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Histeria coletiva

A realização dos Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro parece ter contagiado o clima da imprensa nacional. Talvez empolgados com o conhecimento de diversas “novas” modalidades, como tae kwon do, badminton e coisas do gênero, nossos jornalistas decidiram tentar praticar algumas delas.

O estresse que geralmente acompanha a cobertura de um grande evento como o Pan, somado ao fato de a competição ser no Rio, fazem do trabalho jornalístico no Rio uma espécie de bomba-relógio.

Logo no começinho do Pan, quando Diogo Silva ganhou o primeiro ouro do país no tae kwond do, a bomba estourou no meio do centro de imprensa, numa acalorada briga entre produtores de ESPN e Globo na batalha para levar o medalhista primeiro a seu estúdio.

Poucos dias depois, de novo confusão envolvendo a Globo. Essa chegou até a ser notícia, com o repórter Ivan Moré passando maus bocados por uma ríspida discussão com um cinegrafista da ISB, a parceira oficial de transmissão do Co-Rio.

A pergunta que se faz é simples: do que vale tanto estresse?

Quem assiste à Globo não necessariamente vê a ESPN. Às vezes, dependendo do canal por assinatura que a pessoa tem, nem mesmo dá para ver, por exemplo, ESPN e Sportv. Da mesma forma, a fidelidade de um telespectador é, na maioria das vezes, canina. A pessoa não costuma zapear o canal com tanta freqüência, ainda mais quando um grande evento acontece…

Sendo assim, de que adianta tanto corre-corre? E, principalmente, qual o efeito prático de uma discussão acalorada com um colega de profissão em busca de apenas cinco minutos de entrevista?

Muito mais importante, sem dúvida, é a credibilidade da informação transmitida às pessoas. É isso que confere ao veículo confiança para o público e, sem dúvida, garante fidelidade do telespectador, esteja um atleta no canal ou não.

Jornalistas ou ex-atletas?

Outro ponto que o Pan recoloca em pauta é a velha discussão de as emissoras usarem ex-atletas para atuarem como comentaristas nas transmissões esportivas. Particularmente eu defendo a prática de existir um equilíbrio na equipe de transmissão de um evento esportivo.

O jornalista, muitas vezes, busca informações que são complementares a uma transmissão. Dados curiosos e históricos sobre atletas e eventos, além de coisas que agregam detalhes interessantes a um evento esportivo.

O ex-atleta, por sua vez, tem uma visão diferente da do jornalista, principalmente pela experiência que ele teve no esporte. Só que muitas vezes o atleta se perde exatamente por não ter o comportamento de um jornalista durante um evento.

E é isso o que a gente vê no Pan. Oscar, do basquete, vai com a camisa da Globo a todos os eventos, mas se comporta como um autêntico torcedor de arquibancada de futebol, com direito até a puxão de orelha de Diego Hypólito pelo mau comportamento na ginástica.

No judô, Aurélio Miguel protagonizou um espetáculo vexatório ao discutir com membros da delegação cubana após um outro ouro polêmico de Cuba. Quase foi às vias de fato, com uniforme da Record e tudo.

Na Band, as “meninas do Rio”, como foram apelidadas as atletas-comentaristas, acabam se empolgando tanto durante a transmissão que viram muito mais uma torcedora com microfone.

O equilíbrio de uma dupla de comentaristas com jornalista e ex-atleta acaba dando o tom e deixando o telespectador mais bem informado. E, obviamente, esse deve ser o objetivo da transmissão.

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A tática, o coletivo e o José Mourinho: uma questão de(o) português!

Nas teorias do treinamento desportivo, um dos princípios mais discutidos e pontuados é o da SOBRECARGA. Ele rege que para o organismo (integral) do atleta continuar se desenvolvendo e fazendo evoluir sua performance, é necessário que haja um "agente estressor" que possa gerar esse desenvolvimento.

Esse "agente estressor" no caso do atleta é o treinamento desportivo. Para conseguir o "estresse" que vai provocar uma REAÇÃO do organismo (para o seu desenvolvimento) é necessária uma carga de magnitude superior àquela que ele está "acostumado"; uma SOBRECARGA.

Pois bem. Uma questão que tem intrigado e rondado a cabeça de cientistas do desporto, treinadores e amantes do futebol é a que diz respeito à importância do "Coletivo" nos treinamentos de uma equipe de futebol.

Quando pensamos em "Coletivo" imaginamos um jogo (reservas e titulares, titulares e equipe B, etc. e tal) próximo ao jogo competitivo formal, com o objetivo de preparar ou observar uma equipe para uma partida oficial de campeonato. O fato, é que temos hoje treinadores em evidência na mídia defendendo o menor número possível de coletivos; priorizando jogos reduzidos e treinamentos técnico-táticos.

Na "contramão" temos José Mourinho (vitorioso técnico do Chelsea) e um grupo crescente de Estudiosos e Cientistas do Desporto que defendem a idéia de que se deve treinar o jogo, jogando (só se consegue andar de bicicleta melhor, andando de bicicleta; só se aprende a dançar melhor, dançando; só se consegue jogar melhor, jogando).

