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O Corinthians caiu para a Série B, e isso é bom para todo mundo. É bom para os torcedores dos outros times da Série B, é bom para os times que ficaram na série A – um grande a menos para competir no ano que vem -, e é bom principalmente para o Corinthians.
Os torcedores corintianos, obviamente, não devem concordar comigo. Mas uma matéria da Folha de São Paulo assinada pelo jornalista Paulo Cobos, que se baseou nos sempre muito úteis dados da Casual Auditores Independentes, diz que dos últimos cinco clubes fundadores do C13 que caíram para a segundona, quatro tiveram acréscimo de receitas no ano em que passaram na divisão inferior. O único que não obteve dividendos com o rebaixamento foi o Botafogo. Bem que dizem que tem coisa que só acontece por aquelas bandas.
E não foi coisa pouca, não senhor. Bahia, Grêmio e Atlético Mineiro chegaram a ter um acréscimo nos seus faturamentos em cerca de 50%. Faz algum sentido isso? Não, não faz. Mas tentemos tirar algumas conclusões.
Peguemos o exemplo mais recente, o Coritiba, que ficou duas temporadas jogando na Série B, e façamos uma breve análise baseada apenas nos dados disponibilizados pela CBF, ou seja, na receita proveniente da bilheteria dos jogos em casa. Em 2004, ano em que o Coritiba acabou em 12º lugar na Série A, meio da tabela, a média de público foi de apenas 7.393 pagantes por jogo. Em 2005, ano em que foi rebaixado, a média de público cresceu para 18.688 pagantes por jogo, um acréscimo de 152% em relação ao ano anterior, apesar da significativa piora de performance. Em 2006, ano em que acabou na sexta colocação da Série B, a média de público do Coritiba foi de 10.715 pagantes por jogo. Apesar de ter sido apenas 6ª maior média da Série B, o Coritiba teve mais público que seus conterrâneos, Atlético Pr e Paraná, que jogaram na Série A. A média de receita também superou a do Paraná, mas ficou abaixo da média do Atlético Pr, coisa que não aconteceu em 2007, ano em que o Coritiba sagrou-se campeão da Série B. Neste ano, a média de público do clube foi de 17.377 pagantes por jogo, o que gerou uma renda média de R$253.658,84. Tanto a média de público quanto a média de receita gerada por ingressos do Coritiba foram superiores que as do Atlético Pr e do Paraná.
Caso o Coritiba tivesse jogado a Série A deste ano e mantivesse as mesmas médias de público e renda, ele teria a 10ª maior média de público e a 7ª maior média de renda por jogo. O preço médio de ingresso do Coritiba neste ano ficou em R$ 14,60 por jogo, o mais elevado da Série B e, se comparado com a Série A, foi superado apenas por Atlético Pr (R$18,42), América RN (R$ 15,53), Palmeiras (R$ 15,46) e Botafogo (R$ 14,81). Mais estranhamente ainda, aliás, muito mais estranhamente ainda, a média do preço por ingresso do campeão da Série B (R$ 14,60) foi 17% maior do que a média do preço por ingresso do campeão da Série A (R$ 12,45). Faz algum sentido isso? Não, não faz.
Esses dados, porém, restringem-se apenas às receitas provenientes dos ingressos em dias de jogo. Obviamente que o São Paulo, campeão da Série A, irá obter muito mais receita do que o Coritiba, principalmente dos contratos de patrocínio e de televisão. Entretanto, os dados aqui apresentados somados aos dados da Casual Auditores Independentes apresentados pela reportagem de Paulo Cobos mostram bem o quão confusa é a indústria do futebol brasileiro.
Em uma indústria normal, clubes que jogam em melhores divisões possuem maiores receitas, levam mais gente aos estádios e cobram mais caro pelos ingressos. Obviamente que existem exceções pontuais, mas a regra é essencialmente essa. Por conta da necessidade de apresentar maior qualidade em campo, clubes de divisões superiores também gastam muito mais em salários e transferências do que clubes de divisões inferiores. Como em indústrias normais boa parte dos contratos com os jogadores tende a ser mais longos, os clubes que caem de divisão acabam tendo sérios problemas financeiros, uma vez que têm que continuar a arcar com contratos elevados enquanto sofrem uma grande redução de suas receitas.
