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Com a bola toda

Em setembro de 2001, o bastidor do futebol brasileiro estava tenso. Era “final de Copa do Mundo”, como fazia questão de dizer a seus pares Ricardo Teixeira, então presidente da Confederação Brasileira de Futebol já há 11 anos.
 
Após duas CPIs devastarem o futebol brasileiro, apontarem indícios de irregularidades em quase todas as ações da CBF e do dirigente no futebol, era hora de votar os relatórios, de apresentar denúncias ao Ministério Público, de sair em busca dos culpados por negociatas que derrubaram o futebol brasileiro.
 
Dentro de campo o Brasil ia de mal a pior. Depois da inexplicável perda da Copa de 98, até para Honduras o time perdia jogo. Os meses foram se passando até que, em dezembro de 2002, Ricardo Teixeira sorria de orelha a orelha.
 
O Brasil era campeão mundial pela quinta vez. Ninguém questionava as CPIs, só se falava de festa aos campeões, de Vampeta dando cambalhota na rampa do Planalto, de jogo de despedida para o Zagallo, etc.
 
Em agosto de 2007, Ricardo Teixeira, ainda ele, agora 16 anos no comando do futebol nacional, nem deve se lembrar direito do inferno que viveu no mesmo período seis anos atrás.
 
Hoje, ninguém fala sobre o futebol burocrático da seleção brasileira, ou sobre as convocações mirabolantes de Dunga, lembrando muito a “Era Luxemburgo” no time nacional. Muito menos sobre CPI, gestão temerária da CBF e coisas do gênero.
 
O que todos querem saber é quem serão as 12 cidades-sedes da Copa do Mundo de 2014 no país. Os mesmos políticos que há seis anos achincalhavam Teixeira, hoje pedem sua ajuda para conseguir votos e levar a seu estado a disputa de uma Copa do Mundo.
 
O poder do voto, subjugado pelo poder da bola, confere a Ricardo Teixeira uma espécie de poder soberano sobre o país. A expectativa de realização de uma Copa no país faz brilhar os olhos de qualquer populista. Como não existe político sem o anseio populista, a perspectiva de, em 2014, o Brasil ser invadido por uma Copa que gera empregos, atrai turistas, chama a atenção da mídia de todo o mundo e coloca o país em evidência, é prato feito para quem quer se eleger.
 
No centro de todo esse emaranhado de dinheiro que é despejado com uma Copa do Mundo está Ricardo Teixeira. Um acordo político costurado durante anos na Fifa assegurou ao Brasil um privilégio que praticamente desde 1950 não se via. Um país ser candidato único à sede de uma Copa. Mas, naquela época, o mesmo Brasil era o único com condições de abrigar um Mundial cinco anos após a Segunda Guerra.
 
Hoje, tudo gira em torno de Ricardo Teixeira. Os políticos pedem sua ajuda, a imprensa bate à porta querendo detalhes da visita de inspetores da Fifa. Ricardo Teixeira está com a bola toda. E o futebol brasileiro com as mesmas caras de sempre.

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Sistema de jogo: os gols que Deus não fez

Será que Deus joga dados? Esse é o título de um belíssimo livro de Ian Stewart que me fez e me faz muitas e muitas vezes refletir sobre futebol.
 
A cada novo nascer do Sol fico pensando nas maravilhas da natureza, tão bem encaixadas, que é possível tirar dela (a natureza) construtos que nos ajudam a explicar a complexidade do mundo através da complexidade de cada um dos seus detalhes, de cada um dos seus elementos (da lógica que explicita o funcionamento de um rio até a lógica que rege o vôo de um bando de pássaros em migração).
 
O mais interessante é notar que todos esses elementos (e qualquer outro) estão em constante interação, buscando ordem e organização, formando um grande conjunto de variáveis; um belo e complexo sistema (e isso quer dizer que qualquer variação, qualquer mudança em pequenos detalhes, em pequenas variáveis desse sistema podem desencadear grandes e amplificadas transformações em outros elementos que o compõe).
 