Nessa perspectiva, não a nada mais real para criar situações que se assemelhem ao jogo do que o tal "Coletivo".

Mas e o treino técnico-tático ou os jogos reduzidos?

Temos aí um problema a se resolver. Um corredor treina corridas para melhorar sua performance. Não corre, porém sempre na mesma velocidade, na mesma distância. Corre em velocidades próximas aquelas de sua competição, às vezes menores, às vezes maiores; o que é verdadeiro (ou deveria ser) também para as distâncias percorridas. Em outras palavras ele tem no seu treinamento uma alteração de cargas que exigem do seu organismo (integral) respostas que permitem seu desenvolvimento (SOBRECARGA).

Talvez seja fácil pensar em sobrecarga imaginando adaptações físicas. Mas como imaginarmos uma sobrecarga técnico-tática, ou melhor, uma sobrecarga "técnico-tática-fisico-mental"? Como abstrairmos a idéia de um "agente estressor" que provoque respostas integrais e integradas no jogador de futebol, que o permita se desenvolver, aumentando sua performance de jogo?

Certamente nos jogos em campo reduzido o volume de passes, finalizações, desarmes, coberturas, marcações duplas (e as mais diversas e inusitadas situações-problema de jogo) ocorrem em maior escala. Em outras palavras, no campo reduzido a sobrecarga parece maior. Ao se manipular as regras do jogo nesses treinamentos, é possível ainda priorizar esse ou aquele princípio do jogo, amplificando ainda mais a sobrecarga para determinada variável.

Ocorre, porém, que ao mesmo tempo em que se exige mais de determinadas variáveis, corre-se o risco de "desprestigiar" outras. Por isso, a condução de um treinamento com prevalência de um objetivo tático precisa ter regras bem ajustadas, para que ao se buscar de forma específica a sobrecarga do jogo não ocorra um indesejável distanciamento do próprio jogo.

Por outro lado, os coletivos são "exercícios" que se aproximam do jogo e que podem trazer situações-problema altamente especializadas. Talvez a carga do coletivo não seja a SOBRECARGA desejada para o desenvolvimento integral do atleta em sua preparação para o jogo, mas é inegável que ele exige o que mais próximo de um jogo um exercício pode exigir.

No entanto, mesmo o coletivo por si só pode não representar as exigências que proporcionem o desenvolvimento da equipe. Se uma equipe joga no 4-4-2 em linha e no coletivo enfrenta invariavelmente um 4-4-2 em losango, estará ela exercitando situações-problema restritas às possibilidades desse confronto. Então, mesmo no coletivo, deve-se buscar um maior número de situações que permitam a equipe uma melhor compreensão sobre o jogo.

Certamente, se fossem os coletivos a solução para a preparação de uma equipe, talvez melhor fosse buscar algo mais específico ainda: ao invés de treinar para o jogo através do coletivo, dever-se-ia treinar para o jogo jogando sempre formalmente de forma competitiva (por exemplo participando de competições paralelas de menor expressão ou fazendo amistosos contra equipes de nível).

Então, a melhor solução é quebrarmos paradigmas (como tem feito o português José Mourinho). Os jogos em campo reduzido, os jogos adaptados, os treinamentos de ataque contra defesa ou os "Coletivos" devem ser etapas de um processo que se completa jogando o jogo. O coletivo não deve ser entendido como um jogo sem pretensões de melhora tática. É óbvio, mas ainda se alardeia que treino tático é uma coisa, treino técnico é outra e coletivo… (Então um coletivo onde há uma regra que diz que a equipe de posse da bola, ao ultrapassar a linha do meio-campo, tenha 4 segundos para ter todos os jogadores (exceto o goleiro) posicionados dessa linha para frente, deixa de ser coletivo porque tem uma regra que taticamente "exige" rápida compactação?).

Da mesma forma, um jogo usando metade do campo, trabalhando ataque contra defesa deixa de ser jogo "coletivo" porque é chamado de treino tático?

Certa vez um técnico do Corinthians viu seu time sofrer um gol do Santos logo após ter um de seus jogadores expulsos. Após o jogo disse que sua equipe sofrera o gol porque não houve tempo hábil para orientá-la para aquela situação (de um jogador a menos em dada posição). Qual a relação disso com o texto acima? Certamente os jogadores, condicionados à tutela do comando técnico, não foram capazes de, naquela situação-problema, resolver, a partir de r&aacute
;pida leitura do jogo
, àquela nova exigência tática.

Então vos pergunto, caros amigos: o que faltou para o rápido re-arranjo tático da equipe?  Mais "coletivos" ou mais "treinamentos táticos"?

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O exemplo de Congonhas e o futebol

O Brasil, sabe-se, é um país extremamente frágil em diversos sentidos. O terrível acidente no aeroporto de Congonhas é mais um reflexo desse fato, tantas vezes manifestado por essas bandas.
 
Dessa vez, calhou de ser com um avião, objeto de destaque e que desperta imenso interesse na população. Daí, talvez, a repercussão. O fenômeno, porém, é corriqueiro. A fragilidade do país se expressa diariamente, tantas e tantas vezes, nos mais diversos setores. Na aviação, alguns acidentes. Nas rodovias, muitos outros. Na política, a omissão dos líderes e os interesses escusos. Nos hospitais, a inoperância do sistema. E assim vai, seja por onde for.
 