No Brasil, como visto, a queda de divisão para clubes mais tradicionais não significa necessariamente uma perda muito grande de receita, uma vez que o contrato com a televisão possui uma cláusula que atenua a queda e que os torcedores aparentemente preferem ganhar na Série B do que perder ou empatar na Série A. Além disso, e talvez mais importante ainda, boa parte dos contratos com os jogadores é de pouca duração, o que permite que o clube renove o seu elenco e adapte sua folha salarial sem maiores preocupações. Levando-se em conta, ainda, que a atenção dada ao clube tradicional jogando a Série B é tão grande ou maior do que aquela dada quando ele jogava a Série A, e que a qualidade da Série B é relativamente menor do que a qualidade da Série A, fica muito mais fácil ter jogadores em destaque. Como o nível técnico tende a ser menor, um jogador mediano da Série A acaba sendo um bom jogador na Série B. Com a grande atenção da mídia e do público, os bons jogadores da Série B que jogam por um clube tradicional acabam sendo considerados bons jogadores de um modo geral, independente da divisão em que esteja, o que possui um impacto sensível no preço que pode ser cobrado por uma eventual transferência. Isso vale especialmente para jogadores saindo das categorias de base.
Com tudo isso, não é surpresa que acabe sendo mais rentável para o clube jogar a Série B do que a Série A. Mostra, um pouco, como é confuso o futebol brasileiro, uma vez que um clube ganha mais perdendo do que ganhando. Para um clube grande, vale mais a pena acabar no topo da Série B do que no meio da Série A.
Sorte, acho, que os clubes não são organizações com fins econômicos, o que impede que eles definam seus objetivos baseados na performance em detrimento à performance esportiva.
Fossem os clubes empresas, como muitos parecem preferir, a ‘luta contra o rebaixamento’ se transformaria em uma ‘luta pelo rebaixamento’. Faz algum sentido isso? Não, não faz.
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A ressurreição do Timão
Sim, a rima é péssima. Assim como foi péssimo o 2007 alvinegro. Um time débil, uma diretoria que se tornou ex no meio do caminho e ainda virou caso de polícia, uma nova diretoria que está colocando a casa em ordem, mas que acaba de sofrer um tremendo baque…
Se 2007 foi para se lamentar, o ano que chega promete ser um dos melhores do Timão. Afinal, entre um time medíocre na Série A ou um vencedor na Série B, melhor aquele que consegue resgatar a auto-estima do torcedor corintiano.
Cair, hoje, não é tão ruim como no passado, quando havia o perigo do mata-mata, quando os jogos eram disputados em estádios acanhados e sem proteção ao time visitante, quando nem a TV dava bola para a Segundona.
Agora é tudo um barato. Vai ter até Timão x Bahia, ou Timão x Ponte Preta, ou ainda Timão x São Caetano. Isso sem falar no incremento da receita alvinegra. Sim, afinal, por mais que a verba da TV tenha um decréscimo de 50%, pode ter certeza que a camisa corintiana vai vender como água, os estádios estarão lotados, o torcedor consumirá até mesmo a cueca do terceiro reserva do lateral-direito.
Sim, a TV venderá mais também os pacotes de pay-per-view da Série B. E o Timão terá de negociar para conseguir uma parcela maior desse bolo todo. Ah, e o que é melhor, com as vitórias alvinegras, uma série de novos produtos será criada, um slogan da virada será feito. E, pode apostar, tudo venderá como água no deserto.
Enfim, mais ou menos em novembro do ano que vem, o Corinthians ressurgirá, triunfante, para a Série A do Brasileirão, lugar de onde não deveria nunca ter saído. E o retorno será com uma nova geração de craques, com Lulinha, Dentinho e Felipe, comandando uma das melhores gerações de jogadores corintianos. E, no ano seguinte, aos 99 anos, o Sport Club Corinthians Paulista fará jus à tradição de sua camisa, com uma apresentação digna do maior campeão paulista e um dos maiores vencedores do país.
A Série B significa Série Boa.
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O início do fim
Não haveria uma hora pior para a queda corintiana. Endividado, com uma nova diretoria, um time apenas mediano e – que desastre! – agora a ida para a Série B. Queda de receita de televisão, humilhação do torcedor nas ruas, falta de dinheiro para contratar bons jogadores, falta de calma para os atletas e a comissão técnica trabalhar.
Nem mesmo a massa de mais de 25 milhões de torcedores poderá ser capaz de evitar um desastre ainda maior. Não há dinheiro para contratações, o caso com o MSI continua nebuloso e ainda pode gerar mais multas e pagamentos astronômicos pelas já malfadadas contratações de Tevez, Sebá e Mascherano.
O sonho de Tóquio tornou-se o pesadelo de Bragança Paulista. Agora, em vez de pensar na final do Mundial de Clubes no Japão, o Timão terá de se preocupar com o ataque do Bragantino nos jogos da Segundona!
A queda alvinegra é o início da ladeira em que o Corinthians se envolve. O clube tem dívida com quase todos os ex-técnicos da época do MSI. Além disso, será preciso renegociar débitos com fornecedores. Para piorar, ainda a receita será menor, principalmente a da televisão.
