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Poderíamos destrinchar os fundamentos técnicos de futebol e um sem número de divisões e subdivisões. Para tornar clara a minha linha de raciocínio me aterei aos “principais” (ou conceitualmente mais conhecidos pelas pessoas em geral).
Em um jogo temos, para os jogadores de linha, o passe, o cruzamento e o lançamento (que são formas de passe), o desarme, a interceptação, o cabeceio, o controle, o domínio de bola, a condução, o drible e o chute.
Segundo Júlio Garganta (1998), no capítulo “Para uma teoria dos jogos desportivos coletivos” do livro “O ensino dos jogos desportivos coletivos”, o jogo coletivo, e aqui especificamente o futebol, sob o ponto de vista didático, apresenta diversos níveis de relação entre jogadores da mesma equipe, adversários, bola e alvo. De forma hierárquica essas relações respeitariam a seguinte ordem acumulativa:
1 – Eu-bola: atenção e controle sobre a bola.
2 – Eu-bola-alvo: atenção sobre o objetivo do jogo.
3 – Eu-bola-adversário: combinação de habilidades, conservação da posse da bola e busca da finalização.
4 – Eu-bola-colega-adversário: combinação de habilidades de desmarcação, apoio, contenção e coberturas.
5 – Eu-bola-colegas-adversários: desenvolvimento de conceitos de linhas de passe, penetração, coberturas ofensivas.
6 – Eu-bola-equipe-adversários: aplicação formal dos princípios do jogo ofensivos e defensivos.
Essas relações estão intimamente ligadas aos fundamentos técnicos do jogo. O eu-bola, especialmente ao controle e condução de bola. Ao eu-bola-alvo acrescentamos a finalização. O eu-bola-adversário, especialmente ao drible e o desarme. O eu-bola-colega-adversário, passes e interceptações. O eu-bola-colegas-adversários, formas mais elaboradas de passes (cruzamentos e lançamentos) e outros fundamentos. O eu-bola-equipe-adversários, a aplicação de todos os fundamentos dentro dos princípios do jogo de ataque, defesa e transição.
Então, a estruturação para ensino ou treinamento dos fundamentos pode passar por uma lógica que se constrói a partir do próprio jogo. Isso é vantajoso por diversos motivos. Um deles (talvez o menos pedagógico, porém mais “entendível”) é o fato de que no futebol profissional, com o excessivo número de jogos, faz-se necessário otimizar o tempo de treinos para que se alcance máximos ganhos com mínimos desgastes. Se assim o é, fica evidente a necessidade de se trabalhar valorizando o tempo.
Assim, conceber o desenvolvimento técnico, construído na lógica do jogo, permitirá ganhos táticos, que se periodizados, planejados e organizados podem estar integrados ao desenvolvimento físico específico para o tipo de jogo que se quer jogar.
E é aí que a vida de treinadores e comissões técnicas costuma emperrar. Para conseguir treinar o jogo que se quer jogar, nada menos trivial do que se refletir a partir das relações apresentadas, para poder alcançar aquilo que é concebido como modelo para o jogar. Em outras palavras, é difícil construir “jogos que treinem o modelo que se quer jogar”. Nem tanto porque a teoria é difícil (também não é fácil; mas é acessível); talvez mais porque não se busca conhecê-la realmente.
O que Burkina Faso pode ensinar ao futebol
Tenho um amigo Burquinabê (também conhecido como “O Burquina de Uagadugu”) do Café dos Notáveis. É daquelas pessoas apaixonantes que não se tem meio termo. Ou a gente gosta muito ou desgosta intensamente.
Trabalha com futebol já faz algum tempo. Conheceu o mundo. Aprendeu diferentes línguas. Um dia foi para a Nova Zelândia, levou junto consigo a felicidade.
Ah, felicidade… Que um dia lá lhe escapou e veio parar no Brasil (e aqui se diluiu na alma de amigos do peito, quase que se transformando em eterna tristeza).
O Burquina acredita em honra, ética, lealdade, respeito e coragem, coisas que trouxe consigo quando saiu de casa para viajar o mundo “em busca das coisas de dentro de si”.
Estranhou o nosso futebol, no qual como se não bastasse jogadores tecnicamente capazes e treinadores conhecedores das táticas, estratégias (enfim do jogo), também notou a necessidade de se re-ensinar valores perdidos, que de condição básica da vida moral e cívica acabaram se tornando adjetivos diferenciais do ser humano.
Nem sei se em Burkina Faso tem futebol (que o Burquina me perdoe a ignorância). O que sei é que lá tem uma coisa de sobra, que falta muito aqui (e não são os burquinenses!).
Mas vou contar em uma próxima, porque hoje tenho alguns livros de futebol (em russo) para ler. Como meu russo não é muito bom, vou parando por aqui.
E como aquilo que não me mata me faz mais forte (Nietzsche), estou certo de que dia desses fico mais forte e consigo transformar esse futebol.
Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br
Caros amigos da Universidade do Futebol,
Conforme prometido em minha última coluna e também atendendo a uma sugestão da organização da Universidade do Futebol, gostaria de dividir com vocês a grande mudança ocorrida em minha carreira profissional, que espero reverta em uma nova e proveitosa fonte de informação para este veículo de comunicação.