Isso é muito conseqüência do crescimento desordenado do país, influenciado por anos de políticas populistas e desatreladas de um plano racional e ponderado. Deu no que deu. O país cresceu, a economia evoluiu, as pessoas começaram a ter o direito e o poder de fazer o que der na telha, e a estrutura sucumbiu. A tragédia de Congonhas, assim como outras tragédias cotidianas, era anunciada. Estava claro que, em algum momento, alguma coisa ruim iria acontecer. Por fim, aconteceu. Mais uma vez.
 
Esse sistema de funcionamento e de tratamento irresponsável e inseguro está presente na própria alma do país. Assim, dessa forma, o futebol não fica fora.
 
É óbvio que vai acontecer alguma coisa muito ruim no futebol brasileiro. A irresponsabilidade é visível e o descaso é evidente. Até que alguma coisa aconteça.
 
Pode ser nas brigas entre torcidas organizadas, que possuem elementos básicos de conflitos que fazem do futebol apenas uma simples desculpa para a expressão da irracionalidade bélica presente em determinados setores da sociedade. Em vez de torcida de futebol, poderia ser partido político ou milícias separatistas. Tanto faz. O que importa, em si, é o conflito e a vitória, independentemente do custo. Prato cheio para uma tragédia que acontece regularmente com pequena força, mas que pode eventualmente tomar maiores proporções. Todo mundo sabe disso, mas o descaso impera.
 
Assim como também impera no tratamento dos estádios do país, palcos prontos para desastres.
 
Quando a tragédia de Hillsborough assolou a Inglaterra, produzindo 96 mortos em 1989, o governo resolveu dar um ponto final no histórico de acidentes produzidos pelo futebol no Reino Unido desde o começo do século XX. Para isso, encomendou um minucioso estudo a respeito das causas para tantas mortes dentro dos estádios. Chegou-se à conclusão que a principal causa era o esmagamento das pessoas dentro das arquibancadas, apertadas pelos movimentos da massa contra a grade. Por isso, proibiram cercas e alambrados ao redor do gramado e obrigaram todos a se sentar em um banco identificado. Com torcedores sentados e individualizados, os movimentos de massa responsáveis pela pressão do esmagamento deixariam de acontecer. Sem alambrados, cercas e fossos, a pressão oposta ao movimento da massa também não mais existiria, acabando com a lógica física do esmagamento. Passaram à lei e, desde então, ninguém mais morreu por isso.
 
No Brasil, os estádios são velhos, sem escoamento, com fossos e pessimamente estruturados. É um cenário perfeito para desastres. Alguns pequenos já aconteceram, mas nunca produziram um número considerável de mortes para chocar a sociedade. A queda no Maracanã, o desabamento em Taubaté e o acidente em São Januário foram fortes, mas não publicamente impactantes, o que é um absurdo. Por isso, ninguém fez nada, e ninguém vai fazer nada. Portanto, até agora nada justifica uma ação mais efetiva contra a probabilidade de esmagamento ou de outros acidentes dentro dos estádios. Porém, é óbvio que a tragédia está anunciada. E uma hora ela pode acontecer.
 
Muito se reclama do vazio dos estádios brasileiros. É preciso, porém, agradecer ao fato de que a média de público pouco passa de 10 mil e que a taxa de ocupação está próxima de um terço. Quanto menos gente dentro, menor a probabilidade de alguma tragédia acontecer, principalmente por esmagamento. Do jeito que as coisas estão, é preciso temer pelo dia que a taxa de ocupação dos estádios brasileiros passe dos 70%. Aumentam ainda mais as possibilidades dos desastres. E se os detentores do poder decisório não se preocupam em tomar pedidas preventivas, faça você então a sua parte.
 
Pela segurança da vida dos torcedores de futebol, não vá ao estádio.

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Futebol e auto-estima

Os apreciadores comuns do futebol, não obrigados a entender as nuances que levam um jogador a obter altas performances, costumam relacionar o valor de uma equipe simplesmente à soma das qualidades técnicas de seus atletas. Os mais detalhistas talvez acrescentem a esta análise o preparo físico ou o bom sistema tático aplicado pelo treinador.
 
Estudos recentes, entretanto, demonstram, de forma cada vez mais evidente, o papel e a importância dos aspectos psicológicos para o rendimento individual e coletivo de atletas no esporte em geral.
 
Entre estes aspectos um dos mais significativos é, sem dúvida, a questão da auto-estima.
 
Pesquisadores da mente humana consideram esta característica psicológica como se fosse um verdadeiro sistema imunológico emocional e a chave para o nosso relacionamento com as outras pessoas e conosco mesmo.
 
Portanto, por extensão, fica fácil entender o quanto a auto-estima pode significar para o sucesso de um jogador de futebol, na medida em que é ela que permeia as relações com seus companheiros, adversários, torcida, imprensa e, sobretudo, consigo mesmo, principalmente no momento do jogo.
 