A pressão pelos resultados fará a diretoria perder o rumo. Sem planejar, o time ficará desorientado até o momento em que for tarde demais. Sem padrão de jogo, sem treinador fixo, com jogadores sem identificação com o clube. E o jogo contra o Bragantino poderá representar o início do fim…
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E daí?
O Corinthians caiu. E daí? O rebaixamento pode ser abordado de duas maneiras distintas.
Se você é otimista, clique aqui.
Se você é pessimista e ainda está com coragem de pensar alguma coisa, então por favor clique aqui.
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Dia desses, em uma daquelas memoráveis conversas que ecoam no Café dos Notáveis, fui questionado sobre a “amplitude” de jogo de uma equipe; se esse era um conceito de ataque, ou se também valia para a defesa; se era um conceito para o meio-campo ofensivo, ou se valia também para o meio-campo defensivo.
Pois bem, em uma das colunas anteriores (Os esquemas táticos, as plataformas de jogo e a amplitude como princípio de ataque), a “amplitude” fora apresentada como “princípio de ataque”. Isso significa dizer que na construção e estruturação do ataque, a amplitude é uma das variáveis que podem colaborar para ações ofensivas mais ou menos eficientes.
Convém destacar, porém, que a construção do jogo, quando uma equipe está de posse da bola, acontece o tempo todo no campo todo; e que a melhor distribuição geométrica no terreno de jogo gera facilidades nessa construção.
Sendo assim, devemos entender que a amplitude também deve ser analisada como uma variável presente no campo de defesa.
Em alguns jogos da seleção brasileira de futebol, especialmente os mais recentes, tornou-se freqüente presenciarmos a dificuldade de a equipe pentacampeã mundial sair jogando do campo de defesa para o campo de ataque. Era só aparecer pela frente uma marcação avançada mais incisiva que “adeus” construção de jogadas (dá-lhe “chutão”). Vários são os “problemas” que podem ser destacados para explicar a tal dificuldade. Um deles é a “amplitude defensiva” (ou amplitude no campo de defesa).
Ainda que pareça abstrato, é fácil percebermos que uma grande amplitude defensiva dificulta a marcação adversária e, principalmente, possibilita melhores alternativas para a construção de jogadas.
A amplitude defensiva e a amplitude de ataque têm em comum a distribuição horizontal bem definida para “aumentar” o campo de jogo. Na amplitude de ataque, a principal dificuldade para os treinadores é garantir um balanço defensivo eficiente na transição defensiva. Na amplitude defensiva, a principal dificuldade também está na transição defensiva, principalmente quando a bola vai alcançando linhas mais avançadas.
Observemos que a amplitude (tanto a defensiva quanto a de ataque) é um princípio de ataque, pois tanto no campo defensivo quanto no ofensivo é variável que se opõe ao sistema defensivo adversário.
Quando olhamos para uma equipe se defendendo, a “largura” do sistema de marcação se refere ao “equilíbrio defensivo horizontal” e não à amplitude.
O “equilíbrio” é um princípio de defesa que se refere à relação entre a distribuição de jogadores no campo de jogo e a eficiência defensiva da equipe na diminuição do espaço efetivo do jogo (“estreitamento do campo”).
Como mencionado, o equilíbrio pode ser horizontal (equilíbrio relativo às faixas esquerda e direita do campo) ou vertical (equilíbrio relativo às faixas de ataque e defesa do campo).
As equipes, quando se defendem, de acordo com seu plano de jogo, definem um número de jogadores (além do goleiro) que devem estar atrás da linha da bola. Algumas utilizam sete, outras oito, outras dez. Isso está ligado ao “equilíbrio defensivo vertical” da equipe.
Então, enquanto a amplitude busca auxiliar a construção do jogo e as seqüências de ataque, o equilíbrio busca garantir uma distribuição de jogadores que permita a uma equipe, ao se defender poder estar pronta para atacar (com uma transição ofensiva rápida e eficaz) ao recuperar a posse da bola.
Bom, e como diria um dos poetas do Café dos Notáveis, melhor mesmo é se a amplitude estiver equilibrada e o equilíbrio… Bom, deixa o equilíbrio pra lá…
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Na onda da Copa
Este ano concluí na Suíça um programa de pós-graduação promovido pela Fifa, denominado Fifa Master. Dentre diversas atividades extremamente proveitosas, desenvolvi um projeto acadêmico de pesquisa que analisou os impactos da Copa do Mundo de 2010 na liga de futebol sul-africana.