A partir do dia 5 de maio último, iniciei minha participação como coordenador jurídico da EPFL – Association of the European Professional Football Leagues. Trata-se de uma associação que reúne as principais ligas profissionais de futebol da Europa (dentre elas as ligas inglesa, alemã, espanhola, francesa e italiana). O escritório da associação localiza-se em Lisboa, onde passei a residir.
Nas minhas próximas colunas, poderemos debater e esclarecer aos leitores as principais diferenças do conceito de futebol existente na Europa e aquele que conhecemos bem do Brasil. Mais do que isso, poderemos funcionar como uma ferramenta de transferência de conhecimento direto, da Europa para o Brasil.
Para iniciar esses debates, gostaria de estabelecer um conceito básico que diferencia o modo de organização das competições nacionais na Europa (via de regra) com o modo brasileiro.
Como muitos já sabem, o campeonato nacional brasileiro é organizado pela CBF, Confederação Brasileira de Futebol, filiada à Fifa e à Conmebol, que também é a organização responsável pela seleção brasileira de futebol em todos os seus níveis (principal, base, feminino, etc.).
O que ocorre na Europa não é isso. As chamadas FAs (ou federações nacionais de futebol) cuidam das seleções nacionais apenas, além do registro dos atletas de futebol que atuam no país. Não organizam competições.
A organização dos campeonatos europeus, em nível nacional, é feita por outra entidade (comercial ou não) totalmente independente da federação e dos clubes. Essas entidades, chamadas de ligas, são oficialmente reconhecidas pelas federações para que seus campeonatos contenham jogos oficiais da Fifa. A única atribuição das federações é o controle dos registros de jogadores e dos certificados para transferências de jogadores.
A diferenciação acima descrita tem uma explicação, que reside na peculiaridade brasileira. O Brasil é um país enorme, e o futebol está presente de forma massiva em todos os seus estados e territórios. Assim, a criação das federações estaduais acabou por preencher grande parte do papel que seria exclusivo das ligas na Europa.
Mas o estudo que faremos ao longo de nossas futuras colunas poderá nos mostrar se existe algum outro caminho que poderia ser traçado pelos dirigentes brasileiros que se aproximasse do modelo europeu, ou se o modelo já existente, pela mencionada peculiaridade brasileira, é de fato o mais eficiente.
Veremos.
Caso Ronaldo
Antes de concluir, gostaria de fazer rápida menção ao caso que recentemente vimos envolvendo o nosso Ronaldo Fenômeno. Em recente coluna, comentei sobre o peso da fama de certos atletas profissionais, chegando à conclusão de que ela leva a uma enorme responsabilidade social.
O Ronaldo é uma das principais figuras que se enquadra nesse exemplo. Milhares de crianças, não só do Brasil, projetam seu futuro no Ronaldo. Ele não pode deixar que esses episódios figurem em sua vida, para o bem de uma infinidade de fãs.
Como exemplo da repercussão desse caso, comento que existe uma pequena farmácia na esquina do escritório da EPFL aqui em Lisboa que mantinha uma grande imagem do Ronaldo. Mantinha. Porque depois do episódio a imagem foi imediatamente retirada.
Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br
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Aurora
Às primeiras luzes da madrugada, Aurora me visitava. Não era sempre, pelo contrário, era raro. Mas valia a pena, tão ricos e memoráveis foram nossos encontros. Refiro-me, não à hora do dia, mas à ave; Aurora era uma coruja. Morava à direita de quem sai da caverna, bem ao pé de uma árvore. Fazia o ninho no chão. Não tinha autorização para circular pelas galerias da caverna, por razões óbvias. Todos sabem que as corujas são aves de rapina. Oto, o morcego, arrepiava-se só de me ouvir dizer Aurora. Por isso, e por causa da aurora, nossas conversas ocorriam do lado de fora, às vezes até o sol caminhar mais de um metro no céu.
Numa dessas conversas, contou-me a coruja de sua afinidade com o esporte bretão. Durante anos fez seu ninho à beira de um campo de futebol, próximo à bandeira do córner. Ali ela foi feliz com seu companheiro. Tiveram muitas ninhadas. Tornou-se íntima de jogadores famosos, que chegaram a tê-la como mascote. Aurora adorava pousar sobre o travessão, no ângulo superior direito. Desse hábito nasceu a expressão ninho da coruja, quando um chute bem dado por um craque se aninha nos noventa graus entre o travessão e uma das traves. Seu marido, afoito e aventureiro, pousava no ângulo superior esquerdo durante os treinamentos de cobranças de faltas, servindo de referência aos cobradores. Numa fatídica tarde de maio, o petardo de um meia canhoto pôs fim às suas aventuras e Aurora viu-se repentinamente viúva, com três filhotes para criar. A vida não foi mais a mesma. Quando os filhotes amadureceram, abandonou o ninho e veio para cá.