Investir em seu desenvolvimento, através da identificação de comportamentos e crenças negativas e a sua superação por intermédio de técnicas que valorizem os pensamentos positivos, estabelecidas por metas ambiciosas profissionais e existenciais, parece ser um dos segredos dos grandes campeões e pessoas bem sucedidas na vida.
 
Assim podemos concluir que quando treinadores e jogadores de futebol perceberem que estes aspectos são tão ou mais importantes que os treinamentos físicos, técnicos e táticos, o desempenho ganhará em qualidade.
 
E quando isso ocorrer de forma mais sistemática o futebol vai agradecer.

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A força do resultado

Desde novembro de 2004 era nítido qual seria o destino da parceria entre Corinthians e o misterioso fundo de investimentos MSI. A começar pela suspeita origem do parceiro, passando pela truculenta maneira como foi feito o “convencimento” dos conselheiros de que a associação ao MSI não haveria problemas, parecia muito claro que tudo não passaria de uma aventura.
 
E como poderíamos supor isso? Simples. Esse era o quadro pintado por todas as notícias veiculadas pelos principais jornais, revistas e televisões do país. Pelo menos em novembro de 2004, pouco antes de o Corinthians e o MSI assinarem seu acordo.
 
Toda a pressão da mídia contra a assinatura do acordo, porém, começou a diminuir cerca de dois meses depois, quando o Corinthians começou a montar um time repleto de estrelas. Tevez, Mascherano, Roger, Carlos Alberto, Gustavo Nery… De uma hora para outra, o que era para ser cercado de dúvida passou a ser coberto de elogios.
 
A imprensa, em sua maioria, se deixou levar pela lábia e pelos dólares de Kia Joorabchian, que fizeram com que o Corinthians montasse uma grande equipe e, consequentemente, deixasse sua torcida eufórica.
 
Enquanto o time corintiano esteve bem dentro de campo, a imprensa pareceu ter se esquecido de todas as dúvidas que cercavam o MSI antes da assinatura do acordo. Mas o paraíso da parceria começou a ruir já em 2006, meses após a conquista do Campeonato Brasileiro.
 
Para variar, a queda corintiana numa Libertadores levou por água abaixo o projeto esportivo alvinegro. Após a Copa da Alemanha, o Corinthians se viu abandonado. Com o time de mal a pior no Brasileiro, Tevez, Mascherano e Kia decidiram deixar o barco…
 
E, sem desempenho dentro de campo, o Corinthians voltou a viver uma turbulência constante fora dele. Foi nesse momento que a imprensa voltou a questionar a parceria com o MSI, voltou a buscar as origens escusas do dinheiro que bancou o time em 2005, voltou a achar que a parceria era suspeita demais para a história do clube.
 
Na última semana, a casa corintiana, literalmente, caiu. A Justiça decidiu dar voz de prisão a Kia, Dualib, Renato Duprat e companhia (nem tão) bela. Está cada vez mais claro que tudo aquilo que a imprensa falava antes da parceria era verdade. Só que fica cada vez mais evidente que, não fosse o péssimo momento corintiano dentro de campo, nada disso seria motivo de discussão na imprensa.

Enquanto a imprensa continuar a se levar pela força do resultado, mais Kias, Abramovichs e Berezovskis aparecerão no futebol. E mais ainda o futebol continuará a ser porto seguro para atividades suspeitas nas esferas gerenciais.

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Tática: uma questão de história?

Veni, vidi, vici” (Vim, vi, venci): palavras que foram pronunciadas pelo general romano Caios Julius Caesar (Júlio César) ao vencer mais uma batalha, avançando na guerra e contrariando ordens do Senado Romano.

Sua frase ficou eternizada na história e por vezes fora tomada emprestada pelo também Júlio César (Júlio César Chaves), boxeador mexicano, que de nunca perder cantava-a aos quatro cantos do ringue ao fim de suas lutas; até que em um dia perdeu.

 
Tenho a impressão, quase todas as vezes que vejo uma seleção brasileira de futebol profissional jogar que nossos enunciados (e não anunciados) especialistas futebolísticos (cronistas, narradores, comentaristas, torcedores, etc) esperam de nossa equipe o mesmo “vim, vi, venci” (cheguei, olhei, ganhei).
 
Ao analisarmos um jogo de futebol, muitas vezes incorremos ao erro de darmos respostas simplistas e “tarimbadas” a situações complexas e improváveis. O árbitro foi tendencioso, o goleiro levou um “frango”, o zagueiro falhou feio, o lateral se abaixou para arrumar a meia bem no lance do gol, a equipe estava sem vontade, o técnico mexeu errado, o time é muito ruim… (a explicação para o perder ou para o ganhar é muitas vezes tão vazia que estou certo de que se perde e se ganha sem se saber realmente o porquê).
 
Tomemos a equipe do Chile como exemplo. O técnico da seleção chilena, antes de enfrentar pela última vez o Brasil na Copa América 2007, apontou para a dificuldade de se planejar as estratégias para enfrentar a seleção brasileira. Sua reflexão fora de que quando jogou aberto, perdeu; quando se fechou com cautela, perdeu; quando se tentou buscar o resultado, perdeu (perdeu também ao fazer concentração e com a festança de alguns jogadores). A questão é: “Por que perdeu“? (e nesse jogo, também “planejado”, Brasil 6 x 1 Chile!!!)
 