A grande relevância desse trabalho, em nosso dia-a-dia, é que as Copas de 2010 e de 2014, que provavelmente será realizada no Brasil, têm muito em comum. Digo que a Copa de 2014 provavelmente será aqui, uma vez que o Brasil ainda pode perdê-la, caso não cumpra tudo aquilo prometido pela CBF.
E, cá entre nós, é melhor não ser escolhido, do que, uma vez escolhido, ser substituído por falta de recursos.
Enfim, naquele trabalho realizado, identificamos uma série de impactos sobre a liga de futebol que já estão ocorrendo antes mesmo da Copa de 2010. Dentre eles, podemos citar:
(i) Os direitos de televisão da liga nacional foram renegociados, com valores inéditos;
(ii) Clubes de menor porte estão sendo adquiridos e novos patrocínios sendo assinados, por pessoas (físicas e jurídicas) que antes não investiam em futebol;
(iii) O CEO da liga foi substituído, dando a ela um caráter muito mais profissional;
(iv) Novos conceitos de gerenciamento e administração da liga estão sendo implementados;
(v) O nível do futebol local aumentou (basta ver os números de gols, etc), uma vez que os seus jogadores estão querendo “mostrar serviço” ao nosso Parreira, atual técnico da seleção sul-africana, conhecida como “bafana bafana”.
Importante para nós brasileiros, e, em especial à CBF, ficarmos atentos a esses impactos, bem como as providências que a liga sul-africana está tomando, para que possamos adotar por aqui uma estratégia que, finalmente, coloque o nível do nosso futebol local à altura que merecemos.
Não podemos mais admitir casos como a tragédia da Fonte Nova. Se não formos diligentes com essas questões, a saída para problemas como esse será apenas a reforma dos principais estádios que serão utilizados para a Copa de 2014, sendo que os outros milhares de estádios que possuímos ainda estarão nas mãos de Deus para que outra tragédia não ocorra.
A CBF precisa aproveitar a Copa do Mundo não só para mostrar que é capaz de organizar um evento dessa magnitude ou, em outras palavras, para “inglês ver”. Ela precisa sim utilizar esse momento espetacular que a Copa traz para efetivamente fazer uma competição, em todos os seus níveis, organizada e com clubes estruturados.
Uma excelente medida, que já foi implementada na Europa e que está sendo estudada na África do Sul, é o estabelecimento de um regime de licenciamento de clubes. Para quem não está familiarizado com esse sistema, as ligas européias editaram regras uniformes e rigorosas para que o clube possa se habilitar a participar da competição. As regras vão desde aspectos de segurança no estádio até critérios específicos para organização interna de diretores e investidores dos clubes.
A CBF deveria implementar uma cartilha dessa natureza, porém realista ao cenário brasileiro, para que os clubes pudessem participar das ligas em que se encontram.
Os clubes de primeira divisão, por exemplo, não poderiam apresentar estádios precários para mando de seus jogos. Assim, a Fonte Nova nunca seria liberada para utilização em jogos oficiais.
Devemos mencionar aqui que o sistema de licenciamento ainda é bastante discutido na Europa e questionado por clubes de menor expressão, que dificilmente conseguem se adequar a todos os requisitos. Se de um lado isso traz alguns problemas para esses clubes, por outro obriga os demais clubes a atingirem excelência no trato com seus torcedores, imprensa, investidores, times adversários, etc.
Essa é apenas uma das ferramentas que a CBF poderia aproveitar do impacto trazido pela copa do mundo. Mas outras tantas podem ser aproveitadas caso haja vontade e seriedade de seus dirigentes.
A Copa do Mundo deve ser bem organizada, não resta dúvidas, a Fifa cobrará a CBF por isso. Porém, a CBF deve olhar também às possibilidades que possam levar o nosso futebol interno a uma reforma benéfica e sustentável em prol de todos os brasileiros. É para isso que vale a pena utilizar verba pública para melhoria dos estádios. Caso contrário, será mais uma oportunidade perdida.
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A atmosfera do espetáculo
Fui a um show do Djavan, que dizem ser torcedor do Flamengo, aqui em Curitiba. O show foi dentro de um teatro, Guaíra, o maior da cidade, com capacidade para mais de 2 mil pessoas. Ultimamente, muitos shows musicais aqui em Curitiba têm acontecido no teatro. Coisa estranha.
No começo do show, casa lotada e todo mundo sentadinho, cada qual em seu lugar. Djavan tocava uma música, todo mundo escutava e no fim aplaudia. Coisa de teatro. Poderia ser uma peça, quiçá um monólogo. Aparentemente, tanto fazia. Primeiro a música, depois o aplauso. A alternância era constante e deixava o espetáculo bonito, mas estranho. Durante as músicas, as pessoas acompanhavam as letras, mas de forma contida. Era legal de ver. Mas parecia um devedê.