Azar dela, sorte minha, que ganhei uma interlocutora à altura dos grandes especialistas no jogo da bola. De Aurora ouvi mais casos sobre futebol do que o tanto que pude contar a ela. Um deles tocou-me muito de perto.
Aurora admirava de maneira particular um treinador da equipe que lhe emprestava o gramado. A elegância, os modos gentis, a inteligência aguda desse treinador era de chamar a atenção. Quando ele chegou à agremiação, o time ia mal das pernas. A ameaça de rebaixamento rondava a equipe. Em pouco tempo, competente, ele baniu tal ameaça. A imprensa não poupava elogios ao trabalho do jovem técnico. E então vieram as cobranças. Já não podiam ser aquele time médio de sempre. As vitórias se sucederam e teria que continuar sendo assim. Mas, eis que num arroubo de ousadia, a equipe toda à frente buscando confirmar o favoritismo contra um time menor, a defesa desmorona, toma dois gols e o esquadrão sai derrotado, o treinador vaiado, uma semana inteira de imprecações. Estava em jogo a possibilidade de ascender à elite do futebol brasileiro, de disputar as finais de um grande torneio nacional, e só faltavam seis rodadas.
Nesse ponto fizemos uma pausa. Os olhos de Aurora ardiam, irritados pelo sol que já subia mais de meio metro. Buscamos um lugar protegido e prosseguimos nossa conversa. No meu tempo de menino, eu disse, ainda assisti a jogos em que a pirâmide formada pelos jogadores em campo era o inverso de hoje; a base era o ataque. Havia o goleiro e, logo em seguida, à sua frente, dois beques. Depois, um pouco adiante, guarnecendo a defesa e alimentando o ataque, ficavam os chamados médios, em número de três. E, lá na frente, cinco atacantes. No linguajar de hoje, seria um inimaginável 2-3-5. Mais tarde um dos médios virou beque também, pouco à frente dois médios, mais adiante dois armadores e, só então, os três atacantes. Depois apareceu o 4-2-4, sucedido pelo 4-3-3, ou seja, a pirâmide foi invertida.
É verdade, disse Aurora, eu acompanhei todas essas mudanças, inclusive, o chamado 3-5-2 e o 4-4-2. Hoje em dia é mais que comum a gente assistir a jogos em que as equipes colocam apenas um atacante.
Depois do tempo que fizemos para historiar a “evolução” dos sistemas táticos, minha amiga coruja prosseguiu. Seu amigo treinador, acossado pelas cobranças dos dirigentes, torcedores e imprensa, passou a temer cada vez mais as derrotas. Já não dormia direito. Acordava com pesadelos onde superatacantes desmoronavam seu esquadrão. Não perder jogos tornou-se uma obsessão para ele. Criticado pela imprensa como irresponsável por não guarnecer a defesa, mesmo assim insistiu no seu 4-2-4. E aí veio o desastre: certo é que o jogo era fora de casa, mas, depois de fazer 1 a 0, seu time tomou três. Os zagueiros pareciam baratas tontas dentro da área.
Na volta à cidade, o pelotão de choque da maior torcida organizada tentou linchá-lo, e aí ele não resistiu; montou um 4-3-3. Nem assim a imprensa lhe deu sossego: um louco jogando um título fora, diziam. Irresponsável, gritavam, como se alguma grande equipe do mundo ainda se arriscasse a usar três atacantes. Não adiantou ele explicar que seus três volantes eram duros na marcação.
O jogo seguinte era em casa e o adversário duro, ostentava dois títulos brasileiros. Jogava com dois atacantes altos e rápidos, um deles grande cabeceador, além de um armador talentoso. Com 20 minutos de partida as coisas até que iam bem: 0 a 0. Não tomar gols era fundamental. Porém, aos 26min veio o choque. O atacante mais alto subiu num cruzamento da direita, mais do que todo mundo, e testou para o fundo das redes. “Burro, burro”, o coro descia das arquibancadas. E o nosso técnico tremeu. Convocou seu volante mais duro, apesar de pouco técnico, e o colocou em campo, no lugar de um dos atacantes. Fortaleceu-se a defesa, os adversários paravam na muralha do meio do campo, a bola mal chegava à área. Agora, só faltava fazer o gol de empate. E foi no 1 a 0 que o primeiro tempo terminou.
Os 15 minutos de intervalo foram consumidos no vestiário com instruções para fortalecer a defesa. Tudo combinado, o segundo tempo começa, mas, logo aos 6min, o centroavante fez o pivô, rolou para o meia que veio de trás e a bola novamente se alojou nas redes do time da casa: 2 a 0. “Huuu, vai morrer, huuu, vai morrer”, o coro ecoou pelo bairro todo, não coube no estádio. Não tinha jeito: se o 4-4-2 não evitava os gols, a solução viria do último volante à disposição. O time tentaria o 4-5-1. Ora, bastaria um atacante, caso a defesa e o meio de campo cumprissem bem seus papéis. Afinal, 2 a 0 não era nenhum desastre para quem ainda tinha uns 40 minutos pela frente.