Em outras palavras, se decidirmos ficar cinco minutos a mais no banho ou deixar a torneira aberta enquanto cuidamos dos dentes, poderemos desencadear em alguma faixa temporal uma amplificada catástrofe como a falta de água. Isso se aplica aos recursos naturais, a sua vida em família, aos deveres do trabalho, aos desafios da faculdade, ao “eu te amo” que não foi dito, e não com menos filosofia ou poesia ao jogo de futebol.
 
Então vejamos.
 
Já discutimos o que significa uma “plataforma de jogo” (vide texto da semana passada – “Os esquemas táticos, as plataformas de jogo e a amplitude como princípio de ataque”). Já sabemos que são as dinâmicas e as estratégias elaboradas a partir dela que determinam a competência ofensiva e/ou defensiva de uma equipe, e que plataformas, estratégias e dinâmicas de jogo são elementos de um sistema: o sistema de jogo.
 
Para entendermos o que significa sistema de jogo, busquemos compreender primeiro o significado do conceito de “sistema”. Não da palavra “sistema”, mas da construção teórica que a envolve.
 
Toda vez que temos um conjunto de elementos que se relacionam e se ajustam formando um “todo organizado” podemos dizer que temos um sistema. Assim temos o sistema solar, o sistema econômico, o sistema operacional, o sistema nervoso e qualquer outro que seja possível lembrar.
 
No futebol, temos o “sistema de jogo”. Não se trata do impregnado conceito “futeboleirista” que o toma como sinônimo de “esquema tático”. Trata-se aqui de um elemento que descreve o jogo em sua totalidade, compreendendo toda sua complexidade.
 
Imaginemos o jogo de futebol como um grande número de equações que têm afinidades entre si e que se juntam formando grupos de afinidades. Assim como as equações de um mesmo grupo interagem entre si, os grupos também se relacionam. Então teremos grupos de equações relativas à organização defensiva, grupos de equações relativas à organização ofensiva, às transições do jogo; grupos relativos às dimensões do campo, ao tipo de gramado, ao estado nutricional, mental, físico, social da equipe e do atleta… Poderíamos descrever uma infinidade desses grupos, de tal forma que ao se ir mais a fundo, mais distante se vai ficando do jogo propriamente dito; e quanto mais distante se parece estar, mais perto do jogo pode-se chegar!
 
Qualquer variação em uma equação de qualquer um dos grupos pode gerar, com maior ou menor intensidade, reflexos em equações de outros grupos; o que numa visão total do sistema poderia alterar o resultado final.
Por mais didático que seja entender a existência de grupos de equações (sub-sistemas) dentro de um sistema, é mais do que importante compreender que todos os grupos e equações estão interligados, interagindo em todas as direções, harmonicamente, em conjunto.
 
É claro que o raio de ação do treinador de futebol, nos moldes que conhecemos, fica limitado ao grupo de equações referentes às variáveis técnicas e táticas do jogo (e, portanto, talvez isso que escrevo soe como um “monte de bla-bla-blás” dispensável). Mas em pleno século XXI, sabendo que cada vez mais são os detalhes que podem levar uma equipe de futebol à derrota ou à vitória, vislumbro outro tipo de treinador. Não mais aquele que compreenda as equações de um grupo do sistema, mas aquele capaz de visualizar o “sistema” em sua totalidade, em sua complexidade, em sua essência (e aí quero destacar que não é por acaso que alguns treinadores têm conseguido melhores resultados do que outros – e que tantos outros quando ganham não sabem exatamente o porquê, por isso não conseguem continuar ganhando).
 
Como disse dia desses um pesquisador profissional do futebol, esse é um esporte bom para pessoas “não tão competentes e nem tão bem preparadas” trabalhar, porque se faz um mau trabalho, tudo errado, e eis que surge um lance duvidoso, um pênalti no fim do jogo a favor da equipe, e aí pronto… Mas ele mesmo lembrou que uma hora a “casa cai”.
 