Conforme o show foi evoluindo, os espectadores começaram a ficar inquietos. Uns se levantavam para dançar aqui, outros acolá, mas nada que durasse por muito tempo. Logo se sentavam. Em determinado momento, porém, Djavan convocou todos à beira do palco. De imediato, o público se levantou e passou a pular, dançar, gritar, esgoelar, et al. Aí sim, dava dizer que se estava em um show. Djavan e a banda passaram a interagir com a platéia, e a platéia correspondia. Diferentemente da situação anterior, o show se distinguia de um DVD. Era um evento único e interativo. Muito culpa da atmosfera criada pelas variáveis que foram transformadas no decorrer do espetáculo por demanda da banda e do público. A banda sentiu-se mais confortável em atuar nesse ambiente, e o público, aparentemente, pagou para participar do show, e não para simplesmente assisti-lo.
A atmosfera é, hoje, o grande produto que se vende em grandes espetáculos, e no futebol não é diferente. A atmosfera de um jogo de futebol é atualmente o grande produto de um estádio de futebol. Nos primórdios, o estádio vendia o acesso ao jogo. Afinal, ou se ia ao estádio para ver o jogo, ou não se via em lugar algum. Conforme a tecnologia foi evoluindo, esse produto passou das mãos dos estádios para as mãos dos veículos midiáticos. Hoje, o acesso ao jogo não é mais um produto dos estádios, mas dos canais de televisão e de outras mídias, que conseguem oferecer o acesso de maneira muito mais adaptada ao gosto do público. Com isso, o estádio precisa se preocupar em vender produtos e valores agregados ao jogo que a televisão não consegue vender. É o caso da atmosfera do jogo. Quem vai ao estádio não o faz para ver o jogo. O faz para sentir o jogo, para participar do jogo, para viver o jogo. E quem vende esse produto precisa estar preocupado em oferecê-lo da melhor maneira possível.
No Brasil, não há sinais de que as pessoas estão muito dispostas a pagar pela atmosfera do jogo, até porque a atmosfera não é a adequada para boa parte do público, uma vez que ela está aparentemente atrelada ao sentimento de insegurança. Além disso, o esforço necessário para se vivenciar esse ambiente acaba não sendo justificado, uma vez que é preciso adicionar ao custo da atmosfera fatores como banheiros inapropriados, trânsito caótico e estrutura precária, entre outros, muitos outros.
Boa parte da solução para esse problema passa não só pela mobilização dos clubes de futebol e órgãos reguladores das competições, mas também, e talvez principalmente, pela ação do poder público, ainda mais em um país subdesenvolvido, ou em desenvolvimento, como o nosso. Como o público que utiliza os estádios não possui muito valor econômico, eles acabam abandonados e carentes de manutenção e serviços básicos. Como o futebol possui grande importância pública e por conta disso os estádios continuam a ser utilizados, independentemente do seu estado, cabe ao poder público definir os limites mínimos que prezem pela segurança e comodidade das pessoas que fazem uso desses espaços.
O fato de que o grande responsável por iniciativas que regulem a segurança dentro dos estádios é o poder público torna o acidente acontecido no estádio da Fonte Nova ainda mais absurdo, uma vez que o estádio pertence ao poder público. Se o poder público não consegue zelar nem por aquilo que é dele, como pode ele exigir alguma coisa dos outros? Não tem muito mais o que possa ser dito. É simples assim. Triste e infelizmente.
Alguém parou pra pensar no ridículo que foi o acidente na Fonte Nova? Alguém parou pra pensar que um buraco abriu no meio do concreto? Como alguém explica uma coisa dessas? Como o poder público explica uma coisa dessas?
No dia 05 de outubro de 2006 eu publiquei uma coluna neste mesmo digníssimo site que dizia o seguinte: “Sempre digo que uma grande tragédia está à espera do futebol brasileiro. Cada vez mais tenho certeza disso. Infelizmente, parece que as coisas só mudarão quando ela acontecer”. Como eu disse que sempre digo e continuarei a dizer: uma grande tragédia aguarda o futebol brasileiro. A morte de sete torcedores na Fonte Nova, infelizmente, ainda não é uma tragédia grande o suficiente para transformar de vez o futebol brasileiro. Vai acontecer o de sempre: políticos vão bradar, a imprensa vai reclamar e pouca coisa vai mudar.
Uma grande tragédia ainda aguarda o futebol brasileiro, e isso é visível e perceptível. Todo mundo sabe disso, ainda que inconscientemente. E quem paga pra freqüentar um ambiente desses? Melhor pagar a tevê a cabo. E torcer pra não abrir um buraco na minha sala.