Não, não vamos cair no abismo comum do que qualquer pessoa pode dizer: “os jogadores brasileiros são melhores” (os brasileiros do futsal também “são os melhores”, mas nos últimos campeonatos de expressão mundial não conseguiram passar pela Espanha).
 
Ganha o jogo quem faz mais gols que o adversário. O gol é resultado de uma finalização, que é produto da recuperação da posse de bola, que pode ocorrer de diversas formas (desarme, interceptação, arremesso lateral, tiro de canto, tiro de meta, etc). Minha pergunta é: qual a melhor forma para se recuperar a posse de bola. Existe essa melhor forma?
 
Os mais experientes dirão que tanto faz, desde que ela seja recuperada, mas é fato que existem diferenças estatísticas significantes entre a forma de recuperação da posse da bola e as jogadas que levam a finalizações e a gols.
 
Outra pergunta: em qual região do campo é mais vantajosa a recuperação da posse de bola?
 
Ou ainda: após a recuperação da posse da bola, quão rápido uma equipe deve buscar chegar ao gol adversário?
 
Existem equipes que buscam a forte marcação na saída de bola, tentando desarmar o adversário o mais próximo possível de sua própria meta, tendo então a possibilidade de se buscar rapidamente, com poucos passes, o gol. Existem equipes que mantêm seus 11 jogadores atrás da linha do meio-campo, fechados, esperando o adversário para fazer a retomada da posse de bola.
 
Certamente, muitos de nós acreditamos que o perfil dos nossos jogadores é que nos direcionará a melhor estratégia de jogo (marcação, recuperação da posse de bola), e isso não está errado. O fato é que existem variáveis táticas que compõem a lógica do jogo e que podem ser aprendidas e compreendidas por todos nós (técnicos, jogadores, especialistas) e que podem tornar a dinâmica e leitura do jogo mais científica e menos empírica.
 
Isso me faz defender a tese de que ao compreender a lógica do jogo, o jogador pode ser mais eficiente, eficaz e criativo taticamente-tecnicamente-fisicamente, o que permitiria a uma equipe não só ter melhor desempenho, mas também entender por que se ganha e porque se perde (e daí poder melhorar).
 
Ao olharmos para um jogo de futebol e analisarmos o que está acontecendo, como está acontecendo, onde está acontecendo, quando está acontecendo, quem está fazendo acontecer, fica mais fácil compreender os porquês de cada acontecimento, e de forma contextualizada, o porquê da vitória e o porquê da derrota.
 
Então, quando vejo nossos “especialistas” comentando um jogo da seleção brasileira questionando como é possível a equipe não conseguir chegar ao gol adversário (Que adversário? Do jeito que falam, é como se não existisse adversário, “o Brasil é incapaz de superar o vento”), fico pensando onde estão os méritos do adversário, que se estruturou para se defender e atacar também?
 
Interessante ver os mesmos “especialistas” comentando um jogo da Argentina. Quando está difícil é porque o adversário está bem armado, fechado e retrancado.
Não, não estou aqui defendendo “Dungaus Julius Caesar” e nem dizendo que nosso selecionado vai bem. Mas vou bater nessa tecla mais uma vez: se diagnosticarmos problemas de forma equivocada, buscaremos soluções equivocadas!
 
Um dia fomos imbatíveis no futsal. Um dia o técnico espanhol da modalidade disse que seus jogadores eram mais inteligentes que os brasileiros e que compreendiam melhor o jogo; nunca mais os vencemos em grandes competições.
 
Hoje acreditamos que nossos jogadores do futebol de campo são imbatíveis.
 
“Temos de ganhar. O adversário não tem méritos. Nós é que somos competentes ou incompetentes”.
 
Essa burrice (confundida com prepotência ou soberba) pode ter decretado a primeira pequena alteração caótica que tem nos levado a grandes dificuldades, a ponto de tomarmos como verdade que a equipe do México encontrou a tática, a estratégia, a fórmula mágica para vencer a seleção brasileira.
 
Então, em vez de os nossos “especialistas” e “analistas táticos” se preocuparem em “ir, ver, comemorar”, seria mais produtivo, na exigência de soluções e na formação da boa opinião, entender “o quê, o como, o onde, o quando, o porquê”, para quem sabe descrever pontualmente as estratégias, variáveis e variações táticas de um jogo.
 
Cuidado, senhores! Não sejamos o Senado romano (o do contra), e nem incorporemos a “síndrome de Julius” – ou então o melhor é nos apressarmos para saber logo quem é o Brutus (até tu Brutus – tu quoques Brutus).
 
Lição de Casa: explique taticamente por que o Brasil empatou com o Uruguai por 2 a 2 na semifinal da Copa América 2007. Se você tiver tempo, procure os porquês na decisão Brasil x Argentina…

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Quem vai ficar com Tevez?