O time seguiu confiante: não havia como passar por seu paredão. Grande engano. Aos 15min do segundo tempo, o ala adversário entrou como um raio pela esquerda e cruzou. O centroavante subiu mais do que toda a defesa e guardou. A torcida ameaçou entrar em campo, sentenças de morte soavam a torto e a direito. O último atacante foi sacado. Armou-se um inédito, talvez, revolucionário, 5-5-0. O técnico adversário tirou dois volantes de sua equipe e colocou mais dois atacantes. O time da casa precisava marcar três gols; não havia quem os fizesse. O adversário também não conseguiu. Faltavam 30 minutos, que foram consumidos pelos visitantes com toques de bola da intermediária para trás.
“O que aconteceu depois desse jogo Aurora?”, perguntei à minha amiga coruja. Aconteceu, disse ela, que a equipe não perdeu mais nenhum jogo. Nos quatro jogos seguintes não tomou gols; terminaram, todos, 0 a 0. O plano zero do meu amigo treinador funcionou com perfeição. Não era possível a nenhuma equipe passar por seu paredão de volantes e zagueiros.
“E quanto ao resultado final do campeonato?”, insisti. A equipe não se classificou, prosseguiu a coruja, pois, sem marcar gol
s, não houve vitórias.
s, não houve vitórias.
Aurora me disse que nos últimos 30 dias do campeonato ela acompanhou o drama de seu amigo no ocaso da profissão. Chegava ainda de madrugada ao estádio e caminhava sozinho pelo gramado, repetindo obsessivamente, como um mantra, “defesa, defesa, defesa…”. Depois do último 0 a 0 ela o viu sair com uma pequena mala em que deviam estar seus pertences. “Dizem”, ela me contou, que ele nunca mais foi visto, abandonou a profissão, retirou-se para algum canto de solidão habitado, talvez, somente por corujas e morcegos. Mas fez escola, concluímos.
Haverá dia em que seu 5-5-0 provará a eficiência do futebol moderno. Sem traves e travessões, obviamente.
* Bernardo, o eremita, é um ex-torcedor fanático que vive isolado em uma caverna. Ele é um personagem fictício de João Batista Freire.
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Viver ou morrer
Nos idos tempos de Fernando Henrique Cardoso, o governo adotou o lema “Exportar ou Morrer”, que obviamente remetia à necessidade do país se posicionar com mais propriedade no mercado globalizado, principalmente como fornecedor de matéria-prima, produtos e serviços. Desde então, adotando uma política bastante ferrenha, o Brasil tem conseguido seguidos superávits da balança comercial, o que possivelmente ajudou no fortalecimento da economia nacional.
Esse fenômeno, curiosamente – mas não necessariamente diretamente atrelado, foi contemporâneo ao aumento de transferências internacionais de atletas brasileiros. Na medida em que o país exportava mais produtos e, principalmente, matéria-prima, mais jogadores deixavam o futebol nacional. Afinal, no futebol brasileiro, a matéria-prima é boa e o valor relativamente barato, principalmente por conta da defasagem dos poderes da moeda nacional em relação aos principais mercados compradores de jogadores.
Bom, com o tempo tudo isso foi mudando. Hoje, o superávit da balança já não é tão grande, uma vez que, com o mercado interno de consumo aquecido, o país começa a importar cada dia mais. Com o mercado bom, a moeda estabilizou em relação a outras mais importantes, ainda que tenha ganhado muito valor em relação ao dólar, mas hoje em dia qualquer um ganha do dólar. Porém, o pensamento reinante indica que o Brasil iniciou uma guinada ao desenvolvimento sustentável e, a não ser que algo mais radical aconteça, ele deve se estabelecer como uma das grandes potências mundiais em breve. Com isso, a tendência é que ele fortaleça ainda mais a sua moeda e enfrente maiores dificuldades de exportar produtos e matéria-prima, principalmente aquelas em que a grande competição se dá por conta do preço, que é o caso das commodities.
Jogador de futebol, para mercados menos desenvolvidos, pode ser considerado uma commodity. Não é a toa que os jogadores que mais saem dos seus países são jogadores com origens em localidades subdesenvolvidas. O preço é algo que importa, e muito.
Pois bem. Dado o momento que atravessa o Brasil e a possível valorização do Real no mercado internacional, como fica o mercado de transferência de jogadores? Haverá um efeito contrário ao “Exportar ou Morrer”? Ficará o jogador brasileiro tão caro que será melhor contratar jogadores de outros países menos desenvolvidos, principalmente da América do Sul?
O que vai acontecer, exatamente, é complicado dizer. Mas que vai haver alguma mudança, isso vai. Quer dizer, já ta acontecendo. É cada vez maior o número de jogadores estrangeiros presentes em clubes brasileiros. Entretanto, essa tendência não deve ser muito acintosa, afinal tem muito jogador de futebol no Brasil. E a partir do momento que os clubes de fora fecharem a porta por conta do preço, esses jogadores terão que se voltar ao mercado interno, que já está um pouco saturado. Com mais oferta e a mesma demanda, o preço cai. Jogadores ganharão menos e os valores de transferência serão menores. Talvez chegando ao ponto de voltar a valer a pena financeiramente para o mercado internacional. Aí a situação não se altera muito daquilo que existe hoje.