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Fila de apagões
Mais de meio milhão de pessoas, média de quase 39 mil torcedores por partida, nove dos dez melhores públicos do campeonato, dez das dez melhores arrecadações da competição e quase R$ 5 milhões em renda ao longo de 13 partidas.
Os números da euforia da torcida com a volta do Bahia à Série B do Campeonato Brasileiro só não são mais belos pela tragédia em que se transformou o estádio da Fonte Nova na noite do último domingo. A queda de parte da arquibancada do estádio baiano deixou pelo menos oito mortos e apagou a festa baiana.
Não dá para se falar em acidente. Pelo menos não no que diz respeito a uma tragédia num estádio brasileiro. A precariedade nas estruturas dos principais locais que abrigam eventos esportivos no Brasil é gritante e assunto muito antigo. Mas, para variar, o tema vem sendo empurrado com a barriga já há muitos anos.
Quem nunca enfrentou a “emoção” de assistir a um jogo num estádio brasileiro pode considerar o caso da Fonte Nova um acidente. Mas, a cada partida que um torcedor tem o “prazer” de acompanhar in loco, a certeza de uma iminente tragédia é latente.
O apagão estrutural dos estádios brasileiros vem desde a década de 90. Alguns deles se preocuparam em reformar, passar por melhorias e deixar a situação mais tranqüila para o torcedor. Desde 1992, quando a proteção da arquibancada do Maracanã caiu e resultou na morte de torcedores antes da decisão do Brasileirão entre Flamengo e Botafogo, passando pelo desastre da decisão da Copa João Havelange em 2000, o abandono dos estádios tem gerado muitos transtornos à indústria do futebol.
Mais uma vez a imprensa alardeará o problema, reforçará os problemas estruturais que vivemos e não fará muita coisa além disso. Infelizmente. Afinal, a partir de uma cobrança contínua e eficiente, é possível provocar a mudança de comportamento dos dirigentes.
A queda na Fonte Nova faz a Bahia perder pontos até no projeto de abrigar partidas da Copa do Mundo de 2014. Mas revela também a necessidade de, para o bem do futebol, o país conseguir conter a falha estrutural que corrói os estádios e demais praças esportivas.
Investir milhões em novas arenas não é mera jogada de marketing ou até mesmo exigência para o país abrigar a Copa. O apagão dos estádios precisa ser resolvido urgentemente. Do contrário, o torcedor ficará afastado do futebol. E, junto com ele, todo o consumo que ele pode gerar. Isso sem falar, mais uma vez, em vidas perdidas pela negligência e conformismo de quem está no poder.
É mais um apagão na fila dos “apagões” que se transformou o país.
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DICA! – Para melhor compreensão e aproveitamento desse texto, retome os conceitos “Estruturação do Espaço de Jogo”; “Comunicação na Ação” e “Relação com a Bola” discutidos na 2ª parte.
A orientação das dinâmicas de uma partida de futebol a partir de uma plataforma de jogo é norteada por uma estrutura sistêmica maior; a lógica do jogo.
A boa comunicação na ação (de jogadores e equipe) é dependente da maior ou menor compreensão das dinâmicas proporcionadas pela plataforma de jogo. Então o nível de entendimento dos jogadores sobre essa variável (compreensão das dinâmicas) será fator determinante para a comunicação na ação mais eficiente. Um ponto facilitador para que isso seja alcançado é propiciar ao grupo de jogadores a serem trabalhados, dinâmicas que estejam de acordo com o nível (a zona) de desenvolvimento dos mesmos. Sendo assim, dinâmicas mais complexas e elaboradas só serão justificáveis se o nível de desenvolvimento da equipe permitir. Caso contrário, progride-se gradualmente (atingindo-se novas zonas de desenvolvimento), trabalhando com o que é adequado a cada fase dessa progressão.
Se quanto mais simples a orientação das dinâmicas a partir de uma plataforma, mais fácil o entendimento, cabe aqui uma questão de grande importância: a plataforma de jogo pode determinar o nível dessa “simplicidade”?
Muitos de nós, talvez seduzidos pelos argumentos da 1ª e 2ª partes do texto acreditemos que sim. Mas o fato é que se o jogo de futebol possui sua lógica (a lógica do jogo), e esta orienta as dinâmicas da plataforma de jogo, torna-se aceitável pensar que de acordo com essa “orientação” uma plataforma como o 4-3-3 pode ter uma dinâmica tática e estratégica densa ou não, difícil ou não, complicada ou não dependendo de como essas dinâmicas são elaboradas e concebidas.