O futebol inglês passa novamente por um surto de gastança desenfreada. Se no verão passado a atenção estava no comportamento das WAG’s (Wifes And Girlfriends), as esposas e namoradas dos jogadores da seleção inglesa que esvaziavam as prateleiras dos shoppings alemães durante a Copa do Mundo com os cartões de seus maridos, neste ano o desequilibro consumista está sendo manifestado pelos clubes da Premier League.
 
Muito, mas muito dinheiro está sendo gasto no mercado de transferências. Tudo por conta do novo contrato de transmissão, que permite que o gasto seja bastante superior a qualquer outro mercado Europeu. Dentro dessas transferências está a de Tevez, do West Ham para o Manchester United. E, para variar, vem recheada de controvérsias.
 
Vale relembrar o histórico recente de Tevez, que começou fazendo sucesso no Boca Juniors e ajudando o seu time a ser campeão da Libertadores. Logo depois, foi comprado pela MSI por US$ 20 milhões e veio parar no Corinthians, naquela que foi considerada a maior transferência da história do futebol sul-americano, mas sem que o dinheiro da transferência jamais tenha passado pelo Brasil. Fazia sentido, uma vez que o jogador nunca chegou a ser de fato do Corinthians, mas sim da MSI, que havia o emprestado ao clube paulista. Caracterizava-se, assim, aquilo que se entende como “third party ownership”, ou seja, a aquisição de um jogador por um terceiro que não seja um clube de futebol, fenômeno comum no futebol de países em desenvolvimento, mas visto com desconfiança pelos gerentes do futebol mundial.
 
Passado um tempo no Corinthians, Tevez foi ganhar o mercado europeu. Desembarcou ano passado no West Ham, junto com seu colega Mascherano, em uma das transferências mais esquisitas já registradas na Inglaterra. Durante o campeonato, a Premier League chegou à conclusão que o West Ham e a MSI estavam quebrando as regras da liga, mais especificamente a regra U18, que diz que nenhum jogador ou clube pode fazer uso de acordos que utilizem a tal da prática do “third party ownership”. Nisso, a PL multou o West Ham em cinco milhões de libras e mandou que o jogador fosse integralmente registrado com o clube. O West Ham disse que tava beleza, que tinha rasgado o contrato com a MSI e que o Tevez tinha passado a ser do clube e de mais ninguém.
 
Pouco tempo depois de ser multado financeiramente, mas sem a perda de pontos, o West Ham conseguiu escapar da degola para a segundona no último jogo, justamente com um gol de Tevez contra o já campeão Manchester United. Nisso, quem acabou caindo foi o Sheffield United, que então resolveu entrar na justiça por achar que o julgamento do West Ham no caso Tevez havia sido mal resolvido, e que o clube deveria ser punido com a perda de pontos no campeonato, e conseqüentemente rebaixado para a segunda divisão. Tudo isso porque o próximo contrato de televisão da Premier League vai render pelo menos 20 milhões de libras para cada clube, que é um valor muito maior do que a pequena multa de 5 milhões recebida pelo clube londrino.
 
Depois de muita polêmica e discussão, os juízes do caso do Tevez chegaram à conclusão que o Sheffield não podia reclamar da pena do West Ham. Os próprios juízes acharam que o West Ham deveria ter sido punido com a perda de pontos, mas eles disseram que não havia mais nada a ser feito. O Sheffield, então, resolveu levar o caso pra justiça comum.
 
Nesse meio tempo, o Manchester United manifestou interesse na compra do Tevez. Entretanto, o Manchester falou que tinha chegado a um acordo com a MSI por um empréstimo de dois anos com a posterior opção de compra. Aí, o West Ham falou que o jogador é do clube, e não da MSI, e que ele ainda tem três anos de contrato, ou seja, se o Manchester quer comprar o Tevez, tem que pagar, e muito, o West Ham. O Manchester falou que não vai pagar o West Ham. O Tevez mandou uma carta pedindo desligamento do West Ham. A Premier League disse que não reconhece a MSI e nem a carta do Tevez, que o jogador é do West Ham – afinal eles tinham dito que haviam rasgado o contrato com a MSI e que o jogador estava integralmente registrado no clube – e que só vai deixar o jogador atuar pelo Manchester se o West Ham receber o valor total da transferência.
 
Nesse cenário todo, é sabido que coisa boa não virá por aí. Afinal, caso o West Ham reconheça que a MSI é quem manda no Tevez, o clube vai se legitimar como mentiroso por ter enganado a Premier League, que vai ficar com cara de tacho por ter aplicado uma multa relativamente branda para um caso em que foi publicamente enganada. Caso o West Ham fique com os direitos sobre o Tevez, a MSI perde muitos milhões de libras. A MSI possui laços com a máfia russa, e todo mundo sabe o que acontece com quem deve milhões pra máfia russa.
 
Por fim, observando tudo o que acontece, está o Sheffield United, que a cada dia que passa ganha mais argumentos para dar suporte ao seu caso na justiça comum. Sexta-feira sai mais uma decisão judicial do processo. É só comprar a pipoca, sentar no sofá e assistir. É diversão garantida.

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Psicologia do esporte, Garrincha e interdisciplinaridade

A psicologia é uma área das ciências do esporte ainda bastante polêmica e questionada por muitos, até mesmo entre atletas, treinadores e dirigentes.
 