A reflexão sobre o conceito de sistema de jogo me faz lembrar um exemplo interessante. Na Copa do Mundo de Futebol de 2006 a seleção brasileira jogou contra a seleção francesa numa partida que mais uma vez fez apaixonados e especialistas divagarem semanas e mais semanas sobre uma derrota do Brasil para a França. Naquele jogo, por diversas vezes os franceses pressionaram a saída de bola da seleção brasileira. Pela TV fora mostrada a dificuldade dos jogadores brasileiros em sair jogando. A solução: o “chutão”.
 
Interessante que pelos campos do mundo, em diferentes línguas, algo muito comum de se escutar na beira dos gramados é a “proclama” do treinador ecoando: “faz quebrar (chutar), faz quebrar” (traduzindo: o treinador está pedindo para sua equipe pressionar invariavelmente os zagueiros ou goleiro adversário, para que eles dêem um “chutão”, se livrem da bola ?³ traduzindo a tradução: como não compreendemos dinâmicas para roubar a bola do adversário o mais próximo possível do seu gol – e ele, o adversário, não compreende dinâmicas para sair jogando – vamos forçar o chutão pra tentarmos recuperar a bola numa assídua disputa “aérea” no meio-campo).
 
Mais interessante é vermos os jogadores brasileiros “sofrendo” com isso. Mas como, jogadores selecionáveis, nascidos no “país do futebol”, podem ter tamanha dificuldade?
 
Não é obra do acaso, nem seleção natural (“afinal são zagueiros” – NÃO!). É só olharmos alguns jogos de competições de categorias de base. O sub-13, 15, 17 e as mesmas estratégias: chutão, chutão, chutão! E não só o chutão como forma de se livrar da bola. Podemos ver a todo tempo equipes e mais equipes fazendo do chutão a melhor ferramenta para se chegar à vitória (um jogador mais forte fisicamente chuta a bola para outro jogador forte fisicamente no ataque para que ele tente chegar ao gol – e os outros menos fortes, assistindo de dentro do campo a mais uma partida de futebol). Isso acontece no sub-13, ganha força no sub-15, e aí… Aí vai parar na Copa do Mundo de Futebol!
 
Surpreso fiquei ao presenciar uma partida entre jogadores em formação, entre uma equipe brasileira e uma equipe “árabe” que tinha uma estratégia bem “original” de jogo: entre provocações e divididas mais fortes, muitos “chutões” buscando um jogador de ataque. “Original”!? A c
omissão técnica árabe era brasileira (“eu sou brasileiro, com muito orgulho, muito amor e muito preocupado!”).
 
Esse é só um exemplo, das pequenas coisas que se amplificam e ganham proporções “gigantescas” dentro do futebol. É assim na formação de um atleta, é assim nas estratégias elaboradas a partir de uma plataforma, é assim numa jogada que desencadeia um gol.
 
Se Deus não joga dados como dissera Einstein, também não faz gols; nem explica vitórias e derrotas. Se não compreendermos o “sistema de jogo de futebol” é possível que muitos jogos sejam perdidos antes que Ele resolva dar alguma explicação.

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Comissão aprova regras para federação de atletas

A Comissão de Turismo e Desporto aprovou na quarta-feira (22), com emendas, o Projeto de Lei 6403/02, que obriga a Federação das Associações de Atletas Profissionais a prestar contas semestralmente ao Ministério do Esporte dos recursos recolhidos para assistência social e educacional dos atletas profissionais, ex-atletas e daqueles em formação. O projeto muda a Lei Pelé (Lei 9615/98) e é de autoria da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Futebol, que funcionou no Senado entre dezembro de 2000 e maio de 2001.
 
O relator, deputado Deley (PSC-RJ), votou favoravelmente à proposta por considerá-la uma contribuição para que o Poder Público acompanhe a aplicação dos recursos. Ele retificou a referência original à secretaria nacional dos esportes, remetendo-a ao atual Ministério do Esporte.
 