O problema é a hora que os jogadores em formação perceberem que dá pra ganhar dinheiro mais fácil em outros mercados de atuação. Aí sumirão jogadores e o futebol brasileiro precisará adotar uma política de importação ferrenha. Daí tudo muda. Afinal, o futebol brasileiro não irá mais exportar. Isso significará que ele pode morrer?
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Crise mal resolvida
O espaço deveria ter sido usado hoje para falar das incontestáveis conquistas estaduais pelo país afora. Incontestáveis tanto quanto os 8 a 1 do Inter sobre o Juventude, expurgando a eterna “pedra no sapato” do time colorado, naquela que deve ter sido a maior vantagem em decisões desde que o futebol é jogado (pelo menos não consigo puxar na memória outro placar tão dilatado assim). Ou falar da festa do bi do Flamengo, do gosto inédito de campeão do Itumbiara, ou ainda do fim do jejum de 11 anos palmeirense, com a sua nova versão da Parmalat.
Mas neste espaço o combinado é tentar trazer o tema da comunicação no futebol. E, nesse assunto, a notícia da semana foi ele, Ronaldo. Não pelos gols em profusão, não por mais um processo de recuperação de lesão, não por mais uma bela namorada que apresenta.
Ronaldo causou o maior estrago em sua imagem na segunda-feira passada, quando teve de ir para a delegacia após se envolver numa “festinha” com três travestis da Avenida Sernambetiba, no Rio de Janeiro. O Fenômeno acusa um travesti de extorsão. Do outro lado, o travesti acusa Ronaldo de calote, além de dizer que o jogador havia pedido para que um deles fosse comprar cocaína.
Agora, é velha história da palavra de um contra o outro. Na Justiça. A balança deve pender para o pentacampeão do mundo. Para o público e, especialmente, seus patrocinadores, o que pesou foi o silêncio de Ronaldo.
Desde segunda, o jogador não foi a público se pronunciar sobre o caso. Uma lacônica nota divulgada por sua assessoria de imprensa na terça-feira, um dia após o caso ser revelado, não falava diretamente sobre o caso e, o que é pior, não trazia nenhuma declaração de Ronaldo sobre o tema.
Na quinta-feira, feriadão do dia 1º, nova nota da assessoria de imprensa, com uma frase de Fabiano Farah, empresário de Ronaldo. Nela, o agente dizia que Ronaldo não perderia seus patrocinadores por conta da confusão, afirmando que o atleta não havia feito nada de ilegal em toda a história.
A nota, porém, chegou tarde. Na quarta-feira o jornal O Dia, do Rio, já trazia notícia dizendo que a Nike poderia romper o acordo avaliado em quase US$ 100 milhões anuais por atitude incompatível com a reputação da marca. A resposta de Ronaldo e seu staff, mais uma vez, veio com um dia de atraso.
No sábado, o colunista Ancelmo Góis, de O Globo, publicou nota dizendo que a TIM já havia desistido de patrocinar o atleta, para quem paga US$ 8 milhões ao ano.
E Ronaldo só foi dar as caras no domingo, em entrevista exclusiva ao Fantástico. Lá, confirmou que esteve com os travestis, disse que não é disso, mas que tinha tido uma crise no relacionamento e que vai ter de “reconstruir a casa devastada pelo furacão”.
Em vez de dar a cara para bater numa coletiva de imprensa, em que as mais diferentes perguntas poderiam ser feitas a ele, Ronaldo escolheu o conforto de uma entrevista exclusiva previamente combinada, em que pudesse ajustar a casa sem desajustar a compostura com perguntas indesejadas.
Ronaldo diz que não gosta de abrir sua vida particular para as pessoas. O que ele tem de entender é que sua imagem é pública, e que é praticamente obrigatório que ele tenha a vida aberta à população, que não quer saber apenas dos sorrisos na hora dos gols.
O gerenciamento da crise envolvendo o Fenômeno foi péssimo. Nunca houve pró-atividade de Ronaldo e seu staff na prestação do serviço aos fãs do jogador. As respostas sempre foram reativas, após mais alguma bomba estourar. Só depois de uma semana que Ronaldo deu a cara a tapa, e ainda assim numa insossa entrevista exclusiva, em que geralmente o jornalista não ataca o seu entrevistado.
Não é apenas por seu talento que Ronaldo conquistou tudo o que tem na vida hoje. O carinho da torcida por ele é parte de seu sucesso. Rivaldo, outro craque de bola, mas sem empatia com o torcedor, que o diga da diferença comercial que é ser um ídolo da torcida ou “apenas” um craque de bola. Ronaldo deve entender que, por mais que queira, sua vida é interesse da vida das pessoas.
Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br
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A tática de enganar
“Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.
Pensando assim, porque assim o é, acabo de refletir sobre nossa condição (minha, sua e dos outros) de seres humanos brasileiros e pesquisadores aficionados por esporte.