No Brasil, e particularmente no futebol, esses conhecimentos científicos começaram a ser aplicados em meados da década de 50 do século passado. Tem, portanto, uma história de pouco mais de 50 anos.
 
O pioneiro em sua aplicação no futebol brasileiro foi o Prof. João Carvalhaes. Este profissional, que tive a honra de conhecer, prestou seus serviços no Departamento de Árbitros da Federação Paulista de Futebol, no São Paulo Futebol Clube e também na Seleção Brasileira quando participou da primeira conquista mundial na Copa da Suécia em 1958.
 
Sua atuação, entretanto, apesar da conquista brasileira, foi muito questionada. O fato marcante deste trabalho inovador não foram as inúmeras contribuições para buscar-se um entendimento mais profundo da mente do atleta ou dos aspectos psicológicos que influem no rendimento de uma equipe. O que se destacou na verdade foi o fato do psicólogo, dentro do modelo limitado de avaliação que dispunha naquela época, ter considerado o genial Garrincha inapto para a prática de um esporte de alto rendimento como o futebol.
 
Este, talvez, tenha sido um aspecto determinante para a grande resistência que a psicologia do esporte ainda encontra para se estabelecer de vez no futebol e no esporte de uma forma geral.
 
Alguns especialistas que estudam o fenômeno esportivo consideram que os preconceitos, a falta de conhecimento dos esportistas em geral, bem como o desconhecimento das questões mais práticas do esporte por parte dos próprios psicólogos, são as causas principais da distância que ainda existe entre a psicologia e o esporte.
 
Eu diria que outro elemento poderia melhorar a atuação dos psicólogos e outros especialistas que atuam no esporte de rendimento. Trata-se de entender o fenômeno esportivo de forma global e integrada. A abordagem interdisciplinar que substitua a visão parcial e quase sempre fragmentada proporcionada pela diferentes áreas é hoje fundamental para se conseguir melhores resultados.
 
Uma visão mais global e integrada talvez tenha sido o ingrediente que faltou ao querido professor João Carvalhaes em 1958 para entender a genialidade do Garrincha, apesar de algumas características psicológicas aparentemente desfavoráveis. Os psicólogos do esporte no século XXI, entretanto, não têm o direito de cometer o mesmo erro.
 
 
 

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O esporte e a televisão

 

No último domingo, o jornal Folha de S. Paulo revelou que uma empresa que presta serviços para os Jogos Pan-Americanos tem, em seu quadro de funcionários, uma das filhas de Carlos Arthur Nuzman, presidente do comitê organizador do Pan (Co-Rio).
 
Até aí, nada de errado, a não ser que a mesma empresa foi escolhida para ser a loja oficial dos produtos do Pan sem passar por um processo de licitação. A notícia saiu na Folha e repercutiu em outros veículos de imprensa nesta segunda-feira.
 
Nada disso, porém, foi visto na televisão. Nenhum registro foi feito no mesmo domingo. Esporte Espetacular, Fantástico, mesas redondas. Em nenhum momento qualquer emissora de TV falou sobre a notícia da Folha.
 
Band e Record pagaram, cada uma, cerca de R$ 11 milhões pelos direitos de transmitir os Jogos Pan-Americanos. Já a Globo não desembolsou um centavo. A venda de patrocínio do Pan envolvia o apoio também ao plano de mídia da Globo de transmissão do evento. Cada cota do evento custou R$ 67 milhões ao patrocinador, sendo que apenas R$ 11 milhões chegou ao esporte. O restante ficou para pagar a conta de anunciar na emissora durante quase dois anos. Além disso, a Globo Marcas é responsável por todo o licenciamento de produtos do Co-Rio.
 
O Pan, para a Globo, deixou de ser um produto jornalístico. Ele é, mais do que qualquer coisa, um evento, um produto financeiro para a emissora. Assim também é o futebol. Um produto comercial muito mais do que jornalístico. E o que isso muda?
 
Considerando que a televisão fala com 96% do país, vem dela a maior influência na formação do pensamento coletivo. É a partir do que a TV nos transmite que as pessoas formam opinião, que decidem lutar pelos seus interesses, que pressionam por mudanças no desenvolvimento do país.
 
Quando a TV passa a ter o esporte como produto comercial, e não jornalístico, as atuações suspeitas dos nossos dirigentes e atletas são relegadas a um segundo plano. Em nome do negócio, a sujeira é colocada embaixo do tapete, para não ficar à vista de todos.
 
Para o organizador do evento, é absolutamente conveniente uma relação umbilical com as emissoras de TV. Mas como fica o jornalista nessa história? E o público? Talvez seja a hora de discutir a relação entre esporte e televisão.

Para interagir com o colunista: erich@universidadedofutebol.com.br

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Tática: uma questão de biologia?