Deley lembra que após a aprovação desse projeto no Senado, em março de 2002, foi promulgada a Lei 10672/03, que fez uma série de modificações na Lei Pelé, contemplando inclusive alguns itens previstos na proposta, razão pela qual ele apresentou emendas supressivas para não repetir a lei.
 
Penas pecuniárias
 
Por considerá-la "muito confusa", o relator rejeitou a parte do texto que visava evitar que entidades de prática desportiva recebam penas pecuniárias por infrações cometidas em jogos das categorias amadoras. Para ele, "tal dispositivo é muito específico e deve ser tratado nos códigos desportivos disciplinares, e não na lei de normas gerais".
 
O deputado acatou a determinação de que cópias do contrato de trabalho, da rescisão e do empréstimo de atletas profissionais devem ser enviadas para a Federação Nacional dos Atletas Profissionais, mediante protocolo, sob pena de nulidade contratual. No seu entender, essa medida deve ser apoiada, pois beneficia a transparência nas relações entre clubes e entidades representativas de atletas profissionais.
 
Multa rescisória
 
Também foi aprovada a distinção entre os institutos jurídicos da cláusula penal e da multa rescisória, que não estão claros na legislação atual. A cláusula penal é específica apenas para o caso de transferência do atleta para outra entidade de prática desportiva, nacional ou internacional.
 
A legislação em vigor já estabelece que o valor da cláusula penal poderá chegar ao limite de até 100 vezes o montante da remuneração anual pactuada. Já a multa rescisória é relativa ao atraso no pagamento do atleta por até três meses, situação em que ele poderá rescindir o contrato unilateralmente, aplicando-se nesse caso o que determina a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
 
Segundo o relator, a Comissão de Trabalho, que analisou a proposta anteriormente, votou favoravelmente a essa mudança, cujo teor está no âmbito de apreciação daquela comissão e com a qual ele concorda.
 
Supressões
 
O projeto previa a admissão de um representante das Federações de Atletas Profissionais no Conselho de Desenvolvimento do Desporto Brasileiro, órgão que foi substituído pelo Conselho Nacional do Esporte. Esse novo conselho não mais discrimina a sua composição, cabendo ao ministro do Esporte indicar seus membros. Por isso, o relator concordou com emenda supressiva da Comissão de Trabalho.
 
Por já terem sido incorporados à legislação, o relator também suprimiu o item que tratava do impedimento do uso das marcas de empresas de TV e de radiodifusão em publicidade nos uniformes dos jogadores.
 
Tramitação
 

O projeto será votado em plenário após análise da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. Ele tramita em regime de prioridade.

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A morte anunciada do futebol brasileiro

Sejamos sinceros. A coisa está feia para o futebol brasileiro. Se a realidade já não ajuda muito, o futuro é ainda mais tenebroso. O pior é que há muito pouco o que se possa fazer. Afinal, não há um clube, uma federação ou algum outro elemento do cenário nacional que tenha capacidade de frear os dois maiores responsáveis pela construção desse amanhã sombrio: a globalização e o desenvolvimento tecnológico.
 
Na medida em que o mundo vai se tornando uma coisa única e a tecnológica permite que haja de fato um conteúdo global acessível a todos, é natural que a população comece a criar uma cultura mundial e que acabe convergindo sua atenção a interesses mais ou menos comuns. A internet, sabe-se muito bem, permite que os limites geográficos deixem de ser um obstáculo para qualquer tipo de informação. Isso tudo, obviamente, acaba tendo reflexos no futebol brasileiro. E esses reflexos não são nada bons.
 
É fato que o público do futebol no Brasil não vai a estádios. O Brasil, assim como tantos outros países latinos, possui uma enorme legião de torcedores de sofá, que raramente vai a um estádio, preferindo assistir um jogo no conforto da sua casa, da casa do amigo, ou do bar. Nada mais sensato, afinal ir a um estádio no Brasil é complicado e inseguro, além do jogo poder ser potencialmente chato.
 