Saudoso das minhas conversas com João Freire, o grande João (grande em idéias, em observações, em soluções, em “sacadas” interessantíssimas), lembro-me das discussões sobre os “aspectos cognitivos da motricidade humana” em que ainda hoje me esforço a recordar algum detalhe qualquer que pode ter ficado perdido na memória, tamanha riqueza de idéias e informações que foram discutidas. Numa dessas falamos sobre imaginação. Pode parecer estranho ou óbvio, mas quero destacar que nós seres humanos temos a capacidade de imaginar!
Certamente o seu cachorrinho de estimação não tem, nem o rei das selvas ou o elefante do circo. Então poder imaginar nos faz animais diferentes. Isso nos possibilita muitas vantagens. “Desenhar” na mente uma idéia antes de construí-la é algo que nos permite projetar ferramentas, levantar prédios, construir rodas, carros, trabalhos, instituições, teses, antíteses, enfim misturar o concreto e o abstrato crescendo com isso.
Tecnicamente, penso que imaginar pode facilitar muitas situações pessoais. No esporte assim como no cotidiano, imaginar é preciso. Nos esportes coletivos, imaginar é fundamental. Desde a abstração de desenhos táticos até a execução em uma situação adversa, é muito importante notar o problema, imaginar a solução e depois tentar construí-la (já que imaginar e não poder ou conseguir executar não resolve os problemas).
Na condição de brasileiro pesquisador e observador, noto que um aspecto fundamental precisa ser acusado nas reflexões sobre os esportes coletivos com bola (futsal, futebol, vôlei, basquete, handebol, etc.). Para não causar nenhum tipo de interpretação errônea, tomarei cuidado com as palavras.
No dicionário, imaginar significa idear, fantasiar, inventar, representar na imaginação. Já imaginação é a faculdade de criar a partir da combinação de idéias. A combinação de idéias funciona como uma mistura de ingredientes para bolo, colocados em doses certas e preparados de maneira precisa. Quero dizer com isso, que idéias ao léu não necessariamente resultarão em uma imaginação passível de execução.
Vejamos outro termo que me será útil na explanação. Falo da palavra enganar. Enganar significa induzir ao erro, iludir, burlar. Em linhas gerais, quem engana (o enganador) engana para o mal (pelo próprio conceito da palavra na indução ao erro). Quando pensamos nos esportes coletivos, podemos alcançar uma forma diferente de encarar o ato de enganar. No vôlei, por exemplo, quando a bola chega até as mãos do levantador ele tem a exata missão de iludir o bloqueio da equipe adversária para que o seu atacante possa realizar uma “cortada” (um ataque) com mais facilidade. A “paradinha” das cobranças de pênalti surgiu tão somente para induzir os goleiros ao erro.
Lembremos que “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Mas imaginação, por definição envolve criação, e certamente não haveria por que existir a palavra criar se fosse apenas para a definição dessa lei (mas deixemos essa discussão para outra oportunidade).
O ponto a que quero chegar é: principalmente em esportes coletivos com bola (que não são previsíveis!), enganar é uma forma de conseguir vantagens. Podemos pensar até em uma conceituação diferente para o ato de enganar, associando-o a uma imaginação que leva a iludir o adversário.
Grandes jogadas do futebol (a bicicleta, por exemplo) foram “inventadas” por brasileiros (ainda que haja controvérsia). E a “jornada nas estrelas” do vôlei? Pura criatividade, pura imaginação, pura ilusão aos adversários…
Penso que no nosso país, onde faltam oportunidades para a prática esportiva e onde talentos sobrevivem dentro de erros de preparação e falta de estrutura, algo se torna singular e nos permite ainda assim ter grandes equipes em esportes coletivos com bola. Se é mérito do jeitinho brasileiro eu não sei, mas que nossa capacidade de imaginar para iludir é algo surpreendente, nem duvido mais.
Obviamente que não estou aqui, eu brasileiro, querendo dizer que somos grandes enganadores. Já disse antes que o ato de enganar por definição parece algo mau, mas alertei também que transferido aos esportes (dentro do contexto que evidenciei), poderíamos alcançar um entendimento diferente para tal.
É claro também que Lavoisier (1743-1794), ao contextualizar a lei de que “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, o fez no pensamento da conservação de energias. Visto assim, até mesmo nossa combinação de pensamentos (a imaginação) é uma decodificação (transformação) de uma série de reações e impulsos que em um estágio final a resultaram.
Mas mesmo pensando assim, creio que algo que também se transforma, mas que desta vez sim, se cria, nos permite evidenciar o talento de imaginar para iludir, de transformar para vencer, de criar para sobreviver… Afinal de contas, somos brasileiros.
Pena mesmo que no nosso bom futebol o “iludir-enganar” não se mantenha dentro das quatro linhas norteado pelos benefícios das regras ou pela imprevisibilidade do jogo. Pena que o “iludir-enganar” não seja uma forma inteligente e positiva de se traçar táticas e estratégias de um treinador e sua equipe.
Por fim, pena que o “iludir-enganar” extrapole as virtudes (que de obrigação básica, passaram a ser diferenciais sociais) dos homens e caminhe para fazer do jogo e do esporte um teatro de marionetes em que o desfecho é conhecido antes mesmo de o público chegar.