Felice Accame em seu livro La zona nel calcio de 1994, conta que nas vésperas de um jogo contra a Fiorentina (pelo Campeonato Italiano 87-88), estava Arrigo Sacchi, então técnico do Milan, com sua família almoçando em um restaurante quando fora abordado por um torcedor que por ocasião de uma aposta com outros amigos tentava saber se seria Mussi, Filipo Galli ou Tassotti o responsável por marcar Baggio (naquela época, jovem promessa da equipe da Fiorentina). “Os três e nenhum dos três”; respondeu Sachi; “em nosso futebol não existe um homem encarregado de somente marcar. Porém cada um dos jogadores devem saber defender e atacar”.
Há dois séculos o futebol vem sofrendo de um grande fenômeno, que apropriando-se das idéias de Charles Darwin (Charles Darwin, não Charles Miller), eu chamaria de “Teoria Evolucionista do Futebol”.
Vejamos; existem registros que mostram que por volta de 1863 o sistema de jogo utilizado para se jogar futebol se assemelhava a um 1-1-8. Em 1870 já tínhamos algo parecido com o 2-1-7 que depois se tranformou em um 2-2-6. Veio o “WM”, o 4-2-4, o 4-3-3, o 4-4-2, o 3-5-2, o 3-6-1, chegando-se ao 4-5-1 (vedete da Copa do Mundo de 2006). Observemos que o futebol “evoluiu” do ataque para a defesa. Primeiro, uma grande preocupação com o fazer gols (muitos atacantes). Depois uma grande preocupação com o não sofrer gols (jogadores migrando para a defesa e meio campo).
O fato é que temos hoje, independente das representações numéricas para se explicar como se posiciona ou joga uma equipe, um grande número de jogadores que “compõem” o meio-campo.
Se no começo havia um jogador específico para essa região, hoje temos quatro, cinco, seis. E o que isso significa nos nortes da “Teoria Evolucionista do Futebol”? Significa que temos cada vez menos jogadores altamente especializados em atacar ou defender (construir,finalizar, fazer gols ou destruir,desarmar, evitar gols) e cada vez mais jogadores especialistas em atacar e defender (construir e destruir, finalizar e desarmar, fazer gols e evitar gols).
 


 

Se para o mundo de Dawin sobrevivem os mais fortes, no mundo do futebol “sobrevivem” aqueles jogadores com maior capacidade de se apropriar do “e” em detrimento do “ou“; que marcam e armam, que desarmam e finalizam, que defendem e atacam.
Ainda que se pesem os prós, contras e possíveis implicações da “Teoria Evolucionista do Futebol”, é fato, que têm tido cada vez mais importância para as equipes jogadores “especialistas-gerais”.
Isso deveria se refletir o mais rápido possível nas estratégias e postura tática das equipes dentro de campo. Não se trata de ressuscitar o “Carrossel Holandês”; bem distante disso. Trata-se de não mais conceber jogadores de defesa e jogadores de ataque (excessão feita a uma fotografia circunstancial de algum momento do jogo).
Uma equipe quando ataca também se defende, porque dentro da lógica do jogo não podemos mais acreditar que é a posse da bola que determina quem está atacando ou defendendo.
Podemos, por exemplo, entender a manutenção da posse de bola (o jogo horizontal, para os lados) como uma estratégia de defesa. Podemos, numa situação qualquer termos jogadores construindo ações para se chegar ao gol adversário enquanto outros da mesma equipe se reorganizam a cada passe para impedir que o adversário contra-ataque (em caso de perda da bola). A estratégia então deixaria de ser o como não sofrer gols, ou o como fazer gols, e passaria a ser o não sofrer e fazer gols ao mesmo tempo.
Então vejamos; nem é a posse da bola que determinará se uma equipe está se defendendo ou atacando, nem é a posição atribuída ao jogador que determinará se ele deve atacar ou defender.
Ataque e defesa são sistemas dentro do jogo que não se separam. Essa compreensão, muitas vezes, com pequenos ajustes e muita simplicidade pode trazer bons frutos. A seleção da França na Copa de 2006, por exemplo, conseguiu fazer com que a seleção brasileira desse diversos “chutões” da defesa para o ataque, sem permitir que a bola passasse pelos jogadores “armadores” de meio-campo. Como? Com jogadores franceses “armadores” e de “ataque” marcando pressão as reposições e saídas de bola.
É possível então ir na contra-mão dos especialistas, que têm buscado explicar sistemas de jogo através de representações numéricas cada vez mais desmembradas. O 3-5-2, que pode ser um 3-4-1-2, ou o 4-5-1 que pode ser o 4-4-1-1. Porque não o sistema de jogo “11”, onde todos participam em momentos diferentes do sistema defensivo e do sistema ofensivo ao mesmo tempo, em que se pode defender com quatro (e aí incluo o goleiro) enquanto se ataca com sete, em que se pode atacar com três enquanto se defende com oito, num mesmo jogo, em situações diversas.
E depois disso tudo, eu pergunto: ter três ou quatro volantes dentro de campo em uma seleção, em um jogo de Copa América, significa ter uma equipe defensiva? É a posição ou a função do atleta que determina a estratégia, os princípios e a dinâmica do jogo? (se a resposta for errada, corremos o risco de cobrar a solução errada!)
Infelizmente o termo “posição” tornou-se uma tatuagem gravada no atleta que o acompanha por toda a carreira. Volante é volante, meia é meia, ala é ala, lateral é lateral, zagueiro é zagueiro, atacante é atacante… O que será que Darwin diria?

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