Esse fato, por si, não é um problema, afinal o dinheiro que a televisão arrecada com seus telespectadores é eventualmente revertido em capital para os clubes brasileiros. Esse foi, pelo menos, o cenário até atualmente.
 
Agora, porém, é perceptível o surgimento de uma nova tendência no futebol brasileiro. Essa sim é pouco boa. Com a decadência da estrutura do futebol nacional e a conseqüente saída dos principais jogadores, é natural que os campeonatos estrangeiros, em especial os europeus, comecem a ganhar importância no país.
 
Isso afeta, e muito, a nova geração de torcedores de futebol que surge no Brasil. Hoje, é mais fácil uma criança assistir um bom jogo de algum campeonato do velho continente do que um bom jogo do futebol brasileiro. Com o avanço tecnológico, ficou tão ou mais fácil obter informações e criar uma identidade com clubes e jogadores da Europa do que do Brasil.
 
A própria disponibilidade das partidas não colabora. Com a gradual migração do futebol para a televisão fechada, Brasil e Europa competem dentro do mesmo meio. A diferença é que os horários dos jogos europeus, manhã e tarde, são muito mais amigáveis para uma criança do que qualquer horário depois da novela do futebol nacional. Além disso, enquanto as melhores partidas dos campeonatos europeus estão facilmente disponíveis nos canais da televisão fechada – e até da televisão aberta – as melhores partidas do futebol brasileiro ficam restritas ao pay-per-view.
 
Mercadologicamente, fica ainda mais simples compreender a decadência do futebol brasileiro. Analisando as matrizes básicas do marketing (produto, preço, ponto e promoção) o futebol brasileiro vem perdendo cada vez mais espaço. Em comparação com o futebol europeu, o produto é pior. O preço, baseado no pacote de televisão, também. O ponto, ou distribuição e acesso, era uma antiga vantagem, mas que hoje já não se aplica mais. A única matriz na qual o futebol brasileiro ainda consegue se sustentar é a promoção dos jogos, feita principalmente pela imprensa e pela história.
 
Entretanto, uma das regras mais básicas do marketing diz que nenhum produto se sustenta por muito tempo unicamente apoiado em promoção. Hora ou outra ele acaba tendo um fim.
 
É o prenúncio de uma morte lenta e agonizante do futebol brasileiro. Ou ele se ajeita, e logo, ou ele acaba.

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A visão mecanicista do futebol

René Descartes, filósofo, físico e matemático francês viveu de 1596 a 1650. Desde aquela época nossa cultura ocidental sofre a influência de seu pensamento. Uma influência tão grande que ele é considerado um dos maiores pensadores de todos os tempos.
 
Foi Descartes que deu forma à visão mecanicista de mundo. Ou seja, uma visão que tem como imagem do universo algo semelhante ao mecanismo de um relógio.
 
Mas antes de criticar indiscriminadamente suas idéias, temos que reconhecer que foi o paradigma mecanicista que ajudou a transformar o mundo medieval no mundo moderno, através das revoluções científica, industrial e tecnológica, tal qual o conhecemos hoje.
 
Entretanto, este é um modelo que está se exaurindo. Não podemos mais, como ainda querem muitos, continuar a entender o mundo, a vida, o corpo humano como uma máquina. E conseqüentemente é este mesmo entendimento que foi repassado para o futebol, para o atleta, e dura até nossos dias. Não é à toa, por exemplo, que nas conversas sobre futebol, ouvimos com freqüência jogadores serem tratados como “peças de reposição”.
 
Está mais do que na hora de compreendermos que um jogador não é em absoluto uma máquina que se soma a outras 10 máquinas para compor uma máquina maior a qual chamamos de time ou equipe de futebol.
 