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Ausência
Caro leitor da Cidade do Futebol,
Infelizmente, informamos que a coluna de Oliver Seitz não será publicada nesta quinta-feira.
Pedimos desculpa por esse infortúnio e estamos trabalhando para que ele não volte a acontecer na próxima quinta-feira.
Obrigado pela atenção!
Sem mais,
Equipe Cidade do Futebol
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Ausência
Caro leitor da Cidade do Futebol,
Infelizmente, informamos que a coluna de Oliver Seitz não será publicada nesta quinta-feira.
Pedimos desculpa por esse infortúnio e estamos trabalhando para que ele não volte a acontecer na próxima quinta-feira.
Obrigado pela atenção!
Sem mais,
Equipe Cidade do Futebol
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A necessidade da polêmica
Palmeiras e Ponte Preta fizeram, em São Paulo, a mais chocha final de campeonatos estaduais pelo Brasil. Nada como o eletrizante Cruzeiro 5×0 Atlético-MG, ou como os emocionantes Flamengo 1×0 Botafogo e Juventude 1×0 Inter, na bacia das almas.
E a imprensa em São Paulo entrou no clima. Ficou chocha, não discutiu, não criou polêmica, não teve o que discutir diante de um jogo em que o Palmeiras foi bem na primeira etapa, sofrível na segunda e, mesmo assim, deixou claro o óbvio: será campeão estadual após 11 anos.
A polêmica não existiu, as mesas redondas não tiveram nenhum lance questionável na insossa partida para debater. O jogo não teve algo de diferente. Resultado: vamos falar dos outros Estaduais!!!!
Pois é: o domingão das mesas redondas ganhou um espaço para a depenada do Galo em Minas, para o cada vez mais polêmico Flamengo x Botafogo no Rio, até para o Ba-Vi na Bahia! Existe uma necessidade pela polêmica na imprensa esportiva que não há espaço para aquilo que é banal.
Ok, também somos assim quando estamos no nosso dia-a-dia. Prova disso foi o recente tremor de terra em cinco estados brasileiros. Quem sentiu o tremor sem dúvida contou em todos os detalhes o que viu, o que sentiu, o que pensou naquela hora.
É da mente humana querer fugir do que é o banal, do que é o dia-a-dia, do que é o cotidiano insosso. A imprensa age da mesma forma. Se Palmeiras e Santos (ou Corinthians) estivessem definindo o título paulista, mais uma vez os outros estaduais seriam ignorados pelas emissoras paulistas. Assim como, no Sul, as resenhas ficaram em cima da vitória no minuto derradeiro do Juventude. Ou, no Rio, só se discutiu a entrada decisiva de Obina no clássico.
Não tem como. A imprensa, assim como as pessoas, sente necessidade pela polêmica. E, num domingo em que não se teve polêmica no estado de São Paulo, o jeito foi buscar outros lugares para dar pano à discussão.
Ainda se o Valdívia tivesse levado o terceiro amarelo num lance discutível…
Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br
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Defender com bola
Em uma das muitas e boas discussões científico-futebolísticas no Café dos Notáveis, ressurgiu uma das questões mais divergentes desde os tempos da inauguração do Café: a posse de bola.
Há tempos estudos científicos em todo o mundo, avaliando competições profissionais de futebol em diversos países, apontam para o fato de que o tempo de posse de bola de uma equipe em um jogo não tem boa correlação com o resultado da partida (nem com o número de gols feitos por uma equipe).
Isso em outras palavras quer dizer que ter a bola sob posse da equipe por mais tempo durante os diversos momentos do jogo não será garantia de vitória na partida.
Claro, estou eu aqui generalizando o conceito “posse de bola”, não “destrinchando-o” de acordo com as regiões do campo em que ocorre, nem com a circunstância temporal da partida (por temporal entenda-se momento do jogo).
O fato é que, ela que já foi vedete de narradores e “especialistas” desportivos, tem no Brasil uma variedade de treinadores com propostas distintas de modelo de jogo relativas ao seu conceito.
Aí recorro então a um velho colega, que por seus afazeres nunca pode freqüentar as reuniões dos notáveis do Café: sir Istvi. Ele gostava de dizer aos seus alunos da faculdade de educação física que não utilizassem apitos em aulas e treinos de esportes em geral. Dizia que isso seguia na contramão da história porque resgatava tempos de repressão política em que as pessoas de não tinham liberdade para expressarem seus pensamentos.
Ora, quanto poder sir Istivi julgava ter um apito? Obviamente em nossas conversas eu tentava mostrar a ele que o problema não estava no objeto em si, mas qual o uso era feito dele. Um dia acabou por se render à minha fala quando combinei com um grupo de alunos seus uma intervenção prática daqueles argumentos que eu usava.
Gosto de lembrar essa história para falar sobre a posse de bola porque é exatamente o mesmo problema conceitual: ela e a questão do uso do apito.
A posse da bola em um jogo já foi tida como variável determinante do atacar e do defender. Em outras palavras, pesquisadores e especialistas brasileiros, franceses, portugueses e espanhóis sempre atribuíram o estar atacar às equipes com a bola sob sua posse, e o defender para as que não a tinham em seu poder.
