBJD 2010: reequilíbrio do jogo jus-desportivo. Disponível em: . Acesso em: 25 mar 2011) (…)

Assim, a prática do esporte, no caso, do MMA no UFC, nos estritos termos da disciplina que o regulamenta, não constitui crime, bem como deve ser protegida pelo Estado, nos termos da Constituição Brasileira de 1988.

Ante o exposto, sob o ponto de vista jurídico, conclui-se que o UFC constitui uma Liga da Modalidade de Arte Marcial, especialidade MMA, ou seja, Artes Marciais Mistas, e os golpes dos atletas realizados de acordo com o regulamento da modalidade e da competição são considerados exercício regular do direito, e não crimes.

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Obrigado e até breve!

Caros leitores,

para alegria de alguns e tristeza de outros venho anunciar meu afastamento temporário como colunista semanal.

Por razões profissionais, as quais passaram a exigir muito do meu tempo, antes que eu pudesse comprometer a qualidade das colunas e acabar atrapalhando o fluxo da equipe do portal, preferi sair.

Quero agradecer a cada um que em algum momento da vida investiu seu precioso tempo para ler uma das minhas colunas e agradecer mais ainda aqueles que além de lerem, escreveram, tiraram dúvidas, deram ideias, criticaram e me fizeram crescer muito.

Cresci não somente como profissional, mas também como pessoa. Podem ter certeza disso!

Quero agradecer especialmente a toda equipe da Universidade do Futebol pela oportunidade de fazer parte desta maravilhosa família durante um pouco mais de um ano. Nesse período procurei discutir assuntos que julgava relevante, principalmente sobre os aspectos físicos relacionados ao futebol.

Foi um grande desafio exercitar a criatividade e fazer um novo texto a cada semana.

Apesar das minhas limitações, espero ter dado minha contribuição durante esse período e torço para que, de alguma forma, pelo menos uma de minhas colunas tenha ajudado de alguma forma a você pensar melhor o futebol.

Não sei se atingi meus objetivos. Deixo o julgamento para vocês. O que sei é que a cada semana dei o meu melhor e tive um enorme prazer em confeccionar cada um dos textos que agora ficam aí para apreciação de todos que se interessarem.

Não quero que este afastamento seja permanente e sempre que possível continuarei colaborando com textos para a sessão de “artigos”.

De qualquer forma, nosso canal de comunicação permanece o mesmo e desejo a todos muitas realizações e sucesso!

Então, a todos vocês, o meu obrigado e até breve!

Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br