Um atleta é, antes de qualquer coisa, um ser humano, dentro de toda a sua individualidade e complexidade. Um ser que se relaciona, que tem sentimentos e emoções, que pensa e é capaz de ser criativo.
 
Como nos ensina a consultora organizacional Margaret Wheatley, “a criatividade (numa empresa) é indesejável porque é sempre surpreendente e, portanto, incontrolável.”
 
Assim é que também um time de futebol não pode ser construído dentro desta perspectiva mecanicista. Isto porque a visão mecânica do atleta é incompatível com o pensamento, a emoção e a criatividade.
 
Infelizmente, enquanto continuarmos a enxergar e tratar o jogador como uma máquina, avançaremos muito pouco em seu desenvolvimento.

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Vovôs anticrise

Edmundo, Vampeta, Petkovic, Dodô, Fernandão. Todos foram craques indispensáveis há cinco, dez anos atrás. Hoje, curiosamente, são a válvula de escape para os cinco times que representam.
 
A exportação desenfreada do pé-de-obra brasileiro tem feito com que a longevidade do futebol no Brasil não seja uma questão meramente física, mas sobretudo psicológica.
 
A molecada do Corinthians visivelmente evoluiu desde que Vampeta entrou em campo. Mais do que o toque de qualidade, a malandragem ou a experiência, o que Vampeta dá aos jogadores é fôlego. Fôlego para escapar da pressão da mídia.
 
A história desses jogadores no futebol faz com que, invariavelmente, os jornalistas saiam em sua caça ao término da partida. O Corinthians perdeu? Vampeta fala. O Santos criou pouco? Perguntem ao Pet. O Inter ainda está bambo? É o Fernandão que sabe dizer legal o porquê. O Palmeiras não ganha em casa? O Botafogo parou de vencer? Edmundo e Dodô são que têm de dar explicações.
 
Os craques do passado recente se tornaram a referência de hoje para a imprensa, ávida por polêmica e carente de ídolos tanto quanto as torcidas. Vampeta sempre rende ótimas matérias e excelentes discussões. Edmundo nunca é apático quando dá uma resposta. E por aí vai.
 
Fernandão fez com que a imprensa do Sul pegasse leve com Pato. Vampeta é hoje o pára-raios da torcida.
 
Bom era o tempo em que um Corinthians tinha Viola, Neto e Ronaldo para criar polêmica. Mas, do jeito que a coisa está em breve os times pedirão para entrarem com 12 em campo.
 
E esse 12º jogador será uma espécie de porta-voz anticrise do clube.

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Os esquemas táticos, as plataformas de jogo e a amplitude como princípio de ataque

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Três pequenas medidas

O presidente Lula reclamou do excesso de transferências de jogadores do Brasil para o exterior. Normal. Segue, como sempre, o discurso mais fácil. O discurso mais simples. O discurso mais compreensível.
 
Como a maioria dos brasileiros que acompanham futebol, Lula se incomoda com a saída dos atletas. Ainda mais ele, torcedor do Corinthians, que vê hoje um time bastante desfigurado em relação àquele de quando o time foi campeão brasileiro.
 
Lula tem razão para ficar preocupado. Afinal, nunca na história desse país tantos jogadores foram embora. Nos oito anos de governo FHC, a média de transferências foi de 560 jogadores por ano. Nos quatro primeiro anos de governo Lula, a média saltou para 842 jogadores, mais de 50% a mais.
 
Obviamente que a culpa, se é que existe algum sentimento de culpa envolvido nesse processo, não cabe principalmente ao governo Lula. Mas ele, diferentemente de qualquer outro cidadão comum do país, pode de fato ajudar a atenuar o tamanho desse êxodo. Eis aqui, então, uma lista de três pequenas recomendações ao presidente Lula para diminuir o número de transferências internacionais que tanto lhe incomoda:
 
1) Reduzir a desigualdade:
 
O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, o que não é novidade pra ninguém. O que pode ser uma informação nova é que o tamanho da desigualdade de um país está diretamente atrelado ao número de jogadores de futebol presentes em campeonatos estrangeiros. Estudos comprovam que quanto maior a desigualdade social de um país, dentro de certo contexto, maiores são as possibilidades de sucesso internacional do selecionado nacional. Como países desiguais tendem a não ter condições econômicas para sustentar um campeonato forte, cria-se o cenário perfeito para a evasão de talentos. Obviamente que a redução da desigualdade também implicaria em uma perda de poderio da seleção brasileira, mas isso é outra história.
 