É claro, somos tentados e induzidos a pensar assim. Mas pensar assim é não compreender o jogo em sua complexidade. Sem ter que me aprofundar nisso neste momento, posso dizer que novas frentes de pesquisa são contrárias a essa fragmentação conduzida pelo estar ou não estar com a bola.
Estar com a posse da bola pode ser uma estratégia de controle do jogo. Não necessariamente para buscar atacar e fazer o gol. Mas também para “descansar” enquanto se joga e para se defender através da posse da bola.
É claro. O desgaste físico-técnico-tático-emocional de uma partida pode ser influenciado pelo ritmo do jogar. E o ritmo do jogar, pode se bem incorporado a estratégia e ao modelo de jogo, ser controlado pela equipe que tem a posse de bola (independente desta estar ou não a buscar o ataque).
Da mesma forma, para fazer um gol a bola precisa ser “atirada” de alguma forma contra ele (o gol, a meta, etc.). Se partirmos do pressuposto de que os jogadores da própria equipe não farão isso contra sua própria meta, então o adversário só o conseguirá fazer se algum dos seus jogadores puder “tocar” na bola. Se a equipe conseguir, para tanto, manter a posse da bola sem necessariamente buscar o ataque, poderá estar eficientemente se defendendo com a bola.
Esse conceito já pode por diversas vezes ser visto com sucesso no futebol inglês, em alguns momentos do jogo, em algumas equipes comandadas por treinadores não ingleses. Obviamente, essa não é a única forma de se defender ou “descansar”. Mas é uma proposta diferenciada dentro dos modelos de jogo que normalmente vemos por aí.
Estou certo, porém, que desenvolver tal conceito não é tarefa das mais fáceis dentro da cultura “futeboleira”. Nem tão pouco é assunto totalmente “pacífico” em ambientes como o Café dos Notáveis. O fato é, que dentre as tantas coisas que dizem que não podem ser mais “inventadas” no futebol (porque nele já não há mais nada a se inventar – segundo os “boleiro-especialistas”) está aí um conceito com espaço para ser desenvolvido.
É claro que, como tantas outras questões tático-estratégicas do futebol, paira sobre a idéia de que a posse de bola nessa perspectiva pode deixar o jogo desacelerado e menos interessante; argumento com o qual não posso concordar.
O conceito de se defender com a bola, como vejo, não preconiza o simples ficar por ficar com a bola. Incentiva sim a percepção e a significação do estar coletivo e individual com a posse da bola. E perceber e dar significado possibilita a todo tempo ler o jogo para tomar qualquer decisão que promova o jogar bem (que é diferente do jogar bonito, mas não o exclui). E isso quer dizer que a qualquer desequilíbrio adversário a possibilidade de se buscar mais um ataque é parte da estratégia.
Para perder um jogo, talvez tenhamos quatro possibilidades conceituais (que se ramificam). Ou perde-se por erro de estratégia, ou por qualidade do adversário (individual e/ou coletiva), ou por erro na ação (individual do jogador ou coletiva da equipe), ou por fatores externos à lógica do jogo (exemplo, erro da arbitragem).
O erro de estratégia tem relação direta com a qualidade do adversário (individual e coletiva) porque a elaboração da estratégia deve levar em conta a tal “qualidade”.
As ações individuais e coletivas também podem ter relação com a atuação do treinador, mas não necessariamente com sua estratégia de jogo. Então a estratégia do treinador e a qualidade do adversário são variáveis diretamente relacionadas e dependentes da atuação do treinador através de sua estratégia de jogo (e portanto, da sua leitura do jogo).
A ação individual e coletiva de seus jogadores e equipe também estão atreladas a atuação do treinador, porém mais ao seu modelo de treino e processo de trabalho.
A última grande variável “fatores externos a lógica do jogo” é aquela de menor ou nenhuma responsabilidade do treinador e sua estratégia de jogo (ainda que particularmente poderia contestar essa afirmação – deixemos para outro momento).
Em resumo, das quatro grandes varáveis, duas (50%) têm relação direta com as decisões do treinador sobre sua estratégia de jogo. Os outros 50%, aparentemente ainda denotam a ele menor responsabilidade (mas volto a dizer: isso pode mudar!).
Defender-se com bola é uma estratégia dentro do modelo de jogo – que é proposto pelo treinador e que pode potencializar erros no início do processo. Os erros quando aparecem, são muitas vezes suficientes para fazer com que o planejamento tome outra direção. Mas o que deveria ocorre
r na verdade é o correto entendimento do processo para diagnóstico exato dos porquês dos erros. Somente assim eles podem ser corrigidos; e somente assim a vitória virá.
r na verdade é o correto entendimento do processo para diagnóstico exato dos porquês dos erros. Somente assim eles podem ser corrigidos; e somente assim a vitória virá.
Mais uma vez eu insisto: quando não se sabe por que se ganha, também não se saberá por que se perdeu. E aí, o fundo do poço é o limite…
Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br