Então o problema não é se essa ou aquela plataforma possui orientações e dinâmicas mais simples, mas sim qual delas (as plataformas) possibilita dinâmicas e orientações mais simples. Isso quer dizer que a menor complexidade organizacional não está na plataforma, mas sim nas estruturas, táticas e estratégias que são criadas a partir dela. Porém é possível que haja uma plataforma que permita, de início, o desenvolvimento de estruturas, táticas e estratégias mais simples.
Voltamos daí, a competência “estruturação do espaço de jogo”. Aparentemente a melhor estruturação do espaço, pode levar a composição de uma dinâmica menos complexa, o que poderia contribuir para melhor entendimento do jogo, que, em última instância possibilitaria melhor comunicação na ação.
Tanto a comunicação na ação quanto a estruturação do espaço de jogo podem contribuir para o melhor desenvolvimento da relação com a bola (pois serão balizadores dessa relação); tanto a comunicação na ação quanto a relação com a bola estão necessariamente atreladas ao nível de desenvolvimento para entender e jogar o jogo.
Então, parece ser a estruturação do espaço de jogo, a variável mais “manipulável” (dentro de nossa discussão) para possibilitar menor complexidade de construção de dinâmicas, sem perder de vista o bom equilíbrio e a boa performance de jogo.
Voltamos então ao 4-4-2 e ao 4-3-3 (mais comuns que os seus familiares de “linha”: 4-2-4, 2-4-4, 3-4-3, 3-3-4). Ambos, possuem boa distribuição porque minimizam o número de quadrantes vazios (vide figura).
No 4-4-2, quadrantes vazios que se agrupam horizontalmente. No 4-3-3, quadrantes vazios que se agrupam verticalmente. Para o sistema defensivo melhor se os vazios forem os horizontais (na linha de ataque).
Se levarmos em conta que na lógica da divisão das linhas, o 4-3-3 parece mais equilibrado (melhor distribuição por linhas) e que a menor complexidade da dinâmica de jogo precisa estar atrelada aos sistemas ofensivo, defensivo e de transição ao mesmo tempo; na “média” os quadrantes verticais vazios são mais satisfatórios (ao mesmo tempo) para ataque, defesa e transição do que os quadrantes horizontais vazios da linha de ataque.
Então, em tese, a melhor resposta para a pergunta que iniciou esse texto (qual plataforma de jogo parece mais simples, prática e equilibrada para se assimilar, dentro das dinâmicas da lógica do jogo?) é a de que o 4-3-3 é a plataforma mais equilibrada; não a mais simples, mas a que possibilita dinâmicas menos complexas, e portanto pode ser mais prática para assimilação.
Obviamente que estamos analisando o jogo de dentro para fora; da sua lógica para a sua construção (porque por exemplo, em um país em que culturalmente esteja enraizado o 3-5-2, certamente será mais fácil e prático (porém não menos complexo) partir dessa plataforma, e não do 4-3-3).
Então, nada melhor do que dar significado aquilo que se ensina, se treina e se desenvolve. E sobre o jogo, olhando de dentro dele; nada melhor do que compreender a sua lógica…
Para refletir:
O jogador de futebol precisa aprender a ler o jogo taticamente. Aprender! Uma das atribuições do treinador de futebol é facilitar e potencializar esse aprendizado.
Apreciemos um trecho de um texto (texto que transcende o futebol) do professor João Batista Freire sobre algumas descobertas do pesquisador russo Vygotsky.
“Para Vygotsky, a aprendizagem é fator de desenvolvimento. Nessa linha, a escola não tem que esperar pelo desenvolvimento para ensinar seus conteúdos para os alunos. Aquele pesquisador russo afirmava que a escola não existe para ensinar as crianças no nível de conhecimento em que estão, mas sim, no que ele chamou de próximo nível de desenvolvimento. Ou melhor, se a criança tem um certo nível de conhecimento, por exemplo, em pular corda, o que deve ser ensinado a ela é o próximo nível desse pular corda. Ao nível atual de conhecime
nto Vygotsky chamou de nível A; ao próximo de B. A zona entre A e B, é a zona onde deve atuar a escola. Ou seja, B é o nível superior a A, mas que inclui A. É o nível em que a atuação da criança torna-se momentaneamente insegura, indecisa, com erros eventuais, mas na direção dos êxitos”.
nto Vygotsky chamou de nível A; ao próximo de B. A zona entre A e B, é a zona onde deve atuar a escola. Ou seja, B é o nível superior a A, mas que inclui A. É o nível em que a atuação da criança torna-se momentaneamente insegura, indecisa, com erros eventuais, mas na direção dos êxitos”.