2) Melhorar a educação:
 
O Brasil tem excesso de jogador. Como tem excesso de laranja. O mercado interno não consegue absorver, o que eventualmente favorece a exportação. Ou seja, mesmo que os principais clubes do país não vendessem jogadores, ainda assim o número de transferências seria alto, principalmente de jogadores mais jovens, que na falta de absorção interna, buscariam o mercado externo. Casos como do Eduardo da Silva, do Arsenal e da Croácia, se multiplicariam. Para atenuar esse processo, é imprescindível que se melhore o sistema educacional, oferecendo maiores possibilidades de ascensão social para jogadores que não se consigam achar espaço nos clubes do país. Crianças das classes mais baixas que hoje saem de casa aos nove anos de idade para tentar jogar futebol e dar melhores condições para sua família poderiam permanecer na escola e ainda assim ter chances de subir de classe social. Eventualmente, a melhora da educação poderia refletir na perda de desempenho futuro da seleção brasileira, mas isso é outra história.
 
3) Reduzir os impostos ou melhorar o serviço público:
 
Com uma das duas ações, o governo desafogaria a classe média, que ganharia poder de consumo e poderia eventualmente decidir torrar parte da renda em jogos de futebol sem comprometer o orçamento familiar. Dessa forma, os principais clubes do país teriam mais mercado para se desenvolver, o que eventualmente poderia reduzir a necessidade da venda de jogadores para clubes de fora do país. Isso traria uma série de outras conseqüências, mas também é outra história.
 
Essas três pequenas recomendações não solucionariam todos os problemas do futebol brasileiro, infelizmente, mas já seria uma boa ajuda. Elas também não impediriam que jogadores como Kaká e Ronaldinho fossem jogar em outros países, mas colaborariam para que o Elano não fosse para o Shaktar.
 
De qualquer forma, essas três medidas não devem ser cobradas do governo apenas como forma de acabar com a evasão de talentos de jogadores de futebol. Elas devem ser cobradas para a melhora do país como um todo.
 
O problema é que a hora que algum representante ouvir isso, ele provavelmente vai dizer que, nesse caso, a história é bem diferente.

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O jogo ideal

O estádio está quase lotado. Os assentos disponíveis, confortáveis, acomodam torcedores, famílias, crianças e apreciadores do bom futebol.
 
No campo as duas equipes se enfrentam com expectativas diferentes. Uma ocupando as primeiras posições busca conquistar três pontos para ficar na ponta da tabela. A outra, entre os últimos, busca sua recuperação.
 
O jogo é dinâmico e vibrante. Com atletas de alto nível técnico, inteligentes e bem preparados em todos os sentidos, proporcionam um espetáculo inesquecível.
 
Além das inúmeras jogadas bem articuladas e treinadas, o improviso e a criatividade dão um toque mágico à partida.
 
Apesar da grande competitividade que cerca cada lance o jogo limpo está sempre presente.
 
Do lado de fora do campo os dois treinadores, ex-jogadores, mas formados pela Universidade do Futebol e com diversos cursos de especialização, participam ativamente do jogo, observando todos os movimentos de seus atletas e orientando-os quando necessário e integrando com equilíbrio a teoria com a prática.
 
Aos poucos, apesar da boa postura tática das duas equipes, naturalmente os gols vão surgindo para os dois lados.
 
O resultado é de 2 a 2 quando um gol duvidoso é marcado, mas o quarto árbitro alerta, com apoio de um comando eletrônico, que o lance foi ilegal e rapidamente o árbitro principal reconsidera sua decisão e a justiça é restabelecida.
 
No finalzinho do jogo uma das equipes marca o terceiro e decisivo gol, agora validado pela arbitragem. Um golaço feito com arte e muita imaginação. Um gol tão bonito que é aplaudido por todos os presentes no estádio.
 
Mas sem dúvida o mais bonito foi ver os jogadores do time derrotado reconhecerem os méritos dos vencedores e parabenizá-los ao final da partida.
 
Cheguei a pensar até que estava em outro planeta. Ou será que eu estava sonhando?

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Corinthians grande

“Salve o Corinthians
De tradição e glórias mil;
Tu és o orgulho
Dos esportistas do Brasil.
 
Teu passado é uma bandeira,
Teu presente, uma lição
Figuras entre os primeiros
Do nosso esporte bretão.”
 
Nunca foi tão necessário, na história de um clube de futebol, ele fazer jus ao que prega seu hino.
 
Os próximos meses são cruciais para o futuro do Corinthians, disso ninguém tem dúvida. Mas, dependendo do que for feito no clube, os próximos meses podem ser decisivos para o futuro do futebol brasileiro.
 
Desde o acordo Corinthians-MSI que o hino alvinegro não pode mais cantar que o Timão é o orgulho dos desportistas do Brasil. Hoje, o presente corintiano deve ser tomado de lição de como um clube de futebol não pode mais ser gerenciado.
 
O Corinthians tem, hoje, um presidente afastado que reinou durante 15 anos no poder. Nesse tempo, em que vangloria ter sido o mais vitorioso da história (esquecendo-se de dizer que também foi o mais longevo), Alberto Dualib construiu uma muralha para se perpetuar no comando sem ser contestado.
 
Hoje, para qualquer decisão ser tomada no clube, é preciso ter aprovação de 400 conselheiros vitalícios, que o próprio nome já diz o “breve” prazo de validade do cargo. Para ter maioria política, ao longo de 15 anos Dualib usou a máquina de cargos e funções. Sem dúvida perpetuou-se no poder. Até que, finalmente, percebeu-se que o Corinthians havia deixado de ter um presidente e passado a ter um dono.
 
Nada contra um clube de futebol ter dono. Pelo contrário. Manchester United, Milan, Chelsea e outras grandes potências do futebol mundial são clubes liderados por uma única pessoa. Goste ou não, seja correto ou não, o fato é que, quando uma instituição passa a ter um comando, ela passa a trabalhar em função do desempenho esportivo.
 
Hoje é impossível definir o que é o Corinthians na sua administração. Simplesmente não há palavras para descrever a situação alvinegra. Talvez apocalíptica seja a mais adequada, mas pode ser que nem o Apocalipse seja tão caótico quanto isso.
 
Nos próximos meses promete-se fazer a maior devassa da história de um clube de futebol. Só não se pode deixar que tanto barulho e escândalo sejam feitos em prol de uma mudança de fachada no Corinthians.
 
A faxina deve ser feita. O corintiano deve sair dessa batalha com orgulho de bater no peito e dizer que, do Brasil, é o clube mais brasileiro. E que o presente sirva de lição para acabar com um modelo de gestão falido como o que impera no Brasil.
 
O clube pode ter um conselho gestor. As grandes empresas mundiais têm conselhos gestores. Que trabalham com metas a serem cumpridas, com responsabilidade administrativa, com cobranças sobre os funcionários. Geralmente um conselho de administração não tem mais do que 15 membros. E todos remunerados, com bonificação a partir do lucro auferido pela empresa, etc.
 
É hora de o Corinthians inovar, mostrar que é grande, que fará história fora de campo como já cansou de fazer dentro dele, principalmente ao fundar a “Democracia Corintiana” nos anos 80. É hora de figurar entre os primeiros do nosso esporte bretão.

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