Esses conceitos não se aplicam somente as crianças; se aplicam aos seres humanos; se aplicam aos jogadores de futebol. “Se o jogador de futebol e sua equipe têm um certo nível de conhecimento sobre jogar futebol (taticamente e tecnicamente), o que deve ser ensinado-desenvolvido-trabalhado com eles é o próximo nível desse jogar futebol”. Sobre esse aspecto temos um exemplo no treinador português José Mourinho. Após conquista da Taça da UEFA, pela equipe do Porto, resolveu estruturar um “próximo nível de jogo” a sua equipe. Já tendo consolidado ao longo da temporada o 4-3-3, resolveu implementar novas lógicas dentro do jogo a partir do 4-4-2 (forma de jogar que o treinador considera “mais desequilibrada, embora igualmente eficiente, e que como tal, necessita de maior concentração”). Então, ao treinador-professor cabe estruturar seu plano de ação, encorpado em todas as questões que julga importante no seu “projeto de treinamento”.
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Na semana passada, li um artigo em um jornal de grande circulação nacional que, aliado ao jogo de quarta-feira no Morumbi, inspirou-me a escrever a coluna desta semana.
Pouco importa, para os fins desse texto, o autor do artigo em questão. Nosso interesse está em seu conteúdo, que acredito refletir a opinião de uma grande massa de torcedores: Por que o Brasil possui tantos craques, e ao mesmo tempo tem campeonatos nacionais e regionais de baixíssima qualidade? Por que nossos dirigentes não tomam alguma providência para segurar craques como Ronaldinho, Kaká para promover o esporte no País?
Será que existiria alguma saída viável para fazer com que esses craques passem a ignorar as ofertas milionárias feitas por grandes clubes do exterior? A resposta é bastante simples: não.
Mas não é essa a preocupação que devemos ter.
Como em toda situação crítica, antes de atacar eventuais culpados e apontar as soluções possíveis é necessário que se faça uma análise criteriosa dos fatos e uma identificação precisa do real foco do problema, que entendo estar um pouco desvirtuado.
Como já comentamos anteriormente, o futebol sofreu nas últimas décadas um processo de comercialização e internacionalização que o transformou em uma área de negócios muito rentável. Impulsionados pelos impactos do caso Bosman e da conseqüente extinção no instituto do “passe”, os melhores atletas profissionais de futebol passaram a receber salários elevadíssimos e também ofertas “irrecusáveis” para atuarem nos melhores clubes do cenário internacional.
Dessa forma, tornou-se impossível aos clubes nacionais, por mais estruturados que possam ser, manter em seus elencos as principais estrelas.
Essa discussão, na verdade, extrapola os limites do futebol. É uma questão que envolve a posição econômica do Brasil no cenário internacional. Esse fenômeno ocorre da mesma forma que uma empresa nacional, em qualquer outro ramo de atividade, não consegue segurar um profissional de primeira linha que tenha recebido uma oferta mais favorável de uma multinacional. É a famosa lei do mercado.
Quando, por exemplo, lembramos que o nosso atual presidente do Banco Central, Henrique de Campos Meirelles, morando nos Estados Unidos, foi presidente global do BankBoston, vemos o fato com admiração e, por que não, orgulho. O mesmo deve acontecer com relação aos nossos jogadores de futebol.
Muito bem. Isso posto, qual seria o real problema da má qualidade de nossos campeonatos nacionais e as possíveis soluções?
O verdadeiro problema é a literal debandada de jogadores intermediários (muitas vezes de excepcional qualidade) que, sem o mínimo de estrutura no Brasil, partem ao exterior em busca de qualquer oportunidade.
Esses jogadores vão para países da Ásia, África, ou mesmo para divisões inferiores de países europeus. Nessas empreitadas, muitas vezes levados pela conversa de aproveitadores de plantão, acabam se submetendo a condições sub-humanas de trabalho e convívio social.
Todos esses jogadores intermediários não deveriam sair do País. Deveriam ter condições mínimas financeiras para ficarem aqui, com seus familiares e amigos.
Foi exatamente o que disse o presidente da FIFA, Sepp Blatter, no discurso de nomeação do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014: “jogadores brasileiros, fiquem no Brasil”.
Com esses jogadores por aqui, poderemos ter uma melhora significativa do nosso futebol doméstico, sem tentarmos travar batalhas invencíveis com clubes como Milan, Real Madrid, Manchester Utd., etc.
Mas para que isso ocorra, nossas federações, confederação e demais autoridades devem se empenhar para promover uma profissionalização em nossos campeonatos e propiciar melhores condições aos clubes filiados que, por sua vez, poderão melhorar o relacionamento com seus atletas.
A oportunidade é boa, já que os impactos dos anos que antecedem a Copa do Mundo podem e devem ser utilizados para essa finalidade.
Basta seriedade; não para trazer de volta os Ronaldinhos e Kakás, mas para ter por aqui nossos infinitos craques anônimos espalhados pelo mundo.
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